BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi...

31
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA BRUNO VALCANAIA ZANINI LEVI DUTRA COSTA AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE UNIÃO DE SISTEMAS ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES EM ESMALTE DESGASTADO Itajaí (SC) 2007

Transcript of BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi...

Page 1: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ODONTOLOGIA

BRUNO VALCANAIA ZANINI

LEVI DUTRA COSTA

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE UNIÃO DE SISTEMAS ADESIVOS

AUTOCONDICIONANTES EM ESMALTE DESGASTADO

Itajaí (SC) 2007

Page 2: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

BRUNO VALCANAIA ZANINI

LEVI DUTRA COSTA

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE UNIÃO DE SISTEMAS ADESIVOS

AUTOCONDICIONANTES EM ESMALTE DESGASTADO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Prof. Dr. Rubens Nazareno Garcia

Itajaí (SC) 2007

Page 3: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

AGRADECIMENTOS

Agradecemos inicialmente a Deus, por ter concedido o dom da vida.

Agradecemos aos nossos pais, sem os quais não teríamos alcançado a vitória

em mais uma batalha de nossas vidas.

Agradecemos aos nossos colegas, cuja participação em nossa formação foi

fundamental. Agradecemos também os grandes amigos e parceiros que nos deram

força e apoio: Serginho e Josué.

Agradecemos ao nosso orientador, Prof. Dr. Rubens Nazareno Garcia, pela

paciência, pela sabedoria em orientar, pelos conhecimentos transmitidos.

Agradecemos ao Ivan, que não mediu esforços para ajudar-nos no decorrer dos

momentos mais decisivos da pesquisa, mesmo estando muito atarefado.

Agradecemos aos funcionários pela colaboração na execução da pesquisa,

agendando horários para a ocupação do espaço físico como clínica e pré-clínica.

Page 4: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE UNIÃO DE SISTEMAS ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES EM ESMALTE DESGASTADO Bruno Valcanaia ZANINI e Levi Dutra COSTA Orientador: Prof. Dr. Rubens Nazareno GARCIA Data de defesa: setembro de 2007 Resumo: O conceito de união aos tecidos duros dentais é baseado na infiltração de sistemas adesivos em esmalte e dentina, no processo chamado de hibridização. O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência de união ao microcisalhamento de sistemas adesivos autocondicionantes em esmalte bovino desgastado e discutir alguns conceitos que envolvem esses adesivos no substrato esmalte. Incisivos bovinos foram preparados com auxílio de lixas de carbeto de silício até obtenção de amostras de aproximadamente 150mm2, com a superfície vestibular desgastada sem expor dentina. O sistema adesivo convencional Adper Single Bond 2 (3M Espe) de dois passos clínicos, os sistemas adesivos autocondicionantes One-Up Bond F Plus (Tokuyama Dental) e Hybrid Bond (Sun Medical) de um passo clínico, e o compósito restaurador Filtek Z250 foram aplicados segundo as instruções dos fabricantes. Matrizes transparentes (Tygon tubing) foram posicionadas sobre cada amostra de esmalte hibridizado e preenchidas em seu volume interno com o compósito restaurador Filtek Z250 (3M Espe). Após fotoativação, as matrizes foram removidas e expostos os corpos-de-prova que foram armazenados em água destilada a 37ºC por 24 horas. Decorrido esse período, os corpos-de-prova foram unidos ao dispositivo de teste e ensaiados em uma máquina universal de ensaios (EMIC DL 500), a uma velocidade de 0,5mm/min. A resistência de união foi calculada em MPa±DP e os dados analisados estatisticamente pela Anova e teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Os resultados indicaram que a aplicação do sistema adesivo Adper Single Bond 2 resultou na maior média de resistência de união (11,33±2,47), com diferença estatisticamente significativa em relação aos adesivos Hybrid Bond (7,23±4,55) e One-Up Bond F Plus (7,14±2,40), que não apresentaram diferença estatística entre si. Os resultados sugerem que a união ao esmalte desgastado parece ser mais instável para os adesivos autocondicionantes em relação ao adesivo convencional testado, que utiliza o ácido fosfórico. Palavras-chave: esmalte, microcisalhamento, sistemas adesivos odontológicos.

Page 5: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 05 2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................. 07 2.1 Esmalte dental................................................................................................... 07 2.2 Estratégias de união.......................................................................................... 09 2.3 Ensaios de resistência de união...................................................................... 13 3 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................... 15 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS................................................................ 19 5 DISCUSSÃO........................................................................................................... 20 6 CONCLUSÕES.......................................................................................................

24

Page 6: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

1 INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios da Odontologia tem sido promover uma união forte e

duradoura entre os substratos dentais e os compósitos restauradores. Buonocore

(1955) introduziu a técnica de condicionamento do esmalte dental usando o ácido

fosfórico a 85% por 1 minuto, e esse procedimento proporcionou a retenção de resina

acrílica ao esmalte. A maioria dos condicionadores ácidos disponíveis atualmente no

mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos convencionais,

utiliza o ácido fosfórico na concentração de 30 a 40%, aplicados por 15 a 30 segundos.

No esmalte, esse procedimento resulta em microporosidades que variam de 5 a 50µm

de diâmetro. (SILVERSTONE et al., 1975).

Os sistemas adesivos dentários vêm sofrendo inúmeras modificações de

conteúdo e técnica desde 1956, quando Buonocore et al. idealizaram o primeiro agente

de união. Meio século de estudos laboratoriais e clínicos, associados à valorização dos

procedimentos restauradores estéticos, têm aumentado o número de indicações das

restaurações adesivas, apesar da dificuldade em se promover uma união mais confiável

aos substratos dentais. (GIANNINI et al., 2003).

