Cadernos Temáticos - Gestão Administrativa
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Dezembro de 2007 N 17
CADERNOS
TEMTICOS
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EXPEDIENTEExpediente
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Centro de Informao e Biblioteca em Educao (CIBEC)
&DGHUQRVWHPiWLFRV6HFUHWDULDGH(GXFDomR3URVVLRQDOH7HFQROyJLFDYQRY%UDVtOLD6HFUHWDULDGH(GXFDomR3URVVLRQDOH7HFQROyJLFD
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Conselho Editorial
Patrcia Barcelos, Solange Moreira Corra, Maria Amelia Ayd Corra,
Sonia Ana Charchut Leszczynski, Sandra Branchine e Cinara Barbosa
Coordenao Editorial
Cinara Barbosa
Produo Executiva
Patrcia Barcelos e Sandra Branchine
Reportagens
Marco Aurlio Fraga, Rodrigo Farhat, Sophia Gebrim e Stela Rosa
Assistente de Produo Grfica
Muriele Cristina de Oliveira
Relaes Pblicas
Pablo Viana
Reviso
Denise Goulart
Diagramao
www.grifodesign.com.br
Impresso
Cromos
Impresso no Brasil
A exatido das informaes, os conceitos e opinies emitidos nos artigos e
nos resumos estendidos, relatos de experincia e prticas pedaggicas so de
exclusiva responsabilidade dos autores.
2007 Ministrio da Educao
permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
Srie Cadernos Temticos
Tiragem: 10.000 exemplares
Ministrio da Educao
Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica
Esplanada dos Ministrios, Edifcio Sede, bloco L, 4 andar
CEP: 70047-900 Braslia/DF
Telefones: (61) 2104-8127/9526
Fax: (61) 2104-9744
www.mec.gov.br
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SUMRIOSumrio
Apresentao 5
Editorial 7
Reportagens 8
Transformar a natureza em aliada da agricultura 8
Comunidade busca aumento da renda com vidro reciclado 14
Muzambinho ter laboratrio de gesto sustentvel 19
Turismo como ferramenta de gesto 24
Artigos 27
Mimosidade: uma estratgia competitiva 27
O Centro de Memria como lugar de reconstruo
histrica e busca de identidade 33
A estratgia competitiva promovendo
o crescimento de uma empresa potiguar 41
Organizao industrial pela logstica da manuteno:
uma abordagem lean manutence 48
O potencial fruticultor do Rio Grande do Norte no mercado internacional 57
Oferta e demanda por educao 65
Trabalho docente 73
Resumos Estendidos, Relatos de Experincia
e Prticas Pedaggicas 82
Programas de estgio e metodologia cientfica
como elementos de formao profissional 82
A implantao do Proeja em nosso colgio 85
O ensino tcnico de qumica e a formao empreendedora 87
Influncia das polticas pblicas nas transaes entre agentes de turismo 89
Contatos 92
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Carl
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-
5APRESENTAOApresentao
Esta publicao tem histria. Resulta de um trabalho iniciado em mea-
dos de 2004. quela poca, a equipe de Comunicao Social da Secretaria
de Educao Profissional e Tecnolgica do Ministrio da Educao tinha
alguns desafios frente: revelar o cotidiano das escolas de formao de
trabalhadores; mostrar a diversidade dessas unidades; valorizar a produo
cultural e cientfica de servidores, estudantes e professores. Havia, ainda, al-
gumas barreiras a vencer, como manter e aperfeioar a qualidade de textos
e imagens das publicaes.
Quinze edies depois, as tentaes so outras. Luta-se para ampliar
a tiragem, de forma a aumentar o nmero de leitores, assim como avaliar
qualitativamente cada edio.
Nesse percurso, mais precisamente em 2007, a coletnea Cadernos Te-
mticos da Educao Profissional passou a integrar o Qualis, lista de peri-
dicos com qualidade recomendada pela Coordenao de Aperfeioamento
de Pessoal de Nvel Superior (Capes). Ao lado de anais, revistas e jornais,
os cadernos se tornaram divulgadores avalizados da produo intelectual
de professores e alunos de programas de ps-graduao. Os cadernos re-
ceberam classificao em trs reas distintas: cincia de alimentos (nvel C
em mbito nacional), educao (nvel C nacional) e multidisciplinar (nvel B
nacional). Dessa forma, os trabalhos produzidos por professores e estudan-
tes da Rede Federal de Educao Profissional ganharam mais visibilidade e
ampliaram o dilogo com as agncias de fomento pesquisa.
Hoje, todas as escolas da Rede Federal de Educao Profissional e Tec-
nolgica recebem exemplares dos Cadernos Temticos. Consegue-se, tam-
bm, atender s escolas estaduais de educao profissional. Entretanto, a
cobertura no atinge ainda as instituies pblicas de ensino mdio. uma
meta a ser alcanada.
Em quatro anos, o projeto grfico-editorial pouco foi alterado. A princi-
pal preocupao para as modificaes foi o refinamento do projeto grfico,
de forma a facilitar a leitura da revista e a compreenso de seu contedo,
tornando-a de leitura mais gil. Barras coloridas passaram a servir de indi-
cadores das sees: reportagens em vermelho, artigos em azul, resumos,
relatos e prticas em verde, de forma a diferenciar uma pgina da outra. No
quesito editorial, buscou-se ampliar a abrangncia, de maneira a descorti-
nar o mosaico de aes e estudos produzidos pelas escolas, numa ligao
explcita com a realidade de cada regio.
A finalidade dos Cadernos Temticos continua a mesma, ou seja, divul-
gar trabalhos, pesquisas e projetos de servidores, professores e alunos da
Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica. A seleo do material
enviado pelas escolas feita de acordo com alguns critrios. Os mais impor-
tantes so a pertinncia ao tema e a relevncia das informaes, de forma a
que os artigos contidos nesses cadernos reflitam a diversidade e a realidade
de cada local, de cada cidade e de cada escola. Todos mostram, por meio
de texto artigos, resumos, relatos, prticas e reportagens , a realidade da
formao de profissionais no Brasil.
O desafio de editar cada nmero dos Cadernos Temticos, entretanto,
o mesmo desde o incio deste projeto da Setec: escrever a histria da edu-
cao profissional e tecnolgica no pas.
-
Rodri
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arh
at
-
7EDITORIALEditorial
Cadernos so retratos do Brasil
Os volumes 16 a 20 dos Cadernos Temticos mostram experincias ino-
vadoras, prticas pedaggicas, pesquisas e resumos de artigos que contri-
buem para o desenvolvimento da educao profissional e tecnolgica no
Brasil. So um retrato da harmonia das quase duas centenas de escolas da
rede com as realidades regionais do pas.
De 1909 a 2002, 140 escolas tcnicas foram construdas no pas. De
2003 a 2010, sero mais 214, dentro do plano de expanso da rede federal
de educao profissional e tecnolgica. A meta do Ministrio da Educao
chegar a 354 unidades, com a oferta de 500 mil vagas, num investimento
total de R$ 933 milhes.
A Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica oferece cursos
de qualificao, de ensino tcnico de nvel mdio, superior e de ps-gradu-
ao. As reas variam de acordo com a realidade regional, em sintonia com
os arranjos produtivos locais.
O trabalho do Cefet/Rio Pomba sobre agroecologia e o projeto de gesto
em empreendimentos tursticos do Cefet/Cear so destaques deste nme-
ro dos Cadernos Temticos da Educao Profissional, assim como os artigos
sobre a estratgia de fidelizao de clientes pelo mimo e sobre o potencial
fruticultor do Rio Grande do Norte no mercado internacional.
Com a ampliao da rede, mais experincias podero ser temas de re-
portagens e cenrios de experincias, prticas pedaggicas e pesquisas. A
diversidade brasileira tratar de enriquec-las. Aguardem.
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8 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente, que promove a
incluso social e proporciona melhores condies econmicas para os agri-
cultores. Esse o conceito da agroecologia, conhecida tambm como a
agricultura do novo milnio.
Tambm tem se vinculado agroecologia a oferta de produtos limpos
do ponto de vista ecolgico, isentos de resduos txicos. Assim, traz a idia
e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de favorecer aos homens e
ao meio ambiente como um todo. A inteno fugir do conceito de uma
agricultura intensiva em capital, energia e recursos naturais no renovveis,
agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e causa-
dora de dependncia econmica.
AGRICULTURA
Transformar a natureza
em aliada da agricultura
Agroecologia ganha mercado e expande-se
no interior de Minas Gerais
Fotos: David Silveira
Alunos do Cefet/Rio Pomba participam de aula prtica
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9REPORTAGENS
A AGROECOLOGIA, como uma nova cincia multidisciplinar tem uma
orientao cujas pretenses e contribuies vo alm de aspectos mera-
mente tecnolgicos ou agroeconmicos da produo agropecuria. Nessa
tcnica, so incorporadas dimenses mais amplas e complexas que incluem
tanto variveis econmicas, sociais e ecolgicas, como variveis culturais,
polticas e ticas.
Interpretada desta forma, a agroecologia corresponde ao campo do co-
nhecimento que proporciona as bases cientficas para apoiar o processo
de transio do modelo de agricultura convencional (agro-qumico) para
estilos de agricultura de base ecolgica ou sustentvel.
Um passo frente
O pequeno municpio de Rio Pomba, em Minas Gerais, com aproxima-
damente 20 mil habitantes, pioneiro na oferta de cursos de agroecologia.
Atualmente, o Cefet/Rio Pomba a nica instituio no pas a oferecer o
curso superior em Agroecologia. Essa nova gesto da agricultura tem agra-
dado alunos e professores da escola, que vem a agroecologia como a agri-
cultura do futuro.
O enfoque agroecolgico que o Cefet/Rio Pomba d ao curso traz con-
sigo ferramentas tericas e sistmicas, as seis dimenses da sustentabili-
dade, ou seja: a ecolgica, a econmica, a social, a cultural, a poltica e a
tica, afirma do diretor do Cefet/Rio Pomba, Mrio Srgio Costa, que atua
na rea h mais de 20 anos.
