Cadernos Discentes Turismo vol 1

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CADERNOS DISCENTES FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA Faculdade de Turismo e Hotelaria Universidade Federal Fluminense Organizadoras: Verônica Feder Mayer e Erly Maria de Carvalho Silva CADERNOS DISCENTES Trabalhos de Iniciação Científica do Curso de Turismo Volume 1, número 1.

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Cadernos disCentesFaCULdade de tUrisMo e HoteLaria

Faculdade de turismo e HotelariaUniversidade Federal Fluminense

organizadoras: Verônica Feder Mayer e erly Maria de Carvalho silva

CADERNOS DISCENTESTrabalhos de Iniciação Científica do Curso de Turismo

Volume 1, número 1.

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sumário

Democracia Cultural na Barra da Tijuca: Projeto Circo Alvorada Pag. 05Marina Morettoni | Juliana Carneiro

Turismo de Estudos e Intercâmbio: a Experiência dos Intercambistas do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense Pag. 17Juliana Alves Vasconcellos

Mídias Sociais no Processo de Escolha dos Turistas pelo Museu de Arte Contemporânea de Niterói Pag. 40Jean Viana | Lucas Monteiro | Thaís Mendes

Percepção de Preço e Valor no Bondinho do Pão de Açúcar: Um Estudo Exploratório Com Turistas Nacionais Pag. 50Flavio Andrew do Nascimento Santos

Turistas Backpackers no Bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro Pag. 65Paula Nascimento | Joana Passos

A Influência da Mensagem no Poder de Decisão do Consumidor Pag. 78Mariana Chehin | Nielys Machado

Percepção de Valor da Marca em Relação ao Patrocínio da CervejariaAntárctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro Pag. 88Mayara Lima Abreu | Lucas Rolim Fischer | Letícia Santos

Sambódromo do Rio de Janeiro Como Atrativo Turístico: A Percepção Dos Visitantes Pag. 103João Paulo Silva de Queiroz Lourenço

Meios de Hospedagem e Comportamento do Consumidor: Análise daPreocupação Sustentável em Ambientes Online de Co-criação de Valor. Pag. 119Mariana de Morais Ramos

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apresentação

“Só quem lança as redes colhe alguma coisa”

Ao lançar aos rios do conhecimento científico as primeiras redes tecidas por nossos alunos do Curso de Turismo, não temos a pretensão de que essas redes sejam perfeitas, tampouco temos a ilusão de que os produtos colhidos por elas se apresentem essencialmente inovadores. O objetivo é que se desenvolvam nos discentes a motivação para produzir o conhecimento, a alegria e o prazer das descobertas.

Nossa pretensão é que à medida que nossos estudantes vão adquirindo mais prática na tessi-tura de redes, elas fiquem cada vez mais consistentes e que os produtos por elas apreendidos possam abrir novas veredas científicas, bem como estimulem o desempenho criativo de nossos acadêmicos para desfrutar as infinitas possibilidades que a pesquisa oferece.

Assim, com esse propósito nasceu o Caderno de Discentes do Curso de Turismo e como o próprio nome indica pretende reunir produções com caráter de iniciação científica realizadas pelos estudantes ao longo de sua trajetória acadêmica.

Sua edição eletrônica será a princípio semestral com publicação de artigos cuja temática verse sobre as múltiplas facetas do turismo a fim de que se abram oportunidades de discussão e aprofundamento dos saberes pertinentes a esse campo tão complexo e diversificado, bem como compartilhem saberes e competências a partir de investigações científicas aplicadas em Turismo.

Este primeiro número reúne nove artigos que tratam de temas relacionados ao comporta-mento do consumidor em turismo. Os estudos foram desenvolvidos na disciplina de mesmo nome ou nasceram de Trabalhos de Conclusão de Curso dedicados a este campo de estudo onde o inte-resse principal é investigar percepções, julgamentos, sentimentos e opiniões de turistas e residentes que recebem as influências das inovações e das políticas em desenvolvimento no setor.

Esperamos que essa primeira publicação discente do Curso de Turismo da Faculdade de Tu-rismo e Hotelaria seja bem acolhida por nossa comunidade acadêmica e que sirva de estímulo para que mais alunos possam se interessar pela prática da pesquisa, entendendo-a como indispensável a sua formação universitária e na sua prática profissional.

Niterói, dezembro de 2016.

Erly Maria de Carvalho Silva Verônica Feder Mayer

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resumo

O presente artigo traz um estudo sobre a percepção e aceitação dos moradores da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, sobre o Projeto Circo Alvorada. O projeto consiste na implementação de uma lona cultural na região, similar à lona do Circo Voador, no bairro da Lapa. O estudo que aborda o processo de formação e urbanização da Barra da Tijuca, as políticas públicas de incentivo à cultura e informação e o conceito de democracia cultural, tem como objetivo avaliar a aceitabilidade dos moradores do bairro com relação ao projeto. Para tal, foi elaborado um questionário estruturado em três partes: 1) perfil sócio demográfico do respondente, 2) prática de atividades culturais e percepções sobre as políticas públicas de cultura 3) sobre a Lona Cultural. Foram obtidas 170 respostas válidas por meio de coleta in loco e via disponibilização do questionário online na plataforma de pesquisa Qualtrics. Os dados coletados indicam que a maioria dos entrevistados mostrou-se insatisfeita com a oferta cultural no bairro e com os investimentos públicos em cultura. Dos moradores questionados, 95% aprovam o Projeto Circo Alvorada.

Palavras-chave: Barra da Tijuca. Políticas Culturais. Lona Cultural. Projeto Circo Alvorada.

abstract

This article presents a study on the perception and acceptance of the residents of Barra da Tijuca, in Rio de Janeiro, on the Projeto Circo Alvorada, a cultural public policy. The project involves the implementation of a cultural canvas in the region, similar to the canvas of the Circo Voador in Lapa. The study addresses the process of formation and urbanization of Barra da Tijuca, public policies to encourage culture and infor-mation and the concept of cultural democracy. It aims to evaluate the acceptability of the neighborhood’s residents regarding the project. To this end, we designed a structured questionnaire in three parts: demo-graphic profile of the respondent; practice of cultural activities and perceptions about public policy culture; about Cultural Canvas. The total of 170 valid responses was obtained by collecting the responses on-site and also online through the Qualtrics research platform. The data collected indicated that the majority of respondents were dissatisfied with the cultural offer in the neighborhood and public investment in culture. Of the questioned residents, 95% approved the Projeto Circo Alvorada.

Keywords: Barra da Tijuca. Cultural Policies. Lona Cultural. Projeto Circo Alvorada.

Marina Morettoni¹

Juliana Carneiro²

¹ Marina Morettoni - Graduanda de Bacharelado em Turismo da UFF / [email protected].² Juliana Carneiro - Graduanda de Bacharelado em Turismo da UFF / [email protected].

democracia Cultural na Barra da tijuca: Projeto Circo alvorada

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

O bairro da Barra da Tijuca, localizado na cidade do Rio de Janeiro, apresenta espaços e atividades culturais restritas no que tange ao horizonte de manifestações culturais contempladas. Além disso, os espaços e atividades existentes são direcionados a um público selecionado, de alto poder aquisitivo. Os espetáculos de teatro, musicais, shows, entre outras atividades culturais são oferecidos a preços fora da realidade de consumo de grande parte da população, com ingressos que muitas vezes representam mais de 40% do salário mínimo atual.

Encontram-se hoje, na região, espaços privados para espetáculos, como o Teatro dos Grandes Atores, o Teatro Bradesco, o Centro Cultural Anglo-Americano e o Citibank Hall, onde são apresentados shows, peças e musicais. No âmbito público, a Cidade das Artes, que é adminis-trada pela Prefeitura, possui capacidade para receber mais de 1000 pessoas, porém o espaço cos-tuma exibir megaproduções, com bilhetes de entrada entre R$100,00 e R$300,00. Dessa maneira, o acesso a ambientes de trocas e atividades culturais fica restrito a uma minoria privilegiada.

Considerando que há uma barreira socioeconômica de acesso a esses espaços, identifica-se a necessidade de espaços populares para o desenvolvimento e produção de atividades culturais, como uma forma de inclusão social, o que demanda maior atenção das políticas públicas de incen-tivo aos programas de cultura que atendam às diferentes camadas sociais existentes. Pode-se dizer que para além da barreira socioeconômica existe uma barreira da própria natureza das atividades culturais desenvolvidas no bairro, que necessitam da ampliação do horizonte cultural para as mais diversas formas de manifestação da cultura.

Pensando em criar um projeto de incentivo às diferentes formas de manifestação cultural da região, o Coletivo Lá Vai Maria, a Festa da Música Tupiniquim e o Instituto Projetar Brasil³, se uniram na elaboração de um projeto de reabertura da Lona Cultural da Barra da Tijuca (fechada em 2002): o Projeto Circo Alvorada4 - com apoio dos moradores e admiradores artísticos da Barra da Tijuca e adjacências. O projeto conta com a implantação de uma Lona Cultural no bairro, onde serão realizados cursos, oficinas livres, feiras culturais, palestras, exposições, festas e shows, e também servirá como sede do Projeto Social “Os Arteiros” e como local de residência artística temporária dos grupos participantes. Também consta no projeto a criação da Biblioteca Popular da Barra da Tijuca.

Uma Lona Cultural é um espaço que funciona como centro de artes e desenvolve ações e atividades para todos os públicos, oferecendo espetáculos de música, teatro, dança e poesia, além de cursos e palestras a preços reduzidos. É uma forma de integração dos moradores de uma região, pois é um espaço de livre expressão, troca de ideias e experiências. As lonas culturais surgem a partir de investimentos e manutenção do poder público.

Na cidade do Rio de Janeiro existem 10 Lonas Culturais, dentre elas a Lona Cultural Municipal Jacob do Bandolim, instalada em uma praça do sub-bairro do Pechincha (bairro de Jacarepaguá), que funciona como centro de artes, desenvolvendo ações e atividades para crianças. O espaço para espetáculos conta com uma capacidade de 1.000 pessoas para shows e 450 para produções teatrais. O músico Jacob do Bandolim foi escolhido para ser o patrono desta lona por-que morou durante anos no bairro do Pechincha5.

A Lona Cultural, proposta pelo Projeto Circo Alvorada, espelha-se no Circo Voador, que se

configura como espaço de shows, cursos e trocas culturais, frequentado por turistas, moradores de diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro e de cidades vizinhas. O Circo Voador, localizado no bairro da Lapa (RJ), viveu a efervescência cultural dos anos 80 e 90 na cidade, sendo fechado em 1996 e reinaugurado em 2004, atendendo às demandas do público que pedia sua reabertura. Sendo considerado um importante espaço da manifestação cultural carioca, já foi citado diversas vezes no The New York Times, nas colunas What’s Doing In, Next Stop e Tips for The Sothisticated Travallers6.

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Por seu palco passaram inúmeros artistas consagrados na cultura musical brasileira, como Tim Maia, Caetano Veloso, Barão Vermelho, Baby Brasil, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Lobão, Tom Zé, Los Hermanos, Pitty, Marcelo D2, O Rappa, entre outros, alcançando diversos tipos de público.

Buscando identificar a aceitabilidade do Projeto Circo Alvorada e as atividades a serem desenvolvidas na Lona Cultural, de acordo com as preferências dos moradores da região, foi re-alizada a Pesquisa de Aceitabilidade do Público sobre a Implantação da Lona Cultural da Barra da Tijuca. O Projeto Circo Alvorada e a elaboração do presente trabalho tiveram o mesmo ponto de partida como fator motivacional, a sensação de certa deficiência de uma democracia cultural plena no bairro. A proposição levantada neste trabalho é de que os moradores não estão satisfeitos com a oferta cultural da Barra da Tijuca, e que a partir das questões perguntadas sobre a Lona Cultural, a aceitabilidade do projeto seja relevante.

A pesquisa realizada nos meses de outubro e novembro de 2014 contou com 250 respon-dentes, totalizando 170 questionários válidos, aplicados in loco e disponibilizados via internet. Este trabalho não pretende apresentar resultado descritivo, uma vez que, a amostra foi selecionada por conveniência e acredita-se que novas pesquisas possam ser realizadas com um número maior de respondentes a fim de identificar as percepções e aceitabilidade do projeto de toda a população residente na região apresentada.

Em seu levantamento bibliográfico, o presente estudo percorre o processo de formação, crescimento e urbanização da Região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá (LEMOS, 2004; FER-NANDES, 2013), e trabalha autores que abordam as políticas públicas de inclusão social e/ou de acesso à cultura e informação (BOTELHO, 2001; GUERRA et. QUINTELA, 2007; MAZZOTTA et. D´ANTINO, 2011), em seguida, são apresentados os resultados da Pesquisa de Aceitabilidade do Público sobre a Implantação da Lona Cultural da Barra da Tijuca, e uma análise sobre a polí-tica pública de incentivo à cultura como importante fator de desenvolvimento e integração social, levando ao fortalecimento do sentido de identidade e à valorização da cultura.

Formação e Urbanização da Barra da tijuca

Com os processos de reestruturação da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, por Francisco Pereira Passos, então prefeito, notou-se o crescimento da zona sul da cidade como área residencial nobre, e o processo de migração da indústria e das favelas para as zonas norte e oeste. A partir da década de 60, o crescimento da zona sul intensificou o ritmo de ocupação da região de Ipanema e Leblon, com alta especulação imobiliária. Nesse período, a orla da Barra da Tijuca, localizada na zona oeste da cidade, encontrava-se basicamente intocada devido à falta de infraestrutura (LEMOS, 2004).

O processo de urbanização e zoneamento da região da Barra da Tijuca e Baixada de Jaca-repaguá teve início em 23 de Junho de 1969, com a promulgação do Decreto lei nº 42 do Estado da Guanabara, governado à época por Francisco Negrão de Lima. O Decreto determinava que o Plano Piloto de Urbanização e Zoneamento da Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá seria arquitetado por Lúcio Costa (FERNANDES, 2013).

A região citada foi considerada como uma importante área de expansão urbana, dado o crescimento da cidade do Rio de Janeiro que se encontrava comprimida entre a região central e a zona sul. Sua expansão pelo litoral possibilitaria o crescimento da zona residencial nobre da cida-de, se prolongando como via de encontro à orla da Barra, da zona sul para a zona oeste. Segundo Lemos (2004, p. 3), “a intensificação da especulação imobiliária acontece no período do milagre econômico, a partir da década de 1970, quando ocorreu a expansão da área ocupada pela elite da cidade em direção a São Conrado e Barra da Tijuca”.

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Acompanhando as ideias modernistas da construção de Brasília, o planejamento urba-no, proposto por Lúcio Costa, dividia a região de expansão em áreas onde as pessoas pudessem circular, morar, trabalhar e se recrear, com gabarito reduzido ao máximo de cinco pavimentos e grandes áreas verdes que tendiam a aproveitar a vegetação in natura, e trabalhar o conceito de cidade sustentável. A região da orla da praia foi projetada para estar livre de grandes construções que bloqueassem a brisa marítima e impedissem a visibilidade do mar de outros quarteirões. O projeto piloto de Lúcio Costa também contava com um plano paralelo para a criação de moradias populares financiadas pelo Banco Nacional de Habitação a serem construídas na área de Vargem Grande, Vargem Pequena e Sernambetiba, porém o Banco Nacional de Habitação considerou que o investimento era muito alto devido às condições de solo da região, que demandavam obras muito custosas. (FERNANDES, 2013)

Ao longo das décadas de 80 e 90, o plano piloto de Lúcio Costa sofreu grandes alterações, que iam contra aos artigos 182 e 183 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), e beneficiavam os interesses do setor imobiliário. O Decreto Lei 3.046 de 27 de Abril de 1981 estabeleceu uma nova divisão e aproveitamento do território, permitindo o aumento dos gabaritos da região de 8 a 15 pavimentos e a construção ao longo da orla da praia. (FERNANDES, 2013)

De acordo com Fernandes (2013), em 1980, a área já apresentava altos níveis de polui-ção das lagoas e do lençol freático, uma vez que a urbanização ali instaurada não se iniciou pela infraestrutura, pois a implantação das redes de água e esgoto era considerada de custo muito elevado. Em 1988, a falta de investimentos públicos e os altos impostos cobrados, que não eram revertidos em melhorias para a região, levaram ao movimento de emancipação da Barra da Ti-juca, que culminou em um plebiscito com apenas 12% de aprovação dos moradores, quando o índice necessário seria de 50%.

O crescimento urbano da Barra da Tijuca desencadeou a criação de ilhas habitacionais que ofereciam conforto, segurança e lazer em forma de grandes condomínios privados para um público de poder aquisitivo elevado (FERNANDES, 2013). A população de baixa renda passou a se aglutinar desordenadamente nas proximidades dos córregos e lagoas, enquanto, segundo Fer-nandes (2013), o crescimento transformava a região na “Miami dos Brasileiros”, alvo da classe média emergente. Segundo dados do IBGE, o movimento Rio Como Vamos estimou que no de-correr de 10 anos, de 2000 a 2010, a Região Administrativa (RA) Barra da Tijuca, apresentou um crescimento populacional de cerca de 57% - de 174.353 para 300.823 habitantes .

A expansão urbana da região em benefício do mercado imobiliário desenvolveu uma evidente segregação entre aqueles que habitavam os grandes condomínios fechados e a parcela da população marginalizada nas favelas horizontais refletindo-se na ocupação e utilização do espaço, assim como no acesso à cultura e à informação. Segundo Lemos (2014, p. 9), pode-se dizer que “a cultura se manifesta fortemente através dos hábitos de consumo”. De acordo com o autor, a elite que em meados da década de 1960 havia migrado para a Barra da Tijuca, com o crescimento populacional na região e o inchaço da elite emergente, encontrou no capital cultural uma forma de distinção social para além da apropriação dos espaços físicos da cidade. Os mecanismos de distinção que visam manter um estado de hierarquização social expressam um conflito de identidade, enquanto a elite detentora do capital simbólico inicia um processo de retorno à Zona Sul e de valorização do capital cultural, a elite emergente (que começa a se tornar predominante na Barra da Tijuca) busca a partir do capital econômico imitar os padrões de consumo e comportamento daqueles que a rejeitam.

Cultura: Políticas Públicas por uma democracia Cultural

Em seu sentido mais amplo a cultura pode ser considerada, segundo Botelho (2001), “tudo o que o ser humano elabora e produz simbólica e materialmente”, esse ponto de vista com

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põe a dimensão antropológica da cultura, que se faz no cotidiano do indivíduo. É na dimensão an-tropológica que os indivíduos interagem socialmente, manifestam seus modos de pensar e sentir, seus valores, identidades e diferenças.

No sentido sociológico estrito, pode-se entender a cultura como circuito organizado a partir de demandas profissionais, econômicas, políticas e institucionais às diferentes formas de expressão artística, que contribui para a formação de um público consumidor de bens culturais (BOTELHO, 2001). Segundo Chauí et al. (1985) apud Mazzotta e D’Antino (2011, p. 379) o sentido estrito da cultura refere-se ao “conjunto de práticas e de ideias produzidas por grupos que se especializam em diferentes formas de manifestação cultural – as artes, as ciências, as técnicas, as filosofias”.

De acordo Mazzotta e D’Antino (2011, p. 379) a cultura seria um “conjunto de formas simbólicas impregnadas nas pessoas e nos grupos estruturados que se exteriorizam nos com-portamentos e nos recursos materiais”. Seguindo o proposto por Guerra e Quintela (2007), a cultura estabelece sentidos de pertencimento, raízes e relações de afetividade do indivíduo com a comunidade em que está inserido, uma vez que este é herdeiro de “recursos culturais materiais e imateriais” que compõem a memória coletiva e fortalecem o sentido de identidade.

Os incentivos à cultura e às atividades culturais estão diretamente relacionados à melho-ria da qualidade de vida, ao reforço da cidadania e à inclusão social, sendo assim, a cultura se con-figura como um importante fator de desenvolvimento. Seu incremento deve estar associado não somente ao marketing das empresas ou ao crescimento de uma indústria cultural, mas também ao planejamento público que deve primar pelo incentivo à cultura em todas as esferas de governo. (BOTELHO, 2001; GUERRA; QUINTELA, 2007)

No que se refere às políticas públicas culturais, percebe-se um movimento de políticas de in-centivo que priorizam a abordagem sociológica da cultura, observada por Botelho (2001), enquanto que a dimensão antropológica figura nos discursos e plataformas políticas sem grandes investimen-tos ou programas efetivos. O fato da dimensão sociológica se configurar de forma mais organizada e mensurável é um fator condicionante para que esta ganhe maior visibilidade e atenção do poder público, que pode elaborar diagnósticos, desenvolver atividades e medir os resultados obtidos.

Botelho (2001) defende que as políticas públicas culturais não podem isoladamente atuar no plano cotidiano, logo, para unir o discurso à implementação de políticas públicas culturais efetivas há que se fundirem as dimensões sociológica e antropológica da cultura.

Portanto, para que as políticas alcancem o plano cotidiano é necessário que haja um movi-mento de manifestação e organização de uma demanda. A partir da identificação dessa demanda, surgida de um desejo cotidiano do indivíduo, é que se pode delimitar o real universo de atuação da política pública cultural e estabelecer estratégias específicas de atuação. Considerando a am-plitude e distanciamento do poder público federal e estadual, é a estância municipal (micro) que atua mais efetivamente no plano do cotidiano.

O cenário cultural brasileiro se encontra, hoje, na onda dos incentivos privados de gran-des empresas e instituições privadas que ganharam espaço a partir do incremento ao incentivo fis-cal pós décadas de 70 e 80, quando o governo diminuiu drasticamente os investimentos no campo cultural. Porém, a cultura financiada por essas grandes empresas e instituições é prioritariamente aquela que possui maior visibilidade, que atua em consonância com os setores de marketing em-presarial. Sendo assim, as pequenas manifestações culturais de pequenas cidades ou pequenos grupos sem ampla projeção acabam por serem suprimidas em favor de grandes exposições espetá-culo. Soma-se ao critério de seleção por visibilidade dos projetos culturais à ausência de verba das próprias instituições culturais públicas, que para manter o pleno funcionamento concorrem aos financiamentos privados junto com produtores culturais e artistas independentes. Vale ressaltar

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que os incentivos fiscais são parte de uma política pública de incentivo à cultura uma vez que a renuncia fiscal de impostos compõe parte do recurso público, e sendo, então, o investimento pri-vado parte de um investimento público há que se estabelecerem políticas claras quanto ao finan-ciamento e incentivo de projetos e atividades culturais, o que demanda a realização de pesquisas quanto à diversidade de públicos e manifestações culturais, entre outros aspectos.

O incentivo à cultura, como forma de inclusão e interação social, pressupõe o conceito de democracia cultural, que segundo Botelho (2001) é permitir o acesso às diferentes formas de cultura a todos os públicos, cabendo a eles a escolha quanto ao consumo; é incentivar projetos e iniciativas culturais que abranjam da cultura erudita à popular, e disponibilizá-las a jovens e adul-tos, homens e mulheres, a todas as classes sociais com equidade.

O Projeto Circo Alvorada faz o caminho inverso de políticas públicas - que visam somente democratizar o acesso aos equipamentos culturais existentes (como por exemplo, redução do preço dos ingressos a uma determinada manifestação cultural estabelecida) – e propõe a criação de um espaço para as mais múltiplas manifestações culturais que atendam aos gostos e interesses dos mais diversos públicos. Com isso os “subpúblicos”, que Botelho (2001) afirma existir, são contemplados com espaços que lhes pertencem e não que lhe são impostos, deixando ao público a escolha de gos-tar ou não, consumir ou não a programação cultural ofertada. Para tal, faz-se necessária a descentra-lização dos grandes equipamentos, com a criação de centros culturais, tais como uma lona cultural, por exemplo. Para isso há programas de governo como o Programa de Fomento à Cultura Carioca9

que abre a possibilidade aos produtores culturais de pequeno e médio porte, coletivos e artistas independentes, de terem uma chance para colocar em prática suas ideias de inclusão pela cultura.

Projeto Circo alvorada: Percepções e aceitabilidade

O Teatro de Lona da Barra foi palco essencial para a produção cultural independente na re-gião. Várias bandas consagradas passaram por lá, como o Planet Hemp, o Tianástacia, Los Hermanos, Detonautas, Dread Lion, Tafari Roots e Tribo de Jah; inúmeras outras atividades eram realizadas no es-paço, como aulas de teatro e circo. Entretanto, o local foi fechado em 2002 com o pretexto de dar lugar à construção de uma estação da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro - Cedae.

As Lonas Culturais possuem a característica de ser um espaço alternativo aos moldes predominantes da oferta cultural, para que artistas da região possam se expressar de forma in-dependente e a população possa usufruir da cultura e da arte a baixos custos. Acredita-se que a produção independente é fundamental para a evolução social. Em um meio democrático, cabe ao Estado manter ativa a produção independente, na medida que preza pela proteção das mino-rias culturais - e tal dever é constitucional.

A investigação com os moradores dos bairros da Barra de Tijuca e Recreio10 a fim de descobrir a aceitabilidade da implantação de uma Lona Cultural na região foi motivada pela sensação de certa deficiência de democracia cultural no bairro da Barra da Tijuca e pela identi-ficação de um desejo crescente de alguns grupos artísticos da região por espaços para desenvol-ver seus trabalhos artísticos independentes.

O total da amostra da pesquisa realizada nos meses de outubro e novembro de 2014 foi de 250 participantes que responderam ao questionário, totalizando 170 questionários válidos. A realização da pesquisa se deu por meio de survey in loco (no Shopping Downtown, na Praça do Ó e na Praia do Pepê11) e através da internet (com o uso do software de pesquisa Qualtrics). O link foi divulgado via redes sociais, como o Facebook e o Twitter, em grupos voltados para moradores da Barra da Tijuca e Recreio, via e-mail para moradores da região e para a Câmara Comunitária da Barra da Tijuca. A pesquisa realizada é de cunho quantitativo survey intersec-cional, pois visa mensurar a aceitabilidade de uma amostra dos moradores da Barra e Recreio em um recorte temporal determinado (outubro à novembro de 2014).

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O questionário utilizado estrutura-se em três partes. A primeira, que visa estabelecer o perfil sócio demográfico do respondente, é composta por perguntas sobre gênero, faixa etária, grau de instrução e renda familiar mensal. A segunda parte, referente à prática de atividades cul-turais e as percepções do morador quanto às políticas públicas de incentivo à cultura no bairro, indaga ao morador se ele participa de atividades culturais, quais tipos, com que frequência e a última vez que participou de alguma atividade cultural (os diferentes tipos de atividade cultural foram listados no questionário e serão apresentados adiante). Quanto às percepções do entrevista-do no que tange às políticas públicas culturais, utilizou-se a Escala Likert12 para medir o nível de satisfação quanto à oferta cultural no bairro, o preço das atividades ofertadas, aos investimentos públicos em cultura, entre outras. Por fim, a terceira parte do questionário tem por objetivo saber a opinião do participante quanto à possibilidade da implantação da Lona Cultual na Barra da Tijuca.

Do total de respondentes, 58% eram do gênero feminino e 42% masculino. Sobre o estado civil: 70% eram solteiros, 24% casados/união estável, 5% divorciados e 1% viúvo. A proporção das faixas etárias ficou com o seguinte formato: 16% de pessoas com 15 a 19 anos, 34% de pesso-as com 20 a 24 anos, 15 % com 25 a 29 anos, 16% de 30 a 39 anos e cada uma das faixas restantes com 6% (40 a 49 anos, 50 a 59 anos e mais de 60 anos). O grau de instrução predominante foi o ensino superior, incompleto (43%) e o completo (28%). Sobre a principal ocupação, estudante (34%), empregado no setor privado (23%) e profissional liberal/autônomo (21%). Os dados refe-rentes à ocupação principal (34% estudantes) e nível de escolaridade (ensino superior incompleto 43%) se justificam na faixa etária predominante de 20 a 24 anos entre os respondentes.

Na questão da renda familiar mensal, as faixas predominantes estendem-se de R$ 1.734 a R$ 7.475 (32%) e acima de R$ 9.000 (26%). As faixas de renda familiar mensal foram definidas de acordo com índice da estratificação social13 da Fundação Getúlio Vargas, sendo assim de acordo com o índice, a maioria da população respondente corresponde as classes C e A, respectivamente.

Após a tabulação dos dados coletados foi possível descobrir quais tipos de atividades culturais (pré-definidas) os pesquisados realizam e com que frequência (Fig. 1).

Figura 1: Frequência de participação em atividades culturaisFonte: Elaborado pelas autoras

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Foram listadas como atividades culturais no questionário: teatro, cinema, circo, expo-sições, feiras, shows e oficinas, além da resposta aberta “outras”, em que o respondente deveria indicar quais tipos.

Como é indicada na figura 1, a proporção das respostas entre “sempre”, “frequentemente” e “algumas vezes” ficou dividida com 31%, 35% e 34%, respectivamente, nenhum participante afirmou que nunca frequenta atividades culturais.

Ao cruzar esses dados com a faixa etária percebe-se que cerca de 40% das pessoas de 15 a 19 anos sempre frequenta atividades culturais, 43% e 41% das pessoas nas faixas etárias de 20 a 24 anos e de 30 a 39 anos, respectivamente, assinalaram que participam frequentemente de atividades culturais como apontado na tabela 1.

Essa tendência se segue ao serem perguntados quando foi a última vez que o morador participou dessas atividades culturais. Dos 68% que afirmaram que foi nas últimas semanas, 33% tinham entre 20 e 24 anos, 21% entre 15 e 19 anos e 16% entre 30 e 39 anos.

Tabela 1 - Faixa etária X Frequência da participação em atividades culturais X Última vez que participou de atividades culturais

Fonte: Elaborado pelas autoras

O grau de insatisfação (escala Likert de 0 a 4, em que 0 é “totalmente insatisfeito” e 4 é “totalmente satisfeito”) com a atual oferta cultural na Barra da Tijuca é relativamente alto, corres-pondendo à média de 1,48. Ao serem indagados sobre a satisfação quanto ao valor dos ingressos cobrados, percebe-se um alto grau de insatisfação, confirmado pela média de 0,94.

Essa opinião perdura ao serem perguntados se a Barra da Tijuca possui número de salas de teatro em quantidade satisfatória, o nível de satisfação medido foi de 1,07, indicando que o nível de satisfação dos respondentes se aproxima de “insatisfeito”. Confirmando as opiniões anteriores, observa-se a reafirmação da insatisfação quanto aos investimentos públicos atualmente na região, com a média de 0,86.

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Para identificar a opinião dos respondentes quanto ao papel do poder público, foi per-guntado se o morador concordava que era dever da esfera pública garantir o acesso à cultura e a informação e se acreditava que poucas pessoas tinham acesso à cultura e à informação, de uma maneira geral.

Indo ao encontro, então, dos resultados anteriores, a média de concordância foi alta, 3,28 e 3,10, respectivamente (seguindo uma escala onde 0 “discordo totalmente” e 4 “con-cordo totalmente”). A próxima questão sobre o desejo de novos espaços para shows e eventos também se manteve com a média significativa de concordância (3,43).

Esses resultados indicam a insatisfação dos moradores pesquisados no que tange à ofer-ta cultural do bairro, visto que em todas as indagações a média de insatisfação se revelou alta e há concordância de que é papel do poder público garantir o acesso à cultura e informação.

Ao serem questionados se saberiam o que é uma Lona Cultural, 81% afirmaram que sabiam e 19% afirmaram disseram que desconheciam. Na sequência da pergunta, o questio-nário possuía um texto informativo que explicava o que era uma Lona Cultural e indicava a existência do Projeto Circo Alvorada. Essa pergunta indica o nível de conhecimento das pessoas quanto à Lona Cultural e aponta que é preciso divulgação para que a ideia da Lona Cultural cresça e se fortaleça para captar novos públicos.

Dada a explicação sobre a função e objetivo de uma Lona Cultural, foi perguntado se eles apoiariam a implantação de uma Lona Cultural no bairro. Os resultados obtidos apontam que 95% seriam a favor da implementação de uma Lona Cultural na Barra da Tijuca. Dentre os 5% que negaram apoio, as justificativas apresentadas foram: “não faz o meu perfil”, “não vejo necessidade”, “potencial de atrair muitas pessoas que não são da região”, “a prefeitura não dará suporte para a continuidade do projeto”, e “não concordância com o modo de vida e comportamento dos artistas na atualidade”.

Para as pessoas que concordariam em apoiar a implementação de uma Lona Cultural na Barra da Tijuca, foi inquirido quais tipos de atividades seriam mais importantes que fos-sem desenvolvidas. Dentro dos níveis estabelecidos pela Escala Likert, o zero é “sem impor-tância” e 4 “grande importância”, sendo 2 o ponto médio da escala. As cinco atividades que se destacaram foram:

Curso livre e oficina de música (3.69); Biblioteca Popular da Barra da Tijuca (3,62); Curso livre e oficina de dança (3.5); Exposições (3,48); e Festas e Shows de pequeno e médio porte (3,45), caracterizando-os como de “grande importância”.

Na sequência, as atividades que tiveram uma classificação mais baixa, porém classi-ficadas como de “grande importância” e “importante” foram: Feira cultural livre com artistas da região; e Palestras (ambos com 3,43); seguido de Curso livre e oficina de fotografia (3,42); Curso livre e oficina de cinema (3,41); Rodas de rima e improviso de ritmo e poesia (3,18); e Curso livre e oficina de circo (2.95).

Vale ressaltar que quando comparados os dados sobre a frequência de participação em atividades culturais e a importância das atividades a serem realizadas na Lona Cultural (Fig. 3), percebe-se que nem todas as atividades propostas para a Lona Cultural fazem parte dos hábitos de consumo de bens culturais por grande parte dos respondentes, ainda assim, tais atividades foram consideradas de relativa e grande importância.

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Tabela 2 - Atividades X Média de aceitabilidade X Média da frequência

Fonte: elaborado pelas autoras

Entende-se que o conceito de democracia cultural aqui trabalhado, não apenas visa à inclu-são de classes socioeconômicas diferentes nos equipamentos culturais que já existem e segregam parte da população, mas dar oportunidade e suporte para todas as formas de expressão artística e para os diversos segmentos da comunidade que desejam ter um espaço para se expressar livremen-te, e que ao mesmo tempo, não se identificam com a oferta cultural predominante na região.

Retomando a reflexão de Botelho (2004) sobre a identificação da demanda, concorda-se que é a partir da organização de grupos com motivações dispersas e objetivos comuns que se mo-bilizam e manifestam interesse, como por exemplo, a presente pesquisa de demanda, a Pesquisa de Aceitabilidade do Projeto Circo Alvorada, que mede o nível de aceitabilidade da Lona Cultural nos bairros da Barra da Tijuca e Recreio, e que quando comparada aos aspectos da percepção dos moradores quanto às atividades culturais e políticas públicas culturais indicam uma demanda por novos espaços e atividades culturais, e maiores incentivos à cultura por parte do poder público.

Considerações Finais

O presente trabalho buscou por meio de pesquisa quantitativa mensurar o nível de acei-tabilidade do Projeto Circo Alvorada, que tem como objetivo proporcionar maior democracia cultural ao bairro da Barra da Tijuca, localizado no Rio de Janeiro. Considerando que o projeto em questão refere-se à implantação de uma Lona Cultural no bairro, viu-se a necessidade de estrutu-rar o trabalho a partir do reconhecimento da área (abordando a história de formação e urbanização do bairro), e de compreender melhor os sentidos e significados de cultura e o papel das políticas públicas junto à promoção de atividades culturais.

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A cultura deve estar presente em todas as estâncias de governo, uma vez que se configura como um importante fator para o desenvolvimento econômico e social, a partir da geração de em-pregos, da movimentação da produção cultural incentivando produtores e artistas independentes, além da criação de espaços de interação social que é um dos fatores fundamentais da cultura.

Acredita-se que as políticas públicas culturais devem ir além do incentivo fiscal às em-presas e instituições privadas, que são isentos de parte de seus tributos, quando no investimento e financiamento de atividades culturais – que podem levar à hierarquização dos projetos culturais de acordo com o grau de visibilidade a ser atingido por eles, priorizando projetos espetáculo em detrimento de artistas independentes e produtores de pequeno e médio porte. Portanto, faz-se necessário um planejamento competente, englobando políticas públicas culturais eficazes, que precisam de mecanismos capazes de mapear não só a oferta cultural existente, mas também a demanda dos públicos existentes, a partir de pesquisas socioeconômicas na área cultural.

O financiamento a projetos culturais deve ser determinado a partir das políticas públicas cul-turais e não o contrário, por isso recomenda-se o investimento público em projetos como este (Pro-jeto Circo Alvorada), alicerçado aos programas públicos de governo - para que o objetivo do espaço não seja comercializado, buscando estritamente o lucro de seus eventos e atividades. Faz-se funda-mental, também, a definição das prioridades e as metas a serem alcançadas em curto, médio e longo prazo que possibilitarão a escolha de estratégias diversificadas e adequadas para seu financiamento.

Percebe-se o enquadramento do Projeto Circo Alvorada no Programa de Fomento à Cul-tura Carioca, que segundo a Prefeitura da cidade, é a maior e mais abrangente ação do gênero des-tinada exclusivamente aos segmentos de produção cultural da cidade, como teatro, circo, dança, música, artes visuais, filmes, incentivo à leitura e outras atividades artísticas. Há que se considerar ainda que os resultados obtidos a partir dos dados coletados pela presente pesquisa revelam que os moradores da Barra da Tijuca e Recreio manifestaram altos níveis de insatisfação quanto aos investimentos públicos em cultura e a atual oferta de atividades culturais no bairro. Ressaltando-se que o Projeto Circo Alvorada obteve 95% de aprovação dos moradores entrevistados.

As autoras deste artigo consideram que os investimentos públicos em cultura devem pos-sibilitar a acessibilidade aos aparelhos culturais, assim como promover oficinas, feiras, exposi-ções, cursos, dentre outras atividades, respeitando as características e objetivos de cada projeto desenvolvido, aos mais diferentes públicos. A inclusão de todos os públicos na oferta cultural na cidade do Rio de Janeiro é fundamental, pois nenhum grupo ou “subpúblico” deve se sentir deslo-cado do lugar de pertencimento a partir de suas expressões artísticas de diversas formas.

Acredita-se que novas pesquisas possam ser realizadas com um número maior de respon-dentes, a fim de identificar as percepções e aceitabilidade do Projeto que sejam representativos de toda a população residente na região apresentada. Para que assim se possa levar esse estudo às autoridades competentes, gerando um material com credibilidade para servir de guia para a construção de uma Lona Cultural na Barra da Tijuca.

referências

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LEMOS, L. Reprodução das elites, consumo e organização do espaço urbano: Questões Comparativas entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio de Janeiro. Cadernos eBaPe.Br, v. 2, n. 2, jul. 2004.

MAZZOTTA, M. J. S.; D’ANTINO, M. E. F. Inclusão social de pessoas com deficiência e necessidades especiais: cultura, educação e lazer. saúde soc. São Paulo, v.20, n.2, p.377-389, 2011.

McDANIEL, G.; GATES, R. Pesquisa em marketing. São Paulo: Pioneira Thompson Le-

arning, 2003.

³ Para outras informações sobre os coletivos apoiadores, respectivamente:<https://www.facebook.com/coletivolavaima-ria>;<https://www.facebook.com/FestaDaMusicaTupiniquim>; http://www.institutoprojetar.com.br/sobre-o-instituto.php

4 Para outrass informações sobre o Projeto Circo Alvorada: <https://www.facebook.com/Culturavivanabarra?fref=ts>

5 Disponível em:<http://www.rio.rj.gov.br/web/smc/lonas-culturais>Acesso em 25 de nov. de 2014.

6 Disponível em: <http://www.nytimes.com/1985/11/17/travel/what-s-doing-in-rio-de-janeiro.html?modu-le=Search&mabReward=relbias%3Aw%2C%7B%222%22%3A%22RI%3A12%22%7D;<http://www.nyti-mes.com/2006/11/26/travel/26next.html?pagewanted=all&_r=0>;<http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9D04E6D6153EF935A15752C1A9609C8B63>; <http://www.nytimes.com/1985/03/17/magazine/tips-for-the-sophisticated-traveler-first-sightings-099594.html>. Acesso em 22 de nov. de 2014.

7 Disponível em: <http://www.riocomovamos.org.br/arq/censo1.pdf>. Acesso em 25 de nov. de 2014.

8 Entende-se por grupo detentor do capital simbólico aquele que é reconhecido pela sociedade como detentor do mais elevado prestígio social, ou seja, àquele que delibera a respeito dos valores simbólicos de grande parte dos objetos, pessoas, ideias e lugares, não só dentro do seu grupo como também, de forma direta e indireta, para toda a sociedade. A elite detentora do capital simbólico está essencialmente na Zona Sul, enquanto os emergentes da Barra da Tijuca tentam acompanhar os seus costumes e padrões de consumo, sendo o capital cultural o que distingue os dois. (LEMOS, 2004)

9 O Programa de Fomento à Cultura Carioca tem uma iniciativa de R$ 183,7 milhões, que representa a maior e mais abrangente ação do gênero destinada exclusivamente aos segmentos de produção cultural da cidade, como teatro, cir-co, dança, música, artes visuais, filmes, incentivo à leitura e outras atividades. Ano passado, a prefeitura investiu R$ 161,2 milhões nas mais diversas produções artísticas. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibecon-teudo?id=4733470> Acesso em 25 de nov. de 2014.

10 Recreio dos Bandeirantes, bairro da cidade do Rio de Janeiro vizinho à Barra da Tijuca. O questionário continha como pergunta filtro o local de residência do respondente, tendo como opções: “Barra da Tijuca”, “Recreio” e “De-mais Bairros”. Caso o entrevistado optasse por “Demais Bairros” o questionário era encerrado, caso residisse na Barra da Tijuca ou Recreio seguia para a próxima pergunta. Optou-se por incluir os moradores do Recreio na amostra por acreditar ser uma região vizinha com perfil semelhante de residentes, que compartilham os mesmos espaços da cidade. 11 Foram escolhidos o Shopping Downtown, a Praça do Ó e a Praia do Pepê para a aplicação dos questionários in loco por se tratarem de locais com grande circulação de pessoas que moraram nessa região.

12 A Escala Likert consiste de uma série de afirmações que expressam uma atitude favorável ou desfavorável em relação ao conceito em estudo. É pedido aos entrevistados que expressem seu nível de aprovação ou desaprovação em relação a cada afirmação. (MCDANIEL ;GATES, 2003)

13 O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas define as faixas de renda familiar das classes, como sendo: Classe A: acima de R$9.745,00; Classe B: de R$7.475,00 a R$9.745,00; Classe C: de R$1.734 aR$7.475,00; Classe D: de R$1.085,00 a R$1.734,00; e Classe E: de R$0,00 a de R$1.085,00. Disponível em: <http://cps.fgv.br/node/3999>. Acesso em 28 de nov. de 2014.

