Acompanhando os gastos públicos. Belém, setembro de 2012 Seminário de Educação Fiscal.
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Bullying e Proposta Pedagógica Curricular: como articular o conhecimento e
prevenção da violência no cotidiano escolar
Elizabeth do Rocio Silva Burakowski
Pedagoga
Resumo: A não aceitação da diversidade nas escolas gera incidentes com variadas formas e tipos de violência e isto preocupa toda a comunidade escolar; mas a escola trabalha com os conhecimentos historicamente construídos, transformados em conteúdos escolares para permitir sua transmissão. Este texto procura discutir a possibilidade de inserção de conhecimentos transformados em conteúdos escolares que possam propiciar atitudes de aceitação da diversidade, de valorização das diferenças e diminuição de incidentes de violência nas relações sociais dentro do ambiente escolar.
Palavras chave: prevenção, violência, conteúdos escolares.
INTRODUÇÃO
Acompanhando os noticiários pode-se constatar o aumento do relato de
casos de violência ocorridos em escolas.
È possível discutir o aumento destes casos relacionando-os ao contexto
social atual, marcado por situações de variados graus e tipos de violência. As
escolas discutem as medidas a serem tomadas para evitar que as situações de
violência ocorram em seu cotidiano, mas encontram dificuldade em estabelecer
formas de realizar esta tarefa.
Não é diferente no Colégio Estadual São Cristóvão, em São José dos Pinhais,
região metropolitana de Curitiba, Paraná.
Este colégio tem uma história que o diferencia de outros, pois ele só existe
devido a luta da comunidade. Começou como uma escola para séries iniciais, nas
dependências da Igreja São Cristóvão, pois o pároco, padre Pedro Fuss não
aceitava que as crianças ficassem sem escola.
Com o tempo e o aumento de alunos já não havia condições de a escola ficar
nas instalações da Igreja; a comunidade lutou e conseguiu a doação de um terreno
onde foi construído um novo prédio. Para isto, foram organizadas festas e atividades
de arrecadação de fundos pela comissão da igreja.
A escola recebeu o nome do pároco e tornou-se Escola Municipal Padre
Pedro Fuss atendendo alunos de primeira a oitava séries do Ensino Fundamental;
em 1989, com o processo de municipalização do ensino foi dividida em duas
escolas, continuando como Pedro Fuss (municipal) para séries iniciais e como São
Cristóvão (estadual) para séries finais do Ensino Fundamental.
Em 1997 passou a atender o Ensino Médio, tornando-se Colégio Estadual
São Cristóvão Ensino Fundamental e Médio.
Durante a segunda etapa da Semana Pedagógica de 2010 uma das maiores
preocupações dos professores era com a violência e seu impacto nas relações entre
pessoas da comunidade escolar, na escola e no seu entorno.
Como estava pesquisando tema para estudo no PDE e queria que ele fosse
significativo para a comunidade escolar em que atuo, foi escolhida esta temática
para o projeto de implentação.
DESENVOLVIMENTO
Função Social da Escola
A escola cumpre uma função importante na sociedade que é a transmissão do
conhecimento historicamento construído. No entanto, para cumprir esta função
social, precisa planejar suas ações, transformando os conhecimentos em conteúdos
escolares.
Vygotsky, (2002, p. 13), observa que “o principal papel da escolarização é
criar contextos sociais (zonas de desenvolvimento proximal) para o domínio e o
manejo consciente dos usos desses instrumentos culturais (discurso, alfabetização,
matemática) que são sociais em sua origem.”
A sociedade tem se tornado uma das propagadoras de que a educação é
essencial aos seres humanos. Para construir sua Proposta Pedagógica Curricular,
cada escola deve debater o conceito de educação que vai nortear o seu trabalho e
no caso deste trabalho baseou-se em Saviani (1997, p.17) que afirma que a
educação é
Ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens [...] O objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da especie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
Portanto a escola deve estabelecer os elementos culturais a serem
selecionados e trabalhados em sua Proposta Pedagógica Curricular, de forma
democrática e coletiva. Estes elementos culturais serão transformados em
conteúdos escolares, que estarão explicitados tanto na Proposta Pedagógica
Curricular quanto no Plano de Trabalho Docente dos professores.
