Brasil de Fato RJ - 003

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | ano 11 | edição 03 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato Fla avança na Copa do Brasil Contra a venda do petróleo Com dificuldades, Mengão bate Campinense por 2 a 1 e tem folga no torneio até julho, quando, na terceira fase, enfrenta o ASA alagoano. Sindicalistas, movimentos do cam- po e da cidade, estudantes e par- tidos políticos se uniram na terça- feira (14) para repudiar a 11ª Roda- da dos Leilões de Petróleo e Gás. esporte | pág. 16 cidades | pág. 07 cidades | pág. 05 A restrição à circulação de vans no Rio pode agravar a situação de insegurança das mulheres . Para especialistas, sem o transporte alternativo, elas ficam submetidas aos ônibus demorados e às ruas mal iluminadas. Vitória do Sul na OMC A eleição do brasileiro Roberto Azê- vedo para a presidência da Organi- zação Mundial do Comércio (OMC) representou uma vitória diplomáti- ca dos países emergentes. mundo | pág. 10 El Efecto e a política do RJ A banda El Efecto, um grupo formado por 5 jovens cariocas, compõe músicas com críticas ao governador Sérgio Cabral e ao empresário Eike Batista. cultura | pág. 11 Governo define vinda de médicos cubanos O Ministério da Saúde anunciou a intenção de contratar médicos es- trangeiros, incluindo a chegada imediata de 6 mil cubanos para atu- ar nas regiões mais pobres do país, brasil | pág. 9 Uma visão popular do Brasil e do mundo Edição Edição Restrição a vans Restrição a vans não coíbe estupros não coíbe estupros Samuel Tosta Aline Braga Adam Jones/Global Photo Archive/CC por meio do programa “Mais Médi- cos”. A medida tem sido atacada pe- la mídia, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | ano 11 | edição 03 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato

Fla avança na Copa do Brasil

Contra a vendado petróleo

Com difi culdades, Mengão bate Campinense por 2 a 1 e tem folga no torneio até julho, quando, na terceira fase, enfrenta o ASA alagoano.

Sindicalistas, movimentos do cam-po e da cidade, estudantes e par-tidos políticos se uniram na terça-feira (14) para repudiar a 11ª Roda-da dos Leilões de Petróleo e Gás.

esporte | pág. 16

cidades | pág. 07

cidades | pág. 05

A restrição à circulação de vans no Rio pode agravar a situação de insegurança das mulheres . Para especialistas, sem o transporte alternativo, elas fi cam submetidas aos ônibus demorados e às ruas mal iluminadas.

Vitória do Sul na OMCA eleição do brasileiro Roberto Azê-vedo para a presidência da Organi-zação Mundial do Comércio (OMC) representou uma vitória diplomáti-ca dos países emergentes.

mundo | pág. 10

El Efecto e apolítica do RJ A banda El Efecto, um grupo formado por 5 jovens cariocas, compõe músicas com críticas ao governador Sérgio Cabral e ao empresário Eike Batista.

cultura | pág. 11

Governo defi ne vinda de médicos cubanosO Ministério da Saúde anunciou a intenção de contratar médicos es-trangeiros, incluindo a chegada imediata de 6 mil cubanos para atu-ar nas regiões mais pobres do país,

brasil | pág. 9

Uma visão popular do Brasil e do mundo Edição

Edição

Restrição a vans Restrição a vans não coíbe estuprosnão coíbe estupros

Samuel TostaAline Braga

Adam Jones/Global Photo Archive/CC

por meio do programa “Mais Médi-cos”. A medida tem sido atacada pe-la mídia, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | editorial

bre a emissão de carteirinhas. A consequência foi a com-

pra cada vez maior de ingres-sos com a meia entrada, e aomesmo tempo o aumento abu-sivo dos valores desses ingres-sos, para aumentar os lucrosdos empresários.

Hoje temos cerca de 51,3 mi-lhões de jovens. Destes, 35,8%frequentam escolas ou facul-dades, e, portanto, têm direito àmeia entrada.

É preciso muita mobilizaçãoe lutas nas escolas, universida-des, comunidades e nas ruas.

É nossa tarefa enfrentar osempresários do entretenimen-to que só tem olhos para seuslucros, pressionar o governopara que o Estatuto seja apro-vado com a garantia da meiaentrada a toda a juventude econstruir para o país um pro-jeto popular.

presário mentir para aumentar seus lucros!

O direito à meia entrada é uma conquista histórica prota-gonizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), ainda na década de 40. Permitiu aces-so ampliado para os estudantes a eventos culturais e esportivos.

Após o fechamento da UNE no período da ditadura mi-litar e alterações na lei (MP 2208/01) durante o governo FHC, perdeu-se o controle so-

teirinha de estudante pagare-mos o ingresso inteiro, se a cota já tiver sido alcançada.

O que é pior: a cota será praticamente impossível de ser fi scalizada, podendo o em-

de Janeiro (3,57), São Pau-lo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.

