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CADERNO DE

RESUMOS

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Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (16. : 2015 :

Araraquara, SP)

XVI Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários:

caderno de resumos / XVI Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos

Literários; Organizado por Marco Aurélio Rodrigues. Araraquara, 2015 (Brasil). – Documento

eletrônico. - Araraquara : FCL-UNESP, 2015. – Modo de acesso:

http://www.fclar.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/StrictoSensu/EstudosLiterarios/caderno-de-

resumos.pdf

ISBN 978-85-8359-024-8

1. Literatura. 2. Pesquisa. 3. Pós-graduação. I. Título. II. Marco Aurélio Rodrigues.

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Juliana Santini Brunno V. G. Vieira

(Coord.)

XVI Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários: caderno de resumos

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Araraquara

FCL-UNESP

2015

XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS

Realização

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários

Conselho do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários

Juliana Santini (Coordenadora) Brunno V. G. Vieira (Vice-Coordenador)

Luiz Gonzaga Marchezan Adalberto Luís Vicente

Aparecido Donizete Rossi João Batista Toledo Prado

Maria Lúcia Outeiro Fernandes Karin Volobuef

Representantes discentes:

Vívian Carneiro Leão Simões Daniel Vícola

Comissão Organizadora

Juliana Santini Marco Aurélio Rodrigues

Brunno V. G. Vieira Aparecido Donizete Rossi

Vívian Carneiro Leão Simões Daniel Vícola

Gabriele C. Borges de Morais

Comissão Científica Juliana Santini

Brunno V. G. Vieira Luiz Gonzaga Marchezan Adalberto Luís Vicente

Aparecido Donizete Rossi João Batista Toledo Prado

Maria Lúcia Outeiro Fernandes Karin Volobuef

Diana Junkes Bueno Martha Rejane Cristina Rocha

Assessoria

Rita Enedina B. Torres Leda Regina

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Apoio CAPES

Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara

Índice de autores COMUNICAÇÕES ..................................................................................................................8

Adrienne Kátia Savazoni Morelato........................................................................................9 Alessandro Yuri Alegrette ...................................................................................................10

Aline Maria Magalhães de Oliveira Ávila............................................................................11 Aline Cristina Sola Orlandi .................................................................................................12 Aline Tosta Floriano ...........................................................................................................13 Amanda Oliveira Manfrim Vizzotto ....................................................................................14 Audrey Castañón de Mattos ................................................................................................16 Camila Pinto de Sousa.........................................................................................................17 Carlos Rocha.......................................................................................................................18 Carolina Piovam .................................................................................................................19 Cristovam Bruno Gomes Cavalcante ...................................................................................20 Daniel Rossi........................................................................................................................21

Danielle de Aurélio Martinez ..............................................................................................23 Emerson Cerdas ..................................................................................................................25 Evelyn Caroline de Mello....................................................................................................26 Ewerton Mera .....................................................................................................................27

Fernando Góes ....................................................................................................................28 Francisco Diniz Teixeira .....................................................................................................29 Gabriele Cristina Borges de Morais .....................................................................................30 Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro................................................................................31 Hebe Tocci Marin ...............................................................................................................32

Isabella Midena Capelli.......................................................................................................33 Isaías Eliseu da Silva...........................................................................................................34 Jaqueline Vansan ................................................................................................................35 Jassyara Conrado Lira da Fonseca .......................................................................................36 Jéssica Soares Fradusco.......................................................................................................37

João Francisco Pereira Nunes Junqueira ..............................................................................38 Joana Junqueira Borges .......................................................................................................39 Jonatan de Souza Santos......................................................................................................40 Júlia Mara Moscardini Miguel.............................................................................................41

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Kelli Mesquita Luciano .......................................................................................................42 Larissa Cristina Thomann....................................................................................................43 Leandro Dorval Cardoso .....................................................................................................44 Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier ...................................................................................45 Lívia Mendes Pereira ..........................................................................................................46 Luis Eduardo Veloso Garcia................................................................................................47 Mariana Peixoto Pizano.......................................................................................................48

Marília Gabriela Malavolta .................................................................................................49 Marina Lourenço Morgado..................................................................................................50 Natália Pedroni Carminatti ..................................................................................................51 Natalia Helena Wiechmann .................................................................................................52

Oíse de Oliveira Mattos Bazzoli ..........................................................................................53 Patrícia Aparecida Antonio .................................................................................................54 Paulo Eduardo de Barros Veiga ...........................................................................................55 Priscila Berti Domingos ......................................................................................................56 Priscila Maria Mendonça Machado .....................................................................................57

Rafhael Borgato ..................................................................................................................58 Renato Luís de Castro Aguiar Silva.....................................................................................60 Ricardo Gomes da Silva ......................................................................................................61 Rodrigo Valverde Denubila .................................................................................................62 Roseli Deienno Braff...........................................................................................................63

Stéfano Stainle ....................................................................................................................64 Tais Matheus da Silva .........................................................................................................65 Thais de Souza Almeida......................................................................................................66 Valmir Luis Saldanha da Silva ............................................................................................67

PROJETOS DE PESQUISA ...................................................................................................68 Aline Maria Jeronymo.........................................................................................................69 Carina Zanelato Silva ..........................................................................................................71

Carlos Eduardo Monte ........................................................................................................72 Clarissa Navarro Conceição Lima .......................................................................................73

Cristiane Nascimento Rodrigues..........................................................................................74 Daniel Ricardo Vícola.........................................................................................................76 Islene França de Assunção ..................................................................................................77 Jessica Romanin Mattus ......................................................................................................78 Leonardo Vicente Vivaldo ..................................................................................................79

Lívia Maria Zocca...............................................................................................................80

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Luís Cláudio Ferreira Silva..................................................................................................81 Luisa Fernandes Vital .........................................................................................................82 Marcela de Oliveira Gabriel ................................................................................................83 Mariana Alves de Faria .......................................................................................................84 Marina Bariani Trava ..........................................................................................................85 Marina Venâncio Grandolpho .............................................................................................86 Naiara Alberti Moreno ........................................................................................................87

Nathalia Sorgon Scotuzzi ....................................................................................................88 Pedro Barbosa Rudge Furtado .............................................................................................89 Rafaela Vareda Goffredo.....................................................................................................90 Rubia Alves ........................................................................................................................91

Sérgio Gabriel Muknicka ....................................................................................................92 Sérgio Ricardo Perassoli Junior ...........................................................................................93 Thais de Souza Almeida......................................................................................................94 Prof.ª Ms. Vivian Carneiro Leão Simões .............................................................................95

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COMUNICAÇÕES

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A POÉTICA DO TERNURA E DO CORPO NA OBRA DE TRÊS POETAS LATINO-AMERICANAS

Adrienne Kátia Savazoni Morelato

Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)

Financiamento: CNPq

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura feminina, Melancolia, Corpo.

A poesia latino-americana do século XX, nas figuras principais de Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa e Gabriela Mistral, contemporâneas entre si, tem por característica principal um percurso independente dos modismos literários e um distanciamento crucial das coisas banais do mundo. Elas se permitem olhar para a realidade com tanta profundidade, mas um olhar marcado pela exclusão e pelo silêncio de ser mulher, de um corpo autoral que é marcado pelo feminino historicamente. Embora não fosse o objetivo principal das autoras aqui estudadas realçar a marca de ser mulher em suas obras, essa marca existe, tanto pela produção como pela recepção de suas produções, já que, nem mesmo a crítica mais neutra não conseguem enxergá-las sem o seu corpo de mulher. A melancolia seria um aspecto dessa poética, da exclusão de um corpo real e do corpo literário do corpus do cânone maior. Melancolizar-se a poesia seria um ato de reflexão contra a exclusão, uma linha limite entre o que é visto e o não é visto, entre o que consagrado e o que teria como destino o encobrimento e a solidão. Essa melancolia e essa solidão, encarnadas na poética do corpo, não são sintomas de uma histeria, mas reflexões de um ponto de vista historicamente marginalizado por um modo de ser e ver padronizado pelos conceitos masculinos. Assim, esse trabalho pretende analisar em que certa medida essa ciranda entre elas, nesta busca pela poética da ternura, não teriam em comum: a reinvenção da angústia no sagrado e no metafísico, uma relação entre corpo e tempo transfigurada em natureza.

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OS ELEMENTOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA E AS RESSONÂNCIAS DO GÓTICO NA NARRATIVA STEAMPUNK DE A MÁQUINA DIFERENCIAL

Alessandro Yuri Alegrette [email protected] ou [email protected]

Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Steampunk, Ficção científica, Gótico.

A Máquina Diferencial é considerada a obra inaugural, que estabeleceu as bases para a criação do steampunk, um gênero filiado à fantasia, que se caracteriza por seu aspecto visual exuberante e na década de noventa infiltra-se amplamente no campo das artes em geral, aparecendo de forma destacada na literatura, no cinema e nas histórias em quadrinhos. Assim, o principal objetivo desta comunicação é apontar as prováveis origens do steampunk enfatizando-se sua relação de proximidade com os chamados “romances científicos”, tais como Da Terra à Lua e Vinte Mil Léguas, ambos de Jules Verne e A Máquina do Tempo, de H. G. Wells. Vale lembrar que nessas obras escritas por Verne e Wells têm grande importância a detalhada descrição de invenções tecnológicas capazes de realizarem feitos extraordinários, que desafiam as leis da Ciência. Também sobre o steampunk como uma modalidade de ficção especulativa derivada de uma mistura de gêneros literários, não podemos deixar de ressaltar que os enredos de suas histórias são criados a partir de alguns elementos que podem ser encontrados em um tipo de literatura muito popular no século XIX: o romance gótico. Em algumas passagens de A Máquina Diferencial é instaurada uma contínua atmosfera de terror/ mistério, envolvendo uma série de atos terríveis praticados por indivíduos “degenerados” e perigosos, que participam de uma conspiração política e espalham o medo entre os habitantes de Londres. Além disso, em A Máquina Diferencial também se destaca a existência de vários tipos de máquinas, algumas delas vistas pelos protagonistas como criaturas “monstruosas” e “ameaçadoras”, uma vez que quando utilizadas para atingir propósitos malignos, elas podem causar drásticas alterações no cenário político mundial. Dessa forma, no complexo enredo de A Máquina Diferencial encontramos a retomada de um tema, – o experimento científico que ameaça à humanidade –, que é amplamente explorado em Frankenstein, uma obra inovadora que deu origem a ficção científica e também criou uma nova e instigante configuração para o romance gótico, que estabeleceu uma fusão permanente entre o sobrenatural e a Ciência.

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REPRESENTAÇÃO DE IMIGRANTES NA OBRA DE GUIMARÃES ROSA

Aline Maria Magalhães de Oliveira Ávila [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

(FCL/UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Imigrantes, Guimarães Rosa, Estudos culturais.

O tema da imigração e das relações entre alteridades é cada vez mais frequente e intenso na literatura, talvez como reflexo do mundo globalizado. Na literatura brasileira, os imigrantes passaram a ser tema de diversas obras a partir da segunda metade do século XIX e, de maneira mais intensa e profunda, em todo o século XX, quando os conflitos culturais e identitários começaram a ser discutidos em diversas obras. Por isso, escolhemos analisar como esse tema é tratado na obra de um dos maiores escritores de língua portuguesa: João Guimarães Rosa. Além do interesse atual pelo tema em pauta, embora o autor conte com uma vasta crítica sobre a obra, a imigração ainda foi pouco abordada por ela. Sabe-se que Guimarães Rosa sempre demonstrou interesse especial em representar componentes das minorias, em diversas de suas narrativas ele dá voz a seres de exceção, aos excluídos e marginalizados. Dentre essas minorias, estão os imigrantes que figuram em composições em todas as fases de sua carreira. O trabalho procura mostrar como essa escolha temática revela Rosa como um escritor transculturador, que se situa entre dois polos contraditórios e inconciliáveis, entre o centro e periferia, o arcaico e o moderno, entre o oral e o escrito e procura estabelecer pontes entre culturas distantes. Acreditamos que o estudo da presença do imigrante na obra rosiana pode ser um importante instrumento de investigação para uma compreensão renovada de suas narrativas. O corpus desta comunicação é a novela “O recado morro”, de Corpo de baile, uma vez que o tema do estrangeiro aparece nela de modo evidente e fundamental, visto que é o alemão quem motiva e financia a viagem que dá origem à história e ele é o primeiro a perceber que o recado aparentemente sem nexo é algo importante, uma “canção a formar-se”. A análise tem como suporte teórico os estudos culturais, contando com os estudos como os de Marli Fantini contidos no livro Guimarães Rosa: fronteiras, margens e passagens e a crítica de base sociológica, como a de Antonio Candido, Walnice Galvão, dentre outros. Por meio da análise, demonstraremos como as alteridades são diluídas ao longo do trajeto e como o narrador aproxima-se do estrangeiro ao final da viagem. Quando o recado do morro passa para uma linguagem poética, finalmente atinge valor universal, diluindo as diferenças, inclusive linguísticas. Assim, pretende-se evidenciar como o jogo entre identidade e alteridade contribui para a formação de sentido, assim como o sentido do recado só é construído ao passar por excêntricas figuras de alteridade.

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O GÓTICO E O FEMININO: A (DES)VITIMIZAÇÃO DA MULHER NOS CONTOS DE ANGELA CARTER

Aline Cristina Sola Orlandi [email protected]

Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Angela Carter, Gótico, Feminismo.

Em Femicidal Fears, Helene Meyers faz um estudo sobre a vitimização da mulher e analisa diversos textos de autoria feminina – incluindo Shadow Dance, de Angela Carter. Explorando o “mundo gótico” em que se encontram as mulheres desses textos, ela nos mostra que a vitimização da mulher é uma tradição na literatura gótica. O ponto de sua análise é como as heroínas desses textos góticos fazem para sobreviver dentro do sistema patriarcal. Angela Carter, em “The Werewolf” e “The company of wolves” – objetos de estudo -, mostra que, apesar de já codificada culturalmente a mulher como vítima e o homem como o vilão, especialmente em textos de gênero gótico, há como a mulher sair desse papel de vítima. Esses dois contos – presentes em The Bloody Chamber and other stories – revisitam “Chapeuzinho Vermelho”, e cada um apresenta uma temática. Enquanto “The werewolf” traz a temática da figura materna como impedimento de independência feminina, “The company of wolves” traz a sexualidade da mulher como uma forma de sair do papel de vítima, usando a sagacidade para desfazer o que já estava codificado em “Chapeuzinho Vermelho”. Mas não apenas, traz como a mulher pode se tornar a sedutora e deixar de ser, como sempre, a seduzida. Deste modo, à luz de teorias feministas e do Gótico, pretende-se mostrar de que forma Angela Carter constrói a personagem feminina, em meio a um “mundo gótico”, cheio de impropérios e perigos para a mulher. Além de não haver figuras masculinas que garantam a posição de herói ao homem. E o que se verificará é que os textos de Carter tornam-se duplamente subversivos ao trazer elementos da literatura gótica – subversiva por ter seu advento em um momento de racionalidade, o Iluminismo – e ao explorar uma mulher que desemparelha o imaginário feminino e que subverte a tradição gótica de vitimização.

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TEATRO NATURALISTA DO SÉCULO XIX E AS INOVAÇÕES TEATRAIS DO SÉCULO XX: TRANSFORMAÇÕES DA FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO

CÊNICO

Aline Tosta Floriano [email protected]

Prof. Dr. Jorge Vicente Valentim (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Teatro naturalista português no século XIX, Teatro no século XX, Espaço.

Sabe-se que no século XIX o teatro era local da aristocracia, em que a peça representada pouco importava, já que a intenção dos espectadores burgueses consistia em observar o micro núcleo burguês que se formava nos camarotes: ali estavam apenas para verem e serem vistos. A tradição vicentina, do século XVI, crítica em relação à sociedade de seu tempo, que testemunhou as transformações por que passaram Portugal e a Europa, convertera-se em desfile de figurinos e poder aquisitivo elevado, já que a própria arquitetura – edifício como obra monumental – contribuía para que esse teatro relegasse seus primórdios. A chegada do século XX, marcado por um extraordinário desenvolvimento, – telégrafo, avião, eletricidade, telefone, cinema, automóvel, a teoria da relatividade (Einstein) e a teoria psicanalítica (Freud) – a luta de classes e o acontecimento de duas grandes guerras, exigiu do teatro uma atitude mais engajada, semelhante às origens de Gil Vicente, refletindo uma época onde as hierarquias e a ordem social tentavam ser regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Intenciona-se por meio deste projeto de pesquisa um estudo do termo espaço, principalmente o espaço físico no teatro português do século XIX, comparando-o à transformação sofrida nesse âmbito – em outros países –, com dramaturgos, reconhecidos mundialmente, do século XX, como Bertolt Brecht, Viola Spolin e Augusto Boal.

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O FRADIQUE MENDES DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA, EM NAÇÃO CRIOULA.

Amanda Oliveira Manfrim Vizzotto [email protected]

Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Intertextualidade, Metaficção historiográfica, Literatura pós-colonial.

Este trabalho tem o objetivo de analisar a obra Nação Crioula (1997), de José Eduardo Agualusa, escritor angolano que, atualmente, vive em Portugal. Parte-se da relação existente entre essa obra e A correspondência de Fradique Mendes (1900), de Eça de Queirós. A primeira evidência dessa relação é a personagem, Fradique Mendes, criada por Eça e retomada por Agualusa. Contata-se que se trata de uma obra intertextual. Sendo assim, a obra da literatura portuguesa é imprescindível a este trabalho, contudo, é para que se analise esse aspecto intertextual, sem tomá-la como corpus. Com essa análise feita, parte-se para a análise da função dessa retomada, ou seja, o motivo pelo qual Agualusa retoma Fradique Mendes, observando-se, claramente, a construção da metaficção historiográfica, que dá pela junção (ou relação) que se faz em uma obra de História e ficção, justamente o que faz Agualusa ao mesclar a História com a ficção, da mesma forma que fez Eça. Analisados vários aspectos intertextuais e metaficcionais a partir de trechos das obras, parte-se para a relação do que foi feito até aqui com a literatura pós-colonial, que está vinculada também à literatura pós-moderna, e que busca questionar (ou pôr em dúvida) a História, além de dar voz aos “esquecidos”, ou seja, aos colonizados oprimidos. É fazendo a relação entre essas três teorias, intertextualidade, metaficção historiográfica e literatura pós-colonial, que pretendo, com esta análise, mostrar minha hipótese para qual seria o motivo da retomada de Agualusa, já que retoma até o mesmo nome: Fradique Mendes. Não seria uma simples relação, mas também uma intenção crítica por trás dessa [des]construção de personagem, começando pelo tom diferente e engajado que Agualusa dá a sua personagem.

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POR UMA POÉTICA DAS CARTAS: CAIO FERNANDO ABREU, EPISTOLÓGRAFO ARTESÃO DA PALAVRA

André Luiz Alselmi

[email protected] Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Doutorado) PALAVRAS-CHAVE: Escrita epistolar, Caio Fernando Abreu, Cartas. Nas últimas décadas, os gêneros íntimos – as confissões, as memórias, a autobiografia, o diário e a carta – vêm despertando a atenção dos leitores e da crítica literária. Tal fato é intensificado pela atual tendência ao culto da individualidade e ao prazer de acompanhar a vida cotidiana alheia, que hoje toma uma parte significativa da mídia e da realidade. Diante disso, as correspondências de personalidades literárias – por muito tempo negligenciadas pelos estudos literários e pelos leitores – ganham destaque e ocupam um espaço sem precedentes. Assim, as cartas têm suas publicações multiplicadas, o que tem despertado grande interesse da crítica em compreender os fundamentos dessa forma de expressão e de sua relação com a criação literária. Sem dúvida, é preciso reconhecer que as missivas de grandes escritores não raro transcendem o mero relato autobiográfico, trazendo, frequentemente, uma carga poética e informacional passível de ser analisada com vistas a entender o processo de criação literária. Nesses casos, a carta não interessa apenas como um testemunho biográfico ou documento histórico ou cultural, mas também como uma forma de expressão autônoma e múltipla capaz de acolher a reflexão sobre a literatura e o processo de criação. Partindo do pressuposto de que a experiência pessoal e a experiência literária, nas missivas de Caio Fernando Abreu, apresentam-se concomitantemente, este artigo pretende investigar de que maneira as cartas do escritor gaúcho transcendem os limites do gênero epistolar nos aspectos linguísticos, sintáticos e estruturais. Com isso, pretende-se demonstrar como as correspondências do escritor constituem objetos de valor estético que, muitas vezes, conduzem os “leitores intrusos” ao universo poético do epistológrafo.

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O SILÊNCIO NA OBRA DE TEOLINDA GERSÃO

Audrey Castañón de Mattos [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Teolinda Gersão, Silêncio, Literatura portuguesa séc. XX

O primeiro romance de Teolinda Gersão, O silêncio, trata, no plano do conteúdo, do tema do silêncio entendido como incomunicação; suas estratégias discursivas produzem, entretanto, no plano da expressão, outra modalidade de silêncio, aquela que, pela ausência da palavra, institui o leitor como participante do ato criativo, instando-o a que busque os nexos não explicitados na narrativa. O tema da incomunicação na obra de Teolinda Gersão, assim como o tema do silenciamento, representado pelo calar-se ou fazer calar, tem sido bastante explorado pela crítica dando conta de sua recorrência na produção da autora. Nosso objetivo é perscrutar outras modalidades de silêncio, como as descritas por autores como Santiago Kovadloff ou Eni Orlandi, que o descrevem como “matéria significante” ou, ainda, Lourival Holanda, para quem a recusa em dizer pode ser uma atitude de desafio à palavra que legitima a dominação social. Procuramos o silêncio primordial na obra de Teolinda, aquele que, intraduzível em palavras, parece ser o alicerce de seu inclassificável Os guarda-chuvas cintilantes, (por meio de paratexto, o livro se apresenta como diário, mas o gênero diarístico é subvertido pelas entradas desconexas registradas num calendário impossível). Graças à quebra do contrato de leitura sugerido pelo paratexto, Os guarda-chuvas cintilantes conduzem à reflexão sobre a intangibilidade do sujeito como entidade una. Nesse sentido, o controverso diário de Teolinda Gersão tangencia o indizível ao colocar o leitor diante de uma significação que ele pode entender, mas não traduzir em palavras: ele diz sem dizer, ou mostra, como quer Wittgenstein. Da mesma forma, o nexo precário que caracteriza os blocos de escrita de outros romances da autora continua a incitar o leitor à busca de um sentido não expresso, de uma revelação insuspeitada e inefável. Nossa busca é por esse silêncio que significa sem falar e não se deixa reduzir pela lógica.

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CAMILO PESSANHA E AL BERTO: OLHAR DE MEDO PELO INSONDÁVEL

Camila Pinto de Sousa [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Al Berto, Camilo Pessanha, Imaginário decadente.

Esta comunicação tem por objetivo demonstrar a constituição do olhar decadente na poesia de Al Berto, um dos poetas mais instigantes da produção portuguesa contemporânea e que apresenta significativo diálogo com obras de vários poetas de diferentes períodos e com outras formas de linguagem artística, principalmente a pintura, a fotografia e o cinema; sua poética fundamenta-se em vestígios herdados de muitas tradições líricas, entre elas o Simbolismo/Decadentismo, estética que esteve em evidência nos últimos anos do século XIX, tendo contribuído para o surgimento do Modernismo. A fim de que se perceba mais facilmente esse resgate das tradições, utilizaremos, como ferramenta, a comparação com a obra poética de Camilo Pessanha, maior expoente do Simbolismo/Decadentismo em Portugal. Sob influência do imaginário decadente, os poetas em questão desenvolvem uma temática de concepção pessimista da existência humana, configurando características como o medo, a melancolia, a solidão, a dor de cunho existencial, a incerteza, a fixação pela ruína e o tom negativo em relação ao mundo A poesia de Al Berto e Pessanha é perpassada pelo sentimento do medo, que se manifesta, principalmente, pelos três principais receios do sujeito poético: o medo do tempo, o medo da perda e o medo de permanecer. Há a construção de um olhar que expressa medo em relação ao insondável; portanto, a morte, o futuro e a própria vida, por sua característica efêmera, são responsáveis pela grande angústia, pelo medo e pelo sofrimento de cunho existencial vivenciados pelos sujeitos poéticos e representados por meio das imagens criadas por ambos. Por meio da análise de alguns poemas, demonstraremos, pois, as características desse universo que fundamentam a poética albertiana e a poética camiliana, buscando compreender, de que modo e em que medida, o imaginário decadente concorre para a constituição desse olhar – olhar-percepção, modo como se compreende o mundo – que aproxima a obra poética de dois poetas pertencentes a momentos distintos.

