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RESBCAL, São Paulo, v.1 n.2, p. 185-189, abr./maio/jun. 2012 185 ISSN 2238-1589 RESUMO BREVE COMUNICAÇÃO AUTOCLAVE: ASPECTOS DE ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E VALIDAÇÃO Carlos Righetti; Paulo Cesar Gomes Vieira Neste artigo foram delineados os procedimentos que devem ser observados desde a insta- lação de uma autoclave até a liberação do material esterilizado. Como todo procedimento estabelecido com o objetivo de implantar excelência dos resultados, a esterilização por vapor úmido sob pressão realizada em uma autoclave deve ter todos os parâmetros de funcio- namento analisados e documentos. Assim, um roteiro embasado na literatura disponível nas bases de dados, aliado a nossa experiência de mais de 40 anos implantando Boas Práticas de Laboratório (GLP Good Laboratory Practices), foi delineado, prevendo desde remoção do ar no interior da câmara, qualidade do vapor, distribuição do calor no interior da câmara, instrumentos de validação, indicadores de esterilização, documentação, liberação Palavras-chave: 1 INTRODUÇÃO O setor de esterilização de materiais de um biotério constitui a unidade mais importante para a garantia de qualidade sanitária dos animais. O calor úmido sob pressão representa uma das for- mas mais econômicas e seguras de esterilização 1 , procedimento realizado em autoclave, que quando instalada na fronteira entre a área externa e interna, maximiza a garantia de ausência de contaminantes. - mentos, deve-se levar em consideração para uma autoclave, a sua estrutura e o desenho, adequados às dimensões do espaço disponível no biotério, - cações do aço inoxidável, carga máxima, sistemas de alarmes, sistemas de monitoramentos, serviços de manutenção e parâmetros operacionais que atendam as normas técnicas e de biossegurança. A instalação deve seguir as recomendações quanto ao material e diâmetro dos tubos de conexões. Todos os parâmetros de instalações devem ser A esterilização pelo vapor saturado sob pressão, realizado em autoclaves, destrói microrganismo pela ação combinada da temperatura, pressão e umidade que promovem a termocoagulação e a desnaturação das proteínas 2 . A ABNT NBR ISO 17665-1:2010 3 calor úmido no desenvolvimento do processo, na validação e no controle da rotina de esterilização. Envolve todos os processos por calor úmido, in- cluindo vapor saturado e mistura ar-vapor. Desta forma, este trabalho tem como proposta delinear os procedimentos que devem ser obser- vados desde a instalação de uma autoclave até a liberação do material esterilizado. 2 QUALIFICAÇÃO DE INSTALAÇÃO DA AUTOCLAVE documentais de que o equipamento e instrumentos foram instalados de acordo com as instruções do fabricante, possuindo a capacidade adequada ao objetivo de uso, calibrados e introduzidos em um Seção de Meios de Cultura do Instituto Butantan Autor para correspondência: Carlos Righetti E-mail: [email protected] Data de recebimento: 12/12/2011 Aceito para publicação: 03/05/2012

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RESBCAL, São Paulo, v.1 n.2, p. 185-189, abr./maio/jun. 2012 185

ISSN 2238-1589

RESU

MO

breve comuNIcação

AUTOCLAVE: ASPECTOS DE ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E VALIDAÇÃO

carlos righetti; Paulo cesar Gomes vieira

Neste artigo foram delineados os procedimentos que devem ser observados desde a insta-lação de uma autoclave até a liberação do material esterilizado. Como todo procedimento estabelecido com o objetivo de implantar excelência dos resultados, a esterilização por vapor úmido sob pressão realizada em uma autoclave deve ter todos os parâmetros de funcio-namento analisados e documentos. Assim, um roteiro embasado na literatura disponível nas bases de dados, aliado a nossa experiência de mais de 40 anos implantando Boas Práticas de Laboratório (GLP Good Laboratory Practices), foi delineado, prevendo desde

remoção do ar no interior da câmara, qualidade do vapor, distribuição do calor no interior da câmara, instrumentos de validação, indicadores de esterilização, documentação, liberação

Palavras-chave:

1 INTRODUÇÃO

O setor de esterilização de materiais de um biotério constitui a unidade mais importante para a garantia de qualidade sanitária dos animais. O calor úmido sob pressão representa uma das for-mas mais econômicas e seguras de esterilização1, procedimento realizado em autoclave, que quando instalada na fronteira entre a área externa e interna, maximiza a garantia de ausência de contaminantes.