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resumo

O Turismo é uma atividade que se divide em vários segmentos, sendo o Turismo de Estudos e Intercâmbio um dos segmentos de cunho educativo que deslocam milhares de estudantes por um determinado período para um destino. Com a prática do intercâmbio se estabelecem cada vez mais as relações públicas e priva-das, organizações e empresas, promovendo a integração do turismo nas relações internacionais. O presente estudo tem por finalidade realizar um estudo sobre o Turismo de Estudos e Intercâmbio, destacando as características do público, suas motivações e escolhas com relação à viagem de intercâmbio e o destino, respectivamente. O estudo de caráter exploratório teve a coleta de dados dividida em duas etapas, a primeira de natureza quantitativa e a segunda qualitativa, com aplicação de questionários a estudantes intercambistas brasileiros e estrangeiros e a realização de grupo focal. Os resultados revelam que existe uma relação visí-vel entre o intercâmbio e a promoção de um destino turístico.

Palavras-chave: Turismo. Relações Internacionais. Intercâmbio.

abstract

Tourism is an activity that is divided into several segments, and Tourism of Studies and exchange programs is one of the segments of educational nature that moves thousands of students for a certain period of time to a destination . With the exchanges programs, public and private relations are more established among organizations and companies, promoting the full integration of tourism. The present work aims to conduct a study on Tourism Studies and Exchange Programs, highlighting the features of the public, their motivations and choices regarding the exchange program and the destination. The exploratory study divided the data collection into two stages, the first one was qualitative and the second one was quantitative, with question-naires applied to Brazilian and foreign exchange students and the conduction of a focus group. The results show that there is a visible relationship between the exchange and the promotion of a tourist destination.

Keywords: Tourism. International Relations. Exchange Programs.

Juliana Alves Vasconcellos¹

¹ [email protected] - Tel: (021) 99168-7760

turismo de estudos e intercâmbio: a experiência dos intercambistas do Curso de turismo da Universidade Federal Fluminense

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

O turismo, visto como um produto de âmbito mundial, pode ser motivado por diversos fatores, para isso, a atividade turística é dividida por segmentos. Uma das atuais segmentações é o Turismo de Estudos e Intercâmbio, que visa movimentar turistas através de atividades e programas de aprendizagem. A partir desses intercâmbios estudantis, há promoção do destino, uma vez que os próprios estudantes divulgam o local em seu país de origem.

Com essa corrente turística advinda dos intercâmbios estudantis, milhares de estudantes passam a estabelecer a relação entre o turismo internacional e o turismo de estudos. A partir das relações turísticas internacionais, determina-se uma série de aspectos positivos, tais como: estabele-cimento de acordos e convênios, controles policiais e alfandegários, fomento da paz e a cooperação mundial, entre outros. Outro ponto a ser analisado é o fato dos intercâmbios também promoverem trocas culturais, pois a partir do momento em que o estudante sai do seu local de origem e se desloca para outro destino, tem contato com hábitos e costumes distintos dos seus.

Em meio à globalização do século XXI, a troca de culturas é fortemente exercitada, prin-cipalmente pela indústria do turismo. Com isso, os estudantes são incentivados a viajar para outros destinos a fim de não só estudar, mas também, conhecer novos hábitos e costumes. Dessa forma, o intercambista acaba por promover o turismo na destinação escolhida para estudos, pois além de estudar, esse tipo de turista busca conhecer os atrativos e as culturas locais.

A finalidade deste artigo é realizar um estudo sobre o turismo de intercâmbio, destacando as características do público, bem como suas motivações e escolhas com relação ao destino. Ainda tem como objetivos específicos: analisar o papel do turismo internacional e sua relação com o turismo de intercâmbio; identificar quais os fatores motivam os estudantes do curso de Turismo da UFF a terem o intercâmbio como experiência; reconhecer como o intercâmbio estudantil pode promover um destino turístico a partir de relatos de alunos intercambistas do curso de Turismo da UFF.

o segmento de turismo de estudos e intercâmbio

O fenômeno do turismo é uma atividade que promove o contato constante entre pessoas, começando pela interação entre os turistas e uma série de prestadores de serviços diretos e indi-retos. Segundo Barretto (1995), o turismo é movimento de pessoas, é um fenômeno que envolve, antes de mais nada, gente. É um ramo das ciências sociais e não das ciências econômicas, e trans-cende a esfera das meras relações da balança comercial.

Milhares de pessoas em todo o mundo se deslocam a todo o momento por uma determinada motivação. Há diversos tipos de turistas, muitas motivações e variados destinos para o turista escolher.

Assim, Cohen, em 1979, cria a seguinte tipologia turística:

O autor subdivide os turistas em “peregrinos modernos” e “buscadores de prazer”. Os peregri-nos modernos procuram uma experiência de vida, mais ligada a valores espirituais e culturais, e ao crescimento pessoal adquirido na viagem, ao passo que os buscadores de prazer privile-giam a evasão do cotidiano e a diversão descompromissada. (apud BARRETTO; BURGOS; FRENKEL, 2003, p. 17)

Em meio à globalização, os consumidores estão cada vez mais informados, visto que há uma série de meios para se manter imteirado. A tecnologia junto à internet é um dos fatores que facilitam a vida dos indivíduos, fazendo com que esses obtenham mais conhecimentos. No turismo isso é muito relevante, já que os consumidores planejam uma viagem a um novo destino e enfrentam o problema de realizar uma compra sem ver o produto. A internet fornece acesso rápido às informa-ções importantes sobre o respectivo destino de interesse do consumidor, com uma maior variedade

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e profundidade do que era possível antes. Assim, as exigências por parte dos clientes aumentaram e fizeram com que as empresas se adequassem aos novos tempos.

Os mercados são compostos por consumidores distintos, que possuem gostos, hábitos, desejos e necessidades das mais variadas possíveis. Com o intuito de atender às necessidades e preferências dos seus clientes, as empresas acabam por segmentar o mercado em diferentes gru-pos. Dentro de cada grupo, há indivíduos com características iguais ou parecidas. Dessa forma, fica mais fácil agradar os gostos particulares de cada consumidor.

Cobra (2005) define segmentação de mercado como:

Uma técnica utilizada para agrupar consumidores com comportamentos de compra seme-lhantes para, a partir daí, realizar esforços concentrados e especializados de marketing sobre esse segmento, ou seja, um segmento de mercado bem definido possibilita a eficácia da aplica-ção dos instrumentos de marketing, otimizando recursos de se observar o mercado para subdi-vidi-lo da maneira mais adequada. ( p. 160)

Os critérios mais frequentes que se utilizam para a segmentação são: critérios geográficos (tamanho da população; tipo de clima); critérios sociodemográficos (idade; sexo; tamanho da família; estado ou situação dentro da família); critérios socioeconômicos (renda disponível; nível cultural e profissional); critérios por motivos de viagem (lazer; negócios; outros); conforme as necessidades do consumidor (motivo da escolha; estilo de vida; atitude frente ao produto; grau de fidelidade à marca).

Há uma gama de segmentos no turismo, como Turismo Rural; Turismo de Lazer; Turismo de Praia; Turismo de Estudos e Intercâmbio; entre outros. A partir destas distintas segmentações, esta pesquisa abordará especificamente, o Turismo de Estudos.

De acordo com publicação do Ministério do Turismo, o turismo de estudos e intercâm-bio é definido da seguinte maneira:

Turismo de Estudos e Intercâmbio constitui-se da movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional. (BRASIL, 2008, p. 15)

As viagens de estudos e intercâmbio ocorrem em todos os países, durante todo o ano, independentemente das características geográficas e climáticas. Esse tipo de segmento é muito relevante, pois o Turismo de Estudos e Intercâmbio pode ser a solução para os períodos de baixa temporada, além de servir como recurso para lugares que não possuem atrativos turísticos signi-ficativos. Ademais, o Turismo de Estudos e Intercâmbio promove o lugar, visto que os próprios estudantes o divulgam em seu país de origem.

O Turismo de Estudos e Intercâmbio pode ser receptivo que é quando um país recebe in-tercambistas estrangeiros, ou emissivo que ocorre quando um país emite estudantes para destinos no exterior. As universidades podem ser exemplificadas como receptivas no Brasil, como a Uni-versidade Federal Fluminense que recebe estudantes estrangeiros a partir de convênios realizados com instituições do exterior. Com relação ao emissivo, tem-se como exemplo o programa Ciência Sem Fronteiras², que tem por intuito promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. Esse programa contempla alunos de graduação e pós-graduação com bolsas a fim de que possam se manter no exterior. Além disso, busca captar pesquisadores estran geiros que desejem permanecer no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasilei

________________________________² Ciência Sem Fronteiras. Disponível em: <http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/home>. Aces-so em: 20 mar. 2014a.

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ros nas áreas priorizadas pelo programa e possibilitar que recebam treinamento especializado no exterior. É importante ressaltar que esse programa é uma iniciativa dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), através das instituições de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC (BRASIL, 2014a).

Segundo pesquisa realizada pela World Youth Student & Educational Travel Confedera-tion, que visa traçar o perfil do turismo juvenil internacional, foi constatado o propósito de viagem desse tipo de turista: 34% desejam explorar outros países e culturas; 28% descansar e se divertir; 17% visitar parentes e amigos; 9% estudar fora; 7% trabalhar fora; 3% voluntariado; 2% curso de línguas. (BRASIL, 2008)

A educação internacional se tornou essencial para as balanças comerciais de alguns países, tais como: Austrália, Estados Unidos³, Nova Zelândia, Reino Unido e Japão. Por isso, as estatísticas apontam que estudantes com ensino médio completo que procuram uma ins-tituição no exterior totalizam 1,5 milhão de pessoas, movimentando US$ 30 bilhões por ano (BRASIL, 2006).

Embora o turismo de estudos e intercâmbio seja representativo no mercado turístico, con-sequentemente na economia, é importante ressaltar que grande parte dos estudantes que realiza esse tipo de viagem depende financeiramente de seus pais e isso faz com que a atividade econô-mica seja “limitada”.

Devido à expansão significativa da educação internacional, o número de instituições de ensino para intercambistas, principalmente para os que desejam cursar um idioma, amplia-se cada vez mais, aumentando as possibilidades de escolha dos estudantes. Assim, pode-se citar a Enforex4

como exemplo de uma instituição voltada especificamente para o estudo do espanhol, a qual possui 24 escolas localizadas na Espanha e na América Latina. Ao longo do ano, a Enforex recebe mais de 35 mil alunos em todas as escolas. Um dos diferenciais da instituição é que o ensino do idioma é atrelado ao turismo, podendo o intercambista estudar em qualquer escola, realizando viagens pela Espanha ou por determinado país da América Latina, aprendendo sobre a cultura do local.

turismo de estudos e intercâmbio no Brasil

No Brasil, o turismo de estudos e intercâmbio encontra-se em fase inicial. Para que esse segmento se desenvolva, deve-se incentivar acordos entre empresas para estágios e trabalho, fir-mando convênios com escolas e universidades. Além disso, o país deve investir em infraestrutura, tanto do local aonde o estudante irá se hospedar quanto da instituição de ensino. Embora o Brasil seja considerado uma nação hospitaleira, há carência de programas capazes de oferecer a estru-tura adequada para continuar o estudo, mesmo fora da programação de aulas, como bibliotecas, salas de informática, entre outros.

O Ministério do Turismo (BRASIL, 2008, p. 31) ressalta que:

A cultura brasileira e a receptividade do seu povo são fatores determinantes para a escolha do país como destino, mesmo para aqueles cuja motivação seja a educação formal. Dessa forma, integrá-lo por meio do aprendizado do idioma e das tradições o fará identificar-se mais rapida-mente e criar vínculos com o País.

________________________________³ Devido ao programa Ciência Sem Fronteiras, o Brasil e os Estados Unidos ampliaram o intercâmbio educacional e científico. O interesse dos Estados Unidos em receber estudantes brasileiros é decorrente do financiamento seguro, já que as bolsas são disponibilizadas pelo governo.4 ENFOREX. Disponível em: <http://www.enforex.com/espanhol/quem-somos.html>. Acesso em: 02 maio 2014.

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Devido à complexidade e a grande quantidade de atividades envolvidas nas viagens edu-cativas, no Brasil podem ser denominadas de diferentes maneiras: Turismo Educacional, Turismo de Intercâmbio ou Turismo Educacional-Científico, Turismo Universitário, Turismo Pedagógico, Turismo Científico e Turismo Estudantil. É válido ressaltar que o termo adotado no trabalho é Turismo de Estudos e Intercâmbio, ainda que haja outras denominações.

De acordo com levantamentos realizados pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2008), no Brasil há mais de 150 instituições públicas e privadas que trabalham com o segmento de Turismo de Estudos e Intercâmbio, tanto na recepção quanto na emissão de intercambistas brasileiros, tais como: agências de intercâmbio, escolas de idiomas, universidades, entre outros intermediários.

O primeiro contato do estudante antes de realizar a viagem e chegar até o destino é com o intermediário, por isso, deve-se verificar a integridade e a seriedade da instituição ou empresa. A fim de transmitir confiança aos intercambistas, criou-se uma associação denominada de Brazilian Educational & Language Travel Association (BELTA), que apresenta um sistema de cadastra-mento e filiação de empresas promotoras de intercâmbios estudantis, além de aderir o Bureau Brasileiro de Intercâmbio. Essa associação define-se no seu estatuto social como uma sociedade civil sem fins lucrativos.

Assim como há a BELTA, há o Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais (FAUBAI) que agrupa gestores/responsáveis por assuntos de educação internacional nos níveis de graduação e pós-graduação. Além do Rotary International Brazil Offi-ce que também é uma associação que visa reunir indivíduos que possuam interesse em participar de ações voluntárias pelo mundo.

A fim de promover o Brasil no exterior, criou-se o Projeto Caravana Brasil5, do Ministé-rio do Turismo, que possui o padrão de uma viagem de familiarização para conhecer e entrar em contato com os agentes e instituições do turismo local, por meio de encontros de negócios. Além de apresentar aos diversos operadores de turismo internacional os variados destinos turísticos bra-sileiros em uma única viagem, já que o país possui uma grande extensão territorial diversificada, capaz de oferecer produtos em diversos segmentos. Assim, o objetivo do projeto é ampliar a gama de produtos brasileiros oferecidos internacionalmente (BRASIL, 2014b).

Além do Projeto Caravana Brasil, o país apresenta o Bureau Brasileiro de Intercâmbio que visa organizar e consolidar o segmento de intercâmbio receptivo. O bureau foi criado como uma parceria entre o Ministério do Turismo e a Associação Brasileira de Operadores e Represen-tantes de Programas Educacionais e Cursos no Exterior, como também, universidades brasileiras, instituições de ensino internacionais, companhias aéreas e empresas de serviços em geral. Esse projeto tem como objetivo divulgar o produto brasileiro “turismo educacional receptivo”. Há di-versos bureaux, além de intercâmbio, tais como: bureaux de resorts, pesca esportiva, turismo de golfe, ecoturismo, aventura e mergulho.

o intercambista como Consumidor

O cliente intercambista é diferenciado, pois a compra do “produto intercâmbio” parte de de-sejos e necessidades que determinam o que o indivíduo procura e a maneira como deseja ser tratado pelo prestador de serviço, além disso, suas escolhas são bem estudadas e planejadas. A partir das necessidades e desejos do intercambista, criam-se expectativas no que diz respeito à sua viagem.

Baseando-se nas necessidades e desejos desenvolvidos pelo intercambista, deve-se levar em consideração a importância da qualidade do serviço prestado, uma vez que os clientes podem ficar satisfeitos ou não conforme suas expectativas.________________________________5 Caravana Brasil Internacional. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/Promover_os_produtos_turisticos/caravana_intl.html>. Acesso em: 03 abr. 2014b.

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Albrecht (1992) ressalta que a qualidade em serviços pode ser entendida como a capaci-dade que uma experiência ou qualquer outro fator tenha para satisfazer uma necessidade, resolver um problema ou fornecer benefícios a alguém. À medida que as empresas buscam a excelência nos serviços, os resultados tendem a igualar ou superar as expectativas e com isso, haverá satis-fação. Caso contrário, haverá insatisfação e consequentemente, o turista fará o marketing do boca a boca negativo, induzindo diversas pessoas a não frequentarem determinado estabelecimento ou até mesmo, certo destino. Assim, nota-se a importância da conquista da qualidade nos serviços, visto que propicia a satisfação do cliente que consequentemente, irá repercutir por meio de con-versas entre as pessoas.

A comunicação boca a boca, que também pode ser denominada como viral, de relaciona-mento, pessoal, é um dos componentes fundamentais para o desenvolvimento do marketing. Esse tipo de marketing faz com que informações positivas ou negativas com relação à experiência obti-da em determinado destino turístico se disseminem através de conversas que se dão entre amigos, familiares e conhecidos. O marketing de relacionamento pode tanto despertar quanto acabar com o interesse do indivíduo em visitar um destino, uma vez que esse tipo de comunicação possui forte influência no momento da tomada de decisão.

Com o avanço das tecnologias e o uso constante de aparelhos tipo smartphones, o marke-ting viral se expande rapidamente como uma espécie de vírus, por meio da troca de informações e opiniões em sites, redes sociais e aplicativos que possibilitam esse tipo de comunicação, por isso, foi criada essa nova denominação para o marketing boca a boca. Assim, através da internet é possível que o indivíduo não só veja as opiniões dos outros, como também, faça o seu julgamento.

Nota-se a influência dos meios de comunicação perante a percepção do consumidor com relação à imagem criada de um destino turístico. Além do marketing viral, a mídia também possui poder de persuasão sobre a opinião dos turistas. A mídia tem como função criar imagem, gerando impacto sobre o turismo.

Segundo Král (2009), os meios de comunicação desempenham um papel fundamental para influenciar e modificar a percepção de um país, uma vez que combinam diversos fatores que tornam a mensagem de confiança aos consumidores. Tanto a mídia quanto a imprensa servem como intermediários na divulgação de informações.

Em contrapartida, Fodness e Murray (1997 apud HALL, 2003), afirmam que os meios de comunicação não só influenciam a opinião pública, como também podem informar aos consumi-dores a respeito da imagem do destino, do transporte, da segurança, entre outros aspectos. Além do fato da mídia poder fazer com que os clientes leiam, ouçam ou assistam as informações, ou até mesmo, as adquira por meio de conselhos dados por parentes e amigos através de conversas.

A imagem do destino turístico é um dos aspectos determinantes no processo de tomada de decisão e por isso, os meios de comunicação divulgam informações sobre o local como uma forma estratégica de marketing. Moraga, Artigas e Irigoyen (2012) afirmam que a imagem dos destinos turísticos passou a ser utilizada como uma importante ferramenta para estabelecer as estratégias de marketing e medir seus efeitos no processo de eleição das pessoas. De acordo com Crompton (1979 apud NEBRA; TORRES, 2010), a imagem pode ser compreendida como a soma de crenças, ideias e impressões que uma pessoa possui de um destino e pode corresponder em variação ao número de sujeitos perguntados.

Em síntese, os intercâmbios estudantis contribuem para o aquecimento da economia lo-cal, por meio do consumo de variados serviços e produtos, como também colaboram para a divul-gação da imagem do destino. E à medida que os serviços do destino forem prestados com mais

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qualidade, melhor será a percepção dos consumidores com relação à imagem do destino, já que as experiências vão sendo compartilhadas através da mídia e principalmente, da comunicação viral.

Metodologia

O estudo é de caráter exploratório. Para Vieira (2002) a pesquisa exploratória tem como intuito proporcionar ao pesquisador uma maior familiaridade com o problema em estudo.

A coleta de dados do trabalho foi dividida em duas etapas, sendo a primeira qualitativa e a segunda quantitativa. Inicialmente, a coleta de informações se deu por meio de um grupo focal, no qual houve a participação de quatro estudantes do curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense.

Com o intuito de facilitar a obtenção de dados, as perguntas foram organizadas em cinco Blocos: Bloco 1 – Motivação (Motivo pelo qual decidiu fazer um intercâmbio?); Bloco 2 – Planejamento (Quais os fatores influenciaram na escolha do destino do intercâmbio?); Bloco 3 – Financeiro (O valor gasto foi esperado? E foi compensatório?); Bloco 4 – Relevância do intercâmbio (Qual a relevância do intercâmbio na contem-poraneidade?); Bloco 5 – Aspectos positivos e negativos do intercâmbio (Questão aberta para as opiniões das participantes). Além dessas perguntas foram acrescentadas duas complementares: “O inter-câmbio é um privilégio do curso de turismo?” e “Como o intercâmbio estudantil pode promover um destino turístico?”.

O grupo focal foi realizado no mês de outubro de 2013. Durante a entrevista realizada fez-se uma gravação em áudio de todas as declarações dadas a fim de conseguir realizar uma transcrição fidedigna da discussão, auxiliando assim o desenho do questionário.

A segunda etapa da pesquisa ocorreu através da aplicação de questionários online. Utili-zou-se o programa Qualtrics para distribuir o questionário por meio de um link, como também, para obter a tabulação dos resultados.

Como forma de conseguir a maior quantidade possível de respondentes, divulgou-se o link do questionário através da rede social Facebook, além de disponibilizá-lo via e-mail para alguns estudantes. Outra forma de obter a adesão de mais intercambistas do curso de Turismo da UFF foi perguntar em salas de aula se havia alguém que teria realizado intercâmbio, caso houvesse, o Facebook e/ou e-mail eram registrados e o estudante informado onde estaria dispo-nível o link do questionário.

Visão dos intercambistas

Grupo Focal

As entrevistadas do grupo focal são identificadas como:

“Participante 1”, “Participante 2”, “Participante 3” e “Participante 4”.

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O perfil das participantes pode ser observado na figura 1.

Figura 1 – Perfil das Estudantes Entrevistadas Fonte: Elaboração própria

Como se pode depreender, a idade das participantes situa-se entre 21 e 22 anos, o período de estudos é predominantemente o penúltimo período do curso, o local de intercâmbio são os Estados Unidos e a Inglaterra, a duração é variada desde um mês até dez meses.

A discussão no grupo focal organizou-se por meio de temas, divididos em blocos. No Bloco 1,com o tema Motivação, a pergunta norteadora foi “O motivo pelo qual decidiu fazer um intercâmbio?”. As participantes apontaram opiniões distintas, embora com algumas semelhanças. Duas participantes disseram que sua real motivação foi conhecer o destino, uma porque se iden-tifica com paisagens e contato com a natureza, então, seu sonho era conhecer o Hawai. Já a outra possuía um desejo imenso em conhecer Londres, pela cultura do lugar. A outra estudante declarou que como tinha 15 anos e era muito nova, não tinha noção da importância de um intercâmbio, por isso, sua mãe a influenciou.

Embora todas tenham comentado sobre a importância de estudar a língua inglesa e viven-ciar uma nova experiência, apenas uma das entrevistadas enfatizou que sua verdadeira motivação foi estudar o inglês, já que seria a oportunidade de estar em um lugar em que todos falam essa língua, facilitando seu aprendizado.

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O Bloco 2 referiu-se ao Planejamento da viagem, o qual teve a seguinte pergunta: “Quais fatores influenciaram na escolha do destino do intercâmbio?”. Para uma das entrevistadas, o di-nheiro foi a maior influência na escolha do destino, pois para o tempo que ela permaneceu nos Estados Unidos a parte financeira foi crucial na decisão. Duas participantes apontaram a cultura e a paisagem do lugar como influência na escolha do destino, embora uma delas tenha enfocado que o fato de ter um amigo em Londres também influenciou na sua escolha. A outra estudante apontou o custo da viagem como maior influencia na escolha do destino. E a outra participante declarou que sua maior influência adveio de sua amiga, que havia escolhido Londres e por isso, ela a acom-panhou, pois se fosse por questões de custo escolheria outro destino, como por exemplo, Canadá. Segundo Lohmann e Panosso Netto (2012), há dois tipos de fatores, os determinantes e os motivadores que podem explicar a compra ou não de um determinado produto turístico. Com base no que foi dito anteriormente pelas participantes, percebe-se que as escolhas dos seus respectivos destinos se deram por causa dos fatores determinantes.

Os fatores determinantes podem se referir tanto aos facilitadores quanto às resistências que o turista encontra no momento de viajar. Esses fatores podem ser divididos em: caráter exter-no ao turista, como opiniões de amigos, marketing turístico, mídia, fatores políticos, entre outros; âmbito pessoal, como renda, saúde, compromissos familiares e profissionais, conhecimento dos destinos turísticos, entre outros (LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2012). Com isso, nota-se que duas participantes se encaixam nos fatores de caráter externo ao turista, enquanto que as outras duas entrevistadas se identificam com os fatores de âmbito pessoal. É importante ressaltar que os fornecedores se utilizam do preço como forma de influenciar os fatores determinantes.

Cho (2000) aponta cinco principais atratividades apresentadas por um destino turís-tico, as quais são: atrações turísticas – naturais (cenários, clima, praias), construídas (lugares históricos, parques de diversão), culturais (museus, galerias de arte) e sociais (encontros com os habitantes locais); conveniências – infraestrutura básica, meios de hospedagem, transportes, serviços de alimentos e bebidas, entretenimento, entre outros; acessibilidade – facilidade de acesso que os turistas possuem para chegar aos destinos e se locomover dentro deles; imagem – ideias e impressões que os turistas possuem sobre um determinado destino, sendo um ponto relevante do marketing turístico; preço – varia em função do tipo e da classe do serviço (meios de hospedagem, transporte, atividades), da sazonalidade (particularmente resorts costeiros e áreas recreacionais) e da distância do destino.

No Bloco 3, abordou-se o Aspecto Financeiro, com duas perguntas norteadoras: “O valor gasto foi o esperado?” e “O valor pago para realizar o intercâmbio foi compensatório?”. Todas as participantes, com exceção de uma, afirmaram ter gasto além do esperado. Elas declararam que esses gastos foram com coisas “futéis”, ou seja, coisas que vão além dos gastos básicos de um intercâmbio, como roupas, passeios de bicicleta, entre outras. No entanto, uma das participantes afirma ter mantido o controle durante a viagem, pois gastou somente o necessário e o que real-mente esperava, até porque se sentiu bem com o que foi gasto. Duas participantes ajudaram seus pais nos custos da viagem com uma quantia simbólica, já para as outras duas estudantes, por não estarem trabalhando ou terem trabalhado, seus pais arcaram com todos os custos do intercâmbio.

Todas as participantes afirmaram que a experiência de realizar o intercâmbio foi muito válida, independentemente dos gastos com a viagem. Embora uma das entrevistadas tenha pon-tuado que achou a viagem muito cara, pois talvez, ela poderia ter ficado em outro lugar por mais tempo pelo mesmo valor que foi gasto em Londres ou pelo mesmo tempo, mas com custo inferior.

Apesar do Turismo de Estudos e Intercâmbio visar à aprendizagem e às vivências que pos-sibilitem a qualificação, os turistas que se deslocam para outro destino a fim de estudar, aproveitam para praticar o turismo. Por isso, como se observa nos relatos das entrevistadas, com exceção da participante 1, os intercambistas acabam gastando além do que foi planejado, já que determinados gastos extras, como compra com roupas, não fazem parte do planejamento da viagem.

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Um dos pontos positivos do Turismo de Estudos e Intercâmbio é justamente esse aqueci-mento da economia causado por este segmento, já que milhares de intercambistas escolhem um determinado destino e consomem produtos e serviços diversificados.

A viagem de um indivíduo é planejada com todo cuidado e de forma minuciosa, pois a esco-lha de um determinado destino turístico, desperta expectativas relacionadas aos seus sonhos, desejos e necessidades. Por exemplo, se um indivíduo escolhe Paris para viajar, provavelmente estará almejando conhecer um atrativo famoso, como o rio Sena, belos monumentos, a cultura local, entre outros. E essa expectativa pode ser ampliada a ponto do indivíduo se esforçar para poder custear a viagem.

Como os serviços turísticos são constituídos por diversos processos que são vivenciados de forma intangível, a preocupação com a qualidade no momento da prestação dos serviços deve ser ainda mais cautelosa, pois como o turista foi atraído pela promessa de satisfação e cheio de expecta-tivas os serviços devem ser oferecidos com qualidade total. Por isso, Petrocchi (2004, p. 62) afirma: “É um confronto entre as promessas de satisfação e a realidade vivenciada. Ao interagir com os atrativos turísticos e os serviços de apoio, cada turista se transforma em um inspetor de qualidade”.

O Bloco 4 teve como tema a Relevância do Intercâmbio, cuja pergunta norteadora foi “Qual a relevância do intercâmbio na contemporaneidade?” com a questão complementar “O intercâmbio é um privilégio do curso de turismo?”. Uma das entrevistadas considera o inter-câmbio como uma experiência muito boa para sua carreira profissional, ela também afirma que, um dos motivos por ter se interessado pelo turismo foi devido ao intercâmbio. Para a outra par-ticipante, o intercâmbio é bom para o convívio social, além de considerar como fundamental, a troca de experiência com outras culturas, outras leis e regras, em um lugar, clima e educação completamente distintos do habitual. Diferentemente dos pontos que foram levantados pelas demais, as outras duas estudantes acreditam que o intercâmbio faz com que o indivíduo cresça tanto espiritualmente quanto como profissionalmente e como pessoa. No entanto, declararam que hoje o intercâmbio não é mais um diferencial, pois estudar uma língua em outro país já se tornou algo bem comum. Assim, creem que uma pessoa não deixaria de ser contratada por uma empresa, por exemplo, pelo simples fato de não ter vivência internacional, pois o que conta é se o indivíduo sabe se comunicar em outra língua e/ou possui especializações que fazem com que o candidato à vaga se destaque perante os seus concorrentes.

Com relação ao intercâmbio ser um privilégio do turismo, todas as participantes acreditam que o intercâmbio não é um privilégio do curso de turismo, no entanto, abordam pontos distintos. Para uma das entrevistadas, o intercâmbio é interessante para as pessoas que trabalham com tu-rismo, pois dependendo da área, esses profissionais podem trocar experiências com seus colegas de trabalho ou conversar com os próprios clientes, além de poder opinar sobre os equipamentos e serviços do turismo, como por exemplo, aeroportos. A outra participante afirma que, atualmente, o jovem “quer ir embora”, ou seja, quer conhecer outras culturas, pessoas, países, visto que essa é uma característica da Geração Y e não exclusivamente dos estudantes de turismo, ainda que os futuros turismólogos possuam uma curiosidade maior de sair do país. Na concepção de outra participante, na área do turismo, o intercâmbio se tornou banal, por conta da facilidade de realizar uma viagem e da exigência do mercado, sendo assim, ela declara: “...exigem isso como se fosse a sua alfabetização”. Para a outra participante, o fato de estudar na área do turismo faz com que a influência sobre os estudantes seja maior, no entanto, o intercâmbio não é exclusivo do turismo, até porque, existem vários programas do governo que incentivam a fazer essas viagens para o exterior.

O Bloco 5 refere-se aos pontos positivos e negativos do intercâmbio, os quais foram citados pelas participantes de forma aleatória, começando pelos aspectos positivos. De início, foram citados alguns pontos, tais como: independência, maturidade, vivência, experiências, trocas, possibilidade de conhecer novas culturas e pessoas, aproveitar o lugar, passar a ter a “cabeça mais aberta” para uma visão de mundo diferente. Uma das participantes comenta que o fato do intercâmbio “abrir a mente das pessoas” faz com que no momento da viagem os intercambistas tenham maior facilidade em se apegar aos outros que estão na mesma situação, se entregando às novas amizades. Isso se dá pelos

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próprios intercambistas permanecerem sem a presença dos seus familiares e amigos, ainda que seja por um pequeno período.

Após citarem de forma aleatória alguns aspectos sobre o intercâmbio, as participantes declararam quais foram os pontos positivos e negativos para suas respectivas experiências. Para uma das entrevistadas, com o intercâmbio percebeu que aprendeu muito sobre gastos, além de passar a dar mais valor para a família devido à saudade. No entanto, sentiu muita falta do calor humano, pois como sofreu a perda de um membro da família enquanto estava em intercâmbio, não recebeu nenhum abraço, mas atribui isto às diferenças culturais. A outra participante afirma que os problemas são bem menores que a experiência do intercâmbio, então, só se fosse uma tragédia muito grave para conseguir atrapalhar e fazer com que a experiência deixasse de ser po-sitiva. O principal aspecto negativo para ela foram os gastos, pois seus pais se “apertaram” para que ela conseguisse fazer a viagem. Para outra entrevistada, o intercâmbio é maravilhoso, sendo que o único ponto negativo apresentado por ela é o fato de muitos brasileiros se juntarem durante o intercâmbio, fazendo com que não consigam praticar o inglês. A outra participante declarou ter voltado com uma experiência muito boa e positiva. No entanto, queria ter tido mais contato com a cultura local, pois convivia mais com indianos e asiáticos, não imaginando que seria como foi.

A partir do que foi abordado pelas entrevistadas, nota-se que há poucos pontos negativos, já que, de forma geral, todos os acontecimentos que ocorrerem durante a viagem fazem parte de uma história. Em diversos momentos da entrevista foi apontado que o fato do intercambista retor-nar de sua viagem com a “cabeça mais aberta” e com “outra visão de mundo”, ou seja, percebe-se que o intercâmbio faz com que o estudante adquira um olhar mais crítico com relação ao que já conhecia e o que passou a conhecer, como também, tornar-se mais “maduro”, a ponto de reconhe-cer a importância de seus familiares e dos investimentos realizados por seus pais.

Ao final do grupo focal, fez-se a seguinte pergunta: “Em sua opinião, como o intercâmbio pode promover um destino turístico?”. Com essa pergunta, pôde-se analisar a opinião de futuras tu-rismólogas que puderam avaliar as contribuições do intercâmbio para a indústria do turismo. A partir disso, as entrevistadas afirmaram que, através do intercâmbio, o estudante é obrigado a escolher um destino para estudar que, consequentemente, acaba por aumentar o fluxo turístico de um local. Pesquisa survey

A partir da distribuição do link do questionário na rede social do Facebook e no email de alguns alunos do curso de Turismo da UFF, conseguiu-se obter de forma mais ampla o perfil de uma parcela de intercambistas, as motivações e os fatores que influenciaram na escolha de um destino.

Os intercambistas que responderam ao questionário correspondem ao total de 105 estudantes, no entanto, apenas 56 respostas foram finalizadas, já que alguns não responde-ram até o fim e outros não passaram pelos filtros. No questionário havia duas perguntas que filtravam o público considerado apto a responder, o primeiro selecionava os estudantes que estão estudando ou já estudaram no curso de Turismo da UFF, desses 84,7% disseram que sim, enquanto 15,3% responderam que não. Já o segundo filtro questionava se o respondente já havia feito algum tipo de intercâmbio, 77,8% afirmaram que sim e 22,2% disseram que não. Com os filtros pôde-se selecionar o público-alvo da pesquisa.

intercambistas Brasileiros

Segundo resultados da tabulação, pôde-se verificar que o número de mulheres que fazem intercâmbio é superior a quantidade de homens, pois 75% do público de intercambistas é do gênero feminino, enquanto que, apenas 25% é do gênero masculino. Com relação à faixa etária, 48,2% dos intercambistas possuem de 22 a 24 anos; 25,0% de 19 a 21 anos; 21,4% de 25 a 27 anos; 3,6% de 16 a 18 anos; e apenas 1,8%, representado por um único respondente, está acima de 27 anos.

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No que diz respeito ao estado civil dos intercambistas, tem-se que 96,4% dos entrevis-tados são solteiros, enquanto que apenas 1,8% é viúvo; 1,8% casado e nenhum divorciado. A situação profissional dos entrevistados aponta que 46,4% apenas estudam; 39,3% trabalham e estudam; 12,5 apenas trabalham; e apenas um indivíduo, equivalente a 1,8% da pesquisa, mar-cou a opção ‘Outra’, no entanto, não a especificou. Assim, pode-se analisar que o fato da maio-ria dos intercambistas estar solteiras e estudando, faz com que com eles sejam impulsionados a realizar um intercâmbio, pois estão em uma fase em que o nível de responsabilidades é mínimo, sendo esse um facilitador.

A situação profissional dos intercambistas aponta que 46% apenas estudam; 39% traba-lham e estudam; 13% apenas trabalham; e apenas um indivíduo, equivalente a 2% da pesquisa, marcou a opção ‘Outras’, sem especificá-la. Assim, pode-se analisar que o fato da maioria dos intercambistas estar solteira e apenas estudando, faz com que esses estudantes sejam impulsio-nados a realizarem um intercâmbio, pois estão em uma fase com menos obrigações familiares e profissionais, sendo isso um facilitador. Além disso, o ambiente universitário também pode ser um fator tendencioso no que diz respeito ao estímulo de realizar o intercâmbio, já que se convive com outros estudantes que passaram pela experiência.

Com relação à renda familiar mensal, os respondentes se distribuíram do seguinte modo (Figura 2)

Figura 2: Renda familiar mensal dos intercambistas brasileiros.Fonte: Elaboração própria.

De acordo com a faixa de renda familiar das classes da Fundação Getúlio Vargas (FGV)6, percebe-se na Figura 5 que a maioria dos respondentes, representada por 50%, situa-se na classe C (de R$1.734,00 a R$7.475,00). A renda familiar dos outros respondentes apresenta a seguinte situação: 21,4% situam-se na classe B (de R$ 7.475,00 a R$ 9.745,00); 21,4% na classe A (acima de R$ 9.745,00); 3,6% na classe D (de R$1.085,00 a R$ 1.734,00); 3,6% na classe E (até R$ 1.085,00).

Com esses resultados, subentende-se que como a classe média é a que está adquirindo cada vez mais poder de compra, os estudantes que pertencem a essa faixa de renda passam a consumir mais, consequentemente, podem realizar mais intercâmbios. Também deve-se levar em consideração que as facilidades de pagamento, através de parcelamentos em cartões de crédito, por exemplo, servem como alavancas para que os indivíduos viajem cada vez mais, seja para estudar, fazer negócios, descansar, entre outras motivações. É válido ressaltar que

________________________________6 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Políticas Sociais. Disponível em: <http://cps.fgv.br/en/node/3999>. Acesso em: 08 de nov. de 2013.

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no questionário elaborado para os intercambistas estrangeiros, não há essa questão referente à renda familiar mensal, devido à existência de diferentes moedas e câmbios para cada país. No que diz respeito aos fatores que influenciaram na decisão de realizar um intercâmbio, os estudantes brasileiros se dividiram como apresentado na figura 3:

Figura 3: Fatores que influenciaram os intercambistas brasileiros na decisão de realizar um intercâmbio.Fonte: Elaboração própria.

A partir da Figura 3, nota-se que estudar um idioma é considerado como um fator ‘muito importante’ na decisão de realizar um intercâmbio, sendo representado por 78,6%. O quesito considerado como ‘importante’ pelos intercambistas é visitar o destino, eleito com 80,4%. No entanto, o aspecto considerado como ‘menos importante’ é cursar o ensino básico ou médio, re-presentado por 83,9%.

De acordo com os fatores mais e menos importante para os intercambistas, nota-se que estudar um idioma é o fator mais relevante no momento da decisão de fazer um intercâmbio. Além disso, percebe-se que os estudantes, no geral, não priorizam tanto os estudos escolares ou universitários, como uma graduação no exterior, quanto o estudo de um idioma.

No que se refere aos fatores que influenciaram na escolha do destino, os intercambistas brasileiros se distribuíram do seguinte modo (figura 4):

Figura 4: Fatores que influenciaram os intercambistas brasileiros na escolha do destino.Fonte: Elaboração própria.

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Com relação aos fatores que influenciam na escolha do destino, percebe-se na Figura 4 que as respostas foram diversificadas, fazendo com que as porcentagens ficassem bastante equi-libradas. Com 80,4%, a paisagem e a cultura do lugar foram julgadas como o quesito de ‘maior influência’ na escolha do destino e com 44,6%, os filmes, a TV, o rádio, os jornais, as revistas e a internet foram eleitos como o fator de ‘média influência’. No entanto, os agentes de viagem foram escolhidos como os que ‘menos influenciam’, representados por 71,4%, talvez a influência desses profissionais seja menor devido o fato dos estudantes analisados já serem da área de Turismo.

A partir dos resultados, percebe-se que embora a paisagem e a cultura do lugar tenham sido selecionadas como os quesitos de maior influência, os meios de comunicação, como TV, rádio e internet, também possuem grande representatividade no momento da escolha do destino, já que uma das formas de se obter conhecimento sobre um local ainda desconhecido é por meio da mídia. É válido ressaltar que a mídia divulga informações, como também dita tendências e modismos, visto que os conteúdos veiculados são pautados nas belezas das paisagens e na cultura. Além disso, influências de familiares e/ou conhecidos também podem despertar interesse por um destino.

Com os resultados da pesquisa, tem-se que 51,8% dos intercambistas brasileiros viajaram para o continente europeu; 41% para o americano; 3,6% para o africano; 1,8% para o asiático (representado por um intercambista); 1,8% para o oceânico (eleito por um respondente). E com relação ao tempo de duração do intercâmbio, 35,7% permaneceram no destino de 1 a 3 meses; 30,3% de 4 a 7 meses; 16,1% de 1 a 3 meses; 14,3% de 8 a 12 meses e 3,6% acima de um ano. É válido ressaltar que não se questionou aos estudantes estrangeiros em qual continente realizaram intercâmbio, já que se sabe que os respondentes internacionais estudaram na UFF.

A partir das respostas dos respondentes, nota-se que o continente escolhido e a duração da viagem se dão por dois fatores: o desejo de conhecer o destino; e os custos da viagem. Com isso, grande parte dos intercambistas optou pelo continente europeu e pelo americano, pois como os países desses continentes recebem um grande fluxo de intercambistas, a quantidade de ofertas é maior, consequentemente, a concorrência aumenta e assim, os preços tendem a baratear. Com uma variedade de opções, a possibilidade por escolhas aumenta, como ocorre com a quantidade de escolas para intercambistas, meios de hospedagem, entre outros. Além disso, quanto mais tempo o indivíduo permanece no local, maiores serão os gastos, e por isso, os respondentes per-maneceram, em média, de 1 a 7 meses no destino.