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MACHADO DE ASSIS: CORRESPONDÊNCIA E CRÍTICA

Carlos Rocha [email protected]

Prof. Dr. Wilton José Marques (Or. – UFSCar)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis, Correspondência, Crítica.

A leitura da correspondência de Machado de Assis – compilada em três tomos publicados entre os anos de 2008 e 2011 pela Academia Brasileira de Letras sob a apresentação, coordenação e orientação de Sérgio Paulo Rouanet –, revela ao leitor da atualidade, entre outros assuntos, breves análises de Machado sobre os poemas de escritores coetâneos, em que o Bruxo do Cosme Velho os orienta sobre a importância do trabalho e estudo para se atingir o aprimoramento formal, bem como a relevância de produzir cada vez mais textos para fomentar aquele cenário literário. Orientação que aparece nas crônicas e nos textos de crítica do escritor. Como se trata de cartas abertas, publicadas nos jornais e periódicos da época, nas quais Machado demonstra seu entendimento sobre o fazer poético para o seu interlocutor missivista e os possíveis leitores desses jornais, essas correspondências, de certo modo, serviram para criar a sua imagem como crítico respeitável. Nelas, vislumbramos o instrumental poético de Machado, seja nos seus levantamentos das especificidades do verso, seja nas suas referências aos poetas do cânone da tradição ocidental. Em relação a essas referências, especulamos a influência da poesia camoniana na base da formulação dos comentários de Machado. Recentemente, os críticos, como Mário Curvello, Rogério Chociay, Élide Valarini Oliver entre outros, têm evidenciado na obra poética machadiana essa mesma preocupação com o apuro formal e o diálogo com a tradição, demonstrando haver um paralelo entre a crítica e a obra do escritor. Desse modo, a apresentação tem por objetivo discutir a aproximação entre o que dizem os textos desses críticos sobre a poesia machadiana e as análises feitas por Machado em algumas correspondências do tomo I (1860-1869) e outras do tomo II (1870-1889), não havendo, necessariamente, uma sequência cronológica entre elas, mas tão-somente a busca pelos elementos que formulam a referida relação.

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ESPAÇO, PERSONAGEM E MEMÓRIA EM ANA-NÃO, DE AGUSTIN GOMEZ-ARCOS

Carolina Piovam [email protected]

Prof.ª Dr.ª María Dolores Aybar Ramírez (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP - Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura exilada do Pós-Guerra Civil Espanhola, Espaço, Personagem.

A presente pesquisa tem por objetivo analisar a personagem, o espaço e a memória na obra Ana-Não, de Agustin Gomez-Arcos, escritor espanhol autoexilado na França desde o período da ditadura franquista até a sua morte em 1998. O romance estudado, cuja publicação deu-se em 1977, faz parte da criação artística do autor pertencente à literatura exilada do Pós-Guerra Civil Espanhola. Este romance narra a história da protagonista Ana Paucha, personagem que empreende uma viagem planejada para ser feita a pé, por conta da desfavorável condição financeira, e a qual é realizada seguindo as linhas férreas. A personagem central está em busca do reencontro com o seu único filho sobrevivente da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e que está em uma prisão perpétua no Norte espanhol, extremo oposto de seu lar, uma aldeia sulina. Portanto, o espaço que a protagonista percorre no trajeto da viagem está inserido em um tempo de Pós-Guerra Civil Espanhola, contexto que possui grande importância para entendimento da diegese desta personagem que, no decorrer de seu percurso do Sul ao Norte, e através do constante retorno à sua memória, nos mostra uma personagem dividia entre Ana Paucha antes da Guerra e Ana-Não Pós-Guerra. Nesta divisão constante entre uma e outra, ela denuncia as consequências que este truculento fato histórico ocasionou em sua vida, esta que foi uma vida de cheia de “morte”. Em síntese, Ana-Não é uma representação artística da história de muitos que sofreram com as consequências atrozes deixadas pela Guerra e, posteriormente, pelo regime ditatorial de Franco, um dos responsáveis pela existência de incontáveis “Anas Pauchas”, mulheres, esposas e mães “vencidas”, na Espanha. Esta nomeação pejorativa de “vencido” e “vencida” relaciona-se àqueles e àquelas que foram estigmatizados com a derrota dos Republicanos, isto é, dos que lutaram pela Frente Popular, movimento esquerdista, contra os Nacionalistas, da direita franquista, e foram vencidos por este governo opressor, o qual imperou por quatro décadas. Sendo assim, tal contexto histórico-político marca categoricamente o percurso de viagem da protagonista, a qual sofre grandes transformações através do tempo referido, bem como pelas situações e pessoas que encontra em diversos espaços por onde passa, os quais contribuem para delinear uma memória de identidade individual e coletiva de uma mulher “vencida” em uma Espanha em crise.

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A RECUSA SOCIAL E POLÍTICA DE THÉOPHILE GAUTIER E A FUNÇÃO DAS DESCRIÇÕES EM SUAS NARRATIVAS FANTÁSTICAS

Cristovam Bruno Gomes Cavalcante [email protected]

Prof. Dr. Adalberto Luis Vicente (Or.)

Financiamento: CNPq

(FCLAr/ UNESP - Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Descrições, Narrativas fantásticas, Théophile Gautier.

Contra a exigência de um caráter progressista e, de certa maneira, utilitarista nas Artes, o poeta, romancista e crítico francês Théophile Gautier (1811-1872), diferentemente de muitos artistas da sua época, recusou-se a compactuar com os princípios do espírito burguês e a ceder às demandas feitas pelas doutrinas sociais que fervilhavam na França durante o século XIX. Dessa maneira, por vezes, em seus prefácios, a exemplo do de Les Jeunes-France: roman goguenards, de 1833, ou do de Mademoiselle de Maupin, do ano seguinte, o escritor atacou o caráter ambicioso da imprensa, os discursos dos partidários de movimentos revolucionários e a moral materialista e conveniente da solidificada sociedade burguesa, reafirmando o caráter autotélico da Arte, ou seja, defendendo a autonomia do artista e o seu direito de aspiração exclusiva ao “Belo”. Nas suas obras em verso ou em prosa, que sempre foram lembradas e saudadas por grandes poetas devido ao virtuoso trabalho de estilo e à precisão verbal, destacam-se as abundantes e minuciosas descrições dos espaços narrativos, de objetos prosaicos ou de várias obras plásticas, as quais assumem uma função estética decisiva na totalidade da composição, pelo motivo de, claramente, serem bem fixadas nos propósitos de cada narrativa, seja ela de natureza fantástica ou histórica. Seus trabalhos, devido a isso, foram, muitas vezes, acusados de estéreis e de descompromissados com a realidade social pelos críticos contemporâneos a ele, pois suas obras não ponderavam sobre os acontecimentos turbulentos nem sobre as questões importantes para a época. Por esse motivo, apoiados nas reflexões feitas pelo filósofo húngaro Georg Lukács acerca da narração e da descrição nas narrativas, é que conjecturaremos sobre as acusações de evasão que o escritor francês sofreu e sobre a função de sua arte descritiva. Discutiremos, ainda que de forma breve, o que Roland Barthes chamou de efeito de real, e buscaremos vislumbrar qual a razão para a existência do grande número de descrições pictóricas que encontramos nos textos do autor de “Le pied de momie”. Para tal propósito, um ensaio do estudioso João Adolfo Hansen sobre a origem e a função da descrição ecfrástica também nos será de grande valia.

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INVERTENDO A CRONOLOGIA: A VISÃO MORAL DE HENRY MILLER

Daniel Rossi [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Clara Bonetti Paro (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Henry Miller, Literatura americana, John F. Weld.

Acostumados que estamos a ver a obra de Miller taxada de amoral e obscena, a tese do crítico americano John F. Weld, intitulada The Moral Vision of Henry Miller [1966], pode parecer estranha em um primeiro momento: a proposição de que exista uma “visão moral” de Henry Miller soa estranha. Segundo Weld, existe um impulso confessional na obra de Henry Miller, impulso este que leva o autor a um esforço de “purificar a si mesmo do materialismo americano”1 ao procurar escrever toda a verdade de sua vida, cada detalhe íntimo e pessoal narrados abertamente a todos. Este impulso confessional se dá, segundo Weld, pelo estabelecimento de uma oposição básica entre as forças do mal, a sociedade e suas relações hipócritas, e as forças do bem que Miller encontra em seu impulso confessional. Partindo destes pressupostos, Weld apresenta a obra de Miller enquanto a narrativa de uma pessoa que se tornou o porta-voz da verdade do indivíduo criativo. Para sustentar sua perspectiva, Weld reorganiza a obra de Henry Miller cronologicamente segundo a época dos eventos narrados: Trópico de capricórnio [1939] e o período da infância e início da vida adulta; a Trilogia da crucificação rosada [1949-1959] e o período de sete anos antes da viagem à França; e, finalmente, Trópico de câncer [1934], em que finalmente conseguiu se libertar das amarras da sociedade em direção a uma expressão livre de seu “verdadeiro Eu”. Isto traz algumas consequências imediatas: a primeira é assumir a obra de Henry Miller enquanto autobiografia, o que coloca as teses do autor em consonância com a crítica da obra milleriana e com o próprio Miller; a segunda, a imposição de uma cronologia externa à obra do escritor estadunidense. Com essa reorganização, Weld deixa de levar em conta as diferenças entre as obras do período francês de Miller (1930-1939) e seus escritos depois de seu retorno aos EUA (1940). Sendo assim, nossos objetivos são: discutir a original tese de Weld sobre a “visão moral” de Miller; e avaliar as consequências desta “reorganização” cronológica das obras do autor e os possíveis impactos na compreensão das mudanças que ocorrem na literatura de Henry Miller a partir de seu retorno aos Estados Unidos em 1940.

1 Todas as traduções do texto de Weld são de nossa responsabilidade. Trecho original: “to purify himself of american materialism”.

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O TRÁGICO E O CÔMICO EM A VISITA DA VELHA SENHORA

Daniela Manami Mippo [email protected]

Prof.ª Dr.ª Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Or.) Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado) PALAVRAS-CHAVE: Teatro, Tragicomédia, Dürrenmatt. É inegável que a sociedade com o passar dos anos tenha sofrido constantes transformações de ordem tanto social quanto econômica, o que não só promoveu uma mudança no homem moderno, como também passou a se refletir nas artes, possibilitando assim o surgimento do drama moderno como forma de representação desse homem em transformação e suas inquietações. Com o advento do drama moderno não se pode mais pensar em uma única maneira de se conceber o teatro, mas passa-se a considerar a existência do drama em sua pluralidade, na qual suas diversas manifestações buscam ora refletir o homem moderno tal qual ele se apresenta, submetido a um sistema cada vez mais desumano e mesquinho, ora propor um teatro engajado, cujo objetivo seria despertar o homem para que, saindo da inércia em que se encontra, comece a agir contra as injustiças veladas que se tornam cada vez mais frequentes. Friedrich Dürrenmatt, dramaturgo suíço, viveu em um período marcado pela guerra e suas consequências. Tal atmosfera somada a uma tendência de composição híbrida própria ao drama moderno resultaria em uma série de peças que refletem de forma crítica e irônica o homem de seu tempo. O dramaturgo em sua visão sobre a sociedade moderna defendia que nenhum gênero seria mais adequado para representá-la do que a comédia. Ainda que não excluísse a possibilidade do trágico, entendia que esse só seria possível em sua forma híbrida, a tragicomédia. Tomando uma de suas obras mais expressivas, o presente trabalho tem por objeto sua peça tragicômica A visita da velha senhora, publicada pela primeira vez em 1956, buscando analisar de que forma o trágico e o cômico manifestam-se dentro da peça, bem como a maneira como tais aspectos interagem entre si e com as demais características da peça, como, por exemplo, o grotesco. Ademais, se observou também o diálogo estabelecido entre Dürrenmatt e o Teatro Épico de Brecht, seu contemporâneo.

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VISÕES DO INFERNO OU A CENA DEFORMADA: UMA LEITURA DO EXPRESSIONISMO NO TEATRO DE TRAUL BRANDÃO

Danielle de Aurélio Martinez [email protected]

Prof.ª Dr.ª Renata Soares Junqueira (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Raul Brandão, O gebo e a sombra, Expressionismo

A título de aprofundamento de trabalho realizado como Iniciação Científica com Bolsa concedida pela FAPESP este Projeto de Pesquisa em Mestrado propõe um estudo sobre teatro moderno a partir da leitura crítica da peça dramática O gebo e a sombra (1923), de autoria do escritor português Raul Brandão (1867-1930). A produção dramatúrgica desse autor, pouco extensa e até hoje insuficientemente conhecida nos meios universitários brasileiros, revela-se, como pretendemos demonstrar pela análise textual, um dos mais distintos produtos do expressionismo – “em Portugal tão raro e sáfaro” segundo a crítica especializada – no teatro português. Brandão é autor de uma obra literária de múltiplas virtualidades estéticas que lhe conferem uma modernidade singular, “completamente autonomizada dos movimentos literários que a tinham como bandeira na segunda década do século XX”, segundo afirmam os seus exegetas. Daí a dificuldade de classificar esteticamente a obra desse autor. As várias perspectivas possíveis parecem, entretanto, marcadas por um denominador comum que, segundo a nossa hipótese, agrega em si, predominantemente, elementos estéticos próprios do expressionismo. O objetivo da pesquisa, no Mestrado, é facultar um aprofundamento crítico da leitura da literatura dramática de Brandão, gerando subsídios para que se identifiquem, na peça O Gebo e a Sombra (1923), elementos específicos que permitem distinguir no teatro brandoniano uma modernidade singular, a qual muito se aproxima das manifestações estéticas do expressionismo. Buscou-se, também, iluminar relações entre as peças de teatro de Raul Brandão e o contexto histórico-literário da sua produção, facultando a compreensão, à luz desse contexto, dos componentes específicos da peça selecionada, isto é, das escolhas temáticas e formais do dramaturgo vistas da perspectiva da sua possível vinculação ao expressionismo .O foco da análise da peça de Raul Brandão incidirá sobre a combinação de elementos próprios do grotesco expressionista articulados principalmente a: a) a caracterização das personagens; b) a construção do cenário; c) a evolução dos diálogos e sua consistência. Para analisar cada um desses componentes estruturais utilizaremos, a título de subsídio visual, alguns quadros expressionistas ou precursores da pintura expressionista, uma vez que os oito quadros selecionados evidenciam escolhas estéticas que sugerem elementos humanos (psicológicos e socioeconômicos) encontrados também na peça de Raul Brandão, acreditamos que essas obras pictóricas podem iluminar o drama que nos propomos analisar à luz do Expressionismo.

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DESCONSTRUÇÃO E TRADUÇÃO: OS LABIRINTOS DO NOVO

Débora Cristina de Moraes [email protected]

Prof. Dr. Brunno V.G. Vieira (Or.) Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado) PALAVRAS-CHAVE: Tradução, Crítica, Desconstrução. Este trabalho pretende apresentar uma visão das discussões modernas sobre tradução, problematizar as visões preconceituosas que cercam o trabalho tradutório ao demonstrar seu caráter de experiência e reflexão. Com esse pressuposto e partindo da influência da “desconstrução” — conceito cunhado por Jacques Derrida — pretendemos aqui lançar um novo olhar para a crítica da linguagem literária, no caso, traduções literárias de obras da antiguidade latina. Com isso, a metalinguagem crítica por nós pretendida se inicia no pensamento instaurado de forma sistematizada por Derrida sobre a questão do “logocentrismo ocidental” ou “a metafísica da presença”. A partir dessa abordagem, pouco aplicada aos textos antigos, discutiremos nesse trabalho algumas questões relativas às traduções de tais textos. Esta pesquisa se filia, assim, à corrente teórica que percorreu e influenciou todas as áreas das ciências humanas: a crítica da visão logocêntrica e positivista na leitura do mundo, cujo expoente foi o filósofo francês, influenciado pelos escritos de Nietszche e Freud — que questionaram anteriormente o valor imutável da razão, edificada sobre o poder do logos ou discurso, como detentora de verdades estáveis. Derivando da crítica da história como seleção ideológica de fatos ou acontecimentos —, o registro escrito, forma como o conhecimento humano é resguardado, passa pelo crivo da dúvida. Desde Platão que a escrita é vista como imitação da imitação, já que a própria língua já seria a tradução do mundo ideal. A palavra escrita é vista, então, como remédio (pharmakon) e veneno, impede o esquecimento, garante a sobrevida, mas é também o próprio esquecimento de um momento que rompe com seu presente para se projetar no futuro. Desse modo, a significação — ou, como a tradição especula, o sentido — agora é revista, por ser lançada no tempo, é propagada num movimento que não cessa, está sempre passível a (re) leituras. Tal movimento da reflexão pretende deslocar a pretensa superioridade do logos, como privilegiado portador da verdade, aceita como estável. No âmbito desta pesquisa, nos apropriamos do debate de Derrida para repensar as verdades tradicionais da prática tradutória e refletir as propostas da visão desconstrutivista nos Estudos Clássicos.

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O AMOR DE PANTEIA E ABRADATAS COMO MODELO DOS PRIMEIROS ROMANCES GREGOS.

Emerson Cerdas [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Celeste Consolin Dezotti (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Xenofonte, Romance Grego, História.

As cinco narrativas de amor que compõem o “Romance Grego”, gênero que floresceu no final da Antiguidade, entre os séculos I a.C. a IV d.C., apresentam uma estrutura narrativa bastante padronizada, tendo como eixo central do enredo a história de amor de dois jovens, bastante idealizados moral e fisicamente, que são obrigados pelo destino a se separar, para no fim, vencido todos os obstáculos, se reencontrarem. Apesar da grande influência que essas narrativas tiveram na Idade Média e no Renascimento, essa estrutura padronizada fez com que essas narrativas fossem consideradas, modernamente, monótonas e enfadonhas. O aparecimento de fragmentos de outros romances, a partir de 1896, no entanto, tem demonstrado que o gênero não se circunscrevia apenas às narrativas que trabalhassem com o enredo amoroso, e que este, talvez, não passaria de uma subclasse mais popular do gênero. Chama-nos a atenção especialmente os fragmentos de dois desses romances, Ninus e Sesenchoris, por se tratarem de narrativas cujo tema é a vida de príncipes histórico-lendários do Oriente, o que tem levado alguns críticos a classificarem-nas como “historical novels”. Tais fragmentos estão, além disso, entre os mais antigos exemplares que conhecemos do “Romance grego”, compondo, portanto, um importante papel na formação e estabelecimento do gênero. Nessa comunicação, comentaremos possíveis aproximações entre os enredos dessas duas narrativas fragmentárias, Ninus e Sesenchoris, com a Ciropedia de Xenofonte, obra do século IV a.C. A Ciropedia narra a biografia de Ciro, o Velho, que tornou a Pérsia um grande Império no século VI, porém apresentando grande liberdade ficcional no tratamento da vida desse personagem histórico. Em geral, essa narrativa de Xenofonte tem sido encarada como um dos modelos dos romancistas gregos, por causa do conto amoroso entre os personagens ficcionais “Panteia e Abradatas”, que está intercalado à narrativa principal da vida de Ciro. Nosso objetivo é demonstrar, através da comparação com os fragmentos, que a influência da Ciropedia na formação do “Romance grego” vai além da narrativa de “Panteia e Abradatas”.

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LITERATURA E DITADURA: ENTRE A CASA E A RUA. ECOS DE RESISTÊNCIA NAS OBRAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES, ANA MARIA

MACHADO E HELONEIDA STUDART

Evelyn Caroline de Mello [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Clara Paro (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasileira, Ditadura Militar, Teoria feminista.

A proposta do presente trabalho é a de analisar os romances escritos por mulheres e suas relações com o Período Civil Militar, tanto no que diz respeito a obras escritas no período histórico supracitado quanto aquelas que foram escritas posteriormente, mas retomam questões pertinentes a ele. Como se sabe, o período pertinente à Ditadura Civil Militar no Brasil foi cenário de importantes mudanças sociais, políticas e econômicas, as quais influenciaram o campo artístico de forma direta, haja vista os movimentos pertinentes à formação da música popular brasileira, tais como a Tropicália e a música política que se engajou na luta contra o regime, ou mesmo o teatro, citando-se a importância do Arena e do Oficina como importantes meios de formação intelectual do setor universitário. Neste ínterim, procurar-se-á problematizar como se dá a recomposição de traços da sociedade brasileira da época e se há resistência aos padrões sociais e políticos que se estabeleceram no país, bem como quais são as características estéticas que permitem esse diálogo entre obra e sociedade nas obras escritas por mulheres no referente período. Para elucidar tal questão, ou na tentativa de, contrapõe-se o contexto histórico dado com a análise dos elementos estéticos das obras e, ao mesmo tempo, serão levados em consideração os estudos das linhas teóricas feministas que apontam a escrita feminina como um elemento político para a reavaliação das condições de gênero em sociedade. Portanto, leva-se em conta a questão da mulher versus a questão histórica que é vivenciada, possibilitando a afirmação de que a condição feminina abordada nas obras não se dissocia da (re)construção da sociedade brasileira, pautando os estudos propostos em duas grandes linhas teóricas: a teoria do romance engajado e a teoria feminista. A proposta central deste trabalho é, portanto, investigar se há uma correspondência da proposta de resistência artística com a configuração do campo literário, sendo que o corpus escolhido para investigação foram as obras As meninas de Lygia Fagundes Telles, Tropical Sol da Liberdade de Ana Maria Machado e O pardal é um pássaro azul de Heloneida Studart.

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“CÍNIRAS E MIRRA”: AS FIGURAS DO INCESTO EM OVÍDIO

(METAMORFOSES, X, 298-502)

Ewerton Mera [email protected]

Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Metamorfoses, Ovídio, Figuratividade.

Este projeto de pesquisa apresenta a proposta de investigar a figuratividade poética no texto latino, valendo-se do instrumental teórico que nos fornecem a Poética e a Semiótica Literária, tendo como corpus o episódio de “Cíniras e Mirra”, que integra a obra Metamorfoses (livro X, 298–502) de autoria de Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.), considerado um dos maiores poetas da Roma Antiga. As Metamorfoses são um longo poema em versos hexâmetros, composto de quinze livros, que trata do surgimento dos elementos que compõem o mundo e da transformação ocorrida com diversos seres mitológicos em uma narrativa contínua. No trecho selecionado para a análise, conta-se a transformação de uma bela jovem na árvore da mirra, após cometer incesto com o próprio pai, Cíniras, rei de Chipre. Em um trabalho desenvolvido como pesquisa de IC (tendo como corpus um episódio menos extenso das Metamorfoses), procurou-se concentrar na primeira etapa dos processos de figuratividade, isto é, na figuração do discurso, quando um tema é revestido por figuras semióticas. Neste projeto de mestrado, propõe-se a ampliação da análise e descrição textual a fim de explorar também com mais clareza recursos da segunda etapa da figurativização, procurando identificar expedientes de iconicidade, responsáveis por efeitos de ilusão referencial. Tomando os efeitos de sentido captados pela percepção e apreendidos por meio da leitura como dados de base, pretende-se investigar no corpus o arranjo particular da linguagem. Como resultado dessa investigação será produzido um discurso metalinguístico a fim de reconhecer os recursos da figuratividade poética determinantes da expressão. Ainda, como base para o desenvolvimento do trabalho, produziu-se uma tradução de estudo (literal) acompanhada de notas de referência, com comentários concernentes a dados gerais de cultura (mitologia, história, geografia, filosofia, etc.).

