Cadernos Temáticos - Gestão Administrativa

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  • Dezembro de 2007 N 17

    CADERNOS

    TEMTICOS

  • EXPEDIENTEExpediente

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Centro de Informao e Biblioteca em Educao (CIBEC)

    &DGHUQRVWHPiWLFRV6HFUHWDULDGH(GXFDomR3URVVLRQDOH7HFQROyJLFDYQRY%UDVtOLD6HFUHWDULDGH(GXFDomR3URVVLRQDOH7HFQROyJLFD

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    Conselho Editorial

    Patrcia Barcelos, Solange Moreira Corra, Maria Amelia Ayd Corra,

    Sonia Ana Charchut Leszczynski, Sandra Branchine e Cinara Barbosa

    Coordenao Editorial

    Cinara Barbosa

    Produo Executiva

    Patrcia Barcelos e Sandra Branchine

    Reportagens

    Marco Aurlio Fraga, Rodrigo Farhat, Sophia Gebrim e Stela Rosa

    Assistente de Produo Grfica

    Muriele Cristina de Oliveira

    Relaes Pblicas

    Pablo Viana

    Reviso

    Denise Goulart

    Diagramao

    www.grifodesign.com.br

    Impresso

    Cromos

    Impresso no Brasil

    A exatido das informaes, os conceitos e opinies emitidos nos artigos e

    nos resumos estendidos, relatos de experincia e prticas pedaggicas so de

    exclusiva responsabilidade dos autores.

    2007 Ministrio da Educao

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte

    Srie Cadernos Temticos

    Tiragem: 10.000 exemplares

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica

    Esplanada dos Ministrios, Edifcio Sede, bloco L, 4 andar

    CEP: 70047-900 Braslia/DF

    Telefones: (61) 2104-8127/9526

    Fax: (61) 2104-9744

    [email protected]

    www.mec.gov.br

  • SUMRIOSumrio

    Apresentao 5

    Editorial 7

    Reportagens 8

    Transformar a natureza em aliada da agricultura 8

    Comunidade busca aumento da renda com vidro reciclado 14

    Muzambinho ter laboratrio de gesto sustentvel 19

    Turismo como ferramenta de gesto 24

    Artigos 27

    Mimosidade: uma estratgia competitiva 27

    O Centro de Memria como lugar de reconstruo

    histrica e busca de identidade 33

    A estratgia competitiva promovendo

    o crescimento de uma empresa potiguar 41

    Organizao industrial pela logstica da manuteno:

    uma abordagem lean manutence 48

    O potencial fruticultor do Rio Grande do Norte no mercado internacional 57

    Oferta e demanda por educao 65

    Trabalho docente 73

    Resumos Estendidos, Relatos de Experincia

    e Prticas Pedaggicas 82

    Programas de estgio e metodologia cientfica

    como elementos de formao profissional 82

    A implantao do Proeja em nosso colgio 85

    O ensino tcnico de qumica e a formao empreendedora 87

    Influncia das polticas pblicas nas transaes entre agentes de turismo 89

    Contatos 92

  • Carl

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    os S

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    s

  • 5APRESENTAOApresentao

    Esta publicao tem histria. Resulta de um trabalho iniciado em mea-

    dos de 2004. quela poca, a equipe de Comunicao Social da Secretaria

    de Educao Profissional e Tecnolgica do Ministrio da Educao tinha

    alguns desafios frente: revelar o cotidiano das escolas de formao de

    trabalhadores; mostrar a diversidade dessas unidades; valorizar a produo

    cultural e cientfica de servidores, estudantes e professores. Havia, ainda, al-

    gumas barreiras a vencer, como manter e aperfeioar a qualidade de textos

    e imagens das publicaes.

    Quinze edies depois, as tentaes so outras. Luta-se para ampliar

    a tiragem, de forma a aumentar o nmero de leitores, assim como avaliar

    qualitativamente cada edio.

    Nesse percurso, mais precisamente em 2007, a coletnea Cadernos Te-

    mticos da Educao Profissional passou a integrar o Qualis, lista de peri-

    dicos com qualidade recomendada pela Coordenao de Aperfeioamento

    de Pessoal de Nvel Superior (Capes). Ao lado de anais, revistas e jornais,

    os cadernos se tornaram divulgadores avalizados da produo intelectual

    de professores e alunos de programas de ps-graduao. Os cadernos re-

    ceberam classificao em trs reas distintas: cincia de alimentos (nvel C

    em mbito nacional), educao (nvel C nacional) e multidisciplinar (nvel B

    nacional). Dessa forma, os trabalhos produzidos por professores e estudan-

    tes da Rede Federal de Educao Profissional ganharam mais visibilidade e

    ampliaram o dilogo com as agncias de fomento pesquisa.

    Hoje, todas as escolas da Rede Federal de Educao Profissional e Tec-

    nolgica recebem exemplares dos Cadernos Temticos. Consegue-se, tam-

    bm, atender s escolas estaduais de educao profissional. Entretanto, a

    cobertura no atinge ainda as instituies pblicas de ensino mdio. uma

    meta a ser alcanada.

    Em quatro anos, o projeto grfico-editorial pouco foi alterado. A princi-

    pal preocupao para as modificaes foi o refinamento do projeto grfico,

    de forma a facilitar a leitura da revista e a compreenso de seu contedo,

    tornando-a de leitura mais gil. Barras coloridas passaram a servir de indi-

    cadores das sees: reportagens em vermelho, artigos em azul, resumos,

    relatos e prticas em verde, de forma a diferenciar uma pgina da outra. No

    quesito editorial, buscou-se ampliar a abrangncia, de maneira a descorti-

    nar o mosaico de aes e estudos produzidos pelas escolas, numa ligao

    explcita com a realidade de cada regio.

    A finalidade dos Cadernos Temticos continua a mesma, ou seja, divul-

    gar trabalhos, pesquisas e projetos de servidores, professores e alunos da

    Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica. A seleo do material

    enviado pelas escolas feita de acordo com alguns critrios. Os mais impor-

    tantes so a pertinncia ao tema e a relevncia das informaes, de forma a

    que os artigos contidos nesses cadernos reflitam a diversidade e a realidade

    de cada local, de cada cidade e de cada escola. Todos mostram, por meio

    de texto artigos, resumos, relatos, prticas e reportagens , a realidade da

    formao de profissionais no Brasil.

    O desafio de editar cada nmero dos Cadernos Temticos, entretanto,

    o mesmo desde o incio deste projeto da Setec: escrever a histria da edu-

    cao profissional e tecnolgica no pas.

  • Rodri

    go F

    arh

    at

  • 7EDITORIALEditorial

    Cadernos so retratos do Brasil

    Os volumes 16 a 20 dos Cadernos Temticos mostram experincias ino-

    vadoras, prticas pedaggicas, pesquisas e resumos de artigos que contri-

    buem para o desenvolvimento da educao profissional e tecnolgica no

    Brasil. So um retrato da harmonia das quase duas centenas de escolas da

    rede com as realidades regionais do pas.

    De 1909 a 2002, 140 escolas tcnicas foram construdas no pas. De

    2003 a 2010, sero mais 214, dentro do plano de expanso da rede federal

    de educao profissional e tecnolgica. A meta do Ministrio da Educao

    chegar a 354 unidades, com a oferta de 500 mil vagas, num investimento

    total de R$ 933 milhes.

    A Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica oferece cursos

    de qualificao, de ensino tcnico de nvel mdio, superior e de ps-gradu-

    ao. As reas variam de acordo com a realidade regional, em sintonia com

    os arranjos produtivos locais.

    O trabalho do Cefet/Rio Pomba sobre agroecologia e o projeto de gesto

    em empreendimentos tursticos do Cefet/Cear so destaques deste nme-

    ro dos Cadernos Temticos da Educao Profissional, assim como os artigos

    sobre a estratgia de fidelizao de clientes pelo mimo e sobre o potencial

    fruticultor do Rio Grande do Norte no mercado internacional.

    Com a ampliao da rede, mais experincias podero ser temas de re-

    portagens e cenrios de experincias, prticas pedaggicas e pesquisas. A

    diversidade brasileira tratar de enriquec-las. Aguardem.

  • 8 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente, que promove a

    incluso social e proporciona melhores condies econmicas para os agri-

    cultores. Esse o conceito da agroecologia, conhecida tambm como a

    agricultura do novo milnio.

    Tambm tem se vinculado agroecologia a oferta de produtos limpos

    do ponto de vista ecolgico, isentos de resduos txicos. Assim, traz a idia

    e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de favorecer aos homens e

    ao meio ambiente como um todo. A inteno fugir do conceito de uma

    agricultura intensiva em capital, energia e recursos naturais no renovveis,

    agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e causa-

    dora de dependncia econmica.

    AGRICULTURA

    Transformar a natureza

    em aliada da agricultura

    Agroecologia ganha mercado e expande-se

    no interior de Minas Gerais

    Fotos: David Silveira

    Alunos do Cefet/Rio Pomba participam de aula prtica

  • 9REPORTAGENS

    A AGROECOLOGIA, como uma nova cincia multidisciplinar tem uma

    orientao cujas pretenses e contribuies vo alm de aspectos mera-

    mente tecnolgicos ou agroeconmicos da produo agropecuria. Nessa

    tcnica, so incorporadas dimenses mais amplas e complexas que incluem

    tanto variveis econmicas, sociais e ecolgicas, como variveis culturais,

    polticas e ticas.

    Interpretada desta forma, a agroecologia corresponde ao campo do co-

    nhecimento que proporciona as bases cientficas para apoiar o processo

    de transio do modelo de agricultura convencional (agro-qumico) para

    estilos de agricultura de base ecolgica ou sustentvel.

    Um passo frente

    O pequeno municpio de Rio Pomba, em Minas Gerais, com aproxima-

    damente 20 mil habitantes, pioneiro na oferta de cursos de agroecologia.

    Atualmente, o Cefet/Rio Pomba a nica instituio no pas a oferecer o

    curso superior em Agroecologia. Essa nova gesto da agricultura tem agra-

    dado alunos e professores da escola, que vem a agroecologia como a agri-

    cultura do futuro.

    O enfoque agroecolgico que o Cefet/Rio Pomba d ao curso traz con-

    sigo ferramentas tericas e sistmicas, as seis dimenses da sustentabili-

    dade, ou seja: a ecolgica, a econmica, a social, a cultural, a poltica e a

    tica, afirma do diretor do Cefet/Rio Pomba, Mrio Srgio Costa, que atua

    na rea h mais de 20 anos.

    Idealizador do modelo de gesto em agroecologia na escola, Mrio

    afirma que esse mtodo no pode ser confundido simplesmente com um

    conjunto de prticas agrcolas ambientalmente amigveis. Ainda que ofe-

    rea princpios para estabelecimento de estilos de agricultura de base eco-

    lgica, no se pode confundir agroecologia com as vrias definies es-

    AGROECOLOGIA

    Cincia que envolve conhecimentos

    nas reas de ecologia, agronomia,

    sociologia, antropologia, comunicao

    e economia ecolgica, dentre outras.

