Burajiru

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1 ABRIL 2011 | BURAJIRU | Abril 2011 . Nº 15 . R$ 10,00

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Revista Piloto da Burajiru. Direcionada para o público da comunidade japonesa no Brasil.

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Abril 2011 . Nº 15 . R$ 10,00

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Nippon11. 3. 2011Toyota

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Nº 15DIREÇÃO GERALSamantha Kelly DIREÇÃO DE REDAÇÃO Antonio Evangelista

JORNALISMOPaulo Victor

REVISÃOSamantha Kelly

PROJETO GRÁFICOAntonio Evangelista

DIREÇÃO DE CIRAÇÃO E ILUSTRAÇÃOPaulo Victor

ILUSTRAÇÃOSamantha Kelly

PUBLICIDADEAntonio Evangelista

ATENDIMENTOPaulo Victor

www.burajiru.com,[email protected]

www.twitter.com/burajiruwww.facebook.com/burajiruwww.youtube.com/burajiruwww.flickr.com/burajiru

EDITORIAL

A revista BURAJIRU de abril 2011 traz a triste missão de falar sobre a trangédia que se abateu no Japão, depois que um terremoto seguido por tsunami deixou milhares de vítimas.

A edição desse mês é voltada para esse terrível aconte-cimento. Ficamos felizes em saber que os anunciantes da revista resolveram mudar o foco e esse mês mostram sua compaixão e se fazem acessíveis nesse momento tão difícil.

A vida da comunidade do Japão no Brasil é mostrada nesse mês em no Nikkey Matsuri, Festival de cultura japonesa que esse ano foi um sucesso total e atraiu um público estimado de 40 mil pessoas, um recorde realmente.

Temos uma ótima entrevista com Jo Takahashi, o arquiteto tão querido da comunidade que vem falar sobre seus planos e futuros projetos.

A série especial é uma homenagem as diferenças do Japão com o Brasil, e claro, de uma maneira divertida e descontra-ída.

No geral, essa revista é um presente para a comunidade que desenvolveu um equilíbrio interessante entre Brasil e Japão, dois países tão diferentes e tão fascinantes.

Boa Leitura!

Samantha [email protected]

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Ajude os irmãos no Japão!Acesse www.japanaid.com.jp e doe!

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MUNDOAs catástrofes registradas no Japão a partir da última sexta-

feira (11) representam o maior evento de consequências in-denizatórias do mercado segurador e ressegurador mundial, superando, inclusive, os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, cujas perdas somaram em torno de US$ 120 bilhões.

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EVENTOSPúblico da sexta edição

superou 40 mil pessoas, segundo organização.

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PERSONALIDADEJo Takahashi, 57 anos, é arquiteto por formação

e agitador cultural por vocação. 22 SÉRIE ESPECIALPrepare-se para conhecer o im-

pressionante dia-a-dia dos japone-ses. 28

MUNDOSilêncio EVENTOSNikkey Matsuri leva cultura japonesa à zona norte de

São Paulo

PERSONALIDADEJo Takahashi

COLUNASNa mitologia japonesa, terremotos são causados por

peixe gigante

SÉRIE ESPÉCIALJapão Curioso

ORIGAMITSURU

ORIGAMIA lenda do tsuru diz que quem fizer mil dobraduras desse

pássaro, com o pensamento voltado para aquilo que deseja alcançar, terá bons resultados.

Costuma-se dizer que esta ave é o símbolo da longevidade.A figura do tsuru (grou) em origami é uma das mais popu-

lares e também considerada a dobradura mais perfeita, pois sua forma básica serve de base para outras figuras de papel, desde animais até plantas.

E para quem a dobradura é oferecida, estamos desejando saúde e prosperidade. 30

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SILÊNCIOUm forte terremoto de 8,9 graus de magnitude atingiu nesta sexta-feira a costa nordeste do Japão, provocando um tsunami de ao menos sete metros em cidades na região norte do país. O último balanço oficial divulgado pelo governo in-formou que o tremor seguido de tsunami deixou ao menos 178 mortes confirmadas. Somando mortos e feridos, poderia haver mais de 1 mil vítimas, segundo a polícia.

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Um forte terremoto de magnitude 8,9 atingiu nesta sexta-feira (11) a costa nordeste do Japão, segundo o Serviço Ge-ológico dos EUA (USGS), gerando um tsunami (onda gigante com potencial destrutivo) de até dez metros de altura que varreu a costa do país, matando pelo menos 288 pessoas e causando destruição.

O tremor foi o 7º pior na história, segundo a agência ame-ricana, e também o pior já registrado na história do Japão.

O abalo provocou um tsunami que alcançou áreas da cidade japonesa de Sendai, na ilha de Honshu, a principal do arquipélago japonês.

Carros e barcos foram arrastados, e as imagens da destrui-ção, feitas de helicópteros, são impressionantes. Um vídeo da TV local mostrou a onda gigante arrastando carros em sua chegada à costa.

Em muitos lugares, o mar ultrapassou os diques de pro-teção e avançou vários quilômetros por terra, recordando cenas da tsunami que ocorreu no Oceano Índico, em 2004.

Alerta no PacíficoO Centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico, agência ameri-

cana, emitiu um alerta para vários países na costa do Oceano Atlântico, avisando da possibilidade da chegada de ondas de até dez metros, mas até agora não houve relato de destruição fora do Japão.

Vários governos emitiram alertas, e alguns ordenaram a re-tirada de moradores de áreas costeiras.

Ondas “pequenas” já atingiram as Filipinas, horas depois do terremoto, informou o sismólogo chefe do país.

A Indonésia e o Havaí também informou que não houve danos na chegada das ondas a seu território, e o governo le-vantou o alerta. A ilha de Guam, território americano do Pací-fico, também levantou o alerta. A Casa Branca avaliou que os EUA, principalmente o estado do Havaí, escaparam do pior.

De acordo com o Centro de Alerta de Tsunamis, o alcance das ondas vai do México até a costa do Pacífico da América do Sul. A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho alertaram que algumas ilhas da região podem desaparecer.

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Família chora diante da devas-tação e da morte de entes queridos, amigos e familiares.