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MOACIR COSTA LOPES E A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO MAR NA LITERATURA BRASILEIRA

Fernando Góes [email protected]

Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasileira, Mar, Romance.

Moacir Costa Lopes publica seu primeiro romance, Maria de cada porto, em 1959. Já nesta primeira obra de Lopes é possível observar um estilo fluido com tratamento diferenciado dado ao tempo, bem como à temática do mar, pouco desenvolvida na literatura brasileira. Lopes foi um romancista do mar, trabalhou a representação da espacialidade, do ambiente marítimo, que poucos abordaram, descrevendo-os de modo quase único na literatura brasileira, até, orientado pelo ponto de vista de sua experiência como marinheiro. O ambiente marítimo de Lopes é uma junção de vários espaços condicionados pela força simbólica do mar. Em seus romances, Lopes aborda esses inúmeros espaços de modo profundo e metafórico, tornando o ambiente marítimo algo vivo e extremamente atrelado à estrutura de suas narrativas. Nas obras de Moacir Costa Lopes, portanto, é possível perceber certa independência espacial do mundo marítimo frente a outros espaços, urbanos e regionais, que marcaram o romance brasileiro. Assim, pode-se então colocar a espacialidade marítima ao lado do campo e da cidade. E do mesmo modo que um romance ao se afastar da cidade em direção ao campo se torna rural, ao se afastar em direção ao mar ele se torna de ambiente marítimo ou simplesmente do mar. A presença, ou a força do universal presente nessas narrativas do mar é variável, tal como ocorre com os romances rurais. Há obras mais superficiais, que ficam na costa, falam de pescadores, de algumas lendas e outros. Há aquelas, porém, que desbravam o mar aberto e exploram toda a mística do mundo do marinheiro, da navegação, dos perigos de se enfrentar diretamente a fúria marítima. Moacir Lopes é dos que não se detém na costa. Estudar a singularidade do espaço marítimo de Lopes e o como essa categoria é erigida e profundamente metaforizada em seus romances é o maior objetivo deste estudo. Espera-se verificar com o estudo de doutorado certa conjunção entre o tema do mar e a poética de Lopes e demonstrar de que modo as narrativas desse autor absorvem as forças do ambiente marítimo por ele imaginadas a fim de gerarem um campo espacial diferenciado para o romance brasileiro.

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MITO E POESIA NA ODE 3 DO LIVRO I DE HORÁCIO

Francisco Diniz Teixeira [email protected]

Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Or.)

(FCLAr/ UNESP –Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Mito, Horácio, Odes.

O trabalho apresentado se centra numa leitura da relação entre mito e poesia que se observa nos versos da ode 3 do Livro I das Odes de Horácio. Nesta ode, centrada na viagem de um amigo, Virgílio, que se encaminhava à Grécia através do pélago distante e imprevisível, observa-se a junção de alguns mitos da tradição literária antiga a alguns lugares comuns para tratar dessa empreitada ousada, fruto da desmedida dos homens. A desmedida é a chave de leitura detectada como eixo articulador, no exercício poético de Horácio, das duas partes em que se pode dividir a ode estudada. A primeira concentrada nos oito primeiros versos se abre como um propemptikon, isto é, um voto de boa viagem endereçado às divindades para que mostrassem um favor benfazejo à viagem do amigo: Vênus, os Dióscuros e Éolo, senhor dos ventos. Seguem-se do nono verso ao quadragésimo uma série de alusões míticas e retomadas de lugares comuns que realçam a hybris (desmedida) por trás de atitudes ousadas do homem que sempre busca ultrapassar os limites que os deuses lhe impõem, penetrando domínios interditos. A viagem marítima, por exemplo, que poderia ser associada ao mito dos Argonautas, primeiros navegadores, cuja demanda foi responsável pela construção do primeiro barco, seria originada por uma hybris. Contudo, percebe-se uma visão ambígua da desmedida na escolha das alusões míticas elencadas pelo poeta. Ao lado daquelas gravíssimas (em que há uma desafio à ordem cósmica estabelecida), como o voo de Dédalo, o desafio dos Gigantes ou o roubo do fogo divino por Prometeu, que o doou aos homens, há outras que são o motor de grandes feitos que glorificam o homem e os deuses, que lhe protegem, como a catábase de Hércules e a penetração do mar pelo primeiro navio e a vida endurecida pelos perigos arrostados na natureza desconhecida. Por isso, tendo em vista a desmedida por trás da viagem no mar, entende-se que o poeta a associa aos mitos dos grandes feitos humanos, que engrandecem o homem e as divindades, justificando-se assim o voto de proteção da metade de sua alma que é feito na primeira parte.

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TOPOFILIA E TOPOFOBIA NA LONDRES DE NEIL GAIMAN

Gabriele Cristina Borges de Morais [email protected]

Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Topofilia, Topofobia, Londres.

Pretendemos analisar a construção do espaço no romance Neverwhere, de Neil Gaiman, e a relação que o protagonista com ele estabelece. Na narrativa em questão, Richard Mayhew, um escocês residente em Londres, torna-se invisível não apenas para as pessoas, mas também para os objetos que fazem parte da rotina da cidade, após ajudar uma estranha moradora de rua ferida. A única pessoa a notar sua presença é um mendigo que lhe apresenta uma alternativa para seu desesperador estado: uma vida na cidade que se esconde sob Londres, em seus túneis e esgotos. Nesta cidade, a que seus moradores chamam de London Below – em oposição à London Above, a Londres por nós conhecida – ele consegue reencontrar a moça que resgatara e que fora o estopim para esse novo modo de vida. Richard embarca em uma jornada em busca do responsável pelo assassinato de toda a família da moça, que se chama Door, juntamente com o marquês de Carabas e Hunter, seus protetores. Na London Below, embora muitos locais preservem os mesmos nomes a que Richard estava habituado na London Above, ele descobre que nem tudo é o que parece e que o tempo e o espaço se configuram de forma muito diferente do que ele tinha como certo. Richard tem que se familiarizar com a nova cidade e com os hábitos de seus moradores, e ao estudo dessa relação de afeto que se cria entre protagonista e espaço chamamos de topofilia. Além disso, para que se crie o afeto e a sensação de segurança e pertencimento ao espaço, é preciso que Richard enfrente os medos que nele se escondem: a esta relação com os medos do espaço chamamos topofobia. Em nossa fala, pretendemos demonstrar através da análise de passagens do romance como topofobia e topofilia se interconectam para criar a familiarização do protagonista – e, consequentemente, do leitor – com o espaço ficcional e como essa familiarização é essencial para a transformação de Richard de um simples trabalhador da London Above em um herói consagrado da London Below.

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CONSTRUÇÃO LITERÁRIA DE MANIFESTAÇÕES DA JUSTIÇA EM CONTOS DE GUIMARÃES ROSA

Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa, Categorias narrativas, Justiça.

O tema da pesquisa é a edificação do conceito de justiça em contos de Sagarana e de Primeiras estórias de Guimarães Rosa. O objetivo principal é levantar e analisar os modos como, nas narrativas selecionadas, o escritor apresenta a questão da justiça. Interessa verificar também se o tratamento dessa matéria coaduna-se com o ambiente sócio-histórico representado nas composições. Para tanto, a dissertação ocupa-se com a análise de elementos narrativos, como a história, o narrador, as personagens e o espaço social. O corpus do trabalho é constituído pelas seguintes narrativas: “O burrinho pedrês”, “Duelo”, “São Marcos”, “Corpo fechado”, “Conversa de bois” e “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, e "Os irmãos Dagobé" e "Fatalidade" de Primeiras estórias. Percebemos que a justiça construída nos contos tem, geralmente, duas formas de manifestação: a justiça humana, realizada pelas próprias mãos das personagens, tendo em vista que o Estado não está presente no sertão; e a justiça divina, chamada de providência de Deus, que rege muitos dos acontecimentos das histórias. O embasamento teórico da pesquisa é agrupado em três linhas: primeiramente, crítica sobre a produção rosiana em geral, como “De Sagarana a Grande sertão: veredas” de Benedito Nunes, em que o autor apresenta um panorama dos três primeiros livros de Guimarães Rosa, de certa maneira introduzindo-nos na compreensão do geral, e mais particularmente, a crítica sobre nosso corpus como, por exemplo, Fórmula e fábula de Willi Bolle, em que o crítico aponta como características das narrativas de Sagarana, o moralismo e o conservadorismo, de maneira que, sempre que um fato de valor considerado moralmente negativo ocorre na história, uma sanção é estabelecida (seja ela de justiça divina ou de mão própria); em segundo lugar, textos que tratam do tema da justiça abordado nos contos, como Estudos de filosofia do Direito de Tércio Sampaio Ferraz Jr., em que temos informações sobre a origem da divisão da justiça em humana e divina; Teoria tridimensional do direito, de Miguel Reale, em que o jurista estabelece os conceitos de fato, valor e norma; Filosofia do direito, de Paulo Nader, que traça um panorama do pensamento jurídico-filosófico, entre outros. Por último, ensaios sobre as categorias da narrativa, nosso instrumento de análise literária, como Discurso da narrativa de Genette, que nos possibilita desenvolver melhor a leitura de como essas categorias constroem, ao longo dos contos, as manifestações da justiça.

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DEUSES AMERICANOS E A CRISE DA FICÇÃO CIENTÍFICA

Hebe Tocci Marin [email protected]

Prof. Dr. Aparecido Dozinete Rossi (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Mito, Sacralização, Ficção científica.

Com um título tão explícito, o romance Deuses Americanos do autor inglês Neil Gaiman apresenta as dificuldades encontradas por diversos deuses e deidades originários de culturas antigas conforme tentam sobreviver e se adaptar à vida na sociedade moderna – precisamente, no Novo Mundo, o continente americano. O enredo aborda duas consequências dos tempos de globalização à religião: a primeira delas é como as crenças trazidas à América por imigrantes lutam para continuar existindo, isto é, como toda uma geração de deuses e criaturas míticas advindos de inúmeras origens, dependentes da fé humana, o que os alimenta e mantém vivos, sobrevive em uma era na qual não são mais explicitamente adorados. A segunda consequência é o surgimento de novos deuses, deuses provenientes da grande afeição que os humanos voltam à ciência e seus derivados tecnológicos que facilitam e tornam a vida contemporânea confortável, deuses estes que são a personificação da religião contemporânea: a religião do pensamento racional, a sacralização da secularização. A necessidade de uma religião sempre acompanhou a humanidade e, mesmo com as mudanças histórico-sociais, uma sociedade altamente tecnológica, onde não há espaço para a metafísica, ainda conta com indivíduos que necessitam do alento e do freio moral fornecidos por uma religião. A substituição da religião mítica pela religião da ciência foi, então, natural. Para o gênero Ficção Científica, por outro lado, uma sociedade altamente tecnológica significou o esgotamento de seus temas – escrever sobre viagens espaciais atualmente exige outro tipo de jargão e de efeito de realidade, diferente de obras sobre o assunto produzidas antes que a humanidade efetivamente atingisse tal feito. Nota-se, então, que apesar de continuar a ser um gênero popular e com um amplo mercado consumidor, houve um novo direcionamento temático nas obras de Ficção Científica; paradoxalmente, a ciência e o mito se reaproximaram. Esta apresentação buscará fazer uma breve análise da participação das duas gerações de deuses no romance e, através das teorias de David Roas, Mircea Elíade, Fred Botting, James A. Herrick, James F. McGrath e Sigmund Freud, entre outros, discutir porque a forte tendência a sacralizar o racional e a reaproximação entre ciência e religião são uma possível saída para a crise do gênero Ficção Científica.

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SE UM VIAJANTE NUMA NOITE DE INVERNO: A FICÇÃO E O PAPEL DO LEITOR

Isabella Midena Capelli [email protected]

Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan (Or.)

Financiamento: CNPq

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Italo Calvino, Hiper-romance, Leitor.

Italo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio (1988), apresenta a noção de Multiplicidade como valor literário a ser preservado, momento em que compartilha sua visão do romance contemporâneo como enciclopédia, como método de conhecimento, e principalmente como rede de conexões entre fatos, pessoas e coisas do mundo. O hiper-romance, na proposta de Calvino, apresenta uma estrutura acumulativa, modular, combinatória, que explora a multiplicidade potencial do narrável. Pretendemos, neste estudo, analisar alguns aspectos da narrativa de Se um viajante numa noite de inverno (1979), hiper-romance de Italo Calvino, refletindo, especialmente, o papel do leitor, os sinais da ficção e a intertextualidade. Adiantamos que o modo como a narrativa do romance é apresentada provoca estranhamento de imediato; o narrador dirige-se constantemente aos leitores, os quais trata por “você”, e aparenta ora guiá-los na leitura do romance, ora narrar a própria leitura, simultaneamente. A presença do leitor na história, como interlocutor do narrador e como personagem, é, de ambos os modos, fundamental à construção da narrativa. Recorremos a Umberto Eco que, na obra Lector in Fabula (1979), discute o papel do leitor; segundo o autor, um texto representa uma cadeia de artifícios de expressão que devem ser atualizados pelo destinatário. Um texto é, portanto, entremeado de espaços brancos a serem preenchidos. No romance de Calvino, a personagem Leitor, para continuar a leitura dos romances iniciados, deve sempre atualizar suas competências para preencher os vazios e decifrar os códigos que cada novo romance exige. Aliadas a isso estão as representações de leitura recorrentes no romance, já instauradas desde seu parágrafo inicial. Nosso trabalho visa analisar o diálogo que se estabelece no romance entre narrador e leitor, tendo em vista que lidamos com um narrador que pausa sua narrativa para discorrer e refletir acerca da literatura e da leitura. À luz do estudo dos ensaios calvinianos publicados em Assunto encerrado: discursos sobre literatura e sociedade (1980), Seis propostas para o próximo milênio (1988) e Por que ler os clássicos (1991), podemos averiguar de que maneira as reflexões do Calvino ensaísta são reescritas e apresentadas como elementos de ficção nesse romance.

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SIGNOS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA EM SATURDAY, DE IAN MCEWAN

Isaías Eliseu da Silva [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria das Graças Gomes Villa da Silva (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura contemporânea, Herói pós-moderno, Ian McEwan.

Dentre as várias tendências da literatura contemporânea, o retorno aos aspectos realistas destaca-se como uma das principais vertentes no romance atual. Grandes fatos históricos são tomados como pano de fundo para enredos que se movimentam em meio a guerras, catástrofes e revoluções nas quais personagens dramatizam a convivência humana em meio a um ambiente convulso e, em larga escala, caótico dos tempos iniciados na metade do século XX e estendidos até a contemporaneidade. A segunda guerra mundial, a queda do muro de Berlim e os ataques terroristas de onze de setembro de 2001 são exemplos de motes tomados pelo romance atual que obtém grande aceitação da academia e do público leitor. O sucesso editorial dessas narrativas encontra eco na demanda por realidade instituída amplamente na sociedade atual e verificada na resposta da mídia a este anseio: de reality shows a programas policiais, de concursos de culinária à exploração de dramas pessoais em programas de variedades, os formatos veiculados e consumidos baseiam-se essencialmente na exposição do real e do imediato de modo a provocar uma identificação quase sem interferências entre o telespectador e o programa a que assiste e também entre o leitor e a obra que lê. Saturday, romance de Ian McEwan, publicado pela primeira vez em 2005, revela um enredo ocorrido num único dia, 15 de fevereiro de 2003, momento em que londrinos protestavam contra a invasão norte-americana ao Iraque, e narra a vulnerabilidade a ataques de surpresa em que muitos se encontram logo após o evento de onze de setembro e a partir de então. Partindo da observação de um romance contemporâneo que prima pela carga realista, e com base em teóricos tais como Flávio Carneiro, Schollhammer, Stuart Hall e Zygmunt Bauman, objetiva-se, com este trabalho, demonstrar como, na obra referida, expressam-se tendências da literatura dos dias atuais que, a partir do retorno ao real, passam pela construção do conceito de pós-moderno, pelo questionamento da identidade e pela instituição da literatura como produto mercadológico.

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POÉTICA E RETÓRICA NAS HEROIDES DE OVÍDIO: ANÁLISE DA EPÍSTOLA I “DE PENÉLOPE A ULISSES”

Jaqueline Vansan [email protected]

Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Heroides, Poética clássica, Retórica clássica.

Públio Ovídio Nasão (43 a. C. - 17 d. C), último dos grandes poetas pertencentes ao período augustano da Literatura Latina (43 a. C. -17 d.C.), foi um dos autores mais versáteis e prolíficos de seu tempo, deixando-nos como legado uma obra que abarca desde elegias que cantam amores ou lamentam o exílio, a poemas didáticos ou de caráter etiológico. Em meio aos primeiros escritos do autor encontram-se as Heroides, coleção de 21 poemas em formato epistolar, tradicionalmente dividida em duas séries: a primeira formada por correspondências nas quais heroínas lendárias remetem súplicas ou lamentos aos amados distantes; a segunda, por trocas de cartas entre célebres casais do mito. Escrito provavelmente entre 20 e 16 a.C., o conjunto de poemas destaca-se pela forma com que foi composta, na qual juntam-se ao gênero epistolar, elementos e metro próprios da elegia amorosa romana e uma escrita que revela traços da retórica cultuada na época. E, se por um lado, não se pode afirmar categoricamente que Ovídio seja o pioneiro a valer-se de tal mescla de gêneros, uma vez que Propércio já havia utilizado o modo epistolar anteriormente no terceiro poema a integrar o livro IV de sua obra elegíaca, por outro se sabe que é na figura ovidiana que o formato é largamente desenvolvido e ganha status de coleção, inovando, ainda, ao buscar na tradição literária a voz presente em cada uma das correspondências. Ao se levar em consideração a singularidade proporcionada por esse entrecruzamento de gêneros e estilo de escrita tem-se um produtivo foco de estudo, uma vez que a forma possibilita a identificação de conceitos ligados tanto às poéticas e como aos estudos retóricos desenvolvidos na Antiguidade e os respectivos efeitos que causam na tessitura poética das epístolas. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo, além de reunir informações sobre as Heroides e dos componentes de sua arquitetura literária, analisar os recursos retórico-poéticos que participam da construção da primeira epístola que integra a obra, “De Penélope a Ulisses”, a fim de entender por meio do próprio poema a peculiaridade da construção da coleção de cartas e destacar a expressividade poética do texto.

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FIGURAS CARNAVALIZADAS EM TRIMALCHIO E “CENA TRIMALCHIONIS”

Jassyara Conrado Lira da Fonseca [email protected]

Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Intertextualidade, Carnavalização, Figurativização.

Quando F. Scott Fitzgerald (1896-1940) trabalhava no rascunho de seu romance The Great Gatsby, cogitou chamá-lo “Trimalchio” ou “Trimalchio in West Egg”, em uma evocação direta à personagem do Satyricon de Petrônio (? -65d. C.). Esta pesquisa investiga a obra Trimalchio (2000), publicada quase sessenta anos após a morte do autor, como resultado de um desejo pessoal de seus editores, que se justificam no prefácio do livro afirmando que a nova versão possibilita leituras diferentes das promovidas por The Great Gatsby. O interesse por Trimalchio desperta-se inicialmente no título, que permite uma relação imediata com o célebre episódio – Cena Trimalchionis – presente na obra Satyricon de Petrônio, atestando, claramente, a relação intertextual que intencionamos analisar. Para nosso estudo, pensamos a intertextualidade seguindo os preceitos de Julia Kristeva. A aproximação entre as duas narrativas parte das personagens que as protagonizam, ultrapassando, no entanto, essa semelhança, estendendo-se por diversas outras características que as duas obras partilham. Este trabalho busca destacar o uso de imagens concretas apresentadas em Satyricon que são reproduzidas no diálogo intertextual que Fitzgerald estabeleceu com o autor clássico. Observando como essas imagens se organizam em torno de um tema que aqui nos interessa particularmente, o da carnavalização. Tal tema voltado para a literatura foi desenvolvido pelo teórico russo Mikhail Bakhtin, que elenca uma série de aspectos característicos do cenário carnavalizado. Esta pesquisa investiga como estes aspectos se repetem nas duas narrativas através de figuras comuns. Os dois textos se formam do encadeamento dessas figuras, da maestria com que os artistas orquestram esse encadeamento, e em termos semióticos, como se dá a isotopia (BERTRAND) no texto. O presente trabalho comunica os avanços da pesquisa de doutoramento, por meio de exemplos que retratam a figurativização do carnaval como um tema importante para esta leitura comparada.

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O FANTÁSTICO TARCHETTIANO E SUAS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO

Jéssica Soares Fradusco [email protected]

Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Tarchetti, Fantástico, Letteratura italiana.

O objetivo deste trabalho é apresentar a forma como o fantástico se desenvolve nos cinco contos presentes na obra “I racconti fantastici”, de 1869, de Igino Ugo Tarchetti, bem como demonstrar de que modo o fantástico se relaciona com o contexto histórico literário em que o autor está situado. Para a realização desta análise, parte-se principalmente das considerações feitas por Remo Ceserani, o qual considera o fantástico não como um gênero – conforme estabelecia Todorov – mas enquanto uma modalidade literária. É válido ressaltar que, no momento em que ocorre a produção literária de Tarchetti, o país se encontrava no período de pós-Unificação e, com isso, havia a preocupação em recuperar traços de sua identidade e, concomitantemente, suprir a necessidade de se adequar às novas tendências de desenvolvimento econômico e cultural do momento, o que fez com que alguns autores italianos, ao absorverem as tendências de outros países, acabassem tentando desenvolver a modalidade fantástica na Itália. Contudo, na Itália, tal modalidade não teve boa recepção, uma vez que o fantástico era encarado como uma espécie de literatura intelectualmente inferior, fazendo com que os autores que buscaram desenvolvê-lo ficassem relegados à margem da produção literária. Apesar da péssima recepção, Tarchetti, tradutor de obras em língua inglesa e com grande admiração pela produção literária de Edgar Allan Poe, Théophile Gautier e E.T.A. Hoffmann, procurou reproduzir em seus contos os elementos fantásticos que encontrava nas obras desses escritores, retomando em suas narrativas elementos como a obsessão, a ambientação sombria, a loucura e o universo sobrenatural, tentando fazer com que a modalidade fantástica se tornasse conhecida em solo italiano. Por meio da apresentação dos contos e de suas respectivas análises, buscar-se-á mostrar a maneira como a modalidade fantástica é capaz de refletir o contexto conturbado pelo qual a Itália passava, manifestando os anseios de seu próprio povo. Mais do que tratar dos fatos dificilmente explicados pela razão e expressos em monstros aparentes, os contos tarchettianos tratavam de assuntos mais complexos. O autor procurava refletir não apenas acerca da situação social do país, mas também a respeito da paradoxal situação em que se encontrava o homem diante da sua necessidade de descoberta e compreensão do mundo, partindo de explicações racionais em contraposição à sua existência social, fruto de sua tradição baseada em valores, crenças, medos e traços culturais particulares.

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“INSTINTO DE NACIONALIDADE” NA POESIA BRASILEIRA SOB A VISÃO DE PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS

João Francisco Pereira Nunes Junqueira [email protected]

Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Péricles Eugênio da Silva Ramos, Poesia brasileira, “Instinto de Nacionalidade”.