    Com a nova

    agricultura, pode-se

    melhorar a produo

    e reduzir gastos

    Luiz Cludio levou as tcnicas aprendidas para propriedade de seu pai

  • 10 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    tabelecidas para identificar algumas correntes da agricultura ecolgica.

    Ele ressalta a importncia de no se confundir agroecologia com agri-

    cultura sem veneno ou agricultura orgnica, por exemplo, at porque

    essas nem sempre tratam de enfrentar os problemas presentes em todas

    as dimenses da sustentabilidade.

    Novo modelo de gesto

    O CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA ofertado pelo Cefet/Rio Pomba

    tem durao de trs anos, mas, a partir de 2008 ser transformado em

    bacharelado e passar para quatro anos.

    Embora seja uma formao recente (a primeira turma no Cefet iniciou

    em 2006), a coordenadora geral de ensino do Cefet/Rio Pomba, Elisete

    Reis, garante que os resultados do curso tm sido positivos, com a produo

    de alimentos orgnicos como arroz, feijo, verduras, mel e acar mascavo.

    Nossa proposta capacitar os profissionais para promover, orientar e ad-

    ministrar o uso de fatores de produo como forma de racionalizar a produ-

    o vegetal e animal, sempre em harmonia com o ecossistema, explica.

    Preocupao com o futuro

    Um sentimento de urgncia na mudana do ensino unanimidade

    entre os alunos do terceiro perodo do curso tecnlogo em agroecolo-

    gia do Cefet/Rio Pomba. Os alunos Luiz Cludio, 22 anos, Guilherme

    Moreira, 19 anos, e Ricardo Duque, 25 anos, afirmam que a transio

    da agricultura convencional para a agroecologia um fator de gran-

    CURSO SUPERIOR

    DE TECNOLOGIA

    O tecnlogo em agroecologia pode

    atuar em propriedades rurais,

    cooperativas e unidades familiares

    de produo, por meio de sistemas

    de controle de qualidade na produo

    agropecuria; em pesquisas e

    projetos, como na recuperao de

    reas degradadas; na produo e

    propagao de sementes e mudas; no

    desenvolvimento de mtodos naturais

    e alternativos de proteo s pragas

    e doenas de melhoramento gentico

    e at mesmo em processos baseados

    em formas renovveis de energia

    no meio rural.

    Funcionrio cuida de plantao agroecolgica na escola

  • 11REPORTAGENS

    de importncia para a preservao do

    meio ambiente e, principalmente, para

    o resgate e valorizao da cultura local

    e promoo de incluso social. A agro-

    ecologia, alm de reduzir gastos em

    uma pequena ou mdia propriedade

    agrcola, tambm favorvel ao meio

    ambiente, j que em um sistema agro-

    ecolgico tudo se produz dentro da

    propriedade, conta o jovem Ricardo.

    Segundo ele exemplifica, hoje gasto

    uma mdia de 200 reais, por hectare,

    com uma adubao simples. Com a uti-

    lizao dos mtodos da agroecologia,

    essa adubao seria substituda pela

    adubao verde (espcie leguminosa

    rica em nitrognio), o que teria um cus-

    to quase zero ao pequeno agricultor.

    O estudante Luiz Cludio j est

    levando as tcnicas aprendidas na ins-

    tituio para a pequena propriedade

    rural do seu pai, o senhor Rubens. Aos

    poucos estou ensinando o que essa

    nova agricultura, como podemos me-

    lhorar a produo e, o principal, como

    reduzir gastos, diz Luiz. Conforme ele conta, o sistema agroecolgico

    algo que deve ser implantado aos poucos e demora cerca de 1 a 2 anos

    para ficar totalmente estabilizado. Esse processo de transio realmen-

    te um pouco demorado, mas se tudo for feito da forma correta desde

    o incio, os resultados apresentados so maravilhosos.

    Principais linhas da agroecologia

    Segundo Anastcia Fontantti, coordenadora do curso de agroeco-

    logia do Cefet/Rio Pomba, o modelo de produo agrcola reducionista

    proposto pela revoluo verde, baseado na aplicao de elevadas doses

    de adubos minerais solveis, proteo de plantas via produtos fitossani-

    trios (herbicidas, fungicidas, inseticidas etc.) e na simplificao cultural

    (monoculturas), proporcionou em curto prazo aumento da produtivida-

    de, conferindo maior competitividade no mercado globalizado. Porm,

    os impactos gerados causaram degradao do solo, contaminao da

    gua e perda da biodiversidade, dificultando a manuteno dos ndices

    e acentuando as desigualdades econmicas e sociais, afirma ela.

    A necessria mudana de concepo dessa agricultura, que poluiu e

    excluiu socialmente, contribuiu para o surgimento de um novo paradigma,

    o da sustentabilidade. Isso preconiza o uso equilibrado do solo e da gua, a

    maximizao das contribuies biolgicas, o incremento da biodiversidade

    e o fortalecimento da agricultura familiar. A percepo desse paradigma

    contribuiu para a ampla difuso da agroecologia.

    Estudante trata do adubo natural

    utilizado no processo

  • 12 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Agricultura orgnica

    A agricultura orgnica teve incio em meados do sculo XX, na ndia,

    atravs dos estudos do ingls Albert Howard sobre compostagem. Essa cor-

    rente agroecolgica tem como sustentculo a aplicao, no solo, de resdu-

    os orgnicos vegetais e animais produzidos na propriedade com o objetivo

    de manter o equilbrio e a ciclagem de nutrientes.

    O crescimento de vendas de produtos orgnicos no mundo est em

    torno de 7 a 9% ao ano e os maiores mercados esto situados na Europa

    e nos EUA; a rea destinada produo orgnica certificada no mundo

    ocupa cerca de 31 milhes de hectares em 120 pases e o Brasil est

    na 6 posio mundial. O Brasil possui cerca de 203 mil hectares com

    culturas orgnicas e 600 mil hectares com pastagens orgnicas. No en-

    tanto, o pas deve subir para a 2 posio devido recente certificao

    de 5,7 milhes de hectares de reas de extrativismo sustentvel de cas-

    tanha, aa, pupunha, ltex e outros produtos, oriundos principalmente

    da regio amaznica.

    Entre as culturas produzidas no sistema orgnico no Brasil destacam-

    se a soja, o acar e o caf, destinados exportao, e as olercolas,

    destinadas principalmente ao mercado interno. No entanto, outros se-

    tores, como de produo de cereais, carnes, leite e seus derivados de-

    vero ser incrementados, devido insero de suas cadeias produtivas

    no mercado orgnico.

    Funcionrio da escola maneja campo do Cefet/Rio Pomba

  • 13REPORTAGENS

    Agricultura biodinmica

    A agricultura biodinmica tem como princpio antroposofia, a cincia

    espiritual divulgada pelo filosofo austraco Rudolf Steiner. Entre as prticas

    agrcolas indicadas pela agricultura biodinmica esto:

    interao entre a produo animal e vegetal;

    utilizao de compostos lquidos elaborados a partir de substncias

    animais, vegetais e minerais (preparados biodinmicos);

    orientao astronmica;

    preocupao com a harmonia ambiental (qualidade da paisagem).

    Agricultura natural

    A agricultura natural teve como alicerce a religio idealizada e divulgada

    no Japo na dcada de 1930 por Mokiti Okada. Essa corrente filosfica

    enfatiza o respeito pelas leis da natureza. Assim, minimiza a interveno no

    ambiente e nos processos naturais. Mantm quatro princpios:

    no cultivar o solo (revolver);

    no utilizar fertilizantes de nenhuma fonte, quer orgnico ou mineral;

    no capinar;

    no utilizar agrotxicos.

    Privilegia a rotao de culturas, a adubao verde, cobertura morta e os

    microrganismos eficientes para o preparo do composto orgnico.

    Permacultura

    A permacultura teve incio na Austrlia, com o pesquisador Bill Mollisson,

    como uma proposta de agricultura para regies de escassos recursos naturais.

    Tem como principal meta simular os ecossistemas naturais, priorizando cultu-

    ras perenes e a integrao da produo vegetal com a criao animal.

    Reportagem: Sophia Gebrim

    A agroecologia

    rene a ecologia

    e a agronomia,

    cincia pura e

    natureza. Incorpora

    idias ambientais

    e sociais e tem a

    agricultura orgnica,

    a agricultura

    biodinmica, a

    agricultura natural e

    a permacultura como

    principais linhas

    Servidor colhe hortalias em plantao da escola

  • 14 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Sandro Boa Morte, 26 anos, e Claudinia Bewzenko, 27, so jovens mo-

    radores do Jardim Paraso, na periferia de Ponta Grossa/PR. Desempregados

    e sem perspectivas, se inscreveram no curso de reciclagem de vidro ofere-

    cido pela equipe do professor Lus Maurcio Martins de Resende, Gerente

    de Ensino do campus de Ponta Grossa da Universidade Tecnolgica Federal

    do Paran (UTFPR), no incio de 2007.

    O projeto da EQUIPE da UTFPR recebeu recursos de mais de R$ 129

    mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq), alm de apoio financeiro do Ministrio da Educao, da Universi-

    dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e da prefeitura da cidade. At uma

    rede local de supermercados, a Tozzetto, investiu na idia, fornecendo ali-

    mentao para os alunos das primeiras turmas. Com os recursos obtidos,

    Comunidade busca aumento

    da renda com vidro reciclado

    Projeto tenta organizar populao

    de baixa renda de Ponta Grossa

    EQUIPE

    A equipe coordenada pelo professor

    Lus Maurcio composta pelos

    professores Magda Lauri Gomes Leite,

    Cristiane SantAna Santos, Eliane

    Pietrovski, Adilson Chinelato, Adriana

    Scoton Chinelato, Benjamin Carvalho

    e Ivanir Luiz de Oliveira, e pelo bolsista

    Fernando Ratti de Oliveira.

    Fotos: Rodrigo Farhat

    Incio do processo de sinterizao do vidro

    RECICLAGEMRECICLAGEM

  • 15REPORTAGENS

    foram pagos consultoria e bolsistas, construdo um forno a gs, elaborado

    material didtico para as aulas, construdo moldes de gesso e de argila para

    a transformao do vidro e adquiridos fornos eltricos, entre outras mqui-

    nas e materiais.

    At agora, foram capacitadas duas turmas de catadores de resduos e

    uma de moradores do Jardim Paraso, num total de 27 pessoas. Com du-

    rao de sete dias, os alunos aprendem no curso a selecionar e separar os

    materiais, a tritur-lo e a fazer a SINTERIZAO do vidro. Aprendem, ainda,

    normas de segurana no trabalho, como se tornar empreendedores e tra-

    balhar em equipe.

    Para a segunda fase do projeto, prev-se a oferta de programas para

    montagem de peas decorativas e utilitrias e a formao de redes coope-

    rativas para que a atividade seja sustentvel e a comunidade se organize e

    melhore sua qualidade de vida.