Os substratos esmalte e dentina podem receber um tratamento simplificado

usando monômeros mais ácidos e hidrófilos para condicionar suas superfícies e

penetrá-las simultaneamente. Monômeros com estas características ácidas são

empregados nos sistemas adesivos autocondicionantes. Em 1999 foi introduzido no

mercado odontológico o conceito do sistema adesivo all-in-one ou “todos em um”. Essa

denominação refere-se à incorporação de monômeros ácidos, solventes, diluentes e

Page 7: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

água em uma única solução (ou em duas soluções, mas somente um passo clínico) que

desempenha as funções de desmineralização, primer, adesivo e posterior

copolimerização com o material restaurador. De acordo com este conceito, a solução

ácida é aplicada através de um único passo clínico sobre a superfície do esmalte para

promover a dissolução da hidroxapatita e criar o padrão de condicionamento.

(MIYAZAKI et al., 2000). Após leve secagem, forma-se uma fina camada do adesivo na

superfície do esmalte, suficiente para promover a retenção micromecânica do material

restaurador. (FREY, 2000).

Segundo os autores Pashley e Tay (2001) e Van Meerbeek et al. (2003), o

padrão de condicionamento nos sistemas adesivos chamados de “todos em um”, tanto

em esmalte hígido quanto desgastado, tem mostrado ser similar àquele obtido com o

ácido fosfórico em análise de microscopia eletrônica de varredura. Apesar disso, outros

trabalhos têm relatado que esses produtos resultam em valores de resistência de união

inferiores aos obtidos com os adesivos convencionais que utilizam o ácido fosfórico

como condicionador. (DE MUNCK et al., 2003; LOPES et al., 2004). Como o bom

desempenho clínico de restaurações em compósitos restauradores é dependente

também de uma efetiva união ao esmalte, os testes de resistência de união podem

representar um bom recurso laboratorial para predizer e fundamentar indicações

clínicas.

O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência de união ao microcisalhamento

de sistemas adesivos autocondicionantes em esmalte bovino desgastado e discutir

alguns conceitos que envolvem esses adesivos no substrato esmalte.

6

Page 8: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Esmalte dental A composição do esmalte, substância protetora que recobre a coroa dentária, é o

mais duro dentre os tecidos biológicos mineralizados do corpo humano. (GWINNETT,

1992). Ele propicia a forma e o contorno para as coroas dentárias e consiste

principalmente de material inorgânico (96%) e apenas uma pequena quantidade de

substância orgânica e água (4%). (SHARAWY;YAEGER, 1989).

Segundo Gwinnett (1992), o principal componente inorgânico do esmalte é a

apatita que se apresenta nas formas de hidroxapatita, fluorapatita e carbonoapatita. Os

elementos químicos que compõem a base deste tecido são o cálcio e o fosfato; e

variações secundárias ocorrem na composição do esmalte, nas quais elementos

químicos como alumínio, bário, estrôncio, rádio e vanádio também podem ser

encontrados.

O esmalte dentário é composto por unidades microscópicas denominadas

prismas que seguem desde a junção amelodentinária até a superfície do dente.

Quando submetidos a uma secção transversal, os prismas de esmalte se assemelham

a um padrão chamado de “buraco de fechadura”. Estes prismas medem

aproximadamente 5µm de largura em média, correspondente à porção central

denominada corpo do prisma, e 9µm de comprimento, que se estende do corpo até a

região mais inferior do prisma denominada cauda. A porção do corpo dos prismas está

próxima da superfície oclusal ou incisal do esmalte, enquanto que a cauda aponta mais

Page 9: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

cervicalmente. O diâmetro dos prismas aumenta, desde a superfície amelodentinária

até a porção mais externa, numa relação de 1:2. (SHARAWY;YAEGER, 1989). Uma

substância interprismática pode ser observada em algumas regiões. Acreditava-se que

essa substância apresentava características cimentantes mantendo os prismas de

esmalte unidos. Porém, parece que a própria estrutura cristalina única dos prismas é

responsável pelo seu caráter coesivo. (GWINNETT, 1992).

A composição e estrutura do esmalte proporcionam propriedades físicas

particulares a este tecido. Devido ao alto conteúdo inorgânico, a dureza do esmalte,

expressa em relação à deformação, varia entre 200 e 500 Knoop. Tal variação pode ser

atribuída aos diferentes planos do esmalte utilizados nos testes de dureza, o que

implica no fato de que os prismas são submetidos aos testes mediante diferentes

orientações. (SHARAWY;YAEGER, 1989).

O esmalte possui um alto módulo de elasticidade e uma resistência à tração

relativamente baixa, conferindo-lhe características de friabilidade. As forças complexas

que atuam sobre o esmalte durante a ação fisiológica da mastigação são dissipadas em

direção à dentina através da forma e da natureza da junção amelodentinária. Esta inter-

relação estrutural e física entre um tecido friável e um tecido resiliente (dentina), através

da junção amelodentinária, proporciona ao dente um comportamento biomecânico

característico em que a dentina protege o esmalte. Desta forma, os dentes são capazes

de absorver e dissipar as forças provenientes da ação fisiológica da mastigação e da

flutuação térmica a que a estrutura dental é submetida durante toda a vida. (TEN CATE,

1994).

Estudos de Coradazzi et al. (1998) avaliaram o uso de dentes bovinos para

ensaios de resistência de união, e não encontraram diferenças significativas entre

8

Page 10: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

dentina humana e dentina bovina. Mais recentemente, Reis et al. (2004) também

avaliaram, em ensaios de resistência de união, esmalte e dentina de dentes humanos,

bovinos e suínos. Concluíram que estudos realizados com dentes bovinos têm gerado

importantes informações no que se refere aos conceitos de união à estrutura dental e

que, embora dentes humanos sejam preferidos, dentes bovinos são os melhores

substitutos nesse tipo de ensaio.