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Entenda o terremoto no JapãoA polícia informou que 288 pessoas morreram, 349 estão

desaparecidas e centenas estão feridas. A polícia da provín-cia de Miyagi disse que entre 200 e 300 corpos de vítimas do tsunami foram encontrados na região costeira da cidade de Sendai. As autoridades acreditam que são corpos de resi-dentes que morreram afogados pela onda de dez metros de altura que atingiu o litoral.

A agência Kyodo estimou que o número de vítimas pode passar de mil.

Ainda não havia informações sobre vítimas brasileiras, segundo o embaixador do Brasil no país. Moram na região próxima ao epicentro pelo menos 17 mil brasileiros, segundo a embaixada, que colocou à disposição telefones para infor-mações.

O tremor teve epicentro no Oceano Pacífico a 130 km da península de Ojika, no Japão, a uma profundidade de 24 km, considerada pequena para terremotos.

Ele ocorreu às 14h46 (hora local, 2h46 de Brasília) e foi

seguido por pelo menos outros 70 fortes tremores de magni-tude superior a 5, segundo o USGS. O governo japonês emitiu um alerta sobre o risco de fortes réplicas.

O primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, qualificou como “grandes” os danos causados pelo abalo. Kan pediu “calma” à população. Ele estava no Parlamento na hora do tremor.

Cerca de 4,4 milhões de imóveis ficaram sem energia no norte do Japão, segundo a imprensa, e foram registrados in-cêndios em pelo menos 80 lugares, segundo a agência Kyodo.

O terremoto sacudiu com força os edifícios de Tóquio. Alarmes foram disparados nos prédios, houve correria, e as linhas telefônicas ficaram bloqueadas.

O Shinkansen, o trem-bala da capital japonesa, e os dois principais aeroportos ficaram temporariamente fechados.

As autoridades japonesas pediram aos moradores da capital que fiquem no centro da cidade e que não tentem chegar a suas casas se vivem nos arredores. O transporte coletivo entrou em colapso de maneira colossal na capital .

MUNDO

Homem anda pelos destroços do que um dia foi uma rua.

Mulher chora ao perder tudo.

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A parede de água entrou quilômetros adentro pela costa da ilha de Honshu, arrastando casas e transformando os portos em cenários de desoladora devastação.

Nas áreas rurais próximas, a onda varreu as frágeis casas de madeira como se fossem de papel, e em questão de minutos devorou centenas de hectares de plantações.Em Fukushima, um dique rompeu, e a água invadiu o continente, destruindo pelo menos 1.800 casas.

Em Aomori, no extremo norte da ilha, pelo menos cinco embarcações grandes, algumas emborcadas de cabeça para baixo, foram levadas pelas águas.

Algumas foram paradas por árvores, outras, por conjuntos de lojas ou barreiras marítimas.

Em Ibaraki, era possível ver do alto grandes casas flutuan-do pela enchente, cercadas por dezenas de carros.

Um navio com 100 pessoas a bordo foi virado pelo tsunami na costa, segundo a agência Kyodo. Ainda não se sabia o destino dos passageiros

As autoridades japonesas disseram que um trem de pas-sageiros desapareceu depois da passagem do tsunami, infor-mou também a Kyodo.

O trem da East Japan Railway Co. se encontrava perto da estação de Nobiru, no percurso que liga Sendai a Ishinomaki, quando ocorreu o violento terremoto.

O Ministério da Defesa do Japão se prepara para enviar 300 aviões e 40 navios para participar das operações de socorro na região, segundo a Kyodo.

ChileEm 27 de fevereiro do ano passado, um tremor de magni-

tude 8,8 atingiu o Chile e deixou mais de 800 mortos. O terre-moto no Chile, considerado então o quinto maior da história, ocorreu durante a madrugada e também causou tsunamis. O epicentro foi a 35 km de profundidade.

MUNDO

Mulher chora pelas vítimas do terremoto e tsunami que atin-giram o Japão no dia 11 de março e deixaram milhares de mortos.

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Devastação de cidades pequenasPara quem sofreu o terremoto e o maremoto, como ima-

ginar a noção de tempo? Foi sexta- feira (11) e agora começa uma nova semana? Foi uma vida e agora se tenta colocar de pé uma outra? E os parentes, os amigos e os vizinhos, que existiam e muitos não existem mais. Quem sabe?

Em um abrigo em Kesennuma, uma das cidades da provín-cia Miyagui, uma mulher colocou o nome da filha no mural da lista de desaparecidos. Ela diz que a casa em que morava sumiu, e que a filha pequena pode estar viva, mas sem saber para onde ir. Ela tem esperança de que a menina seja encon-trada.

Em Miyagui, como em tantas cidadezinhas da costa nor-deste do Japão, o antes e o depois estão na cara. O primei-ro na memória, tão recente. O segundo horrível, chocante, trágico. É só abrir os olhos. E não passa.

Um senhor leva a equipe para ver do ponto mais alto a destruição do lugar onde viviam 23 mil pessoas. Ele perdeu casa e muitos amigos. Ao olhar para baixo, nada se distingue muito bem. Nem fábricas nem lojas, nem casas, nem ruas. Parece tudo um terreirão de lixo. E de perto a impressão é a mesma. As vezes meio que por milagre, algo parece ter es-capado, como por capricho, desse liquidificador gigante de casas, coisas e gente. Ver um carro inteiro é uma exceção.

De tanta coisa que os japoneses legaram pelo mundo uma coisa é a palavra tsunami. O que mostra que há séculos, eles estão acostumados a conviver com isso. Mas toda a devasta-ção, eles não poderiam imaginar.

O terremoto foi o pior da historia do país acostumado a isso. Mas foi o tsunami que arrombou casas, ruas, avenidas, prédios. Tornou pequenas e pacatas cidades uma pálida e agora escura lembrança do que eram. Diante dessa força, dessa raiva, não se podia fazer nada.

O medo do mar e agora o medo do ar. O tsunami e agora o perigo da radiação. Para um pais traumatizado por duas bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial, o perigo da radioatividade é bastante real. Muita gente quer ir embora daqui, mas agora só tem para levar lembranças terríveis.