Idealizador do modelo de gesto em agroecologia na escola, Mrio
afirma que esse mtodo no pode ser confundido simplesmente com um
conjunto de prticas agrcolas ambientalmente amigveis. Ainda que ofe-
rea princpios para estabelecimento de estilos de agricultura de base eco-
lgica, no se pode confundir agroecologia com as vrias definies es-
AGROECOLOGIA
Cincia que envolve conhecimentos
nas reas de ecologia, agronomia,
sociologia, antropologia, comunicao
e economia ecolgica, dentre outras.
Com a nova
agricultura, pode-se
melhorar a produo
e reduzir gastos
Luiz Cludio levou as tcnicas aprendidas para propriedade de seu pai
-
10 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
tabelecidas para identificar algumas correntes da agricultura ecolgica.
Ele ressalta a importncia de no se confundir agroecologia com agri-
cultura sem veneno ou agricultura orgnica, por exemplo, at porque
essas nem sempre tratam de enfrentar os problemas presentes em todas
as dimenses da sustentabilidade.
Novo modelo de gesto
O CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA ofertado pelo Cefet/Rio Pomba
tem durao de trs anos, mas, a partir de 2008 ser transformado em
bacharelado e passar para quatro anos.
Embora seja uma formao recente (a primeira turma no Cefet iniciou
em 2006), a coordenadora geral de ensino do Cefet/Rio Pomba, Elisete
Reis, garante que os resultados do curso tm sido positivos, com a produo
de alimentos orgnicos como arroz, feijo, verduras, mel e acar mascavo.
Nossa proposta capacitar os profissionais para promover, orientar e ad-
ministrar o uso de fatores de produo como forma de racionalizar a produ-
o vegetal e animal, sempre em harmonia com o ecossistema, explica.
Preocupao com o futuro
Um sentimento de urgncia na mudana do ensino unanimidade
entre os alunos do terceiro perodo do curso tecnlogo em agroecolo-
gia do Cefet/Rio Pomba. Os alunos Luiz Cludio, 22 anos, Guilherme
Moreira, 19 anos, e Ricardo Duque, 25 anos, afirmam que a transio
da agricultura convencional para a agroecologia um fator de gran-
CURSO SUPERIOR
DE TECNOLOGIA
O tecnlogo em agroecologia pode
atuar em propriedades rurais,
cooperativas e unidades familiares
de produo, por meio de sistemas
de controle de qualidade na produo
agropecuria; em pesquisas e
projetos, como na recuperao de
reas degradadas; na produo e
propagao de sementes e mudas; no
desenvolvimento de mtodos naturais
e alternativos de proteo s pragas
e doenas de melhoramento gentico
e at mesmo em processos baseados
em formas renovveis de energia
no meio rural.
Funcionrio cuida de plantao agroecolgica na escola
-
11REPORTAGENS
de importncia para a preservao do
meio ambiente e, principalmente, para
o resgate e valorizao da cultura local
e promoo de incluso social. A agro-
ecologia, alm de reduzir gastos em
uma pequena ou mdia propriedade
agrcola, tambm favorvel ao meio
ambiente, j que em um sistema agro-
ecolgico tudo se produz dentro da
propriedade, conta o jovem Ricardo.
Segundo ele exemplifica, hoje gasto
uma mdia de 200 reais, por hectare,
com uma adubao simples. Com a uti-
lizao dos mtodos da agroecologia,
essa adubao seria substituda pela
adubao verde (espcie leguminosa
rica em nitrognio), o que teria um cus-
to quase zero ao pequeno agricultor.
O estudante Luiz Cludio j est
levando as tcnicas aprendidas na ins-
tituio para a pequena propriedade
rural do seu pai, o senhor Rubens. Aos
poucos estou ensinando o que essa
nova agricultura, como podemos me-
lhorar a produo e, o principal, como
reduzir gastos, diz Luiz. Conforme ele conta, o sistema agroecolgico
algo que deve ser implantado aos poucos e demora cerca de 1 a 2 anos
para ficar totalmente estabilizado. Esse processo de transio realmen-
te um pouco demorado, mas se tudo for feito da forma correta desde
o incio, os resultados apresentados so maravilhosos.
Principais linhas da agroecologia
Segundo Anastcia Fontantti, coordenadora do curso de agroeco-
logia do Cefet/Rio Pomba, o modelo de produo agrcola reducionista
proposto pela revoluo verde, baseado na aplicao de elevadas doses
de adubos minerais solveis, proteo de plantas via produtos fitossani-
trios (herbicidas, fungicidas, inseticidas etc.) e na simplificao cultural
(monoculturas), proporcionou em curto prazo aumento da produtivida-
de, conferindo maior competitividade no mercado globalizado. Porm,
os impactos gerados causaram degradao do solo, contaminao da
gua e perda da biodiversidade, dificultando a manuteno dos ndices
e acentuando as desigualdades econmicas e sociais, afirma ela.
A necessria mudana de concepo dessa agricultura, que poluiu e
excluiu socialmente, contribuiu para o surgimento de um novo paradigma,
o da sustentabilidade. Isso preconiza o uso equilibrado do solo e da gua, a
maximizao das contribuies biolgicas, o incremento da biodiversidade
e o fortalecimento da agricultura familiar. A percepo desse paradigma
contribuiu para a ampla difuso da agroecologia.
Estudante trata do adubo natural
utilizado no processo
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12 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Agricultura orgnica
A agricultura orgnica teve incio em meados do sculo XX, na ndia,
atravs dos estudos do ingls Albert Howard sobre compostagem. Essa cor-
rente agroecolgica tem como sustentculo a aplicao, no solo, de resdu-
os orgnicos vegetais e animais produzidos na propriedade com o objetivo
de manter o equilbrio e a ciclagem de nutrientes.
O crescimento de vendas de produtos orgnicos no mundo est em
torno de 7 a 9% ao ano e os maiores mercados esto situados na Europa
e nos EUA; a rea destinada produo orgnica certificada no mundo
ocupa cerca de 31 milhes de hectares em 120 pases e o Brasil est
na 6 posio mundial. O Brasil possui cerca de 203 mil hectares com
culturas orgnicas e 600 mil hectares com pastagens orgnicas. No en-
tanto, o pas deve subir para a 2 posio devido recente certificao
de 5,7 milhes de hectares de reas de extrativismo sustentvel de cas-
tanha, aa, pupunha, ltex e outros produtos, oriundos principalmente
da regio amaznica.
Entre as culturas produzidas no sistema orgnico no Brasil destacam-
se a soja, o acar e o caf, destinados exportao, e as olercolas,
destinadas principalmente ao mercado interno. No entanto, outros se-
tores, como de produo de cereais, carnes, leite e seus derivados de-
vero ser incrementados, devido insero de suas cadeias produtivas
no mercado orgnico.
Funcionrio da escola maneja campo do Cefet/Rio Pomba
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13REPORTAGENS
Agricultura biodinmica
A agricultura biodinmica tem como princpio antroposofia, a cincia
espiritual divulgada pelo filosofo austraco Rudolf Steiner. Entre as prticas
agrcolas indicadas pela agricultura biodinmica esto:
interao entre a produo animal e vegetal;
utilizao de compostos lquidos elaborados a partir de substncias
animais, vegetais e minerais (preparados biodinmicos);
orientao astronmica;
preocupao com a harmonia ambiental (qualidade da paisagem).
Agricultura natural
A agricultura natural teve como alicerce a religio idealizada e divulgada
no Japo na dcada de 1930 por Mokiti Okada. Essa corrente filosfica
enfatiza o respeito pelas leis da natureza. Assim, minimiza a interveno no
ambiente e nos processos naturais. Mantm quatro princpios:
no cultivar o solo (revolver);
no utilizar fertilizantes de nenhuma fonte, quer orgnico ou mineral;
no capinar;
no utilizar agrotxicos.
Privilegia a rotao de culturas, a adubao verde, cobertura morta e os
microrganismos eficientes para o preparo do composto orgnico.
Permacultura
A permacultura teve incio na Austrlia, com o pesquisador Bill Mollisson,
como uma proposta de agricultura para regies de escassos recursos naturais.
Tem como principal meta simular os ecossistemas naturais, priorizando cultu-
ras perenes e a integrao da produo vegetal com a criao animal.
Reportagem: Sophia Gebrim
A agroecologia
rene a ecologia
e a agronomia,
cincia pura e
natureza. Incorpora
idias ambientais
e sociais e tem a
agricultura orgnica,
a agricultura
biodinmica, a
agricultura natural e
a permacultura como
principais linhas
Servidor colhe hortalias em plantao da escola
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14 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Sandro Boa Morte, 26 anos, e Claudinia Bewzenko, 27, so jovens mo-
radores do Jardim Paraso, na periferia de Ponta Grossa/PR. Desempregados
e sem perspectivas, se inscreveram no curso de reciclagem de vidro ofere-
cido pela equipe do professor Lus Maurcio Martins de Resende, Gerente
de Ensino do campus de Ponta Grossa da Universidade Tecnolgica Federal
do Paran (UTFPR), no incio de 2007.
O projeto da EQUIPE da UTFPR recebeu recursos de mais de R$ 129
mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(CNPq), alm de apoio financeiro do Ministrio da Educao, da Universi-
dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e da prefeitura da cidade. At uma
rede local de supermercados, a Tozzetto, investiu na idia, fornecendo ali-
mentao para os alunos das primeiras turmas. Com os recursos obtidos,
Comunidade busca aumento
da renda com vidro reciclado
Projeto tenta organizar populao
de baixa renda de Ponta Grossa
EQUIPE
A equipe coordenada pelo professor
Lus Maurcio composta pelos
professores Magda Lauri Gomes Leite,
Cristiane SantAna Santos, Eliane
Pietrovski, Adilson Chinelato, Adriana
Scoton Chinelato, Benjamin Carvalho
e Ivanir Luiz de Oliveira, e pelo bolsista
Fernando Ratti de Oliveira.
Fotos: Rodrigo Farhat
Incio do processo de sinterizao do vidro
RECICLAGEMRECICLAGEM
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15REPORTAGENS
foram pagos consultoria e bolsistas, construdo um forno a gs, elaborado
material didtico para as aulas, construdo moldes de gesso e de argila para
a transformao do vidro e adquiridos fornos eltricos, entre outras mqui-
nas e materiais.
At agora, foram capacitadas duas turmas de catadores de resduos e
uma de moradores do Jardim Paraso, num total de 27 pessoas. Com du-
rao de sete dias, os alunos aprendem no curso a selecionar e separar os
materiais, a tritur-lo e a fazer a SINTERIZAO do vidro. Aprendem, ainda,
normas de segurana no trabalho, como se tornar empreendedores e tra-
balhar em equipe.