Esta comunicação tem como objetivo resgatar o instinto de nacionalidade poético que surge no Brasil a partir, principalmente, do início do Romantismo sob o ponto de vista do poeta-crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992). O guia para este estudo foi a obra crítica Do barroco ao modernismo, publicada por Péricles Eugênio em 1968, e aumentada na 2ª edição, de 1979. A obra faz um panorama geral da poesia brasileira, desde o barroco até o quarto movimento modernista brasileiro, o concretismo. A partir da leitura da obra foi feito um resgate daquilo que o crítico expôs como essencial para a criação de uma poesia estritamente brasileira. Poeta, crítico e tradutor, assim como um dos mentores da “Geração de 45” em São Paulo, Péricles Eugênio da Silva Ramos vê o surgimento da independência literária brasileira com o nascimento da Sociedade Filomática, em 1833. Esta sociedade era formada por estudantes do curso de Direito de São Paulo. E foi com a publicação da revista desta sociedade no mês de junho deste mesmo ano que podemos afirmar ser a “nacionalização” parte dos desejos de nossas letras. Ainda segundo o poeta, outros dois pontos importantes devem ser agregados a este evento: o primeiro ponto seria a independência política do Brasil (1822), e, por consequência, o desejo de uma literatura também independente; o segundo ponto, e mais importante, alguns escritores, entre eles, Almeida Garrett, em Portugal, e Ferdinand Denis, em França, já preconizavam aos poetas brasileiros a falta de interesse que estes despendiam em relação aos atrativos que os recursos do ambiente brasileiro poderiam gerar dentro de uma literatura autóctone. Para estes autores, que desejavam uma “poesia americana”, isto era mais do que apenas liberdade literária, mas, sim, uma obra nacional, adversa à opressão. Estes objetivos eram o que queriam os partidários da Sociedade Filomática. Assim, o objetivo da comunicação se concretiza com a exposição de um panorama da consolidação da poesia brasileira a partir do olhar do crítico Péricles Eugenio da Silva Ramos.

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MARQUESA DE ALORNA E A TRADUÇÃO NO ARCADISMO: CARM. 1.11 DE HORÁCIO

Joana Junqueira Borges [email protected]

Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Marquesa de Alorna, Arcadismo, Tradução.

D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre (1750-1839), conhecida por Marquesa de Alorna, foi uma poetisa que participou da cena literária portuguesa de sua época, o Arcadismo. Quando a Marquesa contava oito anos de idade foi enclausurada no convento de Chelas, bairro lisboeta, por conta de questões políticas envolvendo sua família, onde passou dezoito anos de sua vida. Foi aí que teve sua educação e pôde dedicar-se ao aprendizado de outras línguas, como o inglês e o latim, além de música, pintura e à sua produção poética, que encontrou respaldo nos outeiros, realizados nas cercanias do convento, e que contava com a participação de poetas como Filinto Elísio, que lhe deu a alcunha de Alcipe, seu nome árcade. Esses festejos, além de possibilitarem seu contato com outros poetas, permitiam que sua fama poética se espalhasse por Lisboa, embora estivesse reclusa. Em nossa pesquisa de doutorado estudamos a tradução da Marquesa de Alorna para a Arte Poética de Horácio, poeta romano que viveu no século I d.C. O Arcadismo português é o período de maior retomada dos clássicos greco-latinos, em especial dos versos horacianos, tanto de sua poesia lírica - vide a utilização da temática do carpe diem -, quanto de suas teorizações sobre poesia, presentes especialmente na Arte poética. Em nosso projeto de doutorado ainda em curso, procuraremos demonstrar como a teorização horaciana, em voga nessa escola literária, reflete-se na tradução da Marquesa de Alorna. No presente trabalho, no entanto, proporemos um ensaio de leitura a partir da tradução de outra obra Carmen 1.11, ode em que o poeta trata sobre o carpe diem, tão caro ao Arcadismo lusitano e ao brasileiro. Essa escolha se dá pela importância e pela difusão desse texto em vernáculo, além do fato de que procuraremos demonstrar questões e estilos tradutórios da Marquesa e de sua época através de uma breve análise de sua tradução e do texto em latim.

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A SÁTIRA LIMABARRETIANA DE NUMA E A NINFA

Jonatan de Souza Santos [email protected]

Profª. Drª. Juliana Santini (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Lima Barreto, Sátira, Numa e a Ninfa.

Este trabalho tem o objetivo analisar a sátira presente no romance Numa e a Ninfa, do escritor Lima Barreto, buscando compreender de que modo o narrador constrói comicamente os personagens que representam a cena republicana que o autor de Policarpo Quaresma não cansou de criticar. O personagem Numa Pompílio de Castro é o típico deputado que ascende na carreira política a partir da bajulação a supostos sogros, e por meio do casamento com a ninfa Edgarda torna-se parlamentar reconhecido pelo discurso da Câmara sobre a criação de um estado federativo. Também não descarta os conselhos da esposa que, por meio de sua relação adúltera com o primo Benevenuto, adquire astúcia sobre as situações eleitorais. A trajetória do protagonista, como de outros personagens movidos pela mesma ambição, é fonte para a sátira limabarretiana; o narrador satírico apresenta uma situação de expectativa sobre o futuro incerto da nação (a chegada do general Bentes), sem deixar de suscitar o aspecto cômico na mediocridade e na ambição dos políticos, mulheres dos políticos, capangas, jornalistas, caricaturas que revelam os defeitos condicionados pelo desejo, a todo custo, de ascensão ao poder político e econômico. Desse modo, as cortinas se abrem para revelar as falhas do poder republicano, assim como o país das Bruzundangas nos é mostrado em crônicas publicadas no semanário do A.B.C. de 1917. A partir da técnica de redução, recurso pelo qual a sátira ridiculariza o objeto, Lima Barreto consegue desmistificar os principais líderes consagrados pela história política do Brasil; é por isso que sua narrativa atrai o cunho crônico, cumprindo o projeto militante da literatura. O romance publicado em 1915 não é apenas uma obra satírica e cronística encomendada pelo A Noite, podemos também considerar o projeto utópico do escritor que almeja uma república que o Brasil não foi, ressaltando a sátira como voz militante presente no Pré-modernismo.

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A FICCIONALIZAÇÃO DOS DISCURSOS HISTÓRICOS EM OLGAS RAUM E LICHT, DE DEA LOHER

Júlia Mara Moscardini Miguel [email protected]

Prof.ª Dr.ª Elizabete Sanches Rocha (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Teatro político, Memória, História.

Dea Loher, dramaturga contemporânea alemã, propõe ao seu leitor/espectador histórias que retratam a sociedade, conduzindo seu público a uma reflexão acerca de temas inerentes à realidade na qual eles se encontram inseridos. Através de um estilo próprio e peculiar, de uma estética que combina elementos vários, Loher retoma o teatro político enfocando os menos favorecidos, com o objetivo de criar espaços para que o leitor/espectador encontre possibilidades de mudança. Pelo presente artigo almeja-se salientar as possíveis intersecções entre duas peças de Loher através do recorte temático inserido na relação história-realidade-ficção. Trata-se das peças Olgas Raum (1990) e Licht (2001), ambas as peças ficcionalizam a vida privada de duas figuras públicas. A primeira contempla em seu enredo os últimos dias de vida da militante judia Olga Benário em uma prisão nazista. Loher não trabalha com a vitimização da personagem, pois Olga mostra-se forte ao lidar com seu carrasco. As cenas do passado são narradas pela protagonista, em uma narrativa que passa por um fio condutor que transforma o palco em um lugar da memória. Loher questiona os limites da tênue fronteira entre verdade e ficção. Em Licht, outra personagem histórica é apresentada ao leitor, Hannelore Kohl, esposa do chanceler alemão Helmut Kohl. A peça revisita a luta de Hannelore contra uma doença dermatológica que a impossibilita de ter contato com raios solares e que culmina com seu suicídio. Uma peça curta, com apenas duas personagens, a senhora Kohl e sua sombra revivendo momentos passados e amargurando a solidão causada pelo isolamento e reclusão. Loher foca nas micronarrativas representadas pela figura dessas grandes mulheres – anônimas para a maioria das pessoas –, mas que trazem uma vida muito intensa e são companheiras de importantes e conhecidos homens públicos da história recente. Ao reescrever tais narrativas, ela subverte conceitos sedimentados e discute a formação dos discursos oficiais através da dicotomia público X privado. A vida pública dessas mulheres e os eventos priorizados por uma História oficial são preteridos pela dramaturga em favor das histórias de vida individuais, uma narrativa que não tem espaço nos livros de História.

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ASPECTOS HISTÓRICOS EM IL BARONE RAMPANTE (1957), DE ITALO CALVINO E EM EL SIGLO DE LAS LUCES (1967), DE ALEJO CARPENTIER

Kelli Mesquita Luciano [email protected]

Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura comparada, História, Revolução Francesa.

As narrativas Il barone rampante (1957), de Italo Calvino e El Siglo de las Luces (1967), de Alejo Carpentier apresentam confluências, por exemplo, no que diz respeito a aspectos históricos, pois ambas se passam no século XVIII, onde são contextualizados os ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo. Além disso, identificaremos algumas menções de figuras da história oficial, de Instituições históricas e a postura combativa dos protagonistas Cosme em Il barone rampante e de Esteban e Sofía em El Siglo de las luces. Estes personagens são intelectuais que apresentam traços excêntricos, altruístas e que são inspirados por meio do conhecimento, da leitura e dos estudos de algumas teorias, a lutarem pelos ideais de melhoria e de união da sociedade. Para tanto, nos apoiaremos nos seguintes teóricos: Lefebvre, Freitas e Lammert. É relevante ressaltar que a Revolução Francesa, apesar de ser inicialmente, um movimento em busca dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade e ter alcançado grandes mudanças na sociedade, com o decorrer do tempo, também apresentou aspectos contraditórios e que podem ser vistos como repressores e despóticos, como, por exemplo, o uso da guilhotina em meio aos espaços públicos e a consequente decapitação em massa daqueles que discordassem ou simplesmente não seguissem a Revolução, em outras palavras, a observação destas incoerências possibilitam elucidar certas atrocidades e injustiças praticadas por líderes da Revolução, como é exemplificado nas obras estudadas. Essas ocorrências despertaram nos personagens estudados, o sentimento de descontentamento e frustração diante das experiências negativas que vivenciam e que presenciam na sociedade, de modo que, é possível que o leitor reflita sobre a problemática das contradições políticas e sobre a hipocrisia humana, traços que não se limitam apenas a um único século, pois circundam a humanidade em diversas fases da História. Vale lembrar que a Revolução Francesa possivelmente foi usada, alegoricamente, pelos autores, pois apresenta pontos de intersecção com outros contextos, como, por exemplo, o século XX, momento histórico, em que Calvino e Carpentier viveram e escreveram essas obras.

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O DUPLO EM COSMÉTIQUE DE L’ENNEMI DE AMÉLIE NOTHOMB

Larissa Cristina Thomann [email protected]

Prof.ª Dr.ª Silvana Vieira da Silva (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Duplo, Psicanálise, Cosmétique de l’ennemi.

Na obra Cosmétique de l’ennemi (2001), da escritora belga Amélie Nothomb (1967), tanto os personagens, quanto o tempo e o espaço são construídos garantindo caracterísiticas duplas à narrativa. O duplo é analisado como fator predominante na construção da narrativa, sendo parte do espaço que se divide em dois: sala de espera de um aeroporto e imaginação de Jérôme, como parte do tempo – cronológico e psicológico e, ainda, como característica das personagens. No que se refere ao tempo, a obra é composta de duas narrativas, a que coincide com o início da obra – que é marcada pelo tempo cronológico - e apresenta um narrador em terceira pessoa e onisciente. Já o tempo psicológico existe na narrativa em que Textor começa a contar sobre sua vida. Otto Rank deu ao duplo essa denominação baseando-se em análises literárias e antropológicas, mas é em Freud, principalmente, que baseamos nossa análise psicológica. Freud, em O estranho (Das Unheimlich), de 1919, analisa o duplo como sendo o sentimento de estranheza causado pela perda, súbita, de noção do que é realidade e do que é imaginação, o que provoca o temor e o tremor. Logo, o estranho é uma experiência secretamente familiar e que foi um dia reprimido e, depois, liberado. Em Cosmétique de l’ennemi há insinuação do mesmo ponto de vista do psicanalista, pois, ao ser deparado com o seu duplo, Jérôme não acredita ter assassinado sua esposa. Textor, no entanto, o confronta dizendo serem ser a mesma pessoa, além dele próprio ser o inimigo interior e, portanto, a parte destrutiva de Jérôme. Textor diz, ainda, ser a parte de Jérôme que não se esquece de nada, aludindo à memória e ao inconsciente, parte do ser humano que não esquece de nada e da qual nada é perdido, apenas recalcado, citando Freud. Tanto o começo da obra quanto o final são parecidos em sua forma: no início temos um parágrafo separado dos demais causando uma dúvida no leitor sobre quem são as personagens, já o final, para dar uma explicação racional à dúvida do leitor tem, também, um parágrafo separado dos demais, numa página não numerada ao final da obra. Ainda assim, depois da explicação, há certa ambiguidade em que o leitor não consegue discernir o que é realidade ou imaginação de Jérôme.

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MITO E ARTE NA TEBAIDA, 2.1-133

Leandro Dorval Cardoso [email protected]

Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Tebaida, Mito, Arte.

Neste trabalho, realizo uma abordagem do episódio que abre o segundo canto da Tebaida, poema épico em doze cantos publicado por Públio Papínio Estácio (ca. 45 – ca. 95 d.C.), em que o poeta canta o episódio mitológico conhecido como os Sete contra Tebas, cobrindo os eventos desde a maldição de Édipo contra seus filhos até o mútuo assassinato dos irmãos Etéocles e Polinices ao final da batalha. No episódio aqui considerado, o pai de Édipo, Laio, a mando de Júpiter, sobe dos infernos à terra acompanhado por Mercúrio para incitar Etéocles, seu neto e então rei de Tebas, contra o próprio irmão, que se exilara em Argos sob a proteção de Adrasto enquanto aguardava o seu turno no trono tebano. O episódio, inserido no mito por Estácio, parece construir-se à imitação de algumas cenas semelhantes compostas por outros autores, antecessores de Estácio e influências bastante importantes em suas obras, como Sêneca, especialmente nas tragédias Tiestes (episódio da sombra de Tântalo, v. 1-121) e Agamemnon (episódio da sombra de Tiestes, v.1-56), e Virgílio, na Eneida (especialmente em 2.268-95 e 7.413-70). Considerando o trabalho do poeta sobre o e a partir do mito, a leitura apresentada buscará destacar os modos pelos quais Estácio se utiliza da tradição poética romana com vistas a inserir, em sua versão do mito dos Sete contra Tebas, um episódio novo que está, por sua vez, bastante articulado tanto aos princípios composicionais do seu canto como à almejada representação do nefas que impera na família de Édipo – uma das principais causas da derrocada de sua casa. Ao final da análise, concluir-se-á que Estácio, por meio de intenso labor poético, atribui novos traços a uma história bastante tradicional, fazendo com que alguns de seus contornos fossem ressaltados de modo a criar um objeto artístico que se oferece, intensificado, ao juízo estético do leitor.

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VANGUARDA, DECADENTISMO E SIMBOLISMO NA POESIA DRAMÁTICA DE VILLIERS DE L´ISLE-ADAM

Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier [email protected]

Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia dramática, Simbolismo-Decadentismo, Villiers de l’ Isle-Adam.

O conceito de modernidade está diretamente associado à perspectiva judaico-cristã da história, o que implica na ideia de sucessão do tempo de forma linear e horizontal. Nessa concepção, o passado anuncia o futuro de forma irreversível, opondo-se ao modelo arquetípico do tempo dos gregos que, por sua vez, organiza-se de modo vertical, prefigurando um modelo transcendente e reversível dos acontecimentos. Na esteira dessa noção escatológica da passagem do tempo, os termos modernidade, vanguarda e decadência adquirem, sobretudo na segunda metade do século XIX, ora uma conotação de progresso, ora de destruição. Eis que surge na França um grupo de poetas que, cansados das velhas formas da poética francesa e entediados com o modo de vida burguês e sua mentalidade filistina, busca uma nova forma de expressão mais afeita ao progresso da civilização. Inspirados por Baudelaire e Mallarmé e chefiados por Verlaine, esses poetas, por vezes pejorativamente nomeados como poetas decadentes (e não raras vezes confundidos com os simbolistas), contribuíram efetivamente para uma revolução das formas poéticas da arte francesa do final do século XIX, ainda apegada aos valores clássicos e cartesianos do esplendoroso século XVII. O objetivo da minha comunicação será verificar a presença dos aspectos vanguardistas presentes na poesia dramática de Villiers de l´Isle-Adam, apontado como um dos inspiradores dos movimentos decadentista e simbolista francês, bem como um dos desbravadores do teatro poético e do “ théâtre de la parole”. Para tanto, tratarei, em um primeiro momento, das implicações histórico-estéticas trazidas pelos termos vanguarda e decadência, na segunda metade do século XIX, bem como a conexão entre ambos. Posteriormente, traçarei, brevemente, um paralelo entre os movimentos decadentista e simbolista, ora aproximando-os, ora distinguindo-os. Finalmente, analisarei, em algumas obras dramáticas de Villiers, a presença de elementos simbolistas e decadentistas que o fazem figurar entre os poetas da vanguarda francesa, apontando, também, sua contribuição para a posterioridade.

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PAULO LEMINSKI: PROJETO TRADUTÓRIO E TRADUÇÃO CRIATIVA

Lívia Mendes Pereira [email protected]

Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Paulo Leminski, Satyricon, Recepção da literatura greco-romana.

Buscando contribuir com a pesquisa das traduções dos clássicos greco-romanos e com a recepção desses textos em nossas Letras, buscamos estudar e divulgar a tradução do Satyricon, de Petrônio, levada a cabo pelo poeta Paulo Leminski. Como pode ser constatado na leitura de sua biografia e como pode ser recorrentemente percebido nos temas que frequentam sua obra, o autor foi um conhecedor e divulgador da Língua e da Literatura Latina, esse idioma antigo constituiu uma importante fonte criativa revisitada e repensada durante toda sua carreira literária. Além de traduções feitas diretamente do Latim como as da Ode I, 11, de Horácio (1984), e do Satyricon, de Petrônio (1987), o trabalho com textos literários latinos também pode ser encontrado em obras como Metaformose e Catatau. Ao aliar o conhecimento em Língua Latina e a História da Tradução, revelamos a importância da literatura da Antiguidade através de sua recepção literária em Língua Portuguesa, por meio da tradução criativa de Leminski. A principal influência tradutória do poeta foi o tradutor e crítico literário americano, Ezra Pound, que transmitia a ideia da delimitação de uma “tradição literária”, que ele denominava de “paideuma”, de boa literatura para os novos poetas. O pai do make it new direcionava o que ler na literatura da Antiguidade, portanto, o projeto tradutório de Leminski passa pelo ideal poundiano. Para Pound, a arte tradutória tinha como característica a ausência de ortodoxia e a máxima liberdade em suas recriações. Essa influência do projeto poundiano é incorporada por Leminski a partir do exercício tradutório dos poetas concretistas brasileiros, Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari, que se propuseram a uma tarefa de reformulação da poética brasileira vigente, por meio da teorização e criação tradutória. Tomando como ensinamento a teoria e prática poundiana de tradução, acreditavam na função da crítica como “nutrimento do impulso” criador. A partir disso, portanto, pretendemos demonstrar as concepções tradutórias de Paulo Leminski, que se reforçam na ideia de repassar as características de uma obra estrangeira influenciadas por uma nova visão, de um novo mundo, de uma outra língua diferente e constatá-las na tradução do Satyricon, em que o Leminski tradutor faz com que os ecos da Antiguidade sejam renovados e renovadores.

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A CRONICA CONTEMPORÂNEA E SUA DILUIÇÃO DO ESPAÇO

Luis Eduardo Veloso Garcia [email protected]

Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Crônica Espaço, Literatura brasileira.

Considerado um dos gêneros mais expressivos da literatura nacional, com um alcance enorme de leitores, grandes nomes consagrados e um número razoável de estudos, a crônica atual aparentemente sofre de um problema significativo ao não conseguir escapar dos mesmos princípios teóricos levantados por Antônio Candido, Eduardo Portella, Jorge de Sá, Davi Arrigucci Jr. e Afrânio Coutinho, princípios estes que podem ser resumidos da seguinte maneira: o gênero que se afirma no jornal inicialmente e que reflete o espaço cotidiano de seu autor, facilitando ao leitor pela proximidade e intimidade que este texto consegue alcançar a prerrogativa de enxergarmos o espaço do dia a dia deste cronista, a voz de sua cidade, o modo em que este mede suas reações influenciadas diretamente pelo comportamento cultural do local que o cerca. Se tal leitura crítica conseguia sustentar devidamente as características primordiais de grandes autores do gênero (como Machado de Assis, José de Alencar, João do Rio, Lima Barreto, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Sergio Porto, Vinicius de Moraes, Antônio de Alcântara Machado, Oswald de Andrade, João Antônio e João Ubaldo Ribeiro), talvez ao reposicioná-la em perspectiva com alguns nomes da crônica atual ela pode consequentemente perder a força de seus significados, como podemos observar no caso das obras cronísticas de Gregório Duvivier, Xico Sá, Antônio Prata e Fabricio Carpinejar. Por mais que saibamos o envolvimento com o local em que moram, a crônica destes autores passa bem longe de representá-los, e justamente neste princípio que podemos enxergar uma característica primordial da modernidade refletindo em seus textos: a diluição da barreira local pela perspectiva globalizante. Entre os pontos que podem justificar tais alterações nas características da crônica, nos debruçaremos em duas hipóteses centrais: o modo que a plataforma do jornal é recebida no tempo presente e a leitura necessária sobre o papel da internet e de suas redes sociais, espaço este fundamental para todos os autores contemporâneos citados do gênero. Portanto, o que se discute aqui não é a negação da teoria vigente e categorizada da crônica, principalmente porque esta ainda se faz necessária em diversos momentos e nomes deste modelo textual, mas a prerrogativa de um novo olhar para o gênero, olhar este capaz de mostrar que sua leveza pode muito bem carregar questões profundas para se entender o modo de ler a própria época.

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DESVENDANDO O EPISÓDIO DE NÍOBE (Met. VI, 146-312)

Mariana Peixoto Pizano [email protected]

Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)

Financiamento: CNPq

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Níobe, Metamorfoses, Ovídio.

Esta comunicação visa a apresentar uma leitura poético-interpretativa do episódio de Níobe, registrado pelo poeta latino Ovídio no livro VI das Metamorfoses (146-312). Para isso, serão observados os efeitos expressivos do texto, obtidos por meio das referências aos deuses e lugares do mundo antigo, da disposição das palavras no verso (visto que o latim tem maior liberdade de organização frasal que o português, “tendo em vista o sistema flexional de casos, que, ao mesmo tempo em que relata função sintática, também dota o item flexionado de grande mobilidade no interior das orações) e demais artifícios utilizados pelo autor no plano da expressão do poema e que enriquecem seu plano do conteúdo. A teoria escolhida para estudar o poema ovidiano é a semiótica de linha francesa, que procura desvendar o processo de construção de sentido do texto por meio das formas de linguagem. Em outras palavras: procura descrever e explicar quais as técnicas que engendram o sentido do texto. Ao priorizar o estudo dos mecanismos intradiscursivos de constituição do sentido, a semiótica não ignora que o texto seja também um objeto histórico, apenas opta por analisa-lo sob outro viés. O mito selecionado, assim como tantos outros dentre os cerca de duzentos e cinquenta relatos mitológicos presentes no carmen perpetuum (“poema infinito”) de Ovídio, narra uma metamorfose, a de Níobe. A transformação dá-se como castigo à mortal que, depois de um longo discurso, exaltando sua ascendência divina e sua prole numerosa, atreveu-se a reclamar às tebanas – mulheres da cidade onde Níobe era rainha – que interrompessem o culto à Latona, mãe de Apolo e Diana, para oferecerem incensos e preces a ela, rainha de Tebas, visto ser ela mais digna de tais honrarias, por possuir sete vezes mais filhos que a deusa. Ao ouvirem tais insultos, os gêmeos divinos e filhos de Latona, Apolo e Diana, decidem vingar a mãe aniquilando com suas flechas a descendência de Níobe, que perde aos poucos as características humanas (os cabelos não se movem, os olhos param, o rosto empalidece, o sangue não corre nas veias, mãos e pés ficam imóveis) até se tornar pedra.

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CLARICE LISPECTOR E FRANCISCO PAULO MENDES: A INCIPIENTE ESCRITORA, O FAZEDOR DE POETAS

Marília Gabriela Malavolta [email protected]

Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector, Francisco Paulo Mendes, Misticismo da linguagem.