Destaca-se a importância dos conteúdos disciplinares e do professor como
autor de seu plano de ensino, pois este é responsabilidade dos professores e equipe
pedagógica e deve ser construído em colaboração.
Entretanto é o professor responsável pela escolha dos conteúdos pois eles
serão o eixo norteador de seu trabalho em sala de aula com o objetivo de melhorar o
processo ensino-aprendizagem.
Contexto escolar e violência
No cotidiano escolar os professores convivem com os alunos, ouvem suas
idéias, angústias, medos e enfrentam a resistência dos jovens em participar da
chamada cultura da paz, que são ações desenvolvidas para resgatar atitudes que
facilitam o convívio, gerando um ambiente mais harmônico nas salas de aula e nos
demais espaços escolares. No entanto, os jovens são convencidos facilmente pela
mídia televisiva e por inserções nas redes sociais de que a violência é a forma de
resolver disputas, de manter a liderança de grupos constituídos por jovens.
No Colégio Estadual São Cristóvão, pesquisando os registros de ocorrência
do ano de 2010, encontramos que a maior parte dos episódios de violência foram
relacionados a não aceitação das diferenças, tais como suspeitas de
homossexualidade, lesbianismo, pobreza, etnia, cor da pele, obesidade.
Esta violência que surge na escola é uma manifestação de um processo
social que iniciaria na família e nos grupos de convívio (amigos, grupos de jovens
das igrejas, pessoal do futebol) e que está presente nas relações sociais vivenciadas
pelos alunos. Podemos concordar com Cardia (1997, p.40), quando coloca que:
O comportamento dos jovens nas escolas e no bairro assim como seu
desempenho acadêmico e social é afetado pela violência familiar. A literatura
revela que a violência familiar, quando combinada com a violência no bairro,
agrava os efeitos da violência cotidiana testemunhada. É raro que quando há
violência entre os pais que ela não atinja também os filhos. Famílias onde há
violência entre seus membros têm alta probabilidade de estarem socializando
os filhos para a violência.
Quando solicitado aos alunos que apontassem situações de violência vividas
por eles na escola foram relatadas que as discussões ou bateboca são os fatos mais
comuns, mas surgiram também as ameaças e as agressões físicas. As agressões
físicas quase sempre ocorrem na saída das aulas, nas imediações da escola devido
ao medo de sanções que possam receber na escola.
Os profissionais de educação citam como causa destes atos de violência a
falta de limites e crise de valores, ausência dos pais, influência da televisão e a
estrutura social. Os fatores de rendimento insatisfatório dos alunos apontados pelos
profissionais da educacção são o desinteresse, apatia, falta de motivação dos
alunos; falta de apoio das famílias; indisciplina dos alunos.
Já os pais, quando chamados à escola devido aos atos cometidos pelos filhos
declaram saber da existência de problemas, mas que não sabem como resolvê-los;
procuram discutir com profissionais da escola qual a melhor atitude a tomar com os
filhos ou então dizem não saber o que fazer ou apresentam a não aceitação do
comportamento do filho relatado pelos profissionais da escola.
Para compreender a violência é essencial estudá-la.
Segundo May (1981, p.152/3) existem pelo menos cinco tipos reconhecíveis
de violência. São eles:
1. a violência simples, que é o protesto geral contra ser continuamente colocado
numa situação de impotência e implica a existência de elevadas exigências
de moralidade;
2. a violência calculada, onde a frustração e energia acumuladas são
direcionadas de forma calculada para atingir objetivos;
3. violência fomentada é uma estimulação da impotência e frustração sentidas
pelo povo para atingir os objetivos de um orador;
4. violência por omissão, onde sabemos, não concordamos, mas não nos
opomos;
5. violência que vem de cima, ou seja, aquela que pretende manter o status quo.
Entretanto esta não é a única classificação de tipos de violência encontrada
na literatura. Os tipos mais apontados são:
-A violência física é o uso por uma pessoa da força para ferir. Pode ou não
deixar marcas visíveis, tornando as agressões percebidas pelas pessoas que
convivem com o agredido. Por ser a forma mais fácil de perceber, é a que tem
apontado o maior número de casos. Muitas vezes o agressor está sob efeito de
álcool e pode intensificar o número e a gravidade dos ferimentos em sua vítima.