Para enfrentar esse pro-blema, o Ministério da Saúde anuncia a intenção de contra-tar médicos estrangeiros, com a possibilidade imediata de 6 mil médicos cubanos dispos-tos a atuar nas regiões mais

carentes do país. Trata-se do Programa “Mais Médicos”.

Diante da notícia, o Con-selho Federal de Medicina e os setores mais conservado-res da classe dominante, ini-ciam uma virulenta campa-nha preconceituosa, em defe-sa dos interesses corporativos da elite médica. E como que-rem desviar o foco do verda-deiro problema que é a falta de médicos, utilizam um re-pertório de mentiras.

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Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Aldo Gama, Marcelo Netto Rodrigues, Renato Godoy de Toledo • Subeditor: Eduardo Sales de Lima • Repórteres: Marcio Zonta,Michelle Amaral, Patricia Benvenuti • Correspondentes nacionais: Daniel Israel (Rio de Janeiro –RJ), Maíra Gomes (Belo Horizonte – MG), Pedro Carrano (Curitiba – PR),Pedro Rafael Ferreira (Brasília – DF), Vivian Virissimo (Rio de Janeiro –RJ) • Correspondentes internacionais: Achille Lollo (Roma – Itália), Baby Siqueira Abrão (OrienteMédio), Claudia Jardim (Caracas – Venezuela) • Fotógrafos: Carlos Ruggi (Curitiba – PR), Douglas Mansur (São Paulo – SP), Flávio Cannalonga (in memoriam), João R. Ripper(Rio de Janeiro – RJ), João Zinclar (in memoriam), Joka Madruga (Curitiba – PR), Leonardo Melgarejo (Porto Alegre – RS), Maurício Scerni (Rio de Janeiro – RJ) • Ilustrador:Latuff • Editor de Arte: Marcelo Araujo • Revisão: Marina Tavares Ferreira • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira •Endereço: Al. Eduardo Prado, 676 – Campos Elíseos – CEP 01218-010 – Tel. (11) 2131-0800/ Fax: (11) 3666-0753 – São Paulo/SP – [email protected] • Gráfi ca:Info Globo • Conselho Editorial: Alipio Freire, Altamiro Borges, Aurelio Fernandes, Bernadete Monteiro, Beto Almeida, Dora Martins, Frederico Santana Rick, Igor Fuser, JoséAntônio Moroni, Luiz Dallacosta, Marcelo Goulart, Maria Luísa Mendonça, Mario Augusto Jakobskind, Milton Pinheiro, Neuri Rosseto, Paulo Roberto Fier, René Vicente dosSantos, Ricardo Gebrim, Rosane Bertotti, Sergio Luiz Monteiro, Ulisses Kaniak, Vito Giannotti • Assinaturas: (11) 2131– 0800 ou [email protected]

Para anunciar:

(11) 2131 0800

Redação Rio:[email protected]

Bem-vindos, médicos cubanosO BRASIL TEM 455 municí-pios sem médicos, de um to-tal de mais de 5.560 cidades. O problema é mais acentuado em regiões distantes dos maio-res centros urbanos, como no Nordeste, que lidera a lista de cidades sem médicos, com 117, 25,7% do total.

Além de nos faltarem pro-fi ssionais, 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas gran-des cidades.

Se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Fede-ral esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio

editorial | Brasil

Meia entrada, um direito

A principal delas é a de ata-car a qualifi cação da medici-na cubana. Uma acusação que não suporta qualquer con-fronto com a realidade.

A expectativa de vida em Cuba é maior do que a dos Es-tados Unidos. A relação médi-co-paciente pode ser compa-rada a qualquer país da Euro-pa Ocidental. Há em Cuba um médico por cada 175 pessoas. Ninguém mais em nosso con-tinente revela essa proporção.

Graças à sua medicina pre-ventiva, tem a taxa de morta-lidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Ca-

nadá e dos Estados Unidos. Se-gundo a Organização Mundialde Saúde, a nação melhor do-tada do mundo neste setor.

É muita arrogância da eli-te brasileira criticar a quali-dade da medicina cubana,sem apontar qualquer solu-ção imediata para resolver afalta de profi ssionais nas re-giões carentes. Demonstramque não estão preocupadoscom os problemas do povo,mas apenas com seus interes-ses corporativos.

Defender o Programa “MaisMédicos” é fundamental pararesponder, no plano imedia-to, o desafi o de proporcionar oatendimento básico aos brasi-leiros que mais necessitam.

É muita arrogância da elite brasileira criticar a qualidade da medicina cubana, sem apontar qualquer solução imediata

FOI APROVADO no Senado e agora segue para a Câmara dos Deputados o projeto do Estatu-to da Juventude.

A aprovação irá represen-tar um avanço para a juventu-de brasileira, um marco na dis-cussão e promoção de políti-cas públicas para este segmen-to marginalizado na sociedade.