No que diz a respeito à forma de financiamento do intercâmbio, 89% responderam ter sido financiamento pessoal, ou seja, economia familiar ou própria, e 11% afirmaram ter sido subvencionado pelo governo, por meio de bolsas de estudo, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), entre outros.

Com relação ao gasto médio do intercâmbio, os estudantes brasileiros se dividiram, como apontado na figura 5:

Figura 5: Gasto médio do intercâmbio dos estudantes brasileiros.Fonte: Elaboração própria.

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De acordo com a Figura 5, percebe-se que a maioria dos intercambistas, representada por 26,8%, afirmou ter gasto durante o intercâmbio uma faixa média de R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00, en-quanto apenas 1,8%, representado por um intercambista, respondeu ter gasto menos de R$ 1.000,00. A partir desses resultados, percebe-se que o gasto médio que se tem no intercâmbio, equivale apro-ximadamente à renda média familiar mensal.

No que se refere ao grau de relevância do intercâmbio para a vida do estudante, os intercam-bistas brasileiros se dividiram conforme apresentado na figura 6:

Figura 6: Grau de relevância do intercâmbio para a vida dos estudantes brasileiros. Fonte: Elaboração própria

A partir da Figura 6, percebe-se que os estudantes consideram o intercâmbio como bas-tante importante para as suas respectivas vidas, pois mais da metade dos respondentes, represen-tada por 60,7%, atribuiu 10 para o grau de relevância.

Em contrapartida, nenhum estudante considerou o intercâmbio como grau zero de rele-vância. Assim, nota-se a satisfação dos estudantes em ter realizado uma viagem de intercâmbio.

Com relação à nota dada para a escola ou universidade onde o respondente estudou, os intercambistas brasileiros se distribuíram (figura 7).

Figura 7: Notas dadas para as escolas ou universidades onde os intercambistas brasileiros estudaram. Fonte: Elaboração própria.

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A Figura 8 elenca os fatores que, segundo os intercambistas estrangeiros, exerceram influência em sua decisão a respeito do intercâmbio.

Figura 8: Fatores que influenciaram os intercambistas estrangeiros na decisão de realizar intercâmbio.Fonte: Elaboração própria.

De acordo com a Figura 8, tem-se que o fator ‘mais importante’ no momento da decisão de realizar um intercâmbio é estudar um idioma, eleito pelos intercambistas com 78,6%. O quesito considerado como ‘importante’ pelos estudantes é fazer uma viagem de intercâmbio para trabalhar, com 50% das opções. Em contrapartida, cursar pós-graduação é visto como ‘pouco importante’ pelos intercam-bistas, representado por 50%. Assim, percebe-se que se valoriza mais estudar um idioma do que realizar uma graduação ou uma especialização fora do seu país de origem. No que se refere aos fatores que influenciaram na escolha do destino, as respostas dos intercambistas estrangeiros se distribuíram, como indicado na figura 9.

Figura 9: Fatores que influenciaram os intercambistas estrangeiros na escolha do destino.Fonte: Elaboração própria.

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Segundo a Figura 9, os fatores de ‘maior influência’ no momento da escolha do des-tino são a paisagem e a cultura do lugar, representado por 64,3%. Já com relação ao aspecto considerado como ‘pouco influente’ houve empate entre a qualidade da escola ou universida-de, o custo da viagem, os professores, os filmes, TV, rádio, jornais, revistas e internet, todos eleitos pelos intercambistas com 57,1%. No entanto, os agentes de viagem ‘não influenciam’ no momento de eleger o local do intercâmbio, representado por 57,1%. Nota-se que houve um equilíbrio entre os fatores de média influência, visto que dos oito itens presentes nessa questão, a metade foi votada igualmente.

Concernente ao tempo de duração da viagem de intercâmbio, 50% permanecem de 8 a 12 meses no destino; 28,6% de 4 a 7 meses; 21,4% acima de 1 ano. A metade dos intercambistas es-trangeiros permanece de 8 a 12 meses no destino, devido ao fato desses estudantes terem que ficar por um prazo de seis meses ou um ano no local determinado, embora haja exceções, a regra para o intercâmbio realizado entre o curso de Turismo da UFF e outras universidades do exterior é esta.

Com relação ao custeamento do intercâmbio7 , 71% dos intercambistas declaram ter sido por meio de financiamento pessoal, ou seja, economia familiar ou própria, e 29% subvencionados pelo governo, via bolsas de estudos, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior (CAPES), entre outros.

No que diz respeito ao gasto médio do intercâmbio, os estudantes estrangeiros se dividi-ram, como apresentado na figura 10:

Figura 10: Gasto médio do intercâmbio dos estudantes estrangeiros.Fonte: Elaboração própria.

Baseando-se na Figura 10, é possível perceber que a maioria dos intercambistas, repre-sentada por 28,6%, teve o gasto médio de menos de R$ 1.000,00. Normalmente, pode-se supor que os gastos em uma viagem de intercâmbio são maiores do que apontam os resultados dessa pesquisa, no entanto, talvez isso se dê pelo fato dos intercambistas estrangeiros terem estudado na UFF por meio de convênios entre universidades, assim, alguns alunos conseguiram bolsas, e por isso, os custos seriam menores.

________________________________7 Não ficou evidente na pesquisa se o custeio do intercâmbio foi feito integralmente pelo intercambista (economia familiar ou própria) ou se apenas parte desse gasto tem origem pessoal, com o restante subven-cionado por outras fontes.

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No que se refere ao grau de relevância do intercâmbio para a vida do estudante, os inter-cambistas estrangeiros se posicionaram conforme figura 11.

Figura 11: Grau de relevância do intercâmbio para a vida dos estudantes estrangeiros.Fonte: Elaboração própria.

De acordo com a Figura 11, mais da metade dos intercambistas, 57,1% afirmam que o grau de relevância do intercâmbio para suas respectivas vidas é 10. Assim, nota-se o quanto a viagem de intercâmbio possui representatividade para os estudantes, obtendo alto nível de satisfação, visto que do grau 0 ao 5, não há votação de nenhum intercambista.

Com relação à nota dada para a universidade onde o estudante estudou, os intercambistas estrangeiros se distribuíram, como mostra a figura 12:

Figura 12: Notas dadas para a universidade onde os intercambistas estrangeiros estudaram.Fonte: Elaboração própria.

Como pode ser visto na Figura 12, as notas dadas pelos intercambistas para a UFF fo-ram altas, a maior parte dos respondentes, representada por 42,9%, atribuiu nota 8. No entanto, nenhum estudante atribuiu nota de 0 a 5, consideradas como notas baixas. Com isso, percebe-se que o grau de satisfação com o ensino foi bom, quando comparado ao grau de relevância do inter-câmbio para a vida do aluno, que foi considerado como ótimo pela maioria que deu nota 10.

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No que diz respeito ao principal meio que os intercambistas utilizaram para divulgar o destino visitado, antes e durante a viagem, 50% dos estudantes divulgaram o local por meio de conversas com amigos, parentes, entre outros; 42,3% através de redes sociais; 7,1%, representado por um respondente, foi por meio de blogs. No que se refere aos meios de hospedagem utilizados pelos intercambistas, tem-se que 64% residiram em apartamento; 22% em casa; 14% marcaram a opção ‘Outros’ e especificaram terem se hospedado em kitnet ou conjugado e pensionato. A partir da aplicação dos questionários e da realização do grupo focal, pode-se fazer uma aná-lise comparativa entre os resultados obtidos em ambos. Assim, com relação ao perfil do intercambista, nota-se que tanto nos questionários quanto no grupo focal verifica-se que a maioria dos intercambistas é do sexo feminino. Com relação à faixa etária, percebe-se que nos questionários a idade predomi-nante varia entre 22 e 24 anos, já no grupo focal, das quatro participantes, duas possuíam 21 anos, enquanto as outras duas possuíam 22 anos. O estado civil predominante se confirma tanto na pesquisa quantitativa quanto na qualitativa, já que grande parte dos intercambistas se apresenta como solteiros.

No que diz respeito à situação profissional dos intercambistas, percebe-se que a maioria dos respondentes dos questionários e das participantes do grupo de foco, afirma que apenas estu-da. É válido ressaltar que das quatro entrevistadas do grupo focal, apenas uma possuía emprego fixo, uma vez que duas estavam apenas fazendo estágio e a outra apenas estudando, pois já havia terminado seu período de estágio. Com isso, confirma-se a ideia de que quanto menos obrigações familiares e profissionais o indivíduo tiver, maiores serão as possibilidades de realizar um inter-câmbio, como é o caso da maioria dos intercambistas que são solteiros e apenas estudam.

Segundo Petrocchi (2004), para que um indivíduo se desloque do seu local habitual para outro desconhecido por um determinado tempo, é necessário que haja uma motivação para que isso ocorra. As motivações são diversas: lazer, negócios, tratamento de saúde, religião etc. Geral-mente, a principal motivação é o lazer, visto que as condições que motivam o deslocamento são os atrativos turísticos que só possuem valor quando são devidamente estruturados como produtos e adequadamente promovidos e comercializados.

Baseado nas motivações que cada indivíduo possui, é possível perceber que a principal mo-tivação apresentada pelos respondentes dos questionários para realizar um intercâmbio foi estudar um idioma. Diferentemente dos resultados apresentados pelos intercambistas que responderam os questionários, duas participantes do grupo focal afirmaram que o fator principal para a realização do intercâmbio foi o destino, enquanto que apenas uma foi motivada para cursar um idioma e a outra para o concluir o ensino médio, aproveitando para também estudar inglês. A partir do que foi dito e expressado pelas participantes do grupo focal, pode-se supor que para as duas que afirmaram que a principal motivação foi o destino, estudar um idioma acaba sendo utilizado como desculpa para que os pais permitam o intercâmbio, pois caso fosse somente para lazer talvez a viagem não seria apro-vada, especialmente no caso de residir no local, que é uma viagem longa. Assim, estudar um idioma acaba sendo consequência da viagem. De acordo com Petrocchi (2004), a numerosa e variada oferta de destinos, desperta uma forte competição na mente das pessoas com relação a que opção escolher. Nesse contexto, a imagem é o fator determinante na hora da escolha de um destino turístico.

A importância da imagem no momento da escolha do destino se confirma atra-vés dos resultados da pesquisa quantitativa, visto que a maioria dos intercambistas brasi-leiros e estrangeiros afirmou que a paisagem e a cultura do lugar foram os fatores que mais influenciaram na escolha do destino da viagem. Já na pesquisa qualitativa, duas entrevista-das escolheram o lugar por influência de amigos, enquanto que uma teve o custo da viagem como principal fator e apenas uma escolheu o local por conta da paisagem e da cultura.

No que diz respeito ao continente onde foi realizado o intercâmbio, grande parte dos intercambis-tas brasileiros viajou para o continente europeu e em segundo lugar, para o americano. Das quatro entrevistadas do grupo focal, duas foram para o europeu e duas para o americano, ficando dividido entre os dois continentes mais escolhidos pelos respondentes dos questionários.

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Assim como o local da viagem influencia nos gastos, a duração do intercâmbio também é relevante no que diz respeito aos custos. Talvez por isso grande parte dos intercambistas escolha entre o continente europeu e o americano, pois como a demanda tende a ser grande, a oferta passa a ser variada, aumentando as possibilidades de escolha bem como a concorrência e consequente-mente, diminuindo o preço dos serviços e produtos.

Com isso, percebe-se que, no geral, os intercambistas brasileiros permanecem de 1 a 3 me-ses no destino do intercâmbio, visto que a maioria das entrevistadas do grupo focal permaneceu por esse período, com exceção de uma, cuja viagem teve duração de 10 meses. No entanto, a metade dos intercambistas estrangeiros permanece por mais tempo no destino, ficando de 8 a 12 meses.

Com relação ao custeamento do intercâmbio, predominantemente a maioria dos inter-cambistas afirmou que o financiamento da viagem foi pessoal, por meio de economia própria ou familiar. É válido ressaltar que todas as participantes do grupo focal tiveram seus respectivos intercâmbios financiados por seus pais.

Ainda sobre os custos do intercâmbio, tem-se que a maioria dos intercambistas brasileiros que respondeu o questionário afirmou ter gasto de R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00, enquanto grande parte dos estudantes estrangeiros gastou menos de R$ 1.000,00. Embora não se saiba o valor gasto pelas participantes do grupo focal, nota-se que para todas as viagens compensou todos os custos que tiveram ao longo do intercâmbio.

Dos respondentes dos questionários, mais da metade atribuiu 10 para o grau de relevân-cia do intercâmbio para a vida de cada um. No entanto, não se sabe o grau importância que cada participante do grupo focal considera que a viagem tenha para suas respectivas vidas. Por meio do que foi dito, pode-se notar o quanto o intercâmbio representa para cada uma, já que consideram que a viagem faz com que o indivíduo amadureça tanto como pessoa como profissional.

A maioria dos intercambistas brasileiros e estrangeiros que respondeu aos questionários atribuiu nota 8 para a escola ou universidade onde cada um estudou. Embora as entrevistadas do grupo focal não tenham dado um a nota específica para a instituição onde estudaram, de-clararam que um dos pontos positivos de se estudar, principalmente um idioma, fora do seu país de origem é que o estudante é obrigado a falar a todo instante na língua nativa dos moradores do local para se comunicar, “forçando” de certa forma a aprendizagem.

Como não foi discutido durante o grupo focal o meio que os intercambistas utilizaram para divulgar o destino visitado, não há resultados a respeito. No entanto, através dos questionários apli-cados, nota-se que a metade dos estudantes brasileiros utilizou as redes sociais para divulgar o local, enquanto que a metade dos estrangeiros foi por meio de conversas com amigos, parentes, entre outros.

Além dessa questão, também não foi abordado no grupo de foco o meio de hospedagem que foi utilizado pelas participantes, como exceção de uma entrevistada que declarou ter ficado em uma Host Family. Já por meio dos questionários foi possível perceber que a maioria dos estudantes brasilei-ros se hospedou em casa, no entanto, mais da metade dos estrangeiros se acomodaram em apartamento.

A partir dos resultados obtidos através das pesquisas quantitativas e qualitativas pôde-se perceber com maior clareza o perfil e as características dos intercambistas brasileiros e estrangeiros.

Considerações Finais

O Turismo de Estudos e Intercâmbio é um dos atuais segmentos da atividade turística que propicia o deslocamento de milhares de estudantes a fim de realizarem uma atividade ou um programa de aprendizagem. Com os deslocamentos advindos dos intercâmbios aumenta-se cada vez mais a relação entre o turismo internacional e o turismo de estudos. A partir da prática do intercâmbio a economia do local se mantem aquecida, uma vez que os intercambistas consomem

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variados serviços e produtos. Além disso, a captação de turistas aumenta, já que os próprios estu-dantes divulgam o local visitado, contribuindo para o desenvolvimento do destino turístico.

Foi possível perceber através dos resultados da etapa quantitativa que mais da metade dos respondentes (nacionais e internacionais) dos questionários apontou a paisagem e a cultura do lugar como os fatores que mais influenciaram no momento da escolha do destino. Com isso, comprova-se a importância da imagem da localidade turística para a captação de turistas. No en-tanto, das quatro participantes do grupo focal, apenas uma afirmou abertamente que a paisagem e a cultura foram os fatores de maior influência, enquanto duas apontaram a influência de amigos como principal fator e outra, o custo da viagem.

Outro ponto a ser ressaltado é o fator que motivou os estudantes a realizarem um inter-câmbio. A partir dos resultados obtidos tem-se que tanto para os estudantes brasileiros quanto para os estrangeiros, a principal motivação é estudar um idioma. No entanto, das quatro entre-vistadas no grupo focal, duas afirmaram que o fator principal para a realização do intercâmbio foi o destino, uma foi motivada pelo idioma, enquanto outra, pela finalização do ensino médio, aproveitando também, para estudar inglês.

No que diz respeito à contribuição dos intercâmbios estudantis para o desenvolvimento de um destino, é válido ressaltar que através dos resultados da pesquisa quantitativa foi possível perce-ber que metade dos intercambistas brasileiros divulgou o destino visitado por meio de redes sociais, enquanto que metade dos estudantes estrangeiros divulgou conversando com amigos, parentes, en-tre outros. Com a divulgação feita pelos intercambistas, através das redes sociais ou do boca a boca, o destino tende a captar mais turistas e consequentemente, acaba se desenvolvendo cada vez mais. Assim, nota-se que há uma relação visível entre o intercâmbio e a promoção de um destino turístico.

O fato dos intercambistas permanecerem em determinado destino e consumirem variados produtos e serviços faz com que a economia do local fique aquecida. Um dos serviços utilizados por esses estudantes é o hoteleiro, já que todos devem se acomodar em algum meio de hospedagem. Assim, os dois questionários aplicados, um para brasileiros e outro para estrangeiros, apontam que a maioria dos estudantes brasileiros se hospedou em casa, no entanto, mais da metade dos intercambistas estrangeiros se acomodou em apartamento. A partir disso, percebe-se o quanto o segmento de Turismo de Estudos e Intercâmbio pode contribuir, principalmente, na economia de um destino turístico.

A pesquisa apresentou como limitação a ausência de informações satisfatórias com relação aos intercambistas brasileiros e estrangeiros que realizaram intercâmbio ao longo dos processos de mobilidade no curso de Turismo da UFF, realizados por intermédio da própria universidade.

Para pesquisas futuras, seria interessante que as averiguações sobre os intercâmbios es-tudantis fossem ampliadas, analisando não só com estudantes do curso de Turismo da UFF e sim, intercambistas no geral. Assim, seria possível analisar se determinadas opiniões e características são exclusivas do público analisado.

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resumo

Este artigo tem por objetivo descobrir se as mídias sociais exercem influência no processo de escolha dos turistas que visitam o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), uma vez que o museu é o sím-bolo da cidade e as mídias sociais se afirmam como importantes aliadas do turismo, por possibilitarem o compartilhamento de experiências na internet. Através de revisão de literatura sobre o comportamento do consumidor em turismo, mídias sociais e estabelecendo relações entre os dois temas e sua importância para o desenvolvimento do turismo, foram elaborados critérios para a realização de uma pesquisa do tipo survey aplicado aos visitantes do MAC. Os resultados revelam que as mídias sociais exercem pouca influência nos turistas que visitam o museu, mas indicam também que um número considerável de turistas se mostrou propenso a compartilhar a experiência em mídias sociais, fato este que poderia influenciar outras pessoas a visitarem o MAC.

Palavras-chave: Comportamento do consumidor. Turismo. Mídias sociais; Boca-a-Boca eletrônico. MAC. Niterói.

abstract

This article aims to investigate if social media influences the choice process of the tourist who visit the Museum of Contemporary Art of Niterói (MAC, abbreviation in portuguese), since the museum is the main symbol of Niteroi and the social media are important allies to the tourism, once they turned possible the sharing of experiences on internet. Through literature review about consumer behaviour, social media and establishing links between both themes and their importance to the tourism development, criteria were de-veloped to make a survey research at MAC. The study reveals that social media have little influence on the tourists who go to the museum, but also indicates that a considerable number of these tourists has interest in sharing their experiences in social media, and so they can influence others to visit the MAC.

Keywords: Consumer behavior. Tourism. Social media. Electronic word-of-mouth; MAC. Niterói.

Jean Viana¹Lucas Monteiro²Thaís Mendes³

¹ Jean Viana - [email protected] - Graduando em Bacharelado em Turismo da UFF² Lucas Monteiro - [email protected] - Graduando em Bacharelado em Turismo da UFF³ Thais Mendes- [email protected] - Graduando em Bacharelado em Turismo da UFF Artigo apresentado no IV SIMPOTUR da Universidade Federal de Ouro Preto, 2014.

Mídias sociais no Processo de escolha dos turistas pelo Museu de arteContemporânea de niterói

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

O avanço da tecnologia proporcionou o surgimento de diversas ferramentas que permitiram a interação entre as pessoas de forma dinâmica e rápida. Uma dessas ferramentas é a internet, que tornou possível a troca de informações em escala global. Para o turismo, a internet funciona como um meio de auxílio aos turistas por ser uma poderosa ferramenta de divulgação e difusão de in-formações, permitindo que interajam entre si por meio de comentários sobre suas experiências em sites específicos (TripAdvisor, Booking.com, Expedia, por exemplo), podendo exercer influência no processo de decisão na escolha de outros turistas.

Não apenas sites direcionados a viajantes são capazes de difundir informação útil para tu-ristas. Com a popularização e os avanços da internet e com a inclusão digital, houve a criação de diversas redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter, por exemplo), que proporcionam aos usuários a interação com outros usuários, conhecidos ou não. Nessas redes, ao compartilhar experiências em seus perfis, as pessoas geram, inconscientemente, um boca-a-boca diferente do tradicional, chama-do boca-a-boca eletrônico (electronicword-of-mouth, eWOM), através de declarações positivas ou negativas acerca dos produtos e serviços utilizados.

Há, entretanto, carência de pesquisas acadêmicas sobre as influências que as mídias sociais exercem no processo de decisão dos consumidores em turismo. É notória a importância das mídias sociais para o desenvolvimento do turismo, uma vez que os turistas têm autonomia para relatar suas experiências e torná-las úteis a outros turistas, permitindo também interações sociais entre eles. A maioria das publicações existentes sobre a relação das mídias sociais com o turismo possui enfoque maior na questão da motivação dos internautas em compartilharem suas experiências turísticas e se articularem na internet, e não nas influências que esse compartilhamento virtual de experiências pode exercer sobre outras pessoas.

Assim, mostram-se necessários estudos sobre a questão do impacto que os conteúdos posta-dos na internet têm no processo de escolha dos turistas, sendo essa informação útil para os gestores de órgãos relacionados ao turismo, para que estes tenham base para implantarem medidas que aten-dam às exigências da demanda, com objetivo de fazer os comentários servirem como um eWOM positivo e atrair uma parcela maior de consumidores.

O objetivo deste trabalho é investigar se os conteúdos dispostos em mídias sociais exercem ou não influência no processo de decisão dos turistas que visitam o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), uma vez que o MAC é o principal atrativo turístico da cidade de Niterói, mos-trando-se necessário descobrir se há influência das mídias sociais no comportamento dos turistas que o visitam para que se possa aproveitar de forma satisfatória o potencial de influência que as mídias sociais exercem devido aos avanços da internet.

Mídias sociais

O conceito de mídia social está diretamente ligado ao conceito de Web 2.0, que se refere ao segundo estágio de desenvolvimento da internet, a evolução da Web 1.0 (JACOBSEN; MUNAR, 2014), estágio em que a internet não permitia aos internautas produzirem conteúdo, apenas consu-mir, conforme apontam Cormode e Krishnamurthy (2008), para os quais:

o termo Web 2.0 é usado para denotar diferentes conceitos: [...] sites que incorporam compo-nentes sociais, como perfil de usuário; sites que permitem criação de conteúdo dos usuários em forma de texto, postagem de fotos e vídeos, bem como comentários, tags e classificações. (CORMODE; KRISHNAMURTHY, 2008, sp.)

De acordo com Jacobsen e Munar (2014), há diversos tipos de mídias sociais, como por exemplo, blogs e microblogs (Twitter), redes sociais (Facebook, Orkut), sites de compartilha-mento de mídias (YouTube, Flickr), sites de reviews (TripAdvisor, Booking.com), entre outros, que

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permitem diferentes tipos de interação entre os usuários. Essas mídias diferem-se em alguns as-pectos, como o nível de interatividade, estrutura temporal, alcance da comunicação, bem como ní-veis de hierarquia e controle estabelecidos pelos administradores dos sites (CORMODE; KRISH-NAMURTHY, 2008).

Devido ao longo alcance da informação divulgada e compartilhada em mídias sociais, elas são também um poderoso canal de produção e circulação de experiências em turismo, con-forme observam Jacobsen e Munar (2014). Diversos sites servem de auxílio para turistas por conterem informações e classificações de destinos, atrações turísticas, restaurantes e meios de hospedagem, como o TripAdvisor, por exemplo.

Jacobsen e Munar (2014) enfatizam que nas mídias sociais os turistas podem relatar suas experiências no ambiente virtual a qualquer momento, podendo até compartilhar seus momentos em tempo real de diversas maneiras, como, por exemplo, enviando mensagens de texto (SMS), fotos, vídeos para conhecidos ou desconhecidos, direta ou indiretamente. Isso é possível graças à interatividade entre os sites e os usuários, que são também geradores do conteúdo, através de postagens de comentários, classificações, fotos e vídeos.

As mídias sociais permitem que os turistas compartilhem conhecimento e experiências, incluindo a percepção individual em consonância com o tratamento que recebeu nos serviços turísticos, os preços e também as emoções vividas durante uma viagem (JACOBSEN; MUNAR, 2014). Sites de reviews, como o TripAdvisor, permitem aos interessados buscarem a informação que lhes é pertinente, baseando-se nos comentários e avaliações de outros usuários do site.

Assim, com a possibilidade de interagirem com outros usuários, relatando experiên-cias turísticas, para serem conhecidas por qualquer pessoa, esses turistas estão articulando uma rede de troca de informações que remete ao boca a boca, com a diferença de ser realiza-do em ambiente virtual.

Electronic Word-Of-Mouth (eWOM)

O conceito de electronicword-of-mouth é definido por Hennig-Thurau et al. (2004) como “qualquer declaração positiva ou negativa feita por potenciais, atuais, ou ex-consumidores sobre um produto ou empresa, a qual está disponível para um grande número de pessoas e instituições via internet” (p. 39). “O eWOM é o resultado desejado (geralmente positivo) das mídias sociais” (COLVIN, 2013, p.2).

Com o poder de influenciar outros turistas através do compartilhamento de experiências em viagens, positivas ou negativas, os turistas acabam por produzir o eWOM, conforme proposto por Hennig-Thurau et al. (2004), articulando uma rede de troca de informações sobre serviços e produtos turísticos, nas quais os turistas postam declarações positivas ou negativas sobre as expe-riências que vivenciaram.

Para Hennig-Thurau et al. (2004), o eWOM pode acontecer nos diversos tipos de mídias sociais citados, sendo mais comum ocorrer em sites cujas bases são os comentários dos usuários, como o TripAdvisor, comentários feitos, em sua maioria, de forma voluntária, o que de acordo com Ciribeli e Paiva (2011), transmite maior confiabilidade aos usuários. A comunicação eWOM articulada nessas plataformas pode exercer forte impacto nos consumidores, pois são fáceis de serem usadas e requerem menos conhecimento dos usuários sobre internet, para obterem infor-mações (HENNIG-THURAU et al., 2004). Além disso, “o eWOM é considerado uma importante fonte de informação que influencia a intenção de viagem dos turistas e escolha do destino” (YUN; GOOD 2007, apud JALILVANDI et al., 2013), podendo ser aplicado também ao processo de escolha de atrativos, como é o caso deste estudo.

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Entretanto, não se pode focar em apenas uma plataforma onde o eWOM acontece, pois as outras mídias sociais também possibilitam o compartilhamento de experiências, mesmo que não seja o principal objetivo. Chu e Kim (2011) estudam como as relações existentes em redes sociais (Face-book, MySpace, por exemplo) se relacionam com o eWOM, dadas as características colaborativas que possuem e relatam que o eWOM, em redes sociais, ocorre quando consumidores fornecem ou bus-cam avisos informais relacionados a produtos através de aplicações únicas desses sites (CHU; KIM, 2011), como comentar, curtir e compartilhar essas informações no Facebook, por exemplo. Essa afirmação é válida também para serviços, uma vez que prestadores de serviços podem criar anúncios sobre promoções e ofertas no Facebook, como no caso das companhias aéreas, que anunciam promo-ções relâmpagos em suas fanpages. Assim, um internauta ao tomar conhecimento de uma promoção pode indicar aos seus amigos, que a indicam a outros amigos através do envio de mensagens ou da “marcação” dos amigos em comentários, mostrando o poder do eWOM nas redes sociais.

Procurar fotos e comentários, compartilhar fotos em redes sociais e em sites próprios para o compartilhamento de mídias (Flickr, Instagram, por exemplo) e descrever a experiência em comentários e/ou hashtags são atividades que remetem aos três aspectos pelos quais, segundo Chu e Kim (2011), pode-se examinar o eWOM em redes sociais: a procura de opinião, o fornecimento de opinião e a passagem de opinião.

A partir do exposto, este estudo pretende, por meio de uma pesquisa exploratória, verifi-car se as mídias sociais estão exercendo influência no processo de escolha dos turistas que visitam o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC).

o Museu de arte Contemporânea de niterói – MaC

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói é o principal cartão postal da cidade. Começou a ser construído em 1991 e foi concluído em 1996, sendo um importante marco da ar-quitetura contemporânea que impressiona pela forma, e que segundo Oscar Niemeyer (arquiteto responsável pelo projeto), foi inspirado em uma flor de lótus desabrochando sobre a água.

A estrutura de linhas circulares do edifício apresenta-se como uma escultura de 16 me-tros de altura, em praça aberta, em que o espelho-d’água colocado em sua base e a iluminação empregada conferem grande leveza ao museu. A rampa sinuosa externa conduz ao interior, com dois pavimentos. No segundo pavimento, estão a sala de exposições e a varanda panorâmica, en-vidraçada, também reservada para mostras. O mezanino, por sua vez, que circunda todo o interior do museu, é dividido em salas menores. No subsolo, encontram-se uma área para armazenagem de obras, um bar, um restaurante (Bistrô MAC) e um auditório para conferências.

Metodologia

A pesquisa possui caráter quantitativo, descritivo e exploratório, e para atingir o objetivo proposto foi usada a pesquisa survey, que de acordo com Freitas et al. (2000) destina-se à aquisição de dados, opiniões e características de um determinado grupo de pessoas, sendo o instrumento de obten-ção desses dados, normalmente um questionário, aplicado diretamente a representantes desse grupo.

A pesquisa é de corte-transversal, pois a coleta de dados ocorreu em apenas um determinado período de tempo (FREITAS et al, 2000): durante dois dias do feriado da Semana Santa de 2014 (17 e 19 de abril), dos feriados de Tiradentes e São Jorge (22 e 23 abril) e nos dias seguintes (24, 26 e 27 de abril).

A amostra da pesquisa é não probabilística por conveniência, estabelecida a partir de um critério, e os participantes foram escolhidos por estarem disponíveis no local e no período de apli-cação dos questionários (FREITAS et al, 2000). A pesquisa foi realizada no pátio do MAC com pessoas que afirmaram ter entrado no museu e não serem residentes na cidade de Niterói.

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Foram obtidos 202 questionários, sendo 201 válidos. Vale ressaltar que há limitações na amostra, uma vez que os turistas participantes não representam todos os turistas que visitam o MAC, o que torna esses dados não generalizáveis.

O instrumento utilizado foi um questionário estruturado em cinco seções: levantamento de perfil, contexto da visita, processo de escolha do turista, avaliação de alternativas e a avaliação da experiência, possuindo um total de 26 questões, das quais: 2 abertas, 8 semiabertas e 16 fechadas.

A seção de levantamento de perfil tem como objetivo descobrir o perfil socioeconô-mico dos turistas que visitam o museu, em que é perguntado o local de residência, gênero, faixa etária, nível de escolaridade e renda.

Na questão da renda são considerados apenas os turistas nacionais, uma vez que a forma como outros países estabelecem os salários difere-se da forma brasileira, além da questão da con-versão de valores de moeda estrangeira. Para a análise dos dados da renda, foi utilizado o critério de classificação social econômica a partir da renda familiar bruta mensal, da Associação Brasilei-ra de Empresas de Pesquisa (ABEP) de 2013, no qual, as classes foram divididas da seguinte ma-neira: classe A (acima de R$ 9.263,00); classe B1 (de R$ 5.241,00 a R$ 9.263,00); classe B2 (de R$ 2.654,00 a R$ 5.241,00);classe C1 (de R$ 1.685,00 a R$ 2.654,00); classe C2 (de R$ 1.147,00 a R$ 1.685,00); e classe DE (de R$776 a R$ 1.147,00).

A seção do contexto da visita possui três questões com objetivo de investigar como o turista está visitando o MAC (sozinho, em família, em grupo de amigos ou em excursão), se é a primeira vez do turista em Niterói e se é a primeira vez também no MAC.

A seção de processo de escolha é dividida em três subseções: das motivações do turista, em que se pretende descobrir o que motivou a visita ao museu, como tomou conhecimento do museu; da busca de informações, em que o objetivo é conhecer se o turista procurou informa-ções antes de visitar o museu e, se sim, onde procurou e o quanto se sentiu influenciado pelas informações obtidas. Na questão do nível de influência das fontes, são listadas as fontes possíveis para se obter informação sobre o museu e, consequentemente, sentir-se influenciado por elas, tais como: mídias tradicionais (jornais e revistas, programas de TV, filmes e novelas); mídias sociais (Google, Facebook, TripAdvisor, aplicativos para smartphones e o site do próprio museu); além de guias impressos e outras fontes de informação que pudessem aparecer com as respostas.

Para definir o grau de influência das fontes, é utilizada a escala Likert de cinco pontos, de 1 a 5, em que 1, o turista não se sentiu influenciado a ir ao MAC, e 5 se sentiu totalmente influenciado.

A seção de avaliação de alternativas tem como objetivo saber se o turista visitou outros atrativos das cidades de Niterói e Rio de Janeiro, e quais. Justifica-se a pergunta da visita a outros atrativos, pois é interessante saber se o turista que vai a Niterói visita apenas o MAC ou se visita outros atrativos da cidade, e justifica-se também a pergunta da visita a outros atrativos do Rio pelo fato de serem cidades vizinhas e do Rio possuir maior visibilidade turística. Desta pergunta foram excluídos os moradores da cidade do Rio de Janeiro.

A seção de avaliação da experiência visa conhecer o nível de satisfação dos turistas em relação à experiência no museu e, por isso apenas os turistas que adentraram ao museu foram abordados. Nesta seção, o respondente deveria dar uma nota de 0 a 10 ao museu, levando em con-ta sua satisfação com o museu como um todo, sendo zero totalmente insatisfeito, e 10 totalmente satisfeito. Para efeito do tratamento de dados, as notas de 0 a 4 são classificadas como experiên-cias péssimas/ruins; de 5 a 7 como regulares/boas; e de 8 a 10, muito boa/excelente.

Além da nota geral, os respondentes também deveriam classificar seu nível de satisfação com alguns elementos do museu, como: atendimento; limpeza; acervo; restaurante; estrutura do

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museu/ambiência física; paisagem; e acessibilidade. Para mensurar o nível de satisfação, foi usada uma escala Likert de 5 pontos, de 1 a 5, em que 1 é totalmente insatisfeito, e 5 totalmente satisfeito.

Essa seção também questionava a intenção de recomendar a visita do MAC para outras pessoas e da intenção de postar fotos e/ou reviews da visita em mídias sociais. Esta pergunta se justifica pelo fato de a intenção do turista recomendar a visita ao MAC ser um dos elementos do eWOM; quando realizado no meio virtual, passa a ser um elemento do eWOM, assim como recomendar a visita para outras pessoas por meio de e-mail, mensagens de chat em redes sociais, ou através da postagem de fotos, vídeos e/ou reviews da visita.

Os dados obtidos após a aplicação dos questionários foram dispostos em uma planilha no programa Microsoft Office Excel, de forma sequencial e organizada, pois os questionários foram numerados de 1 a 202 a fim de facilitar a transcrição das informações para a planilha. As questões foram dispostas em colunas e as respostas em linhas, numeradas de 1 a 202, em que cada linha corresponde a um questionário.

Para o tratamento dos dados apresentados foi utilizada a estatística descritiva e os resulta-dos obtidos são expostos de forma organizada por meio de gráficos e tabelas.

resultados e discussão

Os resultados são descritos obedecendo às seções do questionário: perfil do turista, pro-cesso de escolha e avaliação da experiência.

Perfil do turista

Do total de pesquisados (n = 201), as mulheres representaram 57,2% e os homens 42,8%. Quanto ao local de residência, os turistas nacionais foram maioria, representando 72,1%; dentre estes (n= 145), separados por região. A maioria era da região sudeste, represen-tando 67,6%, o que pode ser explicado pelo fato de a pesquisa ter sido realizada em um período em que coincidiram feriados nacionais e estaduais.

No caso dos turistas estrangeiros (n = 56), observou-se que dentre os entrevistados, os europeus foram os que mais visitaram o museu, superando os turistas sul-americanos (53,6% dos europeus contra 30,4% dos sul-americanos). É um dado interessante quando comparado com os números do Ministério do Turismo sobre chegadas de turistas no Brasil, em 2012, que apontou que os turistas sul-americanos representaram 55,2%, enquanto os europeus totalizaram 27,4% de desembarques internacionais no Brasil naquele ano (BRASIL, 2012), o que leva a supor que o turista europeu tem maior interesse por atrativos culturais do que os turistas sul-americanos.

Quanto à faixa etária, a parcela principal de visitantes estava na faixa de 26 a 35 anos, totalizando 32,3% do número de pesquisados, seguida pelos visitantes de 46 a 65 anos, que com-puseram 25,4% do número de respondentes. Esses dados confirmam que a maioria dos visitantes se concentra numa faixa etária entre ou acima dos 30 anos de idade, um público mais adulto e com uma possível tendência a buscar equipamentos e espaços culturais.

Quanto ao nível de escolaridade, grande parte dos inquiridos afirmou já possuir ensino superior completo, representando 54,2% da amostra. Separando a amostra entre turistas nacionais e internacionais, pode-se destacar que o índice de pessoas com nível superior completo é maioria entre os estrangeiros, com 78,6%; enquanto com turistas os nacionais é de 45,2%.

Dos participantes que optaram por declarar a renda (n = 103), notou-se que os pertencentes às classes de renda mais altas foram os que mais visitaram o museu, com as classes B1 e B2 representando 52,4%, a classe A representando 25,2% e as classes C1 e C2 representando 22,3% dos respondentes.

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Contexto da visita

Dos respondentes, 34,8% visitaram o MAC, acompanhados de familiares e 34,3% (n= 201) em grupos de amigos, o que parece indicar que o museu exerce maior atratividade para aqueles que pretendem fazer programas em família ou com os amigos.

Com relação ao número de visitas, 51,4% dos pesquisados afirmaram estar visitando Niterói pela primeira vez, logo, também estavam visitando o MAC pela primeira vez. Entre as pessoas que já haviam visitado a cidade anteriormente (n = 98), 60,2% destas já haviam visitado Niterói cinco vezes ou mais.

Motivações

Dos pesquisados, 60,2% afirmaram que o MAC foi a principal motivação para estar em Niterói. Dos que declararam não ter sido motivados pelo MAC (n = 80), visitar familiares e a amigos foi a principal motivação para 57,5%, enquanto visitar outros atrativos foi a motivação principal de 22,5% dos respondentes.

Das formas de conhecimento do museu, 34,4% ficaram sabendo do museu por meio de amigos e familiares, mostrando que o boca-a-boca tradicional (eWOM) é ainda o mais forte na divulgação do museu; 24,4% afirmaram ter conhecido o museu através das mídias tradicionais (jornais, revistas, programas de televisão); através das mídias sociais, apenas 17,2% afirmaram terem tomado conhecimento do museu, indicando que o turista que visita o MAC parece pouco propenso a buscar informações sobre o museu na internet. Das ou-tras formas de conhecimento do museu, 44,4% disseram ter conhecido o museu por meio de instituições de ensino, mostrando o poder de atração do museu para buscar público de escolas e universidades.

Com relação às motivações para a visita ao MAC, apreciar a arquitetura do museu foi citado por 48,2% dos pesquisados, enquanto que a apreciação da paisagem do mirante da Boa Viagem correspondeu às motivações de 29,04% do total de respostas.

Pode-se dizer com esses dados que o museu, juntamente com seu entorno, possui um forte apelo visual, pois impressiona por sua forma, design, conceito arquitetônico e pela harmonia da arquitetura com a paisagem, possuindo uma vista privilegiada para as praias da baía de Guanabara, e também para cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, como o Pão-de-Açúcar.

Processo de escolha

Com relação ao processo de escolha, 43,3% dos respondentes procuraram infor-mações sobre o museu antes da visita, sendo que a busca de informações no Google foi apontada por 47,7%.

No que diz respeito à influência das fontes pesquisadas, grande parte disse não ter sen-tido influência das mídias tradicionais, tampouco das mídias sociais, como pode ser observado na tabela 1. Este dado chama a atenção pelo fato de parcela significativa dos investigados afir-mar ter sentido pouca influência dessas fontes e, durante a aplicação de questionários, muitos disseram que o museu por si só influenciava a visita, o que leva a crer que a pergunta pode não ter sido formulada de forma correta.

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Fonte: Autoria própria

avaliação de alternativas

Dos respondentes, 67,06% não haviam visitado outros atrativos de Niterói até o momento da pesquisa. Entre os turistas que já haviam visitado os demais atrativos da cidade, 26% visitaram o Complexo Arquitetônico do Caminho Niemeyer, o que mostra que as obras de Niemeyer são impul-sionadoras do turismo em Niterói, apesar de as obras do começo do Caminho Niemeyer, que estão no centro da cidade, ainda serem pouco visitadas.

Dos 201 entrevistados, 61,7% afirmaram ter visitado alguns atrativos do Rio de Janeiro. Entre os atrativos mais visitados, destacam-se o Pão de Açúcar (25,2%), o Corcovado (24%) e as praias (21%), o que aponta para o fato de que o turista que vem ao Rio se interessa pelos principais cartões-postais da cidade, mas não se restringe apenas a eles, uma vez que essa parcela significativa atravessou a baía de Guanabara para ir a Niterói conhecer o MAC.

No que corresponde ao nível de satisfação com o MAC, em uma pontuação de 0 a 10, den-tro do total da amostra de 201 pessoas, 71,1% atribuíram conceito entre bom e excelente e 27,3% o conceito regular, o que pode indicar que além do encanto natural pela estrutura do museu que muitos sentem quando o veem, os turistas em geral se sentem satisfeitos com o museu como um todo.

avaliação da experiência

Com relação à avaliação da experiência, foram analisadas as seguintes categorias dos serviços oferecidos pelo MAC: atendimento; limpeza; acervo; restaurante; Físico/Estrutura; paisagem; e aces-sibilidade. Essas categorias receberam valores atribuídos de 1 a 5 (onde 1 = totalmente insatisfeito, e 5 = totalmente satisfeito), de acordo com o nível de satisfação da experiência de cada visitante.

De acordo com as respostas encontradas, os itens com maior receptividade e com ava-liação positiva, figurando entre muito boa e excelente, apareceram como: atendimento, com 74,63%; limpeza, com 73,3%; físico/estrutura, com 89,05%; paisagem representando 99,01% e acessibilidade, com 82,09%.