- Violência Psicológica é mais difícil de ser identificada e caracteriza-se pela
rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições
exageradas. Embora não deixe marcas visíveis na vítima, provoca cicatrizes
emocionais para toda a vida. Embora existam várias formas de violência psicológica
a mais comum é a mobilização emocional da vítima para satisfazer a necessidade
de atenção, carinho e de importância do agressor, ou então ele tenta fazer com que
a vítima se sinta inferior, dependente e culpada. Menosprezar a vítima, provocá-la ou
ameaçá-la também é violência psicológica.
- Violência verbal é quase sempre utilizada para oportunar e incomodar a
vítima, podendo ser utilizado um silêncio rancoroso, insultos, ofensas morais. Nem
sempre é fácil identificar este tipo de violência e as vítimas preferem silenciar
quando não há testemunhas, sendo que algumas vítimas chegam a sentir-se
culpadas por estarem “provocando” o agressso, levando-o a agir desta maneira. É
um dos tipos de violência mais comuns no ambiente escolar e muitas vezes é
ignorado por professores e pedagogos que se preocupam mais com as
consequências da violência física, ignorando que a violência verbal, principalmente
na adolescência leva a uma perda considerável da autoestima.
- A violência sexual é aquela na qual o agressor usa alguém sobre quem ele
exerce poder para obter prazer , sem seu consentimento. Desta forma induz sua
vítima a práticas sexuais envolvendo ou não violência física. Quase sempre as
vítima sofrem por sentir medo, vergonha, culpa e não costumam denunciar o
agressor. Muitas violências sexuais ficam ocultas e os agressores não são
processados. O número de casos aumentou bastante e o Ministério da Educação
lançou projetos e materiais para alertar os professores quanto aos sintomas
manifestados por crianças e adolescentes vítimas deste tipo de violência.
- Negligência é quando os responsáveis por alguém, que pode ser criança,
adolescente, idoso, ou dependente por qualquer motivo, não proporcionam o que é
necessário para atender as necessidades básicas para garantir sua sobrevivência e
seu desenvolvimento e os direitos básicos destas pessoas. Em alguns casos, os
danos causados pela negligência dos responsáveis podem ser permanentes e
graves.
Conhecer sobre a violência ajuda a tomar decisões, mas para ajudar a
prevenir seu surgimento nas escolas torna-se necessário organizar coletivamente
ações com todos os segmentos da escola. Concordamos com Reis (2009, p.2),
quando ele coloca o que cabe à instituição escola neste contexto:
“A escola é um lugar privilegiado para promover a cultura do respeito às diferenças, à diversidade e da inclusão social, rumo a uma verdadeira democracia em que todos os cidadãos e cidadãs possam conviver com igualdade e sem discriminação.
O papel da escola e das pessoas que trabalham na área da educação nesse processo é fundamental. É por meio da educação que a promoção desses tipos de cultura pode acontecer de forma mais efetiva, moldando novos valores e atitudes de respeito e paz, desconstruindo velhos e arraigadospreconceitos, formando cidadãos e cidadãs que constituirão uma sociedademais justa.” REIS (2009, p.2)
De acordo com o autor o diálogo entre professores e alunos pode ajudar a
resolver parte dos problemas vividos cotidianamente nas escolas; atitudes como a
de estabelecer com os alunos um contrato didático para organizar as ações durante
as aulas, as avaliações e as relações entre professores e alunos pode ajudar.
Proposições para enfrentamento a violência escolar
Existem algumas propostas para o enfrentamento à violência escolar
discutidas em todos os níveis de ensino. A nível federal, o Ministério da Educação e
Cultura organizou o projeto Escola que Protege, com o objetivo de trabalhar a
temática da violência nas escolas por meio da formação de profissionais e para
divulgar as redes de proteção sociais para romper com o ciclo de violência contra
crianças e adolescentes.
O projeto lançou a cartilha Escola que protege: formação de educadores(as)-
subsídios para atuar no enfrentamento a violência contra crianças e adolescentes, à
disposição no portal do MEC, com informações sobre como perceber sintomas de
violência nos alunos, conhecer a lesgislação vigente e apontar alternativas gerais de
encaminhamentos para as vítimas.