Para a segunda fase do projeto, prev-se a oferta de programas para
montagem de peas decorativas e utilitrias e a formao de redes coope-
rativas para que a atividade seja sustentvel e a comunidade se organize e
melhore sua qualidade de vida.
Para a confeco das peas artesanais e decorativas mais bem elabo-
radas, o professor Lus Maurcio vai ter a consultoria da designer Dulce
Fernandes, professora da Universidade Federal do Paran. Sua experincia
ajudar a equipe de Ponta Grossa a reutilizar o vidro aps descarte em
peas com mais valor agregado, como luminrias, travessas e vasos. Ela
tem vrias pesquisas na rea, como a que sistematiza a utilizao da sucata
de vidro, de embalagens de bebidas e retalhos de chapas de vidro planas
para aplicao em produtos cermicos, com objetivo funcional e decorati-
vo. Precisamos agrupar professores de outras reas, como de arte e design.
Somos engenheiros, sabemos como sinterizar o vidro, mas o que fazer com
ele depois?, reconhece Lus Maurcio.
SINTERIZAO
a fase intermediria da queima de
vidro, da argila ou do esmalte. Nessa
etapa, na qual a fase lquida ainda
no foi atingida, as partculas slidas
se aglutinam pelo aquecimento a
uma temperatura inferior de fuso.
O amlgama formado tem menor
porosidade e mais resistncia.
O processo demora, em mdia,
de 30 a 40 minutos.
Temperatura do forno pode ultrapassar 800C
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16 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Curso melhora perspectiva de vida
O professor Lus Maurcio observa que as pessoas necessitam se organi-
zar em cooperativas e gerir o novo negcio como uma pequena empresa,
que precisa se manter competitiva no mercado. Para isso, ele pensou o
projeto em quatro frentes distintas: montagem do plano de negcios, cons-
truo da unidade de artesanato, edificao do ponto de beneficiamento e
formao de pessoal.
As pessoas do Jardim Paraso que aderiram proposta da equipe da
UTFPR esperam a abertura de novos cursos, pois descobriram na recicla-
gem de vidro um negcio em potencial.
Sandro Rodrigues Boa Morte conseguiu um emprego depois de ter fei-
to o curso de sinterizao de vidro vendedor de passagens da empresa
Princesa dos Campos. Mesmo com a conquista do posto de trabalho, es-
pera com ansiedade a abertura da nova turma de produo de artesanato,
pois quer aprender a fazer bijuteria e ajudar na formao da cooperativa
de artesos.
Sandro entrou no grupo para aumentar a renda e tambm para apren-
der novas atividades e ofcios. Como trabalha na rodoviria das 14h30
s 23h, pleiteia que o novo curso seja oferecido durante as manhs para
poder participar.
Ele, que terminou o ensino mdio e pretende cursar Histria, mudou
sua perspectiva de vida e a forma de ver a sustentabilidade de sua co-
munidade. Quer fazer peas com vidro para vender e at para presentear
as pessoas. So to bonitas, afirma, orgulhoso das que fez na oficina.
Nunca tinha pensado na possibilidade de reciclar vidro, diz. Coisas to
belas para uso dirio e de decorao podem ser produzidas com garrafas
normalmente jogadas fora, conta.
Sua colega Claudinia Bewzenko concorda. No tinha noo do que
era possvel fazer com garrafas usadas, revela.
Sandro Rodrigues deseja integrar cooperativa de artesos
Claudinia e Fernando manipulam vidro
-
17REPORTAGENS
Ela tem dois filhos e conseguiu terminar o ensino mdio. No futuro,
deseja estudar Nutrio ou Servio Social. Desde outubro de 2007, tra-
balha na biblioteca do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais
(Cescage), das 15h s 22h. Enquanto cuida dos livros, deixa os filhos
com a me.
No comeo, Claudinia, que faz croch e bordados em chinelos para
vender, imaginava aumentar a renda comercializando peas decorativas e
porta-copos de vidro. Antes do curso, jogava as garrafas vazias fora e hoje
as guarda e at as cata na rua. Gosta dos bem coloridos, principalmente os
de perfumes, pois geram peas mais chamativas. Como pretende dar se-
guimento formao, tambm vai se inscrever na prxima fase do curso.
Oficina foi instalada na Casa Brasil
A oficina para reciclagem do vidro foi montada na Casa Brasil de Ponta
Grossa. Como explica seu coordenador, Allan Francis de Paula, um pro-
jeto de incluso social, digital e cultural mantido pelo Governo Federal. O
principal objetivo dar condies para que populaes de regies com
baixo ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) e elevadas taxas de crimi-
nalidade e violncia tenham uma perspectiva de trabalho e lazer a fim de
capacit-las para agir socialmente.
No Jardim Paraso, a Casa foi inaugurada h um ano, em 16 de dezem-
bro de 2006. A unidade possui 20 computadores com acesso internet,
sala de leitura e biblioteca. L, so oferecidas oficinas nas reas de infor-
mtica bsica, de reciclagem de lixo tecnolgico, teatro, capoeira, dana
de rua, hip hop e danas gachas. Existe, ainda, um programa de formao
de jovens aprendizes, na rea de auxiliar administrativo e de produo in-
dustrial, mantido em parceria com o Servio Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) de Ponta Grossa.
Para Allan, a oficina de vidro incentiva a economia solidria e busca a sus-
tentabilidade dos moradores do bairro, que tem cerca de 6 mil habitantes.
Tambm entusiasmado com a proposta, o
bolsista Fernando Ratti de Oliveira, do curso de
Engenharia de Produo Mecnica da UTFPR,
comeou como voluntrio no projeto. Tem 19
anos e est no segundo perodo da graduao.
Nunca tinha trabalhado com vidro antes.
Entrei no grupo para aprender a montar um ne-
gcio e descobrir mais detalhes sobre recicla-
gem de materiais, diz.
Ele lembra que os maiores problemas com
resduos esto relacionados a peas de vidro e
plstico. Conta que as garrafas so recolhidas,
lavadas e quebradas. Pode ser qualquer garra-
fa, desde que as cores no sejam misturadas,
explica. Em seguida, revela que a temperatura
do forno atinge mais de 8000C e que o vidro
no chega a ser fundido.
Allan de Paula coordena a Casa Brasil
Casa Brasil de Ponta Grossa
sede da oficina de reciclagem
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18 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
O professor Lus Maurcio ressalta que o projeto enviado ao CNPq foi
alterado, pois, inicialmente, era destinado a catadores. Percebemos que o
pblico no era o ideal para o projeto, pois os catadores de resduos tm
um problema de sobrevivncia a resolver. Eles precisam recolher o resduo
hoje para ter dinheiro ao final do dia, ressalta.
A idia comeou a ser colocada em prtica em 2006, com uma turma
experimental. Dos dez alunos, somente trs se formaram, pois viram que
recolher, sinterizar, produzir e vender o artesanato de vidro leva um tempo
demasiado para eles. Vimos, ento, que nosso pblico tinha que ser revis-
to. Foi, ento, que focamos em moradores da periferia da cidade, conta
Lus Maurcio.
Vidro produzido a partir de fuso da slica
O vidro obtido por fuso de dixido de silcio (SiO2), carbonato de
sdio (Na2CO
3) e carbonato de clcio (CaCO
3). material ideal para ser
reciclado. A reciclagem permite a conservao de materiais, reduz o consu-
mo de energia e do volume de lixo enviado para aterros sanitrios.
Os resultados da reciclagem so expressivos tanto na rea ambiental,
como nas reas econmica e social. No meio ambiente, a reciclagem pode
reduzir a acumulao de lixo, as emisses de gases como o metano e o gs
carbnico e as agresses ao solo, ao ar e gua.
Enquanto no aspecto econmico a reciclagem contribui para a utilizao
mais racional de recursos naturais, no social proporciona melhor qualidade
de vida para as pessoas, gerando postos de trabalho e renda.
Reportagem: Rodrigo Farhat
Lus Maurcio mostra molde usado na sinterizao
Reciclagem de vidro em Ponta
Grossa incentiva sustentabilidade
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19REPORTAGENS
Tema de debate mundial, a AGROENERGIA est integrando o dia-a-dia
da Escola Agrotcnica Federal de Muzambinho (EAF-MuZ). A instituio
est investindo na qualificao do quadro docente, desenvolvendo pesqui-
sas na rea energtica, implantando tecnologias para o aproveitamento de
resduos animal e vegetal. Outra ao a formao de profissionais. Este
ano, a instituio est ofertando o primeiro Curso Superior de Tecnologia
em Agroenergia do Brasil. A meta tornar-se um centro de referncia de
prticas e estudos para estimular a implantao de gesto SUSTENTVEL
entre os agricultores da regio.
AGROENERGIA
Muzambinho ter laboratrio
de gesto sustentvel
Agrotcnica investe em infra-estrutura e formao
profissional e contribui com gesto agrcola sustentvel
AGROENERGIA
O conceito de agroecologia
surgiu nos anos 1990. No
Brasil, consolidou-se na Eco-92.
Atualmente, o termo entendido
como um conjunto de princpios e
tcnicas que busca a reduo da
dependncia de energia externa e
do impacto ambiental da atividade
agrcola e agropecuria.
Fotos: Carlos Esa dos Santos
Sistema de biodigestor garante abastecimento de biogs e biofertilizante
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20 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Localizada no sudoeste de Minas Gerais, fronteira com So Paulo,
a agrotcnica fica em uma regio produtora de caf, cana-de-acar
e de criao de bovinos e sunos. Como no restante do pas, um dos
problemas enfrentados a depredao do meio ambiente, decorrente
dos resduos gerados pelas atividades agrcola e agropecuria. Para se
ter uma idia do que isso significa, de acordo com a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), o Brasil possui o maior rebanho
bovino comercial do mundo, com cerca de 206 milhes de cabeas,
e ocupa o primeiro lugar nas exportaes mundiais. Com o volume de
abate bovino anual, pode-se contar com cerca 700 toneladas/ano de
sebo para produzir combustvel. No entanto, grande parte desse mate-
rial desperdiado e acaba sendo jogado nos rios e no solo, trazendo
conseqncias nocivas natureza e sade.