Para quem conseguiu se salvar, os relatos não são contados como heróicos, mas quase com o constrangimento de quem viu coisas horríveis e não gosta de lembrar.

Também em Kesennuma, uma senhora diz que conseguiu subir em um telhado, mas viu os donos da casa morrerem e muitas outras pessoas tragadas pelas águas.

Os serviços de emergência trabalham muito, mas não dão conta nesses primeiros dias. É muita gente. Falta, só, tudo.

Um estádio de beisebol, que poderia servir de abrigo, ficava perto demais do mar. Em um grande hospital, a água atingiu o quarto andar. Só os pacientes dali para cima puderam ser salvos. Quem estava nos três primeiros morreu de maneira trágica e arrebatadora.

Uma onda que chega ao quarto andar, mal da para ima-ginar. Com todo o treinamento que os japoneses recebem, com todas as obras que o governo faz para tentar conter o mar, ainda assim, um tsunami dessa magnitude. Contra isso, não há proteção.

Vagando às vezes sem saber para onde ir, buscando uma referência entre tantos escombros, tanta destruição, o fami-liar agora é totalmente estranho.

A ajuda começa a chegar, mas para quem perdeu tanto é quase uma esmola. Resolve o agora, o presente. Mas todo mundo vive e faz planos para o futuro. E é essa noção de tempo que foi algo que o tsunami também tirou, levou dessas pessoas.

Pelo menos 45 países --inclusive China e EUA-- já oferece-ram ajuda ao Japão nas tarefas de busca e resgate de vítimas.

“Trata-se provavelmente de uma operação humanitária de proporções épicas,” escreveu em um comentário Sheila Smith, especialista em Japão da entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores.

No nordeste do Japão, a cidade de Kesennuma, com 74 mil habitantes, sofre incêndios descontrolados, e um terço da sua área está submersa, segundo relato feito na manhã de sábado pela agência de notícias Jiji.

Em Sendai, cidade com 1 milhão de habitantes, o aero-porto está em chamas depois de ser inundado pelo tsunami, acrescentou a agência.

Na sexta-feira, imagens de TV mostraram uma veloz tor-rente de água barrenta arrastando carros e destruindo casas nos arredores de Sendai, 300 quilômetros a nordeste de Tóquio. No cais, navios foram arremessados para a terra e ficaram virados de lado.

O terremoto, o maior desde que o Japão iniciou seus re-gistros há 140 anos, provocou incêndios em pelo menos 80 lugares, segundo a agência de notícias Kyodo.

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Brasileiros não conseguem falar com pa-rentes no Japão

Olhos atentos na emissora de TV japonesa e na internet desde sexta-feira (11). A família paulistana Sato Chubaci se espanta com a quantidade de mortos e desaparecidos que não para de crescer.

“Tem de 200 a 300. Fukushima tem 91 mortos”, contou dona Rosa.

Eles têm motivo pra tanta preocupação. Nada menos que 30 parentes vivem na província de Miyagi, que foi devasta-da pelo terremoto e pelo tsunami no Japão. Precisam fazer contato. Mas a ligação não completa.

“Está pedindo pra ligar mais tarde”, comentaram.Acompanhamos bem de perto, neste fim de semana, a an-

gústia de duas famílias de São Paulo em busca de notícias de parentes do outro lado do mundo.

Os Fujimura têm três familiares desaparecidos na província de Iwate, que fica muito perto do epicentro do terremoto. Estão especialmente preocupados com uma tia, que vive a 800 metros do mar, na cidade de Yamada.

“A esperança é que eles tenham conseguido subir pra um lugar seguro, não é? E minha tia tem 81 anos. Então, ela não tem acesso à internet, ao celular. Então, se algum jovem por acaso encontrá-la em algum abrigo, que entre em contato com a prefeitura. Que tente tranquilizar um pouco a gente aqui”, falou Emília Fujimura Tada, dona de casa.

Na casa de dona Rosa, eles conseguem falar apenas com os parentes que moram em áreas menos atingidas.

“Eu estava no banheiro e começou a fazer assim “guigui guigui guigui”. Depois que me caiu a ficha que tava tendo ter-remoto, né?”

A mãe de Rosa veio do Japão para o Brasil em 1958 e teve cinco filhos. Parte da família voltou para o Japão e alguns nunca saíram de lá.

Essas bonequinhas são típicas da região de Miyagi, uma das mais atingidas pelo terremoto do Japão. Toda vez que a família da Rosa vai pro Japão, eles trazem algumas bonequi-nhas como essas.

Dona Rosa consegue, finalmente, contato com outro irmão, que está em Nagoya, distante da área mais atingida. Enfim, boas notícias.

“Eles estão bem. Só que a casa ficou totalmente destruída”.“Eu fiquei emocionada, porque a gente não está perto, não

é? E isso deixa a gente mais preocupado”, disse Rosa.Ela descobriu que todos os parentes estão juntos na única

que casa que ficou de pé. Eles não têm água, luz nem tele-fone.

“Só de ver tanta destruição, a gente fica triste. Pra quem gosta do Japão, tenho certeza que está todo mundo muito triste”, completou Rosa, que agora passa seus dias a espera de noticias boas.

“Pra quem gosta do Japão, tenho certeza que está

todo mundo muito triste”

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Cientistas explicam as causas dos terre-motos e tsunamis

O desespero de quem estava no Japão foi tanto. A des-truição, tão arrasadora. Que faz a gente pensar: como é que pode isso acontecer? De onde vem essa força toda?

Você vai ver as explicações científicas para os terremotos e tsunamis.

Por que os terremotos acontecem? A camada mais externa da Terra, a crosta terrestre, é formada por várias placas, como em um quebra-cabeça.

“Essas placas se movimentam, ora se afastando umas das outras, ora se trombando uma com a outra”, explica o geólogo Agamenon Dantas.

“Quando chega a um limite a ponto de romper as estru-turas das rochas, de quebrar, de falharem, há liberação de tensão.”

É nesse momento que acontece um terremoto. Ao todo, 90% dos terremotos acontecem nas bordas das placas tectô-nicas. O Japão fica bem onde duas delas se encontram.

Todo terremoto é seguido de um tsunami, como aconteceu sexta-feira?