O Escola que Protege também oferta capacitação para educadores em
parceria com a Universidade Federal do Paraná, através de cursos cujas vagas são
ofertadas aos profissionais dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal,
além de ações como seminários, mesas redondas para divulgação das ações para
proteção contra a violência. As informações sobre o projeto se encontram em
http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=12361&Itemid=560 e podem auxiliar os
profissionais da educação no seu trabalho.
O Projeto Não-Violência existe desde 1998 em Curitiba, é uma organização
não governamental que faz parcerias com várias empresas e organizações; seu
projeto atua na capacitação de profissionais, com cursos que são ofertados
gratuitamente, apenas existem taxas de material e a certificação é também através
da Universidade Federal do Paraná.
Realizam também palestras e atividades contra a violência e pela cultura da
paz nas escolas, desde que solicitados e com agendamento prévio. Disponibilizam
vários textos no endereço http://www.naoviolencia.org.br/sobre-cultura-paz-artigos-
produzidos.htm e muitos profissionais da educação os utilizam em seu cotidiano.
Além dos dois projetos citados anteriormente, também se encontram
disponibilizados no portal diadiaeducacao alguns textos e também projetos,
produção didático pedagógicas e artigos finais de professores que cursaram o PDE
sobre a violência nas escolas. O endereço é
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?
conteudo=113, o professor poderá selecionar a área de seu interesse e acessar os
materiais produzidos.
A proposta do Colégio Estadual São Cristóvão
O Colégio Estadual São Cristóvão Ensino Fundamental e Médio está
localizado na região central do município de São José dos Pinhais, Área
Metropolitana de Curitiba. Até 1989 só existia a Escola Municipal Padre Pedro Fuss,
ofertando de primeira a oitava série do Ensino fundamental. Neste ano, houve um
período de greve nas escolas estaduais de 89 dias e o governo do Estado do
Paraná ofereceu ao prefeito da época a alternativa de municipalização de primeira a
quarta séries, com um valor pago por aluno que passasse a ser atendido nas
escolas municipalizadas. O estado passaria a ser responsável apenas por quinta a
oitava séries do ensino fundamental e pelas séries do ensino médio. Os prédios,
professores e funcionários das escolas estaduais que atendiam as séries iniciais do
ensino fundamental foram cedidas por empréstimo à Prefeitura Municipal.
As Escolas municipais que atendiam todas as séries do ensino fundamental
foram desmembradas em duas escolas, sendo a municipal atendendo as séries
iniciais do ensino fundamental, mantendo o mesmo nome e foi criada outra, sob
responsabilidade do sistema de ensino estadual com um novo nome, porém ficaram
compartilhando o prédio. O Colégio Estadual São Cristóvão foi criado para atender
os alunos das séries finais do ensino fundamental que eram da Escola Municipal
Padre Pedro Fuss. As duas escolas continuam até 2011 compartilhando o mesmo
prédio, mas para 2012 deverá estar pronto o prédio para a mudança da Escola
Municipal Padre Pedro Fuss.
O Colégio Estadual São Cristóvão foi um dos primeiros no município a
atender alunos encaminhados pelo programa Liberdade Assistida. São jovens
cumprindo as medidas sócio-educativas determinadas judicialmente devido a atos
infracionários cometidos. Neste programa eles são encaminhados ou
reencaminhados para retornarem ao sistema escolar, são acompanhados por
pedagogos, assistentes sociais e outros profissionais designados pela Prefeitura
Municipal por solicitação judicial e dos Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente e Conselho Tutelar.
Estes alunos traziam consigo históricos de violência, transgressão às normas
estabelecidas, abandono e negligência familiar. Foram recebidos e primeiro
conheceram o regimento escolar e o regulamento interno, atividade realizada junto
com os pedagogos da escola.
A Equipe Pedagógica estudava então em qual das turmas que já existiam no
colégio estes novos alunos poderiam ser inseridos e estimulados para se integrarem
e obter melhor rendimento na aprendizagem.
Os professores eram orientados de que receberiam aluno novo e solicitados a
diagnosticaram como estava sua situação de aprendizagem e relatarem, estes
dados eram então repassados ao pedagogo que faria o atendimento ao aluno no
Programa Liberdade Assistida. Para não gerar situações difíceis, não se relatava
nunca aos professores que o aluno era do Programa Liberdade Assistida, apenas
era um novo aluno que chegava à escola.