Ao serem indagados se recomendariam a visita ao MAC para outras pessoas, os respon-dentes sustentaram uma resposta positiva, equivalente a 99% do total de entrevistados (n=201). Deste total, apenas dois discordaram da recomendação do MAC.

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Referentemente à intenção de postagem de reviews e fotos em mídias sociais, 79,6% dis-seram que possuem intenção de postar fotos e/ou reviews em mídias sociais. Desses respondentes que demonstraram receptividade às postagens (n=160), separados por nacionalidade, obteve-se o resultado de 75% para os turistas nacionais e 25% para os internacionais.

Com relação às postagens de fotos e reviews em mídias sociais, 64,14% demonstraram preferência pelo Facebook e 24,05% pelo Instagram. Entre os turistas nacionais (n = 152), os números também refletem uma preferência pelo Facebook, totalizando 76,32% dos pesquisados. Dos que disseram que pretendiam postar fotos no Instagram, os nacionais também foram uma parcela maior, representando 70,2%.

Conclusões

As mídias sociais têm se mostrado canais relevantes para o compartilhamento de experi-ências em turismo, seja por meio de postagem de fotos, comentários ou reviews etc. Entretanto, os resultados da pesquisa mostram que os turistas que visitam o MAC pouco buscam informações sobre o museu em mídias sociais – menos da metade dos respondentes afirmou ter procurado informações antes da visita, mas não significa que eles não tenham sofrido nenhuma influência para visitar o museu. Eles podem não saber informar o que os influenciou (talvez por uma falha na forma como a pergunta foi formulada), uma vez que as pessoas têm dificuldade para perceber o que as influencia quando se fala de consumo, escolha e comportamentos.

Entretanto, vale ressaltar que uma quantidade significativa dos pesquisados afirmou que postará fotos e/ou reviews em mídias sociais, propagando a notícia da visita ao MAC, levando o museu ao conhecimento de outras pessoas, o que remete ao conceito do eWOM, podendo influen-ciar essas pessoas a visitarem o MAC.

A despeito de haver pouca procura por informações sobre o museu através de mídias sociais, o compartilhamento de informações e fotos, por parte dos turistas, se faz presente, propa-gando a notícia da existência do museu, fazendo-a chegar a outras pessoas, gerando um eWOM sobre o museu, mesmo que de forma inconsciente, o que é um dado muito importante e que pro-voca a curiosidade em saber se esses turistas acreditam que os conteúdos que eles postam em seus perfis nas redes sociais são capazes de influenciar outras pessoas.

Apesar da pouca literatura existente sobre a influência das mídias sociais no processo de escolha do turista, este trabalho pode servir como base para futuras pesquisas, entretanto, vale ressaltar suas limitações. Umas delas foram as datas de coleta de dados, que tiveram influência na amostra, pois foi realizada em um período com dois feriados nacional e um de nível estadual (Semana Santa, Tiradentes e São Jorge, respectivamente), o que levou ao encontro de um maior número de turistas nacionais do que turistas internacionais.

Importante, além de saber se há intenção de recomendar a visita ao MAC, é saber como e onde esta será feita. Essa informação é necessária para determinar o grau de importância do meio eletrônico na divulgação não oficial do museu, e também para descobrir a intenção da postagem de fotos e reviews da visita, uma vez que no meio virtual, as experiências, quando compartilhadas, são capazes de provocar a vontade das pessoas de estarem onde outros estiveram, de conferir se o que publicaram corresponde à realidade, podendo estimular nessas pessoas a vontade de relatar sua experiência também, influenciando outras pessoas e estimulando a formação de uma imagem positiva do museu, para que esse seja capaz de atrair novos visitantes.

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resumo

Este artigo examina as questões a respeito da percepção do turista nacional em relação à justiça dos preços cobrados pelo passeio no Bondinho do Pão de Açúcar, atrativo mais visitado do Rio de Janeiro e ícone do turismo na cidade. As percepções estão relacionadas às influências e motivações que levaram o turista a visitar o bondinho. Para investigá-las realizou-se um survey com visitantes nacionais que haviam visitado o Pão de Açúcar nos quatro primeiros meses de 2015. Os resultados revelam que a percepção de justiça dos preços indica que há uma divisão entre os que acham o preço do ingresso cobrado, justo e aqueles que o nomeiam como injusto. Na percepção de valor, os turistas acreditam que há uma boa relação de custo versus benefício no investimento feito para visitar o atrativo. As consequências dessa percepção apresentam-se no boca a boca realizado pelos turistas a respeito das experiências vividas no local, seja presencialmente (família, amigos) ou de forma virtual (redes sociais, TripAdvisor).

Palavras-chave: Marketing Turístico. Comportamento do Consumidor. Precificação.

abstract

This paper examines the perception of national tourists related to price perceived fairness of national tourist in Sugar Loaf’s prices, most visited attraction of Rio de Janeiro and tourism icon in the city. The antece-dents are related to the influences and motivations that led the tourists to visit cable car. To investigate them, a survey was done with national visitors in cable car on the fouth first mouths of 2015. The results shows the Sugar Loaf’s prices are shared who think they are fair and who think they are unfair. On price perceived, tourists believes there is a good relation between cost and benefits on the investiment to visit the attraction. The consequences are given in sharing by tourists with their experiences, either in person (family, friends) or in virtual form (social networks, TripAdvisor).

Keywords: Tourism Marketing, Consumer Behavior. Pricing.

Flavio Andrew do Nascimento Santos¹

¹ Bacharel em Turismo da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense. Endereço eletrônico: [email protected]

Percepção de Preço e Valor no Bondinho do Pão de açúcar: Um estudo exploratório Com turistas nacionais

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

A cidade do Rio de Janeiro é uma referência no Brasil na escolha de turistas nacionais e internacionais. Esse fato torna o turismo na cidade uma importante atividade socioeconômica que atrai muitos investimentos do governo, do mercado, bem como temática para estudos acadêmicos. A cidade também está na agenda de grandes eventos internacionais como Olimpíadas Rio 2016 e foi sede da Copa do Mundo 2014.

Nesse cenário, todos os agentes envolvidos com a atividade turística vêm se preparando para melhorar a oferta e a qualidade de seus serviços para atender essa demanda, e utilizá-la como oportunidade para se consolidar como um dos principais destinos turísticos do mundo. Para isso, é necessária uma série de entendimentos de todo o trade do turismo sobre a atividade e sobre o comportamento de seus consumidores, como turistas e visitantes, que ao mesmo tempo, são con-sumidores de diferentes serviços em diferentes segmentos.

Uma das formas que o trade possui para conhecer a opinião geral dos destinos e atrativos turísticos são os sites de avaliação coletiva como TripAdvisor e o Guia Melhores destinos. No Tri-pAdvisor (2015) a cidade do Rio de Janeiro se posiciona como segundo melhor destino do Brasil pelo Traveler`s Choice, atrás somente da cidade de Gramado no Rio Grande do Sul. O Bondinho do Pão de Açúcar é citado como atração número um em mais de 500 avaliações com 96% de aprovação no ano de 2014, à frente de atrações muito relevantes para a cidade como o Corcovado, Praia de Copacabana e o Theatro Municipal. No Guia Melhores Destinos (2015), a cidade recebe a nota de 8,7 na avaliação e 97% de recomendação dos turistas.

Como o Bondinho é muito bem avaliado pelo TripAdvisor (2015), o objetivo deste tra-balho é saber a opinião dos turistas nacionais sobre a percepção de justiça de preços do ingresso cobrado pelo passeio.

Para atingir esse objetivo, utilizou-se a pesquisa survey, aplicada no ano de 2015, com turistas nacionais, abordados na saída do bondinho e pela internet. A amostra de conveniência contou com 130 turistas nacionais que realizaram o passeio nos meses de janeiro a abril de 2015. O questionário foi dividido em quatro seções: motivação para o passeio; percepção de justiça de preços; percepção de valor; e comportamento posterior em relação ao atrativo.

1. Marketing turístico e Marketing de destinos

Os visitantes de um destino ou empreendimento turístico frequentemente são influen-ciados por ações de marketing, desenvolvidas com o propósito de influenciar no processo de escolha dos consumidores de produtos e serviços. Para isso, diferenciar o marketing tradicional do marketing turístico e em destinos é o primeiro passo para os gestores entenderem a atividade e a sua relação com os consumidores.

Middleton e Clarke (2002) listam cinco itens da demanda e da oferta que necessitam de abordagem específica na prática do marketing: 1) as características da demanda; 2) as caracterís-ticas da oferta; 3) produtos e preços que relacionam a oferta à demanda; 4) as influências que são feitas à demanda através das estratégias de comunicação; 5) A distribuição realizada. Esses itens devem estar atrelados a cinco outros itens que irão orientar as ações do marketing tradicional (MI-DDLETON; CLARKE, 2002): as transações de troca devem ser conduzidas de forma competitiva, inovadora, com visão externa e com atitude positiva; 2) compradores leais devem ser alcançados através dos interesses em longo prazo e da satisfação dos clientes; 3) a compreensão de que conser-vação e satisfação de clientes são geradoras de lucros e de outras metas organizacionais; 4) deve-se observar as ações dos concorrentes para eventos e para as condições no ambiente externo dos negócios; 5) reconhecimento das limitações ambientais e sociais nas estratégias de obtenção de lu-cro, equilibrando-se com as adaptações que a organização precisa adotar para obter lucros futuros.

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Esses itens também no turismo levam em consideração o ponto de vista tanto dos consu-midores quanto dos produtores em termos sociais e comerciais, e têm implicações no planejamen-to estratégico do marketing nos níveis tático e operacional.

No marketing para destinos turísticos, Nebra e Torres (2010) argumentam que os turistas criam uma imagem e fazem previsões das experiências do atrativo que desejam conhecer, base-ando-se nas emoções que possuem na sua memória, no boca a boca, nos anúncios publicitários, entre outros. Os autores observam que o local de origem do turista e a cultura em que ele está inserido impactam diretamente na avaliação do destino no momento da escolha. Entender o com-portamento do consumidor do turismo no pré, durante e pós compra é fundamental para melhorar as estratégias de marketing.

Pressupõe-se que o turismo, para a maior parte das pessoas, seja uma atividade de alto en-volvimento, por ser relativo às férias (momento de prazer e descanso do trabalho), planejado (em sua maioria) com altos custos financeiro, cognitivo e psicológico. (NEBRA; TORRES, 2010, p. 83)

Middleton e Clarke (2002) acrescentam que o turismo em sua maioria é feito de pequenos empreendimentos e que eles geram mais experiências positivas aos turistas e pos-sivelmente definem a sua percepção e satisfação em relação a um destino. Ainda segundo Middleton e Clarke (2002, p. 40) “Esses contatos (com pequenos empreendimentos) irão influenciar sua percepção do local, qualidade, o conceito de bom negócio, o desejo de voltar - ou não e fazer recomendação a amigos.”

Portanto, as ações de marketing devem se preocupar com a imagem, o boca boca, entre outros aspectos citados, tanto para empreendimentos quanto para os destinos.

1.1 Comportamento do Consumidor e segmentação de Mercado no turismo

No mercado atual de turismo, em que os consumidores querem produtos e serviços cada vez mais personalizados, é fundamental que os gerentes de marketing entendam seus compor-tamentos para tentar satisfazer os desejos de seus consumidores. Swarbrooke e Horner (2003) listam os principais fatores de motivação no turismo (figura 1).

Figura 1 - Fatores de motivação no turismo.Fonte: Swarbrooke e Horner, 2003 com adaptações de formatação e tradução do autor.

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Observam-se na figura 1 algumas motivações de origem pessoal, cultural, de status, de desenvolvimento pessoal, emocional, cultural e física. Conhecer os desejos e expectati-vas dos consumidores é fundamental para satisfazê-los com êxito e gerar boas avaliações para o destino e para os empreendimentos. A motivação e os segmentos de mercado estão relacionados através dos aspectos demográficos, gênero, cultura, preço, entre outros (SWAR-BROOKE; HORNER, 2003).

Entender essas possíveis diferenças entre a motivação dos consumidores (cultura, preços, entre outros) no processo de decisão de qual empreendimento visitar, ou qual desti-no, pode servir de base para um produto ou serviço. Nesse processo decisório, as estratégias promocionais, de distribuição e de preço utilizam equipes de vendas altamente qualificadas, mensagens com fortes argumentos persuasivos, um sistema de distribuição que assegura um excelente serviço.

Os gerentes de marketing devem estar atentos ao criar produtos e serviços compatí-veis que atendam aos segmentos-alvo. Middleton e Clarke (2002) listam sete maneiras de dividir os mercados de turismo para segmentação: 1) objetivo da viagem; 2) necessidades, motivações e benefícios buscados pelo consumidor; 3) comportamento do consumidor/ ca-racterísticas do uso do produto; 4) perfil demográfico, econômico e geográfico; 5) perfil psi-cográfico; 6) perfil demográfico; 7) preço.

Vale ressaltar que mesmo na segmentação baseada no preço, Middleton e Clarke (2002) observam que se deve classificá-lo associado a outras características dos usuários (perfil demográfico, características de uso, entre outros), e não de forma isolada como classi-ficação principal. Ainda segundo esses autores:

para alguns negócios do turismo, por razões operacionais, o produto básico é essencialmente o mesmo para todos os clientes. Esse é o caso de muitas atrações para visitantes. Mas sempre há formas diferentes de promoção para subgrupos do mercado e oportunidades para otimizar o produto básico de acordo com as necessidades identificadas do segmento. (MIDDLETON; CLARKE, 2002, p. 129)

Atualmente, nos mercados cada vez mais competitivos, a ação do preço na decisão dos consumidores é altamente influente. Segundo Middleton e Clarke (2002) tem aumentado cada vez mais o poder dos clientes para determinar os preços das empresas e com implicação direta na demanda do serviço/produto no turismo, pois, se os consumidores não acharem o preço justo, simplesmente não comprarão.

A mudança é tão rápida atualmente que só se pode especular sobre uma revolução do poder do consumidor no turismo, com base em comparações entre as opções disponíveis, que está afe-tando profundamente as abordagens tradicionais de estabelecimento do preço. (MIDDLETON; CLARKE, 2002, p. 152)

Qualquer decisão estratégica de preços no turismo, portanto, é uma decisão complexa. Middleton e Clarke (2002) estabelecem dois níveis para operar os preços em viagens e turismo: 1) preços que um negócio deve publicar meses antes; 2) preço semanal, diário ou até na hora es-tabelecido por uma operadora. Cada segmento do turismo, portanto, deve ter sua faixa de preço específica para ser trabalhada, e deve equilibrar os interesses dos consumidores e as limitações operacionais, sociais, ambientais em uma estrutura estratégica de objetivos corporativos. (MID-DLETON; CLARKE, 2002)

2. Estratégia de Marketing e Precificação

Para um bom planejamento e execução das estratégias de marketing todas as ativida-des relativas ao mix de marketing devem ser programadas para todos os agentes envolvidos nas

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organizações e no mercado. Mix de marketing, segundo Kotler e Keller (2004), são as variáveisespecíficas de quatro grupos amplos no Marketing: produto, preço, distribuição e promoção. Na área de serviços, além dos itens tradicionais, Zeithaml e Bitner (2003) incluem pessoas, evidência física e processos como mais três variáveis do composto de marketing.

Kotler e Keller (2004) definem preço como o valor que os consumidores estão dispostos a pagar pelo serviço/produto. Partindo-se do pressuposto que as decisões de compra dos consu-midores são muitos influnenciadas pelo preço, e que preço é o único item do composto do mix de marketing que produz receita, a importância dos estudos dessa temática e suas percepções tor-nam-se fundamentais para uma boa estratégia de marketing. Para isso, é necessário o entendimen-to sob a perspectiva da gestão sobre os preços (precificação) e sob a perspectiva do consumidor. Sendo assim, deve-se examinar como os consumidores avaliam preços, quais os antecedentes e as consequências dessas avaliações para o serviço e ainda o que a empresa pode fazer para minimi-zar as avaliações negativas e aumentar as positivas.

O fenômeno turístico deve levar em consideração todos os elementos do composto de marketing, indicados por McCarthy, Zeithaml e Bitner, para um eficiente plano de marketing turístico. De acordo com Chias (2007) o plano de marketing tem como objetivo definir as ofertas do produto atual ao mercado. Esse plano deve estar em conjunto com o plano de desenvolvimento turístico que possui os seguintes agentes sociais: os agentes do mercado; trabalhadores diretos e indiretos; poder público; população residente; e turistas (FRATUCCI, 2010).

Portanto, ao transformar os recursos turísticos em produtos, o preço deve estar integrado aos demais elementos da estratégia de marketing, e deve informar ao mercado (turistas) a seg-mentação, o valor e posicionamento pretendidos para aquela estratégia de marketing, visando a um relacionamento mais aberto entre turistas e prestadores de serviços. Uma relação estabelecida de forma mais explícita dá suporte para o alcance dos objetivos do empreendimento, reforça a imagem da segmentação pretendida e evita percepções distorcidas da imagem que a empresa quer passar através das suas estratégias. Um hostel, por exemplo, que pretende alcançar o públi-co jovem em seu modelo de negócio, pode não atingir seu objetivo se a estratégia de preço não estiver de acordo com as estratégias de marketing, pois, pode causar confusão ao público alvo e consequentemente, problemas ao negócio.

2.1 estabelecimento de Preços Pelas empresas

As empresas e os consumidores do turismo devem entender como funciona a precificação dos serviços, porém, Zeithaml e Bitner (2003) indicam que antes disso, os gerentes devem perce-ber o conhecimento do cliente sobre o preço dos serviços, compreender que existem custos não monetários para os clientes e que o preço pode indicar qualidade no serviço para o consumidor. O conhecimento do cliente sobre o preço dos serviços é a forma como os consumidores comparam os preços com os pagos pela última vez ou com mais frequência, conforme observam Zeithaml e Bitner (2003). Indicam também que o preço não é o único sacrifício que os consumidores fazem para adquirir os serviços. Questões como tempo disponível, pesquisa para selecionar o serviço desejado, custos de conveniência (pessoas com crianças de colo, por exemplo, têm mais questões a resolver para viajar do que pessoas que não viajam com recém nascidos) e custos psíquicos, pois o turista pode não entender a proposta do empreendimento, por exemplo, e ter incertezas a respeito do serviço.

O preço também pode indicar qualidade no serviço. Zeithaml e Bitner (2003) observam que quando a qualidade é difícil de mensurar, os clientes preferem se basear nos preços. Michael Keane (1997) reforça a ideia de que a qualidade nos serviços dentro do turismo é algo de difícil mensura-ção, devido às características de intangibilidade, inseparabilidade e heterogeneidade dos serviços, e por isso, há uma grande chance dos consumidores usarem o preço como indicador de qualidade.

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Quando há um indicador de preço alto, espera-se que a qualidade também esteja alta. Da mesma forma acontece ao contrário para preços baixos. As consequências para o destino turístico que não atende às expectativas tanto em preços altos, quanto em preços baixos, é o boca a boca ne-gativo e os livros/sites de opinião que avaliam os destinos e os empreendimentos turísticos, como o TripAdvisor e GuiaMaisTurismo e podem gerar uma má reputação no mercado consumidor.

Zeithaml e Bitner (2003) abordam três estruturas de precificação: baseada no custo; na con-corrência; e na demanda. Para a precificação baseada no custo, o preço é a soma de todos os custos mais a margem de lucro da empresa. Nagle e Holden (2003) identificam essa estrutura como a mais comum de precificar um serviço. Para a precificação baseada na concorrência, Zeithaml e Bitner (2003) apresentam duas situações que podem ocorrer: quando os diferentes prestadores padronizam seus serviços, como restaurantes que podem promover o mesmo cardápio de determinada culinária, e em oligopólios, como as de companhias aéreas, por exemplo. Na precificação baseada na deman-da, a forma de precificar tem fundamento no que os clientes pagarão pelos serviços prestados, rela-cionada ao valor percebido que eles possuem a respeito do serviço. (ZEITHAML; BITNER, 2003)

A seleção do preço final deve levar em consideração (KOTLER; KELLER, 2004) a influ-ência dos outros itens no mix de marketing, como propaganda, concorrência, entre outros. Outro ponto relevante são as políticas de preços da empresa, pois o preço final deve estar de acordo com essa política. Deve-se observar também o nível de relação de ganhos e riscos, pois se o consu-midor perceber um risco alto pode relutar em aceitar a oferta e, por fim, impacto sobre terceiros, em que o prestador de serviços deve estar atento às reações a preço de outras partes interessadas. Pode-se citar como exemplo, uma locadora de automóveis que define os preços finais de seus aluguéis, levando em consideração as políticas de preços da marca da qual é franquiado, os custos dos seus fornecedores, observando os preços dos concorrentes diretos, além de estar atenta ao nível de risco que o consumidor percebe em relação ao serviço final.

Em situações de redução de preços, os clientes e os concorrentes podem reagir da seguin-te forma (KOTLER; KEKLER, 2004): os clientes podem interpretar uma diminuição dos preços como substituição daquele produto/serviço por um novo (ou um novo modelo); podem imaginar que a empresa está passando por problemas financeiros; ou que a qualidade do serviço/produto diminuiu. Em casos de aumentos nos preços, pode haver retração nas vendas, mas um dos efeitos identificados pelos autores supracitados é o aumento no valor percebido pelo cliente, com uma maior expectativa de qualidade nos serviços.

Ainda segundo Kotler e Keller (2004), os concorrentes que desejam aumentar sua par-ticipação no mercado devem acompanhar as mudanças de preços. Em um caso em que houve aumento de preços, os gerentes podem aumentar o orçamento com propaganda ou com qualidade para maximizar seus lucros.

Em uma redução nos preços, o concorrente pode acreditar que a empresa está: aumentan-do mercado, assim torna o negócio rentável baseado no volume de vendas; está tendo um fraco desempenho, e reduz os preços para estimular as vendas ou desejar que todo o setor reduza os preços para estimular demanda total no mercado. O empreendimento pode reagir da seguinte for-ma: manter o preço acreditando que não perderia muito lucro e participação de mercado; manter o preço e agregar valor através de estratégias de comunicação, melhorias no produto/serviço; reduzir seu preço; aumentar o preço e aumentar a qualidade; lançar uma linha nova de produto/serviço para concorrer diretamente com o preço reduzido. (KOTLER; KELLER, 2004)

Sob a perspectiva da empresa, Kotler e Keller indicam que para que exista uma mudança de preços a empresa deve considerar:

o estágio do produto no ciclo de vida, importância na carteira da empresa, intenções e recursos do concorrente, sensibilidade do mercado a preços e qualidade percebida, comportamento dos custos em relação ao volume e todas as oportunidades que se dispõe (2004, p.457)

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A elasticidade de preço também é um item a ser considerado para entender a sensibilidade ao preço sob o aspecto do consumidor. Nagle e Holden (2003) listam dois pontos de vista da sensibi-lidade ao preço: qual marca comprar (elasticidade da escolha de marca) e quanto comprar (demanda primária). Ainda segundo os autores, medir a sensibilidade ao preço de um produto ajuda em estraté-gias de segmentos, a faixa de preço que a empresa pode trabalhar com o produto e de que forma pode influenciar o comprador através dos preços. Nagle e Holden (2003) medem a elasticidade (E) através de uma divisão da mudança percentual nas unidades vendidas sobre a mudança percentual no preço.

E = Mudança percentual nas unidades vendidas/ Mudança percentual no preço

A elasticidade da demanda é resultado dessa divisão e quanto maior o valor de E mais elástica a demanda; quanto menor o valor, menos elástica é demanda, ou inelástica (NAGLE; HOLDEN, 2003). Em termos práticos, pode-se citar o exemplo das Companhias Aéreas em que a demanda é considerada elástica. Percebe-se que o percentual nas unidades vendidas é proporcio-nal à variação no preço. Isso significa que se houver um aumento no percentual da mudança de preços, menor o valor percentual das unidades vendidas, portanto, demanda elástica. Em outras palavras, se houver diminuição dos preços, aumentam as unidades vendidas, demanda elástica. Deve-se destacar também que elasticidade de preço está relacionada à participação de mercado do empreendimento. (NAGLE; HOLDEN, 2003)

2.2 Valor Percebido - Custo Versus Benefício

Para compreender e influenciar a decisão de compra também é necessário entender como o cliente julga o valor percebido e o que pode ser feito para incorporar o valor percebi-do na precificação do serviço.

Preço pago e valor percebido são itens diferentes. Zeithaml e Bitner (2004) definem valor percebido como a avaliação geral de um consumidor baseado na percepção do sacrifício que ele vai ter que fazer para obter o serviço (Exemplo: preço, tempo, deslocamento) e na percepção da utilidade desse serviço para ele (Exemplo: benefícios, marca), ou seja, percepção do custo versus benefício no valor da aquisição de um serviço. Além disso, as autoras indicam quatro maneiras como os clientes definem valor: Valor é preço baixo, valor é tudo o que eu quero em um produto ou serviço, valor é a quantidade que obtenho pelo preço que pago e valor é o que recebo pelo que eu dou (ZEITHAML; BITNER, 2004). Na atividade turística entender valor percebido pelos clientes diferentes, de diferentes partes do mundo é um desafio ainda maior para os gerentes.

Monroe (2003) apresenta um modelo preço-valor percebido na Figura 2:

Figura 2 - Relações de preço, valor percebido e disposição de comprar.Fonte: Adaptado de Monroe, 2003;

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Com base nesse modelo (figura 2), pode-se observar que o sacrifício relacionado ao pre-ço percebido influencia a percepção de valor, assim como a qualidade e benfícios percebidos na aquisição de um serviço. Ambas as variáveis influenciam a probabilidade de comprar/pagar e as intenções comportamentais a respeito do serviço/produto.

2.3 Percepção de Justiça e injustiça em Preços

O conceito de percepção de justiça de preços é apresentado por Xia, Monroe e Cox (2004) como um julgamento sobre um resultado ou processo de se chegar a um fim razoável, aceitável ou justo, envolvendo comparação de um preço ou procedimento como referência. No atendimento ao turista pelos empreendimentos turísticos, por exemplo, um consumidor pode acreditar que o preço é justo, baseado no nível de resultado que recebe em relação ao serviço que foi prestado, se foi executado com ética, no tempo adequado e ainda com fatores indispensáveis para atividade turística, como cortesia e empatia.

Sob a perspectiva do consumidor a respeito dos preços cobrados pelos prestadores de ser-viços, a literatura lista seus antecedentes e as consequências das injustiças de preços que podem ajudar os gerentes na adoção de estratégias de marketing mais eficazes.

Segundo Mayer (2006), os antecedentes estão ligados: à inferência de custo versus lucro, significando que aumentos de preços devem ocorrer devido a aumentos no custo; inferência do motivo, pois a empresa deve justificar os aumentos de preço de forma positiva (sem ser desonesto com o consumidor); reputação da empresa, pois consumidores tendem a aceitar mais facilmente aumentos nos preços de empresas que consideram boas; satisfação, devido ao fato de que se o consumidor acredita que tem um nível de serviço adequado, ele tende a aceitar um aumento nos preços mais do que um cliente insatisfeito; normas sociais, visto que as normas relacionadas a preços podem variar de acordo com o contexto; causas e responsabilidades, em razão de que al-guns aumentos de preços não são justificados por causas da empresa e sim, pelos fatores externos (um aumento de preço sob essa circunstância pode ser considerado mais justo do que se justificas-se com fatores internos) e qualidade, porque se pode justificar um aumento nos preços se houver um aumento na qualidade correspondente.

Todos os antecedentes são aplicáveis ao analisar se o turista acredita que ocorreu injustiça na precificação do serviço. Zeithaml e Bitner (2003) indicam que conhecer as expectativas dos clientes é um importante passo para obter um bom desempenho no atendimento. Na prestação de serviços no turismo, conhecer as expectativas dos turistas de diferentes regiões do país, nacio-nalidades, culturas, não se torna uma tarefa fácil. Estudar os diferentes cenários, as percepções sobre reputação da empresa, do destino turístico para cada contexto em que os diferentes turistas se apresentam, demanda muita atenção por parte dos gerentes.

As consequências da percepção de injustiça em preços também são listadas por Mayer (2006) e podem gerar diminuição na satisfação. O cliente relaciona a percepção de justiça com o nível de satisfação; percepção de valor, aumentando o sacrifício percebido pelo preço pago, dimi-nuindo a percepção de valor percebido pelo serviço; intenções de compra, as empresas podem per-der seus clientes com a percepção de injustiça, modificando seu comportamento no caso de intenção de compra e recompra futura; boca boca negativo, importante para a atividade turística sobretudo depois de que os atrativos são avaliados na internet como no Tripadvisor e 4square; reclamações contra a empresa, em sites como os citados, no Reclameaqui e nos órgãos do governo que regulam e fiscalizam a atividade, assim como no Instituto de Defesa do Consumidor (PROCON); perda de confiança, em relação à empresa. Assim, a confiança diminui com a percepção negativa.

Listar as consequências das percepções de injustiça de preços facilita aos gerentes das organizações relacionadas ao turismo identificar quais consequências elas já sofreram com a per-cepção de injustiça, assim como dão um direcionamento mais eficaz para novas estratégias de marketing para se restabelecer no mercado.

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Vale ressaltar também, que segundo Mayer e Ávila (2014), ambientes com alto grau de dependência do serviço e relevância para atividade, são variáveis fundamentais para intenções comportamentais. Na atividade turística em que existem um alto grau de dependência de determi-nados serviços e alto grau de relevância, pode-se destacar que o comportamento do turista nesses ambientes é diretamente baseado nas percepções que tem a respeito da empresa que o fornece. Um exemplo é o Bondinho do Pão de Açúcar. O serviço é relevante para o turista que visita o Rio de Janeiro por se tratar de um ícone da cidade. Contudo, para visitar o Bondinho, há a dependên-cia do prestador de serviços, devido ao fato de que só há um operador atuando, portanto, os turis-tas que quiserem viver a experiência são obrigados a comprar os ingressos desse único prestador.

3. o turista do Bondinho e a Percepção de Preço A pesquisa realizada neste trabalho, de natureza quantitativa (LAKATOS; MARCONI, 2003) e exploratória, teve como público-alvo os turistas nacionais que tivessem realizado a visita ao Bondinho nos meses de janeiro a abril de 2015. Como instrumento foi usado um questionário com 23 questões objetivas, divididas em quatro seções: motivação, percepção de justiça de preços, percepção de valor e comportamento posterior à visita em relação ao atrativo. Foi utilizada a escala Likert, para medir o nível de concordância ou discordância de determinada afirmação, em algumas das seções (VIEIRA; DALMORO, 2008). Na seção que avaliava o conjunto de influência da de-cisão e intenções de comportamento posterior, foi usada a escala de 4 pontos (sendo 1= nenhuma influência/ muito improvável, 4= grande influência/ muito provável) e na questão de preços, a escala de 5 pontos (sendo 1= discordo totalmente/ muito injusto, 5= concordo totalmente/ muito justo).

Foram aplicados no total, 181 questionários, sendo 176 válidos e 130 que atenderam ao perfil desejado. Os filtros utilizados eram as três perguntas iniciais que selecionavam os turistas na-cionais, que haviam visitado o bondinho, nos últimos quatro meses da data da aplicação da pesquisa e que não eram moradores da cidade do Rio de Janeiro. A coleta de dados se deu de duas formas: pessoalmente na saída do Bondinho do Pão de Açúcar e arredores, e online pela plataforma Qualtri-cs Survey Software, cujo link foi divulgado em redes sociais de turismo, como grupos do Facebook. Pelo Qualtrics, a pesquisa deu-se início em 16 de abril de 2015 e terminou 07 de maio de 2015. No Bondinho, os dias de coleta dos depoimentos foram 12, 23 e 29 de abril de 2015.

Os questionários aplicados pessoalmente foram inseridos na plataforma Qualtrics para serem tabulados e unificar a totalização dos dados que foram tratados por meio de estatística descritiva.

3.1 o Bondinho do Pão de açúcar

O Rio de Janeiro figura como um destino turístico referência no contexto brasileiro, pois movi-menta um grande fluxo de turistas, tornando o turismo uma importante atividade para a economia local. A oferta de atrativos naturais e culturais é capaz de atrair não só os turistas nacionais, como também internacionais de diversas partes do mundo. A escolha do Bondinho do Pão de Açúcar deu-se, pois, pelo fato de ser um importante atrativo da cidade, bem como ser um ícone no imaginário dos turistas, constar como tal dos materiais de divulgação e comunicação do Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo.

O Bondinho foi inaugurado em 1912 e é operado pela mesma empresa até os dias de hoje, a Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar que consolidou o passeio do Pão de Açúcar como um marco turístico da cidade. Segundo o Observatório do Turismo (2013) da Universidade Fede-ral Fluminense, o bonde teve mais de 700 mil visitantes no ano de 2013, à frente de importantes atrativos como o Trem do Corcovado e o Museu de Arte Contemporânea. Segundo a Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar (2015) ficou em primeiro lugar como a atração mais comentada no Trip Advisor no ano de 2014, obtendo certificado de excelência e 96% de aprovação dos turistas.

Os morros da Urca e o Pão de Açúcar localizam-se no bairro da Urca, no Rio de Janeiro e o Bon-de tem capacidade para transportar 1360 passageiros por hora, (BONDINHO DO PÃO DE AÇÚCAR, 2015). Funciona todos os dias nos horários de 8h00 às 19h50min, com preços de R$62,00 para adultos.

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Só há um desconto de 50%. oferecido a diferentes públicos, segundo a própria compa-nhia, E promoções como o Projeto Carioquinha que concede descontos para qualquer morador do Rio ou Grande Rio. Todas as informações de preços, acesso e descontos de 50% encontram-se no site, em português, inglês e espanhol e na bilheteria.

3.2 resultados e discussão

Os resultados obtidos foram separados em quatro blocos para discussão: 1) motivação; 2) percepção de justiça de preços; 3) percepção de valor; 4) comportamento posterior à visita em relação ao atrativo.

Bloco 1: Influências sobre a motivação

Figura 3: Nível de influência na decisão de visitar o Bondinho do Pão de AçúcarFonte: Elaboração própria

A influência sobre a motivação do turista ajuda a entender a origem do nível de expectativa do turista em relação ao atrativo (figura 3). Nebra e Torres (2010) afirmam que essa expectativa é gerada pelo boca a boca, anúncios publicitários, entre outros. Esse é um dado importante para melhorar as estratégias de marketing e a reputação da empresa. Além da avaliação do nível de influência que os instrumentos de comunicação e distribuição possuíam, o questionário continha uma pergunta de pro-dução de resposta, no final, caso o respondente desejasse incluir e avaliar algum item não mencionado.

O boca a boca gerado pela recomendação de amigos ou familiares é o item que mais in-fluencia a motivação. Como o turismo é uma atividade social, cultural e econômica, o boca boca gera opiniões a respeito do atrativo, portanto, entender a motivação e suas influências deve ser predomi-nantemente uma atividade para aproximar as expectativas do turista ao que é ofertado pela empresa.

Novelas, filmes, clipes e outros materiais audiovisuais foram o segundo item mais influente na motivação. Como a imagem do Bondinho tem sido associada à promoção da cidade, em estratégias

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de comunicação e da Prefeitura e do Estado, seja dos grandes eventos (Copa do mundo e Olimpí-adas) seja como destino turístico, e nas novelas que nacionalmente influenciam o imaginário dos espectadores, há um interesse do turista, mesmo que de forma mais regular, em comparação com o boca a boca. Isto pode ser um indicativo de que esse item precisa ser mais bem trabalhado para que tenha uma influência maior sobre a motivação do turista.

Outro dado importante nesse aspecto são os itens que os turistas avaliaram que não possuem nenhuma influência na visita, que são os guias turísticos impressos sobre o Rio de Janeiro. Por fim, 60% dos turistas avaliaram que ter visitado o Bondinho antes não exerceu influência sobre a motivação, o que pode indicar que muitos desses turistas realizaram o pas-seio pela primeira vez.

Pode-se destacar o item que diz que o Bondinho é um ponto turístico relevante, refor-çando a ideia de que o boca boca é influente na decisão do turista, pois há uma relação com a reputação do atrativo como parte importante do destino turístico do Rio de Janeiro, que o torna indispensável aos turistas que visitam a cidade.

Bloco 2: Percepção de justiça de preços

Tabela 1 - Avaliação dos preços praticados no Bondinho

Fonte: Elaboração própria

Essa é a questão foco desse trabalho, pois avalia a percepção de justiça do preço do ingresso e também os produtos de alimentação (tabela 1). No ingresso cobrado, há uma di-visão entre os que acham o preço justo e injusto. Se se somar a parcela de turistas que acha muito injusta e injusta, tem-se 43,1% do total de turistas respondentes. A parte que avaliou como justo e muito justo, somadas, fica com 43%. Os resultados até agora indicam que pelo menos 43% dos turistas gostariam que o preço cobrado pelo ingresso fosse mais barato, item com a menor avaliação. Para os itens de alimentação, a avaliação dos preços é considerada injusta, pois, se obser-var a soma dos itens muito injusto e injusto, tem-se 49,3% dos turistas avaliando como injustos os itens de alimentação. Na justiça percebida, a soma dos itens justo e muito justo representa a opinião de 18,5% dos visitantes. Os efeitos dessa avaliação podem gerar, segundo Mayer (2006), um boca a boca negativo e emoções negativas dentro do atrativo.

Bloco 3: Percepção de valor

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A figura 4 contém a avaliação dos turistas nacionais em relação à percepção de valor da experiência vivida no Bondinho.

Figura 4: A experiência vivida no Bondinho do Pão de Açúcar vale o que é pago por ela Fonte: Elaboração própria

A avaliação direta do custo versus benefício que o turista tinha ao visitar o Bondinho revelou que: 78% dos turistas acreditam que a experiência vivida no atrativo vale o que eles investiram (figura 4). Lembrando que essa não é uma avaliação somente de preços, pois há um investimento financeiro, cognitivo e psicológico (NEBRA; TORRES, 2010), e no caso do turismo, há também um custo muito relevante de tempo e deslocamento, baseado na própria definição de turismo.

Bloco 4: Intenções de comportamento

A tabela 2 indica a probabilidade dos turistas nacionais adotarem um dos comportamen-tos listados no questionário depois da visita ao Bondinho.

Tabela 2: Probabilidade de adotar um dos comportamentos listados depois da visita

Fonte: Elaboração própria

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Mayer (2013) também indica que as intenções de compra são afetadas pela percepção de justiça de preços. Todos os turistas responderam a essa questão do questionário e como as avaliações foram positivas, consequentemente as intenções de compra e recompra também tiveram boas avalia-ções dos turistas. Do total de turistas participantes, 97% disseram que provavelmente ou muito pro-vavelmente, pretendem recomendar o passeio para outras pessoas. Um índice altíssimo de aceitação, que gera um boca boca a respeito do atrativo. Dos respondentes, 83,1% alegaram que provavelmente ou muito provavelmente farão comentário sobre as experiências, nas redes sociais. Comparando as duas primeiras intenções comportamentais a respeito do passeio, o boca boca feito de maneira pes-soal e diretamente tem maior probabilidade de acontecer do que o virtual, ainda que as duas tenham possibilidade alta de serem executadas até mesmo em conjunto. As intenções de recompra foram ma-nifestadas por 78,4% dos turistas, o que também é uma avaliação positiva para um serviço turístico.

4. Considerações Finais

O Bondinho do Pão de Açúcar representa um importante atrativo na oferta turística do Rio de Janeiro, e entender melhor as percepções do turista a esse respeito, ajuda os gestores pú-blicos e privados a formatar uma atividade que atenda à demanda turística e suas necessidades, tendo em vista o potencial turístico do atrativo.

A principal discussão que perpassa este estudo está relacionada às relações que a percep-ção de preços possui e as possíveis consequências que pode gerar para o atrativo/empreendimen-to. Um dos achados nesta pesquisa é que os grandes influenciadores da visita do Bondinho são re-comendações de amigos e/ou familiares e novelas, filmes, clipes e outros materiais audiovisuais. Em relação aos preços do ingresso, na percepção de justiça, há uma divisão entre os que acham o preço justo e injusto. Na avaliação do custo versus benefício, o serviço prestado vale o que os turistas investiram, e a percepção de qualidade é compatível com o preço cobrado pelo Bondinho.

As intenções de comportamento indicam que o boca a boca é o principal comportamento dos turistas com respeito às experiências positivas ou não, que tiveram no Bondinho, indo ao encontro da quantidade de opiniões que foram geradas nos sites TripAdvisor e no Guia Melhores Destinos, dando destaque para a prestação de serviços e a oferta do empreendimento turístico.

A avaliação dos preços neste estudo sofre influência de variáveis como: a intangibilidade dos serviços no Bondinho, pois, mesmo que o valor percebido esteja alto, o consumo ocorre no dia da visita; e a não sensação de continuidade para o turista. Um souvenir que ele pudesse levar pra casa, como em alguns parques de diversões famosos como a Disney, em que os visitantes le-vam bottons dos personagens, daria a sensação de continuidade ao turista, aumentando ainda mais o valor percebido e diminuindo a diferença na percepção de preços. Outro item que influencia a percepção de preço é o fato das pessoas estarem num atrativo altamente dependente da empresa que opera o Bondinho (monopólio) e pode modificar as intenções comportamentais dos consumi-dores. Nesse ambiente, portanto, é fundamental que o ingresso do Bondinho esteja acompanhan-do a percepção dos preços dos turistas e visitantes.

Nos itens de alimentação há necessidade de mudança nos preços. Como a empresa do Bondinho não tem autonomia para estabelecer os preços dos itens de alimentação, as estratégias adotadas podem ser a de adoção de parcerias e subsídios para ajudar os empreendedores a ter uma margem maior para trabalhar seus preços e atender à exigência dos turistas.

Espera-se que os achados deste estudo colaborem para a melhoria do relacionamento da empresa administradora com os turistas, como atrativo mais visitado e ícone da cidade do Rio de Janeiro e que novas pesquisas acadêmicas sejam desenvolvidas não só para aprimorar o enten-dimento da percepção de preços e do comportamento do consumidor no turismo, mas em outros atrativos e no destino de forma geral.

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referências

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resumo

Este artigo tem por objetivo identificar as principais motivações que levam um turista backpacker a visitar o bairro de Santa Teresa, localizado na cidade do Rio de Janeiro, na tentativa de descobrir se o patrimônio cultural do bairro pode ser um dos fatores motivadores. Por meio da revisão de literatura sobre o tema pro-posto e pesquisas em dados secundários para verificar a taxa de ocupação dos hostels em Santa Teresa, fo-ram elaboradas questões para realizar entrevistas em profundidade com turistas backpackers. Os resultados indicam que os mochileiros, hospedados em Santa Teresa, se agradam por destinos que possuem eventos e diversão noturna, e possuíam um conhecimento prévio do bairro, utilizando termos que fazem referência ao patrimônio cultural ali existente.