Entretanto, um grande retro-cesso que deve ser combatido: a restrição à meia entrada!

A redação do Estatuto apre-senta alguns avanços. A criação de espaços institucionais para a construção de políticas para a juventude como a Rede Nacio-nal de Juventude, o Sistema Na-cional de Juventude (Sinajuve) e os Conselhos de Juventude, a reserva de assentos em ônibus interestaduais para jovens com renda familiar de até dois salá-rios mínimos.

O grande problema está na proposta de limitar a meia en-trada a 40% dos ingressos dis-poníveis. Ou seja, quando for-mos assistir a um show ou jogo de futebol, mesmo com a car-

editorial | Rio de Janeiro

É nossa tarefa enfrentar os empresários do entretenimento que só tem olhos para seus lucros

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 artigos | 03

atinge a todos. Quem é de classe média e

mora de aluguel ou mesmo está tentando comprar um apartamento, já deve ter per-cebido que os preços estão fo-ra da realidade.

É preciso entender que os mesmos interesses que estão por trás das remoções dos mais pobres estão por trás da super-valorização do mercado.

A continuar assim, seja nas favelas com o trator da remo-ção, seja no “asfalto” com o tra-tor da especulação, um dia se-remos todos despejados.

Marcelo Edmundo é da coordenação da Central dos

Movimentos Populares (CMP)

vidores da saúde. Eles não têm Plano de Cargos e Salários, es-tão sem reajustes há anos.

Aqui, o governador tercei-riza serviços e fecha hospitais, como o Instituto de Infectolo-gia São Sebastião, o Anchieta e a rede do Iaserj.

A Secretaria de Estado de Saúde tem sido alvo inúmeras denúncias – comprovadas – de desvio de recursos públicos.

Enfi m, urge continuar lu-tando contra a privatização da saúde para garantirmos saúde pública e qualidade.

Paulo Ramosé deputado

estadual pelo PDT

Paulo Kliass Latuff

Os portos e o petróleoO GOVERNO ACABOU por ceder à lógica e às pressõesdo setor privado. Em vez de assumir as rédeas do proces-so de planejamento e tomar a iniciativa pelos projetos, aopção foi rumar pelo caminho da privatização.

No momento, chamam a atenção os processos envol-vendo dois ramos fundamentais para a nossa economia:portos e petróleo. Em ambos os casos, trata-se de explo-ração econômica de bens e serviços de natureza pública.

Em razão das características específi cas, são ativida-des que não comportam padrões de concorrência dochamado “mercado da batatinha”. Estruturas portuáriase explorações petrolíferas tendem a ser monopólios ouoligopólios concentrados.

Além disso, ambas guardam uma relação sensívelcom questões de segurança nacional, impacto ambien-tal e sistema alfandegário.

Daí porque o mais adequado é que o Estado se res-ponsabilize diretamente pelas mesmas.

A nossa Constituição determina que as reservas dosubsolo são de propriedade da União e temos a Petro-bras para dar conta dessa tarefa.

Essa empresa estatal exemplar vai completar 60 anosde história e tem sido uma referência de qualidade noramo petrolífero por todos os continentes.

Porém, a equipe de Dilma decidiu dar continuida-de aos leilões de novos poços, mantendo a legislaçãoda época de FHC, com o intuito de promover sua ex-ploração.

Candidataram-se as maiores empresas multinacio-nais do setor, todas muito interessadas nas elevadas ta-xas de retorno proporcionadas pelo modelo adotado daconcessão.

De acordo com o sistema previsto, as empresas têmampla liberdade operacional e podem fazer o que quise-rem com o óleo extraído.

Já no caso dos portos, a opção foi pela edição de umaMedida Provisória bastante polêmica, que oferece am-pla liberdade operacional para os chamados “portos pri-vados” e que reduz todas as garantias previstas na legis-lação para o funcionamento nos portos públicos.

Com o falso argumento do elevado “custo Brasil”, aproposta do governo pretende reduzir importantes con-quistas dos trabalhadores do setor e permitir que a ex-ploração comercial no regime de privatização ocorra emambiente totalmente favorável aos interesses do capital.

Vale a pena ressaltar, por outro lado, que todas essasbenesses oferecidas aos grandes grupos empresariaisvêm se somar a outras medidas de favorecimento explí-cito do setor privado, a exemplo da desoneração da con-tribuição previdenciária sobre a folha de salários e dosempréstimos de recursos a juros subsidiados por partedo BNDES para os investimentos necessários.

Assim, o que se percebe é que, infelizmente, o atualgoverno continua insistindo na opção amplamente re-jeitada do modelo neoliberal. Ou seja, mais dos mesmosequívocos do passado.

Paulo Kliassé doutor em economia e especialistas em políticas

públicas e gestão governamental, do governo federal.