Os funcionários que atuam no pátio sabiam que os alunos eram do Programa
Liberdade Assistida, isto era necessário pois tinham que observar fatos como trazer
para a escola objetos não permitidos, fazer-se acompanhar de pessoas que não
eram alunos e outros. Estes dados também eram repassados ao programa.
Após alguns casos e dois anos depois do início do trabalho surgiu uma
espécie de fama de que o Colégio é tão bom que dá conta de ajudar estes alunos a
mudar e a procura por vagas cresceu muito. Depois de dezoito anos de luta pela
ampliação e reforma da escola, ela aconteceu agora em 2011; é bom lembrar que o
prédio original da escola foi construído pela comunidade no terreno doado pela
paróquia São Cristóvão, da qual a escola recebeu o nome.
Esta sempre foi uma escola da comunidade, a dificuldade foi que a
proximidade do centro da cidade tornou o bairro alvo de especulação imobiliária. Os
terrenos antigos eram grandes e primeiro foram comprados e surgiram neles ao
invés de uma casa, de três a cinco sobrados; agora em cada lote surgem pequenos
prédios de aproximadamente quatro andares, com dezesseis apartamentos. Mais
gente morando, mais crianças e adolescentes, mais alunos.
Com a instalação das montadoras de automóveis em São José dos Pinhais
houve também a vinda de trabalhadores de todas as regiões do país, todas as
etnias, todo o repertório cultural diferente daquele ao qual os alunos do colégio
pertenciam e isto foi um dos elementos que passaram a gerar conflitos e atos de
violência no entorno do colégio.
Neste ano estamos com dois pedagogos cursando o PDE e articulamos
sempre que possível os dois trabalhos, um sobre a função social da escola e este
sobre a prevenção da violência. Desta forma decidimos por ações integradas com as
diferentes instâncias colegiadas para iniciar os dois trabalhos.
Antes mesmo de iniciar as discussões, poderemos recorrer a uma pesquisa
por amostragem com a comunidade escolar para descobrir qual o conceito de
violência que já construíram e que tipo de violência é mais comum encontrarem no
colégio e quais ações poderão ser realizadas na escola para diminuir os episódios
de violência cotidianos.
As sugestões de ações serão encaminhadas ao Conselho Escolar para
implementação e ocorrerão reuniões para avaliação e decisão de continuidade do
trabalho com os alunos. Lembrando que as reuniões serão realizadas algumas em
horário escolar e outras em contraturno, pois são alunos dos três turnos. Como as
propostas serão decididas pelos alunos, ainda não podemos prevê-las.
Quanto ao professor, embora nem sempre tenha recebido formação quanto
ao uso de estratégias e conteúdos para o enfrentamento à violência, temos que
reconhecer que o processo de formação continuada desenvolvido através de
estudos, debates e discussão de questões que afetam a prática do professor em
sala de aula, oferecido pelo sistema ou pela escola pode facilitar o estabelecimento
de práticas adequadas ao trabalho cotidiano com o aluno.
Royer (2009, p.260) afirma que
“Mas se você observar professores corretamente formados em ação, você logo verá que eles são capazes de estabelecer, frente a seus alunos, regras e expectativas claras com relação a comportamento e a aprendizado, de gerar efeitos corretivos e retrospectivos de natureza positiva, quando necessário, de usar repreensões quando preciso e de incentivar o desenvolvimento das capacidades sociais e do autocontrole entre seus alunos.”
O pedagogo tem o papel de articular o processo de planejamento das
atividades escolares, juntamente com os professores. Nas Diretrizes Curriculares e
na legislação já estão colocados conteúdos que devem ser desenvolvidos em sala
de aula e que podem ajudar a prevenir atitudes de violência através do
conhecimento. São as questões da diversidade, assim chamadas para tornar
evidente que deixam óbvia a diferença possível entre a população, sejam em
questões como gênero, etnia, padrões de estética, classes sociais, gente do campo
e gente da cidade e outras
Quando da implantação das leis 10639 e 11645 as escolas já fizeram a
inserção dos conteúdos sugeridos pelo Ministério da Educação e foram enviados às
escolas diversos materiais que podem auxiliar o professor desde na sua
fundamentação teórica, até na possibilidade de utilização em sala de aula com os
alunos, através de livros enviados para a biblioteca do professor e/ou biblioteca da
escola; a TVEscola produziu e/ou adquiriu vários documentários que foram
entregues em Dvd em várias séries, apresentadas em caixas para as escolas.