    Para a confeco das peas artesanais e decorativas mais bem elabo-

    radas, o professor Lus Maurcio vai ter a consultoria da designer Dulce

    Fernandes, professora da Universidade Federal do Paran. Sua experincia

    ajudar a equipe de Ponta Grossa a reutilizar o vidro aps descarte em

    peas com mais valor agregado, como luminrias, travessas e vasos. Ela

    tem vrias pesquisas na rea, como a que sistematiza a utilizao da sucata

    de vidro, de embalagens de bebidas e retalhos de chapas de vidro planas

    para aplicao em produtos cermicos, com objetivo funcional e decorati-

    vo. Precisamos agrupar professores de outras reas, como de arte e design.

    Somos engenheiros, sabemos como sinterizar o vidro, mas o que fazer com

    ele depois?, reconhece Lus Maurcio.

    SINTERIZAO

    a fase intermediria da queima de

    vidro, da argila ou do esmalte. Nessa

    etapa, na qual a fase lquida ainda

    no foi atingida, as partculas slidas

    se aglutinam pelo aquecimento a

    uma temperatura inferior de fuso.

    O amlgama formado tem menor

    porosidade e mais resistncia.

    O processo demora, em mdia,

    de 30 a 40 minutos.

    Temperatura do forno pode ultrapassar 800C

  • 16 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Curso melhora perspectiva de vida

    O professor Lus Maurcio observa que as pessoas necessitam se organi-

    zar em cooperativas e gerir o novo negcio como uma pequena empresa,

    que precisa se manter competitiva no mercado. Para isso, ele pensou o

    projeto em quatro frentes distintas: montagem do plano de negcios, cons-

    truo da unidade de artesanato, edificao do ponto de beneficiamento e

    formao de pessoal.

    As pessoas do Jardim Paraso que aderiram proposta da equipe da

    UTFPR esperam a abertura de novos cursos, pois descobriram na recicla-

    gem de vidro um negcio em potencial.

    Sandro Rodrigues Boa Morte conseguiu um emprego depois de ter fei-

    to o curso de sinterizao de vidro vendedor de passagens da empresa

    Princesa dos Campos. Mesmo com a conquista do posto de trabalho, es-

    pera com ansiedade a abertura da nova turma de produo de artesanato,

    pois quer aprender a fazer bijuteria e ajudar na formao da cooperativa

    de artesos.

    Sandro entrou no grupo para aumentar a renda e tambm para apren-

    der novas atividades e ofcios. Como trabalha na rodoviria das 14h30

    s 23h, pleiteia que o novo curso seja oferecido durante as manhs para

    poder participar.

    Ele, que terminou o ensino mdio e pretende cursar Histria, mudou

    sua perspectiva de vida e a forma de ver a sustentabilidade de sua co-

    munidade. Quer fazer peas com vidro para vender e at para presentear

    as pessoas. So to bonitas, afirma, orgulhoso das que fez na oficina.

    Nunca tinha pensado na possibilidade de reciclar vidro, diz. Coisas to

    belas para uso dirio e de decorao podem ser produzidas com garrafas

    normalmente jogadas fora, conta.

    Sua colega Claudinia Bewzenko concorda. No tinha noo do que

    era possvel fazer com garrafas usadas, revela.

    Sandro Rodrigues deseja integrar cooperativa de artesos

    Claudinia e Fernando manipulam vidro

  • 17REPORTAGENS

    Ela tem dois filhos e conseguiu terminar o ensino mdio. No futuro,

    deseja estudar Nutrio ou Servio Social. Desde outubro de 2007, tra-

    balha na biblioteca do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais

    (Cescage), das 15h s 22h. Enquanto cuida dos livros, deixa os filhos

    com a me.

    No comeo, Claudinia, que faz croch e bordados em chinelos para

    vender, imaginava aumentar a renda comercializando peas decorativas e

    porta-copos de vidro. Antes do curso, jogava as garrafas vazias fora e hoje

    as guarda e at as cata na rua. Gosta dos bem coloridos, principalmente os

    de perfumes, pois geram peas mais chamativas. Como pretende dar se-

    guimento formao, tambm vai se inscrever na prxima fase do curso.

    Oficina foi instalada na Casa Brasil

    A oficina para reciclagem do vidro foi montada na Casa Brasil de Ponta

    Grossa. Como explica seu coordenador, Allan Francis de Paula, um pro-

    jeto de incluso social, digital e cultural mantido pelo Governo Federal. O

    principal objetivo dar condies para que populaes de regies com

    baixo ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) e elevadas taxas de crimi-

    nalidade e violncia tenham uma perspectiva de trabalho e lazer a fim de

    capacit-las para agir socialmente.

    No Jardim Paraso, a Casa foi inaugurada h um ano, em 16 de dezem-

    bro de 2006. A unidade possui 20 computadores com acesso internet,

    sala de leitura e biblioteca. L, so oferecidas oficinas nas reas de infor-

    mtica bsica, de reciclagem de lixo tecnolgico, teatro, capoeira, dana

    de rua, hip hop e danas gachas. Existe, ainda, um programa de formao

    de jovens aprendizes, na rea de auxiliar administrativo e de produo in-

    dustrial, mantido em parceria com o Servio Nacional de Aprendizagem

    Industrial (Senai) de Ponta Grossa.

    Para Allan, a oficina de vidro incentiva a economia solidria e busca a sus-

    tentabilidade dos moradores do bairro, que tem cerca de 6 mil habitantes.

    Tambm entusiasmado com a proposta, o

    bolsista Fernando Ratti de Oliveira, do curso de

    Engenharia de Produo Mecnica da UTFPR,

    comeou como voluntrio no projeto. Tem 19

    anos e est no segundo perodo da graduao.

    Nunca tinha trabalhado com vidro antes.

    Entrei no grupo para aprender a montar um ne-

    gcio e descobrir mais detalhes sobre recicla-

    gem de materiais, diz.

    Ele lembra que os maiores problemas com

    resduos esto relacionados a peas de vidro e

    plstico. Conta que as garrafas so recolhidas,

    lavadas e quebradas. Pode ser qualquer garra-

    fa, desde que as cores no sejam misturadas,

    explica. Em seguida, revela que a temperatura

    do forno atinge mais de 8000C e que o vidro

    no chega a ser fundido.

    Allan de Paula coordena a Casa Brasil

    Casa Brasil de Ponta Grossa

    sede da oficina de reciclagem

  • 18 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    O professor Lus Maurcio ressalta que o projeto enviado ao CNPq foi

    alterado, pois, inicialmente, era destinado a catadores. Percebemos que o

    pblico no era o ideal para o projeto, pois os catadores de resduos tm

    um problema de sobrevivncia a resolver. Eles precisam recolher o resduo

    hoje para ter dinheiro ao final do dia, ressalta.

    A idia comeou a ser colocada em prtica em 2006, com uma turma

    experimental. Dos dez alunos, somente trs se formaram, pois viram que

    recolher, sinterizar, produzir e vender o artesanato de vidro leva um tempo

    demasiado para eles. Vimos, ento, que nosso pblico tinha que ser revis-

    to. Foi, ento, que focamos em moradores da periferia da cidade, conta

    Lus Maurcio.

    Vidro produzido a partir de fuso da slica

    O vidro obtido por fuso de dixido de silcio (SiO2), carbonato de

    sdio (Na2CO

    3) e carbonato de clcio (CaCO

    3). material ideal para ser

    reciclado. A reciclagem permite a conservao de materiais, reduz o consu-

    mo de energia e do volume de lixo enviado para aterros sanitrios.

    Os resultados da reciclagem so expressivos tanto na rea ambiental,

    como nas reas econmica e social. No meio ambiente, a reciclagem pode

    reduzir a acumulao de lixo, as emisses de gases como o metano e o gs

    carbnico e as agresses ao solo, ao ar e gua.

    Enquanto no aspecto econmico a reciclagem contribui para a utilizao

    mais racional de recursos naturais, no social proporciona melhor qualidade

    de vida para as pessoas, gerando postos de trabalho e renda.

    Reportagem: Rodrigo Farhat

    Lus Maurcio mostra molde usado na sinterizao

    Reciclagem de vidro em Ponta

    Grossa incentiva sustentabilidade

  • 19REPORTAGENS

    Tema de debate mundial, a AGROENERGIA est integrando o dia-a-dia

    da Escola Agrotcnica Federal de Muzambinho (EAF-MuZ). A instituio

    est investindo na qualificao do quadro docente, desenvolvendo pesqui-

    sas na rea energtica, implantando tecnologias para o aproveitamento de

    resduos animal e vegetal. Outra ao a formao de profissionais. Este

    ano, a instituio est ofertando o primeiro Curso Superior de Tecnologia

    em Agroenergia do Brasil. A meta tornar-se um centro de referncia de

    prticas e estudos para estimular a implantao de gesto SUSTENTVEL

    entre os agricultores da regio.

    AGROENERGIA

    Muzambinho ter laboratrio

    de gesto sustentvel

    Agrotcnica investe em infra-estrutura e formao

    profissional e contribui com gesto agrcola sustentvel

    AGROENERGIA

    O conceito de agroecologia

    surgiu nos anos 1990. No

    Brasil, consolidou-se na Eco-92.

    Atualmente, o termo entendido

    como um conjunto de princpios e

    tcnicas que busca a reduo da

    dependncia de energia externa e

    do impacto ambiental da atividade

    agrcola e agropecuria.

    Fotos: Carlos Esa dos Santos

    Sistema de biodigestor garante abastecimento de biogs e biofertilizante

  • 20 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Localizada no sudoeste de Minas Gerais, fronteira com So Paulo,

    a agrotcnica fica em uma regio produtora de caf, cana-de-acar

    e de criao de bovinos e sunos. Como no restante do pas, um dos

    problemas enfrentados a depredao do meio ambiente, decorrente

    dos resduos gerados pelas atividades agrcola e agropecuria. Para se

    ter uma idia do que isso significa, de acordo com a Empresa Brasileira

    de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), o Brasil possui o maior rebanho

    bovino comercial do mundo, com cerca de 206 milhes de cabeas,

    e ocupa o primeiro lugar nas exportaes mundiais. Com o volume de

    abate bovino anual, pode-se contar com cerca 700 toneladas/ano de

    sebo para produzir combustvel. No entanto, grande parte desse mate-

    rial desperdiado e acaba sendo jogado nos rios e no solo, trazendo

    conseqncias nocivas natureza e sade.

    De acordo com o professor Luiz Carlos Machado Rodrigues, diretor-

    geral substituto da EAF-MuZ, o principal objetivo formar profissional

    capaz de apontar solues para que os pequenos e grandes produtores

    adotem tecnologias sustentveis do ponto de vista econmico e ambien-

    tal. Por falta de conhecimento, acabamos produzindo materiais poluen-

    tes que poderiam ser reaproveitados para a produo de energia, adubo e

    BIOCOMBUSTVEL, ressalta. Ele explica que a implantao de tecnologias

    simples, como o aquecedor solar e a usina de reaproveitamento de leos

    de frituras para a produo de BIODIESEL, alm de trazer retorno econ-

    mico, fundamental para a preservao do meio ambiente. Muitas das

    prticas agrcolas trazem conseqncias que afetam o campo e a cidade,

    como a poluio de rios e dos lenis freticos e a degradao do solo.