Palavras-chave: Mochileiro. Motivação. Santa Teresa. Rio de Janeiro.

abstract

This article aims to identify the main motivations that leaves a backpacker tourist to visit Santa Teresa, loca-ted in the city of Rio de Janeiro in the attempt to discover if the cultural heritage of the neighborhood could be one of the motivating factors. Through literature review and desk researches to verify the occupancy rate of the hostels in Santa Teresa, it was prepared questionnaires to conduct interviews with backpackers. The results reveal that the backpackers who were staying in Santa Teresa appreciate destinations that have events and nightlife, and had previous knowledge of the neighborhood, using terms referring to the cultural heritage.

Keywords: Backpacker. Motivations. Santa Teresa. Rio de Janeiro.

Paula Nascimento¹Joana Passos²

¹ [email protected] / (21) 96911 – 6011²[email protected] / (21) 97584-4685

turistas Backpackers no Bairro de santa teresa, rio de Janeiro

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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1. introdução

O turismo é um fenômeno caracterizado pelo deslocamento de pessoas ao redor do mun-do que é muito afetado por sazonalidade e tendências. O turismo além de envolver o deslocamen-to dos indivíduos, envolve também suas motivações, e as motivações variam de indivíduo para indivíduo, tendo assim viagens com objetivos diferentes. As viagens podem ter diversas finalida-des como lazer, estudos, peregrinação, busca de autoconhecimento, dentre outras. Dependendo do objetivo, as viagens são caracterizadas como segmentos de turismo. É comum um determinado segmento do turismo se expandir e se tornar popular para determinado público.

Há diversos tipos de segmentos de turismo, sendo um dos que mais despertam curiosi-dade e interesse no público jovem, o turismo backpacker, caracterizado por viagens de longos períodos, viajantes jovens que carregam consigo mochilas de tamanho grande e que têm maior contato com a cultura dos locais que visitam. (OLIVEIRA, 2007).

Apesar de ser um segmento no qual os praticantes optam por economia no roteiro, é um estilo de viagem que tem sido adotado por um número significativo de pessoas, se consolidando como uma tendência importante no cenário do turismo e um mercado a ser explorado no país.

Hecht e Martin (2006), baseados em estimativas da Organização da Federação Interna-cional de Viagens da Juventude (na sigla em inglês, FIYTO), comentam que o turismo backpa-cker apesar de ter como característica o pouco gasto de seus adeptos com transporte e hospeda-gem, gera mais de US$ 8 bilhões de receita ao redor do mundo, o que dá ideia da importância do segmento no cenário mundial.

Segundo o Estudo da Demanda Turística Internacional no Brasil, encomendado pelo Mi-nistério do Turismo à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, o interesse de estrangeiros por hospedagens de baixo custo, onde é comum encontrar mochileiros, como os albergues e cam-pings aumentou de 1,6% em 2004 para 4,3% em 2010, e o faturamento desses tipos de meio de hospedagem chega a R$35 milhões ao ano (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2012) .

Apesar do crescimento do segmento, nota-se na literatura nacional incipiência de pes-quisas produzidas sobre as motivações desses turistas. Assim, o objetivo geral deste trabalho é identificar a principal motivação dos mochileiros para escolherem o bairro de Santa Teresa, loca-lizado na cidade do Rio de Janeiro, como destino turístico. Como objetivos específicos, tem-se: identificar o perfil dos mochileiros que se hospedam em Santa Teresa; e identificar se esse turista já possui conhecimento sobre o patrimônio histórico-cultural do bairro.

A metodologia aplicada para a realização desta pesquisa descritiva contém uma pesqui-sa de campo de caráter qualitativo, realizada com turistas backpackers que estavam hospedados nos albergues de Santa Tereza. Foram realizadas entrevistas em profundidade com objetivo de obter informações que ajudem compreender a motivação dos turistas backpackers para a esco-lha do bairro de Santa Teresa.

2. Turismo Backpacker: Conceitos e Perfil do Praticante Definir os mochileiros é complexo, pois mesmo sendo um único segmento, possuem carac-terísticas diferentes, sendo assim são marcados pela heterogeneidade. Porém, é possível identificar as principais características no intuito de estabelecer um parâmetro para o segmento. (REBELO, 2012). Há opiniões diversas sobre o surgimento do turismo backpacker. Cohen (1973) acredita que as primeiras viagens de turismo backpacker surgiram a partir do fenômeno do Grand Tour, que era uma viagem feita pela classe-média alta pela Europa, por volta do século XVIII, com o objetivo de enviar seus filhos para prepará-los para o comando político e intelectual. Por outro lado, Aldler (1985) observa que esse segmento surgiu a partir de peregrinações da jovem classe trabalhadora dos séculos XVII e XVIII, uma vez que trabalhavam de vila em vila e durante a viagem se divertiam.

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Os turistas backpackers, o foco deste trabalho, se encaixam perfeitamente no perfil de turista alocêntrico, pois esses optam por explorar destinos pouco conhecidos, buscando locais diferentes da sua residência, mesmo que demandem uma viagem longa, com meios de transportes que não são de qualidade. Procuram não planejar a viagem e entrar em contato com o ambiente e a população local. São pessoas geralmente extrovertidas que procuram aproveitar ao máximo o local a visitar, adequando seu roteiro de acordo com suas descobertas (FRATUCCI, 2008).

Segundo Rebelo (2012), o turismo backpacker (ou turismo de mochilão) é um segmento do turismo que está em crescimento no mundo todo, sendo uma tendência que atrai principal-mente o público jovem com o espirito aventureiro. Possui esse nome devido aos praticantes dessa modalidade de turismo terem o hábito de carregar uma mochila grande. Esse segmento pode ser definido quando os turistas pernoitam ao menos uma noite em albergues e seguem uma agenda flexível e independente, já que não planejam e nem seguem nenhum roteiro rigorosamente, dando ênfase a atividades informais. As viagens são normalmente longas e procuram manter o contato com a população residente e os demais viajantes.

Os backpackers costumam ser jovens, normalmente realizando viagens após a formatura acadêmica, devido ao tempo livre. Viajam de forma independente, na maioria das vezes, sozinhos, pois é difícil encontrar parceiros com tempo livre, em busca de maior interação com a população local. Embora optem por meios de hospedagens e transportes mais baratos, por darem mais valor à segurança e limpeza que ao luxo, o valor gasto no destino se torna alto devido ao tempo que per-manecem na cidade. Além disso, possuem capacidade de comunicação e respeitam as diferenças, pois acabam iniciando conversas com estranhos com facilidade e lidam com culturas diferentes, além de se inserirem temporariamente nessas culturas. (REBELO, 2012)

2.1. Motivação Geral de Viagens dos Backpackers

Monteiro (2011) aponta que o desejo de liberdade pode ser considerado o estopim da viagem dos mochileiros, pois embora planejem ir para o local, não se prendem a um roteiro e podem até mesmo prolongar a viagem quando desejam. A busca pelo conhecimento, que pode ser adquirido na viagem, também se encaixa como fator motivador, pois ao explorarem um território desconhecido, interagem com a população e consequentemente trocam experiências. Além disso, “mochilar” pode trazer conhecimento pessoal para quem o pratica já que esse tipo de turista costuma viajar sozinho.

A ideia da viagem como instrumento de aquisição do conhecimento, assim como caminho para a autorreflexão, também figura como um dos principais elementos motivadores do deslocamen-to. A saída de seu ambiente familiar, da rotina, somada à viagem feita de forma independente, põem o sujeito em comunicação com ele mesmo. São muitos os relatos, por exemplos, de via-jantes que se sentiram estimulados a olhar para si mesmo a partir de um olhar dirigido ao outro. Peregrinações, também nesse sentido, podem ser consideradas como espaços propícios à refle-xão numa atmosfera de suspensão da vida ordinária destes sujeitos. (MONTEIRO, 2011, p.).

O turismo backpacker possui como objetivo principal obter trocas de experiências com a população residente ou com os demais viajantes que estão no local. Procura-se observar a todos com quem mantêm contato com o intuito de melhor compreender o modo de vida da população e consumir produtos fabricados pelos moradores residentes a fim de estimular a economia da cida-de. O principal público do turismo backpacker são jovens que pretendem realizar viagens longas e com orçamento limitado. Por se tratar de um público geralmente pouco exigente e descontraído, optam por divertimentos noturnos e realizam um forte marketing boca-a-boca, já que costumam narrar a viagem para amigos e familiares, motivando-os a viajar também (GUIARETTA, 2003).

Ao viajar não buscam luxo e optam por se hospedar em albergues, campings ou até mes-mo em couchsurfing, uma rede social colaborativa em que as pessoas oferecem suas casas e seus “sofás” para viajantes independentes. (GUIARETTA, 2003).

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Pode-se dizer que o turismo backpacker é um segmento que vai numa vertente contrária ao turismo de massa, um turismo alternativo a esse praticado por milhões de turistas que viajam, ano após ano, para destinos já consolidados, sem intenção de ter contato com a realidade ou apenas para tirarem fotos e mostrarem aos familiares e amigos. Ruschmann (2002, p. 102, apud REBELO, 2012) comenta que “o turismo alternativo caracteriza-se pelo pequeno porte dos equi-pamentos tanto de hospedagem, como de transporte”, sendo assim, um turismo com pouco luxo exigido por parte de seus praticantes.

3. o Bairro de santa teresa / rJ

O bairro de Santa Teresa está localizado na região central do município do Rio de Janeiro, localizado no alto de uma serra, entre as zonas sul e o centro da cidade do Rio. Possui área total de 5,7 km² e altitude máxima chegando a 362 metros. Antigamente o bairro levava o nome do Morro do Desterro e foi alterado para Santa Teresa devido ao convento feminino Santa Teresa de Jesus, lá instalado em 1750, dedicado à Santa Tereza d’Ávila e abrigo da ordem das Teresianas ou Carmelitas Descalças. Era habitada pela classe alta, por isso possui casarões e mansões que atraem pessoas até hoje. (INVENTÁRIO TURÍSTICO DE SANTA TERESA3).

O bairro é famoso por possuir não apenas construções históricas do século XIX, mas tam-bém casarões elegantes que foram construídos até os anos 1940, e também por ter sido o último bairro da cidade a fazer uso de pequenos veículos leves sob trilhos, os bondes, que circulavam pelas ruas. Seu funcionamento foi interrompido em 2011 devido a um acidente. Atualmente obras estão sendo realizadas para que seu retorno possa ser viabilizado.

Por ser um bairro com uma quantidade considerável de construções históricas, pelo cir-cuito do bonde, pela fama de abrigar artistas e intelectuais, pela sua atmosfera bucólica, além de diversas opções gastronômicas e culturais, Santa Teresa desperta curiosidade por parte de muitos turistas que visitam a cidade do Rio de Janeiro, o que mostra o potencial turístico da localidade.

Santa Teresa possui vários atrativos com potencialidade turística. Possui sete largos e praças: Largo do Curvelo, Largo das Neves, Largo da França, Largo dos Guimarães, Mirante do Corpo de Bombeiros, Mirante do Rato Molhado e Praça Odylo Costa Neto. Além disso, o bairro possui um forte apelo cultural que pode ser caraterizado como um ponto forte para o turismo. Apesar de ser um bairro tranquilo, está localizado próximo à Lapa, bairro carioca com diversos bares e boates que atraem aqueles que procuram diversão noturna. Sendo assim, Santa Teresa pode atrair turistas com perfis e características variados, inclusive mochileiros, foco deste estudo.

3.1. Patrimônio Cultural

Oliveira (2011) traz reflexões sobre os significados de patrimônio ao longo do tempo. A princípio, o termo era usado para designar os bens da família, herança e posses. Atualmente, o ter-mo está relacionado ao “bem ou conjunto de bens naturais e culturais de importância reconhecida num determinado lugar, região, país ou mesmo para a humanidade, que passam por processo de tombamento para que sejam protegidos e preservados.” (OLIVEIRA, 2011, p. 4).

O patrimônio pode ser natural ou cultural. Ao patrimônio cultural é associado um conjun-to de valores, como beleza, antiguidade, identidade, estética, curiosidade, entre outros, os quais foram sendo agregados nos últimos séculos (OLIVEIRA, 2011, p. 4). Assim, de acordo com Oli-veira (2011), o patrimônio cultural é entendido como “monumento histórico-cultural, de interesse dos Estados-nação, representativo da identidade nacional que se desejava consolidar; posterior-mente, passou a representar culturas” (p. 4). Segundo o site oficial do Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional (IPHAN), Santa Teresa possui como patrimônio cultural: o caminho do bonde, o próprio bonde, o Museu da Chácara do Céu, a Chácara do Céu e a Escadaria Selarón.

3 Disponível em: http://www.inventarioturistico.com.br/santateresa/fichatecnica.asp

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O primeiro sistema de bondes da cidade do Rio data de 1872, que ligava o Largo do Carmo (atual Praça XV de Novembro) ao Largo da Lapa e à Rua do Riachuelo. Em 1877, o bondinho galgou as encostas do morro de Santa Teresa e atingiu a rua Almirante Alexandrino, eixo viário principal da localidade. Em 1895, foi inaugurado o ramal que atinge o largo do Cur-velo, passando por cima dos arcos da Lapa.

Vale ressaltar que até então, a tração dos bondes era feita por animais, principalmente cavalos, mas em 1896, a tração animal foi trocada pela tração elétrica, o que permitiu que a linha do bonde se expandisse para o Largo do França, Lagoinha, Paula Mattos e Silvestre. (In-ventário turístico de Santa Teresa4)

Os bondes foram tombados como bem cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), pela Resolução nº 047 de 25 de março de 19885, e o Sistema de Bondes de Santa Teresa, constituído pelo caminho do bonde, identificado pelo seu traçado que vai desde o Largo da Carioca até o Largo dos Guimarães onde há a bifurcação para o Silvestre e para o Largo das Neves tombado, em caráter provisório, pelo IPHAN, em 20125.

Segundo dados do Inventário Turístico de Santa Teresa, Castro Maya herdou em 1936 a Chácara do Céu, local onde residiu até o ano de sua morte. No Brasil, o empresário foi o pri-meiro a tornar sua coleção particular, aberta para o público, criando a Fundação Castro Maya, à qual doou sua coleção e suas casas, atualmente conhecidas como Museu do Açude, localizado na Floresta da Tijuca, e Chácara do Céu, localizada em Santa Teresa. Suas casas iniciaram seu fun-cionamento como museu em 1962 e foram tombadas pelo IPHAN, em 19726.

A Escadaria Selarón é uma obra do artista chileno Jorge Selarón, que começou o pro-cesso de renovação, no ano de 1990, projeto esse que levou o artista a gastar a maioria de suas economias. A obra acabou por tornar-se um dos maiores cartões postais da cidade e já foi alvo de diversas reportagens e cenário para clipes de artistas internacionais como Snoop Dogg. Liga o bairro da Lapa ao bairro de Santa Teresa e foi tombada pela Prefeitura do Rio, em 20057 por interesse histórico. O artista recebeu o título de cidadão honorário do Rio.

4. Metodologia

Optou-se por realizar uma pesquisa de caráter qualitativo, pois após efetuar uma pesquisa no site Booking.com, com o objetivo de observar a taxa de ocupação dos albergues de Santa Te-resa, constatou-se que não seria possível aplicar uma quantidade significativa de formulários que validassem o trabalho de forma quantitativa. Sendo assim, entrevistas em profundidade com os turistas backpackers seriam o mais viável para alcançar os objetivos da pesquisa.

A razão de escolha de local e data ocorreu com base em pesquisas sobre a taxa de ocupação no site Booking.com e opiniões no TripAdvisor, optando-se então, pelos seguintes albergues: Rio Fo-rest Hostel, Bossa in Rio Hostel, Mambembe Hostel e Rio Hostel Santa Teresa. Escolheu-se também hostels que não fossem distantes um dos outros, pois a coleta seria feita por apenas dois pesquisadores.

Desta forma todos os locais escolhidos situavam-se na Rua Joaquim Murtinho, em Santa Teresa/RJ. O mesmo ocorreu com as datas, o sábado era o dia da semana em que a taxa de ocupa-ção estava maior, por isso a pesquisa foi realizada em dois sábados: 23 de maio e 06 de junho de 2015. Fez-se a coleta também na data de 28 de maio, uma quinta-feira, que de acordo com o site Booking.com, estava com uma taxa alta de ocupação.

4 Informação disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/3875 Informação disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=16531&sigla=Noti-cia&retorno=detalheNoticia6 Informação disponível em: http://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/scpro1316.nsf/249cb321f1796526032577 5900523a42/d05f098d4496ac6383257d79005177a0?OpenDocument&Start=1&Count=100&Collapse=1.1.17 Informação disponível em: http://www.inventarioturistico.com.br/santateresa/r_instcult.asp?cat=2&n=6

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Como a maioria dos albergues oferece café da manhã aos hóspedes e os mochileiros normal-mente optam por acordar cedo para ter mais tempo para aproveitar o destino, foram escolhidos três hos-tels próximos que, segundo o Booking.com, tinham a taxa de ocupação maior na época de realização da pesquisa. Foi feito contato telefônico com os hostels para verificar o horário em que o café da manhã era oferecido. Nesta etapa, as pesquisadoras se dividiram e ficaram em frente aos hostels esperando que os backpackers saíssem para abordá-los e realizar as entrevistas, pois dessa forma seria possível saber que estavam realmente hospedados em Santa Teresa e em um meio de hospedagem normalmente escolhidos pelos backpackers. Para se certificar que o entrevistado fazia parte do público-alvo, o questionário utili-zado iniciava-se com perguntas que ajudariam a traçar o perfil do entrevistado (Tabela 1). Além disso, foi incluída uma questão que continha a definição de mochileiro, segundo Oliveira (2007) - Backpacker é a denominação mais utilizada globalmente para descrever os turistas que organizam suas viagens de forma independente, flexível e econômica, por períodos longos em que buscam conhecer vários destinos.” - para perguntar em seguida se o entrevistado se considerava um mochileiro e por quê?“

Para que o entrevistado tivesse maior visualização dos atrativos (ou patrimônio) e não ocorrer de conhecer o local e não saber seu nome, como acontece com alguns turistas, optou-se por utilizar fotos dos atrativos e patrimônio, desta forma não restariam dúvidas sobre o local, bem como se os entrevistados se interessaram pelo atrativo ou pelo patrimônio de Santa Teresa.

5. resultados e discussão

Nesta seção serão apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir das entrevistas realiza-das com os mochileiros, dividindo-os da seguinte forma: perfil; motivação; identidade backpacker; gasto médio; patrimônio cultural; e atrativos.

Conforme pode ser observado, na tabela 1 estão listados os respondentes, traçando o perfil dos turistas backpackers entrevistados, contendo o sexo, nacionalidade, idade, renda familiar mensal, quantidade de vezes que visitou a cidade, com quem está visitando o bairro e o tempo de permanência.

Perfil

Tabela 1 - Perfil dos turistas backpackers entrevistados.

Fonte: Elaboração própria

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Como se pode observar na tabela 1, os mochileiros entrevistados são, em sua maioria, turistas nacionais, predominantemente na faixa dos 20 aos 30 anos, sendo sete homens e seis mu-lheres, viajam sozinhos ou com amigos, permanecem no local por um período de quatro a dez dias, possuem renda mensal de quatro a seis mil reais e para a maioria essa é a primeira visita ao Rio.

Motivação

Para abordar esta questão optou-se pela utilização de fotos que ilustravam turistas back-packers em diferentes situações e destinos. O entrevistado deveria escolher as imagens com as quais mais associavam as suas motivações para viagens, seria possível escolher mais de uma foto.

Foto E: Festival realizado no Bairro Fonte: Google imagens, 2015

As fotos mais escolhidas foram as que retratavam um festival (referida pelos entrevista-dos como E), que foi associada à vida noturna e aos festivais.

identidade Backpacker

A maioria dos entrevistados afirmou se considerar um mochileiro, pois prefere não se prender a roteiros específicos, tendo liberdade pra conhecer a cidade da maneira que preferir, optando por meios de hospedagem mais baratos, já que é necessário apenas um lugar para dormir. Viajar sozinho não é um problema, pois buscam interagir com a população local, assim não se sentem solitários. Como afirma um dos entrevistados:

“É, eu não me importo de viajar sozinha, as amizades que ganho no final recompensam a solidão, tem muita gente que viaja com amigos mas no final se sentem sozinhos, comigo isso não acontece. Odeio pacotes de viagens, eles te limitam muito, gosto de fazer o que me der vontade.”

Apenas uma das entrevistadas não se considera uma turista backpacker. Ela afirma que “Não necessariamente [me sinto turista backpacker], viajo de muitas formas diferentes. Dessa vez quis fazer algo diferente com minhas amigas.”

Para essa entrevistada, a identidade backpacker não influencia sua escolha de meio de hospedagem, nem tampouco sua forma de viagem. É classificado por ela como uma prática “dife-rente” do que costuma fazer.

Gasto Médio

O gasto médio no bairro de Santa Teresa/ RJ foi semelhante, pois todos apresentavam a intenção de gastar o menor valor possível no bairro, mesmo aqueles que possuíam uma quantia significativa de dinheiro para ser gasta na viagem. Como declarou um dos entrevistados: “Eu te-nho 1000 dólares pra gastar aqui, se for menos que isso ótimo só não pode passar. Aqui pode ser até 100 dólares, mas não deve chegar a isso tudo.”

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Patrimônio Cultural

Dos entrevistados, a maioria demonstrou possuir algum conhecimento prévio sobre o bairro antes de optar por nele se hospedar. Ao serem questionados sobre o que conheciam no bairro, disseram:

“Já sim, vim aqui na minha última viagem com alguns amigos que disseram que o bairro tinha um lugar com uma vista linda (Parque das Ruínas). Aí eu conheci o bairro e achei muito aconchegante e com cara de cidade antiga. Dá pra ver que o pessoal é simpático. Gostei de primeira.”

“Me falaram que era um bairro bem bucólico, cheio de construções históricas. Pelo o que eu vi é assim mesmo. Muito interessante, nem parece que estou em uma cidade grande”

“Até ouvi, mas nada que me fizesse sentir vontade de visitar o bairro, foi mais da estrutura em si que parece que está fora da cidade, da tranquilidade, coisas assim.”

“Li que é um bairro meio histórico e seguro, acho que só isso que tinha ouvido falar.”

Nota-se que foram utilizadas expressões como “bairro histórico”, “bucólico”, “cara de cidade antiga”, “parece que está fora da cidade”, todas são expressões que podem ser associa-das a patrimônio cultural, pois segundo Oliveira (2011), o patrimônio deve ser um elo subjetivo capaz de mediar a vida pós-moderna com hábitos do passado, um interlocutor entre o passado e o presente, uma vez que conservado, carrega consigo simbolismos e sentimentos de outrora. Logo, mesmo sem serem questionados diretamente sobre o tema, o patrimônio se mostrou pre-sente nas suas percepções.

Ao serem questionados, através de fotos, sobre quais atrativos já tinham sido visitados no bairro e quais tinham a intenção de visitar, todos apontaram a Chácara do Céu, um dos pa-trimônios culturais do bairro. Outro patrimônio também apontado pela maioria foi o Museu da Chácara do Céu. O que fortalece a hipótese de que o patrimônio cultural do bairro é um atrativo.

atrativos Culturais

Nesta etapa da entrevista optou-se primeiro pela apresentação de imagens que retratam turistas backpackers visitando diferentes tipos de atrativos. A escolha foi feita para exemplificar locais que são visitados por turistas backpackers, que em última análise retram suas motivações na escolha dos destinos para onde viajam. São fotos retiradas do site Google imagens:

Figura A- Destinos frios / com neve. Figura B - Sol e Praia. Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

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Dos 13 entrevistados, 5 citaram a foto D como fator motivacional, porém os turistas que a escolherem teceram poucos comentários sobre o porquê, deixando para justificar com base em outros pontos de interesse, uma vez que a maioria que escolheu essa foto, também apontou outras. Assim, o interesse em relação a atrativos culturais está presente, mas não é tido como o mais importante.

Somente um entrevistado citou a foto D diretamente como fator motivacional: “a foto D principalmente, gosto de coisas culturais, museus, coisas assim.”

As fotos A, B e C obtiveram o mesmo número de votos. Logo, é possível afirmar que esses turistas se interessam por estar em contato com a natureza e também por realizar atividades que fujam do cotidiano e que não sejam programadas:

É possível perceber, analisando as respostas, que um dos motivos citados pelos turistas para escolherem a foto E é a possibilidade que a vida noturna proporciona para estar em contato com a população local, elemento muito procurado por turistas backpackers:

“E sem dúvidas, é uma boa chance de conhecer a população local, descobrir coisas novas. Co-nheci gente em bares e festivais de lugares que viajei que tenho amizade até hoje. Mas as outras fotos também me agradam.”

Na etapa seguinte, foram utilizadas fotos dos atrativos presentes no bairro, e assim identi-ficar os que mais se destacaram para os entrevistados, sendo posteriormente relacionados com os fatores motivacionais. São eles:

Figura C - Contato com a natureza. Figura D - Atrativos Culturais. Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

Figura E - Festivais e vida noturna.Fonte: Google imagens, 2015

Figura A.1 - Parque das Ruínas Figura B.1 - Igreja de São Paulo.Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

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Os atrativos mais visitados pelos turistas até o momento da entrevista foram o Parque das Ruínas, o Jardim da Chácara do Céu, Bar do Gomez, Escadaria do Selarón, Largo do Curvelo e Largo dos Guimarães.

O Parque foi a antiga residência de Laurinda Santos Lobo, um personalidade no cenário modernista e que transformou seu palacete em ponto de encontro, tendo sido frequentado por outras personalidades da época como Tarsila do Amaral e João do Rio8. Hoje é um centro cultural e de lá se pode ter uma vista panorâmica da cidade.

O Museu e Jardim da Chácara do céu são patrimônios culturais do bairro já descritos. A Escadaria Selarón também é um patrimônio tombado. Já o Bar do Gomez, também conhecido como Armazém São Thiago, se trata de um antigo armazém presente no bairro desde 1919, transformado

8 Disponível em: http://www.inventarioturistico.com.br/santateresa/informacoes_basicas.asp?cat=25&n=7

Figura C.1 - Jardim da Chácara do Céu. Figura D.1 - Largo dos Guimarães.Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

Figura E.1 - Museu Casa de Benjamin Constant. Figura F - Museu do Bonde.Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

Figura G - Escadaria Selarón. Figura H - Centro Cultural Laurinda Santos Lobo.Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

Figura I - Cine Santa. Imagem J - Bar do Gomez.Fonte: Google imagens, 2015. Fonte: Google imagens, 2015.

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em bar na década de 1970, devido aos novos hábitos de consumo trazidos pela implantação de supermercados. O local ainda mantém as características da época da fundação, sendo assim um ponto tanto de interesse social quanto histórico.

Portanto, deve ser pontuado o que os locais citados têm em comum. Todos os atrativos mais visitados são caracterizados por seu aspecto antigo e de conexão e representação de uma época não mais existente, com exceção da Escadaria Selarón, o que leva a pressupor a importân-cia dos aspectos estéticos e visuais do ambiente para o turista.

Um dos pontos mais interessantes do turismo é a influência que alguns meios visuais exercem sobre as pessoas, como as fotografias, programas de televisão e filmes, por exemplo. Essas influências, segundo Urry (2001), são representações ideais da vista e o que ela internaliza e, mesmo quando não se consegue “ver” a beleza natural, pode ainda senti-la.

Ainda segundo Urry (2001), há distinções entre as representações e a realidade, que, com a pós-modernidade, ganharam um relacionamento mais próximo, com significações que são cada vez mais figurativas ou visuais, em contraponto às significações exercidas pelas músicas ou por palavras, pois estas não têm a vantagem de exibir a beleza do que tratam.

Santa Teresa é um dos principais cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, seja pelo estilo de vida, a possibilidade de “respirar” ares de um Rio antigo, a sensação de estar nos séculos XIX e XX, em pleno século XXI, a beleza das casas. Segundo a proposta supracitada de Urry (2001), tudo isso remete a uma representação do bairro, descrita em palavras, talvez não suficientes para atrair a atenção de um turista que nunca tenha ouvido falar do bairro, mas que teriam muito mais força se fossem usadas imagens para justificar as palavras empregadas para descrever as belezas do bairro.

Considerações Finais

De acordo com os resultados apresentados, pode-se concluir que o turista backpacker, que se hospeda no bairro de Santa Teresa, tem como principais motivações em suas viagens conhecer a população local, estar em contato com a natureza, não realizar uma viagem engessada nos padrões oferecidos por agências ou rigorosamente programada, conhecer a vida noturna do destino e visitar atrativos de interesse cultural. Confrontando essas informações com os objetivos deste estudo, po-de-se afirmar que a motivação para se hospedar nesse bairro, de certa forma, estaria ligada ao seu patrimônio cultural. Em relação ao conhecimento prévio do patrimônio cultural do bairro, pouco foi exposto, entretanto ao serem questionados sobre os atrativos visitados e aqueles que tinham interes-se em visitar, a maioria se tratava de atrativos de interesse culturais e/ou patrimônios tombados. O que corrobora a percepção de que se trata de pontos geradores de interesse. Além disso, ao descre-verem suas impressões sobre o bairro, apontaram de maneira positiva, seu aspecto histórico.

Abordando a questão identitária do termo turista backpacker, todos os entrevistados, com exceção de um, se consideram assim e afirmam que a definição apresentada para ilustrar suas maneiras de viagens corresponde a suas práticas. O que demonstra a importância da identificação de estilo de vida para este segmento.

Pela pesquisa observou-se que o patrimônio cultural não é a razão principal da atrativida-de pelo bairro, sendo assim poderia haver uma maior divulgação ou estímulo para que o patrimô-nio se tornasse seu maior destaque.

Espera-se que este estudo possa estimular outros pesquisadores a desenvolverem novas pesquisas sobre a atratividade do bairro, seu patrimônio cultural, bem como sobre o segmento backpacker, fornecendo subsídios à literatura específica e àqueles que têm a responsabilidade e a função de gerir e incrementar a atividade turística.

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resumo

O presente artigo discorre sobre a influência da mensagem no poder de decisão do consumidor em relação a visitar ou não um atrativo turístico que utiliza animais como forma de entretenimento, com foco no parque aquático Seaworld. O estudo traz uma perspectiva história sobre o uso de animais como entretenimento turístico e apresenta os principais argumentos decorrentes do emprego ético dos animais e a indústria do consumo e entretenimento, explicitando o viés turístico do uso de animais como forma de entretenimento em parques aquáticos. Os consumidores desses estabelecimentos, no geral, não têm conhecimento sobre as condições de vida dos animais que são apresentados como atrações. A pesquisa de natureza quantitativa-descritiva fez uso de 220 questionários, sendo 184 validados. Os questionários foram estruturados com base no efeito framing, em que o respondente primeiramente configura uma mensagem estruturada de forma positiva e depois uma negativa. Os resultados apontaram que a mensagem estruturada de forma negativa afeta na diminuição da intenção de visitação ao parque aquático e que a mensagem negativa influência, com redução de 20% na intenção de visitar o Parque Aquático Seaworld, Entretanto, esse fato não pode ser com-preendido como uma mudança real no comportamento, porém revela a necessidade de maior transparência por parte dos estabelecimentos e a maior preocupação dos consumidores quanto à discordância do uso de animais como entretenimento.

Palavras-chave: Turismo. Entretenimento. Animais. Seaworld. Mensagem.

abstract

This article discusses the influence of the message in the power of decision of the consumer in relation to visit or not a tourist attraction using animals as entertainment, focusing on Sea World Water Park. The study makes a historical perspective on the use of animals as a tourist entertainment and presents the main arguments from the ethical use of animals and the consumer and entertainment industry and explains the tourist bias of using animals as entertainment in water parks. Consumers of these establishments in general are unaware about the living conditions of animals that are presented as attractions. The quantitative-des-criptive research made use of 220 questionnaires and 184 were considered validated. The questionnaires were structured based on framing effect, wherein the first responder exposes a structured message positive and then a negative one. The results showed that structured message negatively affects the decrease of the intention to visit the water park and the negative message influence in a reduction of 20% in the intention of visiting the Seaworld Water Park, however, this fact cannot be understood as a real change in behavior, but reveals the need for greater transparency on the part of institutions and a major concern of consumers about the disagreement of using animals as entertainment.

Keywords: Tourism. Entertainment. Animals. Seaworld. Message.

Mariana Chehin¹Nielys Machado¹

¹ Bacharelandas do Curso de Turismo da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense

A Influência da Mensagem no Poder de Decisão do Consumidor

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

O debate sobre o uso de animais como forma de entretenimento turístico tem sido um assunto que volta e meia está na mídia com conotações positivas e negativas. O emprego de ani-mais como forma de entretenimento começou há muitos anos, na época dos gladiadores, e hoje está presente em zoológicos, circos, aquários, parques, entre muitos outros. Nos últimos quatro anos, um dos estabelecimentos mais abordados na mídia televisiva e nas redes sociais tem sido o Seaworld, com os seus fantásticos aquários, o sensacional show de orcas, bem como seus famosos ataques. O primeiro ataque foi a um treinador em 1991, durante uma apresentação no Canadá, porém, não foi abordado pela mídia. O que realmente mereceu destaque foi o ataque em 2010 à treinadora Dawn Brancheau. O Parque alegou como causa do incidente a imprudência da fun-cionária, contudo para os defensores da causa animal, o motivo principal foi o estresse em que o animal se encontrava, depois de tantos anos dentro de uma espécie de cativeiro, os tanques onde as orcas são condicionadas dentro do parque (TREINADORA, 2014).

O aumento dos casos de ataques e principalmente a história mal contada sobre a treinado-ra atacada em 2010 serviram como motivação para que a diretora Gabriela Cowperthwaite dirigis-se o documentário “Blackfish”, lançado no dia 19 de Janeiro de 2013, no Sundance Film Festival2. O documentário contém depoimentos de ex-treinadores do Seaworld, com confissões chocantes sobre o tratamento das baleias em cativeiro, tendo como foco principal quatro vítimas de ataques de orcas nos últimos anos, protagonizados pela estrela do parque, Tilikum, orca capturada quando filhote, na década de 80, na Islândia.

O lançamento do documentário tem provocado uma polêmica atrás da outra por abordar o tratamento cruel que as orcas recebem dos parques de atrações marinhas, e com toda essa reper-cussão o número de visitantes nos aquários do Seaworld, espalhados pelos estados norte-america-nos, diminuiu cerca de 6%3, registrando assim uma queda de 28%4 no lucro do parque.

Para Katz (2004, p.61):

O papel da mídia é importante em vários pontos do processo. A publicidade televisiva é usada com frequência para aumentar o conhecimento (awareness), informando as pessoas sobre as qualidades da marca e sobre o que ela tem a oferecer. Tanto a TV quanto as revistas podem ajudar o consumidor a ter uma preferência.

Visto todo esse cenário que engloba animais, entretenimento, consumidor e propagan-da, objetiva-se neste artigo analisar a influência que a mensagem pode causar no consumidor em seu processo de decisão de visitar ou não o estabelecimento que utiliza animais para fins comercias, tais como o Seaworld.

Metodologia

A metodologia utilizada consistiu primeiramente em levantamento bibliográfico para fins de informações mais aprofundadas sobre o assunto, utilizando principalmente autores como Kotler e Keller (2006), e Churchill e Peter (2000).

Para identificar a mudança na intenção de visitação ao estabelecimento de entretenimen-to em virtude da influência da mensagem negativa, foi elaborada uma pesquisa quantitativa, com base no efeito framing positivo e negativo, cujo questionário foi postado na plataforma online do Qualtrics, tendo seu link divulgado através de e-mail e rede social. A amostra totalizou 220

2 Disponível em: < http://www.cartanaescola.com.br/mobile/single/347> Acesso em: 20 nov. 20143 Disponível em: <http://www.biologiatotal.com.br/blog/a+farsa+do+sea+world-71> Acesso em: 21 nov. 20144 Disponível em: <http://antesqueanaturezamorra.blogspot.com.br/2014/11/prisao-de-animais-sea-world-em-decli-nio.html> Acesso em: 21 nov. 2014

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questionários, sendo válido apenas 184, assim não conferindo à pesquisa o caráter probabilístico, pois os resultados não representam a população, visto que o público alvo foi apenas de alunos graduados e graduandos nos cursos de Turismo, Veterinária e Administração.

O questionário foi dividido em quatro blocos, sendo o primeiro bloco constituído de per-guntas de perfil, como o curso, período, sexo e idade. Além dessas, possuía também perguntas re-lativas à posse ou não de animal de estimação e sobre a frequência a algum tipo de atrativo turístico que utiliza animais como entretenimento. O intuito desse bloco foi traçar o perfil do consumidor. No segundo bloco, o respondente assistiu a um vídeo com mensagens positivas sobre o Seaworld e logo após foi submetido a algumas questões, como por exemplo, se já conhecia o Parque, se tinha intenção de visitá-lo. Foi utilizada também a Escala Likert5, na qual havia seis afirmações para que o respondente apontasse sua concordância ou discordância. O terceiro bloco possuía a mesma dinâ-mica do segundo, porém neste o vídeo transmitia uma mensagem negativa para o consumidor, com trailer do documentário Blackfish, que revela os danos causados às orcas, o estresse do confinamento nos tanques do parque e seus efeitos no comportamento das baleias entre si e com seus treinadores.

animais e entretenimento

A sociedade evolui a partir de mudanças que ocorrem ao longo do tempo, e não di-ferente disso, os atrativos que utilizam animais como forma de entretenimento também pas-saram por diversas mudanças conforme acontecimentos que influenciaram a relação homem/animal. O homem utiliza animais de diferentes formas, desde o uso como meio de transporte até como entretenimento turístico, porém, nem sempre isso existiu com fins comerciais.

A forma de lazer e entretenimento foi mudando ao longo do tempo, como por exemplo, em Roma, onde se incorporou o uso de animais aos espetáculos para a diversão da população. Consideradas uma barbaridade, essas apresentações traziam animais e homens em uma arena para lutarem até a morte, e através do sangue destes a população se divertia nas arenas do Coliseu, re-velando uma sociedade que subjuga os animais para impor a exaltação das habilidades humanas.

À custa deste sangue, a sociedade desenvolveu o uso dos animais aos seus novos hábitos de entretenimento, com a visão de superioridade do homem, símbolo de poder para reis e impe-radores e entretenimento para o povo. Para Peter Singer (1975), o homem é um ser egoísta, que valoriza a dor humana, seus interesses e valores, e ignora os interesses e a dor de outras espécies. Acredita que a dor das outras criaturas é menos importante que a sua, entretanto, o sofrimento do outro não pode ser ignorado, e não se pode dar mais valor ao direito de lazer e manifestação, supos-tamente cultural do homem, em detrimento ao sofrimento dos animais utilizados em tais práticas.

Como salienta Rodrigues (2007, p.55):

Tanto a vida do homem quanto a do animal possuem valor. A vida é valiosa independentemente das aptidões e pertinências do ser vivo. Não se trata de somente evitar a morte dos animais, mas dar oportunidade para nascerem e permanecerem protegidos. A gratidão e o sentimento de solidariedade para com os animais devem ser valores relevantes na vida do ser humano.

Contudo, a sociedade moderna continua a subjugar os animais, usando-os em zoológicos, corridas, rodeios, touradas, filmes, aquário marinhos, atrações turísticas, atribuindo o sinônimo de lazer e cultura a esse uso, impulsionando uma indústria que se aproveita da visão capitalista, voltada para o consumo, para promover a diversão da população, retirando os animais do seu habitat e os introduzindo em locais completamente fora de seu contexto habitual, sem pensar no bem-estar e preservação dessas espécies.

5 um tipo de escala de resposta psicométrica usada comumente em questionários, e é a escala mais usada em pesqui-sas de opinião. Ao responderem a um questionário baseado nesta escala, os respondentes especificam seu nível de concordância com uma afirmação

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Chalfun (2011, p.3) argumenta que:

Inconcebível que em pleno século XXI, os animais ainda sejam utilizados em manifestações ditas culturais ou de lazer, não há qualquer motivo ou necessidade real que justifique a continui-dade e permanência de tais atividades, e apesar das diversas proibições legais e manifestações contrárias dos movimentos de defesa dos animais, estes continuam sendo utilizados de forma arbitrária, sem qualquer controle e de forma ilegal, alegar e defender aparente conflito entre direito de lazer e manifestação cultural com o direito dos animais, e defender a prevalência da utilização destes seres não parece e não é um discurso ético, correto e moral, pois não há como se vislumbrar qualquer conflito, mas sim crueldade que não pode ser tolerada como forma de lazer ou cultura.

O circo é um dos estabelecimentos modernos que utilizam animais como forma de entrete-nimento, com inúmeros shows com leões, tigres, elefantes, entre outros animais, e assim como em outros locais, esses animais vivem em total sofrimento, desenvolvem traumas e estresse, exibindo um comportamento mais agressivo. Possuem feridas que não cicatrizam devido à falta de cuidados apropriados, vivem de forma miserável e triste, e, além disso, diversos são os casos de acidentes, já que alguns animais conseguem escapar, o que acaba resultando em mortes tanto do homem como do próprio animal. Apesar disso, o circo é o único estabelecimento que utiliza animais para fins comer-ciais que já possui uma lei contra esta prática. No Brasil essa lei já está em vigor em nove estados (Alagoas, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Gros-so do Sul e Espírito Santo) e o seu descumprimento acarreta uma multa em torno de 26 mil reais6, além da apreensão do animal. Existem também alguns países como a França, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suíça, Argentina e Costa Rica que não permitem a utilização dos animais em circo.

Os zoológicos costumam justificar sua existência com o argumento de preservação das espécies, porém dos cerca de 10 mil zoológicos existentes no mundo, menos de 5007 registram seus animais em banco de dados. Além do mais, a maioria dos animais mantidos em cativeiro, como leões, girafas e elefantes, não está ameaçada, constitui-se meras peças de exibição. Em mui-to desses zoológicos, percebe-se a tristeza dos animais e os maus tratos que são submetidos, sem contar os zoológicos que têm como principal proposta a aproximação entre o visitante e o animal, como o Lujan, em Buenos Aires. Existem relatos que esses animais são dopados para que haja maior contato entre o visitante e o animal.