2.2 Estratégias de união

A efetividade de união à superfície do esmalte (GWINNETT;MATSUI, 1967) e à

dentina (NAKABAYASHI et al., 1982) com o uso dos condicionadores ácidos promoveu

mudanças significativas nos conceitos restauradores. As estratégias de união dos

diferentes materiais à estrutura dental têm se estabelecido como o fator mais importante

no procedimento restaurador; e os primeiros sistemas adesivos envolviam múltiplas

fases de aplicação técnica, o que os tornavam muito complexos. No estágio atual de

desenvolvimento, tanto o esmalte quanto a dentina podem receber um tratamento

simplificado através dos sistemas adesivos autocondicionantes.

Reportando-se especialmente ao substrato esmalte, ocorre a penetração e

polimerização dos monômeros resinosos nos espaços entre os cristalitos de

hidroxapatita criados pelo ácido. Nos estudos de Gwinnett e Matsui (1967), os autores

observaram a relação física entre os diferentes materiais restauradores e o tecido do

esmalte condicionado com solução de ácido fosfórico a 50%. As imagens obtidas em

microscopia eletrônica de varredura revelaram prolongamentos de resina que variaram

entre 10µm e 25µm de comprimento.

9

Page 11: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

Os estudos de Di Hipólito (2005) relatam claramente que o mecanismo através

do qual os monômeros resinosos interagem com o substrato do esmalte é decorrente

de uma seqüência de fenômenos interdependentes. O processo inicia-se com o

condicionamento ácido do esmalte, que promove o aumento dos espaços inter e

intraprismáticos proporcionando uma superfície mais receptiva para a infiltração dos

monômeros resinosos. Segue-se com a remoção do ácido e seus subprodutos, através

de abundante lavagem com água, o que produz um acréscimo de energia de superfície

do esmalte. Esta elevação é resultado do processo de dissolução seletiva dos prismas,

aumentando a área de superfície do esmalte e, conseqüentemente, de sua energia

livre. Isto contribui para a quebra da tensão superficial do líquido monomérico e a

formação de menor ângulo de contato com a superfície do esmalte, resultando em

melhor umedecimento do substrato. Após a aplicação do adesivo, os monômeros

resinosos são prontamente absorvidos por capilaridade para o interior das

microporosidades criadas pelo tratamento ácido. Os cristais de hidroxapatita são

envolvidos por estes monômeros e, através de um processo de polimerização, forma-se

uma zona híbrida, que passou também a ser conhecida como camada híbrida, a

exemplo de como é chamado o processo que ocorre em dentina. As microrretenções

mecânicas formadas nesta camada representam a principal forma de união dos

materiais restauradores resinosos ao substrato esmalte.

A forma mais popularizada dos sistemas adesivos convencionais é representada

por sistemas simplificados que empregam apenas dois passos operatórios ou clínicos.

Nestes produtos, os componentes hidrófilos do primer e os componentes hidrófobos do

adesivo estão balanceados quimicamente e reunidos em um só frasco. E ambos os

10

Page 12: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

sistemas convencionais de dois e três passos proporcionam adequada união ao

esmalte. (VAN MEERBEEK et al., 2003).

O estágio evolutivo dos sistemas adesivos autocondicionantes ocorreu

principalmente na década de 90. Aqueles de dois passos são compostos basicamente

por monômeros ácidos e derivados, monômeros hidrófilos e água, contidos em um

frasco (primer ácido); enquanto que um segundo frasco apresenta concentrações

balanceadas de monômeros hidrófilos e hidrófobos. (MIYAZAKI et al., 2000). Neste

processo não é necessário lavar a superfície do substrato após o condicionamento

ácido, e os produtos da desmineralização ou resíduos do condicionador ácido são

incorporados e polimerizados juntamente com o agente de união (PERDIGÃO et al.,

1997; GARCIA, 2006).

Os fabricantes, no entanto, não abandonaram a tendência de tornar os sistemas

adesivos autocondicionantes ainda mais simples. Em 1999, o mercado odontológico

recebeu o primeiro adesivo dessa categoria em somente um passo clínico, o Prompt L-

Pop (3M Espe). Nesta versão, esse fabricante uniu o primer ácido com a resina adesiva

dos produtos de dois passos. Esse produto, conhecido como “todos em um”, promove a

dissolução da hidroxapatita e infiltração dos monômeros através de um único passo

clínico. Após leve secagem, forma-se uma fina camada do adesivo na superfície do

esmalte, a qual é capaz de promover a retenção micromecânica do material

restaurador. (FREY, 2000; TORII et al., 2002).

Dependendo da agressividade do condicionamento, eles podem ser subdivididos

em fortes, moderados e suaves. Os produtos considerados fortes usualmente têm pH 1

ou abaixo de 1, como por exemplo o Adper Prompt L-Pop (3M Espe), o Xeno III

(Dentsply), e o Tyrian SPE (Bisco); e a alta acidez resulta em uma desmineralização

11

Page 13: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

mais profunda. Para os adesivos autocondicionantes moderados o pH está em torno de

1,5 – Optibond Solo Plus SE/Kerr, AdheSE/Ivoclar Vivadent, One-Up Bond F

Plus/Tokuyama Dental - e a desmineralização não é tão profunda. Geralmente os

adesivos autocondicionantes chamados de suaves têm pH em torno de 2. Exemplos

desses produtos são o iBond (Heraeus Kulzer), o UniFil Bond (GC), o Clearfil SE Bond

e o Clearfil S3 Bond ou tri-S Bond (ambos da Kuraray), e o Hybrid Bond/Sun Medical; e

ocorre uma desmineralização parcial e menos agressiva do substrato dental,

conservando hidroxapatita. De qualquer modo, suficiente porosidade na superfície é

criada para obter uma união micromecânica para a hibridização. (DE MUNCK et al.,

2005; YOSHIDA et al., 2004; VAN LANDUYT et al., 2007).