    Mas esse panorama pode mudar a partir da adoo de tcnicas que pos-

    sibilitam economia de energia e, ao mesmo tempo, minimizam custos,

    melhoram o faturamento, podem ampliar a oferta de produtos e ainda

    tm baixo impacto ambiental, avalia.

    SUSTENTVEL

    Desenvolvimento sustentvel o

    entendimento de que o modelo de

    produo e consumo adotado deve

    preservar a natureza de forma a

    no comprometer a qualidade de

    vida das geraes presentes e a

    capacidade de desenvolvimento das

    geraes futuras.

    BIOCOMBUSTVEIS

    So fontes de energia renovveis

    (biodiesel, etanol, metanol, metano

    e carvo vegetal), derivados de

    produtos agrcolas como a cana-

    de-acar, plantas oleaginosas,

    biomassa florestal e outras fontes de

    matria orgnica.

    BIODIESEL

    um combustvel biodegradvel

    alternativo ao diesel de petrleo,

    criado a partir de fontes renovveis

    de energia. Por ser originado

    de matrias-primas renovveis

    (basicamente lcool e leo vegetal

    ou gordura animal) e possuir queima

    limpa, a combusto do biodiesel

    gera menos poluentes do que a

    combusto de derivados de petrleo.

    Gordura do torresmo produzido na fazenda transformada em biodiesel

  • 21REPORTAGENS

    Lio comea em casa

    Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A frase

    formulada por Lavoisier em 1789 cabe perfeitamente para o que est

    sendo desenvolvido na Agrotcnica Federal de Muzambinho (MG). A

    instituio j tem usina hidroeltrica e aquecedores solares que garan-

    tem o abastecimento eltrico e o aquecimento da gua dos banheiros

    do alojamento onde moram cerca de 500 alunos. Com isso, a instituio

    economiza cerca de R$ 60 mil/ano em energia e contribui para a susten-

    tabilidade ambiental.

    Alm disso, est em andamento a implantao de biodigestores e de

    uma usina para a produo de biodisel. Esses equipamentos faro o re-

    aproveitamento de detritos da criao de sunos, gerando gs e adubo,

    tambm chamados de BIOGS e BIOFERTILIZANTES. Com isso, os dejetos

    (fezes e urinas) e a gordura animal no sero mais risco ambiental, um dos

    grandes responsveis pela contaminao do solo e da gua subterrnea.

    A fazenda Porkterra, localizada no municpio de Caconde, interior de

    So Paulo, um exemplo de gesto sustentvel e tem sido um laboratrio

    para as pesquisas dos docentes da escola. A experincia do proprietrio

    Joo Paulo Muniz mostra que possvel encontrar solues prticas e

    rentveis por meio da implantao de processos simples. A deciso de

    promover mudanas veio aps a fazenda ser autuada muitas vezes por

    rgos ambientais. A partir da, ele resolveu encontrar alternativas, como

    o reaproveitamento dos resduos de sua propriedade. Para isso, ele adqui-

    riu biodigestores, construiu uma usina artesanal e passou a aproveitar os

    dejetos sunos para produzir biogs e biofertilizante, e a gordura animal,

    antes descartada no frigorfico, agora transformada em biocombustvel.

    Com essas mudanas, consegui reduzir significativamente os custos de

    minha propriedade, diz. Hoje, o biogs obtido a partir do tratamento dos

    dejetos atende a 50% da demanda por energia da propriedade. Muniz

    tambm substituiu 100% do gs GLP (gs liquefeito de petrleo) usado no

    refeitrio e no frigorfico.

    BIOGS

    Gs inflamvel produzido por

    microorganismos. As matrias

    orgnicas so fermentadas dentro de

    determinados limites de temperatura,

    teor de umidade e acidez, em um

    ambiente impermevel ao ar.

    BIOFERTILIZANTE

    Depois da matria orgnica

    passar pelo biodigestor, resduos

    apresentam alta qualidade para uso

    como fertilizante agrcola.

  • 22 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    O biogs usado ainda para o aquecimento dos leites na fase de

    creche e para a secagem do caf. Alm disso, tem o biofertilizante, outro

    subproduto originado do tratamento dos dejetos, que utilizado como

    adubo nas lavouras de caf e milho. Isso representa uma economia

    de 40%, pois misturo o biofertilizante a outros produtos para adubar a

    lavoura, conta.

    J a gordura dos sunos usada para produzir biocombustvel, com

    aproveitamento tambm do subproduto: a glicerina que se transforma em

    sabo e detergente e distribuda com a comunidade em troca de leo

    de fritura. Todo o processo de transformao da gordura animal realiza-

    do numa mini-usina montada dentro da propriedade. A usina artesanal

    simples, formada por trs equipamentos: um tacho para a fritura da

    banha, um transesterificador e uma panela de inox para acabar de apurar

    o biocombustvel, explica Muniz. A cada quilo de gordura produzido

    1 litro de biocombustvel, meio litro de glicerina e meio litro de sabo

    ou detergente. Tenho certeza de que essas tecnologias so acessveis a

    qualquer produtor, afirma.

    O qumico Deuva Magalhes Polli, responsvel pela pesquisa e im-

    plantao do sistema de produo de biocombustvel, do biogs

    e do biofertilizante da Porkterra, explica que a poluio

    dos dejetos altamente poluente devido aos eleva-

    dos nveis de matria orgnica, nitrognio, fsforo,

    sais e bactrias encontrados nesses resduos. No

    processo de decomposio, so produzidos gases t-

    xicos que vo para a atmosfera, ocasionando diversos

    impactos negativos, mas podem ser transformados em

    biogs e biofertilizante, explica.

    Sabo produzido com subproduto da gordura

    Dejetos de sunos so transformados em biogs e biofertilizante

  • 23REPORTAGENS

    TEMAS DE DISSERTAES PRODUZIDAS PELOS PROFESSORES

    Balano energtico da cafeicultura

    Materiais alternativos para substituio de lenha em caldeira

    Aproveitamento de dejetos de sunos na produo de biogs

    Uso de clulas fotovoltaicas em casa de vegetao na produo de hortalias

    Oleaginosas para a produo de biodiesel

    Biocombustvel na propriedade rural

    Utilizao de irrigao com motores acionados por materiais alternativos e no poluentes

    Profisso do futuro

    O Curso Superior de Tecnologia em Agroenergia, ofertado pela agro-

    tcnica, pioneiro na rea. O objetivo formar profissionais com quali-

    ficao para propor tecnologias adequadas s necessidades rurais. Com

    durao de trs anos, a primeira turma comea em 2008. Thiago Cardo-

    so de Oliveira, que est concluindo o curso de agroindstria na escola,

    acredita que esse um ramo vasto e abre possibilidades de mercado

    de trabalho. Essa uma rea em expanso. Acredito que a principal

    misso desse profissional ser gerar conhecimento para disseminar entre

    os produtores, anima-se.

    Thiago um dos alunos da escola que est participando das pesquisas

    sobre o cultivo de oleaginosas, desenvolvida por Alberto Donizzete Alves,

    professor e mestre em fitotecnia. Donizzete Alves conta que esto estuda-

    das vrias espcies para que se possa averiguar a adaptao e climatizao

    dessas plantas. Com a onda do biodisel no Brasil, fundamental desen-

    volvermos pesquisa para detectar quais so as melhoras alternativas para

    os agricultores da nossa regio, ressalta.

    Pesquisas em andamento

    Na Agrotcnica, a pesquisa faz parte do cotidiano. Nos ltimos qua-

    tro anos, professores da instituio passaram a se preocupar com o meio

    ambiente, devido ao excessivo uso de energia produzida pelo petrleo e

    comearam a desenvolver pesquisas em diversas reas. Por meio de um

    convnio com a Universidade de Itajub, no Sul de Minas, 24 docentes

    e servidores esto defendendo tese de mestrado em energia, nos mais

    variados temas, desde oleaginosas para a produo de biocombustvel

    at o uso de substncias alternativas ao uso da lenha. O nosso curso de

    agroenergia ter professores extremamente qualificados e comprometi-

    dos com as necessidades dos produtores da regio, atesta Luiz Carlos

    Machado Rodrigues.

    Reportagem: Stela Rosa

    Joo Paulo Muniz proprietrio da PorkTerra

  • 24 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Apontado pela Organizao Mundial do Turismo (OMT) como um dos

    setores que mais cresce na economia mundial, o turismo responsvel

    pelo surgimento de novos perfis profissionais para o gerenciamento de suas

    atividades. A partir desse novo nicho de mercado, o Centro Federal de Edu-

    cao Tecnolgica (Cefet) do CEAR criou, de forma pioneira, em 2002, o

    curso superior de Gesto em Empreendimentos Tursticos (GET), com deno-

    minao atual, recomendada pelo MEC, de Curso Superior de Tecnologia

    em Gesto de Turismo.

    O curso surgiu diante da necessidade de formarmos profissionais que

    atendessem s novas demandas de um mercado que est em constante mu-

    tao, explica a gerente de artes e turismo do Cefet/CE, Rbia Valrio Pi-

    nheiro. O objetivo do curso formar profissionais para atender demanda

    na rea de turismo, voltada para a mdia e macro gesto em empresas p-

    blicas e privadas. Com durao de trs anos, o GET oferece semestralmente

    30 vagas, sendo 25 para egressos do ensino mdio, trs para transferidos e

    dois para graduados.

    DEMANDA DE MERCADO

    Turismo como ferramenta de gesto

    Curso superior de tecnologia forma

    gestores para o setor turstico do Cear

    CEAR

    O estado ocupa a 10 posio

    no pas no que se refere

    aos resultados obtidos com

    atividades tursticas.

    Fotos: Gustavo Nunes Cefet/CE

    Consultor de eventos tursticos uma das funes em que o egresso poder atuar no setor

  • 25REPORTAGENS

    Para o gerente do ncleo de estudos da Secretaria de Turismo do Estado

    do Cear, Joo Agostinho Teles, o turismo tem permitido uma dinmica

    marcante na regio Nordeste, especialmente nos estados da Bahia e do

    Cear. As potencialidades tursticas do estado, como as reas de hotela-

    ria, alimentao, transportes e agncia de viagens, esto demarcadas em

    macrorregies tursticas, especializadas em plos e roteiros tursticos, na

    perspectiva da gerao de oportunidades de empregos e negcios para o

    desenvolvimento do Cear.

    De acordo com Rbia Valrio, empresrios do setor cearense e o poder

    pblico perceberam a importncia desta atividade e passaram a intervir no

    mercado turstico, a fim de melhor planej-lo. No Cear, o turismo tem

    destaque nas polticas pblicas atuais que contemplam o aumento do n-

    mero de negcios vinculados ao TURISMO em todo o territrio cearense,

    melhoria de infra-estrutura, captao de eventos para fomento dos plos

    tursticos, investimento em capacitao e apoio no crescimento da deman-

    da por cursos superiores na rea profissional de turismo e hospitalidade.

    TURISMO

    O turismo emprega 204 milhes

    de pessoas (10% da fora

    produtiva do planeta). Sua

    taxa de crescimento supera

    a do PIB mundial e contribui

    com 6% dos impostos pagos;

    o setor crescer 7,5% ao

    ano nos prximos dez anos,

    movimentando cerca de U$ 3,4

    trilhes (10,9% do PIB mundial).