“Quando as tensões de um terremoto cujo epicentro ocorre no mar são liberadas, é suficiente para formar grandes ondas. Pode ocorrer tsunami. mas às vezes não é suficiente. Na maioria das vezes, não é”, diz o geólogo.

Mas quando é, formam-se ondas que se propagam em várias direções.

“A onda tsunami, quando é formada em alto mar, tem característica de ter um grande comprimento da ordem de 700, 600 ou 700 quilômetros, e a velocidade com que ela se propaga chega até 700 km/h ou 800 km/h. Em alto mar, a altura dessa onda é da ordem de 30 centímetros”, acrescenta o oceanógrafo, David Zee.

“Mas à medida que ela avança para o litoral, a frente dessa onda, sentindo o atrito com o fundo, o atrito faz com que ela perca velocidade e ela começa a diminuir seu comprimento e a ganhar altura. Ao chegar a quatro metros de profundidade, a velocidade diminui para 20 km/h. Em compensação, o com-primento diminui bruscamente e a altura dela vai ganhando contornos de oito, dez metros”, diz.

“É como se fosse o estouro de uma manada de elefantes. Os elefantes da frente vão perdendo velocidade, contudo os elefantes de trás vão avançando e vão acumulando energia. Aí, chegando a 20 km/h, praticamente não se segura mais essa onda. A energia é suficiente para levar navios, carros, lixo e entulho”.

O terremoto no mar do Japão foi o mais forte daquele país. Atingiu magnitude 8,9 na escala Richter, o suficiente para provocar um tsunami.

“É a medida dessa energia liberada. Quando a gente fala que teve 5º na escala Richter significa que é dez vezes mais do que quatro. Seis é dez vezes mais do que cinco, porque a escala é logarítmica, não é uma escala normal. Então, no caso do terremoto que teve no Japão, 8,9 é dez vezes mais do que 7,9”, responde o geólogo Agamenon.

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É quase cem vezes mais do que sete pontos, a magnitude do que destruiu parte do Haiti no ano passado. O do Haiti teve o epicentro em Terra. O desta semana foi no mar. Foi o mais forte do Japão e o quinto da história mundial. O do Chile, também no início do ano passado, atingiu 8,8 na escala.

Está havendo mais terremotos?Não. A média de ocorrência de grandes terremotos tem

permanecido constante, segundo os dados de longo prazo do USGS, a agência americana de pesquisas geológicas.

“Temos percebido mais esse tipo de coisa devido à globali-zação e à grande capacidade de comunicação que o homem tem. Qualquer problema que aconteça em qualquer parte do globo é rapidamente transmitida para todos”, diz o oceanó-grafo.

O terremoto deslocou o eixo da Terra?Muita gente ficou preocupada também com a notícia de

que o terremoto teria deslocado o eixo da Terra, uma linha imaginária que cruza o centro da Terra e os dois pólos, em

torno da qual o planeta gira.Deslocou sim, aproximadamente 15 centímetros.

“Depois do terremoto o que aconteceu é que esse eixo deu um pequeno salto de dez ou 15 centímetros. Para nós, isso não tem absolutamente nenhum efeito. Tem problemas para os astrônomos, que têm que apontar para as estrelas na posição certa, e já que a latitude do observatório mudou, então ele tem que fazer uma correção. O sistema de posicio-namento global, o GPS, também tem que fazer essa corre-ção”, aponta o astrônomo do Museu de Astronomia e Ciên-cias Afins, Eugênio Reis.

Ele acrescenta: “O eixo da Terra já se move naturalmente uns 4,5 metros por mês. Ele tem um movimento contínuo. Ele se move porque a Terra não é uma esfera perfeita, é irregular, ela tem uma distribuição de massa irregular. Quando tem um terremoto, isso volta, isso se redistribui. Tem o movimento das águas dos mares. Tudo influencia o eixo de rotação da Terra”.

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Ame o Japão - Ajude o Japão - www.japanaid.com.br

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A sexta edição do Nikkey Matsuri, festival de cultura japo-nesa, foi realizado nos dias 14 e 15 de maio no Clube Escola Jardim São Paulo, na zona norte da cidade de São Paulo. O evento é organizado por 11 associações nipo-brasileiras e quatro entidades beneficentes: Kibo no Ie, Yassuragui Home, Kodomo no Sono e Ikoi no Sono.

Neste ano, o Nikkey Matsuri homenageou Okinawa, pro-víncia localizada no extremo sul do Japão e que conta com uma grande comunidade no Brasil.

No espaço organizado pelo Urizun (Círculo de Bolsistas de Okinawa) havia uma exposição com objetos relacionados à cultura de Okinawa. O público pode ver de perto instrumen-

tos musicais típicos, uma miniatura do Shureimon (portão do Castelo de Shuri), vestuário tradicional e a dupla de estátuas Shisa (cão-leão mitológico que representa prote-ção, também chamado de “komainu” em outras partes do Japão).

O sanshin é um instrumento musical típico de Okinawa“Recentemente, a cultura de Okinawa tem atraído

grande atenção não só no Japão, mas principalmente em países em que vivem muitos imigrantes de Okinawa. Muitos não-descendentes de Okinawa e também não-descenden-tes de japoneses estão praticando taiko, sanshin e odori de Okinawa”, disse Marcelo Matsudo, presidente do Urizun.

Nikkey Matsuri leva cultura japonesa à zona norte de São Paulo

Público da sexta edição superou 40 mil pessoas, segundo organização.

EVENTOS

Evento teve apre-sentações de danças típicas de Okinawa.

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Como atrações, o evento teve apresentações de músicas e danças típicas, artes marciais, mágica, comédia stand up, ioiô e taiko (tambores tradicionais japoneses), além de workshops e bazar. As apresentações de sábado foram encerradas pelo grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko. No domingo, mesmo com a chuva no fim da tarde, ainda havia grande quantidade de pessoas no público para assistir à apresentação do Requios Geinou Doukokai Eisá Brasil.

A parte de gastronomia teve como destaque o yakisoba, que a organização estima ter alcançado a marca de 7.000 pratos vendidos. Também havia sushi, temaki, gyu-don, tempurá e outros pratos da culinária japonesa, incluindo o Okinawa soba e o onigiri (bolinho de arroz) recheado de gen-gibre e carne de porco, duas das especialidades da província.