Em janeiro de 1944, logo após publicar seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector mudou-se para Belém do Pará, acompanhando o marido em incumbência diplomática. Lá permaneceram por seis meses, hospedados no Central Hotel, em cujo Café intelectuais reuniam-se diariamente em torno do ilustre Professor de Literatura Francisco Paulo Mendes do Nascimento, por quem Clarice nutriu grande admiração e amizade. Chico Mendes, como era conhecido, emprestou-lhe os Cahiers de Malte Laurids Brigge, de Rilke, e trechos escolhidos de Proust, conforme a própria escritora conta em carta de 1944, endereçada a Lúcio Cardoso. Segundo Benedito Nunes, que a escritora conheceria anos mais tarde, na década de 60 apenas, Mendes foi um verdadeiro fazedor de poetas, tendo impulsionado Ruy Barata, descoberto Plínio Abreu e Mário Faustino. Em Belém, Chico Mendes formou mais de uma geração de intelectuais, atentos e devotos às suas opiniões, seguidores de seu juízo crítico. E seu meio de expressão, por excelência, era a voz. Mendes deixou poucos textos publicados. Acreditamos que em um deles, “Notas para uma conferência sobre a poesia contemporânea”, presente, ao lado de uma série de depoimentos, em coletânea organizada por Benedito Nunes em 2001, intitulada O amigo Chico, fazedor de poetas, poderemos levantar influências que suas tertúlias teriam exercido sobre a jovem Clarice. Neste texto, publicado em 1948 na Folha do Norte, Mendes aponta o que vê de profundamente místico na atividade poética daquele tempo. Assim, com a presente comunicação, pretendemos detalhar esses elementos biográficos e sobretudo aproximá-los de escritos de Clarice, tanto daqueles que trazem referência direta ao Professor (trechos de cartas, crônica e romance), quanto daqueles que podem conter traços da influência dele recebida, como talvez seja o caso da conferência “Literatura de Vanguarda no Brasil” proferida pela escritora, dentre outros lugares, em Belém do Pará.

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MEMÓRIA E CRIAÇÃO NOS ROMANCES: LA GLOIRE DE MON PÈRE E LE CHÂTEAU DE MA MÈRE, DE MARCEL PAGNOL

Marina Lourenço Morgado [email protected]

Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Memória, Autobiografia, Literatura francesa.

Marcel Pagnol começou a escrever as memórias de infância quando o pai, Joseph morreu, o que contribuiu para o autor como uma forma de retorno à vida passada e à infância. Destas reflexões, ele lançou o primeiro romance, La Gloire de mon Père (1957), no qual a figura do pai possui um papel primordial na vida da personagem Marcel. Em La Gloire de mon Père, tem-se o início das férias em Aubagne e do espaço dessa região: as colinas, a floresta e a casa de veraneio Bastide Neuve. É o olhar da personagem Marcel ainda criança que leva o leitor a descobrir todos os espaços presentes no romance. Seus romances são uma homenagem à Provença e, principalmente à família e aos amigos. É em homenagem a mãe, Augustine, que Pagnol escreveu o segundo romance, Le Château de Ma Mère (1957), a partir de um conto, no qual narrava as memórias da infância para a Edição de Natal da revista Elle, publicada em dezembro de 1956. Estas memórias de infância giram em torno de dois elementos primordiais para uma criança: o pai e a mãe. Ao retornar à sua vida passada, Pagnol encontrou um contexto familiar digno de ser romanceado. Lembrando-se da infância, um momento, no qual a família ainda estava unida, o autor recria esse passado por meio do protagonista Marcel. A importância da memória em Pagnol ocorre pelo fato de que o escritor contextualizou os romances num espaço, no qual, temos a família, a floresta e a cidade, onde as figuras do pai e da mãe são parte das relações sociais da personagem, confluindo nas memórias individual e coletiva. Dessa forma, o autor elaborou o mundo da infância por meio da memória e da imagem do passado, o lugar de lembranças e a busca de sua capacidade criativa. Nesses dois romances, tem-se a relação da memória com o tempo e o espaço, com a narrativa e a história unidas junto à memória coletiva. Essas lembranças estão relacionadas aos personagens e à experiência social, e principalmente as mudanças do espaço que são o campo e a cidade. Em Pagnol, as lembranças da infância estruturam o texto por meio de artifícios que recuperam a memória como o espaço em que se inserem os personagens e objetos presentes na narrativa. Nesses romances, a memória não é apenas uma estratégia narrativa, é o lugar de fantasia, de criação e busca do passado.

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DA MITOLOGIA AO CRISTIANISMO: A ARTE POÉTICA DE LE GÉNIE DU CHRISTIANISME, DE FRANÇOIS-RENÉ AUGUSTE DE CHATEAUBRIAND

Natália Pedroni Carminatti [email protected]

Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)

Financiamento: CNPQ

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Mitologia clássica, Cristianismo, François René-Auguste de Chateaubriand.

A infinitude de escritos sobre o mito é espantosa, dado que uma simples palavra, tão em voga nos últimos tempos, graças ao seu emprego por tantas pessoas, para as mais diversificadas nomeações, dificulta uma definição absoluta do que seria o mito. O que é mito? Partindo dessa indagação, propusemo-nos na presente comunicação delimitar, ou pelo menos, propor a noção de mito e sua consequente pertinência à literatura, sobretudo, à obra Le génie du christianisme (1802) de François-René Auguste de Chateaubriand (1768-1848). A despeito das inúmeras tentativas de demarcação desse conceito, por mitólogos, arqueólogos, filósofos, filólogos, epistemólogos, linguistas, psicanalistas, sociólogos, sabe-se que a concepção de mito está muito longe de ser esclarecida. Além da própria indefinição presente na demarcação de tal conceito, deparamo-nos com a sua multiplicidade de sentidos e funções, visto que em cada sociedade, um determinado mito aparece de maneira distinta, revelando um conflito de interpretações divergentes, mas que em sua base conservam uma tese principal. À vista disso, o mito não pode ser e nem é uma fala ou uma narrativa ordinária. Ele é muito mais que isso, é uma narrativa organizada pelo ser humano a fim de caracterizar um conjunto de símbolos que se transformam em linguagens incorporadas. Ademais, o mito particulariza o homem e o insere em um dado círculo social. Entre tantas investigações realizadas a respeito dos mitos da Antiguidade Clássica, objetiva-se, por meio dessa leitura, certificar a importância da mitologia para a formação da cultura grega e sua consequente influência na doutrina cristã. Vale ressaltar que a religião encontra-se bem próxima da matriz mítica, muito mais que a ciência. Mesmo que Chateaubriand escreva em defesa do Cristianismo, mostrando sua supremacia em relação à mitologia grega, certas analogias podem ser cumpridas entre essas duas religiões. Posto isso, como embasamento teórico para nossas comprovações, utilizaremos alguns especialistas nesse tema, entre eles, destacamos: Jean-Pierre Vernant, Everardo Rocha, Eleazar Mielietinsk e Mircea Eliade.

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“I HIDEMYSELF WITHIN MY FLOWER”: O SUBTEXTO COMO POSSIBILIDADE DE ANÁLISE DA POESIA DE EMILY DICKINSON

Natalia Helena Wiechmann [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Clara Bonneti Paro (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Emily Dickinson, Subtexto, Crítica literária feminista.

Emily Dickinson (1830-1886) é autora de um pouco mais de 1700 poemas, quase todos publicados postumamente. Foi a partir das décadas de 1920 e 1930, com a Nova Crítica, a poesia de Emily Dickinson passa a fazer parte dos currículos acadêmicos uma vez que estratégias poéticas como a ambiguidade, o paradoxo, a ironia e a metáfora, por exemplo, considerados instrumentos-chave de um bom poema para os Novos Críticos, são também elementos altamente privilegiados pela poeta. Com o desenvolvimento da crítica literária feminista a partir dos anos 1950, a poesia de Emily Dickinson se tornou objeto de estudos dessa vertente crítica. No panorama da crítica literária atual, a relação entre a obra dickinsoniana e as leituras feministas está consolidada com o grande número de trabalhos acadêmicos produzidos e publicados a cada ano. Diante disso, esta pesquisa investiga o que acreditamos ser uma estratégia de transgressão às normas poéticas e comportamentais impostas pelo patriarcado: o subtexto, isto é, a criação de uma escrita em que se sobreponham duas camadas de sentido que, quando interpretadas pelo leitor, revelem em si as questões envolvidas no conflito entre a consciência de gênero e a consciência da autoria. Nesse sentido, entendemos que a obra de Emily Dickinson deixa entrever o questionamento dos valores impostos pelo patriarcado, além de se fazer perceber o conflito feminino entre encaixar-se nesses valores e superá-los. A ênfase de nosso trabalho recai sobre a análise de um corpus composto de vinte poemas para que possamos verificar a validade de nossa hipótese – de que a compreensão do subtexto possa levar à compreensão do processo de criação poética, estando este vinculado à consciência poética e individual do conflito entre o ser poeta e ser mulher na sociedade patriarcal. Como resultados obtidos até o momento, a leitura e a análise de parte do corpus de pesquisa comprovam que a obra de Emily Dickinson desafia os modelos produzidos até o século XIX e que os papéis desempenhados pelos gêneros feminino e masculino são discutidos pela poeta no subtexto de seus versos, fazendo emergir do texto a consciência das diversas relações que a noção de superioridade de um gênero sobre o outro impôs à mulher, social e literariamente.

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ESTUDO DO ESPAÇO NA CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS NA OBRA DE ALICE MUNRO

Oíse de Oliveira Mattos Bazzoli [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Conto, Espaço, Narratologia.

O projeto de mestrado exposto neste resumo se pauta na pesquisa e análise dos contos The Peace of Utrecht e Meneseteung , de Alice Munro, respectivamente presentes nas obras Dance of the Happy Shades e Friend of my Youth, atentando-se aos pontos que abordam como o espaço contribui na caracterização das personagens para o desenvolvimento da ação e o modo pelo qual enfrentam seus dilemas na construção de suas personalidades e relacionamentos. O trabalho será desenvolvido por meio da análise dos elementos estruturadores dos contos, com base na fundamentação teórica da narratologia, dos quais se destacam autores como Génette (1995), Nunes (1998); nas teoria do conto, como Cortázar (1993) além de Lins(1976) e Bachelard(1978). Alice Munro nasceu em Wingham, interior da província de Ontário, Canadá em 1931 e é reconhecida como autora de histórias curtas. Possui maestria na manipulação do tema e linguagem, forma e sentido, ou seja, “o que diz” e “ como diz”. Entre seus inúmeros prêmios e reconhecimento internacional, recentemente foi agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura. O estilo de Alice Munro é caracterizado pelo emprego de protagonistas femininas, pela transformação de simples fatos cotidianos em algo significativo e grandioso e a quebra dos limites do conto convencional – fechado, redondo, linear – perseguindo veredas independentes nos caminhos da narrativa contemporânea. Seus temas recorrentes são a relação com os pais na infância, principalmente com a mãe; a família; as amizades, romances e desilusões amorosas; velhice e morte. O conto The Peace of Utrecht trata das relações entre duas irmãs que desde pequenas cuidaram da mãe acometida pela doença de Parkinson e que até a idade adulta não conseguiram se desvencilhar de uma passado traumático que deixou marcas profundas em suas vidas e relacionamentos . O conto “Meneseteung” conta a história de uma poetisa do século dezenove, Almeda Roth, seus conflitos pessoais e solidão. Três anos após chegar ao Canadá, seu irmão e irmã adoeceram e vieram a falecer. A mãe faleceu três anos mais tarde, o que deixou Almeda na responsabilidade da casa e de seu pai. Ela cuidou dele até seu falecimento, doze anos mais tarde. Como não se sentia apta a atividades comumente atribuídas a mulheres, tais como crochê e bordado, Almeda se dedicou a escrever versos. Esta atividade se tornou uma forma de lidar com as adversidades e solidão que sentia até conhecer Jarvis Poulter por quem nutre admiração e interesse amoroso.

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DO PÊNDULO POÉTICO: POESIA E CRÍTICA EM MURILO MENDES E FRANCIS PONGE

Patrícia Aparecida Antonio [email protected]

Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia lírica, Metapoesia, Crítica.

A presente comunicação tem por objetivo pensar brevemente como opera a pendularidade entre poesia e crítica da poesia em Murilo Mendes (1901-1975) e Francis Ponge (1899-1988). O brasileiro e o francês procedem à fusão de discurso da obra e discurso sobre a obra num movimento em que sujeito lírico e crítico (eles mesmos ficcionais) se encontram em permanente tensão. Entendendo poesia e crítica como atividades reflexivas fundamentadas na linguagem, tal pendularidade é favorecida pelo aspecto de incabamento dos seus escritos, conformando o grande tecido da obra, este, sempre prestes a se completar sob os olhares dos leitores e da crítica. Partindo de dois volumes, O discípulo de Emaús e Méthodes, respectivamente de 1945 e 1961, observaremos o modo como o fragmentário e o inacabado abrem um vão no qual germina a possibilidade de continuidade do texto. Nesse espaço, previamente calculado, Murilo e Ponge permitem que seus sujeitos líricos dobrem-se sobre o próprio fazer, num movimento que é, sobretudo, criativo. Nesse sentido, os aforismos murilianos, ao passo que oferecem fundamentos teóricos para que se analise a obra completa do juiz-forano, atentam para a proximidade entre o discurso do aforista e o do poeta, além de reforçar aquela entre o verso e o epigrama. Francis Ponge, por seu turno, com a diversidade dos textos coletados em Méthodes, deixa claro o caráter de prática de uma produção cuja base é o diário sob suas mais diversas formas. Por entre os acontecimentos do dia, os textos tornam-se a concretização do método poético, tornando-se, portanto, parte fundamental da obra. Na distância e proximidade entre Murilo Mendes e Francis Ponge, é possível observar ainda como a poesia efetua com naturalidade a integração completamente ficcional e reflexiva de aspectos biográficos, numa vivência da literatura que se quer cada vez mais ampla. Esse panorama de liberdades múltiplas só poderia ser possível em obras cuja força motriz é a penduralidade entre poesia e crítica e a mistura de prosa e poesia.

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A COSMOGONIA NAS METAMORFOSES DE OVÍDIO: UM ESTUDO SOBRE A EXPRESSIVIDADE POÉTICA, SEGUIDO DE TRADUÇÃO E NOTAS.

Paulo Eduardo de Barros Veiga [email protected]

Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)

(FCLAr/ UNESP - Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Poética, Expressividade, Ovídio.

Ovídio (43 a. C. - 17 d. C.), poeta do período Clássico da Roma Antiga, mais precisamente, da época de Augusto, escreveu, por volta de 8 d. C., suas Metamorfoses (Metamorphoseon libri), um longo poema dividido em quinze cantos, que, de modo geral, trata de temas míticos. A pesquisa de doutorado apresenta, como córpus, o início do Canto I, que corresponde aos hexâmetros de número 1 a 451, em que Ovídio conta histórias mitológicas a respeito da origem do mundo, ou seja, narra a Cosmogonia, um conjunto de mitos que procura explicar o princípio do universo, por assim dizer, as transformações que o mundo sofreu para chegar à forma atual. O enfoque teórico é a Semiótica literária de linha francesa, cuja base está nos escritos de Greimas. Com ela, investigam-se o signo, a sua expressão e os efeitos de sentido que contribuem para a formação do poético e do estético no texto ovidiano. Procura-se, assim, considerar o córpus como um discurso literário, em que se notam articulações entre plano de conteúdo e de expressão. Debruça-se a análise, mais precisamente, sobre os recursos figurativos e icônicos, sobre homologias observáveis e sobre os efeitos de sentido captados pela percepção. Ademais, tendo a preocupação em ler a obra de Ovídio no original latino, é necessário que se produza, inclusive como subsídio à análise literária, uma “tradução de estudo”, acompanhada de notas de referências mítico-culturais, que elucidem, um pouco mais, o texto do poeta sulmonense. Em se tratando de estudo voltado à poesia, é relevante que se faça, quando exigida pela análise literária, a escansão de hexâmetros, em busca de construções métricas que favoreçam a expressividade poética. Em suma, na pesquisa, tem destaque o modo como o discurso literário foi construído por Ovídio, autor de Metamorfoses, que, com alto burilamento estético, cantou a Cosmogonia.

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O CARÁTER LITERÁRIO E O REAL SUBJETIVO NAS CARTAS DE CLARICE LISPECTOR A FERNANDO SABINO

Priscila Berti Domingos [email protected]

Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Cartas, Literariedade, Real subjetivo.

Este trabalho tem como objetivo analisar os componentes de interesse literário que revelam a criação, a escritura e o ofício do escritor através do estudo das cartas trocadas entre Clarice Lispector e Fernando Sabino entre os anos de 1946 a 1969, publicadas pelo autor em 2002. Publicadas sob o título de Cartas perto do coração, essa compilação de cartas tornou pública toda a cumplicidade e envolvimento literário que havia entre os autores e a influência que ambos tiveram no processo de criação de suas primeiras décadas de ofício de escritores. Muito tem-se estudado sobre Clarice Lispector, mas existem poucos trabalhos sobre suas cartas e não há estudos sobre a correspondência entre a autora e seu amigo Fernando Sabino, analisando o processo de criação literária e o fazer poético através das cartas. Importa apontar que na compilação de cartas em questão as missivas têm um valor poético em que a linguagem toma o primeiro plano da criação e aparecem nelas, sobretudo, a preocupação com (i) para que fazer literatura; (ii) escrever por que e para quem; (iii) o ofício de escritora; (iv) a procura pela forma mais precisa de expressar o inexprimível. Esta comunicação será dividida em duas partes: num primeiro momento, discutir-se-ão o conceito de real para a autora, os elementos de interpolação e a consciência rememorante, presentes nas cartas da autora, tendo como base de estudo o capítulo A meia marrom, parte integrante do livro Mímesis (1971), de Auerbach. Para este estudo utilizar-se-á a carta enviada de Berna ao amigo Sabino em 14 de agosto de 1946. Na segunda parte do trabalho, buscar-se-á responder a duas questões que perseguem os estudiosos do gênero epistolar: (i) que tipo de literatura as cartas propõem? (ii) uma carta pode ser lida como obra de literatura, ou é apenas um material auxiliar para o conhecimento de um escritor e dos problemas relacionados à sua obra?

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COMO SE INVENTARAM OS INTERTEXTOS: ANÁLISE DOS INTERTEXTOS LATINOS EM CONTOS MACHADIANOS.

Priscila Maria Mendonça Machado [email protected]

Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Intertextualidade, Machado de Assis, Cultura latina.

Machado de Assis compõe sua narrativa no encontro entre o passado e o futuro. Entre as citações e o leitor. Entre o arcabouço literário de quem escreve e de quem lê. Estimulando seu leitor a buscar, incansavelmente. Mesmo sem encontrar. Porém, reforçando a busca interior. Essa fórmula de estímulo e de busca ganhou notoriedade por meio dos romances realistas do autor, no entanto, manifestava-se desde o início de sua obra, porém em menor escala. Munindo-se da estrutura dos contos, mais sucinta e objetiva, Machado traçou uma carreira em ascensão nos folhetins dos jornais fluminenses. Entranhado nos assuntos folhetinescos (moda, hábitos, família), o autor construiu uma série de contos que negou republicar no formato de livros, mas que já mostravam sua escrita intertextual. A partir do exposto, no presente trabalho, pretende-se discutir como Machado de Assis apropriou-se dos folhetins a favor de seus contos, assim como a técnica intertextual a favor de seus personagens/ trama/ narrador. Para a comunicação, optou-se pelo conto “Como se inventaram os almanaques”, publicado em 1890. Posterior a Memórias póstumas de Brás Cubas, “Como se inventaram os almanaques” serve como obra ilustrativa do primeiro número do Almanaque das Fluminenses. Para melhor ilustrar, Machado cria uma narrativa permeada de mitologia visando à criação dos almanaques. Na obra, busca-se apontar as referências e os recursos intertextuais utilizados para alcançar a intenção inicial. Recurso amplamente utilizado, em seus romances de maiores sucessos, a intertextualidade será utilizada a serviço do folhetim, contextualizando o ambiente publicado e as matérias que também apareceriam ao longo do almanaque. No entanto, é importante ressaltar o enfoque da comunicação: os intertextos latinos. Machado, em toda a sua obra, usa como recurso estilístico a intertextualidade e muitos são os autores e referências utilizadas. Como recorte, procurar-se-á analisar os intertextos latinos, autores e referências. Machado de Assis, ao compor, tinha em vista o público ao qual se dirigia; desse modo, a presente comunicação terá como foco ressaltar a intertextualidade machadiana dentro do conto folhetinesco.

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PROSA E TRAGÉDIA: O REALISMO DE FLAUBERT EM MADAME BOVARY

Rafhael Borgato [email protected]

Prof.ª Dr.ª Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Or.)

Financiamento: FAPESP

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Realismo, Trágico, Flaubert.

Ao analisar o realismo francês do século XIX, Erich Auerbach refere-se a Madame Bovary como uma obra que, apesar de seu desfecho, se afasta do trágico. Franco Moretti corrobora tal opinião e desenvolve essa ideia afim de demonstrar o porquê desse afastamento. Sua conclusão é uma definição do estágio maduro da forma realista do gênero: o romance de Flaubert encontra-se em um ponto distante tanto do épico quanto do trágico, pois o que o autor busca é um estatuto próprio da prosa, distanciado dos conceitos clássicos de literatura e mais próximo da insipidez da realidade pequeno-burguesa. O prosaico, aquilo que Hegel chamou de prosa do mundo, é caracterizado pela burocratização, o automatismo e o utilitarismo do mundo habitado por pessoas de baixa estatura social. Ao narrar a trajetória de indivíduos de nenhuma notabilidade, o romancista esvazia a dimensão de grandeza que comumente é associada ao épico e ao trágico. Se o realismo formal inglês do século XVIII ainda possui resquícios de epicidade dada sua dimensão de unidade (organizada em torno do ideário puritano), Madame Bovary limita-se à representação de um micro-universo de alheamento e incompreensão. A protagonista Emma e o co-protagonista Charles marcam-se pela incapacidade de aceitar a realidade; apegam-se então à ideia de serem o que não são – o que Jules de Gaultier chamou de bovarismo. A autoilusão de ambas as personagens constitui um traço ínfimo de conflito que não se dá sequer exatamente na esfera familiar, mas na compreensão pessoal que cada uma delas tem da própria vida. E tal pequeno conflito se passa enquanto as demais figuras da narrativa seguem adiante com o comezinho, como uma espécie de anti-coro da tragédia. O suicídio de Emma e a morte de Charles parecem representar o desfecho banal, possível a uma narrativa permeada de banalidades. No entanto, como demonstraremos neste trabalho, o processo trágico não está completamente ausente de Madame Bovary; ele apenas se encontra em outro lugar, mais especificamente, no próprio tecido social que cria o imobilismo e transforma toda tentativa de rompimento em uma continuidade dessa paralisia – deslocando-se, portanto, do indivíduo posto em conflito com o poder objetivo do mundo. Assim, esperamos demonstrar a existência de uma relação entre o caráter aparentemente banal da configuração prosaica de realidade (tomando prosaico no sentido de burocratizado, utilitarista e automatizado) e a grande questão em torno da condição humana que é posta pela forma de arte trágica.

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A CONJUNÇÃO DE MÉTODOS MORFOLÓGICOS NA RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS EM “CONNLA AND THE FAIRY MAIDEN”

Raquel de Vasconcellos Cantarelli [email protected]

Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Esferas de ação, Inserções cristãs, Novos sentidos.