-mentos, deve-se levar em consideração para uma autoclave, a sua estrutura e o desenho, adequados às dimensões do espaço disponível no biotério,

-cações do aço inoxidável, carga máxima, sistemas de alarmes, sistemas de monitoramentos, serviços de manutenção e parâmetros operacionais que atendam as normas técnicas e de biossegurança. A instalação deve seguir as recomendações quanto ao material e diâmetro dos tubos de conexões.Todos os parâmetros de instalações devem ser

A esterilização pelo vapor saturado sob pressão, realizado em autoclaves, destrói microrganismo pela ação combinada da temperatura, pressão e umidade que promovem a termocoagulação e a desnaturação das proteínas2. A ABNT NBR ISO 17665-1:20103

calor úmido no desenvolvimento do processo, na validação e no controle da rotina de esterilização. Envolve todos os processos por calor úmido, in-cluindo vapor saturado e mistura ar-vapor.

Desta forma, este trabalho tem como proposta delinear os procedimentos que devem ser obser-vados desde a instalação de uma autoclave até a liberação do material esterilizado.

2 qUALIFICAÇÃO DE INSTALAÇÃO DA AUTOCLAVE

documentais de que o equipamento e instrumentos foram instalados de acordo com as instruções do fabricante, possuindo a capacidade adequada ao objetivo de uso, calibrados e introduzidos em um

Seção de Meios de Cultura do Instituto Butantan

Autor para correspondência: Carlos Righetti E-mail: [email protected]

Data de recebimento: 12/12/2011Aceito para publicação: 03/05/2012

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programa de calibrações, tenham sido realizados testes de distribuição de calor, vazamento na câ-mara sob vácuo e sob pressão positiva de até 1,5 vezes a pressão normal de operação, determinação de fatores de desempenho físico.

3 qUALIFICAÇÃO OPERACIONAL DO EqUIPAMENTO

-ável, deve se basear em testes de: controles, alar-mes, funções de monitoramento e indicadores de operação; integridade da câmara para manutenção da pressão; manutenção do vácuo. O operador

3.1 Remoção do ar no interior da câmara

Se a autoclave for do tipo deslocamento gravi-tacional, pré-vácuo ou mistura ar-vapor, a remoção do ar é o principal fator de sucesso do processo de esterilização, uma vez que sua presença acarretará pontos frios no interior da massa a ser esteriliza-da. A eliminação do ar por pulsos repetidos de vapor, intercalados com vácuo, representa a mais

elimina o intervalo do aquecimento entre a massa e a temperatura da câmara4.

No deslocamento gravitacional a autoclave tem a parede dupla, com um espaço por onde circula o vapor mantendo a câmara aquecida entre as fases de esterilização, a introdução do vapor empurra o ar através da tubulação de saída, tornando o pro-cesso mais lento do que nas autoclaves pré-vácuo, onde o ar é removido por exaustão mecânica, fazendo com que quando o vapor for admitido na câmara já evacuada, a penetração na carga seja praticamente instantânea5.

3.2 qualidade do vapor

O vapor deve apresentar-se entre duas fases de agregação, a líquida e a gasosa, sendo que a mudan-ça de uma fase para outra se faz à custa de grande

troca de energia, fornecendo assim requisitos neces-sários à destruição térmica dos microorganismos6.

A qualidade do vapor é fundamental, represen-tando o peso do vapor seco na mistura e a quanti-dade de água presente. Se a qualidade do vapor for

de água no estado limiar e três no estado líquido. Vapor ideal contém 100% de saturação. A qualidade afeta o grau de esterilização e secagem do material4.