Público da sexta edição do evento superou as 40 mil pessoas, segundo organização

Divulgado ao longo do ano em ações que envolviam, por

exemplo, apresentações culturais em estações do metrô e CPTM, o evento, segundo os organizadores, superou o número de 40 mil visitantes obtido em 2010.

Para Naomi Uezu, proprietária de um atelier especializado em kirigami (origami arquitetônico), a divulgação da cultura japonesa na zona norte é muito importante. “O Nikkey Matsuri atende um público que recebe pouca divulgação da cultura japonesa”, disse Naomi.

Boa parte dos visitantes foi composta por não-descenden-tes de japoneses e moradores do bairro. “Eles ficaram muito interessados na técnica [do kirigami], porque não conheciam, queriam informações sobre cursos e como adquirir. Ontem [sábado], não paramos um minuto, então hoje [domingo] trouxemos mais material para podermos atender o máximo de pessoas possível”, completou Naomi, que organizou workshops de kirigami nos dois dias do evento.

EVENTOS

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Jo Takahashi, 57 anos, é arquiteto por formação e agitador cultural por vocação. Durante os 25 anos em que atuou como diretor de cultura e artes da Fundação Japão, esteve à frente de grandes projetos, como a curadoria da Semana da Cultura Japonesa em 2008, que envolveu 400 atividades e cerca de 3 mil artistas. A partir do fim de 2010, Jo passou a ser consultor da fundação e a focar sua energia em projetos próprios: uma produtora cultural independente e um blog.

O blog “Jojoscope” reflete a nova fase do produtor cultural. O site aborda, com um toque opinativo, os mais diferentes as-pectos da cultura japonesa, desde música e cinema até gastronomia. “Com a nova proposta junto à Fundação Japão, passei a adotar uma postura mais pessoal. (…) Posso emitir opiniões e fazer comentários, mas sempre com base e foco nas ações que desenvolvi ao longo destas décadas na instituição”, explica.

A produtora “Dô Cultural”, por sua vez, carrega todo o conhecimento obtido na Fundação Japão. Seu objetivo é não apenas difundir a cultura japonesa no Brasil, mas também divulgar a cultura brasileira no Japão. Em entrevista à Made in Japan, Jo Takahashi falou sobre seus novos projetos.

Jo TakahashiEx-administrador cultural da Fundação Japão fala sobre seu blog e sua produtora indepen-dente

PERSONALIDADE

Arquiteto por formação e agita-dor cultural por vocação.

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25ABRIL 2011 | BURAJIRU |

Como surgiu a ideia de criar o blog Jojoscope?Enquanto diretor de cultura e artes da Fundação Japão eu

era conhecido como “Jo da Fundação”. Há algum tempo isso começou a incomodar porque eu sempre adotei uma postura corporativa e institucional. Muitas vezes, quando falamos de artes e mesmo de cultura, que são temas que exigem uma avaliação subjetiva e pessoal, é difícil comentarmos na pri-meira pessoal do plural, pois as interpretações muitas vezes são minhas.

Determinados assuntos, eu não podia comentar em público, como por exemplo, preferências de restaurantes ou dos trabalhos de determinados artistas, porque eu carregava uma função pública de grande responsabilidade.

Agora, com a nova proposta que formulamos junto à Fun-dação Japão, passei a adotar uma postura mais pessoal e, como consultor de arte e cultura, iniciei o compartilhamen-to da experiência com o público e outras instituições. Criei uma produtora de arte e cultura dedicada à conexão Brasil-Japão, e inicio a partir deste semestre diversos projetos que normalmente não caberiam no formato da Fundação Japão. Além disso, passo a realizar um novo segmento, que dentro da Fundação Japão não era a prioridade: divulgar a cultura brasileira no Japão.

A blogosfera me pareceu interessante como uma primei-ra iniciativa de comunicação com o público, já dentro deste formato mais pessoal. Posso emitir opiniões e fazer comen-tários pessoais, mas sempre com base e foco nas ações que desenvolvi ao longo destas décadas de dedicação à Fundação Japão.

O que significa o nome do blog, Jojoscope?Scope é uma lente de projeção. No cinema, ele é usado para

ampliar o campo de visão, como no Cinemascope, ou seja, ter uma visão panorâmica. Mas scope pode sugerir também um microscópio, para enxergar detalhes e analisar seu conteúdo. Pode também sugerir um telescópio, para enxergar coisas ao longe, que no caso do blog são as tendências, que podem ditar o gosto na moda, na gastronomia, nas artes. Essa é a proposta do Jojoscope: por meio de uma visão pessoal, olhar a cultura e as artes na conexão Brasil-Japão, ora com amplitu-de, ora com visão analítica, ora com visão sonhadora.

Além de estar engajado na produção de um blog, o senhor mantém contas bastante ativas

no Facebook e no Twitter. Na sua opinião, qual é o papel das ferramentas virtuais para divul-gar a cultura japonesa hoje, no Brasil?

A internet é, hoje, nosso campo de trabalho, e quero criar uma plataforma de ação quase totalmente fundamentada na internet. Afinal, estaremos trabalhando com desenvolvimen-to de conteúdo e minha proposta de ação daqui para frente é poder compartilhar o que aprendi e apreendi nas duas décadas e meia na Fundação Japão, de uma maneira mais ágil e sintonizada com os novos tempos.

As ferramentais virtuais são nossos instrumentos atuais, como foram um dia o telefone ou o fax. Quero usar essas ferramentas nas duas línguas: o português e o japonês, para poder atingir o público alvo com o qual quero interagir.

De 25 anos para cá, o tempo em que esteve à frente da administração cultural da Fundação Japão, o que mudou na percepção dos brasileiros em relação à cultura japonesa?

Tivemos uma compreensão mais clara do mercado de in-tercâmbio cultural. Houve uma grande aceitação da cultura japonesa no Brasil e não foi devido somente à permanência dos imigrantes japoneses. Os brasileiros estão sabendo apre-ciar e consumir uma cultura mais dinâmica do que aquela trazida pelos imigrantes.