Esse trabalho demonstra como foi possível obter uma classificação precisa das personagens do conto celta “Connla and the Fairy Maiden” e suas respectivas esferas de ação, com a conjunção de métodos morfológicos diferentes. A partir disso, o conto pôde ser reinterpretado, uma vez que se revelaram certos aspectos socioculturais que se encontravam mascarados pela posterior inserção de princípios cristãos. Tais inserções afetaram a narrativa não só em sua superfície, mas também em seu eixo paradigmático, gerando problemas relativos à especificação das funções das personagens. A personagem feminina, aqui identificada como a heroína, ao ser revestida com tonalidades cristãs, perdeu os atributos tradicionais do herói e adquiriu traços de antagonista, além de desviar o foco da narrativa para as outras personagens. Apenas ao descartarmos a hierarquia aparente entre as personagens e evitarmos restringi-las aos padrões convencionais de cada actante, foi possível compreendê-las dentro de uma nova possibilidade estrutural, antes indefinida. Ao analisarmos as ações das personagens de acordo com suas próprias perspectivas, obtivemos indícios de suas motivações, o que contribuiu para o esclarecimento de suas respectivas funções no conto. Considerando a perspectiva da personagem feminina, foi possível reconstruir seu percurso actancial implícito, o que confirmou seu enquadramento na esfera de ação do herói, condição dissimulada no nível da narração. Uma vez que a heroína tornou-se a norteadora da análise, as outras personagens também conformaram-se às funções proppianas, sendo explicitada, portanto, a estrutura do conto. Com isso, houve uma modificação na percepção do significado da história, o qual foi confirmado pela subsequente análise sociocultural. Isolamos os elementos cristãos e reconsideramos as funções apenas em relação às antigas crenças celtas do Outro Mundo, o que veio a restabelecer a representação feminina original, de acordo com sua posição de heroína pagã. Observamos que nem sempre um determinado método se mostra suficiente para descrever uma estrutura narrativa, mas uma conjunção de métodos podem trazer resultados precisos, revitalizando os sentidos da obra. Fica também evidente que certas intervenções por parte dos narradores, mesmo quando inseridas apenas na superfície do conto, podem gerar inferências que se chocam com as anteriores, alterando a conotação geral da obra. Contudo, ao analisarmos a perspectiva de cada personagem, suas funções, e o percurso actancial da heroína, foi possível trazer à tona a estrutura fundamental do conto, identificar e isolar seus acréscimos, recuperando em grande parte seu sentido original. Além de tornar-se óbvio o contraste nas formas de se pensar e representar a mulher na sociedade antes e após o advento do cristianismo, pudemos restaurar uma visão de mundo pertencente à tradição oral que, de outro modo, não se revelaria nessa obra após seu registro e disseminação por monges cristãos do monastério irlandês de Clonmacnoise, por volta do ano 1.100.

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LETRAS E POEMAS MARGINAIS

Renato Luís de Castro Aguiar Silva [email protected]

Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia, Canção, Música.

A fim de contribuir para os estudos das letras do cancioneiro nacional, direcionamos a metodologia de análise para uma instância periférica deste tema, e para conteúdos tais que subjazem a teoria de importantes pesquisadores ligados a canção como Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, Charles Perrone, José Ramos Tinhorão, Mário de Andrade e outros. Situando o conceito produtivo e paradigmático da canção, abordaremos as implicações de conteúdo e forma que a ligam diretamente a poesia escrita, mediando traços temáticos e estilísticos desse interregno. Além disso, fazendo uso da teoria dos ‘meios’ de Marshall Mcluhan, e dos estudos sobre cultura massificada, distintamente presentes em Umberto Eco e Walter Benjamin, buscaremos caminhos que possam ampliar a nossa visão sobre o fenômeno das letras das canções brasileiras da década de setenta, sobretudo. O período, como se sabe, marcado por fortes tensões sócio-políticas que culminaram num ‘vazio’ cultural, como reportou Zuenir Ventura, também ficará marcado por um tipo de poesia ‘subterrânea’, que se veiculava fora dos padrões de distribuição e que, vinculando-se à cultura popular, questionava certos critérios do cânone literário. A associação destes poetas com a música popular tratar-se-á de uma tendência consubstanciada na ideologia experimental do período, permeado pela influência explícita dos novos meios, a saber, a televisão e as tecnologias de alta-fidelidade, pela contracultura e pelas vanguardas do contexto como o Concretismo e o Tropicalismo. Explorando, portanto, a fortuna crítica no que tange a esse intercâmbio, traremos ao exame as obras de Heloísa Buarque de Holanda, Antônio Carlos de Brito, Paulo Leminski, Glauco Mattoso e outros que se debruçaram sobre o tema.

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E.T.A. HOFFMANN E MACHADO DE ASSIS: AFINIDADES LITERÁRIAS

Ricardo Gomes da Silva [email protected]

Profª Drª Karin Volobuef (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis, E.T.A. Hoffmann, Literatura do século XIX.

Entre a Berlim de E.T.A. Hoffmann e a Rio de Janeiro de Machado de Assis uma distância de mais de 10.000 Km. Um faleceu em 1822 outro nasceu em 1839. De um lado conterrâneos como Goethe, Schiller, os irmãos Schlegel e Grimm; de outro, uma literatura de pouco reconhecimento internacional. A vasta tradição filosófica e literária de um povo do velho continente versus os primeiros passos de uma nação que buscava ver-se independente dos colonizadores portugueses e tatear um fazer literário próprio. Contudo, ao olharmos atentamente as obras de Machado de Assis e E.T.A. Hoffmann é possível verificar diversas afinidades não somente formais, mas principalmente de postura: ambos os escritores irão se voltar para o sistema literário estabelecido em seus contextos. Neste sentido, o objetivo desta comunicação é discutir de que maneira Machado e Hoffmann podem ser aproximados por suas posturas contrárias às práticas literárias estabelecidas no Brasil e na Alemanha.

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UM TETO TODO SEU E UM MANUSCRITO SEM AUTORIA: O CASO DE UM CÃO QUE SONHA, DE AGUSTINA BESSA-LUÍS

Rodrigo Valverde Denubila [email protected]

Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Agustina Bessa-Luís, Um cão que sonha, História.

O objetivo desta comunicação é pontuar determinados procedimentos semânticos característicos da poética de Agustina Bessa-Luís através da discussão do romance Um cão que sonha. Nessa obra, a importante romancista portuguesa ficcionaliza o pensamento de Virginia Woolf, presente em Um teto todo seu, de que a mulher para escrever precisa de um teto dela e de dinheiro. Esses elementos são de vital importância à emancipação feminina e ajudam a escritora lusitana a questionar tanto o local da mulher na literatura, enquanto autora, voz formadora de cultura, quanto na sociedade. Quer a prostituta, que aparece nas primeiras páginas do romance, quer Maria Pascoal, personagem central da trama, que gostava de escrever e tem um casamento de conveniência com Léon Geta Fernandes, filho da rica burguesia do Porto, são peças-chave do mosaico representativo da condição feminina. O dinheiro, aludido por Virginia Woolf e importante elemento da literatura agustiniana, é responsável por estabelecer uma nova aristocracia que não é mais a do sangue. Agustina Bessa-Luís é muito lúcida em sua observação, o que faz com que evite utopismos rasos: dinheiro compra respeito, dessa forma, as mulheres devem lutar por ele. Todavia, as profissões de mulher são vistas com menos prestígios do que as profissões de homem. Isso ajuda a colocar a tónica na questão da igualdade, identidade e diferença fomentadora de lugares sociais. Apesar da ambiguidade da narrativa, o enredo de Um cão que sonha expõe os muitos silenciamentos e estelionatos que caracterizam a escrita da História. Então, é preciso enriquecê-la com os seus desmentidos, conforme assinala a autora no início de Santo António, ao dar voz aos excluídos da História, entre eles, as mulheres. Se a História foi escrita por homens, onde está a voz feminina? Como a história das mulheres chegou a nós? Qual o papel delegado às mulheres ao longo dos anos? Essas são algumas das indagações que Um cão que sonha permite. Agustina Bessa-Luís é responsável por estabelecer a tradição de autoria feminina em Portugal, quando estreia em 1948. Sendo assim, é necessário questionar como a narrativa de 1997, quinquagésima primeira dentro do extenso conjunto literário agustiniano, dialoga com outras obras da autora e permite discussões a ponto de ser possível destacar, nesse romance, a presença de elementos de força da poética de Agustina Bessa-Luís que estão diluídos em outras narrativas da escritora.

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VOZES FEMININAS NO ROMANCE A DANÇA DOS CABELOS, DE CARLOS HERCULANO LOPES

Roseli Deienno Braff [email protected]

Profª Drª María Dolores Aybar Ramírez (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Romance, Memória, Vozes femininas.

Vencedor do Prêmio Guimarães Rosa, da Secretaria de Cultura de Minas Gerais, o romance A dança dos cabelos (1984), do mineiro Carlos Herculano Lopes (1956), assinala a violência e a opressão como características compartilhadas pelas protagonistas ao longo de três gerações, conforme podemos ler na metáfora do título do livro. Na contramão da ditadura da velocidade urbana, o escritor Carlos Herculano Lopes desconstrói o passado e vasculha a memória de seus personagens, revelando relações pautadas pela tirania masculina no interior de Minas Gerais. A grande virtude do romance A dança dos cabelos reside no modo como o autor estruturou a narrativa. Dividido em 12 partes não numeradas nem nomeadas, cada qual composta por blocos de pequenos textos, aparentemente desconectados, porque relatam lembranças e fiapos perdidos na memória, o livro, sem sequência linear dos acontecimentos, torna-se um verdadeiro puzzle, cujas peças se encaixam e desencaixam, exigindo que o leitor construa, ele próprio, a história de três gerações de mulheres. Três Isauras e três Antônios fiam teias de perversidade, sofrimento e dor num universo patriarcal decadente. O espaço é a lendária cidade Santa Marta, na fazenda onde Isaura-avó, Isaura-mãe e Isaura-filha cumprem seus trágicos destinos. A voz que narra é de cada uma delas, autodiegéticas e homodiegéticas (segundo a nomenclatura de Genette, 1995), portanto, pois as mesmas personagens, também protagonistas, narram suas próprias histórias. A focalização, ainda de acordo com o crítico literário francês, é interna múltipla, visto que a matéria narrativa entrega-se, paulatinamente, ao leitor por meio do olhar de cada Isaura. Graças a esses recursos narrativos que dizem respeito à voz e à focalização da narrativa, Lopes constrói um texto em que as vozes e as perspectivas masculinas encontram-se retraídas perante a expressão e a percepção, ambas femininas.

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O PROTOCOLO ISTARI

Stéfano Stainle [email protected]

Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Romance, Personagem, Literatura inglesa.

Os Istari eram, ao mesmo tempo, um tipo de criatura e uma ordem que congregava indivíduos que tinham um objetivo em comum. A aparência desses magos era a de homens velhos de chapéu pontudo, grandes capas, botas altas e carregavam um longo bastão. Cada um se vestia com uma só cor que os diferenciava e identificava seus poderes e talentos. Dizia a história da Terra-média que eles eram Maiar, espíritos poderosos, que vieram à criação na forma de homens. Seus poderes haviam sido limitados e não lhes era permitido usá-los diretamente contra o inimigo. No Apêndice B de O Senhor dos Anéis é dito que cinco Istari foram enviados à Terra-Média com a missão de unir os povos livres para combater o mal trazido por Sauron, o Senhor dos Anéis referido no título da obra e o vilão do enredo. Desses cinco aparecem apenas três: Saruman, tido como o líder da ordem; Radagast, mencionado apenas en passant na obra; e Gandalf, uma das personagens que compõem o grupo de nove heróis da trama. A função básica dos Istari, como arautos dos Valar e como Maiar dotados de grande poder, era tentar reestabelecer o equilíbrio da Terra-média, porém lhes foi vetado o uso aberto de poder e a intimidação por meio da força ou medo. Com o veto de seus poderes, as únicas armas de que dispunham para combater o desequilíbrio trazido por Sauron eram a sabedoria e o discurso (a habilidade com a linguagem, seja a fala ou a escrita). Tão bem delineada na obra, essa proibição do uso da magia mereceu a atenção do crítico Noble Smith para nomear um dos capítulos de seu livro como “O Protocolo Istari”. Certamente Smith conseguiu captar a essência das funções e proibições dos Istari para poder utilizar o termo “protocolo”, que se tornou muito pertinente para definir a situação desses Maiar no contexto da Terra-média e, mais especificamente, durante as narrativas de O Hobbit e de O Senhor dos Anéis. Os Istari já existiam na Primeira Era (Era da criação de Eä) ainda somente como Maiar, porém foi mais à frente, na Terceira Era, que sua intervenção (manifestar-se na Criação como matéria) nos acontecimentos da Terra-média se fez necessária e, sendo assim, os Cinco Istari apareceram na criação no fim dessa Era, aproximadamente no ano 1000.

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SANTA ESCOLÁSTICA: O OLHAR DE ROSALÍA DE CASTRO PARA A MODERNIDADE ESPANHOLA

Tais Matheus da Silva [email protected]

Prof.ª Dr.ª María Dolores Aybar Ramírez (Or.)

Financiamento: CAPES

(FCLAr/ UNESP – Doutorado)

PALAVRAS-CHAVE: Rosalía de Castro, Modernidade, Poesia espanhola.

Destinada a certa marginalidade por parte da historiografia literária, a vida e a obra de Rosalía de Castro revelam-se intimamente ligadas na construção de uma estética questionadora e intimista. Rosalía nasceu em Santiago de Compostela em 1837, filha de pais incógnitos, na dura condição de bastardia. A impossibilidade da união de seus pais rendeu à Rosalía um precoce sentimento de abandono, que lhe acompanharia por toda a vida, influenciando diretamente sua leitura do mundo e, consequentemente, sua produção artística. Aos vinte anos, Rosalía publicou seu primeiro livro de poemas em língua castelhana em Madri, intitulado La Flor. Ademais do notável diálogo com a obra do romântico Espronceda, a crítica daquele momento já apontava traços de uma subjetividade apta a desenvolver-se e render bons frutos à literatura espanhola. Esse logro pode ser observado em sua última publicação, En las orillas del Sar, em que Rosalía faz pulsar a tensão entre versos dissonantes, avessos à tradição métrica e rítmica espanhola, e a reflexão acerca da angústia, dor da vida e a morte. Sendo sua obra mais intimista, prenuncia temas e recursos estéticos caros aos modernistas espanhóis e existencialistas do século XX. Pensar em Rosalía como uma precursora tem gerado certa polêmica num setor da crítica, pouco dedicada a essa questão. Se por um lado argumenta-se pelas rupturas temáticas e formais de sua obra, por outro, investiga-se a continuidade de alguns experimentos românticos. No entanto, pouco se explora o fator histórico e sociológico de que resulta o desconforto do fim do século para a sociedade espanhola e os seus reflexos na obra rosaliana. Neste sentido, propomos uma análise do poema Santa escolástica, de En las orillas del Sar, articulando a voz do eu lírico que caminha pela cidade de Santiago de Compostela observando a cidade esvaziada pela hora da sesta a elementos explicativos da modernidade, com o objetivo de refletir acerca da modernidade espanhola e, mais especificamente, sua elaboração estética na obra de Rosalía de Castro.

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A ESTÉRIL CONTEMPLAÇÃO COMPARADA: O MITO DE SALOMÉ EM OSCAR WILDE E STÉPHANE MALLARMÉ

Thais de Souza Almeida Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Salomé, Hérodiade, Simbolismo.

Neste trabalho, pretende-se analisar e comparar as obras Hérodiade, poema dramático de Stéphane Mallarmé, e Salomé, drama em um ato de Oscar Wilde, com a finalidade de verificar se existem e quais seriam as confluências – e mesmo influências – entre as duas produções, visto que ambas foram idealizadas na mesma época e cenário – o Simbolismo francês, no final do século XIX. Oscar Wilde, além de frequentar as reuniões promovidas por Stéphane Mallarmé em seu apartamento – congregações que contavam com a presença de diversos outros artistas –, reconheceu que o poeta francês era uma grande influência para a sua produção. A retomada do mito bíblico de Salomé, que foi primeiramente tratado nos evangelhos de S. Marcos e S. Mateus, fez escola no movimento decadentista-simbolista: Salomé, que até então havia sido representada na literatura como mero apêndice de sua mãe, Herodíade, aparece, no final do século XIX, como o grande exemplo da anima perversa, assumindo o papel que outrora pertencera à Cleópatra e à Helena. Por meio da investigação dos componentes de cada obra – desde a sua forma até as imagens suscitadas em ambas –, sob a luz da Literatura Comparada e de teorias da poesia e do drama, pretende-se, com este trabalho, em um primeiro momento, analisar cada uma das produções, para, em seguida, apontar quais seriam os pontos de convergência e divergência entre elas.

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O MAL DE VIVER NA POESIA E NA PROSA DE LUIGI PIRANDELLO

Valmir Luis Saldanha da Silva [email protected]

Prof. Dr. Sérgio Mauro (Or.)

(FCLAr/ UNESP – Mestrado)

PALAVRAS-CHAVE: Luigi Pirandello, Poesia, Mal de viver.

O autor Luigi Pirandello (1867-1936) é, sem dúvidas, um dos mais importantes escritores italianos da passagem do século XIX para o século XX e sua obra conseguiu transcender o mero provincianismo a que poderia ter se fechado e atingiu um patamar universal de grande envergadura. Como já fora reconhecido pela crítica por suas inovações teatrais, são seus romances e, principalmente, sua poesia que nos importam ao longo de nossa investigação. Assim, convém demonstrar que já nas poesias juvenis do autor um mesmo obsessivo tema lhe aparecia como constituinte principal de sua literatura sob o espectro do “male di vivere”. Essa transição não é, de modo algum, destituída de senso estético próprio do autor siciliano, ao contrário, ela denuncia a visão de mundo que suas obras contemplam. Desse modo, é a passagem de uma visão pessimista “cósmica” para uma visão pessimista social e existencial, em relação à humanidade, que será obsessivamente repetida, recordada e reescrita em seus textos. O mal de viver proposto na lírica de Pirandello – nos livros Mal giocondo (1889) e Fuori di chiave (1912), que estudamos – denuncia a crise histórica italiana no final do século XIX, mas não se restringe no tempo, investigando o mal de viver que se vê inerente à condição humana. É primeiramente por meio da lírica que Pirandello vai conseguir avaliar as dimensões daquilo que chamamos de mal de viver, passando de uma análise apenas conceitual e despontando para o mal de viver transcendental, filosófico, existencial e social. Seguimos, para isso, as lições de De Castris, Storia di Pirandello (1982), Alfredo Bosi, O ser e o tempo da poesia (2000), Terry Eagleton, Teoria da literatura (2006), Theodor Adorno, Notas de Literatura I (2003) e Giacomo Leopardi, Zibaldone di pensieri (1921). O que propomos é observar os escritos pirandellianos como parte de uma rede estrutural de pensamento que se observa na capacidade de retrabalhar o tema das “máscaras” como visão de mundo decorrente de um processo histórico dado (a Unificação Italiana) e de um processo de maturação literária (da poesia, passando pela prosa). Para tanto, dissecamos o mal triste de viver que escapa dos textos de Pirandello, de tal forma a descolá-lo do momento histórico a que está preso e materializá-lo como conceito (teórico, filosófico e antifilosófico) dentro da poesia e da prosa do autor siciliano.

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PROJETOS DE PESQUISA

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O TEMPO E A MEMÓRIA NA CONCEPÇÃO DA POESIA DE EMÍLIO MOURA

Aline Maria Jeronymo Mestranda – Bolsista CNPq

Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia brasileira; Modernismo; Emílio Moura; Memória; Tempo.

O poeta mineiro Emílio Moura (1902-1971), mesmo sem grandes experimentações modernistas, foi um importante expoente do Modernismo mineiro. Poeta que usufruiu da liberdade formal para criar uma poesia meditativa e inquieta, a qual promove questionamentos universais a fim de pôr em contradição uma poética que se alimenta tanto da incerteza quanto da própria sede de poesia. Para compreender o indivíduo e o mundo, o eu lírico emiliano percorre um Itinerário Poético em busca da eternidade. Nesse destino, perpassa a infância, a velhice, a aurora, a noite, a morte, o sonho e o amor. A memória, nesse ponto, torna-se necessária para ressignificar esse percurso melancólico, fazendo com que o passado ausente se torne presente. Desse modo, propomos analisar a função da memória na obra completa de Emílio Moura – o Itinerário Poético, posto que é a memória, muitas vezes, que evoca as diversas temáticas da obra emiliana. Por meio dela, o poeta produz imagens que recriam: o imaginário da infância, como em “O menino e a fazenda”; o imaginário mineiro, como em “A voz do meu rio”; a figura de pessoas queridas, como em “Ao fazendeiro do ar” e, por fim, a imagem da mulher amada, como em “A musa no espelho”. A memória, em Emílio Moura, surge envolta pela tematização do próprio tempo, seja o tempo poético cíclico, em que passado, presente e futuro se misturam, às vezes de forma questionável, seja o tempo estático do sujeito lírico, que se prende a um presente melancólico, no qual a realidade é aquela criada a partir da imaginação, da memória e da poesia. Ao analisar a memória no Itinerário Poético incluiremos uma gama de significações à poética de Emílio Moura, já que pretendemos analisar a função da memória relacionando-a ao tempo, à construção do sujeito poético e à própria poesia que aspira à eternidade. Portanto, mais do que uma análise temática, traremos à tona a importância da inserção da poética de Emílio Moura no contexto da literatura moderna/modernista brasileira, refletindo a relevância dos questionamentos do poeta acerca da construção poética dentro do século XX.

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POESIA ANTIESPETACULAR: A POESIA BRASILEIRA NA ERA DO ESPETÁCULO

Bruno Darcoleto Malavolta

Doutorando – Bolsista CAPES Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia e sociedade; Modernidade lírica; Contemporaneidade lírica; Teoria crítica; Guy Debord. A presente pesquisa se propõe a investigar as relações entre literatura e sociedade, pautando-se tanto na Teoria Crítica, em especial a teoria do espetáculo de Guy Debord, quanto nas teorias e críticas da poesia moderna e contemporânea. Debruçados especialmente sobre três poetas-chave da modernidade e contemporaneidade líricas brasileiras - Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Roberto Piva –, pretendemos investigar o modo como esta lírica tecerá relações com o seu tempo de forma a criar um embate entre seu próprio gênero, o gênero lírico, e o discurso retórico-espetacular de seu tempo. Na imbricação entre estes dois discursos opositores, pretendemos investigar o modo particular como o texto lírico incorrerá naquela historiografia inconsciente adorniana, de forma a dar uma nova narrativa, marginal, aos acontecimentos que de que é contemporâneo. Da mesma forma, empreenderemos uma exegese do texto poético em busca de seus fatos estéticos, tanto em sua imanência quanto em sua ligação com os fatos sociais, que deflagrem o modo idiossincrático como estas três vozes líricas se fizeram consolidar em seus respectivos tempos: em Drummond, flagrando o exato momento de uma tardia morte do narrador oral, nos termos como o entendeu Benjamin, para sua posterior dispersão em meio à ostensiva retórica espetacular que circundará seu fazer lírico; em Gullar, na tentativa de embrenhar o poema em um modo retórico persuasivo, que procurou suplantar o projeto espetacular através da luta ostensiva – corporal, como bem nos diz o título de sua primeira obra – pautado na ideologia comunista (cujos ecos estavam já em Drummond), e que, embora fracassada como projeto social, resultou em uma poesia que se pretendeu e se ergueu do tamanho mesmo da retórica espetacular onipresente em seu tempo; e, finalmente, em Piva, observar o modo como esta poesia prescinde destes modos retóricos persuasivos para, finalmente, encontrar seu lugar em uma marginalidade declarada, em que a experiência – ou a vida, para usar um termo tanto de Debord quanto de Piva – passa a ser ponto nodal do fazer poético, e se encontra com outro conceito benjaminiano: o do artista como catador de sucatas, na busca, como afirma Jeanne Marie Gagnebin, do narrador verdadeiro.

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O SUBLIME ROMÂNTICO EM PENTHESILEA, DE HEINRICH VON KLEIST

Carina Zanelato Silva Doutoranda – Bolsista CAPES

Profª Drª Karin Volobuef (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Sublime; Grotesco; Tradução; Heinrich von Kleist.