Seremos despejados

Saúde sucateada no Rio

Essa empresa estatal exemplar vai completar 60 anos de história e tem sido uma referência de qualidade

QUANDO ASSUMIU a prefei-tura em 2009, o prefeito Eduar-do Paes afi rmou que a grande meta de sua administração se-ria a criação de moradias po-pulares.

Ao mesmo tempo, decla-rou que remoção era um as-sunto que não podia ser trata-do como tabu, apoiando cam-panha do jornal O Globo a fa-vor da remoção de comunida-des pobres.

Neste sentido, traçou como uma das metas de seu governo, o objetivo de reduzir em 5% a área ocupada por favelas na ci-dade, o que equivale a cerca de três Rocinhas.

Para atingir seu objetivo, a principal medida aplicada foi

A CONSTITUIÇÃO de 1988 es-truturou a Seguridade Social, incluindo a saúde, a assistência e a previdência.

Embora com previsão de fontes e dos recursos neces-sários, as três áreas são ob-jeto de gestões e orçamentos distintos. Cada uma subordi-nada a ministérios diferentes, sem que haja uma coordena-ção superior.

No caso da saúde, a Consti-tuição estabeleceu também o Sistema Único (SUS). A Lei que regulamentou o SUS ainda pre-viu a participação da socieda-de, conselhos, na elaboração das políticas e na fi scalização de sua implementação.

implementar um novo e vio-lento processo de remoções, como não se via desde a dita-dura militar, quando o governo federal, em conjunto com o go-verno da Guanabara promoveu o maior programa de remoções de favelas da cidade.

Se na ditadura não era ne-cessário justifi cativas para es-tas remoções, hoje, a prepara-ção da cidade para receber a Copa e as Olimpíadas é o argu-mento perfeito para este proje-to elitista e preconceituoso.

A intenção é atender aos in-teresses da especulação imo-biliária e dos investidores pri-vados, em detrimento aos in-teresses da população e da ci-dade. Este é um problema que

Ao longo dos anos, foi sendo travada uma luta muito grande em defesa do SUS, na busca de sua implementação.

Lamentavelmente, os de-fensores do serviço público de saúde estão sendo derrotados, na medida em que os governos privilegiam a saúde privada. Assim, precarizam a saúde pú-blica, levando ao descrédito os servidores e serviços públicos.

Desse modo, privilegiam os planos de saúde, a transferên-cia de serviços para o setor pri-vado, parcerias e terceiriza-ções , o que nada mais é do que desvio dos recursos públicos.

No estado do Rio de Janeiro, o governador persegue os ser-

Marcelo Edmundo

Paulo Ramos

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Tânia Rêgo/ABr

Para Zaccone, “mais pessoas morrem com a guerra contra as drogas do que pelo uso destas substâncias”

Dennys Coelho/Ascompcerj

Viviane Tavaresdo Rio de Janeiro (RJ)

Orlando Zaccone é delegado da Polícia Ci-vil do Rio de Janeiro e se-cretário geral da Law En-forcement Against Prohi-bition (Leap) no Brasil. Nesta entrevista, ele fala sobre o papel do policial e ação violenta da polícia atualmente.

Brasil de Fato - Como você avalia a atuação da Polícia Civil no ca-so do Matemático que apareceu recentemente no programa Fantásti-co da TV Globo e a ques-tão dos policiais forjan-do um auto de resistên-cia na favela do Rola em Santa Cruz denunciado pelo Jornal Extra, do Rio de Janeiro?

Orlando Zaccone - A avaliação é uma só. Fo-ram ações policiais que resultaram em morte. E a discussão que se deu é se essas pessoas tinham an-tecedentes criminais ou não. É importante lem-

ENTREVISTA Delegado critica ação da polícia no assassinato de Matemático na comunidade da Coreia

brar que não é função da polícia matar crimi-noso. Mas nós temos um problema muito grande da legitimidade da polí-cia no Brasil, porque em qualquer lugar do mun-do uma polícia que mata muito é considerada uma polícia fraca e ruim. Já no Brasil, essa violência po-licial acaba sendo eleva-da ao patamar de produ-to cultural de exportação como, por exemplo, o fi l-me Tropa de Elite, o jogo Favela War, que foi lança-do recentemente. Esta-mos com uma inversão total desses valores.

Mas a polícia não pode ou não deve matar?

Deveria ser exceção, porque nós não estamos dizendo que em deter-minada situação a polí-cia não pode matar al-guém. Mas a situação que isso deveria ser admiti-do é em legítima defesa própria ou de terceiros, na qual a única maneira de essas vidas sob ame-aças fosse essa. O que nós vemos nestas recen-tes ações são situações em que a violência poli-cial é praticada em mo-mentos em que ela pode-ria ser evitada. Mas é im-portante lembrar que es-se tipo de ação não é cul-

pa de um determinado grupo de policiais, ele se dá através de uma políti-ca pública. Matar pesso-as, no caso os crimino-sos, que também são pes-soas, passa a ser legitima-do pelo Estado e aplau-dido pela sociedade. Por isso, a responsabilização do problema não é só na ação dos policiais.