Um exemplo é a gastronomia, que hoje é um mercado em efervescência. Neste segmento, o que se consome de culiná-ria japonesa vai muito além dos padrões trazidos pelos imi-grantes. O brasileiro, curioso que é por natureza, descobre tendências, cria, renova antigos padrões.

A cultura pop é outro segmento importante no intercâm-bio Brasil Japão. Aqui, também, não é devido aos imigrantes, mas fruto de uma tendência que atinge jovens, formadores de um consumo popular de cultura.

Na sua opinião, quais são os lugares que se relacionam à cultura japonesa mais interessan-tes de visitar no Brasil?

Em termos de arquitetura, eu recomendo o Memorial da Imigração Japonesa, que foi construído na Pampulha, em Belo Horizonte. O projeto é dos arquitetos Gustavo Penna e Marisa Machado Coelho, e a concepção artística é de Paulo Pederneiras, diretor artístico do Grupo Corpo de dança con-temporânea.

A concepção se deu a partir de um conceito de celebração da amizade entre o Japão e os mineiros. O Memorial é com-

“O objetivo é difundir a cultura japo-nesa no Brasil e a brasileira no Japão”

PERSONALIDADE

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posto por uma ponte suspensa sobre um lago, simbolizando os dois países distantes por um oceano, porém ligados por ideias e ideais. Ao centro, o pavilhão de exposição. O visitan-te fará um percurso que compreende uma partida do Japão, simbolizado por cerejeiras, até a chegada à Minas dos ipês brancos. O conjunto todo tem uma leitura muito sofisticada da cultura e da estética japonesa, muito longe dos clichês, como os portais torii, lanterninhas e detalhes de gosto du-vidoso que costumam enfeitar as iniciativas da comunidade nipobrasileira.

O Parque do Japão em Maringá é outro destaque importan-te. Ainda em construção, tem tudo para ser o maior centro de cultura japonesa no Brasil. Com uma administraçáo dinâmica e profissional, o Parque do Japão é uma OSCIP, organização social que atualmente recebe recursos administrativos da Prefeitura da cidade de Maringá mas ruma para a autonomia em dois anos. É um modelo interessante de gestão.

E quais são os artistas brasileiros que preser-vam a cultura japonesa no Brasil e nutrem sua admiração?

Na música, podemos destacar o trio de Shakuhachi Shen Ribeiro, Danilo Tomic (presidente da Associação de Música Tradicional Japonesa) e Matheus Ferreira, que atuam com muito dinamismo na difusão da música tradicional japonesa.

O violonista Camilo Carrara é outro destaque, pois divulga a música infantil e folclórica japonesa pelo Brasil todo. O Grupo Mawaca, de música étnica, é outro destaque; há doze anos divulgando a música folclórica japonesa em formatos inusitados. Lica Cecato, que é uma cantora carioca, canta em japonês e faz maravilhosas intepretações de poemas clássi-

cos japoneses. Incrivelmente, todos são não-descendentes e estão fora do circuito da comunidade japonesa.

Artistas que foram contemplados com apoios da Fundação Japão são um primor de fidelidade e retorno nas ações de divulgação da cultura japonesa: Ângela Nagai (na dança e es-pecialmente no teatro Nô), Leticia Sekito (em dança contem-porânea), Rachel Rosalen (em arte e tecnologia).

Fale um pouco sobre a produtora indepen-dente Dô Cultural. Por que decidiu começar esse empreendimento? Qual é o objetivo?

Creio que seja a primeira produtora cultural totalmente voltada para desenvolver projetos na conexão Brasil-Japão, em um universo fora do contexto da comunidade nipobrasi-leira.

A proposta da Dô Cultural é investir em projetos de cultura e arte com sustentação, aplicando as leis de incentivo. A equação se resume em 3P ao quadrado: Parceria Público Privado em Projetos Processos e Produtos. Aplicar uma ad-ministração dinâmica de configuração de projetos culturais, convidando expectativas dos setor público como consulados e instituições culturais, com as possibilidades de investimen-to das empresas privadas que se sintonizem com suas linhas de negócios. E atuar na formatação de projetos e produtos que possam trazer um retorno cultural e formar um patrimô-nio de conhecimento e informação que possa ser comparti-lhado para o enriquecimento de nossas culturas.

O objetivo é difundir a cultura japonesa no Brasil e a bra-sileira no Japão, com um padrão de qualidade que interesse aos formadores de opinião, e consolidar plataformas cultu-rais de alto nível.

PERSONALIDADE

Jo Takahashi, des-cendente e amante da cultura japone-sa.

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De acordo com a lenda, o Namazu vive no fundo do mar, embaixo do arquipélago.

por Henrique Minatogawa

Na mitologia japonesa, terremotos são causados por peixe gigante.

Segundo o folclore japonês, no fundo do mar, sob o ar-quipélago, vive o Namazu, um peixe gigante. Quando ele se movimenta, terremotos acontecem.

O Namazu é um bagre, peixe escuro com grandes bigodes, de hábitos noturnos que costuma viver próximo de superfí-cies sólidas, no fundo de águas pouco profundas.

De acordo com a lenda, apenas o deus Kashima é capaz de controlar o Namazu, colocando uma grande pedra sobre sua cabeça. Na pedra, estão escritos os ideogramas “kaname ishi” (pedra fundamental, em português).

Outras versões da história falam de uma espada e até de um tipo de abóbora como forma de imobilizar a criatura. Porém, Kashima às vezes dorme de cansaço da vigília, então o peixe consegue escapar. O movimento, especialmente da cauda, causa o terremoto.

Como qualquer elemento do folclore, há muitas outras interpretações para a lenda do Namazu. Desde protetor de rios até elemento de crítica social, em geral, ele está associa-do a um período de grandes mudanças.

O Namazu foi tema de diversos ukiyo-e, xilogravuras famosas no Japão entre os séculos 17 e 19. Em muitas delas, ele aparecia como metáfora da redistribuição de renda, uma vez que, após um terremoto, os mais abastados dividiam sua riqueza com os pobres para a reconstrução do local onde viviam.