    O GET CAPACITA O ALUNO PARA OCUPAR AS FUNES DE:

    Programador de Turismo;

    Promotor de Vendas de Produtos e Servios Tursticos;

    Gerente Promotor de Vendas de Produtos e Servios Tursticos;

    Coordenador de Eventos Tursticos;

    Consultor de Viagens;

    Consultor de Eventos Tursticos;

    Gerente Operacional.

  • 26 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Diagnstico para

    as regies tursticas

    do estado

    Na opinio do diretor do Cefet/CE,

    Cludio Ricardo Gomes de Lima, o curso

    capacita e habilita o aluno a atuar na rea

    de turismo e hospitalidade com total auto-

    nomia no mbito da gesto, promovendo

    um amplo conhecimento terico-prtico

    para o trabalho nos diversos segmentos tu-

    rsticos. Para chegar a esse conhecimento,

    os alunos realizam entre vrias atividades

    prticas profissionais em cidades com atrativos tursticos, desenvolvendo

    diagnsticos de gesto em que apontam sugestes para melhorar a ativida-

    de turstica na regio, diz Lima. Cidades como Canind, Juazeiro, Limoeiro

    do Norte, Viosa do Cear e Quixad j receberam diagnsticos de gesto

    realizados por alunos do GET.

    A aluna Maria Iraneide Gomes da Silva explica que o curso oferece

    toda a estrutura para que os alunos possam desenvolver diagnsticos de

    gesto. Temos certeza que, em muitas situaes, esses projetos iro ajudar

    a melhorar setores ou atividades pouco aproveitadas por municpios que

    possuem vocao turstica aqui no estado, diz a estudante.

    Para Rbia Valrio, o curso de Gesto de Turismo estratgico para a

    cadeia turstica do estado. Segundo dados da secretaria estadual do turis-

    mo, o Cear est entre os cinco estados que mais recebem fluxo turstico

    nacional e estrangeiro.

    Atualmente, investidores internacionais (especialmente portugueses e

    italianos) executam projetos no estado, o que abre ainda mais as perspecti-

    vas de crescimento de fluxo internacional no Cear. O Cefet/CE tem tradi-

    o na capacitao voltada para o turismo h 30 anos. O mercado turstico

    cearense sempre vislumbrou o profissional formado por nossa instituio

    como habilitado e capaz de desenvolver suas atividades com empreende-

    dorismo e discernimento.

    Reportagem: Marco Fraga

    Alunas do curso de turismo usam

    laboratrio de lngua estrangeira do Cefet

  • 27ARTIGOS

    RESUMO

    No mercado atual, altamente competitivo, novos empreendimentos podem

    fracassar por conta de desateno dos empreendedores ao planejamento

    operacional e estratgico do negcio. Um fator estratgico de diferenciao

    que se destaca cada vez mais na prestao de servios o atendimento

    qualificado ao consumidor. Este trabalho procura apresentar um conceito

    abrangente de estratgia competitiva hbrida definida como mimosidade,

    que engloba a valorizao do cliente por meio de servios e atendimento

    personalizado prestado com extremo zelo e real interesse na satisfao das

    suas necessidades. Com esse direcionamento estratgico, o empreendimen-

    to atinge o objetivo empresarial da conquista e da conseqente fidelizao

    do seu pblico-alvo.

    Mimosidade:

    uma estratgia competitiva

    MALANOVICZ, Aline V.; MALANOVICZ, Ana Paula V.; WEBER, Felipe;

    BORGES, Murilo M. S.; FARIAS, Cludio V. da S.

    Escola Tcnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Palavras-chave: Empreendedorismo; Estratgia Competitiva; Qualidade de Servios.

    Fotos: Shutterstock

  • 28 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Introduo

    As estatsticas revelam um alto ndice de mortalidade de novos empre-

    endimentos, que ocorre, normalmente, porque os empreendedores no

    esto alerta para determinados fatores que podem se converter em causas

    de fracasso caso no sejam satisfeitos (AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI,

    2000). Entre eles, podem ser apontados fatores referentes falta de com-

    petncias gerenciais, tais como experincia profissional, conhecimento do

    mercado, qualidade de produtos/servios, qualificao profissional, plane-

    jamento operacional e estratgico do negcio.

    Com base em uma reviso bibliogrfica de reas correlatas ao foco da

    exposio, este trabalho apresenta o conceito de mimosidade como al-

    ternativa de estratgia competitiva empresarial que objetiva tornar os con-

    sumidores mais satisfeitos e oferecer produtos e servios melhores do que

    seus concorrentes (PEREIRA e NUNES, 2002). O fator crtico de sucesso

    empresarial abordado a melhor qualidade de servios para o pblico-alvo

    mais rentvel, o que se fundamenta nas idias pioneiras de Porter (1990) e

    na combinao de diferenciao e enfoque.

    Estratgias competitivas

    Conhecer as tendncias dos clientes essencial para o sucesso do

    negcio. Por isso, importante o estudo dos fatores que afetam o mer-

    cado consumidor e seu comportamento, como desejos, percepes,

    preferncias e necessidades de compra. Essas informaes so a base

    para que o empreendedor possa apresentar novos servios, alterar pre-

    os, trabalhar com a imagem da prestao de servios e sua forma de di-

    vulgao, entre outros elementos mercadolgicos (AIUB, ANDREOLLA,

    ALLEGRETTI, 2000).

    Segundo Porter (1990), as empresas podem adotar trs abordagens

    estratgicas genricas: liderana no custo total, diferenciao e enfoque.

    Uma extenso dessas idias pioneiras de Porter combina essas dimenses

    estratgicas, apresentando uma viso sistmica da vantagem competitiva

    (CARNEIRO, CAVALCANTI, SILVA, 1997), especializando a diferenciao

    segundo critrios como: preo, imagem, suporte, qualidade do produto e

    design. Neste trabalho, a nfase est na diferenciao de fatores combina-

    dos, destacando-se a qualidade do atendimento.

    Aline Vieira Malanovicz

    doutoranda em Administrao

    de Sistemas de Informao pela

    Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul (UFRGS).

    Ana Paula Vieira Malanovicz

    licenciada em Educao Fsica

    pela Universidade Luterana do

    Brasil (Ulbra).

    Felipe Weber acadmico de

    Administrao de Empresas

    pela Pontifcia Universidade

    Catlica do Rio Grande do Sul

    (PUCRS).

    Murilo Mximo Santana Borges

    acadmico de Cincias

    Econmicas pela Universidade

    do Vale do Rio dos Sinos

    (Unisinos).

    Cludio Vincius Silva Farias

    especialista em Gesto

    Empresarial, bacharel em

    Administrao de Empresas,

    professor da Escola Tcnica

    da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul (UFRGS) e

    orientador da pesquisa.

    Escopo

    competitivo

    Vantagem competitiva

    Custo mais baixo Diferenciao

    Alvo amplo 1. Liderana 2. Diferenciao

    Alvo estreito 3A. Enfoque em custo 3B. Enfoque em diferenciao

    Figura 1: Estratgias Genricas de Porter (Fonte: CARNEIRO, CAVALCANTI, SILVA, 1997).

  • 29ARTIGOS

    Resumidamente, a estratgia de diferenciao busca que a empresa seja

    singular em algum aspecto importante para o mercado que torne o neg-

    cio diferente daquele dos concorrentes e justifique preos mais elevados.

    J pela estratgia de enfoque, direcionam-se os esforos do negcio para

    atender a um determinado segmento-alvo especfico do mercado. Conse-

    qentemente, a combinao dessas duas dimenses estratgicas permite

    o posicionamento da empresa voltado diferenciao pela qualidade dos

    produtos, servios e atendimento oferecidos, e o seu enfoque em determi-

    nado pblico-alvo, mais rentvel, escolhido.

    Nvel de servios

    As empresas buscam a fidelizao de seus clientes por meio de muitas

    ferramentas, incluindo bons produtos, bons preos e os mais diversos itens

    de servio. Esses so cada vez mais valorizados, aumentam o valor agregado

    do produto ou servio, reduzem custos para o cliente, criando valor para

    ele. A soma dos esforos para a satisfao do cliente o chamado nvel

    de servio ao cliente, composto por preo, qualidade e servios agregados

    (CHIAVENATO, 2003).

    Os empreendedores devem buscar o melhor custo-benefcio na dife-

    renciao de clientes e produtos, pois o nvel de servio depende da lu-

    cratividade do produto e da rentabilidade

    do cliente. Assim, devem classificar sua

    carteira de clientes, observando o nvel de

    servio que eles demandam, para agrupar

    clientes com comportamento de compras

    e expectativas semelhantes, conforme vari-

    veis demogrficas, geogrficas, comporta-

    mentais e psicolgicas especficas, como o

    volume ou freqncia de compras, os itens

    que compram ou os parmetros exigidos

    do servio. Dessa forma, possvel selecio-

    nar os segmentos-alvo que a empresa deseja

    conquistar e manter (clientes rentveis).

    Neste contexto, importante definir as variveis

    que levam os clientes a decidir pela compra dos servios,

    fatores decisivos de compra para o consumidor, tais como qua-

    lidade dos servios, preo, atendimento, ambiente, marca,

    imagem/estilo, recursos dos servios, promoo, publicidade,

    comodidade no uso, comodidade na compra, localizao, con-

    venincia, crdito, garantia, entrega, status, entre outros (AIUB,

    ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).

    As oportunidades estratgicas para fidelizao de clientes e

    aumento de lucros envolvem atender melhor aos clientes alta-

    mente rentveis, melhorar o servio e a rentabilidade de clientes

    valiosos, afastando-os dos concorrentes, atrair clientes que dem

    grandes lucros aos concorrentes e aumentar o volume de vendas

    para clientes baratos de servir, obtendo deles um perfil mais ren-

    tvel em suas compras.

  • 30 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Qualidade no atendimento

    Na anlise de mercado e competitividade, o atendimento ao consumi-

    dor fator preponderante no setor de prestao de servios. Assim, o obje-

    tivo do negcio fidelizar o pblico-alvo mais rentvel, o que alcanado

    posicionando-se o cliente como a pessoa mais importante da organizao

    (AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).

    essencial zelar pelo melhor padro de atendimento, estabelecendo

    um bom sistema de comunicao com a clientela, mantendo a equipe de

    trabalho sempre bem informada e treinada para prestar informaes quali-

    ficadas ao cliente. As expectativas e as exigncias dos clientes so os verda-

    deiros padres de confiabilidade no ramo dos servios, pois o que se avalia

    um desempenho. Assim, os modelos de excelncia em servios referidos

    na literatura destacam sempre a necessidade do foco no cliente, tanto na

    estratgia de servios, como no sistema, como no treinamento especializa-

    do dos funcionrios que tm contato direto com o cliente.

    Pode-se, ento, destacar algumas caractersticas fundamentais do atendi-

    mento ao consumidor voltado excelncia. Confiabilidade: a capacidade de

    prestar o servio prometido de modo confivel e com preciso. Sensibilidade:

    a disposio de ajudar o cliente e proporcionar com presteza um servio.