No entanto, o material preparado pelo Ministério da Educação contra a
homofobia foi criticado severamente e não será distribuído às escolas e existem
poucos materiais disponíveis na escola sobre a questão de gênero; encontramos
alguns textos, quase todos sobre a questão histórica da mulher.
Para pensar quais conteúdos possam ser inseridos nas Propostas
Pedagógicas é indispensável então que o pedagogo ajude os professores na
seleção destes materiais de fundamentação, que promova encontros entre
professores para que possam trocar experiências e inclusive contar sobre
atitividades das quais participaram e que foram sobre a temática em estudo.
Promover o debate das questões é uma ação que necessita ser realizada, pois o
preconceito e a discriminação estão presentes na vida de todos os professores e
funcionários e é preciso começar com a mudança pessoal de conceitos para acabar
com os preconceitos existentes. Este deverá ser um trabalho envolvendo toda a
escola e não apenas os professores, pois será de grande valor identificar os
preconceitos existentes entre os alunos,os pais, os professores e os funcionários e
isto poderá ser feito por meio de questionários e questionamentos em momentos
agendados com todos para facilitar a participação.
Com os dados coletados e organizados os professores poderão articular os
conteúdos a serem trabalhados e organizar seus planos de trabalho docente. Isto
ocorrerá durante as hora atividades dos professores, com a maior concentração
possível de professores e em reunião pedagógica previksta no calendário escolar.
Na continuidade do processo, aqueles conteúdos que forem considerados como de
melhores resultados poderão ser inseridos na Proposta Pedagógica.
Concordamos com Sacristán (2000, p.150)
A reflexão sobre a justificativa dos conteúdos é para os professores um motivo exemplar para entender o papel que a escolaridade em geral cumpre num determinado momento e, mais aspecificamente, a função do nível ou especialidade escolar na qual trabalham. O que se ensina, sugere ou se obriga a aprender expressa valores e funções que a escola difunde num contexto social e histórico concreto.
Com os funcionários as atividades serão realizadas em dias e horários
marcados como reunião de trabalho e suas sugestões também serão encaminhadas
ao Conselho Escolar para discussão e implementação.
Com os pais haverá uma palestra no dia da entrega de boletins e as suas
sugestões também serão encaminhadas ao Conselho Escolar para implentação.
Será um processo longo de construção coletiva com ações de implementação
imediata e uma perspectiva de continuidade, pois obter alguns resultados sempre
incentiva novas ações, novos debates, o reorganizar continuamente as ações
pedagógicas.
CONCLUSÃO
Sabe-se que a prevenção da violência no ambiente escolar é necessária e
urgente, mas também sabe-se que não é um trabalho a ser realizado
individualmente. O debate sobre o que fazer tem que ser uma realização coletiva e
as decisões também terão que sê-lo.
As atribuições de cada pessoa da escola terão de ser decididas coletivamente
e na sua realização deverá haver conscientização da importância e do papel de
cada um para atingir o objetivo maior da comunidade escolar que é a diminuição das
atitudes violentas no interior e no entorno da escola.
As relações que estabecer-se-ão entre a teoria e a prática no desenvolver do
trabalho poderão suscitar novas questões, como quais metodologias de trabalho
poderão ser mais indicadas para cada faixa etária, que recursos trarão melhores
resultados, quais estratégias funcionarão melhor para o trabalho com os pais.
O trabalho coletivo é essencial na escola, podendo ser difícil realizá-lo no
início das atividades, mas a tendência é que ao utilizá-lo, ele se torne cada vez mais
necessário às pessoas.
Mudar atitudes é possível, mas para isso acontecer todos devem assumir que
é isto o que desejam fazer e que as tarefas devem ser compartilhadas e as críticas
que ocorram durante o processo são importantes para ajudar a redimensionar todos
os esforços para atingir o objetivo comum. Todos podem contribuir e mais do que
apenas conhecimento, a experiência de trabalho coletivo, com todas as diversidades
que o compõem, pode ensinar a conviver com a diferença, aceitando-a como
positiva no espaço escolar.
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