De acordo com o professor Luiz Carlos Machado Rodrigues, diretor-
geral substituto da EAF-MuZ, o principal objetivo formar profissional
capaz de apontar solues para que os pequenos e grandes produtores
adotem tecnologias sustentveis do ponto de vista econmico e ambien-
tal. Por falta de conhecimento, acabamos produzindo materiais poluen-
tes que poderiam ser reaproveitados para a produo de energia, adubo e
BIOCOMBUSTVEL, ressalta. Ele explica que a implantao de tecnologias
simples, como o aquecedor solar e a usina de reaproveitamento de leos
de frituras para a produo de BIODIESEL, alm de trazer retorno econ-
mico, fundamental para a preservao do meio ambiente. Muitas das
prticas agrcolas trazem conseqncias que afetam o campo e a cidade,
como a poluio de rios e dos lenis freticos e a degradao do solo.
Mas esse panorama pode mudar a partir da adoo de tcnicas que pos-
sibilitam economia de energia e, ao mesmo tempo, minimizam custos,
melhoram o faturamento, podem ampliar a oferta de produtos e ainda
tm baixo impacto ambiental, avalia.
SUSTENTVEL
Desenvolvimento sustentvel o
entendimento de que o modelo de
produo e consumo adotado deve
preservar a natureza de forma a
no comprometer a qualidade de
vida das geraes presentes e a
capacidade de desenvolvimento das
geraes futuras.
BIOCOMBUSTVEIS
So fontes de energia renovveis
(biodiesel, etanol, metanol, metano
e carvo vegetal), derivados de
produtos agrcolas como a cana-
de-acar, plantas oleaginosas,
biomassa florestal e outras fontes de
matria orgnica.
BIODIESEL
um combustvel biodegradvel
alternativo ao diesel de petrleo,
criado a partir de fontes renovveis
de energia. Por ser originado
de matrias-primas renovveis
(basicamente lcool e leo vegetal
ou gordura animal) e possuir queima
limpa, a combusto do biodiesel
gera menos poluentes do que a
combusto de derivados de petrleo.
Gordura do torresmo produzido na fazenda transformada em biodiesel
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21REPORTAGENS
Lio comea em casa
Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A frase
formulada por Lavoisier em 1789 cabe perfeitamente para o que est
sendo desenvolvido na Agrotcnica Federal de Muzambinho (MG). A
instituio j tem usina hidroeltrica e aquecedores solares que garan-
tem o abastecimento eltrico e o aquecimento da gua dos banheiros
do alojamento onde moram cerca de 500 alunos. Com isso, a instituio
economiza cerca de R$ 60 mil/ano em energia e contribui para a susten-
tabilidade ambiental.
Alm disso, est em andamento a implantao de biodigestores e de
uma usina para a produo de biodisel. Esses equipamentos faro o re-
aproveitamento de detritos da criao de sunos, gerando gs e adubo,
tambm chamados de BIOGS e BIOFERTILIZANTES. Com isso, os dejetos
(fezes e urinas) e a gordura animal no sero mais risco ambiental, um dos
grandes responsveis pela contaminao do solo e da gua subterrnea.
A fazenda Porkterra, localizada no municpio de Caconde, interior de
So Paulo, um exemplo de gesto sustentvel e tem sido um laboratrio
para as pesquisas dos docentes da escola. A experincia do proprietrio
Joo Paulo Muniz mostra que possvel encontrar solues prticas e
rentveis por meio da implantao de processos simples. A deciso de
promover mudanas veio aps a fazenda ser autuada muitas vezes por
rgos ambientais. A partir da, ele resolveu encontrar alternativas, como
o reaproveitamento dos resduos de sua propriedade. Para isso, ele adqui-
riu biodigestores, construiu uma usina artesanal e passou a aproveitar os
dejetos sunos para produzir biogs e biofertilizante, e a gordura animal,
antes descartada no frigorfico, agora transformada em biocombustvel.
Com essas mudanas, consegui reduzir significativamente os custos de
minha propriedade, diz. Hoje, o biogs obtido a partir do tratamento dos
dejetos atende a 50% da demanda por energia da propriedade. Muniz
tambm substituiu 100% do gs GLP (gs liquefeito de petrleo) usado no
refeitrio e no frigorfico.
BIOGS
Gs inflamvel produzido por
microorganismos. As matrias
orgnicas so fermentadas dentro de
determinados limites de temperatura,
teor de umidade e acidez, em um
ambiente impermevel ao ar.
BIOFERTILIZANTE
Depois da matria orgnica
passar pelo biodigestor, resduos
apresentam alta qualidade para uso
como fertilizante agrcola.
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22 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
O biogs usado ainda para o aquecimento dos leites na fase de
creche e para a secagem do caf. Alm disso, tem o biofertilizante, outro
subproduto originado do tratamento dos dejetos, que utilizado como
adubo nas lavouras de caf e milho. Isso representa uma economia
de 40%, pois misturo o biofertilizante a outros produtos para adubar a
lavoura, conta.
J a gordura dos sunos usada para produzir biocombustvel, com
aproveitamento tambm do subproduto: a glicerina que se transforma em
sabo e detergente e distribuda com a comunidade em troca de leo
de fritura. Todo o processo de transformao da gordura animal realiza-
do numa mini-usina montada dentro da propriedade. A usina artesanal
simples, formada por trs equipamentos: um tacho para a fritura da
banha, um transesterificador e uma panela de inox para acabar de apurar
o biocombustvel, explica Muniz. A cada quilo de gordura produzido
1 litro de biocombustvel, meio litro de glicerina e meio litro de sabo
ou detergente. Tenho certeza de que essas tecnologias so acessveis a
qualquer produtor, afirma.
O qumico Deuva Magalhes Polli, responsvel pela pesquisa e im-
plantao do sistema de produo de biocombustvel, do biogs
e do biofertilizante da Porkterra, explica que a poluio
dos dejetos altamente poluente devido aos eleva-
dos nveis de matria orgnica, nitrognio, fsforo,
sais e bactrias encontrados nesses resduos. No
processo de decomposio, so produzidos gases t-
xicos que vo para a atmosfera, ocasionando diversos
impactos negativos, mas podem ser transformados em
biogs e biofertilizante, explica.
Sabo produzido com subproduto da gordura
Dejetos de sunos so transformados em biogs e biofertilizante
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23REPORTAGENS
TEMAS DE DISSERTAES PRODUZIDAS PELOS PROFESSORES
Balano energtico da cafeicultura
Materiais alternativos para substituio de lenha em caldeira
Aproveitamento de dejetos de sunos na produo de biogs
Uso de clulas fotovoltaicas em casa de vegetao na produo de hortalias
Oleaginosas para a produo de biodiesel
Biocombustvel na propriedade rural
Utilizao de irrigao com motores acionados por materiais alternativos e no poluentes
Profisso do futuro
O Curso Superior de Tecnologia em Agroenergia, ofertado pela agro-
tcnica, pioneiro na rea. O objetivo formar profissionais com quali-
ficao para propor tecnologias adequadas s necessidades rurais. Com
durao de trs anos, a primeira turma comea em 2008. Thiago Cardo-
so de Oliveira, que est concluindo o curso de agroindstria na escola,
acredita que esse um ramo vasto e abre possibilidades de mercado
de trabalho. Essa uma rea em expanso. Acredito que a principal
misso desse profissional ser gerar conhecimento para disseminar entre
os produtores, anima-se.
Thiago um dos alunos da escola que est participando das pesquisas
sobre o cultivo de oleaginosas, desenvolvida por Alberto Donizzete Alves,
professor e mestre em fitotecnia. Donizzete Alves conta que esto estuda-
das vrias espcies para que se possa averiguar a adaptao e climatizao
dessas plantas. Com a onda do biodisel no Brasil, fundamental desen-
volvermos pesquisa para detectar quais so as melhoras alternativas para
os agricultores da nossa regio, ressalta.
Pesquisas em andamento
Na Agrotcnica, a pesquisa faz parte do cotidiano. Nos ltimos qua-
tro anos, professores da instituio passaram a se preocupar com o meio
ambiente, devido ao excessivo uso de energia produzida pelo petrleo e
comearam a desenvolver pesquisas em diversas reas. Por meio de um
convnio com a Universidade de Itajub, no Sul de Minas, 24 docentes
e servidores esto defendendo tese de mestrado em energia, nos mais
variados temas, desde oleaginosas para a produo de biocombustvel
at o uso de substncias alternativas ao uso da lenha. O nosso curso de
agroenergia ter professores extremamente qualificados e comprometi-
dos com as necessidades dos produtores da regio, atesta Luiz Carlos
Machado Rodrigues.
Reportagem: Stela Rosa
Joo Paulo Muniz proprietrio da PorkTerra
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24 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Apontado pela Organizao Mundial do Turismo (OMT) como um dos
setores que mais cresce na economia mundial, o turismo responsvel
pelo surgimento de novos perfis profissionais para o gerenciamento de suas
atividades. A partir desse novo nicho de mercado, o Centro Federal de Edu-
cao Tecnolgica (Cefet) do CEAR criou, de forma pioneira, em 2002, o
curso superior de Gesto em Empreendimentos Tursticos (GET), com deno-
minao atual, recomendada pelo MEC, de Curso Superior de Tecnologia
em Gesto de Turismo.
O curso surgiu diante da necessidade de formarmos profissionais que
atendessem s novas demandas de um mercado que est em constante mu-
tao, explica a gerente de artes e turismo do Cefet/CE, Rbia Valrio Pi-
nheiro. O objetivo do curso formar profissionais para atender demanda
na rea de turismo, voltada para a mdia e macro gesto em empresas p-
blicas e privadas. Com durao de trs anos, o GET oferece semestralmente
30 vagas, sendo 25 para egressos do ensino mdio, trs para transferidos e
dois para graduados.
DEMANDA DE MERCADO
Turismo como ferramenta de gesto
Curso superior de tecnologia forma
gestores para o setor turstico do Cear
CEAR
O estado ocupa a 10 posio
no pas no que se refere
aos resultados obtidos com
atividades tursticas.