Menor capacidade de condicionamento, no entanto, tem sido relatada

principalmente na superfície de esmalte de dentes permanentes íntegros, devido ao seu

pH ser maior em relação ao ácido fosfórico (PASHLEY;TAY, 2001; WANG et al., 2004).

Conseqüentemente, os valores de resistência de união são menores (HARA et al.,

1999; PERDIGÃO;GERALDELI, 2003), sugerindo, dessa forma, menor efetividade na

prevenção da infiltração marginal. Diante disso, recomenda-se que a superfície do

esmalte seja previamente cortada ou desgastada quando utilizado um sistema

autocondicionante para o procedimento restaurador (KANEMURA et al., 1999; HANNIG

et al., 1999). Estudos de Tay et al. (2004) afirmam que a retenção dos sistemas

autocondicionantes ao esmalte será sempre maior quando a camada aprismática for

removida; e Marquesini Júnior et al. (2003) aconselham que para melhorar a retenção

dos sistemas autocondicionantes deve-se aplicar o produto sob agitação ou estender o

tempo de aplicação em 20-30s, ou ainda, realizar um condicionamento ácido prévio da

superfície com ácido fosfórico por 5-10s.

12

Page 14: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

2.3 Ensaios de resistência de união

A análise racional que envolve esses métodos de ensaio é que quanto mais forte

a união entre os dentes e os materiais, melhor desempenho será obtido frente às

tensões geradas pela contração de polimerização e desafios da cavidade bucal.

Diferentes ensaios de resistência de união têm sido desenvolvidos e utilizados, como os

de microcisalhamento (MCDONOUGH et al., 2002; SHIMADA et al., 2002; GARCIA

et al., 2007), mas os ensaios de resistência de união ao cisalhamento e microtração são

os mais utilizados. (PASHLEY et al., 1999; DE MUNCK et al., 2005; GARCIA, 2006).

Segundo Escribano et al. (2003), uma união durável entre materiais

restauradores poliméricos e as estruturas duras dentais é um importante parâmetro

para o sucesso de restaurações dentais; e para determinar o desempenho de um

sistema adesivo odontológico, sua resistência mecânica é usualmente mensurada

determinando a resistência de união ao cisalhamento e/ou à tração. Afirmam que esta

avaliação é controversa quando comparados dados de resistência de união de

diferentes autores, devido às variações nas técnicas empregadas, e também às

diferentes condições sob as quais os substratos são conservados ou utilizados. Os

autores ainda citam que os resultados dos diversos tipos de ensaios de resistência de

união com o carregamento de cisalhamento ou de tração dependem principalmente da

área testada; e que é mais provável achar um defeito que inicia a fratura em uma área

maior do que em uma menor.

Para solucionar estes problemas relacionados à propagação de tensões,

principalmente relacionados às áreas maiores, Sano et al. (1994) desenvolveram os

ensaios de microtração, e muitos desses ensaios têm sido realizados e as informações

13

Page 15: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

deles derivadas tornaram-se um efetivo método em termos de análise de pequenas

áreas de interface adesiva. Para os ensaios de microtração, no entanto, o corte das

amostras é um passo indispensável para confeccionar os corpos-de-prova; fator que

pode levar a perda do corpo-de-prova prematuramente, em função do substrato e/ou

material ensaiado.

Os dados obtidos dependem dos fatores experimentais, como por exemplo, o tipo

de sistema adesivo ou compósito, o tamanho e geometria do corpo-de-prova, e tipo de

ensaio. (VAN NOORT et al., 1991; PHRUKKANON et al., 1998). Portanto, os valores

absolutos obtidos nos ensaios não podem ser utilizados de forma conclusiva, ou ser

comparados com os dados obtidos em outros estudos. Apesar disso, os ensaios de

resistência de união podem proporcionar valiosas informações clínicas, quando obtidos

em estudos devidamente delineados. (DE MUNCK et al., 2005).

Outro método para análise de pequenas áreas de interface adesiva tem sido

preconizado, e denomina-se ensaio de microcisalhamento. McDonough et al. (2002) e

Shimada et al. (2002) descreveram essa metodologia e citam que não é necessário o

passo que envolve o corte das amostras em formato de palitos ou de ampulheta, como

ocorre com os ensaios de microtração. Esse método permite que vários corpos-de-

prova sejam obtidos a partir de uma amostra de esmalte, dentina (ou outro substrato),

em função das superfícies de união serem muito pequenas (aproximadamente 0,4mm²),

sendo versátil e de grande utilidade para avaliar a resistência de união entre tecidos

mineralizados e materiais restauradores poliméricos. A padronização na confecção dos

corpos-de-prova pode ser obtida, visto que é um fator importante na condução de

estudos de resistência e durabilidade da união dos sistemas adesivos, tanto para os

convencionais ou os autocondicionantes.

14

Page 16: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados 39 incisivos bovinos recém-extraídos e armazenados em

congelador até a confecção dos corpos-de-prova. As raízes foram seccionadas com

disco flexível diamantado dupla face (Ref. 7016, KG Sorensen, Barueri, SP, Brasil) sob

refrigeração. Com auxílio de lixas de carbeto de silício de granulação nº 100

(Carborundum, Vinhedo, SP, Brasil), que estavam montadas em uma politriz elétrica

giratória horizontal refrigerada à água (Modelo APL-4, Arotec, Cotia, SP, Brasil), as

superfícies de esmalte proximais, incisais e linguais foram desgastadas. As faces

vestibulares também foram desgastadas sem expor dentina, até a obtenção de

amostras com aproximadamente 150mm2 – 15mm de altura, 10mm de largura e 4mm

de espessura (Figura 1), que foram divididas aleatoriamente em 3 grupos (n=13).