O projeto de pesquisa tem como objetivo a tradução da peça Penthesilea, de Heinrich von Kleist, tendo em vista a grandiosidade dessa obra e a falta de uma tradução para o português do Brasil. Objetivamos também, a partir desse contato maior com o texto original, a investigação do grotesco na configuração da heroína da peça, uma vez que esse elemento se destaca como parte essencial para o despertar do momento sublime na tragédia de Kleist. O trabalho de tradução nos possibilitará uma investigação mais detalhada da construção textual de Kleist, principalmente da cena em que se dá o auge da fúria de Penthesilea, quando ela abocanha, unida aos seus cães, o lado esquerdo do peito de Aquiles. A partir da leitura de O Sublime Romântico, de Thomas Weiskel, percebemos nesta cena uma fissura no discurso, causada pelo terrível da ação de Penthesilea: ele é rompido por um excesso de significado e as descrições da heroína se tornam metonímicas. Ao materializar as comparações a que a personagem é submetida, esquiva-se da fixação da heroína graciosa e o pensamento do leitor divaga procurando encontrar situações que descrevam aquela situação em específico, que alcancem uma explicação para a ação da personagem. O elemento grotesco parece possibilitar o despertar do sentimento sublime quando, impossibilitado de ser sentido, seu desejo de possuir o coração de Aquiles é concretizado fisicamente; enquanto ela acreditava cobrir seu amor de beijos, na verdade estava engolindo-o. O ritual antropofágico a faz consumir literalmente o objeto de seu amor e a transforma em uma figura grotesca que nada mais nos parece do que um dos animais que se serve do corpo de Aquiles. Para Penthesilea o seu movimento inconsciente está condizendo às suas intenções: ela queria cobrir-lhe de beijos, e o seu inconsciente lhe mostrava isso. Nesta cena, a heroína se torna o espectro da violência e do instinto animal a que se submeteu. Dessa forma, é possível afirmar que o grotesco da ação terrível de Penthesilea desperta o sentimento sublime no leitor.

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O PROTAGONISTA INATIVO. RAZÕES DA INÉRCIA NA CONSTRUÇÃO DO ROMANCE DE DINO BUZZATI, IL DESERTO DEI TARTARI.

Carlos Eduardo Monte

Doutorando – Bolsista CAPES Prof.ª Dr.ª Cláudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: O deserto dos tártaros; Protagonista; Realismo mágico; Pensiero debole.

A produção humana capaz de atender aos princípios científicos de comprovação, durante o modernismo, entrou diretamente para a compreensão social teorizada como resultado das razões gradativas do processo formativo, vertendo conceitos, valores, princípios e diretrizes aos campos de argumentação teórico-científicos, assegurando a credulidade na operação racional metodológica. A missão do homem da modernidade não se alinhava significativamente à noção de formação espiritual, mas sim à ideia do sucesso indefectível, dogmatizando afirmação profissional, formação familiar, etc. A visão de mundo projetava-se no processo evolutivo, pelo qual todo homem racionalizava sua identidade e ritualizava seu cotidiano. Gradativamente, essa missão levou o homem à exaustão, pondo em xeque tais verdades absolutas. O homem do fazer, construtor do destino, dá lugar ao cidadão equivocado, arrependido, titubeante e errático, eventualmente deixa-se enganar e vê no lúdico ou na reflexão uma forma possível de sobreviver; literariamente, protagonistas refletem essa condição e não são mais os efusivos heróis com que estávamos acostumados. Objetivamos analisar a composição narrativa por esse viés, quando revelia significa mais que desbravadas ações. Il deserto dei tartari, de Buzzati, remete-nos a várias dessas indagações filosóficas. É a história do jovem destacado para o Forte Bastiani, ao pé do imenso e misterioso deserto. Seus oficiais estão à espera de uma improvável guerra e agarram-se a premissa de um perigo que não se concretiza. Diante do protagonista, Drogo, vemo-nos contaminados pela lógica da inércia e das indagações que nascem todos os dias em seus ânimos, quando simplesmente agir ou tomar decisões parece algo improvável. A base teórica busca fundamento no filósofo Gianni Vattimo, ocupando-se da ontologia hermenêutica contemporânea, a partir da proposta niilista depreendida do eixo Nietzsche-Heidegger, no qual se acentua o enfraquecimento das categorias ontológicas, para desenvolver o conceito de pensiero debole que contrapõe meta-narrativas e limites de atuação do novo homem.

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A CONSTRUÇÃO DA IRONIA E DA HISTORICIDADE NOS CONTOS DE GUERRA DE MAUPASSANT: BOULE DE SUIF; MADEMOISELLE FIFI; DEUX AMIS; L’AVENTURE DE WALTER SCHNAFFS; LE PÈRE MILON.

Clarissa Navarro Conceição Lima Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura francesa; Maupassant; Contos de guerra; Ironia; Historicidade.

A Guerra franco-prussiana marcou a história da França, que teve o território brutalmente invadido e bombardeado. O conflito ocorreu de 1870 a 1871, e, apesar de curto, acarretou muitas mortes e muita destruição. Guy de Maupassant participou da guerra quando jovem, fato que teve um grande impacto sobre ele e sobre sua literatura, suas vivências foram lapidando cada vez mais seu poder de crítica e sua ironia fina e ácida. Os contos de guerra do autor surgem alguns anos após a guerra, de 1880 a 1883, e neles é crucial a questão do momento histórico, pois ele oferece suporte para a construção da verossimilhança dos contos. A partir das intromissões do narrador, percebemos que a guerra, tanto para o narrador como para o autor, é extremamente incoerente: entremata- se cegamente, vive-se uma atmosfera inumana, como se o tempo parasse e toda barbárie fosse permitida. É interessante ressaltar que a ideia de fatalidade predomina em todos os contos, não há uma ideia de esperança vã ou alguma centelha de otimismo gratuito, uma vez que talvez a realidade não permitisse grandes idealismos. Refletimos, neste trabalho, a questão da construção da ironia, da sustentação da ficção pela memória histórica e ainda sobre a questão do testemunho em forma de literatura. Tentaremos exemplificar como os contos de guerra de Maupassant também poderiam ser considerados uma espécie de testemunho, a partir de seus relatos em cartas, dos estudos sobre sua vida e de seus contos. É pertinente estudar o autor, pois sua obra ao mesmo tempo em que discute as questões de sua época, discorre e problematiza as questões da humanidade. Nesta pesquisa, partimos da leitura e análise da obra de Maupassant, focando a estrutura e suas relações com a História e com a Ironia. Para análise e aprofundamento teórico iniciais, utilizamos Teoria e Política da Ironia, de Linda Hutcheon, História, Memória e Literatura: o testemunho na era das catástrofes, de Márcio Seligmann-Silva (org.); Literatura e Resistência, de Alfredo Bosi; entre outros.

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O POETA DAS PRIMEIRAS MUSAS:

MACHADO DE ASSIS E SEUS DISPERSOS

Cristiane Nascimento Rodrigues Mestranda – Bolsista CAPES

Prof. Dr. Wilton José Marques (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Poesia; Dispersos; Romantismo. Consagrado como um os maiores prosadores da Literatura Brasileira, Machado de Assis nasceu poeta. Em outubro de 1854, com então quinze anos e meio, publicou seu primeiro poema no Periódico dos Pobres. Seu título era somente Soneto e continha a dedicatória “À Ilma. Sra. D. P. J. A”. Apesar de não apreciado pela crítica e pelo público leitor, o jovem aprendiz não desistiu e em janeiro de 1855 começou a publicar intensamente na revista Marmota Fluminense do editor Francisco de Paula Brito, participando também das reuniões do grupo Petalógica. Esta era uma associação para a discussão prazerosa de assuntos políticos, cotidianos e literários. Nesse sentido, sabe-se que a formação poética de Machado de Assis se deu então pelo seu contato com outros poetas contemporâneos, os quais também participavam das associações literárias e publicavam nas revistas especializadas de moda, literatura, artes, política, etc. Além disso, percebe-se pela leitura de seus poemas, o estudo minucioso de poetas clássicos e românticos, cânones literários brasileiros e estrangeiros, os quais obviamente colaboraram para seu aprendizado. Em seus poemas dispersos, publicados entre 1854 e 1862 nos seguintes periódicos: Periódico dos Pobres, Marmota Fluminense, Correio Mercantil, Diário do Rio de janeiro, O Paraíba, O Espelho, O Futuro, A Primavera e O Binóculo, vê-se o aparecimento de nomes como Homero, Virgílio, Camões, Garret, Alfred de Musset, Álvares de Azevedo, Gonçalves de Magalhães e Porto-Alegre, só para citar alguns. E estes já evidenciam o diálogo dessa poesia machadiana com a posteridade e a contemporaneidade do autor. Desse modo, seus versos expressam o amor, a saudade, a natureza, a melancolia ultrarromântica, a religiosidade, um nacionalismo gerido não por um indianismo e sim por um engajamento político-literário, comentários sobre seu próprio fazer poético e a consagração à amigos e figuras emblemáticas da segunda metade do século XIX, como o Imperador D. Pedro II, e a cantoras e atrizes Charton Demeur e Gabriela da Cunha.

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NATIVISMO E O MITO DO BRASIL EM MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA

Daniel de Assis Furtado

[email protected] Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Barroco; Nativismo.

Os objetivos específicos deste projeto são: a) traçar o panorama histórico-literário em que a obra de Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) foi composta; b) revelar alguns aspectos biográficos do autor, com ênfase na importância do mesmo para a literatura brasileira então nascente; c) analisar os aspectos nativistas presentes na obra do autor, em especial na silva À ilha de Maré; e d) analisar a possível contribuição desses aspectos para a formação da identidade brasileira. Para tanto, a metodologia adotada será a da revisão bibliográfica da fortuna crítica do autor, da problemática do nativismo na literatura brasileira e das teorias e crítica da poesia lírica no que diz respeito à “silva”; também serão pontualmente analisados os poemas de Manoel Botelho de Oliveira, com ênfase nas camadas constitutivas e nas relações e correlações destas entre si. Especialmente como fundamentação teórica, temos: a) para o panorama histórico as leituras das obras de Antônio Cândido (Formação da literatura brasileira), de José Aderaldo Castello (A literatura brasileira: manifestações literárias do período colonial), de Afrânio Coutinho (O barroco) e de Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira); b) para os aspectos biográficos de Manuel Botelho de Oliveira, a importante síntese trabalhada por Milton Marques Júnior e Fabricio Possebon (Dois textos fundadores do nativismo brasileiro) e a obra de Roberto de Oliveira Brandão (Poética e poesia no Brasil (Colônia)); c) para a análise específica da silva À ilha de Maré, a obra de Sérgio Buarque de Holanda (Capítulos de literatura colonial); e d) para os aspectos nativistas e sua relação com a formação da identidade brasileira, os trabalhos de Eugênio Gomes (O mito do ufanismo) e de Sérgio Buarque de Holanda (Visão do paraíso) – esse corpus teórico, de um modo geral, pode ser aproveitado em todas os momentos da pesquisa, atendendo a cada um dos respectivos objetivos. Esperamos com este projeto não somente divulgar a obra de um poeta geralmente ofuscado por seus contemporâneos (Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira), mas também propor um olhar mais atento a um período histórico-literário cuja importância na formação da identidade brasileira é, por vezes, menosprezada.

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A PROTAGONISTA LEITORA E O LEITOR PROTAGONISTA NA OBRA “TUDO QUE É SÓLIDO PODE DERRETER”: REFLEXÕES ACERCA DA

FRUIÇÃO LITERÁRIA

Daniel Ricardo Vícola Mestrando – Bolsista CAPES

Profa. Dra. Karin Volobuef (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil contemporânea; Letramento literário; Ensino de literatura; Fruição literária; Identidade.

Diante das dificuldades encontradas, dentro e fora das salas de aula, para a consolidação do hábito da leitura – sobretudo a das obras literárias clássicas, componente tradicional do currículo do EM e dos exames vestibulares de todo o Brasil – encontramos na obra juvenil contemporânea Tudo que é sólido pode derreter, de Rafael Gomes, uma interessante forma de repensarmos o contato do jovem leitor com essa literatura a partir da análise da trajetória da protagonista do romance, Thereza, uma leitora contumaz que, ao ler tais clássicos, atribui a eles significado diferenciado, tomando-os como parâmetro de autoconhecimento e amadurecimento. Por sua postura e experiência, essa protagonista leitora consubstancia, na narrativa, o tipo de leitor pretendido pelo letramento literário: aquele que efetivamente interage com o texto, reconstruindo-o, extraindo dele o máximo, porque enxergando, em sua constituição, como matéria-prima, para além da construção estética, tão automaticamente trabalhada na escola, a própria vida e seus meandros: sentimentos e situações universais, capazes de tocar e transformar o bom leitor. Ancorados na perspectiva defendida por Todorov em A literatura em perigo, somada às contribuições da estética da recepção e à proposta de letramento literário, buscamos frisar quanto o leitor, por meio da fruição literária, pode encontrar elementos fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal, psicossocial e para a construção de sua identidade de maneira global, o que nos leva a repensar, na prática docente, nossos métodos e objetivos enquanto mediadores e fomentadores da leitura. Em face de desafios como o dos novos suportes para o texto literário, a concorrência das mídias e mesmo da literatura de entretenimento, tão em voga, propomos uma reflexão sobre como reconduzir o jovem leitor ao hábito da leitura, em meio a tantas possibilidades, pelo fortalecimento do seu senso crítico e pela apresentação do material literário como importante recurso humanizador.

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O UNIVERSO AUTOFICCIONAL DE LE CLÉZIO: VOYAGE À RODRIGUES, L’AFRICAIN, ONITSHA, RITOURNELLE DE LA FAIM E DIEGO ET FRIDA

Islene França de Assunção Doutoranda – Bolsista CNPQ

Profa. Dra. Ana Luiza Silva Camarani (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura francesa; Literatura contemporânea; Le Clézio; Autobiografia; Identidade.

Voyage à Rodrigues, L’Africain, Onitsha, Ritournelle de la faim e Diego et Frida são romances que acompanham as mutações da literatura francesa contemporânea, seguindo a tendência da escrita de si, porém, distanciando-se da linha tradicional da autobiografia e assemelhando-se às novas formas recentemente surgidas no universo autobiográfico, identificadas como “autofiction”, “récit de filiation” e “fiction biographique”. Nesses romances, os protagonistas empreendem uma viagem no tempo e no espaço rumo ao passado, para narrar fatos de sua infância, da vida dos pais ou de algum indivíduo importante em suas vidas. Essa volta vai configurar uma partida em busca de si mesmo. Nessa tentativa de encontrar as origens, os protagonistas exprimem o desejo de encontrar a identidade, de suprir uma falta ou restituir a dignidade roubada a um de seus familiares.

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PROPÉRCIO, POUND E FAUSTINO: TRADIÇÃO CLÁSSICA E TRADUÇÃO CRIATIVA

Jessica Romanin Mattus Mestranda – Bolsista CAPES

Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Tradução criativa; Tradição clássica; Propércio; Ezra Pound; Mário Faustino.

Três diferentes poetas são abordados nesta pesquisa, sendo eles: Propércio, Ezra Pound e Mário Faustino. O texto que motivou e que constitui parte do córpus é uma coletânea de poesia intitulada Homage to Sextus Propertius, uma tradução chamada criativa feita pelo norte-americano Pound de algumas elegias do poeta latino Propércio. A singularidade desse texto fez com que fosse amplamente criticado pelos acadêmicos da época, porém o modelo e as ideias de Pound, apesar das críticas, alcançaram adeptos. Entre eles está Faustino que, por sua vez, fez uma tradução parcial dessa coletânea de Pound. Através do estudo comparativo entre o texto de Propércio e suas apropriações/traduções por Pound e Faustino, procuraremos erigir uma análise que busca avaliar o quanto do original latino se perdeu na tradução, mas também o quanto foi recriado e reinventado, uma vez que se trata de tradução criativa. Será possível, também, inferir o que o envolvimento de Pound com a poesia latina resultou nos estudos clássicos, uma vez que o poeta norte-americano inclui no seu paideuma apenas alguns nomes latinos, dentre eles o de Propércio, e além disso, como as ideias foram recebidas no Brasil. Após estudar a obra dos três poetas, bem como a história da lírica latina, da poesia de língua inglesa e o momento a que Faustino pertence na poesia brasileira, o que se segue é uma tradução de serviço do texto latino, a fim de posteriormente utilizá-la em análise comparativa, seguindo para a tradução da coletânea poundiana. Baseando-nos nesses textos, será possível iniciar uma comparação das traduções e averiguar as diferentes escolhas de cada tradutor, sendo possível a reflexão sobre a experiência tradutória.

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A MÁQUINA DO MUNDO REQUEBRADA: POÉTICA, METAPOESIA E INTERTEXTUALIDADE EM GERALDO CARNEIRO

Leonardo Vicente Vivaldo Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia brasileira contemporânea; Tradição; Ru ptura; Poética; Geraldo Carneiro.

A publicação de Poemas Reunidos (2010) de Geraldo Eduardo Carneiro veio para englobar os mais de 36 anos, e oito livros, de uma poesia notadamente marcada pelo bom humor e pela ironia – mas sem que tal postura impedisse a reflexão do “corpo” da poesia (como “objeto em si”; estrutura); ou mesmo da “alma” da poesia (como “voz(es)”; tradição; ruptura). Na poesia de Geraldo Carneiro, praticamente inexplorada na academia, notamos o humor e a consciência da forma (herança do concretismo) coexistindo de maneira harmoniosa com a poesia marginal, a cultura de massas e a releitura e manuseio dos clássicos onde a necessidade de reconhecer no outro a figura do eu vai sendo revisitada a todo instante. É o caso, principalmente, de Orfeu, o poeta por excelência; Camões, o poeta da língua; e Olavo Bilac, poeta da “nossa” língua, príncipe e maldito (além de William Shakespeare, o bardo, gênio e mito – dentre muitos outros: Homero; Dante Alighieri; Stéphane Mallarmé; Fernando Pessoa). Mesmo a marginalidade das primeiras produções de Carneiro já aponta para uma poesia onde desfila, com a mesma “ginga”, a mitologia, o canônico, a cultura de massas e o marginal (enroscados, vez ou outra, pela língua inglesa – praticamente, a segunda língua do poeta). Sendo assim, e considerando que Poemas Reunidos já é o resultado de todo um “percurso poético”, não é estranho que comecemos a supor pistas para uma poética. Algo que nada tem a ver, necessariamente, com um projeto consciente do poeta. Mas apenas a evidência de que certas marcas temático-estruturais, com o passar do tempo, acabam ficando cada vez mais nítidas e fortes – e, na verdade, dando maior consistência e coerência ao todo. Portanto, neste jogo de aparente contradição, a tradição é constantemente revisitada por Geraldo Carneiro, instituindo uma poética rica de detalhes e que, de toda maneira, pela citação de outros autores, e mesmo a autocitação, (re)cria um universo particularmente coerente e que, mais do que isso, reverbera-se harmônico – tal quais as baterias “nota 10” que enchem a avenida.

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AS RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS EM SALOMÉ

UM ESTUDO SOBRE A PEÇA WILDEANA E AS ILUSTRAÇÕES DE BEARDSLEY

Lívia Maria Zocca Profa. Dra. Natália Corrêa Porto Fadel Barcellos (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Relações intersemióticas; Oscar Wilde; Salomé; Aubrey Beardsley.

Os estudos comparativos entre literatura e outras artes distintas tem contribuído desde a Antiguidade para maior compreensão de obras, propiciando - concomitantemente à compreensão do objeto literário - o aumento de pesquisas e discussões, principalmente no que concernem aos estudos intersemióticos. O mito bíblico de Salomé foi fortemente retomado na França do fim século XIX e, adquirindo novas e diferentes roupagens do mito original, percorreu o imaginário dos artistas do período através das famosas pinturas de Gustave Moreau, tornando-se um forte símbolo feminino de uma época marcada pelo simbolismo /decadentismo, onde a arte buscava explorar as paixões e os mistérios, em meio aos grandes avanços científicos. Oscar Wilde foi um dos escritores que deu voz à dançarina, construindo em francês mais uma versão entre as muitas variações do mito ao publicar sua peça em 1893. Sua Salomé percorreu a Europa em meio a polêmicas e obteve mais sucesso que as outras obras de mesmo tema – e melhores avaliadas pela crítica do período - dando à personagem maior destaque e repercussão. Encantado com a peça de Wilde, Aubrey Beardsley, em 1894, ilustra a versão inglesa com seu estilo característico - variando da Art Noveau à influência das pinturas japonesas - em um tom erótico e grotesco peculiar. Suas ilustrações correram o mundo com a peça e trouxeram ainda mais notoriedade e significado a versão wildeana, o que permite pensar que o elemento pictórico pode ultrapassar suas funções tradicionais de simples acompanhante do texto, acrescentando informações à trama, ao preencher lacunas e sugerir novos olhares, ampliando a leitura. Assim, entendendo que o texto verbal e visual não são linguagens incomunicáveis, e sim complementares, e que se isoladas as obras teriam seus significados e sentidos alterados e até mesmo diminuídos, o presente trabalho busca analisar as relações intersemióticas entre a peça de Wilde e as ilustrações de Beardsley.

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ENCONTROS E DIVERGÊNCIAS: A AUTOFICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Luís Cláudio Ferreira Silva Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura contemporânea; Autoficção; Espetáculo; Ficção.

Um dos elementos essenciais da pluralidade da literatura brasileira contemporânea é o do “retorno do autor”, cuja figura parece estar em evidência na mídia, sobretudo nas redes sociais. Não obstante a apregoada “morte do autor” anunciada por Roland Barthes, o perfil do escritor na contemporaneidade ganha grandes proporções. Há um interesse comercial e midiático em sua figura. Ademais, a presença do autor não se limita a estar fora da obra, mas sim dentro dela, na chamada autoficção. Nas obras que dialogam com esse tipo de literatura, há um jogo entre o autor “real” e o personagem, e na fusão dessas duas instâncias se cria um novo ser, sem compromisso com a verdade biográfica ou histórica, em um campo que não é nem totalmente ficção, nem totalmente realidade. O presente trabalho então terá como foco o estudo de alguns romances autoficcionais publicados no século XXI por escritores brasileiros, a saber, Luiz Ruffato, Michel Laub, João Gilberto Noll, Bartolomeu Campos de Queirós, Milton Hatoum, Verônica Stigger, Ricardo Lísias, José Castelo, Tatiana Levy Salem, Cristóvão Tezza, João Anzanello Carrascoza. Chico Buarque, Rogério Pereira e Bernardo Kucinski para mostrar a inespecificidade de um discurso autoficcional brasileiro contemporâneo, produzido e publicado em um contexto de imposição mercadológica.

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AS TRÊS FACES DO DESTINO: CASTIGO, REDENÇÃO E TRANSCENDÊNCIA EM GUIMARÃES ROSA

Luisa Fernandes Vital Mestranda – Bolsista CNPq

Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Mitocrítica; Platão; Mito de Er; Destino.

A necessidade de explicação sobre o mundo e sobre si próprio é algo que sempre estimulou a sede de conhecimento do homem e o impulsionou em busca de respostas para sua realidade. Sendo assim, os mitos, narrativas indispensáveis com alto teor simbólico, foram criados na tentativa de explicar os desejos e terrores humanos. Estando arraigados em nós, os mitos e seu teor simbólico, apresentados através de mitemas, ecoariam nas mais diversas formas de produção artística. O trabalho a ser apresentado tem como objetivo tecer uma mitocrítica em três contos de Guimarães Rosa - "Conversa de bois", "A hora e vez de Augusto Matraga", ambos publicados em Sagarana, no ano de 1946, e "A menina de lá" – de 1962, publicado em Primeiras estórias, a partir do mito de Er, descrito por Platão, no "livro X" d'A república. A escolha desses contos e desse mito se deve ao fato de que serão analisados mais de perto dois mitemas: o destino e o julgamento final sob o motivo simbólico da viagem e da morte, respectivamente. O destino, na obra rosiana, desenvolve-se no cenário das viagens e culmina na morte prematura das personagens Agenor Soronho, Augusto Matraga e Nhinhinha. Esse fim abrupto das personagens em questão representa uma espécie de julgamento final, realizado por esse destino. Pretende-se mostrar que cada morte tem um valor simbólico diferente, a saber: castigo, redenção e transcendência. Por meio da pesquisa centrada na fortuna crítica de Guimarães Rosa, sobretudo os estudos de Benedito Nunes e Suzy Sperber, e com o apoio teórico em uma concepção antropológica do mito defendida por Mircea Eliade e Gilbert Durand, busca-se localizar e identificar tais mitemas no texto platônico e rosiano e entender a forma como estes são construídos pelo escritor. Ainda, obedecendo ao princípio de deslocamento de Frye, serão apontadas semelhanças e diferenças entre o mito platônico e os contos rosianos e examinado o modo como Guimarães Rosa constrói seu próprio conceito de destino e julgamento final mesclando os conceitos de livre arbítrio e justiça.