A partir do período Edo (1603-1867) e até os dias de hoje, o Namazu recebeu uma imagem mais positiva, representan-do o aviso de que uma catástrofe está para acontecer. Por exemplo, em placas de sinalização referentes à prevenção de catástrofes naturais e até em amuletos, é possível ver o Namazu ilustrado de uma forma mais simpática.

COLUNAS

Xilogravura de Utagawa Kunisada (1786-1865)

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SÉRIE ESPECIAL

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Morar no Japão é uma experiência única. Os estrangeiros, incluindo os 300 mil brasileiros, que estão no outro lado do mundo, têm a chance de entrar em contato com uma cultura milenar, mas que ainda é capaz de surpreender todos os dias. Ao contrário de um turista que precisa passar correndo pelos pontos mais famosos, um morador estrangeiro tem a chance de andar calmamente pelas ruas, ver o movimento das pessoas e olhar ao seu redor. Só a chance de observar o dia-a-dia acaba sendo um momento marcante, em que nossa cabeça se enche de interrogações e exclamações ao mesmo tempo. “Nossa, o que é isso?!”, “Ah, então é assim que fun-ciona?!”. “Que legal!”. “Que coisa estranha!”

Desde o primeiro número, Made in Japan procura provo-car essas mesmas reações em seus leitores. Nesta edição es-pecial, que comemora os 10 anos da revista, reunimos pela primeira vez em um só número as principais curiosidades do dia-a-dia dos japoneses.

A reportagem é resultado da vivência de cerca de 100 fun-cionários dos mais diversos departamentos da Editora JBC, a maioria dos quais mora ou já morou no Japão. Foi a partir do depoimento e das sugestões de cada um que elaboramos um roteiro de hábitos, costumes, invenções, lugares, supers-tições, etiquetas e manias que mais surpreendem os estran-geiros. Essa sensação é tão forte que o Instituto Interwired realizou uma pesquisa com mais de cinco mil japoneses para saber quais os costumes que mais geravam estranhe-za aos estrangeiros. A pesquisa mostra essa percepção sob o ponto de vista dos japoneses, o que nem sempre confere com a visão que os estrangeiros têm. Para se ter uma idéia, segundo a pesquisa, os japoneses acreditam que os estran-geiros ficam mais intrigados com o hábito de trocar omiyage entre colegas de trabalho no meio do ano (ochuugen) e no

fim do ano (oseibo). De fato, os japoneses dão presentes para tudo. Até para visitar um amigo, por exemplo, é necessário levar uma lembrancinha. Mas convenhamos que, pelo menos para os brasileiros, esse hábito parece bem mais “normal” do que a sinfonia ouvida nos restaurantes que vendem lámen. Sluuuurp! Fazer barulho para comer significa que o prato está delicioso! O melhor a fazer, se você entrar em um desses restaurantes desavisado, é manter o bom humor, aderir ao costume e… sluuuuurp!

Achou divertido? Então que tal morar em um típico aparta-mento de 15 metros quadrados de Tokyo. A falta de espaço é tamanha que a máquina de lavar precisa ficar na cozinha, ao lado do fogão de duas bocas e da minigeladeira… parece uma casa de brinquedo. Bom, mas antes você precisa achar sua casa. Como não há nomes de rua e as casas não têm número, encontrar os lugares no Japão é uma aventura. Por isso, a maioria dos japoneses costuma desenhar um mapa para es-trangeiros perdidos. Mas se tiver um celular, basta acessar o GPS que vem no aparelho para se localizar.

O mesmo celular tem um serviço de crédito que permite pagar contas e comprar um refrigerante em máquinas auto-máticas, espalhadas em cada esquina. Não se preocupe, é superseguro andar pelas ruas. Mesmo se perder uma cartei-ra cheia de dinheiro, há grandes chances de recuperar com tudo intacto na seção de achados e perdidos da estação de trem mais próxima. Já as chances de perder um compromis-so no Japão são mínimas. Os trens e metrôs são pontuais ao extremo. Ufa! Em poucos passos já é possível ver tantas coisas diferentes.

Com certeza os que estão pensando em passar uma tem-porada no Japão se depararão com um novo Universo, o equilíbrio perfeito entre o novo e o tradicional.

Prepare-se para conhecer o impressionante dia-a-dia dos ja-poneses. Revelamos hábitos, costumes, manias, lugares, in-venções, atitudes que mais surpreendem os estrangeiros no Japão

Japão curiosoSÉRIE ESPECIAL

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Nossa nova sessão sera inteiramente dedicada a pratica e ensinamentos sobre origami. Conse-guimos unir o divertido a seriedade dos ensinamentos que estão por trás da pratica do origami. Além disso, pode ser praticado por toda a família nesses dias de correria e muito trabalho. Tire um tempo para um momento de relaxamento e terapia. Aqui vai um pouco da historia dessa maravilhosa arte que muito pode nos ensinar sobre amizade, paciência e determinação. Espero que aproveitem bastante. E pra começar colocamos para vocês o desafio do Tsuru, pássaro tra-dicional na pratica do origami e um pouco da sua historia. A cada edição colocaremos um novo desafio. Bom divertimento!!!

TSURU

ORIGAMI

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História do Origami A origem exata do origami é desconhecida, mas acredi-

ta-se que tenha surgido como uma decorrência natural da invenção e divulgação do papel, e ainda segundo alguns pes-quisadores está relacionada com um costume ou crença reli-giosa de épocas passadas.

Mesmo sem saber quem tenha criado, alguns origami vem sendo transmitidos de geração em geração até os dias de hoje.

Não se sabe quem foi o criador de muitos origami, pois muitos deles foram passados por várias pessoas até a forma final. Isto ocorreu com a criação do “orizuru”, e acredita-se que esta era a essência do origami, a união de várias pessoas para a criação. Pode-se dizer que estes origami são uma das heranças peculiares mais antigas do país.

Há criações mais recentes de origami, mesmo assim deve-se ter muito respeito com os origamis mais antigos. Não basta fazer algumas modificações nos origamis já exis-tentes e depois dizer que esta é uma criação de um determi-nado autor. Se isto for feito e aceito por nós estaremos dani-ficando o nosso próprio patrimônio. Para que isto não ocorra devemos deixar bem claro para o conhecimento de todos a partir de onde é a criação deste autor. Até agora dissemos que não se sabe a origem do origami, mas não há dúvidas de que se desenvolveu no Japão e, mesmo sendo desenvolvido também em outros países o nome origami é compreendido em todo lugar.