3.3 Distribuição do calor no interior da câmara

O estudo da distribuição do calor deve ser cuidadosamente realizado, pois irá determinar a variação de temperatura dentro da câmara e deve ser feita antes dos estudos de penetração do calor. Realizado em câmara vazia e preenchida, utilizando-se sensores de temperatura calibrados e ampolas de bioindicadores.

Este teste é feito usando o ciclo mínimo e máximo -

pamento. Repetido para cada estabelecimento de ciclos de tempo e temperatura necessários para cada protocolo, devendo demonstrar que a temperatura entre o exterior e o interior do produto a ser esterili-zável atingiu os limites estabelecidos no protocolo.

Nos testes devem ser utilizados sensores capa-zes de gerar dados simultâneos com os intervalos pré-estabelecidos, com objetivo de permitir de-terminações de zonas que atingem a temperatura mais rápido ou mais vagarosamente no interior da câmara. A localização de cada sensor deve ser documentado. Recomenda-se a distribuição dos sensores conforme indicado na Figura 1.

Após o primeiro estudo de distribuição de calor, deve-se repetir para cada material a ser esterilizado um estudo de distribuição de calor com a carga má-xima da câmara. Os sensores devem ser colocados

vapor, como a parte inferior da autoclave, perto das portas e perto do sistema de drenagem7.

Sensores de temperatura (termopares) pre-viamente calibrados devem ser distribuídos na

acoplados a um registrador de temperatura, regis-

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trando em intervalos de tempo preestabelecidos. A função dos sensores é acompanhar o aquecimento e observar a distribuição de calor na carga. O número de sensores a ser distribuído pela carga depende do volume da autoclave. Durante o tempo de exposição do produto ao calor úmido, a temperatura de todos os sensores deverá atingir entre 119 e 122ºC e a diferença de temperatura entre todos os sensores de distribuição de calor não deverá exceder 0,5ºC.

3.4 Instrumentos para validação

As autoclaves são equipadas com termômetros, manômetros, monovacuômetros que indicam temperatura e pressão nas câmaras internas e ex-ternas, devendo ser monitorados a cada ciclo e os registros anotados7.

3.5 Indicadores utilizados na esterilização

Fita Indicadora de esterilização colocada a cada -

so de esterilização pelo vapor em autoclaves. A viragem ocorre em listas negras quando atinge a 121ºC. Fitas ou etiquetas adesivas impregnadas com substância química termo sensível deverá apresentar mudança de coloração5.

Teste Bowie-Dick, indica a retirada de ar da

devendo apresentar uma mudança de cor uniforme quando a operação foi adequada8.

Estão disponíveis comercialmente (Browne, UK) integradores químicos que indicam processos de esterilização de 3-5 ou 7 minutos a 134ºC, 15 ou 20 minutos a 121ºC, assim como integrador quími-co , que podem ser utilizados com segurança.

Indicadores biológicos devem ser utilizados de acordo com os detalhes de viabilidade e quan-

temperatura de exposição. Isto se aplica tanto para bioindicadores comerciais, como para os pre- parados no próprio laboratório, a suspensão deve contem de 106 a 107 esporos5.

Para autoclave, utiliza-se como bioindicadores -

em meios de cultura e com indicador de pH. Se a temperatura de 121ºC foi atingida por pelo menos 15 minutos, os esporos foram destruídos.

as ampolas ou frascos autoclavados, juntamente com uma ampola ou frasco controle não autoclava-do, são incubados em banho Maria à temperatura de 60ºC ± 2ºC por 48 a 72 horas ou no incubador próprio à temperatura de 56ºC ± 2ºC.

Nos casos em que os processos de esterilização -

truídos, portanto, as ampolas com o bioindicador permanecerão da mesma cor inicial, enquanto o controle mudará de cor devido a produção de ácido e turvamento do meio pelo crescimento dos bacilos. Nos processos de esterilização com temperatura de 134ºC não devem ser colocados bioindicadores.