Fotos: Gustavo Nunes Cefet/CE
Consultor de eventos tursticos uma das funes em que o egresso poder atuar no setor
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25REPORTAGENS
Para o gerente do ncleo de estudos da Secretaria de Turismo do Estado
do Cear, Joo Agostinho Teles, o turismo tem permitido uma dinmica
marcante na regio Nordeste, especialmente nos estados da Bahia e do
Cear. As potencialidades tursticas do estado, como as reas de hotela-
ria, alimentao, transportes e agncia de viagens, esto demarcadas em
macrorregies tursticas, especializadas em plos e roteiros tursticos, na
perspectiva da gerao de oportunidades de empregos e negcios para o
desenvolvimento do Cear.
De acordo com Rbia Valrio, empresrios do setor cearense e o poder
pblico perceberam a importncia desta atividade e passaram a intervir no
mercado turstico, a fim de melhor planej-lo. No Cear, o turismo tem
destaque nas polticas pblicas atuais que contemplam o aumento do n-
mero de negcios vinculados ao TURISMO em todo o territrio cearense,
melhoria de infra-estrutura, captao de eventos para fomento dos plos
tursticos, investimento em capacitao e apoio no crescimento da deman-
da por cursos superiores na rea profissional de turismo e hospitalidade.
TURISMO
O turismo emprega 204 milhes
de pessoas (10% da fora
produtiva do planeta). Sua
taxa de crescimento supera
a do PIB mundial e contribui
com 6% dos impostos pagos;
o setor crescer 7,5% ao
ano nos prximos dez anos,
movimentando cerca de U$ 3,4
trilhes (10,9% do PIB mundial).
O GET CAPACITA O ALUNO PARA OCUPAR AS FUNES DE:
Programador de Turismo;
Promotor de Vendas de Produtos e Servios Tursticos;
Gerente Promotor de Vendas de Produtos e Servios Tursticos;
Coordenador de Eventos Tursticos;
Consultor de Viagens;
Consultor de Eventos Tursticos;
Gerente Operacional.
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26 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Diagnstico para
as regies tursticas
do estado
Na opinio do diretor do Cefet/CE,
Cludio Ricardo Gomes de Lima, o curso
capacita e habilita o aluno a atuar na rea
de turismo e hospitalidade com total auto-
nomia no mbito da gesto, promovendo
um amplo conhecimento terico-prtico
para o trabalho nos diversos segmentos tu-
rsticos. Para chegar a esse conhecimento,
os alunos realizam entre vrias atividades
prticas profissionais em cidades com atrativos tursticos, desenvolvendo
diagnsticos de gesto em que apontam sugestes para melhorar a ativida-
de turstica na regio, diz Lima. Cidades como Canind, Juazeiro, Limoeiro
do Norte, Viosa do Cear e Quixad j receberam diagnsticos de gesto
realizados por alunos do GET.
A aluna Maria Iraneide Gomes da Silva explica que o curso oferece
toda a estrutura para que os alunos possam desenvolver diagnsticos de
gesto. Temos certeza que, em muitas situaes, esses projetos iro ajudar
a melhorar setores ou atividades pouco aproveitadas por municpios que
possuem vocao turstica aqui no estado, diz a estudante.
Para Rbia Valrio, o curso de Gesto de Turismo estratgico para a
cadeia turstica do estado. Segundo dados da secretaria estadual do turis-
mo, o Cear est entre os cinco estados que mais recebem fluxo turstico
nacional e estrangeiro.
Atualmente, investidores internacionais (especialmente portugueses e
italianos) executam projetos no estado, o que abre ainda mais as perspecti-
vas de crescimento de fluxo internacional no Cear. O Cefet/CE tem tradi-
o na capacitao voltada para o turismo h 30 anos. O mercado turstico
cearense sempre vislumbrou o profissional formado por nossa instituio
como habilitado e capaz de desenvolver suas atividades com empreende-
dorismo e discernimento.
Reportagem: Marco Fraga
Alunas do curso de turismo usam
laboratrio de lngua estrangeira do Cefet
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27ARTIGOS
RESUMO
No mercado atual, altamente competitivo, novos empreendimentos podem
fracassar por conta de desateno dos empreendedores ao planejamento
operacional e estratgico do negcio. Um fator estratgico de diferenciao
que se destaca cada vez mais na prestao de servios o atendimento
qualificado ao consumidor. Este trabalho procura apresentar um conceito
abrangente de estratgia competitiva hbrida definida como mimosidade,
que engloba a valorizao do cliente por meio de servios e atendimento
personalizado prestado com extremo zelo e real interesse na satisfao das
suas necessidades. Com esse direcionamento estratgico, o empreendimen-
to atinge o objetivo empresarial da conquista e da conseqente fidelizao
do seu pblico-alvo.
Mimosidade:
uma estratgia competitiva
MALANOVICZ, Aline V.; MALANOVICZ, Ana Paula V.; WEBER, Felipe;
BORGES, Murilo M. S.; FARIAS, Cludio V. da S.
Escola Tcnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Empreendedorismo; Estratgia Competitiva; Qualidade de Servios.
Fotos: Shutterstock
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28 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Introduo
As estatsticas revelam um alto ndice de mortalidade de novos empre-
endimentos, que ocorre, normalmente, porque os empreendedores no
esto alerta para determinados fatores que podem se converter em causas
de fracasso caso no sejam satisfeitos (AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI,
2000). Entre eles, podem ser apontados fatores referentes falta de com-
petncias gerenciais, tais como experincia profissional, conhecimento do
mercado, qualidade de produtos/servios, qualificao profissional, plane-
jamento operacional e estratgico do negcio.
Com base em uma reviso bibliogrfica de reas correlatas ao foco da
exposio, este trabalho apresenta o conceito de mimosidade como al-
ternativa de estratgia competitiva empresarial que objetiva tornar os con-
sumidores mais satisfeitos e oferecer produtos e servios melhores do que
seus concorrentes (PEREIRA e NUNES, 2002). O fator crtico de sucesso
empresarial abordado a melhor qualidade de servios para o pblico-alvo
mais rentvel, o que se fundamenta nas idias pioneiras de Porter (1990) e
na combinao de diferenciao e enfoque.
Estratgias competitivas
Conhecer as tendncias dos clientes essencial para o sucesso do
negcio. Por isso, importante o estudo dos fatores que afetam o mer-
cado consumidor e seu comportamento, como desejos, percepes,
preferncias e necessidades de compra. Essas informaes so a base
para que o empreendedor possa apresentar novos servios, alterar pre-
os, trabalhar com a imagem da prestao de servios e sua forma de di-
vulgao, entre outros elementos mercadolgicos (AIUB, ANDREOLLA,
ALLEGRETTI, 2000).
Segundo Porter (1990), as empresas podem adotar trs abordagens
estratgicas genricas: liderana no custo total, diferenciao e enfoque.
Uma extenso dessas idias pioneiras de Porter combina essas dimenses
estratgicas, apresentando uma viso sistmica da vantagem competitiva
(CARNEIRO, CAVALCANTI, SILVA, 1997), especializando a diferenciao
segundo critrios como: preo, imagem, suporte, qualidade do produto e
design. Neste trabalho, a nfase est na diferenciao de fatores combina-
dos, destacando-se a qualidade do atendimento.
Aline Vieira Malanovicz
doutoranda em Administrao
de Sistemas de Informao pela
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS).
Ana Paula Vieira Malanovicz
licenciada em Educao Fsica
pela Universidade Luterana do
Brasil (Ulbra).
Felipe Weber acadmico de
Administrao de Empresas
pela Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul
(PUCRS).
Murilo Mximo Santana Borges
acadmico de Cincias
Econmicas pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos
(Unisinos).
Cludio Vincius Silva Farias
especialista em Gesto
Empresarial, bacharel em
Administrao de Empresas,
professor da Escola Tcnica
da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e
orientador da pesquisa.
Escopo
competitivo
Vantagem competitiva
Custo mais baixo Diferenciao
Alvo amplo 1. Liderana 2. Diferenciao
Alvo estreito 3A. Enfoque em custo 3B. Enfoque em diferenciao
Figura 1: Estratgias Genricas de Porter (Fonte: CARNEIRO, CAVALCANTI, SILVA, 1997).
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29ARTIGOS
Resumidamente, a estratgia de diferenciao busca que a empresa seja
singular em algum aspecto importante para o mercado que torne o neg-
cio diferente daquele dos concorrentes e justifique preos mais elevados.
J pela estratgia de enfoque, direcionam-se os esforos do negcio para
atender a um determinado segmento-alvo especfico do mercado. Conse-
qentemente, a combinao dessas duas dimenses estratgicas permite
o posicionamento da empresa voltado diferenciao pela qualidade dos
produtos, servios e atendimento oferecidos, e o seu enfoque em determi-
nado pblico-alvo, mais rentvel, escolhido.
Nvel de servios
As empresas buscam a fidelizao de seus clientes por meio de muitas
ferramentas, incluindo bons produtos, bons preos e os mais diversos itens
de servio. Esses so cada vez mais valorizados, aumentam o valor agregado
do produto ou servio, reduzem custos para o cliente, criando valor para
ele. A soma dos esforos para a satisfao do cliente o chamado nvel
de servio ao cliente, composto por preo, qualidade e servios agregados
(CHIAVENATO, 2003).
Os empreendedores devem buscar o melhor custo-benefcio na dife-
renciao de clientes e produtos, pois o nvel de servio depende da lu-
cratividade do produto e da rentabilidade
do cliente. Assim, devem classificar sua
carteira de clientes, observando o nvel de
servio que eles demandam, para agrupar
clientes com comportamento de compras
e expectativas semelhantes, conforme vari-
veis demogrficas, geogrficas, comporta-
mentais e psicolgicas especficas, como o
volume ou freqncia de compras, os itens
que compram ou os parmetros exigidos
do servio. Dessa forma, possvel selecio-
nar os segmentos-alvo que a empresa deseja
conquistar e manter (clientes rentveis).
Neste contexto, importante definir as variveis
que levam os clientes a decidir pela compra dos servios,
fatores decisivos de compra para o consumidor, tais como qua-
lidade dos servios, preo, atendimento, ambiente, marca,
imagem/estilo, recursos dos servios, promoo, publicidade,
comodidade no uso, comodidade na compra, localizao, con-
venincia, crdito, garantia, entrega, status, entre outros (AIUB,
ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).