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UNE SAISON EM ENFER: A POESIA SATÂNICA DE ARTHUR RIMBAUD

Marcela de Oliveira Gabriel Mestranda – Bolsista CNPq

Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Arthur Rimbaud; Poesia moderna; Mito; Satã.

Este trabalho pretende debruçar-se sobre a poesia de Arthur Rimbaud (1854-1891), especificamente a obra de tom confessional Une Saison en Enfer (1873), na qual o eu-lírico relata sua estadia no Inferno. Essa descida ou “catábase” é análoga ao processo de interiorização e de busca por autoconhecimento, conceitos expressos nas famosas “cartas do vidente”, nas quais Rimbaud desenvolve toda sua teoria poética. A ida ao submundo é, portanto, um mergulho em si mesmo, necessário àquele que deseja tornar-se um “vidente” e, assim, trazer à luz as visões engendradas nas profundezas do Desconhecido, ou seja, nas paragens infernais. Satã será guia nesta jornada e símbolo de um duplo movimento de transgressão do poeta, posto que, na obra em questão, Rimbaud vale-se de toda a imagerie do inferno para expressar não apenas a rebeldia contra as convenções sociais, mas, também, o desejo de criar uma poesia nova que rompa com as concepções estabelecidas em matéria de estética poética. Portanto, nossa proposta visa estabelecer dois procedimentos simultâneos, mas separáveis do ponto de vista analítico: um deles é a tentativa de evasão do poeta moderno por meio da imaginação criadora, processo que propicia a retomada consciente dos mitos como tema da poesia; e o outro ligado à temática que envolve a obra e sua relação com a estética proposta por Rimbaud nas “cartas”.

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BAUDELAIRE, DRUMMOND E A FIGURA FEMINIA

Mariana Alves de Faria Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado leite (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Modernidade; Poética; Mulher; Baudelaire; Drummond.

Observando a aproximação poética entre Charles Baudelaire e Carlos Drummond de Andrade, esta pesquisa começará analisando de que maneira a modernidade do poeta francês ecoa na poesia modernista do poeta mineiro para, a partir de tal comparação, fazer um estudo do feminino a fim de evidenciar a imagem da mulher em suas obras e verificar se tal imagem ainda continua atual. Naturalmente, além das similaridades no fazer poético, surgirão as prováveis diferenças nesse processo de análise, já que nem só de correspondências se faz uma comparação, mas também de contrastes; neste caso, contrates em relação ao tom, à forma e ao estilo em suas lutas com a palavra na criação poética e à maneira como retratam a imagem feminina. Para atingir tal objetivo, buscamos comparar e analisar as obras As Flores do Mal, de Baudelaire, e Alguma poesia e Claro enigma, de Drummond.

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A AUSÊNCIA NA POESIA DE CECÍLIA MEIRELES

Marina Bariani Trava Mestranda – Bolsista CAPES

Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or)

PALAVRAS-CHAVE: Poesia brasileira; Cecília Meireles; Ausência.

O presente trabalho pretende debruçar-se sobre a delimitação da temática da Ausência e seus desdobramentos na poesia de Cecília Meireles. Em uma entrevista, mencionada pelo crítico Alfredo Bosi em seu livro Céu, Inferno (2003), Cecília comenta sobre o que ela considera ser o seu maior defeito: “uma certa ausência do mundo”. Bosi parte de tal afirmação para identificar a existência de uma unidade na obra da autora (2003, p. 123): “Aceitemos a expressão da autora, que é sugestiva; e se a confidente a julgava um defeito, invertamos o juízo e a consideremos uma qualidade e até mesmo uma pista para compreender a densidade e a estranha beleza da sua poesia”. Acreditamos, de tal modo, que tal ausência do mundo não apenas permeia grande parte da obra da poeta carioca, como é fundamental para uma compreensão mais aprofundada de sua poesia. Portanto, considerando-se que a ausência pode se apresentar nos poemas sob diversas formas, tenciona-se investigar as imagens nas quais a Ausência transparece ou se manifesta para, em seguida, delimitar-se tanto o conceito quanto os aspectos aos quais tal ausência se refere, buscando desvelar novas possibilidades de análise. Espera-se, por fim, que o estudo pormenorizado da Ausência na poesia de Cecília Meireles possa não apenas destacar a importância que o tema adquire na obra, mas também jogar uma nova luz sobre a produção desta autora, tão importante para a literatura brasileira.

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A CRÍTICA LITERÁRIA DE MACHADO DE ASSIS: CONTRIBUIÇÕES PARA A LITERATURA OITOCENTISTA E A CONFIGURAÇÃO DE UM PROJETO

LITERÁRIO MACHADIANO

Marina Venâncio Grandolpho Prof. Dr. Wilton José Marques (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Crítica literária; Poesia; Oitocentismo.

Machado de Assis, reconhecido, sobretudo, como romancista e contista, foi também crítico literário. É justamente sua face ensaística, elucidada por sua crítica literária que nos interessa. Nesse projeto, propomo-nos viabilizar a leitura crítica de sua prosa ensaística, pensando-a a partir de dois prismas: como contribuição para a poesia oitocentista e como cerne de um projeto poético machadiano, projeto este que caracteriza o diálogo entre sua crítica e poesia – da juventude à maturidade do escritor. Nosso objetivo geral consiste na análise aprofundada dos ensaios dispersos de crítica literária machadiana que o privilegiem como leitor e crítico de poesia. A partir da análise da crítica de Machado de Assis, pretendemos identificar e elucidar os aspectos que justifiquem nossas hipóteses a respeito das contribuições desta crítica para a poesia brasileira do século XIX e para a configuração de um projeto poético machadiano. Propomo-nos partir do âmbito específico para o geral, analisando como a crítica machadiana (1856-1902) funciona na significação do contexto em que estão inseridas. Para isso, será fundamental compreendermos a recepção e repercussão destes textos no período em que foram produzidos. Além disso, encaminharemos esta pesquisa para possível análise dialógica com poemas machadianos e textos sociológicos como suporte para a compreensão da literatura brasileira no século XIX.

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A SERIEDADE DO RISO: OS SIGNIFICADOS DO HUMOR NAS NARRATIVAS DE JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO

Naiara Alberti Moreno Mestranda – Bolsista CAPES

Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Humor; Conto; Crônica; Literatura brasileira do século XX; José Cândido de Carvalho.

Nesta pesquisa, buscamos desenvolver uma leitura do conjunto dos contos e crônicas do escritor brasileiro José Cândido de Carvalho (1914-1989). Compõem esse conjunto tanto os textos que permanecem em suas fontes primárias (jornais e revistas), quanto aqueles que, extraídos dos periódicos, foram posteriormente compilados em livros pelo próprio autor. Assim, são analisadas as coletâneas Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon, Um ninho de mafagafes cheio de mafagafinhos e Se eu morrer telefone para o céu, todas publicadas na década de 1970, bem como os contos e as crônicas que permanecem ainda em seus suportes originais, a saber, nos periódicos A Noite, Jornal do Brasil, O Cruzeiro e A Cigarra, entre o período de 1940 a 1979. O estudo desse material é realizado sob o prisma do humor, pois partimos da hipótese de que seja esse um traço fundamental e unificador de tais textos e, considerando seus romances, do projeto estético do autor como um todo. Nesse sentido, esperamos analisar a constituição e os significados do humor nesse conjunto de narrativas, tendo em vista não só o contexto material das publicações (especificidades dos diferentes suportes), mas também a conjuntura histórica, política e social em que surgem. Isso visa a permitir a compreensão do modo como o autor maneja o riso para revelar, entre outros aspectos, sua visão de mundo sobre o progresso e a modernização do país. Em última instância, esta pesquisa procura averiguar, do ponto de vista formal e ideológico, o diálogo existente entre o conjunto de contos e crônicas e os seus romances, permitindo, assim, por meio do delineamento do projeto estético que norteia sua obra, redefinir também seu percurso formativo enquanto escritor que se fez entre o jornalismo e a literatura.

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A DESOLAÇÃO DA CIÊNCIA EM H. P. LOVECRAFT: O COSMICISMO COMO PORTA DE ENTRADA PARA NOVOS PARADIGMAS NATURAIS

Nathalia Sorgon Scotuzzi Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi

PALAVRAS-CHAVE: Ciência; Cosmicismo; Cthulhu Mythos.

O objetivo desse projeto é a análise da relação do escritor norte-americano H. P. Lovecraft com a ciência. Como base para essa reflexão, será feita uma análise do pensamento do autor, incluindo sua forma de ver o mundo, trabalhando com questões como seu ateísmo e materialismo, que são centrais na filosofia cosmicista propagada por suas obras. Fatos de sua infância que são indispensáveis para a conclusão desejada também serão analisados, entre eles seu desejo de ser cientista. Em seguida, será comentado o contexto histórico vivido pelo autor em se tratando de avanços científicos, e como esses motivos tecnológicos eram aceitos e trabalhados pela literatura vigente em seu período (as primeiras décadas do século XX). Após essa contextualização será então feita a imersão na obra de Lovecraft. De forma geral, o recorte feito se restringe ao Cthulhu Mythos, grupo de contos que constroem a mitologia que propaga a visão cosmicista do autor. Nesse momento será feita uma problematização a respeito da natureza e do sobrenatural, e como esses termos se aplicam ou não a sua obra, e em que isso implica para sua total compreensão. Por fim serão utilizados dois contos que refletem essa visão de mundo elaborada pelo autor e, como através dela, podemos observar uma crítica à ciência. Ambos os contos “Nas montanhas da loucura” e “Um sussurro nas trevas” apresentam como protagonistas acadêmicos da Miskatonic University, universidade ficcional criada pelo autor. Sendo assim, essa universidade se torna o recorte espacial dessa análise e seu ponto de partida. Esse estudo tem também grande importância considerando que a pesquisa a respeito do autor é ainda muito escassa no Brasil, trazendo muitos esclarecimentos acerca de seu pensamento para os estudiosos das literaturas de horror e ficção científica.

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DO ROMANCE À AUTOBIOGRAFIA: O EMPENHO REMEMORATIVO EM GRACILIANO RAMOS

Pedro Barbosa Rudge Furtado Mestrando – Bolsista CAPES

Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; memória; vozes sociais; gêneros literários.

Um dos aspectos fulcrais e recorrentes nas obras de Graciliano Ramos é o regime memorialista. Ele pode ser dividido em duas frentes: rememorações de personagens ficcionais – em Caetés, São Bernardo e Angústia – e do autor ele mesmo – em Infância e Memórias do cárcere. Tomando como corpus dois romances, São Bernardo e Angústia, e uma autobiografia, Infância, o trabalho objetiva verificar como uma obra repercute na outra. Parte-se, primeiramente, da análise imanente dos livros, através da investigação de categorias da narrativa que constroem o tema da memória – narração, focalização, personagens, história e tempo –, realçando a inadaptabilidade do sujeito que emerge nas diferentes vozes sociais retratadas por Graciliano Ramos, inseridas no processo rememorativo das personagens, assinalando, ainda, traços empíricos e ficcionais nos diferentes gêneros. As vozes sempre a contrapelo temporal geram incongruências: a falta de entendimento de Paulo Honório em relação às ideias de Madalena em São Bernardo; Luís da Silva, em Angústia, media a manifestação dos contrassensos de um indivíduo na incompatibilidade do entre-lugar; tendo vivenciado o cangaço na meninice, não se enquadra no capitalismo incipiente da Maceió em meados de 1930; Infância ressoa os outros textos: a visão de Graciliano Ramos adulto iluminando a infância, através da composição literária, desnuda a desarmonia do meio em que habitou naqueles anos. Assim como os romances, é uma obra pontuada pelo quadro cinzento das vidas. Para atingir os objetivos, o nosso embasamento teórico é agrupado em cinco linhas: primeiramente, ensaios críticos sobre o autor; em segundo lugar, balizas teóricas sobre as categorias da narrativa; em terceiro lugar, estudos sobre teorias da memória; proposições de textos de crítica marxista também norteiam nossa pesquisa; e, finalmente, há a investigação de trabalhos que se ocupam da autobiografia em conjunção com a literatura e a ficção.

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O CORPO EM O MULATO, CASA DE PENSÃO E O CORTIÇO, DE ALUÍSIO AZEVEDO

Rafaela Vareda Goffredo [email protected]

Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Aluísio Azevedo; O mulato; Casa de pensão; O cortiço; Corpo.

As últimas décadas do século XIX correspondem às primícias de uma revolução na ordem das representações da sexualidade. É durante este curto período que precede a difusão das obras de Freud e a identificação do sujeito com seu corpo. Enquanto a sexualidade presente em O mulato (1881) e em Casa de pensão (1884) está encerrada em espaços estritos e secretos, como o quarto burguês, em O cortiço (1890), a sexualidade tornou-se pública, mais livre, mais fluida e aberta à emergência dos mais variados estilos de vida. Neste último romance, a relação sexual democratizou-se. Cada qual busca no encontro com o outro, a realização de um projeto de vida e de uma invenção de si. Busca-se, então, um mundo de liberdade. Em O cortiço, portanto, vemos representados corpos desnudos e exibidos, mas também corpos íntimos e sexuados que, lentamente, veriam afrouxar as disciplinas do século XIX em benefício do prazer. O embasamento teórico é constituído por quatro grupos de estudos: a) histórias da literatura sobre o Naturalismo e ensaios críticos sobre Aluísio Azevedo; b) textos específicos sobre o corpo no Naturalismo brasileiro; c) ensaios sobre o corpo de modo geral e d) estudos teóricos da narrativa. Quanto ao primeiro grupo, as principais balizas são: História concisa da literatura brasileira de Alfredo Bosi e Aluísio Azevedo, vida e obra (1857-1913) de Jéan-Yves Mérian. Em relação ao segundo grupo, a base é formada por Leituras do desejo: o erotismo no romance naturalista brasileiro de Marcelo Bulhões. Quanto ao terceiro grupo: O erotismo de Georges Bataille e História do corpo, organizado por Jean-Jacques Courtine, Georges Vigarello e Alain Corbin. Em relação ao quarto grupo, tomamos os seguintes textos: Discurso da narrativa de Gérard Genette e Dicionário de narratologia de Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes.

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ESPAÇO E PERSONAGEM EM PRIMIERAS ESTÓRIAS DE GUIMARÃES ROSA

Rubia Alves Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Espaço; Personagem; Foco narrativo; Primeiras estórias; Guimarães Rosa

O conjunto de narrativas de Primeiras estórias, simetricamente espelhadas, forma um diálogo entre os contos que compõem essa obra. “As margens da alegria” e “Os cimos”, contos inicial e final, emolduram o livro por meio do espaço que, além de dar um efeito de ancoragem, funcionando como suporte de representação extratextual, revela uma relação intrínseca com outras categorias narrativas como personagem e focalização. Com o objetivo de averiguar a importância do espaço para dar significado a essa obra de Guimarães Rosa, ligando três categorias narrativas, fazemos algumas indagações sobre as quais procuramos refletir, dentre elas: qual a importância do espaço no qual a personagem está inserida? Como o espaço, o foco narrativo e as personagens são construídos uns em relação aos outros? A contribuição desta proposta se dá porque busca analisar a relação do espaço com o homem, demonstrando a forma como essa relação é estabelecida por meio da caracterização de ambientes, da construção psicológica e social das personagens e da contribuição delas para a significação dos textos analisados. A base teórica para o desenvolvimento da pesquisa pode ser dividida em a) ensaios críticos sobre a obra de Guimarães Rosa, em particular, Primeiras estórias, b) proposições sobre as categorias narrativas aludidas, especialmente sobre o espaço.

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A PERSONAGEM FEMININA NOS CONTOS DE ALBERTO MORAVIA

Sérgio Gabriel Muknicka Profª Drª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Literatura italiana; Narrativa; Alberto Moravia; Personagem.

Por meio desta pesquisa, pretendemos analisar o processo de construção da personagem feminina nos livros Il paradiso (1970) e Boh (1976) do escritor italiano Alberto Moravia (1907-1990). Depois de uma análise da poética do autor e das características predominantes nos contos, passar-se-á a uma análise comparativa para que possam ser estabelecidas possíveis relações entre essas narrativas. Moravia explora temas como o (falso) moralismo, a hipocrisia social, o sexo como produto de compra e a angústia existencial humana. As personagens dos contos são mulheres não idealizadas, despossuídas da perfeição estética e constantemente portadoras de algum traço negativo, seja na aparência seja no caráter. Além disso, elas representam, também, o indivíduo cindido e problemático em sua vida particular. Por isso, muitas delas vão buscar em outras pessoas e, até mesmo, em objetos-fetiche a resposta para seu vazio existencial, dado que elas mesmas não são capazes de fazer muito, pois se deixam paralisar por esse universo existencialista sempre permeado pelo tédio existencial. O autor utilizou-se de narradores autodiegéticos para desenvolver as narrativas. Tal recurso faz com que toda a narração fique subordinada à visão do próprio narrador. Nota-se, além do mais, que o autor sai de sua posição de intelectual burguês, colocando-se, em partes, no papel da mulher retratada. Ao longo do desenrolar das narrativas, é interessante observar que o autor “transfere” seu pensamento intelectual (até então presente somente nas personagens masculinas) para esta mulher que passa a refletir (ainda que timidamente) sobre si mesma e os problemas da existência humana. Evidenciamos nos contos lidos a visão existencialista e, de certo modo, pessimista de Alberto Moravia em relação ao ser humano. Este ponto de vista manifesta-se através da indiferença com que as personagens vivem suas vidas e na mesma indiferença com que tomam suas decisões. Ressalta-se, ainda, que Moravia problematiza a figura feminina da época, isto é, indivíduos atormentados que não sabem ao certo o que fazer diante da maioria das situações conflituosas em que se encontram.

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O VICEJAR DOS ASTROS:

A INDIVIDUAÇÃO DA PERSONAGEM FRODO EM O SENHOR DOS ANÉIS

Sérgio Ricardo Perassoli Junior Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Individuação; Arquétipo; Duplo; Inconsciente; Sombra; Iluminação.

O presente trabalho tem por objetivo analisar e investigar alguns aspectos da individuação da personagem Frodo em O Senhor dos Anéis [The Lord of The Rings], romance de J.R.R. Tolkien. O processo de individuação, conceito desenvolvido pelo psiquiatra suíço Carl G. Jung, é um tema sobremaneira relevante caracterizado como a tendência da psique de encontrar o equilíbrio e a completude. Tal tendência aparece frequentemente na extensa obra de Tolkien e é muito explorado na jornada da personagem Frodo, o principal herói do romance em questão. Frodo passa por diversas experiências que, pode-se afirmar, apontam para um processo de individuação nos termos junguianos. Sendo assim, o trabalho que ora se apresenta intenta esclarecer e melhor compreender o desenvolvimento psicológico, o amadurecimento e a consequente transmutação, ou transcendência, no decorrer da narrativa mencionada, da personagem Frodo, que passa de um frágil e pacífico hobbit a um herói nos moldes apontados por Joseph Campbell. Partindo desse estudo de personagem, intenciona-se também contribuir para uma melhor compreensão do extenso universo ficcional criado por Tolkien, ainda pouco estudado no Brasil, bem como destacar as potencialidades da Psicologia Analítica como interface teórico-crítica de abordagem do texto literário.

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A ESTÉRIL CONTEMPLAÇÃO COMPARADA: O MITO DE SALOMÉ EM OSCAR WILDE E STÉPHANE MALLARMÉ

Thais de Souza Almeida Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: Salomé; Hérodiade; Mallarmé; Wilde; Simbolismo.

Neste trabalho, pretende-se analisar e comparar as obras Hérodiade, poema dramático de Stéphane Mallarmé, e Salomé, drama em um ato de Oscar Wilde, com a finalidade de verificar se existem e quais seriam as confluências – e mesmo influências – entre as duas produções, visto que ambas foram idealizadas na mesma época e cenário – o Simbolismo francês, no final do século XIX. Oscar Wilde, além de frequentar as reuniões promovidas por Stéphane Mallarmé em seu apartamento – congregações que contavam com a presença de diversos outros artistas –, reconheceu que o poeta francês era uma grande influência para a sua produção. A retomada do mito bíblico de Salomé, que foi primeiramente tratado nos evangelhos de S. Marcos e S. Mateus, fez escola no movimento decadentista-simbolista: Salomé, que até então havia sido representada na literatura como mero apêndice de sua mãe, Herodíade, aparece, no final do século XIX, como o grande exemplo da anima perversa, assumindo o papel que outrora pertencera à Cleópatra e à Helena. Por meio da investigação dos componentes de cada obra – desde a sua forma até as imagens suscitadas em ambas –, sob a luz da Literatura Comparada e de teorias da poesia e do drama, pretende-se, com este trabalho, em um primeiro momento, analisar cada uma das produções, para, em seguida, apontar quais seriam os pontos de convergência e divergência entre elas.

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DE ARTE GRAMMATICA NOVAE QUAESTIONES

DISCUSSÃO ACERCA DO GÊNERO TÉCNICO DAS ARTES GRAMMATICAE

Prof.ª Ms. Vivian Carneiro Leão Simões Doutoranda – Bolsista CAPES/CNPq

Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)

PALAVRAS-CHAVE: História da metalinguagem gramatical; Tratados de métrica clássica; Grammatici Latini: Scriptores Artis Metricae.

Artes Grammaticae surgiram como manuais didáticos descritivos da língua latina com o objetivo de investigar a matéria linguística do latim; tiveram seu início com a obra de Palêmon, mestre de Quintiliano, no século I, e floresceram ao longo dos séculos III, IV e V com Donato, Carísio e Diomedes, entre outros. As Artes Grammaticae abarcavam um conteúdo descritivo da língua latina, ao compreender desde o estudo dos sons e da formação de palavras até as partes do discurso, e as suas virtudes e seus vícios, de modo a orientar a correção da leitura e da escrita. Esse modelo didático-pedagógico parte dos elementos mais rudimentares da língua e avança rumo aos mais complexos. No entanto, a diversidade de planos adotados pelos gramáticos deve-se principalmente à focalização de cada tratado. O discurso das Artes Metricae, que têm como escopo a descrição da matéria métrica latina, contempla muitos aspectos que ora o aproximam, ora o afastam, do discurso das demais Artes. O filólogo alemão Heinrich Keil, no volume VI da sua monumental obra Grammatici Latini (GL). Vol. VI: Scriptores Artis Metricae, reuniu textos de gramáticos antigos que desenvolveram reflexão, descrição, catalogação e prescrição de expedientes poéticos da métrica latina; nomeadamente: Mário Vitorino e Élio Aftônio, Máximo Vitorino, Céssio Basso, Atílio Fortunaciano, Terenciano Mauro, Mário Plócio Sacerdote, Rufino e Málio Teodoro. A presente pesquisa toma como objeto de investigação as Artes Metricae – compõem o córpus, em especial, os autores acima listados compilados por Keil – com o intuito de: historiar o modelo descritivo dessas Artes por meio da observação da sua organização estrutural, sob uma perspectiva comparativa que visa opor o modelo de descrição das Artes Metricae àquele das Artes Grammaticae, e das filiações a que esses postulados técnicos estejam vinculados.

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