Os aquários e parques com exibições de shows são lugares onde orcas e golfinhos são mantidos em cativeiro, e treinados muitas vezes da forma mais agressiva, para se exibirem para os espectadores. Os métodos usados para captura no meio ambiente com redes, já foram proibidos em alguns lugares. Atualmente também é feito inseminação artificial para aumentar o número de animais para os shows. Pode-se supor que o tempo de vida desses animais em cativeiro é muito maior, do que em seu habitat, porém os perigos da natureza são riscos naturais para os quais os animais se adaptaram ao longo do processo de evolução.

A preocupação com o bem estar e preservação dos animais vem tomando maior di-mensão e importância nos últimos anos devido a maior divulgação e facilidade de acesso a informações sobre o tratamento desses animais utilizados para apresentações. Com isso, as organizações de direitos dos animais estão se destacando e, assim, tendo maior facilidade em criar princípios éticos e legais e diretrizes que esses estabelecimentos devem seguir, enquanto cabe aos governos regulamentar e fiscalizar estabelecimentos a fim de evitar que praticam maus tratos, violência, crueldade e cárcere de animais.

6 CIRCOS estão proibidos de utilizar animais em espetáculos. Disponível em: < http://www.ultimasnoticias.inf.br/noticia/circos-estao-proibidos-de-utilizar-animais-em-espetaculos#0> Acesso em 21 nov. 2014.7 Disponível em: < http://www.animalmosaic.org/Images/Animals%20in%20Entertainment_Portuguese_tcm46-28217.pdf> Acesso em: 25 nov. 2014

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Quanto mais crescem o poder e a participação dessas organizações, mais diminui o em-prego de animais em estabelecimentos de entretenimento, como por exemplo, o circo. Porém, mesmo após a criação de leis e regras para nortear o uso de animais em estabelecimentos de entretenimento, maior participação de ONG’s e do próprio governo, essa pratica continua sendo valorizada e impulsionada pela ações de marketing desses estabelecimentos.

Mensagem e Consumidor

Os meios de comunicação têm se desenvolvido muito ao longo dos anos, enquanto que na década de 40 e 50, a população tinha como principal meio de comunicação o rádio, sem qualquer in-fluência considerável na decisão do consumidor, o século XXI é marcado pelo avanço da tecnologia. Os meios de comunicação dobraram, tendo a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, a internet, os filmes, os documentários, exercendo total influência no poder de decisão do consumidor moderno.

A mídia televisiva, considerando filmes e documentários, também utiliza de estratégias de marketing com total foco na opinião da maioria dos consumidores e no comportamento em relação a pro-dutos e serviços, assim mostrando para seus telespectadores apenas o que lhe convém naquele momento. De acordo com Kotler e Keller (2006), os ingredientes-chave do processo de administração de marketing são as estratégias e os planos criativos e criteriosos que possam guiar as atividades de marketing.

No marketing, as percepções são mais importantes do que a realidade, visto que é a per-cepção que de fato influencia o comportamento de compra do consumidor. As pessoas podem ter diferentes percepções do mesmo objeto devido a três processos: atenção seletiva, distorção seletiva e retenção seletiva (PORTELA, 2014).

O papel do marketing é muito importante para a divulgação de atrativos turísticos, po-rém essa divulgação, dependendo da fonte, pode ser positiva ou negativa. De acordo com Kotler e Keller (2006), o objetivo do marketing é atender e satisfazer às necessidades e desejos dos consumidores, fazendo-se necessário conhecer o comportamento do consumidor, estudado como indivíduos, grupos e/ou organizações.

Cada vez mais, a tecnologia da informação se insere como principal fator de influência para o consumidor e a internet, por ser a comunicação mais rápida e prática, permite o que o tu-rista esteja recebendo informações a todo o momento, principalmente pelas redes sociais, através do compartilhamento de reportagens, vídeos. Além das redes sociais existem também sites, como ReclameAqui.com, uma ferramenta utilizada pelos consumidores para compartilharem experiên-cias sobre determinado serviço ou produtos, e são essas informações que estimulam a sociedade a frequentar novos estabelecimentos, criando novas necessidades de consumo.

Com toda essa variedade de formas de compartilhar informações, cada vez mais os atra-tivos turísticos estão ameaçados, seja de forma negativa ou positiva, mas sempre tendo que estar ligados com a opinião de seu atual consumidor para fidelizar e também trazer novos turistas. O impacto de uma mensagem negativa sobre um estabelecimento influencia a visão sobre ele, afe-tando assim o número de visitantes desses atrativos.

Com o desenvolvimento da tecnologia de informação, a mensagem tem chegado ao consumidor de forma mais rápida, seja pelo jornal, documentário, filme, redes sociais, sites, estabelecendo forte influ-ência na decisão do consumidor de visitar ou não determinado lugar, de comprar ou não certo produto

Para Churchill (2005, p. 4), “marketing é o processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de ideias, produtos e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”.Os estabelecimentos de entretenimen-to que utilizam animais, como circos e parques aquáticos promovem, por meio do marketing, propagandas que incentivam a visitação, mas também existem muitas mensagens negativas sobre

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esses estabelecimentos e por isso o papel do marketing é muito importante para manutenção dos atrativos em decorrência dessas pressões externas. Um exemplo disso é o Seaworld, parque aquático espalhado por vários lugares do mundo, sendo o mais conhecido o de Orlando, Flórida. O parque é mundialmente conhecido pelos seus espetáculos com orcas e por seus aquários com milhares de espécies de animais aquáticos, e é um dos principais destinos desejados pelos turistas modernos, com inúmeros vídeos publicados com imagens dos shows e do parque, como forma de publicidade do atrativo.

Em 2013, porém, foi lançado um documentário chamado Blackfish, que revela o que real-mente acontece no backstage, contradizendo toda a mensagem transmitida pelo Parque de que a rela-ção entre animais e funcionários possui muito amor e carinho, induzindo o público a ver o uso desses animais de forma sempre positiva, favorecendo a comercialização dos produtos associados ao atrativo.

O documentário foi criado pela diretora Gabriela Cowperthwaite, que ficou inconfor-mada com a falta preocupação da rede Seaworld para com o caso do ataque à treinadora Dawn Brancheau, provocando grande polêmica em torno dos turistas que frequentam o parque e os que pretendiam visitá-lo, pois o documentário além de ir a fundo nesse caso mostra casos antigos, não abordados pela mídia e também a forma de treinamento feito com as orcas.

Com a maior preocupação dos consumidores com os animais utilizados para fins comer-ciais, os estabelecimentos passam a empregar estratégias de marketing que visam derrubar a imagem negativa criada no uso de animais como entretenimento e, veicular a mensagem de que os animais estão em condições adequadas, como é mostrado em um dos momentos do documentário, em que a guia do tour do parque Seaworld informa aos turistas que as orcas costumam viver no máximo 30 anos, e nos aquários do parque tendem a viver mais, na realidade isso ocorre de forma contrária.

Além de ter impacto nos consumidores, a divulgação de mensagens negativas sobre es-tabelecimentos que utilizam animais, também atingiu o deputado democrata Richard Bloom que propôs, no ano de 2014, na Assembleia Legislativa da Califórnia (EUA), um projeto de lei (PL) chamado Orca Welfare and Safety Act (Bem-estar e Segurança das orcas)8, que propõe o total banimento do uso das baleias para o entretenimento, também proíbe a inseminação artificial das orcas, em parques aquáticos, mas libera a utilização dos animais para fins científicos. Para a ela-boração do referido PL ele se baseou no polêmico documentário Blackfish. Caso este projeto de lei seja aprovado, terá como principal afetado o famoso parque aquático Sea World que atrai mais de 12 milhões de visitantes por ano e possui um faturamento de R$ 4,5 bilhões9.

a Visão do Consumidor em relação ao seaworld

O perfil do participante desta investigação revela que maioria é feminina (72%), es-tudante do curso de Turismo (45%), cursando do quinto ao sexto período (28%), entre 18 e 24 anos (76%) e a maior parte tem ou já teve animais de estimação (98%) e já frequentou algum tipo de atrativo turístico que utiliza animais como entretenimento (95%).

Dos 184 entrevistados, (95% já frequentaram algum tipo de atrativo turístico que utiliza animais como forma de entretenimento, sendo considerado como atrativo: circos, zoológicos, parques aquáticos, aquários, dentre outros. Quanto ao nível de conhecimento dos participantes a respeito do Parque Aquático SeaWorld (Figura 1) 52% já ouviram falar dobre ele e uma parcela considerável já o visitou (27%).

8 Disponível em: < http://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/113804581/projeto-de-lei-da-california-pode-fechar-o-parque-sea-world> Acesso em: 24 nov. 20149 Disponível em:< http://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/113804581/projeto-de-lei-da-california-pode-fechar-o-parque-sea-world?ref=topic_feed> Acesso em: 23 nov. 2014

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Figura 1 Conhecimento a respeito do SeaWorld Fonte: Autoria própria

Após a visualização do vídeo 1, estruturado de forma positiva sobre o Sea World, os respon-dentes foram questionados sobre sua intenção de visitação ao parque (Figura 2). O vídeo constitui-se propaganda do Parque Aquático, em que aparecem cenas do show feito com as orcas, com música tema de fundo. Dos participantes 38% visitariam o Parque enquanto 11% não o visitariam.

Figura 2: Intenção de visitar o Parque após assistir ao vídeo 1 Fonte: Autoria própria Os dados demonstram que ao receber a mensagem positiva, o individuo mostra maior tendência em visitar o parque, e esta tendência pode ser influenciada pelas informações prévias do participante sobre o atrativo, visto que as informações repercutem na mídia. Quando assistiram ao segundo vídeo, estruturado de forma negativa e questionados novamente sobre a intenção de visitação, os resultados foram modificados (Figura 3). A parcela de indecisos que optou, após o vídeo positivo por “não sei” permaneceu a mesma (14%), a grande variação foi encontrada na opção de “certamente não visitaria”, aumentando para 20%.

Figura 3: Intenção de visitar o Parque após assistir ao vídeo 2Fonte: Autoria própria

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Essa mudança confirma a influência do efeito framing negativo sobre a intenção de vi-sitação do Sea world, visto que após a visualização do vídeo estruturado de forma negativa, os respondentes passaram a se posicionar contrários à visitação.

Uma série de afirmações sobre o uso de animais como forma de entretenimento foi ofe-recida aos participantes, após assistir a mensagem positiva sobre o Parque e condicionadas aos níveis de concordância de cada um (Tabela 1), conforme a Escala Likert. Quando é afirmado o apoio ao uso de animais aquáticos como entretenimento humano, os dados obtidos revelam que 33,2% não concordam nem discordam dessa afirmação, já a discordância total foi a opção de 30,4% e apenas 1,1% concorda totalmente. A alta porcentagem de discordância revela que as informações sobre o Parque, absorvidas pelos participantes após o vídeo com conteúdo positivo sobre o parque, deu-lhes suporte para avaliar antes de se posicionar.

Tabela 1 – Posicionamento 1 a respeito do emprego de animais em espetáculos de entre-tenimento

Fonte: Autoria própria Como o assunto do uso de animais se tornou recorrente na mídia, os participantes têm mais conhecimentos sobre o assunto para concordar, discordar e paradoxalmente, com tantas in-formações, às vezes se torna difícil ter uma posição firmada.

Quanto à afirmação sobre o apoio ao uso de animais como entretenimento após o efeito framing negativo (Tabela 2), as respostas sofreram alterações. Pode se identificar um aumento do número de respostas dos que discordam totalmente do uso de animais (41,8%), passando a ser a

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maioria, e em consequência houve a diminuição das respostas dos indecisos (21,2%) enquanto o número dos que concordam totalmente permaneceu o mesmo (1,1%).

Tabela 2 – Posicionamento 2 a respeito do emprego de animais em espetáculos de entretenimento

Fonte: Autoria própria

Importante salientar que com o resultado da pesquisa aplicada, não é possível perceber as reais mudanças de forma mais aprofundada, tendo em vista que o comportamento do consumidor sofre influências de diversas outras variáveis, tais como fatores externos, internos, culturais, eco-nômicos, entre outros que não foram abordados no instrumento de coleta e merecem ser avaliados para produzir uma reflexão mais fundamentada a respeito do comportamento do consumidor.

Considerações Finais

A mensagem tem poder sobre a decisão do consumidor de visitar ou não um atrativo turís-tico que utiliza animais como forma de entretenimento. Com as recentes reportagens divulgadas na mídia esobre o documentário Blackfish, constata-se uma diminuição no número de visitantes do parque. Após receber a mensagem, com base no efeito framing negativo (exibido durante o questionário), a intenção de visitação ao parque mostrou considerável dimuinuição.

Analisando as informações bibliográficas sobre animais e entretenimento, e consumidor e men-sagem pesquisadas, juntamente com a interpretação dos dados obtidos na investigação realizada,

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conclui-se que a mensagem estruturada de forma negativa teve forte influência no comportamento dos participantes, causando mudança na decisão de visitação do SeaWorld e um aumento signifi-cativo na discordância sobre o uso de animais para o entretenimento, ou seja, o turista é influen-ciado pelas informações que recebe pelos jornais, filmes, documentários, redes sociais.

A mensagem estruturada de forma positiva mostrou interesse e concordância no uso de animais como entretenimento no SeaWorld, já quando a mensagem negativa foi transmitida, o con-sumidor demonstrou mudança, alterando as respostas antes e depois da visualização da mensagem negativa, aumentando a discordância do uso de animais e diminuindo a intenção de visitação.

Este fato não pode ser compreendido como mudança real de comportamento, visto que a quantidade de pessoas pesquisadas, atingidas pela informação negativa, não reflete igualmente na quantidade de pessoas que deixam de visitar o parque. O comportamento humano é bem complexo, e captá-lo em todas as suas peculiaridades requer instrumentos muito precisos e diversificados.

referências

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KOTLER, Philip. administração de marketing: a edição do novo milênio. 10.ed. São Paulo: Prenice Hall, 2000.

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resumo

Este artigo tem por objetivo investigar as diferentes percepções dos Foliões de rua em relação ao patrocínio da companhia Antarctica no Carnaval de Rua da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2015, uma vez que o Carnaval Carioca é um dos principais atrativos turísticos mundiais que atrai quantidade expressiva de turis-tas todos os anos. A pesquisa do tipo exploratória foi desenvolvida por meio da revisão da literatura sobre a experiência e visão do consumidor em relação a essa festa, que fundamentou a criação de um questionário cuja finalidade foi identificar a visão dos foliões sobre esse tipo de patrocínio. A amostragem se deu por conveniência, e o instrumento no formato survey foi aplicado a 285 pessoas, contatadas on-line, sendo 143 questionários considerados válidos. Os resultados indicam que os foliões, de maneira geral, avaliaram po-sitivamente a participação da marca de cerveja Antárctica no evento, associando-a a sua principal memória do Carnaval de Rua do Rio de janeiro, no ano de 2015.

Palavras-chave: Comportamento do Consumidor. Carnaval de Rua. Cerveja. Percepção de Marca.

abstract

This article has as objective to investigate the different perceptions of street revelers about the Antarctica sponsorship in Rio de Janeiro Street Carnival in 2015, once this event is one of the leading world attractions luring a lot of tourists every year. An exploratory type research was developed through literature reviewing about consumers’ experiences and insights referring to the party. This was the base for a questionnaire whi-ch finality was to find out the participant´s insight about this kind of sponsorship. The sampling was chosen for convenience, and the instrument in survey online format was applied to 285 people, 143 questionnaires were considered valid. The results indicate that’s street revelers, generally, assessed the participation of Antarctica beer brand at the event, positively, associating this to their main memory of the Rio de Janeiro Street Carnival, in 2015.

Keywords: Consumer Behavior. Street Carnival. Beer. Brand Awareness.

Mayara Lima Abreu¹Lucas Rolim Fischer²Letícia Santos³

¹ [email protected] / (21) 97918-7548² [email protected] / (21) 97918-7552³ [email protected] / (21) 98093-5923

Percepção de Valor da Marca em relação ao Patrocínio da Cervejaria antárctica no Carnaval de rua da Cidade do rio de Janeiro

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

De acordo com a literatura disponível, é possível identificar que o patrocínio de eventos é uma importante estratégia, utilizada cada vez mais pelas organizações, na consolidação da ima-gem da marca no mercado e para os consumidores. Com foco no consumidor, a empresa pode utilizar o patrocínio de eventos como uma alternativa para fortalecer a sua marca, através de ex-periências, que é uma das maneiras de conquistar e fidelizar clientes.

O objetivo deste estudo é analisar como o patrocínio de eventos pode ser uma estratégia para a consolidação da imagem da marca, segundo a visão do consumidor, entendendo que este é um dos principais steakeholders das organizações e que conhecer suas percepções pode direcio-ná-la na elaboração de estratégias eficazes para o alcance dos seus objetivos.

A escolha para avaliar o impacto do patrocínio da Cervejaria Antárctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 se justifica pelo fato da cervejaria ser a principal patrocinadora do evento e pelo carnaval carioca ser uma importante manisfetação cultural brasi-leira que atrai pessoas do mundo inteiro.

Para que o objetivo fosse atingido, foi feito um levantamento da literatura e a aplicação de um questionário de caráter quantitativo, elaborado com questões fechadas e abertas, a fim de obter informações que possibilitassem analisar se o patrocínio interfere ou não na visão e na fidelidade do consumidor á marca.

Como Construir e Fortalecer uma Marca

A marca é um dos principais ativos da organização se apresentando como um fator crucial de diferenciação em relação às empresas concorrentes. Uma marca forte pode gerar inúmeros benefícios para a empresa e para o consumidor. Kotler (2000) define marca como

Em essência, uma marca identifica a empresa ou o fabricante. Pode ser um nome, uma marca comercial, um logotipo ou outro símbolo. De acordo com a lei das marcas comerciais, a empre-sa adquire direitos exclusivos e vitalícios sobre o uso do nome da marca. As marcas diferem de outras propriedades como patentes e direitos autorais, que possuem datas de expiração (p.426)

Há conceitos de marca que vão além da percepção que define e diferencia uma empresa, pressupondo que a marca está na mente do consumidor. Barbosa (2009) usa a abordagem, focada no consumidor, para definir o conceito de marca. Segundo a autora,

Uma marca indica ao cliente a origem do produto, e protege o consumidor e o produtor dos concorrentes que tentem fornecer produtos que aparentem ser idênticos. Esta definição clássica destaca a superioridade da marca face ao produto e defende que o seu valor está na mente do consumidor, já que os nomes, termos ou símbolos que acompanham o produto servem para ajudar o reconhecimento e a decisão do consumidor. (BARBOSA, 2009, p. 6)

O valor da marca traz benefícios para a empresa e para o consumidor. Para Magalhães (2006) a marca está elevada ao mais alto grau de diferenciação e pode ser considerada uma ferra-menta geradora de longevidade dos produtos de uma empresa, criando um diferencial para o seu produto em relação aos da concorrência que usam a mesma tecnologia.

Barbosa (2009) cita o modelo de medição de valor da marca de Aaker (1991). Segundo esse modelo, o valor da marca gera valor para empresa e para o consumidor. Para o consumidor, os ativos do valor da marca podem ajudá-lo a interpretar, processar e armazenar uma quantidade enorme de informação sobre produtos e marcas; os ativos podem também afetar a confiança do consumidor na decisão de compra; um consumidor estará mais confortável com a marca que

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usou pela última vez e que considerou ter uma alta qualidade, ou por esta ser familiar. Os ativos do valor da marca, particularmente a qualidade percebida e as associações da marca, podem aumen-tar a satisfação do consumidor enquanto utilizador do produto.

As vantagens do valor da marca para as empresas estão na percepção que o consumidor possui dos ativos da marca. Esses ativos podem ser a notoriedade, que é a capacidade que o con-sumidor tem de reconhecer e recordar a marca, a qualidade percebida e as associações à marca. Quando o consumidor percebe esses ativos, pode se incentivar a consumir mais a marca, a ser leal a ela e a estar mais satisfeito com os seus produtos. Ao perceberem valor em uma marca, os con-sumidores se disponibilizam a pagar um preço mais alto que a média, o que pode gerar margem de lucro elevada dos produtos. O valor da marca pode possibilitar o crescimento das extensões da marca, pode fortalecer os laços da empresa com os canais de distribuição, pois os intervenientes dos canais de distribuição terão mais segurança em trabalhar com uma marca conhecida e con-solidada no mercado e por fim pode garantir à empresa um valor de diferenciação que a ajude a manter a fidelidade dos seus clientes.

Entendendo a importância do valor da marca para as organizações e para os clientes, é importante que a empresa saiba como criar um bom programa de construção da marca. O pro-cesso de construção envolve muitas variáveis e requer atenção dos gestores para perceber quais elementos são fundamentais para se criar uma marca forte. É relevante destacar a importância do gerenciamento da marca. Uma marca deve ser gerida com o objetivo de estar sempre atual, não se permitindo se tornar ultrapassada.

Para Saldanha (2009, p. 30) um aspecto fundamental para a construção da marca é a cla-reza na sua identidade. Para ele, a marca deve estar ligada à visão, cultura e valores da empresa.

A identidade da marca - o conceito da marca do ponto de vista do dono - é a base de qualquer bom programa de construção da marca. Seja pela adoção de abordagens alternativas de cons-trução de marca, seja por meio de acesso a vários canais de mídia ou mediante ambas alterna-tivas, a empresa deve dispor de uma clara identidade da marca, com profundidade, para que os responsáveis pelo planejamento e implantação dos programas de comunicação não enviem aos clientes, mensagens conflitantes e confusas. A identidade nítida e eficaz, que promova a compreensão e adesão de toda organização, deve estar vinculada à visão da empresa e à sua cultura e valores organizacionais. Deve ser fonte de orientação quanto aos programas e formas de comunicação que sustentarão e reforçarão a marca.

Saldanha (2009) divide o processo de construção da marca em dois tipos: quando o pro-duto é tangível e quando o produto é intangível. Segundo o autor, quando o produto é tangível fica mais fácil a definição do mix de marketing. Já quando o produto é intangível, tudo passa a ser extremamente conceitual. O desafio passa a ser vender uma ideia.

Kotler (2006 apud OLIVEIRA et al, sd., p. 2) elenca seis critérios para a escolha dos elementos da marca: memorável, significativo, desejável, transferível, adaptável e protegido. Os três primeiros são considerados construtores, no contexto de como o patrimônio da marca pode ser construído da escolha cuidadosa de um elemento da marca, e os três últimos são pensados como o elemento de marca pode ser estimulado e preservado, diante de diferentes limitações ou oportunidades no mercado. São eles:

Memorável - A facilidade com que o elemento da marca pode ser lembrado ou reconhecido, tanto na compra como no consumo, são fatores a ter em conta.

Significativo - O elemento de marca deve ser digno de crédito e sugestivo para a categoria corres-pondente. Pode lembrar, por exemplo, um ingrediente de um produto, sua finalidade ou o tipo de pessoa que o poderia usar.

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Desejável - É importante também que o elemento da marca seja esteticamente cativante. Deve ser por si só desejável visual, oralmente e noutros aspectos.

Transferível - Poderá ser vantajoso que o elemento de marca possa ser usado para apresentar no-vos produtos, na mesma ou noutras categorias.

Adaptável - A capacidade de o elemento da marca ser adaptável e atualizável poderá ser mais um fator a se ter em consideração. A longa história da Coca Cola poderia levar a um cansaço da imagem, no entanto a constante adaptação que lhe foram conferindo, mantém-na com uma imagem sempre jovem.

Protegido - A proteção jurídica do elemento da marca é um fator fundamental, por isso há que ter atenção se o nome escolhido pode ser registrado, para que não seja copiado facilmente.

Quanto à definição de valor da marca, os autores se dividem em dois grandes grupos: os que avaliam a marca por uma perspectiva meramente financeira e os que se que a avaliam pelas perspectivas focadas no consumidor. A figura 1 contém as definições de valor da marca de vários autores, alguns seguindo a lógica da empresa e outros, a do consumidor.

Figura 1: Definições de valor de marca. Fonte: Barbosa (2009, p.15)

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Em detrimento da visão que encara o consumidor como mera valorização financeira, po-de-se dizer que este é também um ator fundamental no processo de construção do valor da marca. As ações de marketing desenvolvidas pelas empresas dependem da resposta do consumidor. Por este motivo elas devem ser elaboradas com o foco nesse agente, a fim de construir percepção de valor favorável em relação à marca.

Barbosa (2009), fundamentando-se em Aaker (1991), explica as cinco dimensões para se medir o valor da marca:

A notoriedade está relacionada com a força da presença da marca na mente do consumidor, isto é, diz respeito à capacidade que um consumidor tem de reconhecer ou recordar a marca. A qualidade percebida é entendida como a percepção que o consumidor tem da qualidade global ou superioridade do produto em relação a produtos semelhantes. A fidelidade da marca prende-se com a ligação do consumidor a uma marca, refletindo a probabilidade de ser, ou não, trocada por outras marcas, em resultado de alterações no marketing mix. As associações são algo atri-buído à memória e que suporta o valor da marca. Segundo este autor, as associações da marca estão na base da imagem da marca e representam percepções que podem ou não refletir uma realidade objetiva. (BARBOSA, 2009, p. 29)

Calderón et al. (1997 apud BARBOSA, 2009) sugerem que o valor da marca é gerado por um conjunto de fatores multidimensionais que interagem de forma complexa: lealdade, conheci-mento, qualidade percebida, associações e identidade da marca.

Para Keller (2000 apud BARBOSA, 2009) o poder da marca ligado à mente dos consumido-res resulta das experiências e aprendizagens face à marca, que o indivíduo vai acumulando ao longo do tempo, sendo que o conhecimento dos consumidores é realmente o coração do valor da marca.

Como as Características de eventos Podem Contribuir Para o Fortalecimento da Marca

Uma das áreas importantes do turismo é a de eventos. Apesar de haver inúmeras definições de eventos, autores como Zanella (2003), Medeiros e Araújo (2009) não se diferenciam muito quanto à abordagem do tema. Basicamente todos definem eventos como ações previamente planejadas que promovem interações e estreitam os laços entre a empresa e o consumidor. Para Saldanha (2009, p. 18)

O evento é um instrumento institucional e promocional, utilizado na comunicação dirigida com a finalidade de criar conceito e estabelecer a imagem de organizações, produtos, serviços, ideias e pessoas, por meio de um acontecimento previamente planejado, com aproximação entre os participantes.

O mercado de eventos vem apresentando crescimento e se mostrando alternativa estra-tégica de comunicação e marketing em relação à publicidade convencional. Sobre o crescimento deste mercado, Costa (2011, p. 13) diz:

Se ainda resta alguma dúvida de que os eventos são uma estratégia de comunicação e de marke-ting que permite que as empresas consolidem suas marcas, Gaetano Lops responde que as pesquisam mostram que são, pois “hoje 51 % do investimento das marcas em comunicação está voltado para eventos”. É a primeira vez na história que esse tipo de ação ultrapassa a pu-blicidade convencional.

As vantagens do marketing de eventos são muitas, o que justifica o seu crescimento. A produção de eventos garante vantagens para a empresa e para o consumidor. Do ponto de vista da empresa, os benefícios proporcionados podem ser a possibilidade de utilizar um veículo de comunicação mais barato que os tradicionais (TV, rádio e jornal), aumento da proximidade com o cliente, trabalho direto com o público-alvo, aumento das vendas, conquista de novos clientes e recuperação ou fortalecimento de sua marca. Já para os consumidores, as vantagens estão na interação com outras pessoas e com a marca, a possibilidade de conhecer um pouco mais da marca e de viver experiências inesquecíveis.

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Ferracciù (2007, p. 60 apud COSTA, 2011, p. 11) observa que:

A grande força de um evento reside no envolvimento que ele permite. A atmosfera criada, a atenção despertada, a curiosidade, a predisposição de espírito, tudo, enfim, conduz para um envolvimento coletivo apropriado que condiciona positivamente o participante e que nenhum outro recurso de promoção consegue fazer.

Rasquilha (2006, apud BARAÚNA; AZEVEDO, 2010) elenca os benefícios para os negócios da empresa e para os consumidores, proporcionados pelos eventos. Entre eles estão: ampliação das relações com os clientes, apresentação ou lançamento dos produtos/serviços, obtenção de informações sobre o mercado e os concorrentes, atualização profissional técnica, crescimento da imagem institucional e estabelecimento de novos contatos comerciais.

Os eventos são uma importante ferramenta para se consolidar a marca, garantir competitividade e diferenciação e aproximar os laços entre a empresa e o consumidor, atra-vés da oferta de experiências nas quais o consumidor pode provar os produtos da empresa e ter um contato mais próximo com ela, podendo, desta maneira, observar todos os ativos que a compõem. É importante ressaltar que o diferencial dos eventos como estratégia de marketing está na sua possibilidade de promover experiências inesquecíveis para o consu-midor, que lhe irão gerar aprendizado e memória em relação à marca produtora ou patro-cinadora do evento. Para que os eventos sejam efetivamente, uma ferramenta estratégica de marketing para sua consolidação e fortalecimento é necessário que a empresa defina adequadamente seu público-alvo, escolha a tipologia de evento que lhe seja mais adequada e integre todos os pontos do evento de maneira a entregar para o consumidor o que foi es-perado. Segundo Cabrerizo e Santos (2011, p. 2),

O momento atual é de valorização pessoal. Sentimentos, sensações e estilos de vida do target orientam as estratégias de comunicação de muitas empresas, que saem de um apelo massifi-cado e passa a focar a individualização do relacionamento com o consumidor. Procuram-se formas mais interativas de abordagem, que estabeleçam vínculos mais profundos e dura-douros. O foco é na experiência, que posteriormente se traduz em diferenciais competitivos. Neste contexto, os eventos se apresentam como uma forma eficiente de atender e encarar a abordagem do Marketing ao consumidor de hoje, transmitindo sensações que ajudam na criação de identidade e reforçam os valores da marca. Para isso, é preciso trabalhar todos os pontos de contato com o consumidor de forma integrada, provendo uma experiência consis-tente e alinhada com o posicionamento esperado.

As associações à lembrança e a fixação são aspectos fundamentais para o fortalecimento da marca. Os eventos podem promover todos esses tipos de ativos para as marcas das empresas que os promovem ou os patrocinam. Cabrerizo e Santos (2011, p. 9) ratificam essa afirmação ao afirmar que “Um evento de sucesso valoriza a marca, maximiza sua divulgação, reforça sua ima-gem e a torna mais conhecida. O consumidor associa o bem estar proporcionado pelo evento ao valor e prestígio da marca. Quando bem-sucedido garante o recall (lembrança e fixação) ”.

Um dos principais objetivos das organizações é fidelizar clientes. Em um ambiente em que a variedade de ofertas é extremamente abundante e os consumidores têm acesso a milhares de informações, é difícil atrair os consumidores e principalmente fidelizá-los. Nesse contexto, os eventos apresentam mais uma vantagem para a organização; a possibilidade de fidelização . Cabrerizo e Santos (2011, p.4) destacam esse aspecto dos eventos ao afirmarem:

Elaborar uma experiência para um determinado público tem como pretensão atravessar a fronteira da propaganda e instalar-se na memória do consumidor, criando um relacionamento da marca com aquela pessoa, disseminando muito mais do que apenas a visão e o conceito da empresa, passando a expressar o sentimento que fez parte da experiência com o que a marca foi atribuída. Através de ferramentas que têm como principal base a interação com o consu-midor, é possível elaborar experiências reais e que fidelizam o mesmo à marca.

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Dentre tantas vantagens que a promoção de eventos garante, o fortalecimento do valor da da marca é a mais importante para as empresas. Saldanha (2009, p.20) reforça essa afirmação quando comenta:

Logicamente existe retorno nas vendas, mas o evento funciona melhor como uma ferramenta de alavancagem da imagem. Seja formando uma nova imagem, fortalecendo uma já existente na cabeça do consumidor ou ainda alterando a percepção sobre uma empresa, em relação a uma imagem arranhada ou depreciada.

Desse modo, é possível que o evento impulsione a marca, fazendo com que essa ganhe mais destaque pelo consumidor. Este pode consumir ou não o produto/serviço, mas se ele teve boas expe-riências no evento, terá uma imagem positiva da marca, podendo se tornar um potencial cliente.

estratégia de Patrocínio

O patrocínio é uma estratégia de marketing que visa estreitar a comunicação entre con-sumidor e organização, sendo possível associar o sucesso do evento à empresa patrocinadora, funcionando como uma estratégia consolidadora da imagem da marca no mercado.

As exigências postas ao atual mercado colaboram para o surgimento de práticas alter-nativas e para a aproximação com o consumidor. Este está mais exigente, tendo muito acesso à informação e à grande quantidade de produtos e serviços à disposição, buscando os que mais se relacionam com seu grupo social, estilo de vida e desejo pessoal. Para se aproximar deste consu-midor, as marcas não estão somente cuidando de seus produtos, mas procuram ter uma afinidade com seu público alvo. Pereira (2005, p. 2) aponta:

Este funcionamento do mercado e suas exigências colaboraram para o surgimento de um novo modelo de gestão organizacional, preocupado em garantir um bom relacionamento en-tre as empresas e seus públicos estratégicos. A comunicação organizacional passa a ser va-lorizada por garantir a abertura de canais de diálogo, estabelecidos para promover a troca de informações entre as empresas e seus stakeholders.

A comunicação passou a ser crucial para a organização, abrindo canais de diálogos. Como exemplo de uma nova forma de comunicação entre empresa e cliente, os patrocínios oferecem oportunidade diferente da convencional, pois além de colaborarem, aceleram a visu-alização da marca e a construção da imagem na memória do consumidor. Segundo Ferracciù (1997apud COSTA; NAISSA, 2011, p. 11) “O patrocínio vale mais que a propaganda conven-cional, já que não interrompe o entretenimento do telespectador, sendo assimilado com muito mais simpatia e predisposição”.

Sendo assim, o patrocínio pode agregar uma imagem positiva à marca, se for usado como um recurso estratégico e bem planejado, permitindo à organização segmentar seu público de interesse e criar ações que possam atraí-lo para a marca, chamando mais atenção. Como recurso de estratégia de comunicação e consolidação, o evento deve agregar pessoas e o público alvo em torno de uma ideia. Segundo Ferracciù (2007 apud COSTA; NAISSA 2011, p.11):

Quando as empresas usam os eventos – em especial os eventos proprietários – como estraté-gia de comunicação e de marketing, estão, com uma só ferramenta, fortalecendo sua imagem, focando no cliente, valorizando sua marca e proporcionando uma experiência.

A relação benéfica do evento com a marca pode ultrapassar as expectativas, podendo se estender posteriormente e agregar mais adeptos à marca ou simpatizantes, pessoas que podem não consumir, mas que têm uma imagem positiva da empresa. Um patrocínio que fixe na memória das pessoas é o grande desafio, pois a promoção gerada pode ser maior do que as estratégias de marketing e comunicação através das mídias.

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A força do evento é um importante meio de avaliação do patrocínio. Quando o evento cria uma atmosfera, desperta atenção, desejo e envolvimento, pode ser capaz de aprofundar aquela marca bem mais na memória do consumidor do que qualquer outra estratégia de marketing.

Quando uma marca patrocina um evento, parte das relações criadas nele pode ser trans-portada para a própria marca. É uma relação de troca em que a empresa tem não somente o retorno financeiro, mas também poderá ter a memória afetiva das pessoas.

O patrocínio como estratégia de marketing possui inúmeras vantagens, podendo alavan-car não somente os lucros como também a imagem da empresa perante a sociedade. De acordo com Reis e Santos (1996), o patrocínio oferta à empresa uma forma de driblar as dificuldades impostas pelas tendências, promovendo mudanças de atitudes dos clientes e principalmente da marca, oportunidade de estreitar a relação entre consumidor e funcionário, seja atual ou potencial, reforço da imagem corporativa, maior reconhecimento da marca e da organização, construção da credibilidade e da confiança do público com o evento patrocinado.

Contrapondo-se às vantagens, Lara (2013, p.34) elenca os pontos negativos do patrocínio. Segundo esse autor, é preciso estabelecer uma ligação entre evento e marca e isto é algo que deve ser cuidadosamente planejado, pois uma má associação dos objetivos e da imagem da organização com o consumidor pode trazer grandes consequências, talvez irreversíveis. Estar no evento certo, no momento certo e transmitir a imagem certa são cruciais para o sucesso do patrocínio. O patrocinador deve ser criativo e inovador, entendendo as necessidades e os desejos do seu público alvo.

o Patrocínio da antárctica no Carnaval de rua da Cidade do rio de Janeiro no ano de 2015

Lara (2013, p.15) define o mercado de cervejas como praticamente monopolístico. Nesse sen-tido as empresas precisam se segmentar com o objetivo de atingir o seu público alvo e se diferenciar.

A marca Antárctica foi fundada em 1885, em São Paulo, por Joaquim Salles e outros sócios. Inicialmente, produzia-se apenas cerveja, mas com o crescimento das vendas e a consolidação da marca no mercado brasileiro, a empresa também passou a fabricar refrigerantes. Em 1999, a Antárc-tica se uniu à marca de cervejas Bhrama com o intuito de criar uma marca mais forte no mercado brasileiro. Camargo e Barbosa (2005 apud LARA, 2013 p.15) contextualizam esse momento:

A união entre a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma em julho de 1999, criando a AmBev – America Beverage Company ou Companhia de Bebidas das Américas –, foi apresentada como uma fusão entre iguais para aumentar a competitividade, ganhar escala para crescer e internacionalizar-se. O cenário era assim, desafiador: por um lado, sobreviver num mercado estagnado e recessivo, com tendência à redução do poder de compra e de consumo, aliada ao crescente poder de penetração de mercado das marcas independentes; por outro lado, defender-se de concorrentes estrangeiros e tentar competir no mercado internacional com marcas líderes mundiais já consolidadas no mercado.

A estratégia para as duas marcas não competirem entre si, mas pelo contrário se for-talecerem, é a segmentação de mercado. A definição do público alvo é claramente observada ao analisar os diferentes segmentos de eventos que cada uma patrocina. Lara (2013, p. 40) expõe essa diferença:

A Brahma investe na plataforma country há mais de 30 anos e realiza mais de 200 eventos de rodeio, entre eles os mais famosos: Barretos, Limeira, Americana, Jaguariúna, entre outros. Já a Antarctica aposta no samba e no forró, com o apoio às principais festas regionais.

Há seis anos a Antárctica patrocina o carnaval de rua da Cidade do Rio de Janeiro. Em 2015 a marca completou 130 anos e comemorou juntamente com o aniversário de 450 anos da Cidade do Rio de Janeiro, investindo R$ 20 milhões de reais no patrocínio do Carnaval de Rua da cidade.

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Segundo o Jornal on-line G1(2014), a marca Antárctica utilizou várias formas de pro-moção e interação com o consumidor, como a entrega de brindes, promoções, lançamento das edições limitadas das latas personalizadas e outras atividades de interação. A marca foi escolhida para patrocinar não somente o carnaval de rua, mas também o carnaval da Sapucaí, que antes era patrocinado pela cerveja Bhrama, mas esta abriu mão do patrocínio para a aniversariante do ano. Segundo o portal de notícias on line G1 (2014), a cerveja Antárctica é a mais vendida em todo o estado do Rio de Janeiro, sendo a marca preferida do carioca. O carnaval se tornou um ótimo evento para a cerveja atrair novos consumidores e fazer com que a marca se consolide na memória deste, devido à importância e força do evento.

O Diretor de Marketing da Antárctica, Cristiano Fonseca, define a atuação da marca no Carnaval de Rua Carioca, reforçando a que sua estar de acordo com a missão da empresa, respei-tando sua cultura organizacional:

O carnaval conversa diretamente com o posicionamento que temos no ano inteiro. A Antarctica procura tornar a diversão para o folião e o consumidor a melhor possível, damos infraestrutura para os blocos, assim como fazemos no São João e em outras festas populares. A ideia é estar-mos presentes onde os consumidores estão, na confraternização, entre amigos”, explica Cris-tiano Fonseca, gerente de marketing da Antarctica. (MEIO E MENSAGEM, 2015).

A estratégia usada pela Antárctica é importante, pois alinha o patrocínio da marca no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro à visão e valores da empresa, transmitindo sua es-sência para o consumidor. Isso faz com que se propague uma imagem condizente com a realidade, possibilitando que a confiança do consumidor perante a marca aumente.

Metodologia

Esta pesquisa de natureza quantitativa, por seu caráter objetivo de mensuração de com-portamentos, atitudes e motivações de um determinado público-alvo, é do tipo exploratório. Como define Vergara (1997, p.14 ),

A pesquisa exploratória é realizada sobre um problema ou questão de pesquisa quando há poucos ou nenhum estudo anterior em que possamos buscar informações sobre a questão ou o problema. O objetivo desse tipo de estudo é procurar padrões, ideias ou hipóteses, em vez de testar ou confirmar uma hipótese.

Para a realização da coleta de dados foi utilizado como instrumento um questionário elaborado com questões fechadas e abertas. A metodologia deste trabalho foi uma versão adap-tada da utilizada por Lara (2013) em seu estudo sobre uma análise do patrocínio de eventos e a segmentação do mercado de cervejas. O referido autor divide a sua pesquisa em duas etapas: a primeira, de caráter qualitativo, elaborada com a aplicação de perguntas abertas com os represen-tantes de algumas marcas de cervejas e a segunda, de caráter quantitativo, elaborada com pergun-tas estruturadas e objetivas. Segundo o autor, na etapa qualitativa a finalidade era identificar as variáveis relevantes para a análise dos segmentos de mercado que estavam sendo estudados e sua relação com as marcas de cerveja, bem como a opinião dos gestores quanto as estratégias da com-panhia relativas à segmentação em geral e no âmbito de eventos. Na etapa quantitativa, o objetivo era identificar as variáveis da segmentação de mercado, a preferência por marcas de cerveja e a frequência de eventos musicais.

Apesar do foco da pesquisa de Lara (2013) ser diferente do abordado neste estudo, ele utiliza variáveis de mensuração que se adéquam ao objetivo deste trabalho. Para a etapa quantitativa, ele utiliza as seguintes variáveis para mensuração dos resultados: geográfica, demográfica, psicográfica e comportamental. Essas variáveis foram adaptadas ao questionário utilizado nesta pesquisa, pois sua aplicação geraria informações que possibilitariam definir o perfil geográfico e demográfico do público-alvo, além de poder definir esse perfil sob a ótica do comportamento, perspectivas e estilo de vida.