Figura 1 – Amostra dental (150mm2) com face vestibular desgastada.

Os materiais utilizados e os procedimentos de união estão descritos no Quadro 1

e ilustrados na Figura 2. Um sistema adesivo convencional de dois passos clínicos

(Single Bond), dois sistemas adesivos autocondicionantes de um passo clínico (One-Up

Bond F Plus e Hybrid Bond) e um compósito (Filtek Z250) foram avaliados.

Page 17: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

Material, fabricante, lote/val. Composição Procedimentos de união

Condicionador ácido - pH 0,6 Adper Single Bond 2 - pH 4,7 3M ESPE, St Paul, MN, USA Lote: 6HM Validade: 06/2009

Ácido fosfórico 35% Dimetacrilatos, HEMA, PAA, sílica coloidal silanizada de 5nm, etanol, água, fotoiniciador

Condicionamento - aplicar 15s, lavar 10s, secar Adesivo - aplicar 2 camadas, ar 2/5s, fotoativar 10s

One-Up Bond F Plus TOKUYAMA DENTAL, Tokyo, Japan - pH 1,2 (misturado) Lote: N10784 Validade: 07/2007

Agente A: MAC-10, fotoiniciador, ácido metacriloilalquil fosfato, monômero metacrílico multifuncional Agente B: MMA, HEMA, água, micropartículas liberadoras de fluoretos, fotoiniciador

Agitar os frascos e misturar os agentes A e B, aplicar e esperar 20s, remover excesso com ponta aplicadora, fotoativar 10s

Hybrid Bond SUN MEDICAL, Shiga, Japan - pH 2,5 Lote: LG1 Validade: 01/2008

Líquido: água, acetona, 4-META, acrilatos polifuncionais, monometacrilatos, fotoiniciador, estabilizador Ponta aplicadora: p-sulfinato tolueno de sódio e aminas aromáticas

Dispensar o líquido, agitar o líquido com a ponta aplicadora, aplicar e esperar 20s, ar 5/10s, fotoativar 10s

Filtek Z250 – cor B2 3M ESPE Lote: 6XB Validade: 06/2009

Bis-GMA, UEDMA, Bis-EMA, partículas inorgânicas de zircônia/sílica (60% em volume)

Aplicar e fotoativar 20s

Abreviações: HEMA = 2-hidroxietilmetacrilato; PAA = co-polímero de ácido polialcenóico; MAC-10 = ácido 11-metacriloxi-1,1-undecanodicarboxílico; MMA = metil metacrilato; 4-META = 4-metacriloxietil trimelitato anidrido; Bis-GMA = bisfenol-glicidil-metacrilato; UEDMA = uretanoetil dimetacrilato; Bis-EMA = bisfenol-polietileno glicol dimetacrilato.

Quadro 1 - Materiais utilizados, composições e procedimentos de união.

Figura 2 – Sistemas adesivos utilizados nos procedimentos de união.

Os sistemas adesivos autocondicionantes e o compósito restaurador foram

aplicados de acordo com as instruções dos fabricantes. Os grupos experimentais

avaliados foram: [1] aplicação do Single Bond em esmalte desgastado e confecção do

cilindro de Z250; [2] aplicação do One-Up Bond F plus em esmalte desgastado e

16

Page 18: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

confecção do cilindro Z250; aplicação do Hybrid Bond em esmalte desgastado e

confecção do cilindro Z250.

A metodologia desenvolvida por McDonough et al. (2002) e Shimada et al.

(2002) foi utilizada para preparar os corpos-de-prova para o ensaio de

microcisalhamento (n=13). Três matrizes transparentes cilíndricas (Tygon tubing, TYG-

030, Saint-Gobain Performance Plastic, Maime Lakes, FL, USA) foram posicionadas

sobre o esmalte desgastado de cada amostra, as quais foram preenchidas em seu

volume interno (0,7mm) com o compósito restaurador usando uma sonda exploradora

nº 5 modificada (SSWhite/Duflex, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Todos os procedimentos

de fotoativação foram realizados com o aparelho fotopolimerizador Optilight 600

(Gnatus, Ribeirão Preto, SP, Brasil), com potência de 600mW/cm2. Na seqüência as

matrizes foram removidas como auxílio de lâminas afiadas (Gillette, São Paulo, SP,

Brasil), para expor os pequenos cilindros de compósito (0,7mm de diâmetro por 1,0mm

de altura) com área de união de 0,38mm2 (fórmula πR2), unidos à superfície de esmalte

desgastado. Então, três cilindros de compósito (corpos-de-prova) foram fixados em

cada amostra dental (Figura 3) e armazenados em água destilada 37 °C por uma

semana. Decorrido este período, os corpos-de-prova foram unidos ao dispositivo de

teste com cola de cianoacrilato gel (Super Bonder, Loctite, Itapevi, SP, Brasil) e

testados em uma máquina universal de ensaios (EMIC DL 500, São José dos Pinhais,

Pr, Brasil). O carregamento de cisalhamento foi aplicado na base dos cilindros com um

fio de aço (0,2 mm de diâmetro) à velocidade de 0,5mm/min até o rompimento da união.

A Figura 4 ilustra esquematicamente a metodologia utilizada.

17

Page 19: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

Figura 3 - Cilindros de compósito aderidos à amostra dental.