    Segurana: o conhecimento e a cortesia dos empregados e sua habilidade em

    transmitir confiana e confiabilidade. Empatia: a ateno e o carinho indivi-

    dualizados proporcionados aos clientes. Tangveis: a aparncia fsica de insta-

    laes, equipamentos, pessoal e materiais de comunicao (Senac, 2002).

    Para tanto, algumas caractersticas desejveis dos funcionrios podem

    ser assim elencadas: habilidade em ouvir e atender; naturalidade na orien-

    tao de clientes; boa vontade em atender; persistncia e pacincia; fle-

    xibilidade na negociao de condies comerciais; equilbrio emocional

    frente a clientes no to bem-educados; identificao do perfil do usu-

    rio; identificao das reais necessidades dos usurios; iniciativa, agilidade e

    presteza ao atender (Senac, 2002).

    Mimosidade

    Com base na fundamentao terica exposta, apresenta-se um conceito

    alternativo de estratgia competitiva empresarial, baseada na qualidade do

    atendimento e no nvel de servio. Mimosidade um conceito abrangen-

    te de estratgia competitiva que engloba a diferenciao pela excelncia

    no atendimento a um pblico-alvo considerado rentvel. Essa diferencia-

    o preza pela valorizao do cliente por meio de servios e atendimento

    personalizados prestados com extremo zelo e interesse na satisfao das

    suas necessidades. A misso de uma empresa que aplica a mimosidade

    relaciona o foco do negcio diretamente ao atendimento aos interesses do

    cliente. Seu objetivo consiste em deix-lo satisfeito, mas tambm feliz com

    o atendimento, para torn-lo um cliente fiel e at mesmo um torcedor da

    empresa! Segundo documento do Senac:

    Em nosso negcio, levamos o cliente muito a srio. Todos perce-

    bem que atendemos diferente. A diferena que estamos sem-

  • 31ARTIGOS

    pre prontos e dispostos a prestar

    atendimento. Temos mais do que

    um simples cafezinho e gua gelada

    a oferecer. Temos pessoas dispostas,

    cordiais e interessadas em atender

    e tirar dvidas dos clientes, mesmo

    que eles no comprem os nossos

    produtos. Ns cativamos as pessoas.

    E nossa surpresa que, ao final de

    tudo, ganhamos no s um clien-

    te satisfeito, que volta sempre, mas

    tambm um amigo (SENAC, 2002).

    Definies dicionarizadas de mimo (gesto

    ou expresso carinhosa com que se trata al-

    gum; delicadeza, distino, primor) e mimoso

    (delicado, carinhoso, meigo, suave; excelente,

    fino) (MICHAELIS, 1998) indicam a melhor

    maneira de se tratar os clientes. Com carinho, delicadeza e primor encon-

    tra-se o melhor caminho para se chegar ao corao das pessoas, pois o afeto

    o principal mandante nas suas escolhas diante de um mercado repleto

    de empresas concorrentes. Ao qualificar o atendimento, oferecem-se ao

    cliente benefcios intangveis que satisfazem e encantam.

    Comodidade: prazeroso freqentar o ambiente da empresa; Va-

    lorizao do cliente, respeito e seriedade: direitos do cliente so

    reconhecidos; Personalizao: cada cliente especial e percebe

    algo de especial no negcio; Servios adicionais, interesse em sa-

    tisfazer, resolver: o cliente sempre ouvido e suas opinies so

    sempre consideradas (AIUB, ANDREOLLA, ALLEGRETTI, 2000).

    O conceito de mimosidade une caractersticas da estratgia de tra-

    tamento do cliente que envolvem desde o oferecimento de um ambiente

    agradvel, aconchegante, convidativo para o cliente realizar suas compras

    ou receber a prestao dos servios, at a flexibilidade da utilizao de um

    sistema de comunicao eficiente para identificar seu perfil, suas atitudes e

    suas expectativas, e a identificao antecipada das tendncias de mudanas

    nesses comportamentos.

    Algumas tcnicas para qualificar o relacionamento com clientes e

    prestar o melhor servio de atendimento podem ser consideradas aes

    que conferem mimosidade atuao de uma empresa: sistema de ca-

    dastro de perfil, promoes para clientes fiis, informativos, central de

    atendimento (sugestes, reclamaes e esclarecimentos) para satisfao

    de clientes (SENAC, 2002).

    Resumindo, pode-se definir mimosidade como a dedicao e a pre-

    ocupao para com o cliente do negcio e aquilo que ele espera, neces-

    sita e quer, ou seja, o que o satisfaz. Visa qualidade de servios e aten-

    dimento, um ambiente agradvel, comodidade e zelo pelo seu cliente.

    Mimosidade representa dedicao, afetividade, at mesmo paparica-

    o, no trato com o cliente.

  • 32 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    Mimosidade um pensamento que est presente em todos os atos

    do administrador, cada deciso, cada ao influenciada por esse pen-

    samento. Nele est contido o respeito ao cliente e o interesse em melhor

    atend-lo. Sendo assim, orienta os esforos para que tudo esteja mimoso

    e funcionando como o cliente deseja. A mimosidade representa uma gesto

    totalmente voltada ao cliente e suas preferncias.

    Concluso

    Este trabalho abordou as estratgias competitivas que uma organizao

    pode utilizar para alcanar seus propsitos, combinando as vantagens com-

    petitivas de diferenciao e enfoque. O fator crtico de sucesso empresarial

    destacado no trabalho consiste na qualidade dos servios e do atendimen-

    to ao pblico como diferenciao e na definio de pblico-alvo rentvel

    como enfoque.

    A abordagem apresentada foi fundamentada em um levantamento bi-

    bliogrfico de assuntos como planejamento estratgico, competitividade,

    estratgias competitivas, nvel de servios e qualidade no atendimento.

    Nesse contexto, considerou-se fundamental que a misso empresarial rela-

    cione o foco do negcio diretamente com o atendimento aos interesses do

    cliente. Assim, definiu-se mimosidade como uma alternativa de estratgia

    competitiva abrangente que engloba o completo respeito e a valorizao

    do cliente por meio de servios e atendimento personalizado prestado com

    extremo zelo e interesse na satisfao das suas necessidades.

    Para trabalhos futuros, mostra-se de interesse realizar uma pesquisa qua-

    litativa no universo de empresas gachas do ramo de servios, para iden-

    tificao de suas caractersticas mimosas, alm de determinar qual o im-

    pacto da mimosidade na fidelizao da clientela de determinados nichos

    de mercado. Espera-se que os resultados deste trabalho venham colaborar

    na ampliao da compreenso terica da diversidade das estratgias com-

    petitivas possveis escolha do empreendedor, e que auxiliem na definio

    do foco de novos negcios para a valorizao do fator mais importante da

    existncia das empresas: o cliente.

    REFERNCIAS

    AIUB, George Wilson; ANDREOLLA, Nadir; ALLEGRETTI, Rogrio Della Fvera. Plano de

    negcios: servios. 3 ed., Porto Alegre: Sebrae, 2000.

    CARNEIRO, Jorge Manoel Teixeira; CAVALCANTI, Maria Alice Ferreira Deschamps; SILVA,

    Jorge Ferreira. Porter revisitado: anlise crtica da topologia estratgica do mestre. RAC,

    vol. 1, n 3, setembro/dezembro, 1997.

    CHIAVENATO, Idalberto. Introduo Teoria Geral da Administrao (edio compacta).

    Rio de Janeiro: Campus, 2003.

    MICHAELIS: Moderno dicionrio da lngua portuguesa. So Paulo: Melhoramentos, 1998.

    PEREIRA, Joo Antnio Gomes; NUNES, Rogrio da Silva. Cultura organizacional e estratgia

    competitiva. Administrao On-Line. vol. 3, n 4, outubro/novembro-dezembero, 2002.

    SENAC. Noes de atendimento ao pblico. Rio de Janeiro: SENAC, 2002.

  • 33ARTIGOS

    RESUMO

    O Centro de Memria do Centro Federal de Educao Tecnolgica Cel-

    so Suckow da Fonseca foi criado pela Portaria n 008, de 5 de janeiro

    de 2006. Implantar um espao de preservao e reconstruo histrica da

    identidade do Cefet/RJ faz parte de um movimento maior pela participao

    e construo de uma escola pblica, democrtica, nica e de formao

    omnilateral. Visto como lugar de memria e de busca da identidade da insti-

    tuio como lugar de articular memria e projeto , o Centro de Memria

    pode contribuir para a reconstruo histrica no apenas da instituio,

    mas, tambm, do ensino profissional no pas. Em processo de implantao,

    articulado ao Setor de Arquivo Geral, vem realizando, desde ento, vrias

    O Centro de Memria como

    lugar de reconstruo histrica

    e busca de identidade

    SILVEIRA, Zuleide S. da; CARDOSO, Tereza F. L.

    Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca

    Palavras-chave: Cefet/RJ; Centro de Memria; Histria da Educao.

    Fotos: Divulgao Cefet /RJ

    Fotografia do acervo do Centro de Memria

  • 34 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    atividades cujo objetivo resgatar, preservar, tratar e divulgar o acervo de

    peas, textual e iconogrfico da instituio, estimulando o trabalho de pes-

    quisa na comunidade escolar. No final do segundo semestre de 2007, foi

    inaugurado o Espao Histrico-Cultural quando foi realizada a I Mostra da

    Memria do Cefet/RJ e publicados um documentrio em DVD e um livro

    que narram a trajetria da instituio em seus 90 anos de atividade.

    Introduo

    A partir da aprovao da nova Lei de Diretrizes e Base da Educao (Lei

    n 9.394/96) e seus instrumentos regulamentadores, todo sistema educa-

    cional passa por mudanas significativas. Como a maioria das instituies

    federais de educao profissional, o Centro Federal de Educao Tecno-

    lgica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) inscreve-se na totalidade das

    relaes sociais, tendo, portanto, sua trajetria marcada pelo resultado de

    formulao de polticas de formao profissional. Desse modo, todo seu

    processo de transformao, em particular, subordina-se quela dinmica.

    O cenrio de aceleradas mudanas. Concordamos com o historiador

    francs Pierre Nora (1993) quando afirma que, na contemporaneidade, as

    sociedades passam por um processo de acelerao da histria tal, que

    estariam condenadas ao esquecimento, um epteto que significa a distncia

    entre o passado quando se tinha a verdadeira memria social, intocada,

    e o presente que traz, em si, o dever de mudana, sobretudo a partir dos

    tempos modernos. neste contexto que se justifica a implantao do Cen-

    tro de Memria do Cefet/RJ, visto como espao de reconstruo da histria

    da instituio, lugar de articular memria e projeto e, ainda, de busca da

    identidade da escola.

    O acervo do Cefet/RJ

    O acervo do Cefet/RJ constitudo de rica documentao que data des-

    de o incio de suas atividades, com a criao da Escola Normal de Artes e

    Ofcios Wenceslau Braz, em 1917, at os dias atuais. Essa documentao

    registra diversas etapas da histria da instituio, tanto no aspecto institucio-

    nal, acadmico, quanto no aspecto fsico.