Por que você diz que o Estado legitima a guer-ra contra as drogas? De que forma ele faz isso?

A partir do momento em que a legislação co-loca o trafi cante, o co-merciante de drogas ilí-citas como o crimino-

so mais perigoso do am-biente social. No Bra-sil, de acordo com dados da Anistia Internacional, em 2011, só nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, se matou 961 pes-soas enquanto em todos os países que têm pena de morte autorizada , ex-ceto a China, foram 676 mortes. É uma guerra injusta e há muito tem-po incentivada, apoiada e produzida pelo Estado brasileiro. Mas isso não é de se admirar porque a história da sociabiliza-ção no nosso país sem-pre foi violenta, vide ago-ra a pacifi cação nas fave-las do Rio de Janeiro.

Como você avalia a re-forma do código penal, que diminui a pena do usuário e aumenta a do trafi cante?

As pessoas têm que entender que são cons-truídos o crime e o crimi-noso. Ele só existe atra-vés de um olhar. E essa diferenciação, que co-meça em 1976, ganha em 2011, com a atual lei de

drogas, um avanço, por-que se aumentou muitoa punição do trafi cantee descriminalizou a con-duta do usuário. Reforçao estereótipo de depen-dente para o usuário. E oque acontece na prática?A defi nição do consumi-dor e do trafi cante nãoé feita pela norma, ela éfeita a partir da norma.

As construções quese fazem realmente defi -nem pessoas pobres co-mo trafi cantes e as queestão em posição eco-nômica melhor, comousuários. Hoje, um me-nino na favela que é pe-go com R$ 600 no bolso,por ter acabado de rece-ber o salário, e que pas-sou na boca de fumoe comprou cinco trou-xinhas de maconha, épreso como trafi can-te. Quando o Johnny foipego ele teve tratamen-to como usuário, depoisvirou fi lme [Meu nomenão é Johnny, 2008], ga-nhou dinheiro, escre-veu livro. Essa constru-ção que vai se fazendo éapartadora e injusta.

“Em 2011, no RJ e em SP, se matou 961 pessoas enquanto em todos os países que têm pena de morte autorizada, foram 676 mortes”

“Em qualquer lugar do mundo uma polícia que mata muito é considerada uma polícia fraca e ruim”

“Não é função da “Não é função da polícia matar criminoso”polícia matar criminoso”

O delegado Orlando Zaccone

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 cidades |

lhadores Rurais Sem Ter-ra (MST) afi rmou que a luta deve ser unitária na defesa dos trabalhadores.

“Nós do MST estamos nos juntando aos petro-leiros do Brasil, fazendo atos para barrar os lei-lões. Há a necessidade de irmos às ruas de forma unitária. Este é um mo-mento histórico para fa-zermos lutas concretas, pois temos que defender

sal”, informou Leonardo Maggi, coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Luta deve ser unitária na defesa dos trabalhadores

Samuel Tosta

“Tivemos a presença de quatro centrais: CUT, CTB, CGTB e a Conlutas. Também participaram estudantes secundaristas e técnicos, além de mo-vimentos do campo e da cidade. Isso dá esperança de que podemos intensi-fi car o movimento com novas adesões. A única forma de barrar a entre-ga do patrimônio nacio-nal é com o povo na rua”, defende.

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Vivian Virissimodo Rio de Janeiro (RJ)

Sindicalistas, movi-mentos do campo e da cidade, estudantes e par-tidos políticos se uniram nesta terça-feira (14) pa-ra repudiar a 11ª Roda-da dos Leilões de Petró-leo e Gás.

A manifestação ocor-reu em frente ao luxuoso hotel Royal Tulip, locali-zado na zona sul do Rio. Em unidade, diversas or-ganizações contestaram o leilão de 289 lotes, lo-calizados no pós-sal, com produção estimada em 30 bilhões de barris.

Para o vice-presidente da Associação dos Enge-nheiros da Petrobras (Ae-pet), Fernando Siquei-ra, essa manifestação de-monstra uma união cres-cente entre as entidades.

Povo na rua contra os leilões do petróleoPRIVATIZAÇÃO “A única forma de barrar a entrega do patrimônio nacional é com o povo na rua”

Jornada de lutas pela soberania energéticaLideranças de trabalhadores defendem a necessidade de lutas unitárias e concretas

do Rio de Janeiro (RJ)

Movimentos sociais e sindicais iniciaram na segunda-feira (13) a jor-nada de lutas contra a 11ª rodada. Campone-ses, além de quilombo-las e trabalhadores li-gados à Federação Úni-ca dos Petroleiros (FUP), participaram da ocupa-ção do Ministério de Mi-nas e Energia (MME), em Brasília (DF).

No Rio, a sede da ANP

também foi ocupada. Além disso, atos foram feitos no Paraná, Minas Gerais, Brasília e São Paulo.