Segundo alguns estudiosos as primeiras figuras de origami surgiram na antigüidade, por volta do século VI, quando um monge budista trouxe para o Japão o método de fabricação do papel da China, via Coréia, onde até então não era conhecido. Nesta época, quando o Estado e a religião era um só, Seisei itchi, os origami representavam a natureza das cerimônias religiosas. Dizem que foi utilizado para transmitir ou registrar a intenção da cerimônia religiosa. Porém, estes origami eram uma mistura de origami com kirigami, que é a arte de formar figuras através de recortes de papéis. Estes origami eram confeccionados utilizando-se papéis manufa-turados especialmente para o uso dos sacerdotes xintoístas.

Recortavam-se os papéis quadrados ou retângulos em forma de raio, dobrando-se a seguir em formato de tempo, ou de nusa ou shide, objetos utilizados durante as cerimônias. E ainda, nos Katashiro utilizado em harai, bonecos de papel uti-lizados no Hinamatsuri (festival das bonecas), o monkirigata que é o protótipo do emblema, todos eles eram feitos seguin-do o método kirikomiorigami, que quer dizer origami com re-cortes. “Os katashiro são, ainda hoje, colocados nos templos xintoístas no lugar da divindade, tomando a sua forma. O mais antigo katashiro de origami se encontra no Ise Jingu, província de Mie, portanto se diz que a história do origami é tão antiga quanto a história do Japão.”(Kanegae,1988) Estes

tipos de origamis são considerados um clássico da arte, e vem sendo ensinado até hoje aos alunos na Escola Ogasawa-ra de etiquetas. Outro origami formal utilizado até os dias de hoje é o noshi, um ornamento colocado sobre o embrulho de presente, significando que a pessoa deseja muita fortuna para a pessoa presenteada. Se formos analisar o conceito do origami dá-nos a impressão de ser algo fácil e “bobinho”. Mas os princípios básicos ditam que o origami deve ser confeccio-nado a partir de um papel plano, bidimensional, a fim de que o resultado seja um objeto com três dimensões. Isto ainda sem utilizar-se de outros materiais como tesoura, cola ou si-milares. A partir do século XVII, estas rígidas regras foram um pouco alteradas, dando a liberdade de se utilizar pequenos cortes desde que isto seja feito no início do origami.

O origami recreativo conhecido atualmente teve origem na Era Heian (794-1192), época em que o origami deixa de ser formal para ser mais recreativo, evoluindo para as formas de garças, barco e bonecas.

Segundo pesquisador conceituado das origens do origami, professor Massao Okamura de 65 anos, o origami teve início no século XVII pelos samurais. Foram eles que deram os primeiros passos para o formato dos origami atuais. E o interessante, é que ao contrário dos dias de hoje, em que o origami é visto como uma atividade infantil, até meados do início do século XIX, era considerado como um passatempo divertido e interessante restrito aos adultos, principalmen-te devido ao valor muito caro da matéria-prima. A partir da fabricação do papel no Japão, a população japonesa passa a conhecer e aprimorar o origami, e transmitindo de pai para filho. Durante a Era Edo (1590-1868), o origami passa a ser praticado principalmente pelas mulheres e crianças indepen-dente da classe social. Até o final desta era, foram criados aproximadamente setenta tipos de origami, tais como o “tsuru”(conhecida também como cegonha e grou), sapo, íris, lírio, navio, cesta, balão, homem, etc. Estes receberam a denominação de origami, “origaka”, “orisue”, “tatami-gami”, etc. Continua...

Sadako e o TSURU da PazUma crença popular ficou associada a uma história que

aconteceu no pós-guerra depois da explosão das bombas nu-cleares que atingiram milhares de civis, mulheres, idosos, e muitas crianças... Uma dessas crianças chamava-se Sadako Sasaki, que com dois anos de idade vivia a uma distância con-siderável do local da explosão. Sadako sobreviveu sem apa-rentar efeitos nocivos e viveu uma infância feliz, a brincar. Dez anos se passaram e Sadako cresceu forte, sensível e bonita. Aos doze anos Sadako gostava muito de correr. Um dia, muito cansada, caiu. Foi levada para o hospital onde descobriram que tinha Leucemia, denominada na altura como “Doença da Bomba”, pois se tinha desenvolvido devido a exposição

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à radiação. Uma vez no Hospital, todos os dias a sua melhor amiga levava bonitos papéis e a ensinou a dobrar o pássaro TSURU. Juntas dobravam, e juntas falavam da lenda dos 1000 TSURUS, quem os fizer o seu desejo se realizará, assim o dizem. Por cada TSURU dobrado, o desejo era sempre o mesmo - para ficar bem. A menina Sadako mais tarde decidiu que, mesmo com muito esforço, terminaria os mil TSURUS pensando e pedindo para que nunca mais nenhuma criança tivesse que sofrer os males da guerra.

No dia 25 de Outubro de 1955, Sasako dobrou o seu último TSURU nº 644, não resistiu à doença e nesse dia se tornou mais um dos muitos acidentes de uma guerra que tinha ter-minado dez anos atrás. Os seus colegas da escola acabaram os restantes 366 TSURUS que faltavam para homenagear a

memória e pedido de Sadako e participaram do seu desejo de que bombas de destruição massiva não seriam utilizadas novamente. Os 39 colegas de turma da menina Sadako con-seguiram mobilizar mais de 3000 escolas no Japão e nove de outros países e assim conseguiram juntar a quantia ne-cessária para a construção do “Monumento das crianças à Paz”(1958), localizado no parque da Paz, em Hiroxima. Ficou um monumento para homenagear Sadako, tal como todas as crianças que morreram devido à guerra, que mais tarde se tornou um símbolo internacional da Paz. Todos os anos, milhares de crianças visitam o memorial trazendo cadeias de TSURUS dobrados para colocar na sua base. Cada um TSURU é uma oração e o desejo de milhares pela Paz.

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Tsuru, ave sagrada para o povo Japonês

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Passo a passo do TsuruORIGAMI

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