    O Setor de Arquivo Geral do Cefet/RJ est localizado no bloco L da

    unidade-sede Maracan e possui, aproximadamente, dois milhes e

    quinhentos mil documentos de alunos e novecentos mil documentos hist-

    rico-administrativos; uma coleo de, aproximadamente, quatro mil foto-

    grafias, sendo que duas mil em suporte de papel; seiscentas fitas de vdeo,

    formato U-matic e VHS/SVHSU, algumas identificadas e outras em processo

    de identificao; trinta e cinco mini-DV identificados; material informativo

    como jornais e boletins; peas de mobilirio, fabricados na instituio, em

    sua primeira fase de atividade (1918 1937); trabalhos de alunos, tais como

    vasos de cermica, peas de bordado e costura; mquina de datilografia

    que data, aproximadamente, da dcada de 1940; e, ainda, algumas peas

    usadas em aulas de laboratrios, como balanas e instrumentos de medidas

    eltricas; uniformes de alunos; bandeiras e flmulas.

    Zuleide Simas da Silveira

    mestre em Educao pelo

    PPG da Universidade Federal

    Fluminense, Campo Trabalho

    e Educao, professora do

    Curso Tcnico de Segurana

    do Trabalho do Cefet/RJ;

    coordenadora do Centro

    de Memria do Cefet/RJ

    e integrante do Projeto

    de Pesquisa Memrias e

    Temporalidades do Cidado

    Produtivo Emancipado,

    coordenado pela Prof Dr

    Maria Ciavatta, da Universidade

    Federal Fluminense (UFF).

    Tereza Fachada Levy Cardoso

    doutora em Histria Social pela

    UFRJ, professora do Cefet/RJ,

    coordenadora do Laboratrio

    de Histria da Cincia (do

    Programa de Ps-graduao

    em Ensino de Cincias e

    Matemtica) e pesquisadora

    do Projeto Capes/Grices

    (2007/9) A Histria da

    Profisso Docente no Brasil e

    em Portugal: aproximaes e

    distanciamentos.

  • 35ARTIGOS

    Ressalte-se que desde a primei-

    ra metade dos anos de 1990, o Ce-

    fet/RJ, por meio do Setor de Arqui-

    vo, vem organizando, catalogando

    e identificando a documentao

    produzida ao longo de sua histria.

    Encontra-se em fase de elaborao

    os inventrios da Escola Normal

    de Artes e Ofcios Wenceslau Braz

    (1917 1937) e da Escola Tcnica

    Nacional (1942 1965).

    O processo de

    implantao do

    Centro de Memria

    do Cefet/RJ

    O Centro de Memria do Cefet/RJ foi criado pela Portaria n 008,

    de 5 de janeiro de 2006, do Diretor-Geral, sendo localizado no bloco D

    da unidade Maracan. Em processo de implantao, articulado ao Setor

    de Arquivo Geral, vem realizando, desde ento, vrias atividades cujo

    objetivo resgatar, preservar, tratar e divulgar o acervo de peas, textual

    e iconogrfico da instituio, estimulando o trabalho de pesquisa na co-

    munidade escolar1.

    At o momento, a equipe, em contato com diversos setores da escola,

    reuniu a quase totalidade das fotografias que esto sendo separadas, iden-

    tificadas e catalogadas por fundo2, seguindo a ordem cronolgica e institu-

    cional: Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz (1917 1937);

    Escola Tcnica Nacional (1942 1965); Escola Federal da Guanabara (1965

    1967); Escola Tcnica Federal Celso Suckow da Fonseca (1967 1978) e

    Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca (1978 em

    diante). Por ora, o fundo Escola Normal de Artes e Ofcios j est concludo.

    No ano de 2006, o trabalho consistiu de identificar fotografias do fundo

    Escola Tcnica Nacional; para tal, foram ouvidos alguns professores aposen-

    tados e ex-alunos. A idia envolver o maior nmero possvel de entrevis-

    tados, o que vem contribuindo no apenas para a catalogao de imagens,

    mas, sobretudo, para a organizao do banco de histria oral. Neste proces-

    so, a prioridade o depoimento de ex-alunos da Escola Tcnica Nacional,

    que, mais tarde, tornaram-se professores da instituio. O prximo passo

    foi ouvir docentes e servidores tcnico-administrativos que integraram a

    comunidade no final da dcada de 1960. Cabe ressaltar que, no inventrio

    de documentos textuais do fundo Escola Tcnica Nacional, foram descritos

    9.180 documentos, totalizando 18.161 folhas.

    Em junho de 2007, foi alocado na home page da instituio um site

    onde se encontram o projeto de implantao do Centro de Memria, o

    histrico da instituio, artigos relacionados sua historiografia e, ainda,

    imagens do acervo de fotografias, de peas e textual. O site pode ser visita-

    do no endereo: http://www.cefet-rj.br/memoria/.

    1. O grupo de trabalho coordenado

    pela professora Zuleide S. da Silveira

    (Sociologia Aplicada), contando

    com a participao das professoras

    Tereza Fachada (Histria) e Marli

    Carloni (Histria do Cinema Brasileiro;

    Produo de Vdeo), da arquivista

    Vera Firmo e, ainda, dos bolsistas

    Diego Andrade Velloso de Lima e

    Yasmim Watanabe, alunos do curso

    de Informtica.

    2. Segundo o Guia do Acervo da Casa

    Oswaldo Cruz, fundo o conjunto

    de documentos, independente da

    sua forma ou suporte, organicamente

    produzido e/ou acumulado e utilizado

    por uma pessoa fsica, famlia ou

    instituio no decurso de suas

    atividades e funes. Com base

    neste glossrio, a equipe do Centro

    de Memria do Cefet/RJ, resolveu

    classificar as diversas fases da

    instituio, ao longo de sua histria,

    por fundos que tratam de documentos

    de diferentes espcies (textual,

    iconogrfico e museolgico) e que

    possibilitam a reconstruo das

    transformaes ocorridas.

    Fachada do edifcio principal

  • 36 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    No final do ano de 2007, foram publicados um documentrio em DVD

    e um livro, em uma de tiragem de 5 mil exemplares, que narram a traje-

    tria da instituio em seus 90 anos de atividade, alm da inaugurao do

    Espao Histrico-Cultural contendo a I Mostra da Memria do Cefet/RJ.

    Simultaneamente, est em fase de planejamento uma exposio em home-

    nagem ao professor Eugenio Trombini Pellerano (1914 2006), o primeiro

    professor-pesquisador desta instituio.

    Cabe ressaltar que, para enriquecer no apenas o planejamento, mas

    tambm a execuo do trabalho como um todo, a equipe vem contando

    com a consultoria de vrios especialistas da rea, atravs de palestras e reu-

    nies de estudo, como as j realizadas com a Prof Geisa Achorne de Souza

    (Faetec), conservadora e restauradora; a Prof Dr Maria Ciavatta, da UFF, e

    a Prof Maria Cristina Vendrameto (CEETPS), especialista em arquivologia.

    Outro ponto importante no processo de implantao do Centro de Mem-

    ria a aproximao com outras instituies, quais sejam o Museu Nacional,

    a Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio/Fiocruz, alm de sido assi-

    nado entre o Cefet/RJ e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    (Unirio) um convnio com o objetivo de discutir, em condies objetivas, o

    modo de preservar, tratar e divulgar o acervo de documentos e a produo

    sobre a histria do Cefet/RJ e da educao profissional.

    CONSERVAO DA MEMRIA

    DA INSTITUIO

    At o incio dos anos de 1990, a iniciativa de organiza-

    o do arquivo de documentos textuais foi de Neuza Montei-

    ro, tcnica-administrativa, funo datilgrafa, ex-aluna do curso de

    Chapus e Ornatos, da Escola Tcnica Nacional. J a professora Dina

    Luiz Garcia, ex-aluna do curso de Desenho e Arquitetura de Mveis, da

    Escola Tcnica Nacional, encarregou-se de promover exposies de peas museolgicas. At 1993, o

    arquivo no era voltado para preservao da histria da escola, mas funcionava, apenas, para alimentar

    informaes referentes ao corpo discente. Ademais, o descarte de documentos textuais, objetos e livros

    que foram publicados no setor de reprografia da escola, realizado por comisses com o objetivo de

    esvaziar o arquivo, ocasionou perdas significativas e irreparveis de documentos de valor histrico e

    administrativo. Ainda no ano de 1993, foi nomeada uma comisso com a finalidade de pr em prtica o

    Projeto Memria Viva, coordenado por Sinclair Guimares Cechiene, tcnico em assuntos educacionais,

    e Florence, professora de Educao Artstica, substituda, mais tarde, pela professora Marisa Brando,

    professora de Sociologia. Em 1994, a instituio recebeu duas servidoras, Maria Alice da Silva e Vera L-

    cia de Oliveira Firmo, arquivologistas, que, tambm, por iniciativa prpria, se incumbiram de implantar e

    implementar o Setor de Arquivo, com apoio tcnico-jurdico do Arquivo Nacional. Pode-se afirmar que

    foi a partir das relaes estabelecidas por Maria Alice e Vera Lcia, tanto na comunidade interna, quanto

    na comunidade externa, que ocorreu a institucionalizao do Setor de Arquivo, isto , o referido setor

    passou a existir no organograma da instituio, possuindo competncias e atribuies. Vale registrar que,

    a partir da gesto dos professores Miguel Badenes e Carlos Artexes, Diretor-Geral e Vice-Diretor, respec-

    tivamente, a preservao do acervo foi incentivada.

    Shutt

    ers

    tock

  • 37ARTIGOS

    O acervo fotogrfico

    As fotografias so mundos de relaes silenciosas, densas, conge-

    ladas no tempo mnimo do obturador. Mundos de seres calados

    e imveis que devem ser decifrados a partir do contexto onde se

    encontram, na histria de sua relao com os demais seres, tanto

    pessoas quanto objetos (CIAVATTA, 2004).

    Cabe, nesta seo, observar, que a equipe do Centro de Memria do

    Cefet/RJ trata da fotografia como fonte histrica. Deste modo, a fotografia

    mediao, o que significa entend-la como um processo social denso,

    produzido historicamente (CIAVATTA, 2004). Portanto, por ser a fotografia

    produzida em um determinado contexto e ser parte articulada da totalida-

    de social, sua interpretao requer resgatar os conceitos de essncia e apa-

    rncia, que permitem fazer a distino entre o objeto, seu conhecimento

    imediato e a concepo do conhecimento mediado pelos processos que o

    constituem (CIAVATTA; CAMPELLO, 2006).