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O questionário foi elaborado na plataforma on-line Qualtrics. A divulgação foi feita em grupos da rede social Facebook através da postagem do link da pesquisa gerado pela plataforma. A coleta foi dividida em quatro etapas. Para primeira etapa foram elaboradas questões em relação à experiência e memórias adquiridas através do evento, na segunda foram feitas perguntas relacio-nadas a marcas de cerveja de forma geral, em seguida havia perguntas específicas sobre a marca Antarctica e por último questões sobre o perfil do pesquisado, usando como base o mesmo critério de avaliação das pesquisas de mercado da Fundação Getúlio Vargas. Nas três primeiras etapas, buscou-se identificar a partir de qual momento o nome Antarctica surgiu e avaliar a representati-vidade do nome da marca e em cada uma dessas etapas a percepção de valor que o respondente possuía a respeito da marca, por ela ter patrocinado o evento.

O nome da Antarctica não poderia ser citado logo no início da pesquisa, pois se assim fosse, as próximas respostas seriam induzidas e não seria possível mensurar a força do patrocínio da marca em se fortalecer por meio do evento. Buscando evitar esse erro, na primeira seção do questionário foram elaboradas perguntas que requeriam respostas do tipo free elicitation. Segun-do Olson (ASSOCIATION FOR CONSUMER RESEARCH, 1979), esse tipo de técnica tem como objetivo capturar mensagens cognitivas espontâneas, que demonstram o conhecimento que o consumidor tinha na memória.

Na segunda etapa, foram elaboradas perguntas em relação a cervejas de maneira geral. Para essa etapa também foi utilizado o modelo de resposta free elicitation com o objetivo de obter as lembranças espontâneas do consumidor em relação às marcas de cervejas associadas ao Carna-val de Rua da Cidade do Rio de Janeiro.

Em seguida, foi colocada uma seção com perguntas a respeito da avaliação dos participan-tes sobre as estratégias de divulgação da marca Antarctica e os sentimentos em relação à presença da marca no Carnaval de Rio da Cidade do Rio de Janeiro do ano de 2015. Para a classificação da pergunta sobre as estratégias da marca foi utilizada a escala Likert, um tipo de escala de resposta psicométrica usada habitualmente em questionários, especialmente em pesquisas de opinião. E para a questão que buscava avaliar os sentimentos do investigado em relação à presença da marca no evento, foi utilizada a escala de diferencial semântico¸ um instrumento que conceitua e adquire significado quando um sinal ou palavra pode causar a resposta e esta é associada ao objeto que ela representa, ou seja, se relaciona com o objeto simbolizado.

No final do questionário foi disponibilizado espaço para que as pessoas pudessem deixar algum comentário, com o objetivo de conseguir informações que não foram obtidas durante as outras seções e que poderiam enriquecer o resultado do trabalho.

A coleta se deu no período de 21 de maio de 2015 a 15 de junho de 2015, portanto, poste-rior à participação no Carnaval. A amostra foi determinada por conveniência e o número de ques-tionários respondidos foi de 285, dos quais 143 foram analisados por terem atendido aos critérios: ser brasileiro, ter participado do Carnaval de Rua do Rio de Janeiro no ano de 2015 e ter idade igual ou superior a 18 anos. A tabulação dos resultados foi feita automaticamente pela plataforma Qualtrics que gerou os gráficos e as tabelas dos resultados das perguntas que exigiam respostas fechadas. Para as perguntas que lidavam com respostas do tipo free elicitation, o resultado foi gerado através do uso da ferramenta world cloud. Essa é uma ferramenta gráfica que apresenta as palavras extraídas das respostas, destacando as que apareceram com mais frequência.

resultados e discussão

Era fundamental que os respondentes tivessem participado do Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2015 e tivessem idade igual ou maior que 18 anos, pois esse foi o perfil estabelecido para o público alvo. Por isso a pesquisa foi iniciada com duas perguntas filtro, uma em relação à idade e a outra sobre a participação no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015.

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Foram considerados 143 questionários válidos. Quanto ao perfil dos pesquisados, foram feitas perguntas em relação à idade, local de residência e renda familiar. Entre todos, 83% possuí-am idade entre 18 a 25 anos, 11% entre 26 a 35 anos, 4% tinham entre 46 a 55 anos, 2% possuíam entre 36 a 45 anos e 1% tinha menos de 18 anos. Sobre o local de residência, 91% dos participantes residem na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Dos respondentes, 50% pertencem à classe C, 20% eram da classe A, 13% da classe D e 11% pertenciam a classe B. A definição das classes sociais foi feita de acordo com a classificação da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

Dos pesquisados, 44% participaram do Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro do ano de 2015, de 2 a 3 dias, 38% de 4 a 6 dias, 18% por apenas por 1 dia. Entre todos que participa-ram do carnaval, 83,3% já haviam participado em outros anos e 16,6 % disseram que participaram pela primeira vez do evento no ano de 2015.

A figura 2 contém as respostas dadas à pergunta que tinha como objetivo capturar as lembran-ças espontâneas do consumidor em relação ao Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2015. Como memória espontânea, constatou-se que entre as lembranças mais citadas, a palavra cerveja foi uma das que tiveram mais destaque, o que pode ser associado ao consumo da bebida durante o even-to. Apesar de não ser uma das principais lembranças, a marca Antárctica teve uma significativa repre-sentatividade na memória do consumidor. Isso mostra a eficácia da utilização da estratégia do patrocínio, aliada às estratégias de marketing, na consolidação da imagem da marca na memória do consumidor.

Figura 2: Lembranças espontâneas Fonte: Autoria própria

Logo após a pergunta sobre as lembranças espontâneas, o questionário seguia com uma questão sobre as principais marcas associadas ao evento que foram lembradas pelo consumidor. A marca Antárctica se destacou e se mostrou mais forte na memória do consumidor, ratificando a importância da estratégia do patrocínio, aliado às estratégias de marketing, no fortalecimento da marca sob a análise do consumidor. Esse resultado é apresentado na figura 3.

Figura 3: Marcas lembradas espontaneamente Fonte: Autoria própria

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A importância da marca Antárctica na memória do consumidor é percebida em todos os mo-mentos em que se buscou avaliar suas lembranças sobre o evento. Desde as perguntas sobre as lem-branças do Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015, como um todo, até as que buscavam avaliar especificamente as lembranças em relação às marcas de cervejas. A marca ganhou destaque na percepção do consumidor, permanecendo mesmo após algum tempo da realização do evento, visto que a pesquisa foi realizada no mês de maio, três meses após o evento, realizado em fevereiro.

A figura 4 apresenta os resultados em relação às avaliações das lembranças das marcas de cerveja associadas ao evento. Na ilustração, pode-se perceber a força da marca Antárctica através do seu destaque, além de também ter aparecido a palavra que as pessoas costumam associar à marca; BOA. Novamente observa-se a força da marca na memória do consumidor.

Figura 4: Principais lembranças de cervejas Fonte: Autoria própria

Na questão na qual os participantes puderam indicar quais eram suas avaliações e senti-mentos sobre a participação da cerveja Antarctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janei-ro (tabela 1), foi possível apreender que a média das avaliações sobre a marca foi positiva, sendo Muito Bom representado pelo valor 5 e Ruim pelo valor 1.

As avaliações das ações da marca no evento.

Tabela 1 - Avaliações das ações da Antárctica

Fonte: Autoria própria

Nota-se que a divulgação e propaganda da marca (figura 4) foram bem elogiadas e reco-nhecidas pelo público, chegando a obter 40,6% das classificações como excelente, melhor avalia-ção neste quesito. Em contrapartida, o aplicativo utilizado pela marca (aplicativo da BOA) não se mostrou como uma ferramenta eficaz na divulgação e consolidação da marca. Dos consumidores, 48,6% marcaram a opção “não se aplica” em relação ao aplicativo da BOA, indicando desconhe-cimento do aplicativo e sua não utilização no evento.

Na figura 5, apresentam-se as avaliações do consumidor sobre as estratégias adotadas pela marca Antárctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de janeiro, no ano de 2015.

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Figura 4: Avaliações das estratégias da Antárctica Fonte: Autoria própria

Após avaliarem as ações da marca no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015, os participantes puderam indicar se sua percepção havia mudado em relação à marca de cerveja Antárctica. Dos respondentes, 60% afirmaram que a percepção não mudou, 22 % disse-ram que mudou pouco, 15% relataram que mudou razoavelmente e 3% confirmaram que mudou muito. Os participantes que afirmaram ter mudado a percepção sobre a marca, apontaram que os motivos principais foram a distribuição de brindes e hegemonia na venda de cervejas dentro dos blocos, reafirmando a eficácia dessas estratégias no evento.

Os resultados elencados na tabela 2 possibilitam analisar a relação entre a frequência do consumo da cerveja Antárctica depois do Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015.

Tabela 2 - Frequência do consumo da cerveja Antárctica e o Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015

Fonte: Autoria própria

Pela observação da tabela 2, pode-se perceber que a marca conquistou alguns novos clientes e antigos permaneceram fidelizados. Este fato pode ser atribuído às ações de branding, gerenciamento de marca no mercado. Pode-se inferir que a marca Antárctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro estimulou um bom relacionamento com seu público-alvo.

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Considerações Finais

Ao se avaliar os resultados da pesquisa foi possível compreender que os pesquisados, de maneira geral, avaliaram positivamente a participação da cerveja Antárctica no Carnaval de Rua da Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2015 e a tiveram como principal lembrança associada ao evento. Tendo como referência esses resultados, é possível dizer que a estratégia da Antárctica em patrocinar o evento trouxe vantagens para marca, como o seu fortaleci-mento na memória do consumidor e a sua boa avaliação feita por eles. Além disso, a marca Antárctica construiu um cenário favorável para conquistar e fidelizar clientes, o que segundo a literatura, é um dos principais objetivos das empresas.

Todos esses resultados vão ao encontro das ideias defendidas na literatura utilizada, ratificando que o patrocínio de eventos é uma importante ferramenta na consolidação do fortalecimento da marca, além de trazer inúmeros benefícios para a empresa patrocinadora, como por exemplo, a fidelização dos clientes e conquista de novos.

É importante destacar que os resultados obtidos com essa pesquisa estão limitados a uma pequena amostra, o que impede generalizações. Desta maneira, as conclusões propostas neste trabalho, estão associadas às respostas fornecidas pelos respondentes desta pesquisa, revelando as percepções e avaliações apenas deste grupo.

É interessante que estudos mais profundos e com uma amostragem maior possam ser realizados com o objetivo de se obter resultados mais precisos e que possam ser generaliza-dos para um universo maior.

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resumo

O carnaval carioca é um dos maiores e mais reconhecidos no Brasil e no mundo, tornando-se uma marca registrada da cidade e de sua cultura, capaz de influenciar o imaginário não só dos turistas que visitam o Rio de Janeiro, mas também de todos que ainda não tiveram essa oportunidade de estarem na capital ca-rioca. Transmitidos para muitos países, os desfiles das escolas de samba cariocas são capazes de suscitar diversos sentimentos e emoções nos telespectadores que criam expectativas baseadas no que costumam ver pela TV. A passarela dos desfiles recebe turistas durante todo o ano mas, por estarem fora da época de carnaval, os visitantes não conseguem experimentar a emoção típica que o local evoca durante o carnaval. Nesse sentido, este estudo procura investigar a percepção dos visitantes do sambódromo da Marquês de Sapucaí com relação as experiências vividas durante a visitação ao local, fora da época de carnaval. Para tal, procedeu-se à análise de comentários contidos no site TripAdvisor, postados por turistas, relacionados as suas visitas ao sambódromo Como resultado principal, notou-se que de forma geral, a visita à passarela do samba carioca foi considerada insatisfatória pelos turistas, tendo sido avaliada com uma nota mediana por parte de seus visitantes.

Palavras-chave: Turismo. Experiência. Visita. Carnaval. Sambódromo. Rio de Janeiro.

abstract

Rio’s carnival is one of the biggest and most recognized in Brazil and worldwide. It has become a trade-mark of the city and its culture, capable of influencing the imagination not only of tourists that visit Rio de Janeiro, but also of all who have not had the opportunity to be in the carioca capital. Broadcasted to several countries, the samba schools parades are able to cause different feelings and emotions in viewers that, when visiting Rio’s sambadrome, generate expectations based on what they usually watch on Tv. However, the avenue of the parades receives tourists throughout the year that, for being out of carnival season, are not able to feel the typical emotion the place evokes during the carnival. In this sense, this research tries to in-vestigate the perception of the Marquês de Sapucaí sambadrome visitors about their experiences during the visit to the location out of the carnival period. To accomplish that, an analysis was performed on TripAd-visor website comments from tourists that reported their experience in the sambadrome. As main result of the research, it was observed that, in general, the visit to the sambadrome of Rio de Janeiro was considered unsatisfactory by tourists, being evaluated with a medium score by part of its visitors.

Keywords: Tourism. Experience. Visit. Carnival. Sambadrome. Rio de Janeiro.

João Paulo Silva de Queiroz Lourenço

sambódromo do rio de Janeiro Como atrativo turístico: a Percepçãodos Visitantes

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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Cadernos disCentesFaCULdade de tUrisMo e HoteLariaFaCULdade de tUrisMo e HoteLaria104

introdução

A cidade do Rio de Janeiro possui fama internacional por suas paisagens naturais, seu povo e sua cultura. O samba e o carnaval são algumas das expressões culturais pelas quais a cidade é mais reconhecida nacional e internacionalmente. O carnaval é capaz de gerar grande movimentação de divisas devido ao número de turistas que a cidade recebe nesse período e aos serviços que são prestados para esse grande público.

Segundo pesquisas da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A (Riotur), no carnaval de 2014 o índice de ocupação hoteleira da cidade ficou em torno de 77,7%. Ao todo foram cerca de 918 mil turistas na cidade que geraram uma receita de R$ 1,5 bilhões para o mu-nicípio. Além disso, nos cinco dias de desfiles das escolas de samba o sambódromo recebeu um público total de 427 mil pessoas (RIOTUR, 2014 ).

A importância dessa festa para a atividade turística é tão grande que o Ministério do Turismo criou um fórum de discussão em 2013, para debater sobre como o carnaval pode ser transformado em um produto turístico capaz de fascinar os turistas e, ao mesmo tempo, gerar emprego e renda durante todo o ano para as comunidades que trabalham com o carnaval diretamente. (MENEZES, 2013)

O assessor da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Prestes Filho, procurou buscar apoio do governo federal quando expressou a vontade de “consolidar uma agenda que una Carnaval e turismo com o objetivo de transformar esta festa em um produto de exportação que possa ser vendido durante todo o ano” (MENEZES, 2013).

Na mesma ocasião, Vladir Simão, então secretário executivo do Ministério do Turismo, destacou a importância do carnaval na geração de fluxo turístico para várias cidades brasileiras. Porém, reconheceu a necessidade de inteirar-se melhor sobre o impacto dessa festa na economia do turismo, não descartando a possibilidade do Ministério financiar novos estudos nessa área (MENEZES, 2013).

Com base nas posições assumidas pelo secretário executivo do Ministério do Turismo quanto pelo assessor da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, é fundamen-tal pensar em novos produtos para garantir a sustentabilidade da atividade turística. Tendo como foco os atrativos e serviços que estão ligados ao carnaval, percebe-se que essa festa, como uma das maiores expressões culturais do país, pode ser mais bem explorada turisticamente pelos órgãos competentes.

Os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro acontecem durante cinco dias por ano, restringindo bastante a oportunidade dos turistas de vivenciarem o carnaval de forma plena. Os turistas que visitam a cidade, fora da época de carnaval, também querem conhecer o sambódromo, onde tudo acontece, onde a magia vira realidade. Porém, como não há um produto específico e estruturado para apresentar o carnaval para os visitantes, tudo o que o público encontra são arqui-bancadas vazias e os ruídos urbanos do centro da cidade ao entorno. Não há a possibilidade de ao menos terem um contato mais próximo com informações e elementos do carnaval.

A visita à Passarela Professor Darcy Ribeiro, nome oficial do sambódromo carioca, é meramente contemplativa, indo contra a tendência do que o turista em geral procura hoje em dia. Por isso, este estudo, de caráter exploratório, tem como objetivo principal investigar a opinião do público que visitou o sambódromo fora da época de carnaval, sobre as suas expectativas e expe-riências vividas no local.

Além desse objetivo, o levantamento histórico do local e do carnaval, o diagnóstico da sua atual situação de funcionamento e a discussão sobre novas tendências que estão surgindo para incrementar a experiências dos turistas em diversos atrativos turísticos no Brasil e no mundo, também fazem parte dos objetivos específicos deste estudo.

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a origem do Carnaval no Mundo e no Brasil

Existem vários autores que discutem sobre a origem do carnaval no contexto da história mundial. Talvez a versão mais popular conhecida por grande parte das pessoas seja a do pesquisa-dor Felipe Ferreira (2004), citada pelo historiador André Diniz (2008). Segundo eles, o carnaval foi inventado pela Igreja Católica. As festas aos deuses gregos e romanos são lembradas, porém, o carnaval como se conhece, surgiu no século VI.

Em 604, o papa Gregório I estipulou um determinado período de tempo para que as pes-soas pudessem se libertar de prazeres carnais, de atitudes e situações mundanas e do pecado, de uma forma geral, para se dedicarem ao enriquecimento espiritual. Esse período ficou conhecido como Quaresma, pois duraria 40 dias, lembrando o mesmo intervalo em que Jesus passou difi-culdades e privações no deserto. Mais tarde, mais precisamente no ano de 1091, a igreja resolveu estabelecer uma data para a Quaresma. Como havia o costume de marcar a testa dos fiéis com as cinzas de uma fogueira, deu-se o nome de Quarta-feira de Cinzas ao início desse período de resguardo e meditação sobre a ressurreição de Jesus. (DINIZ, 2008)

Uma das principais privações que os fiéis se submetiam era em relação à alimentação, quan-do as gorduras eram cortadas e só a carne de peixe era permitida. Essa situação fez com que a comu-nidade de católicos planejasse para aproveitar o máximo possível dos prazeres materiais e profanos.

Ora, a perspectiva de ficar muitos dias sem comer carnes e gorduras, visto que durante a Quaresma os fiéis deveriam comer apenas peixes, fez com que a sociedade católica se or-ganizasse para aproveitar ao máximo os últimos dias de prazeres mundanos antes de dar o “adeus à carne” – ou, em italiano, carnevale. Ao criar a Quaresma, a Igreja católica instituiu o carnaval. (DINIZ, 2008, p. 16)

Já Araújo (2000) observa que a origem do carnaval é muito longínqua e que a sua memó-ria parte do inconsciente coletivo, por isso é difícil identificar e comprovar cientificamente a épo-ca do seu surgimento. No entanto, baseado em pesquisas históricas sobre a evolução do homem, Araújo deduz que os primeiros sinais que apontam o que mais tarde viria a ser chamado carnaval surgiram nos cultos agrários, na época em que se descobriu a agricultura, há, aproximadamente, 10.000 anos a.C. após o final do último período glacial que a Terra sofreu.

Como Araújo (2000) opta por iniciar seus estudos no Egito, destaca o período de cheias do Rio Nilo – que nasce na África Central e desemboca no Mar Mediterrâneo – o qual deu origem à civilização que aperfeiçoou a agricultura em grande escala, a partir de 4.000 anos a.C. Após o período de cheias, geralmente entre agosto e setembro quando a região era inundada devido às fortes chuvas, o rio voltava ao seu leito normal, deixando o solo ao seu redor totalmente fértil e favorável ao cultivo, devido ao húmus que era criado após a inundação. Esses benefícios vindos da natureza faziam com que o homem começasse a comemorar o momento de fartura com a primavera, o nascer do sol e o fim das enchentes. Danças e cânticos eram entoados ao redor de fogueiras para dar boas vindas ao plantio e expulsar tudo que pudesse o prejudicar.

Esse modelo de festividade poderia ser entendido como o que Araújo chama de “carnaval originário” (2000, p.38), que mais tarde foi influenciado por diversas formas de cultos agrários da época e ligados a diversas entidades divinas de crença egípcia.

O que pode ser considerado com a segunda etapa da história do carnaval, de acordo com Araújo (2000), é o carnaval pagão, desenvolvido na Grécia e em Roma e compreendido entre os séculos VII a.C. e VI d.C. As sociedades já se encontravam hierarquizadas e divididas por classes sociais como a nobreza, os camponeses e escravos quando surgiu a necessidade de se obter uma válvula de escape por meio da libidinagem e licenciosidade. O culto ao corpo sem qualquer tipo de culpa levou ao sexo, orgias e bebidas para as festas, que passaram a ganhar caráter de procis-sões e até mesmo inversões de classes.

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No Brasil, as festas carnavalescas remontam ao período colonial. Ainda segundo Araújo (2000), nos tempos de Colônia, Vice-Reinado e do Império, era preciso entreter a corte e a plebe em um lugar onde o progresso demorou a chegar. Por isso, tudo era motivo para festas e comemo-rações. Essas festas eram, em sua maioria, de cunho religioso e trazidas pelos portugueses.

Celebrações como o Auto das Onze Mil Virgens – “encenado, em 1579, pelo Padre Jesu-íta José de Anchieta, em louvor à chegada de uma relíquia das mártires ao Espírito Santo, onde houve até carro alegórico” (ARAÚJO, 2000, p.96) –; o domingo de Páscoa, em 1641, celebrado na atual Rua Primeiro de Março, no centro do Rio de Janeiro; a construção, em 1671, da primeira ermida de Nossa Senhora da Glória com as futuras festas da Glória; e a Procissão de Nossa Se-nhora da Glória do Outeiro, considerada uma das mais elegantes, pois contava com a presença da Família Imperial, são algumas das primeiras festas de que se tem notícia no Brasil. Todos esses eventos contavam com procissões, desfiles de cavalos, ruas enfeitadas com bandeiras, luzes e palanques onde bandas militares tocavam formando verdadeiros bailes. (ARAÚJO, 2000)

A Festa da Penha passou a acontecer depois da construção de sua ermida em 1665 diante de seus 365 degraus. Até as primeiras décadas do século XX a festa se baseava em uma típica romaria portuguesa, com barracas que comercializavam bebidas e imagens da santa ao som de rodas de samba. Com o passar do tempo, a presença do samba foi ficando cada vez mais forte, chegando a ser obrigatório a partir de 1920. Nessa época começaram a criar concursos de sambas e músicas carnavalescas que seriam escolhidas para embalarem o carnaval do ano seguinte, visto que a festa acontecia no mês de outubro. (ARAÚJO, 2000; MATOS, 2006)

Porém, uma das mais antigas expressões utilizadas para brincar o carnaval é o entrudo. Trazido para o Brasil por volta de 1723 também pelos portugueses, consistia em brincadeiras na qual as pessoas sujavam umas as outras com polvilho, pó-de-sapato, farinha de trigo e os limões-de-cheiro (limões recheados com água, urina, dentre outras coisas) juntamente com as bisnagas e seringas. Por mais que as sociedades colonial e imperial fossem rígidas e patriarcalmente di-vididas, todos participavam do entrudo, até mesmo D. Pedro I e D. Pedro II. Com o passar do tempo sofreu tentativas de proibições por parte de denúncias de jornais e da polícia que criavam os chamados Códigos de Posturas e Editais para proibirem a festa. (ARAÚJO, 2000)

Após diversas tentativas fracassadas de proibição da festa, finalmente com a chegada do século XX, os costumes mudaram fazendo com que essa festa ganhasse outra feição, como diz Hiram Araújo (2000).

O século XX trouxe nova mentalidade para o Rio, que foi se civilizando. A nova Avenida Central (atual Av. Rio Branco) passou a ser o palco do corso e dos desfiles das Sociedades e dos Ranchos, despertando nos moradores novos interesses pela festa carnavalesca. Um fato novo haveria de apressar o desaparecimento desse brutal costume lusitano. Queremos lem-brar a introdução do confete, da serpentina e do lança-perfume: os dois primeiros, em lugar do limão-de-cheiro, e o último, substituindo a bisnaga e a seringa. Tudo mais colorido e per-fumando trouxe melhor visual para o carnaval, sem entrudo. (ARAÚJO, 2000, p. 102-103)

Com esse novo caráter, o carnaval do Rio de Janeiro passa a adquirir um formato mais parecido com o da atualidade, com a adoção de fantasias e máscaras, além da organização de ranchos e blocos carnavalescos.

Os Primeiros Desfiles: da Praça Onze à Marquês de Sapucaí

Dentre os locais de grande expressão cultural relacionados ao carnaval, a Praça Onze é, sem dúvida, um dos mais importantes. Matos (2006) apresenta um panorama histórico do surgi-mento dos primeiros desfiles das escolas de samba na emblemática praça, até a transferência para o atual sambódromo. Sobre a história da praça, o autor remete-se ao período colonial quando diver-sos imigrantes de origem africana que vinham, em sua maioria, da Bahia e aportavam na cidade e

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acabavam se estabelecendo na região portuária do Rio de Janeiro, muitas vezes por seus trabalhos e pela falta de melhores condições.

Portanto, a região compreendida entre o porto (desde o Morro da Conceição), o Estácio e a Praça Onze (todos na periferia imediata do Centro) ficou conhecida como “Pequena África”, principalmente por ser uma região habitada por população majoritariamente negra. (MATOS, 2006, p. 49).

Com a ocupação dessa área por parte dos imigrantes com ascendência africana, logo foram disseminadas práticas e manifestações culturais que foram se adaptando à cultura local. Dentre essas práticas, destacam-se a música e religião, as quais foram rapidamente reprimidas devido à índole marginal que lhes foi conferida. O samba e outras manifestações culturais negras enfrentaram muitas dificuldades para serem reconhecidos genuinamente.

A Praça Onze, de acordo com a história da cidade do Rio, fazia parte de uma das principais áreas de pastagem. Com o passar do tempo, por volta de 1846, o local passou a receber obras de urbanização. Sua delimitação foi definida por meio das ruas, um chafariz de mármore foi instalado e muitas outras intervenções urbanísticas de embelezamento do local foram postas em prática. Com o tempo, a praça se tornou um lugar de convivência e lazer, com moradores como Tia Ciata, cuja casa era o destino certo de reuniões de samba com grandes nomes como Pixinguinha (MATOS, 2006).

A vida boêmia da região foi crescendo e a praça foi cada vez mais se reafirmando como o local do carnaval da cidade, como aponta Matos na seguinte passagem:

A boemia se tornou a principal marca da Praça Onze, marca esta reforçada pela presença de importantes clubes dançantes, como kananga do Japão, dentre tantos, além de inúmeros bares e botequins. Após o desaparecimento de largo de São Domingos, em 1912, o povo elege definitivamente a Praça Onze como lugar do carnaval popular por excelência. No entanto, esse ambiente festivo também se caracteriza por numerosas brigas e confusões, ocasionando um grande número de ocorrências policiais e reforçando o caráter marginal atribuído ao local pela elite (2006, p.52).

Com o carnaval e seus ritmos pulsando em todos os bares, quintais, ruas e vielas da região, começam a surgir as primeiras escolas de samba. A ideia de se criar as chamadas escolas de samba surgiu da necessidade dos participantes dos blocos carnavalescos de acabar com as brigas e confusões muito recorrentes durante os seus festejos. Os blocos e cordões carnavalescos possuíam um caráter violento em suas apresentações. A ideia era se aproximar dos ranchos carnavalescos, também com-postos majoritariamente por negros vindos das camadas sociais mais pobres. Eles também buscavam afirmar sua identidade cultural, porém de uma forma mais pacífica e organizada. Dessa forma, os ranchos garantiam sua presença nos desfiles do carnaval nobre da cidade. (ARAUJO, 2000)

Depois de fundadas, as escolas costumavam realizar desfiles espontâneos que aconteciam na Praça Onze e em seus arredores. Apesar de ter acontecido uma disputa de sambas, vencida pela Deixa Falar, no ano de 1929, é no ano de 1932 que se realiza o primeiro concurso entre as escolas de samba. Augras (1993) observa que os concursos e principalmente a premiação servem de auxílio para adequar ou sistematizar os desfiles. Segundo Monique Augruas “Premiar o desempenho de determi-nado grupo permite reforçar padrões de representação e dissuadir outros grupos de trilhar caminhos desviantes” (AUGRAS, 1993, s.p). Este primeiro desfile recebeu o patrocínio do Jornal Sportivo.

Em 1933 foi a vez de o jornal O Globo patrocinar os desfiles e estipular os quesitos e serem levados em conta pelos julgadores. No ano de 1934, os festejos de carnaval fizeram uma homenagem ao então prefeito da cidade, Pedro Ernesto, fazendo com que a prefeitura incluísse os desfiles em sua programação oficial e destinasse alguma verba para o concurso. Nesse ano tam-bém foi criada a União das Escolas de Samba, com o objetivo de unificar e organizar os desfiles e as escolas. A partir de 1935 os desfiles passam a ser promovidos e reconhecidos pela Prefeitura.

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Augras discorre sobre o futuro dessa festa com as mudanças promovidas a partir des-ses últimos acontecimentos.

Daí para diante, o desejo de brilhar acompanhar-se-á da preocupação com obedecer às regras do jogo. Em certo sentido, pode-se observar que o desenvolvimento das escolas de samba até chegar à atual feição de “maior espetáculo da Terra” é pautado por episódios sucessivos de docilidade, resistência, confronto, negociação, pondo em cena diversas modalidades de solu-ção para o conflito entre o desejo e a necessidade, entre a expressão genuína e o atendimento às exigências de diversos patrocinadores – sejam eles ligados ao Estado, à indústria turística ou à contravenção. (1993, p. 3)

Os desfiles continuaram acontecendo na Praça Onze até o ano de 1942, quando as obras de reurbanização da região do centro do Rio, como a abertura da Avenida Presidente Vargas, fize-ram com que a festa se mudasse para outras ruas do Centro.

o Carnaval Passa a ter endereço Fixo: a Marquês de sapucaí

Na década de 80, mais precisamente no dia 2 de março de 1984, foi inaugurada a Pas-sarela Darcy Ribeiro, mais conhecida como Sambódromo, em um período de abertura política e econômica, após 20 anos do regime militar, quando os enredos sofriam com grandes censuras impostas pela ditadura. Projetada por Oscar Niemeyer em 1983, a obra foi concluída no surpreen-dente prazo de 120 dias.

Conforme observa Guilherme Araújo de Figueiredo (2014), o arquiteto criou o projeto guiando-se por três temas. O tema principal diz respeito à reprodução da estrutura das ruas para os desfiles que consistiam em: concentração, linha de desfile, assistência e dispersão. Os temas complementares como a Praça da Apoteose, o Museu do Carnaval e algumas edificações para serem utilizadas como salas de aula de escolas estaduais durante o ano foram sugestões do então Vice-governador, Darcy Ribeiro e do então Governador, Leonel Brizola, contratantes do projeto. Por fim o terceiro tema, chamado temas de apoio, é compreendido como estrutu-ras básicas como banheiros, controle de acesso, cabines policiais, infraestrutura para mídia e lanchonetes. Todas essas transformações, projetadas pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, transformando o local em um ícone arquitetônico não só do Rio de Janeiro, mas também do Brasil em um momento em que se buscava o resgate da democracia, fizeram com que o bairro do Catumbi, em seu limite com o Centro, se tornasse palco da maior expressão cultural do país e reconhecida no mundo.

Figueiredo (2014) dividiu a história do sambódromo do Rio de Janeiro em três fases. A primeira parte conta sobre o início e a concepção do projeto; a segunda descreve as consequên-cias diretas das influências culturais e econômicas da festa e da sua consolidação como expressão principal do carnaval carioca; a última fase fala sobre o recente reconhecimento do conjunto arquitetônico como local de espetáculo, além do carnaval, e as mudanças que as obras para as Olimpíadas de 2016 podem trazer para o local.

O desenvolvimento do projeto arquitetônico veio para atender a vontade das escolas de samba de terem um lugar fixo para desfilarem. Um local definitivo para os desfiles carnavalescos acabaria com os transtornos na região e gastos excessivos, causados pela montagem e desmonta-gem das arquibancadas provisórias e de estruturas como lanchonetes e banheiros. Dessa forma, a Rua Marquês de Sapucaí – já utilizada anteriormente para os desfiles de carnaval – foi escolhida para abrigar o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.

A área escolhida também era o endereço de um complexo industrial da cervejaria Brahma o qual foi incorporado no projeto final, que conta ainda com o Museu do Carnaval localizado na parte final dos desfiles, abaixo do arco de concreto, a Praça da Apoteose e o uso do local como escolas fora da época do carnaval como solicitações do Governo Estadual.

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Ao lado da construção da passarela como um grande passo para a organização e pro-fissionalização dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, há a criação da Liga Inde-pendente das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (Liesa), com o objetivo de profissionalizar ainda mais os desfiles diante do descontentamento das dez maiores escolas de samba em relação à gestão da época. “Cada tentativa de investir na qualidade do espetáculo era rejeitada. Os impasses geravam desentendimentos, levando questões do samba para o lado pessoal. Só havia uma solução para revolver o entrave: a dissidência. E esta não demorou a acontecer” registra o site oficial da liga (LIESA, 2015).

O segundo estágio da história do conjunto arquitetônico do sambódromo do Rio de Janei-ro, de acordo com Figueiredo (2014), é compreendido a partir dos anos 90 quando houve aumento dos lucros, notoriedade e prestígio da celebração do carnaval tanto para as escolas de samba quan-to para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Todo esse reconhecimento fez com que os meios de comunicação, de forma geral, especialmente as emissoras de televisão, investissem pesado em infraestrutura para que pudessem fazer as transmissões dos desfiles. Esses investimentos fizeram com que o carnaval dos desfiles das escolas de samba, agora com um novo palco, crescesse de maneira relevante, cada vez com mais participantes e mais efeitos visuais e tecnológicos.

Com esse novo cenário, algumas mudanças foram acontecendo. Módulos de camarotes foram construídos entre as arquibancadas e a obrigação por parte das escolas de evoluírem na polêmica Praça da Apoteose foi suspensa. A praça foi um pedido do então vice-governador e an-tropólogo, Darcy Ribeiro, para que as escolas, ao final do desfile, pudessem dar a volta no local e terminassem o desfile de forma apoteótica. Porém, essa ideia não foi aceita pelos sambistas.

Após a evolução na praça ter deixado de ser um quesito obrigatório nos desfiles, o local foi ocupado por cadeiras, além dos espaços reservados para o público assistir aos desfiles de graça, sugeridos por Niemeyer, terem dado lugar a frisas.

A terceira e última fase da história do sambódromo do Rio de Janeiro, segundo Figueire-do (2014), compreende-se a partir da candidatura e eleição da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A partir de 2009, ano em que a cidade foi eleita, a Prefeitura iniciou uma série de investimentos e obras de reestruturação urbana, visando à adaptação da cidade para receber os jogos. Nesse sentido, a passarela Professor Darcy Ribeiro foi indicada para receber duas modalidades: a chegada da Maratona e as disputas de Tiro com Arco. Para que a passarela se adaptasse para melhor receber as competições, algumas mudanças foram feitas. A demolição do prédio da antiga fábrica da cervejaria Brahma foi uma das mais polêmicas pelo fato da construção ter sido tombada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 2002.

Após o destombamento, a edificação foi totalmente demolida em junho de 2011 jun-tamente com o antigo setor 2. O espaço deu lugar a quatro novos módulos de arquibancadas e camarotes além das novas frisas, fazendo com que os dois lados do sambódromo ficassem simétricos, retomando o projeto original de Oscar Niemeyer de 1983 e elevando a capacida-de total do sambódromo de 60 mil pessoas para aproximadamente 77.688 mil espectadores. (PINHEIRO, 2011)

Durante o ano, o sambódromo é utilizado por alguns setores da Riotur, como por exem-plo, a administração geral e gerência no setor 10, a engenharia no setor 3, a manutenção e o almoxarifado no setor 1 e o setor de transportes no setor 11. Além disso, as escolas públicas e creches estão localizadas nos setores 12 e 13. No setor 10 fica montado o estande da Associação de Mulheres empreendedoras do Brasil (Amebras), onde são comercializadas pequenas peças de artesanatos com motivos do carnaval e o aluguel de fantasias, que podem ser vestidas pelos visitantes por alguns minutos para tirarem fotos. Atualmente, um prédio está sendo construído no setor 11 para concentrar todos os departamentos da Riotur presentes na passarela. Por fim, na Praça da Apoteose, abaixo da escultura em forma de “M” está localizado o museu do carnaval.

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o sambódromo a todo Vapor

Durante cinco dias do ano, entre os meses de fevereiro e março, o Sambódromo do Rio de Janeiro vira o centro das atenções de toda a cidade. O grande palco de uma das maiores festas de expressão cultural popular do Rio de Janeiro se transforma para receber pessoas de todo o Bra-sil e do mundo. O ritmo acelerado de trabalho dos componentes das escolas em seus barracões, localizados na Cidade do Samba, dá conta dos últimos detalhes antes dos desfiles, para que nada dê errado durante os 82 minutos de desfile contados pelos cronômetros da passarela do samba. As ruas no entorno da Marquês de Sapucaí, tão movimentadas com o intenso fluxo diário de veículos no coração da cidade, começam a ser interditadas para dar lugar a outros tipos de carros, as ale-gorias das escolas de samba.

As estações de trem e metrô da Central e da Praça Onze, tão utilizadas pela população em suas trajetórias até o trabalho e também do trabalho para suas casas, se transformam em pequenas extensões do sambódromo, com seus passageiros fantasiados e já se preparando para desfilar pela sua escola de coração. Enfim, o sambódromo e seus arredores sofrem uma mudança muito grande, se distanciando totalmente daquele aspecto urbano de uma grande metrópole no dia a dia.

Os preparativos se iniciam muitos antes da festa começar. Ao menos três meses antes dos dias dos desfiles o sambódromo começa a ser preparado para receber o público e as Escolas de Samba.

Dados divulgados pela Riotur (2015) informam que no carnaval de 2015, o sambódromo recebeu 427 mil pessoas nos cinco dias de desfiles: dois deles referentes às Escolas da Série A, que é a segunda divisão das Escolas de Samba do carnaval carioca, dois referentes às escolas do Grupo Especial e ainda o desfile das campeãs.

Para receber, orientar e acomodar todas essas pessoas é necessário muito trabalho. Ainda segundo a Riotur (2015), um esquema especial de transporte público é montado todos os anos para maior conforto e fluidez do público no local. Além disso, foram disponibilizados, no Car-naval de 2015, três postos de informações turísticas – dois no lado ímpar e um no lado par – que receberam 1.890 atendimentos. Os postos e seus atendimentos funcionaram em consonância com 60 agentes de informações espalhados por todo o sambódromo que atenderam aproximadamente 20.790 pessoas. Além disso, outros 1.560 controladores são disponibilizados para orientação do público de maneira geral. Todos esses esquemas e espaços são controlados por meio de uma sala com uma estrutura de monitoramento e operações.

Como já mencionado, o carnaval carioca é uma das festas de maior reconhecimento e repercussão internacional do Rio de Janeiro. A cobertura de imprensa que a festa recebe pode jus-tificar essa informação. A TV Globo é a emissora que detém os direitos exclusivos de transmissão, tanto dos desfiles da Série A para o Rio de Janeiro, quanto do Grupo Especial para todo o Brasil e para mais 118 países por meio do canal por assinatura Globo Internacional. A Empresa de Turis-mo do município do Rio de Janeiro S.A (Riotur) realiza o credenciamento de toda a imprensa que faz a cobertura do carnaval no sambódromo.

De acordo com a Riotur, no âmbito nacional, em 2015, foram credenciados um total de 228 veículos de imprensa e 1288 profissionais de 14 estados diferentes. Foram ainda credenciados 40 jornais, 43 rádios, 9 agências, 15 TVs, 39 revistas, 73 sites e nove outros veículos. Em relação à imprensa mundial, no ano de 2015, foram credenciados 142 veículos, sendo 27 jornais, 32 revistas, 23 agências de notícias, 45 TVs,6rádios e 8 sites, juntamente com 362 profissionais de 29 países. Estados Unidos, França e Japão foram os países que enviaram maior número de veículos de comu-nicação para a cobertura dos desfiles. Esses cenários garantem uma divulgação de grande alcance nacional e internacional. Todos esses veículos de imprensa são capazes de gerar uma mídia espon-tânea que pode ser considerada como um dos fatores de grande influência na escolha da cidade do Rio de Janeiro como destino, por parte dos turistas tanto nacionais quanto internacionais.

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Metodologia

A presente investigação pode ser classificada como exploratória. Segundo Collins e Hussey (2005), a pesquisa exploratória é caracterizada pelo estudo de um tema sobre o qual há poucos estudos anteriores que possam conter mais informações. De acordo com esses autores “O objetivo desse tipo de estudo é procurar padrões, ideias ou hipóteses, em vez de testar ou confirmar uma hipótese.” (COLLINS; HUSSEY, 2005, p. 25).

Para desenvolver um levantamento histórico tanto do sambódromo da Marquês de Sa-pucaí quanto do próprio carnaval, foi feita uma pesquisa bibliográfica em fontes secundárias, a fim de proporcionar uma compreensão maior sobre as expressões culturais no Brasil e no mundo, que deram origem à festa que se conhece hoje. Pesquisas documentais na Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A (Riotur), atual administradora do sambódromo, serviram para se estabelecer um diagnóstico da estrutura e funcionamento atuais do local, além de possibilitar a obtenção de informações sobre o carnaval da cidade.

Procedeu-se ainda a uma análise dos comentários postados no site TripAdvisor relacionados ao sambódromo do Rio de Janeiro. O site em questão funciona como uma rede social onde as pessoas rela-tam suas experiências com relação a diversos serviços prestados e lugares visitados durante suas viagens.

Cada serviço possui um perfil na página da internet, na qual as pessoas se cadastram para enviarem suas opiniões, atribuindo-lhe uma nota de 1 a 5, em que 1 é a avaliação mais negativa e 5 é a avaliação mais positiva, além de deixarem um comentário relatando um pouco mais sobre sua experiência. Essas avaliações servem como informações para pessoas que estão prestes a viajar e buscam no site as opções de serviços mais bem avaliados No perfil dedicado ao sambódromo da Marques de Sapucaí foram encontrados 540 comentários. Desse total, foi feita uma seleção para que somente os comentários de pessoas que fizeram a sua visita fora da época de carnaval fossem considerados. Essa seleção resultou em uma amostra de 199 comen-tários válidos para a realização da pesquisa.

O resultado desses procedimentos é seguido de uma análise de alguns atrativos que se uti-lizaram de diversas alternativas para melhorar a experiência do turista, e que podem servir como exemplo para o sambódromo do Rio de Janeiro.

análise dos Comentários dos Usuários do site tripadvisor

Inicialmente, foi feita uma seleção nos 540 comentários sobre o sambódromo da Marquês de Sapucaí, existentes no site, para que somente os comentários de pessoas que o visitaram fora da época de carnaval fossem considerados. Do total, 199 se enquadraram no pré-requisito em questão. Após a tabulação e análise desses comentários foi utilizado um sistema de codificação para classificá-los de acordo com as características de seus conteúdos. A coleta dos comentários foi realizada entre os dias 8 e 10 de maio de 2015.