Figura 4 - Representação esquemática da metodologia utilizada.

A resistência de união ao microcisalhamento de cada cilindro foi calculada e

expressa (MPa) por um computador ligado à máquina de ensaios, através do Programa

MTest 2.00, tendo sido feita a média de três cilindros para cada corpo-de-prova. Os

resultados foram analisados estatisticamente pela Análise de Variância (ANOVA) e pelo

teste de Tukey ao nível de 5% de significância.

Média de 3 cilindros = 1 CP

Amostra de esmalte desgastado (150mm2)

Matriz Tygon 0,7mm

Cilindro de

compósito

18

Page 20: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A Análise de Variância mostrou que houve diferença estatisticamente

significativa entre os sistemas adesivos, e o Teste de Tukey identificou as diferenças,

ao nível de 5% de significância. As médias da resistência de união ao

microcisalhamento estão apresentadas na Tabela 1, e os valores individuais

apresentados nos anexos A, B e C.

Tabela 1 - Médias da resistência de união ao microcisalhamento (MPa± DP), valores mínimos e máximos.

Grupos Médias Valores

Mínimos Valores

Máximos

[1] Adper Single Bond 2 (SB) 11,33 ± 2,47 a

8,20 16,65

[3] Hybrid Bond (HB)

7,23 ± 4,55 b

2,95

9,11

[2] One-Up Bond F Plus (OU) 7,14 ± 2,40 b 2,90 9,85

Médias seguidas por letras distintas diferem estatisticamente entre si ao nível de 5% de significância.

0

2

4

6

8

10

12

Res

istê

nci

a d

e u

niã

o (

MP

a)

SB HB OU

Sistemas adesivos

Resistência de união ao microcisalhamento em esmalte desgastado

Gráfico 1 - Médias da resistência de união (MPa).

a

11,33

b

7,23

b

7,14

Page 21: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

5 DISCUSSÃO

Os ensaios de resistência de união têm sido largamente utilizados na

Odontologia para mensurar a união entre materiais restauradores poliméricos e as

estruturas duras dentais. (MCDONOUGH et al., 2002; SHIMADA et al., 2002; PASHLEY

et al., 1999; DE MUNCK et al., 2005; ESCRIBANO et al., 2003; GARCIA et al., 2007). E

estudos como o de Reis et al. (2004) comprovam que dentes bovinos podem substituir

dentes humanos (substratos esmalte e dentina), em função da morfologia apresentada

ter uma configuração muito semelhante.

A Odontologia Restauradora contemporânea apresenta uma tendência de

simplificação dos procedimentos de união. Isso pode ser observado nos adesivos de

um frasco da técnica convencional (com o uso prévio do ácido fosfórico); ou na técnica

que utiliza os adesivos autocondicionantes do tipo all-in-one. (VAN MEERBEEK et al.,

2003; GARCIA et al., 2007).

Este estudo revelou que o sistema adesivo convencional Adper Single Bond 2

apresentou a maior média de resistência de união ao microcisalhamento, com

diferença estatística em relação aos adesivos autocondicionantes Hybrid Bond e One-

Up Bond F Plus, que não apresentaram diferença estatística. O intervalo de variação

das médias de resistência ao microcisalhamento foi de 11,33 ± 2,47MPa para o Adper

Single Bond 2; 7,23 ± 2,44MPa para o Hybrid Bond; e de 7,14 ± 2,40MPa para o One-

Up Bond F Plus. A comparação numérica dessas médias com resultados de outras

investigações não é possível, devido à variação de fatores experimentais, como por

exemplo, os tipos de sistemas adesivos ou compósitos utilizados, o tamanho e

Page 22: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

geometria dos corpos-de-prova, e os tipos de ensaios. (VAN NOORT et al., 1991;

PHRUKKANON et al., 1998). Segundo os relatos de De Munck et al. (2005), os ensaios

de resistência de união podem proporcionar valiosas informações clínicas, quando

obtidos em estudos devidamente delineados. Nesse sentido, os resultados observados

coincidem com os estudos de Kanemura et al. (1999), Pashley e Tay (2001) e Di

Hipólito (2005), quando observaram maiores médias de resistência de união nos grupos

onde foi feito condicionamento prévio com ácido fosfórico.

No presente estudo, o desgaste da superfície de esmalte expôs a camada

prismática e pode ter favorecido a qualidade da desmineralização do ácido fosfórico no

processo de união com o compósito restaurador. Também se deve atentar para o fato

de que o desgaste ou corte da superfície do esmalte com as lixas d’água produziu um

camada de resíduos de esmalte cortado que pode ter dificultado o mecanismo de ação

dos dois adesivos autocondicionantes. Provavelmente, esse produtos produziram

também diferentes alterações morfológicas quando aplicados sobre a superfície do

esmalte desgastado, segundo as afirmações de Pashley e Tay (2001).

Os estudos de Di Hipólito (2005) comprovaram, em microscopia eletrônica de

varredura, que a superfície do esmalte hígido mostrou suaves ilhas de descalcificação

provenientes da desmineralização da porção central dos prismas, produzidas pela ação

do sistema adesivo autocondicionante Clearfil SE Bond (Kuraray), largamente

pesquisado por ter sido o precursor dos demais autocondicionantes. Quando a

superfície do esmalte foi desgastada, o grau de desmineralização foi mais abrangente,

embora tenha sido observada uma região não condicionada no centro dos prismas.