    Segundo Mauad (2004) para se proceder anlise crtica-interpre-

    tativa de uma imagem, deve-se partir de trs premissas: a noo de

    srie ou coleo, o princpio de intertextualidade e o trabalho transdis-

    ciplinar (ibidem). Assim fundamentada, e, segundo os critrios adota-

    dos pelo grupo de pesquisa Memria e temporalidades da formao do

    cidado produtivo emancipado, coordenado pela Prof Maria Ciavatta

    para classificao de imagens, a equipe de trabalho vem organizando o

    acervo fotogrfico do Centro de Memria do Cefet/RJ. Apresentamos,

    a seguir, os principais passos ou momentos de trabalho (CIAVATTA;

    CAMPELLO, 2006).

    a) Contato com o acervo fotogrfico A manipulao das fotografias

    foi iniciada por aquelas que se encontravam no Setor de Arquivo e,

    depois, por outras que nos foram encaminhadas pelo Setor/Labora-

    trio de Fotografia. Os primeiros contatos com os objetos fotogrfi-

    cos foram realizados pouco a pouco, de modo a captar quais eram

    os temas, contedos e o perodo histrico-temporal do momento

    Shutt

    ers

    tock

  • 38 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    fotografado. Procedemos separao das

    imagens por fundo, seguindo o critrio de

    ordem cronolgica e institucional.

    Cabe ressaltar que, historicamente, a

    conservao da memria da instituio foi

    deixada a cargo de iniciativas isoladas, boas inten-

    es e interesses individuais.

    b) Classificao das imagens por eixo temtico e espacial Aps a

    separao das imagens por fundo e ordem cronolgica, iniciou-se uma

    subdiviso, separando-as por tema (diretores, professores, alunos, so-

    lenidades etc.) e por espao fsico (fachada, laboratrios, salas de aula,

    ptio etc.). Foi, na prtica, a partir da separao das fotografias, que

    nomeamos os temas e subtemas, depois, elaboramos as fichas de clas-

    sificao e de catalogao de imagens. Para tanto, tomamos como

    parmetro a ficha elaborada pelo grupo de pesquisa Memria e tem-

    poralidades da formao do cidado produtivo emancipado.

    Por ora, a classificao das fotografias nos permitiu determinar 13 te-

    mas ou sries (diretores; professores; alunos; estrutura fsica; eventos;

    objetos; movimentos polticos; festas; visitas; concursos; servidores

    administrativos; rede federal de educao tecnolgica; autoridades),

    abarcando 158 subsries.

    c) Atribuio de cdigos As fotografias recebem um cdigo expres-

    so por um numeral que indica: o ano de sua produo, o nmero

    do lbum em que se encontra, acrescidos dos nmeros referentes

    srie e subsrie e de seu nmero no acervo. Este cdigo anotado

    no seu verso, com lpis HB n 2. Como exemplo, tomemos uma foto

    produzida no ano de 2003, encontrada no lbum n 10, classificada

    no tema alunos, cujo nmero de tema/srie o n 3. A subsrie

    formada por trs dgitos. O primeiro dgito o mesmo do da srie. O

    segundo, refere-se ao fundo e, finalmente, o terceiro indica o espao

    ou a atividade da fotografia.

    d) Identificao das fotos O acervo possui nove lbuns com, apro-

    ximadamente, 400 fotografias, que foram identificadas poca de

    sua produo. So colees datadas de 1937, 1942, 1951 e dcada

    de 1970. O restante do acervo encontrava-se, em grande parte, sem

    nenhuma identificao. Observamos que o olhar cuidadoso, por

    detrs da cmera fotogrfica, buscou registrar os diversos espaos

    e momentos da escola. Entretanto, as fotografias ficaram guardadas

    em gavetas e caixas, como se seu dono estivesse sempre por perto

    para narrar a histria do cenrio e de atores.

    e) Organizao do acervo3 Os lbuns foram numerados seguindo

    o critrio de ordem cronolgica e institucional. Devido ao acon-

    dicionamento precrio, durante anos, os mais antigos necessitam

    de restaurao. Para o restauro do material fotogrfico (capa de

    lbum, suporte de papel e a fotografia em si), contamos com o

    trabalho dos arquelogos e restauradores Simone Mesquita, profes-

    sora da UFRJ/Museu Nacional, e de Fabiano Cataldo de Azevedo.

    As fotografias que estavam guardadas em caixas no Setor de Ar-

    3. Esse projeto contou com o apoio

    dos estagirios Diego Andrade Velloso

    de Lima e Yasmim Watanabe, na

    implantao do site do Centro de

    Memria do Cefet/RJ; e dos ex-

    estagirios Mrio Jorge Barretto

    e Andr Gatto nos processos

    de codificao, identificao e

    organizao do acervo fotogrfico;

    e de Rafael Rodrigo S. Ferreira

    na informatizao, digitalizao e

    programao de banco de dados.

    Shutt

    ers

    tock

  • 39ARTIGOS

    quivo ou em gavetas do Setor de Fotografia esto sendo arranjadas

    em envelopes de plsticos de polipropileno cristal liso. A cada 100

    envelopes, contendo duas fotografias cada, inserimos em fichrios

    de plstico. Esses fichrios, agora denominados lbuns, so nume-

    rados dando seqncia aos primeiros. At o momento, montamos

    quatro lbuns/fichrios.

    O Museu Escolar do Cefet/RJ

    O Museu Escolar est sendo instalado com a finalidade de divulgar e

    garantir o acesso do pblico, em geral, ao acervo da instituio. Tido como

    espao fsico para fins culturais, atuar na temtica da educao profissional

    no Brasil, cujas mostras devero apresentar descritivamente, por fundo, a

    histria da instituio desde o incio de suas atividades, em 1917, na Escola

    Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, at os dias que correm. Neste

    sentido, estaro em exposio: documentos textuais; iconogrficos e carto-

    grficos; indumentrias; insgnias; moblias; objetos de uso pessoal e outros

    objetos que forem reunidos por meio de doaes.

    Em sntese, a proposta de criao do Museu Escolar visa garantir a

    continuidade e a ampliao do trabalho j iniciado pelo Centro de Me-

    mria, tornando-se um marco diferencial na atuao do Cefet/RJ em re-

    lao ao uso, comunicao, documentao, investigao e preservao

    de seu acervo.

    Atividades de pesquisa

    Desde 2000, vm sendo desenvolvidas uma srie de pesquisas que vi-

    sam fornecer subsdios para a histria do ensino tcnico no Brasil, no meio

    do estudo da Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, experincia

    nica no Brasil entre 1918 e 1937, perodo em que deteve o ttulo de esco-

    la normal para formar professores

    habilitados a lecionarem nas esco-

    las de aprendizes e artfices.

    No momento, est em anda-

    mento o projeto A Formao de

    Professores na Escola Normal de

    Artes e Ofcios Wenceslau Braz,

    que procura analisar o processo de

    formao e profissionalizao dos

    professores, dentro do universo

    tcnico formador de mo-de-obra

    para a indstria, especialmente no

    perodo de vida da Escola Normal.

    Procura-se compreender a sua

    relao com o mundo industrial

    e com o mercado de trabalho da

    poca. O projeto de pesquisa con-

    ta com a colaborao de bolsistas

    de iniciao cientfica.

    Inaugurao do espao Centro de Memria

  • 40 CADERNOS TEMTICOS N 17 DEZ. 2007

    O projeto tem como referncia central o modelo de interpretao cons-

    trudo por Nvoa (1997). Partindo de uma abordagem que chama de s-

    cio-histrica, ele prope um conceito de profisso que aponta para uma

    nova chave de leitura dessa problemtica, que se faz a partir de uma dupla

    dimenso e da percepo da existncia de quatro momentos do processo

    de profissionalizao da atividade docente, que podem ser estudadas tanto

    numa perspectiva diacrnica quanto numa perspectiva sincrnica.

    Tomando como referncia a anlise que Nvoa desenvolve sobre a

    profisso docente, o presente projeto prope-se, entre outros objetivos, a

    identificar o corpo docente, por disciplina, que atuou ao longo da hist-

    ria da Escola Normal de Artes e Ofcios Wenceslau Braz, investigar a sua

    formao profissional, alm de contextualizar o currculo escolar com o

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico da poca.

    Consideraes finais

    Partindo do pressuposto de que a realidade concreta uma totalidade,

    sntese de mltiplas determinaes e, ainda, o Centro de Memria parte

    desta totalidade, determinado pelas relaes que o constituem, pode-se

    afirmar, ento, que o Centro de Memria do Cefet/RJ no apenas parte

    do espao fsico, parte do tempo, parte do trabalho da instituio na sua

    globalidade, mas tambm lugar de: memria, resgate histrico, planejar

    aes futuras, contemplao e visitao que se articulam ao conhecimento

    e concepo da escola politcnica, de formao integral.

    Em suma, implantar um espao de preservao e reconstruo histrica

    da identidade do Cefet/RJ faz parte de um movimento maior pela participa-

    o e construo de uma escola pblica, democrtica, nica e de formao

    omnilateral. Visto como lugar de memria e de busca da identidade da ins-

    tituio como lugar de articular memria e projeto , o Centro de Mem-

    ria pode contribuir para a reconstruo histrica no apenas da instituio,

    mas, tambm, do ensino profissional no pas.

    REFERNCIAS

    BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei n 9.394, de 20 de dezem-

    bro de 1996. Braslia, Brasil.

    CIAVATTA, Maria. Educando o trabalhador da grande famlia da fbrica: a fotografia

    como fonte histrica. In: CIAVATTA, Maria; ALVES, Nilda (orgs.). A leitura de imagens na

    pesquisa social: histria, comunicao e educao. So Paulo: Cortez, 2004.

    ______; CAMPELLO, Ana Margarida. Do discurso imagem fragmentos da histria foto-

    grfica da reforma do ensino mdio tcnico no Cefet Qumica. In: FRIGOTTO, Gaudncio;

    CIAVATTA, Maria. A formao do cidado produtivo: a cultura de mercado no ensino mdio

    tcnico. Braslia: INEP, 2006.

    MAUAD, Ana Maria. Fotografia e histria possibilidades de anlise. In: CIAVATTA, Maria;

    ALVES, Nilda (orgs.). A leitura de imagens na pesquisa social: histria, comunicao e educa-

    o. So Paulo: Cortez, 2004.

    NORA, Pierre. Entre memria e histria: a problemtica dos lugares. In: Revista do Progra-

    ma de Estudos Ps-graduados em Histria e do Departamento de Histria. So Paulo: Projeto

    Histria, n 10, dezembro de 1993.

    NVOA, Antnio. La Profession enseignante en Europe: Analyse historique et sociologique.

    Lisboa: Educa,1997.

    Equipe trabalha no Centro de Memria

  • 41ARTIGOS

    RESUMO

    A relao entre o meio empresarial e o mercado exige a formulao de

    estratgias competitivas baseadas na anlise do ambiente interno e externo,

    onde devero ser identificados os riscos e oportunidades, fraquezas e foras

    da concorrncia que possam influenciar na capacidade das empresas de

    atingir suas metas. Assim, tendo em vista o notvel crescimento da empresa

    em estudo do ramo de sorvetes e picols e sua aspirao a outros mercados

    em potencial, o presente artigo busca relacionar as estratgias competitivas

    A estratgia competitiva

    promovendo o crescimento

    de uma empresa potiguar

    COSTA, Ana C. R.; PEREIRA, Andr B.; MEDEIROS, Anglica P. Q. de;

    FLIX Fbio H. de M.; CAMELO, Gerda L