“Defendemos que água e energia não são mercadoria. Este é um ano de luta pela sobe-rania energética. Em ju-nho teremos lutas contra a privatização de hidrelé-tricas de São Paulo, Para-ná e Minas Gerais. Depois contra os leilões do gás e contra os leilões do pré-

“Defendemos que água e energia não são mercadoria.”

“A retomada dos leilões é um retrocesso para o desenvolvimento do país e um ataque à soberania nacional”

Retrocesso A retomada dos leilões

é um retrocesso para o desenvolvimento do país e um ataque à soberania nacional, destacou o di-retor do Sindicato dos Pe-troleiros (Sindipetro-RJ), Edson Munhoz.

“O petróleo pode ga-

rantir a educação, a saú-de, o saneamento básico: os princípios fundamen-tais para o funcionamen-to da nação. Aliás, a briga hoje no mundo é por pe-tróleo e água, bens não renováveis. Não faz sen-tido entregar a preço de banana para as multina-

cionais”, explica A legislação que orien-

ta esse leilão é altamente questionável, argumenta o coordenador da Fede-ração Única dos Petrolei-ros (FUP), João Antônio Moraes.

“A lei 9.478, implemen-tada pelo ex-presidente

Fernando Henrique Car-doso, fragiliza o contro-le sobre o setor e arreca-da pouco para o país. Namaioria dos países, a ar-recadação se dá em tornode 40 e 50%, pelo menos.Há países que taxam em90%. Aqui temos só 10%de royalties”, informa.

UnidadeMarcelo Durão, da co-

ordenação estadual do Movimento dos Traba-

Manifestação contra a 11ª Rodada dos Leilões de Petróleo e Gás realizada em um hotel em São Conrado, zona sul do Rio

Samuel Tosta

o que é dos trabalhado-res”, destacou.

Além dos atos, a Ae-pet, o Sindipetro e a FUPingressaram com açõespara tentar cancelar osleilões em Curitiba, SãoPaulo, Rio de Janeiro eSergipe.

Em Curitiba, o Sindi-petro SC-PR entrou comuma ação civil públi-ca que já teve seu pedi-do negado, embora aindahaja recurso.

No Rio, São Paulo eSergipe, as entidades in-gressaram com ações po-pulares para tentar bar-rar o prejuízo dos leilõese aguardam posiciona-mento da justiça. (VV)

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | cidades06

da Redação

Foi com perplexida-de que os cerca de 28 mil trabalhadores nas obras do Complexo Petroquí-mico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) rece-beram, nesta quarta-feira (14), a notícia de que não poderiam entrar no can-teiro de obras. O motivo alegado pela Petrobras, responsável pelo Com-perj, foi o cancelamento das licenças ambientais para a realização da obra.

A empresa se limitou a afi rmar que “ninguém terá prejuízos fi nancei-

Privatização da saúde no Rio aprovada na CâmaraSERVIÇO PÚBLICO Especialista vê ameaça à conquista da saúde pública e gratuita

da Redação

A última etapa da vo-tação que determina a criação da empresa pú-blica Rio Saúde ocorreu nesta terça-feira (14). Dos 51 vereadores da Câma-ra municipal, 31 votaram sim à empresa, 13 vota-ram não e sete se abstive-ram. Para a professora da Uerj e integrante da Fren-te Nacional Contra a Pri-vatização da Saúde, Ma-ria Inês Bravo, esta apro-vação signifi ca o des-monte da saúde pública do Rio.

“Estamos prestes a perder uma luta muito importante que foi a con-quista do SUS público, estatal e sob administra-ção direta do Estado”, co-menta. Com a Rio Saú-

de, a gestão pode acarre-tar em aumento dos cus-tos como um todo. A Rio Saúde está em pauta pa-ra votação desde o início deste mês.

No total foram duas votações na Câmara Mu-nicipal, e agora segui-rá para sanção do prefei-to Eduardo Paes. Alguns parlamentares – como o vereador Paulo Pinheiro (PSOL)– declararam que entrarão com uma Ação Direta de Inconstitucio-nalidade (Adin) contra o processo da Rio Saúde que, segundo eles, não foi discutido de maneira transparente com a po-pulação.

Luta antimanicomialO dia 18 de maio é uma

data mais do que simbó-

lica para o Movimento de Luta Antimanicomial em todo país. Desde a déca-da de 1980, diversos tra-balhadores da saúde lu-tam pelo fi m dos mani-cômios, que são hospi-tais especializados em pacientes com doenças mentais.

O que este grupo de-fendia na época era um tratamento humanizado e com participação fami-liar no lugar da violência praticada nestes espaços. No Rio, uma das princi-pais bandeiras é a luta contra a internação com-pulsória, autorizada pe-lo município para os usu-ários de crack. Este tra-tamento é muito seme-lhante ao que os traba-lhadores da saúde men-tal criticaram há décadas.