As oportunidades estratgicas para fidelizao de clientes e
aumento de lucros envolvem atender melhor aos clientes alta-
mente rentveis, melhorar o servio e a rentabilidade de clientes
valiosos, afastando-os dos concorrentes, atrair clientes que dem
grandes lucros aos concorrentes e aumentar o volume de vendas
para clientes baratos de servir, obtendo deles um perfil mais ren-
tvel em suas compras.
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30 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Qualidade no atendimento
Na anlise de mercado e competitividade, o atendimento ao consumi-
dor fator preponderante no setor de prestao de servios. Assim, o obje-
tivo do negcio fidelizar o pblico-alvo mais rentvel, o que alcanado
posicionando-se o cliente como a pessoa mais importante da organizao
(AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).
essencial zelar pelo melhor padro de atendimento, estabelecendo
um bom sistema de comunicao com a clientela, mantendo a equipe de
trabalho sempre bem informada e treinada para prestar informaes quali-
ficadas ao cliente. As expectativas e as exigncias dos clientes so os verda-
deiros padres de confiabilidade no ramo dos servios, pois o que se avalia
um desempenho. Assim, os modelos de excelncia em servios referidos
na literatura destacam sempre a necessidade do foco no cliente, tanto na
estratgia de servios, como no sistema, como no treinamento especializa-
do dos funcionrios que tm contato direto com o cliente.
Pode-se, ento, destacar algumas caractersticas fundamentais do atendi-
mento ao consumidor voltado excelncia. Confiabilidade: a capacidade de
prestar o servio prometido de modo confivel e com preciso. Sensibilidade:
a disposio de ajudar o cliente e proporcionar com presteza um servio.
Segurana: o conhecimento e a cortesia dos empregados e sua habilidade em
transmitir confiana e confiabilidade. Empatia: a ateno e o carinho indivi-
dualizados proporcionados aos clientes. Tangveis: a aparncia fsica de insta-
laes, equipamentos, pessoal e materiais de comunicao (Senac, 2002).
Para tanto, algumas caractersticas desejveis dos funcionrios podem
ser assim elencadas: habilidade em ouvir e atender; naturalidade na orien-
tao de clientes; boa vontade em atender; persistncia e pacincia; fle-
xibilidade na negociao de condies comerciais; equilbrio emocional
frente a clientes no to bem-educados; identificao do perfil do usu-
rio; identificao das reais necessidades dos usurios; iniciativa, agilidade e
presteza ao atender (Senac, 2002).
Mimosidade
Com base na fundamentao terica exposta, apresenta-se um conceito
alternativo de estratgia competitiva empresarial, baseada na qualidade do
atendimento e no nvel de servio. Mimosidade um conceito abrangen-
te de estratgia competitiva que engloba a diferenciao pela excelncia
no atendimento a um pblico-alvo considerado rentvel. Essa diferencia-
o preza pela valorizao do cliente por meio de servios e atendimento
personalizados prestados com extremo zelo e interesse na satisfao das
suas necessidades. A misso de uma empresa que aplica a mimosidade
relaciona o foco do negcio diretamente ao atendimento aos interesses do
cliente. Seu objetivo consiste em deix-lo satisfeito, mas tambm feliz com
o atendimento, para torn-lo um cliente fiel e at mesmo um torcedor da
empresa! Segundo documento do Senac:
Em nosso negcio, levamos o cliente muito a srio. Todos perce-
bem que atendemos diferente. A diferena que estamos sem-
-
31ARTIGOS
pre prontos e dispostos a prestar
atendimento. Temos mais do que
um simples cafezinho e gua gelada
a oferecer. Temos pessoas dispostas,
cordiais e interessadas em atender
e tirar dvidas dos clientes, mesmo
que eles no comprem os nossos
produtos. Ns cativamos as pessoas.
E nossa surpresa que, ao final de
tudo, ganhamos no s um clien-
te satisfeito, que volta sempre, mas
tambm um amigo (SENAC, 2002).
Definies dicionarizadas de mimo (gesto
ou expresso carinhosa com que se trata al-
gum; delicadeza, distino, primor) e mimoso
(delicado, carinhoso, meigo, suave; excelente,
fino) (MICHAELIS, 1998) indicam a melhor
maneira de se tratar os clientes. Com carinho, delicadeza e primor encon-
tra-se o melhor caminho para se chegar ao corao das pessoas, pois o afeto
o principal mandante nas suas escolhas diante de um mercado repleto
de empresas concorrentes. Ao qualificar o atendimento, oferecem-se ao
cliente benefcios intangveis que satisfazem e encantam.
Comodidade: prazeroso freqentar o ambiente da empresa; Va-
lorizao do cliente, respeito e seriedade: direitos do cliente so
reconhecidos; Personalizao: cada cliente especial e percebe
algo de especial no negcio; Servios adicionais, interesse em sa-
tisfazer, resolver: o cliente sempre ouvido e suas opinies so
sempre consideradas (AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).
O conceito de mimosidade une caractersticas da estratgia de tra-
tamento do cliente que envolvem desde o oferecimento de um ambiente
agradvel, aconchegante, convidativo para o cliente realizar suas compras
ou receber a prestao dos servios, at a flexibilidade da utilizao de um
sistema de comunicao eficiente para identificar seu perfil, suas atitudes e
suas expectativas, e a identificao antecipada das tendncias de mudanas
nesses comportamentos.
Algumas tcnicas para qualificar o relacionamento com clientes e
prestar o melhor servio de atendimento podem ser consideradas aes
que conferem mimosidade atuao de uma empresa: sistema de ca-
dastro de perfil, promoes para clientes fiis, informativos, central de
atendimento (sugestes, reclamaes e esclarecimentos) para satisfao
de clientes (SENAC, 2002).
Resumindo, pode-se definir mimosidade como a dedicao e a pre-
ocupao para com o cliente do negcio e aquilo que ele espera, neces-
sita e quer, ou seja, o que o satisfaz. Visa qualidade de servios e aten-
dimento, um ambiente agradvel, comodidade e zelo pelo seu cliente.
Mimosidade representa dedicao, afetividade, at mesmo paparica-
o, no trato com o cliente.
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32 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
Mimosidade um pensamento que est presente em todos os atos
do administrador, cada deciso, cada ao influenciada por esse pen-
samento. Nele est contido o respeito ao cliente e o interesse em melhor
atend-lo. Sendo assim, orienta os esforos para que tudo esteja mimoso
e funcionando como o cliente deseja. A mimosidade representa uma gesto
totalmente voltada ao cliente e suas preferncias.
Concluso
Este trabalho abordou as estratgias competitivas que uma organizao
pode utilizar para alcanar seus propsitos, combinando as vantagens com-
petitivas de diferenciao e enfoque. O fator crtico de sucesso empresarial
destacado no trabalho consiste na qualidade dos servios e do atendimen-
to ao pblico como diferenciao e na definio de pblico-alvo rentvel
como enfoque.
A abordagem apresentada foi fundamentada em um levantamento bi-
bliogrfico de assuntos como planejamento estratgico, competitividade,
estratgias competitivas, nvel de servios e qualidade no atendimento.
Nesse contexto, considerou-se fundamental que a misso empresarial rela-
cione o foco do negcio diretamente com o atendimento aos interesses do
cliente. Assim, definiu-se mimosidade como uma alternativa de estratgia
competitiva abrangente que engloba o completo respeito e a valorizao
do cliente por meio de servios e atendimento personalizado prestado com
extremo zelo e interesse na satisfao das suas necessidades.
Para trabalhos futuros, mostra-se de interesse realizar uma pesquisa qua-
litativa no universo de empresas gachas do ramo de servios, para iden-
tificao de suas caractersticas mimosas, alm de determinar qual o im-
pacto da mimosidade na fidelizao da clientela de determinados nichos
de mercado. Espera-se que os resultados deste trabalho venham colaborar
na ampliao da compreenso terica da diversidade das estratgias com-
petitivas possveis escolha do empreendedor, e que auxiliem na definio
do foco de novos negcios para a valorizao do fator mais importante da
existncia das empresas: o cliente.
REFERNCIAS
AIUB, George Wilson; ANDREOLLA, Nadir; ALLEGRETTI, Rogrio Della Fvera. Plano de
negcios: servios. 3 ed., Porto Alegre: Sebrae, 2000.
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33ARTIGOS
RESUMO
O Centro de Memria do Centro Federal de Educao Tecnolgica Cel-
so Suckow da Fonseca foi criado pela Portaria n 008, de 5 de janeiro
de 2006. Implantar um espao de preservao e reconstruo histrica da
identidade do Cefet/RJ faz parte de um movimento maior pela participao
e construo de uma escola pblica, democrtica, nica e de formao
omnilateral. Visto como lugar de memria e de busca da identidade da insti-
tuio como lugar de articular memria e projeto , o Centro de Memria
pode contribuir para a reconstruo histrica no apenas da instituio,
mas, tambm, do ensino profissional no pas. Em processo de implantao,
articulado ao Setor de Arquivo Geral, vem realizando, desde ento, vrias
O Centro de Memria como
lugar de reconstruo histrica
e busca de identidade
SILVEIRA, Zuleide S. da; CARDOSO, Tereza F. L.
Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca
Palavras-chave: Cefet/RJ; Centro de Memria; Histria da Educao.
Fotos: Divulgao Cefet /RJ
Fotografia do acervo do Centro de Memria
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34 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
atividades cujo objetivo resgatar, preservar, tratar e divulgar o acervo de
peas, textual e iconogrfico da instituio, estimulando o trabalho de pes-
quisa na comunidade escolar. No final do segundo semestre de 2007, foi
inaugurado o Espao Histrico-Cultural quando foi realizada a I Mostra da
Memria do Cefet/RJ e publicados um documentrio em DVD e um livro
que narram a trajetria da instituio em seus 90 anos de atividade.
Introduo
A partir da aprovao da nova Lei de Diretrizes e Base da Educao (Lei
n 9.394/96) e seus instrumentos regulamentadores, todo sistema educa-
cional passa por mudanas significativas. Como a maioria das instituies
federais de educao profissional, o Centro Federal de Educao Tecno-
lgica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) inscreve-se na totalidade das
relaes sociais, tendo, portanto, sua trajetria marcada pelo resultado de
formulao de polticas de formao profissional. Desse modo, todo seu
processo de transformao, em particular, subordina-se quela dinmica.