Quando esse mesmo autor utilizou outros dois adesivos do tipo “todos em um”, estes

se mostraram mais ativos, apresentando nítidas porosidades em toda superfície do

21

Page 23: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

esmalte hígido, e ainda maiores no esmalte desgastado. No presente estudo, em

função dos valores de resistência de união, a desmineralização causada pelos adesivos

autocondicionantes não foi tão efetiva quanto aquela causada pela ação do ácido

fosfórico. Estudos desse mesmo autor comprovaram que as microrretenções mecânicas

formadas na camada híbrida nos adesivos convencionais representam a principal forma

de união dos materiais restauradores resinosos ao substrato esmalte.

Desde os achados de Gwinnett e Matsui (1967) existe o entendimento de que a

capacidade de uma resina fluida hidrófila penetrar em uma superfície porosa, criada

pelo condicionamento do ácido fosfórico, forma prolongamentos longos e homogêneos.

No entanto, o mecanismo de ação é diferenciado para os adesivos autocondicionantes.

Fundamentado na capacidade de dissolver a camada de esfregaço e desmineralizar

esmalte (e dentina), o grau de acidez desses produtos foi classificado em forte,

moderado e suave. (DE MUNCK et al., 2005). E uma relação entre os menores valores

de resistência de união obtidos pelos sistemas adesivos autocondicionantes e o

provável grau de desmineralização ocorrido em função da ação dos monômeros ácidos

desses produtos ficou evidente neste estudo. Apesar do pH de ambos os produtos

serem diferentes (Hybrid Bond pH 2,5 e One-Up Bond F Plus pH 1,2), em esmalte

desgastado não houve diferença estatística para os valores de resistência de união.

Para esse tipo de substrato, isso provavelmente se deve ao mecanismo de ação dos

adesivos autocondicionantes.

Apesar dos sistemas autocondicionantes serem materiais relativamente novos, o

mecanismo que determina o autocondicionamento das estruturas dentais é semelhante

ao dos cimentos de ionômero de vidro. A diferença básica entre eles é decorrente do

fato de o cimento de ionômero de vidro possuir uma molécula de alto peso molecular

22

Page 24: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

(polímero baseado no policarboxilato), ao passo que os sistemas autocondicionantes

utilizam monômeros de baixo peso molecular. (VAN MEERBEEK et al., 2003). O radical

ácido do monômero é responsável pelo condicionamento das estruturas dentais, ao

passo que o componente metacrilato da molécula disponibiliza-se para a co-

polimerização com o agente de união e o compósito restaurador. Os produtos utilizados

nesse estudo, chamados de “todos em um” vêm habitualmente acondicionados em dois

compartimentos em função de que os fotoiniciadores, sensíveis à acidez, sejam

incorporados à solução ácida no momento de sua aplicação, evitando-se, assim, que

estejam alterados antes do uso. (VAN LANDUYT et al., 2007).

Os sistemas adesivos autocondicionantes têm mostrado menor capacidade de

condicionamento em relação ao ácido fosfórico, em concordância com Kanemura et al.

(1999), Pashley e Tay (2001) e Di Hipólito (2005), principalmente em esmalte

desgastado mas também em esmalte hígido. Provavelmente, os sistemas adesivos

autocondicionantes, independentemente de seus pHs, formaram prolongamentos curtos

de resina polimerizada entre as desmineralizações causadas na hidroxapatita. Isso

pode ter contribuído fortemente para a similaridade entre os valores médios de

resistência de união ao microcisalhamento encontrados neste estudo em esmalte

desgastado.

Estudos in vitro devem ser realizados no sentido de predizer resultados e suas

correspondências com o comportamento clínico. Dessa forma, sugere-se mais

pesquisas que enfoquem o mecanismo de ação, biocompatibilidade e efetividade dessa

classe de sistemas adesivos.

23

Page 25: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

6 CONCLUSÕES

De acordo com os dados obtidos e com a análise estatística aplicada aos

resultados, pôde-se concluir que:

1) O sistema adesivo Adper Single Bond 2 resultou na maior média de

resistência de união, com diferença estatisticamente significativa em relação aos outros

adesivos;

2) Os adesivos One-Up Bond F Plus e Hybrid Bond apresentaram menores

médias de resistência de união, sem diferença estatisticamente significativa entre si;

3) Os resultados sugerem que a união ao esmalte desgastado parece ser mais

instável para os adesivos autocondicionantes em relação ao adesivo convencional

testado, que utiliza o ácido fosfórico.

Page 26: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUONOCORE, M.G. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling materials to enamel surfaces. J Dent Res, Washington, v.34, n.6, p.849-853, Dec. 1955. CORADAZZI, J.L. et al. Resistência ao cisalhamento de um sistema adesivo em dentes humanos, bovinos e suínos. Rev Fac Odontol Bauru, Bauru, v.6, n.4, p.29-33. out./dez.1998. DE MUNCK, J. et al. A critical review of the durability of adhesion to tooth tissue: methods and results. J Dent Res, Washington, v.84, n.2, p.118-132, 2005. DE MUNCK, J. et al. Microtensile bond strengths of one- and two-step self-etch adhesives to bur cut enamel and dentin. Am J Dent, San Antonio, v.16, p.414-420, 2003. DI HIPÓLITO, V. Efeito de sistemas adesivos sobre a superfície do esmalte dental íntegro e desgastado. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba, 2005. ESCRIBANO, N.I. et al. Inverse relationship between tensile bond strength and dimensions of bonded area. J Biomed Mater Res, New Jersey, v.66, p.419-424, 2003. FREY, O. Creating a reliable bond. An all-in-one system. Am J Dent, San Antonio, v.13, Spec n.85D-7, 2000. GARCIA, R.N. et al. Avaliação da resistência de união de dois sistemas adesivos autocondicionantes. Revisão de literatura e aplicação do ensaio de microcisalhamento. RSBO, Joinville, v.4, n.1, p.37-45, maio 2007. GARCIA, R.N. Avaliação da resistência de união de sistemas adesivos e cimentos resinosos à dentina e aos compósitos restauradores. Tese (Doutorado). Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba, 2006. GWINNETT, A.J. Structure and composition of enamel. Oper Dent, Seattle, suppl.5, p.10-17, 1992. GWINNETT, A.J.; MATSUI, A. A study of enamel adhesives. The physical relationship between enamel and adhesive. Arch Oral Biol, Orlando, v.12, n.12, p.1615-1620, 1967. GIANNINI, M. et al. Comparação da resistência de união entre adesivos dentinários convencionais e de frasco único. Rev ABO Nac, São Paulo, v.11, n.1, fev./mar. 2003. HANNIG, M. et al. Self-etching primer vs phosphoric acid: an alternative concept for composite-to-enamel bonding. Oper Dent, Seattle, v.24, n.3, p.172-180, 1999. HARA, A.T. et al. Shear bond strength of hydrophilic adhesive systems to enamel. Am J Dent, San Antonio, v.12, n.4, p.181-184, 1999.