Em dois meses, Porto do Açu demite 400 trabalhadoresINDÚSTRIA Empresa de Eike desliga funcionários sem comunicar sindicato

da Redação

A OSX, empresa de construção naval do em-presário Eike Batista, de-mitiu cerca de 400 funcio-nários nos últimos dois meses. Segundo o Sin-dicato dos Trabalhado-res na Indústria da Cons-trução Civil e do Mobili-ário no Estado do Rio de Janeiro (Sticoncimo-RJ), 150 funcionários foram afastados nos últimos dias. “Ficamos saben-do das demissões, mas a empresa não comunicou o sindicato”, disse o pre-sidente da entidade, José Carlos Eulálio.

Em nota, a OSX con-fi rma “ajustes” no qua-

dro de funcionários, mas não revela o total das demissões. No início de maio, ainda de acor-do com o Sticoncim, a OSX perdeu o contra-to de construção no Su-

Em nota, a OSX confi rma “ajustes” no quadro de funcionários, mas não revela o total das demissões

perporto do Açu de du-as sondas de perfuração do pré-sal, num custo de US$ 1,6 bilhão, que afeta

Paralisação no ComperjPETROQUÍMICO Cancelamento de licença ambiental para obras da Petrobras

ros” sem especifi car seisso signifi ca a garantiados empregos. Com is-so, ‘os trabalhadores vol-taram para casa sem sa-ber quando retornarão aotrabalho.

O Sindicato dos Tra-balhadores na Indústriada Construção Civil deSão Gonçalo, Itaboraí eRegião (Sinticom) com-preende e defende a ne-cessidade do cuidadocom o Meio Ambiente,mas considera inconse-quente esta decisão ju-dicial que coloca em ris-co o emprego de 28 miltrabalhadores.

“A internação com-pulsória muitas vezes é considerada uma prisão perpétua porque impe-de a defesa do cidadão de que ele é capaz de de-

cidir sua própria vida. E a vítima, na maioria das vezes, são as camadas mais pobres”, explica a pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde da

Fiocruz (EPSJV/Fiocruz),Nina Solheiro.

No Rio, o ato será ce-lebrado na Praça XV, nocentro, nesta próximasexta-feira, dia 17, às 14h.

as prestadoras de servi-ço, como a Acciona que possui contrato com 1,6 mil funcionários.

SATEM/RJ

Rio Saúde: desmonte da saúde pública do Rio de Janeiro

FAETEC/RJ

Operários trabalham no Superporto do Açu

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 cidades |

também aumenta o clima de insegurança.

Mudanças estruturaisSe realmente quises-

se ampliar a segurança das mulheres, a prefei-tura deveria tomar atitu-des estruturais, com in-vestimento em ilumina-ção, segurança e trans-porte público de quali-dade, argumenta Eleu-téria. Sem regularizar o transporte complemen-tar em toda a cidade, a vida das trabalhadoras fi ca ainda mais difícil.

Segundo ela, as mu-lheres que se deslocam para o trabalho no iní-cio da manhã, às 6h, e

Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), só em março 497 mulhe-res denunciaram estu-pros no estado. De janei-ro a março de 2013, as es-tatísticas apontam 1.503 casos. Em 2012, 16 foram estupradas por dia. Além de violações em ônibus e vans, as denúncias contra o pastor Marcos Pereira, acusado de seis estupros,

aconteceu no dia 3 de maio em um micro-ôni-bus da linha 369 (Ban-gu-Largo da Carioca) que transitava na Aveni-da Brasil. A mulher de 30 anos foi violentada em plena luz do dia, às 15h30 de uma sexta-feira. Em outro mais antigo, do dia 15 de fevereiro, uma me-nina de doze anos foi ví-tima de um estupro den-tro de um ônibus da li-nha 162 (Glória-Leblon) na Rua Jardim Botânico.

07

Vivian Virissimodo Rio de Janeiro (RJ)

Além de não resolver o problema dos estupros, a proibição da circulação de vans na zona sul é uma medida que afeta a segu-rança das mulheres. Esta é a opinião da feminista Eleutéria Amora da Silva, da Casa da Mulher Tra-balhadora (CAMTRA). Sem consulta pública, es-sa foi a única providência da gestão de Eduardo Pa-es (PMDB) diante dos re-centes casos de estupro. “Se a proibição de vans resolvesse o problema, agora teríamos que proi-bir os micro-ônibus”, ar-gumenta Eleutéria.