O cenrio de aceleradas mudanas. Concordamos com o historiador
francs Pierre Nora (1993) quando afirma que, na contemporaneidade, as
sociedades passam por um processo de acelerao da histria tal, que
estariam condenadas ao esquecimento, um epteto que significa a distncia
entre o passado quando se tinha a verdadeira memria social, intocada,
e o presente que traz, em si, o dever de mudana, sobretudo a partir dos
tempos modernos. neste contexto que se justifica a implantao do Cen-
tro de Memria do Cefet/RJ, visto como espao de reconstruo da histria
da instituio, lugar de articular memria e projeto e, ainda, de busca da
identidade da escola.
O acervo do Cefet/RJ
O acervo do Cefet/RJ constitudo de rica documentao que data des-
de o incio de suas atividades, com a criao da Escola Normal de Artes e
Ofcios Wenceslau Braz, em 1917, at os dias atuais. Essa documentao
registra diversas etapas da histria da instituio, tanto no aspecto institucio-
nal, acadmico, quanto no aspecto fsico.
O Setor de Arquivo Geral do Cefet/RJ est localizado no bloco L da
unidade-sede Maracan e possui, aproximadamente, dois milhes e
quinhentos mil documentos de alunos e novecentos mil documentos hist-
rico-administrativos; uma coleo de, aproximadamente, quatro mil foto-
grafias, sendo que duas mil em suporte de papel; seiscentas fitas de vdeo,
formato U-matic e VHS/SVHSU, algumas identificadas e outras em processo
de identificao; trinta e cinco mini-DV identificados; material informativo
como jornais e boletins; peas de mobilirio, fabricados na instituio, em
sua primeira fase de atividade (1918 1937); trabalhos de alunos, tais como
vasos de cermica, peas de bordado e costura; mquina de datilografia
que data, aproximadamente, da dcada de 1940; e, ainda, algumas peas
usadas em aulas de laboratrios, como balanas e instrumentos de medidas
eltricas; uniformes de alunos; bandeiras e flmulas.
Zuleide Simas da Silveira
mestre em Educao pelo
PPG da Universidade Federal
Fluminense, Campo Trabalho
e Educao, professora do
Curso Tcnico de Segurana
do Trabalho do Cefet/RJ;
coordenadora do Centro
de Memria do Cefet/RJ
e integrante do Projeto
de Pesquisa Memrias e
Temporalidades do Cidado
Produtivo Emancipado,
coordenado pela Prof Dr
Maria Ciavatta, da Universidade
Federal Fluminense (UFF).
Tereza Fachada Levy Cardoso
doutora em Histria Social pela
UFRJ, professora do Cefet/RJ,
coordenadora do Laboratrio
de Histria da Cincia (do
Programa de Ps-graduao
em Ensino de Cincias e
Matemtica) e pesquisadora
do Projeto Capes/Grices
(2007/9) A Histria da
Profisso Docente no Brasil e
em Portugal: aproximaes e
distanciamentos.
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35ARTIGOS
Ressalte-se que desde a primei-
ra metade dos anos de 1990, o Ce-
fet/RJ, por meio do Setor de Arqui-
vo, vem organizando, catalogando
e identificando a documentao
produzida ao longo de sua histria.
Encontra-se em fase de elaborao
os inventrios da Escola Normal
de Artes e Ofcios Wenceslau Braz
(1917 1937) e da Escola Tcnica
Nacional (1942 1965).
O processo de
implantao do
Centro de Memria
do Cefet/RJ
O Centro de Memria do Cefet/RJ foi criado pela Portaria n 008,
de 5 de janeiro de 2006, do Diretor-Geral, sendo localizado no bloco D
da unidade Maracan. Em processo de implantao, articulado ao Setor
de Arquivo Geral, vem realizando, desde ento, vrias atividades cujo
objetivo resgatar, preservar, tratar e divulgar o acervo de peas, textual
e iconogrfico da instituio, estimulando o trabalho de pesquisa na co-
munidade escolar1.
At o momento, a equipe, em contato com diversos setores da escola,
reuniu a quase totalidade das fotografias que esto sendo separadas, iden-
tificadas e catalogadas por fundo2, seguindo a ordem cronolgica e institu-
cional: Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz (1917 1937);
Escola Tcnica Nacional (1942 1965); Escola Federal da Guanabara (1965
1967); Escola Tcnica Federal Celso Suckow da Fonseca (1967 1978) e
Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca (1978 em
diante). Por ora, o fundo Escola Normal de Artes e Ofcios j est concludo.
No ano de 2006, o trabalho consistiu de identificar fotografias do fundo
Escola Tcnica Nacional; para tal, foram ouvidos alguns professores aposen-
tados e ex-alunos. A idia envolver o maior nmero possvel de entrevis-
tados, o que vem contribuindo no apenas para a catalogao de imagens,
mas, sobretudo, para a organizao do banco de histria oral. Neste proces-
so, a prioridade o depoimento de ex-alunos da Escola Tcnica Nacional,
que, mais tarde, tornaram-se professores da instituio. O prximo passo
foi ouvir docentes e servidores tcnico-administrativos que integraram a
comunidade no final da dcada de 1960. Cabe ressaltar que, no inventrio
de documentos textuais do fundo Escola Tcnica Nacional, foram descritos
9.180 documentos, totalizando 18.161 folhas.
Em junho de 2007, foi alocado na home page da instituio um site
onde se encontram o projeto de implantao do Centro de Memria, o
histrico da instituio, artigos relacionados sua historiografia e, ainda,
imagens do acervo de fotografias, de peas e textual. O site pode ser visita-
do no endereo: http://www.cefet-rj.br/memoria/.
1. O grupo de trabalho coordenado
pela professora Zuleide S. da Silveira
(Sociologia Aplicada), contando
com a participao das professoras
Tereza Fachada (Histria) e Marli
Carloni (Histria do Cinema Brasileiro;
Produo de Vdeo), da arquivista
Vera Firmo e, ainda, dos bolsistas
Diego Andrade Velloso de Lima e
Yasmim Watanabe, alunos do curso
de Informtica.
2. Segundo o Guia do Acervo da Casa
Oswaldo Cruz, fundo o conjunto
de documentos, independente da
sua forma ou suporte, organicamente
produzido e/ou acumulado e utilizado
por uma pessoa fsica, famlia ou
instituio no decurso de suas
atividades e funes. Com base
neste glossrio, a equipe do Centro
de Memria do Cefet/RJ, resolveu
classificar as diversas fases da
instituio, ao longo de sua histria,
por fundos que tratam de documentos
de diferentes espcies (textual,
iconogrfico e museolgico) e que
possibilitam a reconstruo das
transformaes ocorridas.
Fachada do edifcio principal
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36 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
No final do ano de 2007, foram publicados um documentrio em DVD
e um livro, em uma de tiragem de 5 mil exemplares, que narram a traje-
tria da instituio em seus 90 anos de atividade, alm da inaugurao do
Espao Histrico-Cultural contendo a I Mostra da Memria do Cefet/RJ.
Simultaneamente, est em fase de planejamento uma exposio em home-
nagem ao professor Eugenio Trombini Pellerano (1914 2006), o primeiro
professor-pesquisador desta instituio.
Cabe ressaltar que, para enriquecer no apenas o planejamento, mas
tambm a execuo do trabalho como um todo, a equipe vem contando
com a consultoria de vrios especialistas da rea, atravs de palestras e reu-
nies de estudo, como as j realizadas com a Prof Geisa Achorne de Souza
(Faetec), conservadora e restauradora; a Prof Dr Maria Ciavatta, da UFF, e
a Prof Maria Cristina Vendrameto (CEETPS), especialista em arquivologia.
Outro ponto importante no processo de implantao do Centro de Mem-
ria a aproximao com outras instituies, quais sejam o Museu Nacional,
a Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio/Fiocruz, alm de sido assi-
nado entre o Cefet/RJ e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(Unirio) um convnio com o objetivo de discutir, em condies objetivas, o
modo de preservar, tratar e divulgar o acervo de documentos e a produo
sobre a histria do Cefet/RJ e da educao profissional.
CONSERVAO DA MEMRIA
DA INSTITUIO
At o incio dos anos de 1990, a iniciativa de organiza-
o do arquivo de documentos textuais foi de Neuza Montei-
ro, tcnica-administrativa, funo datilgrafa, ex-aluna do curso de
Chapus e Ornatos, da Escola Tcnica Nacional. J a professora Dina
Luiz Garcia, ex-aluna do curso de Desenho e Arquitetura de Mveis, da
Escola Tcnica Nacional, encarregou-se de promover exposies de peas museolgicas. At 1993, o
arquivo no era voltado para preservao da histria da escola, mas funcionava, apenas, para alimentar
informaes referentes ao corpo discente. Ademais, o descarte de documentos textuais, objetos e livros
que foram publicados no setor de reprografia da escola, realizado por comisses com o objetivo de
esvaziar o arquivo, ocasionou perdas significativas e irreparveis de documentos de valor histrico e
administrativo. Ainda no ano de 1993, foi nomeada uma comisso com a finalidade de pr em prtica o
Projeto Memria Viva, coordenado por Sinclair Guimares Cechiene, tcnico em assuntos educacionais,
e Florence, professora de Educao Artstica, substituda, mais tarde, pela professora Marisa Brando,
professora de Sociologia. Em 1994, a instituio recebeu duas servidoras, Maria Alice da Silva e Vera L-
cia de Oliveira Firmo, arquivologistas, que, tambm, por iniciativa prpria, se incumbiram de implantar e
implementar o Setor de Arquivo, com apoio tcnico-jurdico do Arquivo Nacional. Pode-se afirmar que
foi a partir das relaes estabelecidas por Maria Alice e Vera Lcia, tanto na comunidade interna, quanto
na comunidade externa, que ocorreu a institucionalizao do Setor de Arquivo, isto , o referido setor
passou a existir no organograma da instituio, possuindo competncias e atribuies. Vale registrar que,
a partir da gesto dos professores Miguel Badenes e Carlos Artexes, Diretor-Geral e Vice-Diretor, respec-
tivamente, a preservao do acervo foi incentivada.
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37ARTIGOS
O acervo fotogrfico
As fotografias so mundos de relaes silenciosas, densas, conge-
ladas no tempo mnimo do obturador. Mundos de seres calados
e imveis que devem ser decifrados a partir do contexto onde se
encontram, na histria de sua relao com os demais seres, tanto
pessoas quanto objetos (CIAVATTA, 2004).