Resultados falso-positivos ou negativos podem ocorrer pelo mau posicionamento das ampolas dentro dos pacotes, pela conservação inadequada de temperatura e umidade, incubação incorreta das ampolas, pelo número de ampolas usadas no teste5.

3.6 Documentaçao

Todo o processo de esterilização e validação deve ser registrado9 no protocolo pelo Operador, este documento tem que ser assinado pelo opera-

Figura 1: Distribuição de sensores térmicos para detecção de zonas térmicas particulares. Estes sensores não devem entrar em contato com superfícies sólidas.

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um protocolo utilizado em biotérios com boas práticas de produção estabelecidas.

3.7 Liberação de Produtos após a Esterilização

Os produtos esterilizados deverão ser libera-dos somente após a realização de: avaliação dos registros da esterilização contra os parâmetros

esterilidade dos indicadores biológicos.

3.8 Frequência de Requalificações

-cutadas periodicamente para detectar qualquer alteração do processo. Tipicamente, uma requali-

ProtoCoLo

FoLHA 1

Quantidade 2 - Condições requeridas

SecagemSim Não

3- Controle de processoA) Fita indicadora passa o teste não passa o testeB) Bioindicador

passa o teste não passa o teste

Figura 2:

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Carlos Righetti; Paulo Cesar Gomes Vieira

ABST

RACT

3.9 Limpeza Diária

Antes de iniciar o primeiro ciclo do dia e com a câmara interna estando fria, limpar com um pano de limpeza geral umedecido com água potável

carrinho e os cestos. Remover a grelha do dreno e

que possa estar causando obstrução ou entupimen-to. Colocar aproximadamente 100 mL de solução de detergente para limpeza da tubulação do dreno. Registrar a limpeza do equipamento no protocolo.

3.10 Limpeza Semanal

Realizar a limpeza, preferencialmente às sextas-feiras ou último dia da semana antes de desligar o equipamento. Com a câmara inter- na fria, limpar com um pano de limpeza ge- ral umedecido com Solução de Álcool Etílico a 70ºGL as superfícies internas da autoclave, o carrinho e os cestos. Remover a grelha do dre-

material que possa estar causando obstrução ou entupimento

AUTOCLAVE : ASPECTS OF STRUCTURE, PERFORMANCE AND VALIDATION

order to deploy excellent results, sterilization by moist steam pressure carried out in an

-

Keywords:

1. Farmacopéia brasileira, 5ª edição, São Paulo:Atheneu, 2010.

2. Folmer-Johnson TNO. Introdução à termologia. São Paulo: Nobel; 1977. p. 67.

3. ABNT NBR ISO 17665-1:2010. Esterilização de produtos para saúde – Vapor. Associação Brasileira de Normas Técnicas. [Citado em 20 abril 2011]

.

4. Joslyn LJ. Sterilization by heat. In Block SA ed. Disinfection, sterilization

and preservation. Philadelphia:Lea & Febiger; 1983. p.3-46.

5. Couto RC, Pedrosa TMG, Cunha AFA, Amaral DB. Infecção hospitalar e outras complicações não-infecciosas da doença: epidemiologia, controle e tratamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. p. 216-241.

6. Cristovão DA, Gotillo L. Esterilização e desinfecção [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Higiene e Saúde Pública USP; 1968.

7. Mussef IC, Oliveira AC. Central de material esterilizado – CME. In: Martins MA. Manual de infecção hospitalar. Rio de Janeiro:MEDSI, 2005. p. 728-98.

8.Graziano KU. Processos de limpeza, desinfecção e esterilização de artigos médico-hospitalares. In: Oliveira AC, Armond GA, Clemente WT. Infecções hospitalares. Rio de Janeiro-Guanabara Koogan; 2005. p. 491-516.

9.Spry C. Understanding current steam sterilization recommendations and guidelines.AORN J. 008;88:537-550.

REFE

RêNC

IAS