A codificação é uma ferramenta utilizada para se definir sobre do que se tratam as informações analisadas. Segundo Gibbs (2009), a codificação “Envolve a identificação e o registro de uma ou mais passagens de texto ou outros itens dos dados, como partes do quadro geral que, em algum sentido, exem-plificam a mesma ideia teórica descritiva.” (GIBBS, 2009, p. 60), ou seja, os textos geralmente são detec-tados e associados a um nome ou código. Dessa forma, todas as passagens que exprimirem as mesmas ideias ou pensamentos serão nomeadas com o mesmo código. Ainda de acordo com Gibbs, esse método permite criar uma categorização de todo o texto para se saber quais as suas principais ideias e temáticas.

Para a realização da pesquisa, após a análise dos 199 comentários selecionados, foram estabelecidos quatro códigos que representaram os principais temas e opiniões presentes nos tex-tos com relação à visita ao sambódromo.

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São eles:

• Não viu nada de muito interessante• Não atingiu as expectativas / Decepção• Imaginou como seria no carnaval• Destacou a loja de souvenir e fantasias• Aprendeu algo• Destacou algum sentimento ou emoção vividos no local

Os Resultados da Codificação

Os países com maior números de emissores de visitantes analisados são Argentina – atualmen-te o maior emissor de turistas segundo o portal RioCepetur (2015) – e Chile com 25 e 8 respondentes respectivamente, seguidos dos EUA, o segundo maior emissor de turistas (RioCepetur, 2015) com 6 res-pondentes. Porém, a Itália também se destacou com uma representatividade de 7 respondentes. Já os bra-sileiros que mais visitaram o sambódromo do Rio de Janeiro são provenientes dos estados de São Paulo e do próprio Rio de Janeiro, com 18 e 11 respondentes, respectivamente. Em seguida, outros três estados aparecem. São eles Santa Catarina e Rio Grande do Sul com 11 respondentes cada e Minas Gerais com 10. Ao todo, 23 usuários (nacionais e estrangeiros) não informaram o local de onde eram provenientes.

Os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro são um espetáculo que causa muita comoção aos seus expectadores. De acordo com pesquisas de perfil dos visitantes realizadas pela Riotur, em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), do Rio de Janei-ro, no ano de 2015, o índice de expectativas atingidas ou superadas pelo público foi de 97,5%.

Para as pessoas que visitam o sambódromo do Rio de Janeiro e só viram os desfiles pela televisão, é comum criarem um imaginário e expectativas relacionadas ao local, baseadas na experiência que tiveram assistindo às transmissões.

Porém, o resultado da pesquisa mostra que, na maioria das vezes, o atrativo não é capaz de atingir as expectativas dos turistas. Um total de 101 pessoas achou a visita desinteressante, alegando que não havia muita coisa para ser feita no local. Segundo as análises, o fato de o local estar vazio e oferecer irrisório tipo de serviço para os turistas contribuem para uma avaliação ruim do atrativo. Os visitantes sentem a necessidade de um contato maior com o local, pois a visita é meramente contemplativa. Dessa forma, 53 comentários expuseram mais diretamente um sentimento de decepção ou de expectativas não atingidas. Como, por exemplo:

“Visitei o sambódromo fora da época do Carnaval e o que pude ver foi umas bancadas e ou-tros edifícios anexos, não podendo absorver a energia vibrante do local que existe na altura do Carnaval. por isso, fiquei um pouco desiludido. Visite, se puder, quando for Carnaval.” (TRIP ADVISOR, 2015)

“Não entendo como um lugar como o sambódromo do rio é tão mal utilizado. O mundo todo já viu imagens do carnaval do Rio mas quando chega no local não encontra nada” (TRIP ADVISOR, 2015)

Devido às frustrações dos turistas quanto à falta de elementos capazes de apresentar o carnaval e entreter o público que visita o sambódromo, fica a cargo dos próprios visitantes imagi-narem o carnaval dos desfiles na Marquês de Sapucaí. Ao todo 58 pessoas disseram que imagina-ram como seria o carnaval no sambódromo e que deveria ser muito melhor. Além disso, apenas 23 comentários destacaram alguma emoção sentida, provocada pelo lugar e pela visita, um número muito baixo para um lugar que representa alegria e transmite tantas emoções a todos.

“Mesmo não sendo Carnaval, estava próximo, a energia é vibrante, a gente dança e canta mesmo sem a escola de samba estar tocando!” (TRIP ADVISOR, 2015)

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“Me senti a maior passista, rsrsrsrsrs [sic], mais adorei a lojinha com as lembranças, mais pena que no dia que eu fui não tinha nada, só achei que era maior pois na televisão temos esta impressão. Mais é lindo” (TRIP ADVISOR, 2015)

Confirmando a ideia de que um contato maior com o carnaval é fundamental para uma melhor experiência por parte dos turistas, grande parte dos comentários do site destaca o estande da Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil (Amebras) onde são vendidos pequenos souvenirs e onde algu-mas fantasias de carnavais anteriores são alugadas por alguns minutos para que os turistas possam vesti-las para tirar algumas fotos. Em toda a visita, esse é o único momento em que o público tem um contato direto com o carnaval. Ao todo 75 pessoas destacaram o estande, mesmo que alguns desses tenham criticado a estrutura e o serviço oferecidos na pequena loja, como mostram os comentários a seguir.

“Não oferece nada de mais fora de época, apenas algumas lojinhas que vendem alguns souveniers. Se tiver pouco tempo no Rio, aproveite para conhecer outros atrativos.” (TRIP´ADVISOR, 2015)

“Local visitado por turistas brasileiros e estrangeiros, com banheiros em má conservação. O guia na van falou sobre tirar fotos com fantasias, foi decepcionante chegar na loja e ver as fanta-sias e o artesanato. O povo carioca que apresenta um carnaval conhecido mundialmente poderia confeccionar e apresentar um artesanato melhor para os turistas.” (TRIP ADVISOR, 2015)

A aprendizagem durante uma visita, ao invés de ser somente uma experiência contem-plativa, pode ser um grande diferencial de um atrativo turístico. Muitos turistas esperam conhe-cer um pouco mais da história e curiosidades do local que estão visitando. Por meio da análise dos comentários a respeito da visita de turistas ao sambódromo do Rio de Janeiro, notou-se que muitos deles gostariam de aprender algo mais sobre o carnaval e o próprio sambódromo. Alguns, inclusive, deram algumas sugestões como um museu mais estruturado que pudesse oferecer um acervo mais completo e interessante para o público. Apenas 8 pessoas citaram o museu do carna-val, situado na Praça da Apoteose. Outros 9 comentários citaram algumas informações mais téc-nicas sobro o local, como tamanho, capacidade, a arquitetura de Oscar Niemeyer, as escolas que funcionam ali e alguns eventos que acontecem durante o ano, como shows e eventos esportivos.

“O sambódromo é bem legal, nunca tive a oportunidade de assistir ao carnaval mas fiz uma visita bem legal, mas o museu do samba é bem fraquinho.” (TRIP ADVISOR, 2015)

“O ideal mesmo é ir no carnaval para assistir aos desfiles, mas vale à pena conhecer em qualquer época. Fui mais pela curiosidade de saber como as coisas funcionam por lá. Há o museu do samba que pode ser visitado e disponibilizam fantasias (alugadas) para fotografias.” (TRIP ADVISOR, 2015)

O gráfico 1 contém os resultados compilados da pesquisa de codificação com os números absolutos de comentários relacionados a cada código e também as porcentagens.

Gráfico 1- Resultado da codificação dos comentários do TripAdvisor. Fonte: Elaboração própria

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Por fim, os usuários do site também puderam avaliar o atrativo, atribuindo notas que variam em uma escala de 1 a 5, e quanto mais alta a nota, mais bem avaliada é a visita. A média das notas atribuídas pelos 199 respondentes com relação à visita ao sambódromo da Marquês de Sapucaí foi de 3,45. Essa nota mostra que a avaliação pode ser considerada mediana.

Após as análises, pode-se perceber que, de uma forma geral, a Passarela Professor Darcy Ribeiro como um atrativo turístico da cidade do Rio de Janeiro, não oferece uma experiência satisfatória ao seu público que a visita fora da época de carnaval. Um público que ao visitá-lo durante todo ano, não tem suas expectativas atingidas devido à inexistência de uma visita estrutu-rada e com artifícios que entretenham a todos, de forma que o público possa conhecer o carnaval do Rio de Janeiro, aprendendo algo sobre sua história e tendo um contato maior com o espírito da festa. Por fim, um total de 46 pessoas avaliou a visita positivamente, representando um índice de 25% do total de pesquisados.

novas tendências: alternativas Para Melhorar a experiência no sambódromo do rio de Janeiro

De acordo com Ministério do Turismo, os turistas, atualmente, estão se tornando cada vez mais exigentes em suas viagens. O site do Ministério destaca o novo perfil do turista e o fato de que, atualmente, suas expectativas vão além de simples contemplação passiva. O visitante busca não só conhecer a cultura local, mas também participar e se sentir inserido na comunidade como um ator importante para a construção do destino, tendo a oportunidade de vivenciar experiências diferenciadas. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2015).

Visando essa nova tendência, o Ministério em parceria com o SEBRAE, criou um projeto dentro do Programa de Regionalização do Turismo, que apresenta o conceito de Economia da Experiência e que possui a gestão do Instituto Marca Brasil e SEBRAES UF’s. Essa iniciativa tem como objetivo estruturar e aplicar esse conceito em empreendimentos de micro e pequeno porte, visando à inovação de seus atrativos, tendo como base a emoção e o conhecimento que a experiência de uma visita e um contato com a acultura local podem provocar no turista.

Como parte da implantação do projeto “Economia da Experiência” foi criada a mar-ca “Tour da Experiência” a qual os empreendedores podem associar-se para implementarem os conceitos e a metodologia do “Economia da Experiência”, baseados na exploração da cultura, história e tradição por meio da vivência.

Tendo como base esse mesmo conceito, a gerência de projetos da Riotur criou um projeto com o objetivo de oferecer uma experiência diferenciada para os turistas. Com o nome de “Carna-val Experience” o projeto tem a finalidade de incrementar o atrativo, proporcionando aos turistas a experiência de entrarem na Sapucaí. O público receberia fantasias e as instruções para vivencia-rem o momento. Os visitantes seriam acompanhados de sambistas, ao som do ritmo ecoado pelos alto-falantes da Passarela.

Segundo o projeto, as visitas aconteceriam no mês de setembro até março, visto que o seu público alvo seriam os passageiros de cruzeiros marítimos. Por esse motivo, o serviço seria contratado e operado por meio de agências que operam no porto do Rio de Janeiro. O custo total para a realização do “Carnaval Experience” seria de R$46.000,00, levando em conta a operação da sonorização, folheteria, hotsite do projeto e um posto de reserva físico no Píer Mauá.

Apesar de ser um projeto com uma proposta inovadora capaz de contribuir para uma experiência diferenciada por parte dos turistas em sua visita à cidade do Rio de Janeiro, a pro-posta foi cancelada pela Riotur.

Jessika Weber (2014) observa que a indústria de jogos possui um poder muito grande de mercado, chegando a movimentar o valor de 93 bilhões de dólares em 2013, chegando a uma

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estimativa de movimentação em 2015 de 222 bilhões de dólares mundialmente. Recentemente, o cenário do consumo de jogos sofreu uma grande mudança com a popularização dos aparelhos móveis, principalmente os celulares, que permitem os usuários jogarem onde quer que estejam. O grande salto na receita gerada por esse segmento de jogos para aparelhos móveis nos últimos três anos – de 13 bilhões de dólares em 2013 para 22 bilhões de dólares em 2015 – fez com que ele apresentasse um dos mais altos índices de crescimento no setor, incentivando os programadores a investirem em diversas propostas e contextos como viagens e turismo. (WEBER, 2014)

A criação de artifícios capazes de incrementarem a experiência de turistas em suas via-gens baseados em jogos, é o que Weber (2014) chama em inglês de “gamificação”. A autora acredita que esse conceito é capaz de estabelecer uma cultura de alegria e diversão podendo in-fluenciar no comportamento e motivações dos turistas.

Weber (2014) destaca ainda algumas práticas de aplicação de jogos durante viagens, a fim de criarem produtos inovadores. Dentre as que podem ser aplicadas no sambódromo do Rio de Janeiro está o jogo de realidade aumentada baseada na localização.

A experiência de realidade aumentada consiste em jogos na forma de aplicativos de celu-lar que se baseiam na localização das pessoas, e que oferecem aos usuários uma caminhada inte-rativa com diversas informações e curiosidades sobre o lugar visitado. Passear com Shakespeare em um percurso literário, descobrir os sons de uma cidade ou encontrar um policial em Berlim, falando sobre a antiga cidade dividida, são alguns exemplos de recursos que podem ser utilizados. Personagens típicos são capazes de apresentar a região e contar a história de uma forma diver-tida, aumentando a interação do turista com o destino. Com relação ao sambódromo do Rio do Rio de Janeiro, pode-se pensar em adaptações, como por exemplo, aplicativos que mostrassem personagens típicos do samba carioca contando curiosidades do carnaval e a disponibilização de áudios dos desfiles originais. Cidades como Londres, Berlim, Barcelona e Estocolmo já oferecem serviços parecidos. (WEBER, 2014)

A cidade do Rio de Janeiro já possui alguns atrativos que oferecem experiências diferencia-das para os turistas e o público de uma forma geral. Um desses é o Centro Cultural do Poder Judiciá-rio do Estado do Rio de Janeiro (CCPJ-Rio), criado em abril de 2009 e inaugurado em novembro de 2010, após a reabertura do prédio que abrigava o Palácio da Justiça do Distrito Federal. O edifício que abriga o CCPJ-Rio, localizado no Centro, foi construído originalmente no ano de 1926 e restau-rado entre os anos de 2009 e 2010. O CCPJ-Rio herdou o Cultural EMERJ, projeto realizado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em parceria com a Escola de Magistratura do Esta-do do Rio de Janeiro (EMERJ), realizado entre 2000 e 2008, com o objetivo geral de construir um Poder Judiciário mais próximo da sociedade por meio de ações artísticas e culturais. (TJRJ, 2015)

O Centro Cultural – que possui o mesmo objetivo do extinto Cultural EMERJ, além de estimular a cultura de valores humanitários de justiça, tolerância, respeito e compreensão – ofere-ce aos seus visitantes um roteiro especial que mistura justiça, história e teatro. O programa “Por dentro do Palácio” consiste em visitas teatralizadas gratuitas, nas quais atores representando a deusa grega das leis e dos juramentos, Têmis, e o jurista brasileiro Ruy Barbosa guiam os visi-tantes pelo palácio. O roteiro inclui histórias e curiosidades sobre a arquitetura, os ritos de julga-mento e casos marcantes da história judiciária e política do Brasil. Além de passarem por todas as grandes salas do palácio, o público tem a oportunidade de participar de uma simulação de um julgamento de verdade no Salão Histórico do Primeiro Tribunal do Júri, onde cada pessoa assume um papel, como por exemplo, testemunhas, réu, juízes e o público. Por fim, os participantes ainda têm a oportunidade de conhecerem o acervo do figurino do projeto. A visita é gratuita e acontece uma vez por semana, às quintas feiras, e no último sábado de cada mês.

Pensar em um roteiro semelhante ao do CCPJ-Rio para ser aplicado no sambódromo do Rio de Janeiro, em que as pessoas pudessem ser guiadas por atores, representando os personagens

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do carnaval carioca, e participassem de uma pequena simulação de um desfile de escola de sam-ba, pode ser considerada uma opção para a reestruturação do local, visando oferecer uma melhor experiência para os turistas.

A cidade de Petrópolis é outro exemplo. Localizada da Região Serrana do estado do Rio de Janeiro oferece em um dos seus principais atrativos turísticos, uma oportunidade dos seus visitantes aprenderem um pouco mais sobre a história da Família Imperial do Brasil de forma diferente e não convencional.

Todas as quintas, sextas e sábados, o Museu Imperial apresenta o Espetáculo Som e Luz. O show mostra os fatos marcantes vividos pela Família Imperial brasileira na segunda metade do século XIX, com o auxílio de diversos efeitos tecnológicos como iluminação e narrações espe-ciais, projeções nas janelas do museu, simulando as pessoas nos bailes dentro da casa, além de um pequeno filme que é projetado em uma cortina de água no jardim do casarão. Ao todo são 45 minutos de uma grade aula de história a céu aberto que muitos nunca imaginaram ver nem ouvir. (PEDTRÓPOLIS TURISMO, 2015; PREFEITURA DE PETRÓPOLIS, 2015).

Os exemplos citados mostram que, cada vez mais, o turismo está se apropriando de novos artifícios e tecnologias para incrementar os atrativos e oferecer aos turistas novas experiências que não apenas a contemplativa. A inovação é fundamental para a vida útil de um atrativo, fa-zendo com que sempre haja interesse por parte do público em visitá-lo, garantindo, assim, a sua sustentabilidade e evitando sua estagnação ou mesmo seu declínio com relação a sua visitação.

Considerações Finais

O presente estudo buscou analisar a opinião dos turistas com relação a suas visitas ao sambódromo do Rio de Janeiro fora da época de carnaval. A Passarela Professor Darcy Ribeiro é o símbolo de uma das principais expressões culturais do país além de ser uma das mais difundidas em todo Brasil e grande parte do mundo. O carnaval da cidade do Rio de Janeiro é um dos mais fa-mosos, sendo o destino de milhares de turistas no mundo inteiro, nos meses de fevereiro ou março, além de receber a cobertura dos principais veículos de comunicação nacionais e internacionais.

A festa que foi se aperfeiçoando a cada ano, desde os simplórios e descompromissados desfiles de blocos e ranchos, até a imponência que a construção do sambódromo da Marquês de Sapucaí trouxe, é repleta de influências culturais distintas, desde as festas e comemorações vindas da Europa aos cultos e batuques trazidos pelos negros. Essa mistura resultou na grande festa que todos desfrutam hoje.

A festa cresceu tanto que alcançou diversos cantos do Brasil e do mundo, passando a se tornar uma das maiores referências da capital fluminense. Porém, todo esse reconhecimento e importância não garantem um cuidado em mostrar essa cultura para o público que visita a cidade.

O resultado da pesquisa apresentada neste trabalho mostrou que os turistas que visitam o sambódromo, durante todo o ano, com exceção da época de carnaval, consideram a visita mediana e desinteressante. Esse resultado pode ser considerado insatisfatório, visto que o objetivo de um atrativo turístico é fornecer uma experiência positiva e enriquecedora por parte dos visitantes.

Primeiramente, o sambódromo do Rio de Janeiro precisa ser encarado como um atrativo turístico da cidade. Hoje ele é visto apenas como um lugar onde as pessoas podem fazer uma visita contemplativa para ver de perto o local em que acontecem os desfiles das escolas de samba cariocas. É preciso levar em conta que as pessoas vão visitá-lo repletas do imaginário e expectati-vas que são criados por conta do que elas vêem nos desfiles pela televisão, e saem decepcionadas por encontrarem um local vazio, sem nada a oferecer.

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Existem diversas tendências de apropriação de tecnologias que estão modificando o modo como os turistas usufruem do local que estão visitando, baseados no conceito de realida-de aumentada. No entanto, o sambódromo pertence à Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e enfrenta todos os problemas inerentes à gestão pública no Brasil, como por exemplo, a burocra-cia e a falta de verba. Por tanto fica a cargo de empreendedores investirem em projetos a serem desenvolvidos e colocados em prática.

Os resultados desta pesquisa poderão servir de base para o desenvolvimento de projetos que visem propor para os turistas que visitam a cidade do Rio de Janeiro, não só mais uma opção de entretenimento, mas também uma experiência diferente e com um contato maior com a cultura local, fatores indispensáveis para o turista moderno, que está cada vez mais independente em suas viagens e procurando fazer parte do cenário visitado.

Para facilitar a iniciativa de novas alternativas a serem implantadas no sambódromo com o objetivo de melhorar a estruturação de sua visita, futuras pesquisas poderiam focar nas reais ex-pectativas e também nas sugestões dos turistas que visitam o local. Além disso, este estudo pode estimular novas pesquisas em outros locais relacionados ao carnaval como a Cidade do Samba.

Por fim, o carnaval precisa ser visto com a devida importância, assim como a vontade dos turistas de participarem dessa festa. É preciso gerir o espaço pensando que as pessoas que não visitam a cidade durante os quatro dias de carnaval, também querem ver e fazer parte dessa expressão cultural que faz parte do DNA da cidade.

referências

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resumo

O presente artigo aborda a preocupação sustentável em espaços virtuais de compartilhamento de experiên-cias relacionadas ao turismo. Um conjunto de avaliações de serviços hoteleiros retiradas do site TripAdvisor foi analisado qualitativamente a fim de verificar no discurso de seus usuários a existência da preocupação com as práticas sustentáveis de tais empreendimentos. No universo de 112 avaliações analisadas, em ape-nas nove foi encontrada a observação das práticas sustentáveis, um resultado aquém do esperado, uma vez que os meios de hospedagem selecionados posicionavam-se como sustentáveis. Observou-se a necessidade de ações que estimulem à conscientização ambiental. Propõem-se medidas como maior ênfase às práticas sustentáveis nas fichas de avaliação de serviço dos hotéis, bem como ações que atribuam tangibilidade às práticas sustentáveis dos empreendimentos e a criação de uma categoria de meios de hospedagem susten-táveis no TripAdvisor.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Meios de Hospedagem. Compartilhamento de Experiências. Co-cria-ção de Conceitos. Ambientes Virtuais.

abstract

This article discusses the sustainable concern in virtual spaces of sharing experiences related to tourism. A set of reviews of hotel services taken from the website TripAdvisor was analyzed qualitatively in order to verify in the users’ speech the existence of the concern about the sustainable practices. In the 112 assess-ments examined, in only nine were found the note of sustainable practices, smaller than expected, because the sample of hotels selected was composed only by hotels that achieve sustainable actions. There was the need for actions that encourage environmental awareness. Measures as the greater emphasis on sustainable practices in evaluation sheets service hotels are proposed, as well as attitudes that make tangible sustainable practices, and the creation of a category of sustainable hotels on TripAdvisor.

Keywords: Sustainability. Hosting. Sharing Experiences. Co-creation of Concepts. Virtual Places.

Mariana de Morais Ramos¹

¹ Mariana Morais - Graduanda de Bacharelado em Turismo da UFF / [email protected]

Meios de Hospedagem e Comportamento do Consumidor: análise da Preocupação sustentável em ambientes online de Co-criação de Valor.

trabalhos de iniciação Científica do Curso de turismo

Faculdade de turismo e Hotelaria

Universidade Federal Fluminense

Volume 1, número 1, Dezembro de 2015

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introdução

O acesso facilitado a um grande volume de informações, propulsionado principalmente pela internet, possibilita que as pessoas encontrem coisas a que antes não possuiriam acesso e também que se mantenham atualizadas a respeito de novas tendências de consumo, lançamentos, promoções, enfim, conhecimento, no sentido amplo da palavra. Segundo Castells (2003), vive-se hoje em uma sociedade cujas formas de pensar e agir são cada vez mais afetadas pelo desenvol-vimento extremamente veloz das tecnologias de informação e comunicação, com grande ênfase para a Informática e Internet. Tais circunstâncias proporcionam ao indivíduo maior nível de auto-nomia, além de servirem de incentivo ao consumo que nem sempre ocorre de maneira consciente.

Para Fioravanzo (2013), o indivíduo pode ter hábitos de consumo de forma consumista

ou de forma consciente, podendo ser levado pelo impulso e pelo estímulo à compra, sem avaliar suas necessidades e impactos futuros. Portanto, há de se considerar que o consumo, indispensável à humanidade, quando ocorre de forma incorreta ou exacerbada, pode gerar sérias consequências socioambientais. A autonomia, adquirida pelo avanço tecnológico, provoca mudanças no com-portamento do indivíduo como consumidor, fato que se reflete no turismo. O turista da atualidade deseja e procura produtos turísticos individualizados, pois ele próprio sente-se um sujeito distinto/singular na rede mundial de computadores (ARRUDA, 2005).

Uma das maneiras mais utilizadas para a análise dos prós e contras de um meio de hos-pedagem é obter informações da experiência de outras pessoas em tais estabelecimentos. Há sites como o TripAdvisor, o Booking.com e o Previagem.com. que são espaços de livre acesso e funcio-nam como uma “rede colaborativa”, em que os usuários postam suas opiniões e comentários com o único fim de contribuir para a escolha de outras pessoas. Em tal contexto, em que se pode “ter o quanto se deseja de tudo o que se tem notícia”, a quantas anda a preocupação do consumidor com a questão ambiental?

Para responder a essa pergunta, optou-se por analisar avaliações a respeito de hotéis que fomentam práticas sustentáveis a fim de melhor compreender como se dá tal dinâmica e verificar se de fato as pessoas observam e valorizam tais iniciativas em um serviço de hospedagem. Para a presente pesquisa foi escolhido o site TripAdvisor, por se tratar de um ambiente virtual de in-formação turística posicionado entre os mais acessados, com 200 milhões de visitantes por mês e a maior comunidade de viajantes do mundo, com mais de 100 milhões de avaliações, conside-rado um intermédio confiável para o viajante independente (TRIPADVISOR, 2013). Segundo Jeaclea e Carterb (2011), tal confiabilidade se deve ao fato de que o TripAdvisor trabalha como a ilustração de um sistema abstrato, mediada pela internet, através de um mecanismo de ranking, alimentado por seus usuários.

Este artigo visa colaborar para melhor entendimento do fenômeno turístico no ambiente virtual e das comunidades de co-criação de valor, assim nomeadas por Gomes (2012), com ênfa-se em questões relacionadas à responsabilidade ambiental, às práticas sustentáveis e ao nível de conscientização ambiental, buscando não apenas contribuir para o estudo acadêmico, mas tam-bém na relação do empresariado hoteleiro com seus hóspedes.

Práticas sustentáveis e Meios de Hospedagem

Ao se tratar da questão sustentável, existem alguns conceitos importantes que devem ser levados em conta. Fala-se sempre dos aspectos e impactos ambientais originados pelo homem e suas atividades, o primeiro refere-se a qualquer intervenção direta ou indireta das atividades e ser-viços de uma organização sobre o meio ambiente, quer seja adversa ou benéfica (ABNT, 2004). Desta forma, um aspecto ambiental significativo possui o potencial de exercer um impacto am-biental expressivo, seja por meio de uma máquina, equipamento ou atividade executada por esta ou por alguém, produzindo efeito sobre o meio ambiente (ABNT, 2004). Já o impacto ambiental

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é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causa-da por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, venham a afetar: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986).

Nota-se que dentre os aspectos e os impactos ambientais existe uma relação de causa e efeito, sendo os aspectos caracterizados pela intervenção do indivíduo e de suas atividades no meio ambiente e os impactos pela modificação ou alteração a ele aplicadas.

Especificamente em relação à atividade hoteleira e considerando as ações inerentes a sua operação, pode-se erroneamente imaginar que poucos seriam os impactos ocasionados pela atividade de um empreendimento hoteleiro, principalmente se comparados aos de outras atividades, como as do setor químico, petroquímico e metalúrgico. Dias (2002) aponta que os principais impactos da operação hoteleira concentram-se no esgotamento de recursos naturais, consumo de água e energia, e a alteração da qualidade da água e do ar por efluentes de esgoto não tratado e emissão de gases na atmosfera. Fazendo um levantamento dos principais aspectos e impactos na operação de um hotel, Dias (2002) reuniu as seguintes informações:

Quadro 1: Aspectos e impactos da operação de um hotel Fonte: Dias, 2001.

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Observa-se que muitos são os impactos gerados pela atividade de um meio de hospedagem, fator que requer preocupação por parte de seus gestores e usufrutuários (hóspedes), uma questão que muitas vezes é negligenciada e menosprezada, por motivos diversos, como a não consciência am-biental ou os gastos advindos de investimentos em práticas e tecnologias mais limpas (P+L e T+L).

Furtado (2001) atribui ao Greenpeace, organização ambientalista internacional, a ini-ciativa de difundir o conceito de Produção Limpa (Clean Production) e a proposta de uma mu-dança mais profunda no setor industrial. Tal iniciativa foi estimulada pelo Programa das Nações Unidas ao Meio Ambiente (PNUMA), em 1989, que procurou incentivar medidas a favor da redução de resíduos e a economia da água e de energia nos processos produtivos, enfatizando os conceitos de Produção Mais Limpa.

No intuito de estabelecer parâmetros para o controle dos impactos da operação hote-leira, a Leadership in Energy and Environmental Design (EUA) - Leed – e o Green Star Ac-creditation (Austrália), referências mundiais na certificação de empreendimentos sustentáveis, estabeleceram as principais características de um meio de hospedagem sustentável, conforme apresentado no quadro 2:

Quadro 2: Características de um meio de hospedagem sustentável Fonte: Planeta Sustentável Abril, 2013.

Tais características são utilizadas como parâmetro para a implementação de práticas sustentáveis no ramo hoteleiro em todo o mundo. O Guia Quatro Rodas é um exemplo de publi-cação que utiliza os critérios da Leed para a avaliação de meios de hospedagem que se posicio-nam como sustentáveis, existindo ainda variados “selos verdes” e certificações por diferentes entidades, órgãos públicos e privados.

Com o objetivo de assegurar a exploração sustentável dos recursos naturais, a Associação Brasileira da indústria Hoteleira (ABIH) criou o programa “Hóspede da Natureza” que é de adesão voluntária, e visa vincular a imagem da hotelaria brasileira à causa ambiental (AMORIM; RA

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MOS, 2003). O programa destina-se a capacitar os funcionários de empreendimentos hoteleiros-para a transmissão de informações que estimulem a mudança de atitude do hóspede e as habilida-des necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental, elementos fundamentais à con-solidação da educação ambiental. Além de minimizar os impactos negativos diretos, o programa incentiva a redução do consumo dos recursos naturais e o mais importante busca envolver funcio-nários e hóspedes com a causa a partir da descoberta e do aprendizado, desta maneira mudanças de hábito podem vir a ser concretizadas (AMORIM; RAMOS, 2003).

Compartilhamento de experiências e Co-criação de Valor no Meio online

Como registrado por Gomes (2012), o estudo da comunicação entre consumidores não é recente. Katz e Lazarsfeld (1955) já apontavam o compartilhamento de informações e experiências entre consumidores, o chamado boca a boca, como uma importante fonte de informações sobre pro-dutos e serviços. Pode-se denominar comunicação boca a boca a troca interpessoal de experiências de consumo que ocorre de maneira informal e desinteressada, entre os indivíduos (consumidores), por diversas motivações e que, de maneira geral, podem vir a exercer influência em seu comporta-mento de compra. Observam-se no quadro 3 algumas motivações para tal comportamento:

Quadro 3: Motivações da comunicação boca a boca Fonte: Adaptado de Gomes (2012, p. 42 e 43).

Nota-se que variadas são as motivações para esse comportamento e que diferentes são os in-teresses para a transmissão de informações referentes às provas de produtos e serviços. Como princi-pal característica desse comportamento, ressalta-se o intuito de compartilhar sensações e impressões.

No contexto virtual, tal dinâmica persiste, sendo uma espécie de “boca a boca” que se alia a alguns fatores agravantes, como a velocidade com que a informação se dissemina nesse ambien-te e a sua visibilidade característica - elementos que ocasionam o maior alcance de consumidores. Para Gomes (2012), a internet tem a qualidade de ser um canal de comunicação que inclui um relativo anonimato e a habilidade de conectar pessoas com interesses, valores e crenças similares.

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Segundo Bargh e Mckenna (2004), a internet encoraja a autoexpressão e facilita a formação de relacionamento com base no compartilhamento de ideias. Esse relacionamento entre os consu-midores viria a gerar os sentimentos de coletividade, cooperação e proteção, que aproximam as pessoas numa espécie de grande comunidade colaborativa.

O site TripAdvisor é um exemplo de comunidade colaborativa no meio virtual, em que o conteúdo gerado por seus usuários (consumidores turísticos) cresce a cada instante. Lee, Law e Murphy (2011) a chamam de “massa crítica” e ainda ressaltam entre tais consumidores os cha-mados “revisores úteis” que seriam aqueles que viajam mais, postam comentários ativamente, pertencendo a todas as idades e gênero e atribuem aos hotéis mais baixas classificações.

Tamanha mobilização e produção informacional vêm despertar a atenção do empresa-riado. O’Connor (2010) observa que alguns hotéis estão gerindo ativamente a sua reputação no site TripAdvisor, fato que apesar da facilidade que teriam para responder às críticas, levanta a questão sobre qual a maneira adequada para fazer tal coisa. As análises de O’Connor também sugerem que a crença de que sites de conteúdo gerado pelo usuário tenham a sua veracidade comprometida por falsos comentários é infundada, com pouca evidência de comentários com características de falsas postagens.

Metodologia

Para a definição da amostra de avaliações a serem analisadas neste estudo, foram es-colhidos seis meios de hospedagem, cadastrados no portal EcoHospedagem <ecohospedagem.com>, de uma lista intitulada “Top 10 hotéis visitados com mais ações de sustentabilidade”. Tal portal possui uma dinâmica específica para a avaliação que antecede ao cadastramento dos meios de hospedagem, em que são levadas em conta 63 ações de sustentabilidade que podem ser implementadas pelos empreendimentos do setor (PORTAL ECOHOSPEDAGEM, 2013), cada uma dessas recebe ponderação de 01 a 03 pontos, totalizando 146 pontos possíveis:

• 18% para possíveis ações na área gerencial (controle de consumo, treinamento, política de sustentabilidade, entre outros);

• 24% para ações na área social (benefícios aos colaboradores, relacionamento e ações a ONGs, relacionamento com a comunidade, entre outros);

• 58% para ações ambientais (ações que visam economia de recursos naturais, proteção da fauna e flora, entre outros).

Tal avaliação é feita por meio de uma visita, que possui validade de dois anos, sendo renovada após nova visitação. Para que um empreendimento seja cadastrado nesse portal e passe a ter o direto de utilizar o selo de “hotel visitado”, deverá atender, no mínimo, a 40% dos 146 pontos.

Nesta investigação, optou-se por delimitar a amostra por região (sul do país) e espaço de tempo (de janeiro a junho de 2013), sendo apreendido o universo de 112 avaliações referen-tes aos seguintes empreendimentos: Pousada Encantos Da Terra, Canela – RS; Pousada Dom Capudi, Bombinhas – SC; Pousada Ilha do Papagaio, Palhoça – SC; Hotel Pousada Blumenberg, Canela – RS;Cambará Eco Hotel, Cambará do Sul – RS; e Bangalôs da Serra, Gramado – RS.

As avaliações referentes aos meios de hospedagem mencionados foram extraídas do site TripAdvisor, reunidas e analisadas individualmente segundo o seu caráter – positivo, ne-gativo, utilitário e/ou emocional. Também foram examinadas quanto aos fatores presentes na avaliação – preço, conforto, atendimento, localização, facilidades, design, nível de ruído, café da manhã/restaurante e práticas sustentáveis.

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Principais resultados e discussão Como esperado, encontrou-se um maior índice de avaliações de caráter utilitário – 82,14% – fato que denota intuito de colaboração informacional por parte dos usuários do site e sua contribuição espontânea para a escolha de outras pessoas, bem como o altruísmo para com a empresa (VERLEGH, 2008). Também foram encontrados muitos relatos com alguma carga emocional – 41,96% – confirmando algumas motivações para o comportamento de comunicação boca a boca sugeridas por outros autores, como o auto envolvimento, o envolvimento com a men-sagem, o envolvimento com pares, a busca por vingança e o desabafo de hostilidade (ALLPORT ; POSTMANN, 1947; JUNG, 1959; DICHTER, 1966; ARNDT, 1967; RICHINS 1984; KNAPP, 1994). A amostra em questão apresentou um maior índice de avaliações positivas – 94,64%.

O “Atendimento” se destacou como o fator mais presente nas avaliações figurando em 92,85% da amostra, com o maior grau de satisfação – 91,07%. Fatores como “Estacionamento” e “Preço” foram pouco avaliados, fato que se justifica por serem elementos que normalmente são pesquisados previamente, na escolha do meio de hospedagem. Entre os fatores que causaram maior insatisfação estão: “Nível de Ruído” – 4,46%, “Facilidades” e “Localização” – 2,67% cada, atribuídos a acontecimentos como obras no hotel, aparelhos que não funcionavam e informações infiéis a respeito das distâncias entre o meio de hospedagem e os atrativos locais (Tabela 1).

Fonte: Elaboração própria

Foi encontrado um bom nível de recomendação – 46,42% (52 usuários) e intenções de retorno – 44,64% (50 usuários). Fato que repercute positivamente para a imagem dos empreendi-mentos em questão e que sugerem, intenções altruístas dos usuários, tanto para com os visitantes do site, como para os meios de hospedagem avaliados (Tabela 2).

Tabela 2 - Número de usuários que recomendam e/ou intencionam regressar ao empreendimento

Fonte: Elaboração própria

Apenas 8,03% das avaliações analisadas apresentaram alguma prova de observação das práticas sustentáveis fomentadas pelos empreendimentos hoteleiros contemplados nesse estudo, re-sultado que sugere um baixo nível de conscientização ambiental entre os usuários do site TripAdvi-sor. Tais avaliações são expostas a seguir para que melhor se infira sobre o assunto ( Quadro 4):

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Quadro 4: Avaliações que apresentaram a observação das práticas sustentáveis Fonte: Elaboração própria baseado em TripAdvisor (2013)

Constatou-se, de maneira geral, certa superficialidade nos discursos. Alusões às práticas sustentáveis foram feitas por meio de frases genéricas, como por exemplo: “A preocupação com o meio ambiente” e “O lado sustentável da pousada”, o que demonstra a necessidade do reforço por parte dos gestores desses meios de hospedagem, seja por sua fala e postura ou para agregar tangibilidade às suas ações. Foram encontradas poucas menções diretas às iniciativas sustentáveis, apenas três pessoas foram específicas ao relatar o que identificaram como práticas de responsabilidade ambiental. Elas mencionaram a participação ativa do gestor em projetos socioambientais, a certificação de um dos empreendimentos pelo Guia Quatro Rodas (Selo Verde), a destinação dos resíduos sólidos e o não desperdício.

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Considerações Finais

De acordo com o objetivo deste estudo, verificou-se, por meio das avaliações do site TripAdvisor, se as pessoas que se hospedam em hotéis com práticas sustentáveis percebem-nas e as relatam. Constatou-se nas avaliações alto nível de satisfação com o serviço prestado, que apesar de se referirem aos meios de hospedagem notoriamente sustentáveis, não se dire-cionavam especificamente a tais práticas. Entre 112 análises, foram detectadas apenas nove avaliações de pessoas que observaram e relataram a existência das práticas sustentáveis. No-tou-se nessas avaliações certa superficialidade nos discursos sobre as ações realizadas nesses empreendimentos, com utilização de frases genéricas e poucos com referências diretas ao que de fato se realiza.

Entende-se que muito há de se evoluir em relação à consciência ambiental como um todo. Resultados de outras pesquisas revelaram que os hóspedes consideram importante a prá-tica de ações ambientais, mas não as praticam totalmente e muitos ainda não demonstram in-teresse em conhecer as ações praticadas pelos estabelecimentos de hospedagem (AMORIM; RAMOS, 2003). Isso denota que não apenas a realização de ações de cunho sustentável, mas também a sua divulgação se fazem necessárias. Esforços por parte dos empreendimentos para manter os hóspedes mais bem informados sobre as práticas realizadas são ações que poderiam resultar em relatos advindos de olhares mais atentos.

Uma maneira de sensibilizar os hóspedes a respeito das práticas sustentáveis de um meio de hospedagem seria enfatizar o assunto nas fichas de avaliação de serviço que eles costu-mam preencher no momento do seu check-out. A inclusão de perguntas a respeito das práticas observadas seria uma maneira de chamar sua atenção para as ações promovidas em tal empre-endimento e também de “treinar o seu olhar” para as próximas hospedagens.

Outra medida seria a utilização de alguns informes sobre as práticas realizadas nesses hotéis, como pequenas placas nas acomodações e dependências dos empreendimentos, uma maneira de tornar tangíveis ações que muitas vezes passam despercebidas. Programas como o “Hóspede da Natureza” seriam alternativas em longo prazo.

A sugestão ao site TripAdvisor seria a criação de uma categoria de meios de hospeda-gem sustentáveis, podendo contar com algumas avaliações de experts do assunto. Tal medida possivelmente tornaria parte de seus usuários mais atentos à causa ambiental, bem como ao aproveitamento de alguns mecanismos que já existem para o incentivo à hospedagem sus-tentável, como a sugestão de hotéis sustentáveis com mesmo custo X benefício na região buscada pelo usuário.

É importante destacar que os resultados obtidos são apenas uma parcela de um grande contexto, por se tratar da análise de uma amostra limitada. Sugere-se que mais levantamentos semelhantes sejam feitos a partir de avaliações de meios de hospedagem sustentáveis de outras regiões do país ou até mesmo a realização de um estudo comparativo a respeito da consciência ambiental no Brasil e demais países.

Ressalta-se a complexidade do assunto “sustentabilidade”, por se tratar de uma temá-tica extensa e desafiadora, havendo muita produção acadêmica e sendo fonte inesgotável de estudos e debates.

Por fim, outras pesquisas também poderiam ser realizadas, tendo por amostra, precisa-mente os hotéis participantes do programa “Hóspedes da Natureza”, a fim de verificar se have-ria maior incidência de observações das práticas desses empreendimentos, bem como avaliar essas informações, pressupondo-se que sejam menos superficiais.

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Ficha técnica

reitor da Universidade Federal FluminenseSidney Luiz de Matos Mello

Pró-reitor de GraduaçãoRenato Crespo Pereira

diretor da Faculdade de turismo e HotelariaMarcello de Barros Tomé Machado

Chefe do departamento de turismoJoão Evangelista Dias Monteiro

Coordenador do Curso de turismoVerônica Feder Mayer

organizadorasVerônica Feder MayerErly Maria de Carvalho Silva

Pesquisador ColaboradorOsíris Ricardo Bezerra Marques

auxiliar de ediçãoBruna Calil Fessel

Projeto GráficoMaurício Lo Bianco – LV CRAFT