Page 27: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

KANEMURA, N. et al. Tensile bond strength and SEM evaluation of ground and intact enamel surfaces. J Dent, Oxford, v.27, n.7, p.523-530, 1999. LOPES, G.C. et al. Composite bond strength to enamel with self-etching primers. Oper Dent, Seattle, v.29, n.4, p.424-429, 2004. MARQUESINI Júnior I. et al. Effects of pre-etching on the durability of bond strengths of self-etching adhesive to ground enamel. J Dent Res, Washington, v.82 (Suppl Issue B), p.120, 2003. MCDONOUGH, W.G. et al. A microshear test to measure bond strengths of dentin-polymer interfaces. J Dent Res, Washington, v.23, p.3603-3608, Feb. 2002. MIYAZAKI, M. et al. Durability of enamel bond strength of simplified bonding systems. Oper Dent, Seattle, v.25, n.2, p.75-80, 2000. NAKABAYASHI, N. et al. The promotion of adhesion by the infiltration of monomers into tooth substrates. J Biomed Mater Res, New Jersey, v.16, n.3, p. 265-273, May 1982. PASHLEY, D.H. et al. The microtensile bond test: a review. J Adhes Dent, London, v.1, n.4, p.299-309, 1999. PASHLEY, D.H.; TAY, F.R. Aggressiveness of contemporary self-etching adhesives. Part II: etching effects on unground enamel. Dent Mater, Oxford, v.17, n.5, p.430-444, 2001. PERDIGÃO, J. et al. Effects of a self-etching primer on enamel shear bond strengths and SEM morphology. Am J Dent, San Antonio, v.10, n.3, p.141-146, 1997. PERDIGÃO, J.; GERALDELI, S. Bonding characteristics of self-etching adhesives to intact versus prepared enamel. J Esthet Rest Dent, Chicago, v.15, n.32, p.32-42, 2003. PHRUKKANON, S. et al. The influence of cross-sectional shape and surface area on the microtensile bond test. Dent Mater, Oxford, v.14, p.212-221, June 1998. REIS, A.F. et al. Comparison of microtensile bond strength to enamel and dentin of human, bovine, and porcine teeth. J Adhes Dent, London, v.6, n.2, p.117-121, Summer, 2004. SANO, H. et al. Relation between surface area for adhesion and tensile bond strength – evaluation of a microtensile bond test. Dent Mater, Oxford, v.10, n.4, p.236-240, July 1994. SHARAWY, M.; YAEGER, J.A. Esmalte. In: Bhaskar, S.N. Histologia e Embriologia de Orban, São Paulo: Artes Médicas, v.10, cap.6, p.51-110, 1989. SHIMADA, Y. et al. Bond strength of two adhesive systems to primary and permanent enamel. Oper Dent, Seattle, v.27, n.4, p.403-409, July/Aug. 2002. SILVERSTONE, L.M. et al. Variation in the pattern of acid etching of human dental enamel examined by scanning electron microscopy. Caries Res, Basel, v.9, n.5, p.373-387, 1975. TAY, F.R. et al. Aggressiveness of self-etch adhesives on unground enamel. Oper Dent, Seattle, v.29, n.3, p.309-316, 2004.

26

Page 28: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

TEN CATE, J.M. Oral Histology. Development, structure and function. 4.ed. St Louis: Mosby, p.169-217, 1994. TORII, Y. et al. Effect of phosphoric acid etching prior to self-etching primer application on adhesivon of resin composite to enamel and dentin. Am J Dent, San Antonio, v.15, p.305-308, 2002. VAN LANDUYT, K.L. et al. Systematic review of the chemical composition of contemporary dental adhesives. Biomaterials, London, v.28, p.3757-3785, 2007. VAN NOORT, R. et al. The effect of local interfacial geometry on the measurement of the tensile bond strength to dentin. J Dent Res, Washington, v.70, n.5, p.889-893, May 1991. VAN MEERBEEK, B. et al. Buonocore memorial lecture: Adhesion to enamel and dentin: current status and future challenges. Oper Dent, Seattle, v.28, n.3, p.215-235, May/June 2003. WANG, H. et al. Shear bond stability of current adhesive systems to enamel. Oper Dent, Seattle, v.29, n.2, p.168-175, 2004. YOSHIDA, Y. et al. Comparative study on adhesive performance of functional monomers. J Dent Res, Washington, v.83, n.6, p.454-458, June 2004.

27

Page 29: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

ANEXO A

28

Page 30: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

ANEXO B

29

Page 31: BRUNO VALCANAIA ZANINI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Bruno Valcanaia Zanini e Levi Dutra Costa.pdf · mercado, que são utilizados conjuntamente com os sistemas adesivos

ANEXO C

30