Cabe, nesta seo, observar, que a equipe do Centro de Memria do
Cefet/RJ trata da fotografia como fonte histrica. Deste modo, a fotografia
mediao, o que significa entend-la como um processo social denso,
produzido historicamente (CIAVATTA, 2004). Portanto, por ser a fotografia
produzida em um determinado contexto e ser parte articulada da totalida-
de social, sua interpretao requer resgatar os conceitos de essncia e apa-
rncia, que permitem fazer a distino entre o objeto, seu conhecimento
imediato e a concepo do conhecimento mediado pelos processos que o
constituem (CIAVATTA; CAMPELLO, 2006).
Segundo Mauad (2004) para se proceder anlise crtica-interpre-
tativa de uma imagem, deve-se partir de trs premissas: a noo de
srie ou coleo, o princpio de intertextualidade e o trabalho transdis-
ciplinar (ibidem). Assim fundamentada, e, segundo os critrios adota-
dos pelo grupo de pesquisa Memria e temporalidades da formao do
cidado produtivo emancipado, coordenado pela Prof Maria Ciavatta
para classificao de imagens, a equipe de trabalho vem organizando o
acervo fotogrfico do Centro de Memria do Cefet/RJ. Apresentamos,
a seguir, os principais passos ou momentos de trabalho (CIAVATTA;
CAMPELLO, 2006).
a) Contato com o acervo fotogrfico A manipulao das fotografias
foi iniciada por aquelas que se encontravam no Setor de Arquivo e,
depois, por outras que nos foram encaminhadas pelo Setor/Labora-
trio de Fotografia. Os primeiros contatos com os objetos fotogrfi-
cos foram realizados pouco a pouco, de modo a captar quais eram
os temas, contedos e o perodo histrico-temporal do momento
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38 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
fotografado. Procedemos separao das
imagens por fundo, seguindo o critrio de
ordem cronolgica e institucional.
Cabe ressaltar que, historicamente, a
conservao da memria da instituio foi
deixada a cargo de iniciativas isoladas, boas inten-
es e interesses individuais.
b) Classificao das imagens por eixo temtico e espacial Aps a
separao das imagens por fundo e ordem cronolgica, iniciou-se uma
subdiviso, separando-as por tema (diretores, professores, alunos, so-
lenidades etc.) e por espao fsico (fachada, laboratrios, salas de aula,
ptio etc.). Foi, na prtica, a partir da separao das fotografias, que
nomeamos os temas e subtemas, depois, elaboramos as fichas de clas-
sificao e de catalogao de imagens. Para tanto, tomamos como
parmetro a ficha elaborada pelo grupo de pesquisa Memria e tem-
poralidades da formao do cidado produtivo emancipado.
Por ora, a classificao das fotografias nos permitiu determinar 13 te-
mas ou sries (diretores; professores; alunos; estrutura fsica; eventos;
objetos; movimentos polticos; festas; visitas; concursos; servidores
administrativos; rede federal de educao tecnolgica; autoridades),
abarcando 158 subsries.
c) Atribuio de cdigos As fotografias recebem um cdigo expres-
so por um numeral que indica: o ano de sua produo, o nmero
do lbum em que se encontra, acrescidos dos nmeros referentes
srie e subsrie e de seu nmero no acervo. Este cdigo anotado
no seu verso, com lpis HB n 2. Como exemplo, tomemos uma foto
produzida no ano de 2003, encontrada no lbum n 10, classificada
no tema alunos, cujo nmero de tema/srie o n 3. A subsrie
formada por trs dgitos. O primeiro dgito o mesmo do da srie. O
segundo, refere-se ao fundo e, finalmente, o terceiro indica o espao
ou a atividade da fotografia.
d) Identificao das fotos O acervo possui nove lbuns com, apro-
ximadamente, 400 fotografias, que foram identificadas poca de
sua produo. So colees datadas de 1937, 1942, 1951 e dcada
de 1970. O restante do acervo encontrava-se, em grande parte, sem
nenhuma identificao. Observamos que o olhar cuidadoso, por
detrs da cmera fotogrfica, buscou registrar os diversos espaos
e momentos da escola. Entretanto, as fotografias ficaram guardadas
em gavetas e caixas, como se seu dono estivesse sempre por perto
para narrar a histria do cenrio e de atores.
e) Organizao do acervo3 Os lbuns foram numerados seguindo
o critrio de ordem cronolgica e institucional. Devido ao acon-
dicionamento precrio, durante anos, os mais antigos necessitam
de restaurao. Para o restauro do material fotogrfico (capa de
lbum, suporte de papel e a fotografia em si), contamos com o
trabalho dos arquelogos e restauradores Simone Mesquita, profes-
sora da UFRJ/Museu Nacional, e de Fabiano Cataldo de Azevedo.
As fotografias que estavam guardadas em caixas no Setor de Ar-
3. Esse projeto contou com o apoio
dos estagirios Diego Andrade Velloso
de Lima e Yasmim Watanabe, na
implantao do site do Centro de
Memria do Cefet/RJ; e dos ex-
estagirios Mrio Jorge Barretto
e Andr Gatto nos processos
de codificao, identificao e
organizao do acervo fotogrfico;
e de Rafael Rodrigo S. Ferreira
na informatizao, digitalizao e
programao de banco de dados.
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39ARTIGOS
quivo ou em gavetas do Setor de Fotografia esto sendo arranjadas
em envelopes de plsticos de polipropileno cristal liso. A cada 100
envelopes, contendo duas fotografias cada, inserimos em fichrios
de plstico. Esses fichrios, agora denominados lbuns, so nume-
rados dando seqncia aos primeiros. At o momento, montamos
quatro lbuns/fichrios.
O Museu Escolar do Cefet/RJ
O Museu Escolar est sendo instalado com a finalidade de divulgar e
garantir o acesso do pblico, em geral, ao acervo da instituio. Tido como
espao fsico para fins culturais, atuar na temtica da educao profissional
no Brasil, cujas mostras devero apresentar descritivamente, por fundo, a
histria da instituio desde o incio de suas atividades, em 1917, na Escola
Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, at os dias que correm. Neste
sentido, estaro em exposio: documentos textuais; iconogrficos e carto-
grficos; indumentrias; insgnias; moblias; objetos de uso pessoal e outros
objetos que forem reunidos por meio de doaes.
Em sntese, a proposta de criao do Museu Escolar visa garantir a
continuidade e a ampliao do trabalho j iniciado pelo Centro de Me-
mria, tornando-se um marco diferencial na atuao do Cefet/RJ em re-
lao ao uso, comunicao, documentao, investigao e preservao
de seu acervo.
Atividades de pesquisa
Desde 2000, vm sendo desenvolvidas uma srie de pesquisas que vi-
sam fornecer subsdios para a histria do ensino tcnico no Brasil, no meio
do estudo da Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, experincia
nica no Brasil entre 1918 e 1937, perodo em que deteve o ttulo de esco-
la normal para formar professores
habilitados a lecionarem nas esco-
las de aprendizes e artfices.
No momento, est em anda-
mento o projeto A Formao de
Professores na Escola Normal de
Artes e Ofcios Wenceslau Braz,
que procura analisar o processo de
formao e profissionalizao dos
professores, dentro do universo
tcnico formador de mo-de-obra
para a indstria, especialmente no
perodo de vida da Escola Normal.
Procura-se compreender a sua
relao com o mundo industrial
e com o mercado de trabalho da
poca. O projeto de pesquisa con-
ta com a colaborao de bolsistas
de iniciao cientfica.
Inaugurao do espao Centro de Memria
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40 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007
O projeto tem como referncia central o modelo de interpretao cons-
trudo por Nvoa (1997). Partindo de uma abordagem que chama de s-
cio-histrica, ele prope um conceito de profisso que aponta para uma
nova chave de leitura dessa problemtica, que se faz a partir de uma dupla
dimenso e da percepo da existncia de quatro momentos do processo
de profissionalizao da atividade docente, que podem ser estudadas tanto
numa perspectiva diacrnica quanto numa perspectiva sincrnica.
Tomando como referncia a anlise que Nvoa desenvolve sobre a
profisso docente, o presente projeto prope-se, entre outros objetivos, a
identificar o corpo docente, por disciplina, que atuou ao longo da hist-
ria da Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, investigar a sua
formao profissional, alm de contextualizar o currculo escolar com o
desenvolvimento cientfico e tecnolgico da poca.
Consideraes finais
Partindo do pressuposto de que a realidade concreta uma totalidade,
sntese de mltiplas determinaes e, ainda, o Centro de Memria parte
desta totalidade, determinado pelas relaes que o constituem, pode-se
afirmar, ento, que o Centro de Memria do Cefet/RJ no apenas parte
do espao fsico, parte do tempo, parte do trabalho da instituio na sua
globalidade, mas tambm lugar de: memria, resgate histrico, planejar
aes futuras, contemplao e visitao que se articulam ao conhecimento
e concepo da escola politcnica, de formao integral.
Em suma, implantar um espao de preservao e reconstruo histrica
da identidade do Cefet/RJ faz parte de um movimento maior pela participa-
o e construo de uma escola pblica, democrtica, nica e de formao
omnilateral. Visto como lugar de memria e de busca da identidade da ins-
tituio como lugar de articular memria e projeto , o Centro de Mem-
ria pode contribuir para a reconstruo histrica no apenas da instituio,
mas, tambm, do ensino profissional no pas.
REFERNCIAS
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Equipe trabalha no Centro de Memria
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41ARTIGOS
RESUMO
A relao entre o meio empresarial e o mercado exige a formulao de
estratgias competitivas baseadas na anlise do ambiente interno e externo,
onde devero ser identificados os riscos e oportunidades, fraquezas e foras
da concorrncia que possam influenciar na capacidade das empresas de
atingir suas metas. Assim, tendo em vista o notvel crescimento da empresa
em estudo do ramo de sorvetes e picols e sua aspirao a outros mercados
em potencial, o presente artigo busca relacionar as estratgias competitivas
A estratgia competitiva
promovendo o crescimento
de uma empresa potiguar
COSTA, Ana C. R.; PEREIRA, Andr B.; MEDEIROS, Anglica P. Q. de;
FLIX Fbio H. de M.; CAMELO, Gerda L