Ela se refere aos três casos que ocorreram nos últimos meses. O primei-ro aconteceu no dia 30 de março, quando uma turista dos Estados Uni-dos, de 19 anos, foi ata-cada por três homens em uma van que passava por Copacabana. Ela foi es-tuprada 8 vezes. Outro

497 mulheres

denunciaram estupros

em marçode 2013

Proibição de vans na zona sul piora segurança das mulheresVIOLÊNCIA Sem transporte complementar, trabalhadoras fi cam ainda mais vulneráveis à espera de ônibus que não circulam 24 horas, em ruas precariamente iluminadas

Outro caso de estupro ocorrido em um banhei-ro da estação do metrô da Central do Brasil tam-bém revela que as mu-lheres não estão seguras nem mesmo neste local iluminado. No dia 4 de ja-neiro, uma mulher de 30 anos foi atacada no ba-nheiro exclusivo para fun-cionários. O crime ocor-reu mesmo com policiais militares que fazem a se-gurança do Metrô Rio. As-sédios e constrangimen-tos são comuns nestes espaços, lembra Eleuté-ria. “As mulheres gritam e

“Os ônibus circulam raramente em certos lugares e, para piorar a situação, a iluminação fi ca cada vez mais precarizada”

aquelas que retornam só depois das 22h, são as vítimas mais vulne-ráveis para estuprado-res. “Os ônibus circu-lam raramente em cer-tos lugares e, para pio-rar a situação, nos locais mais afastados do cen-

tro a iluminação fi ca ca-da vez mais precariza-da”, denuncia Eleutéria.A Coordenação Espe-cial de Transporte Com-plementar estima quecirculam pela cidade 6mil vans e a maioria nãopossui permissão.

chegam a abandonar o trem e o metrô em fun-ção do assédio”. Para ela, a política de reservar um vagão feminino segre-ga as mulheres do conví-vio e resolve superfi cial-mente o problema. “Em primeiro lugar, o grande número de trabalhado-ras não caberia em só um vagão. Em segundo, co-locar as mulheres em um lugar para afastar os ho-mens aparenta dar o di-reito a eles de fazerem o que quiserem nos vagões coletivos e em outros es-paços”, explica. (VV)

VAGÕES FEMININOS,SOLUÇÃO SUPERFICIAL

SEGREGAÇÃO

Beth Santos/Divulgação

O prefeito Eduardo Paes

Para ampliar a segurança das mulheres, prefeitura deve investir em iluminação, segurança e transporte público de qualidade

El Floz/CC

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | cidades08

Marina Schneiderdo Rio de Janeiro (RJ)

O Ministério do Meio Ambiente demarcou, pe-la primeira vez na histó-ria, a área pertencente ao Jardim Botânico. A ação ocorreu após determina-ção do Tribunal de Con-tas da União (TCU).

A delimitação do perí-metro do parque é mais uma forma encontrada para tentar legitimar a remoção de 520 das 621 famílias que residem há décadas no Horto Flo-restal. Agora, o terre-no das casas passa a fa-zer parte ofi cialmente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ).

A medida foi anuncia-da à imprensa no dia 7 de maio pela ministra Iza-bella Teixeira. “O acordo era que qualquer infor-mação só seria dada à im-prensa depois que os mo-radores fossem comuni-cados, mas a ministra fez o contrário”, critica Emí-lia Maria de Souza, pre-sidente da Associação de Moradores e Amigos do Horto (Amahor).

“O que vai acontecer aqui é o que está aconte-cendo em toda a cidade. Se chama limpeza social. Ou seja, é tirar os pobres para valorizar os imóveis dos ricos”, critica. Emília assegura que os morado-

Moradores do Horto resistem HABITAÇÃO Famílias defendem direito constitucional à moradia

Questão ambiental esconde política de remoçãoSegundo advogado, moradores preenchem todos os requisitos que a legislação exige para que tenham suas moradias regularizadas

do Rio de Janeiro (RJ)

A denúncia conjunta de que os moradores te-riam invadido a área foi feita ao TCU pela AMA-JB e pelo Jardim Botâ-nico. Entretanto, as fa-mílias não invadiram a área. Os administradores do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) cede-ram terrenos aos funcio-nários em áreas vizinhas ao Jardim Botânico para que pudessem levar me-nos tempo até o trabalho.

Os atuais moradores são seus descendentes. Muitos são também fun-

cionários ou ex-funcio-nários do Instituto.

Este é o caso de Milcir dos Santos, de 61 anos. Seu avô começou a tra-balhar no Jardim Botâ-nico em 1919. Biólogo e também funcionário da instituição, Milcir vi-ve na comunidade des-de que nasceu. “Eu não quero sair daqui por ne-nhum dinheiro, que-ro morrer onde nasci”, disse ao Brasil de Fato, emocionado, após a as-sembleia de sábado.

A moradora Eliete Martins conta que seu pai veio de Itaocara, in-terior do estado, para

trabalhar no Jardim Bo-tânico. “Ele amava es-se lugar. Foi convidado a construir uma casa em um terreno cedido pelo próprio Jardim Botâni-co”, conta.

Segundo Rafael da Mota Mendonça, advo-gado da Associação de Moradores e Amigos do Horto (Amahor), os mo-radores preenchem to-dos os requisitos que a legislação exige para que tenham suas moradias regularizadas: ocupação da terra há mais de cin-co anos e renda familiar de até cinco salários mí-nimos mensais. (MS)

res não permitirão “que o capital venha e passe o rodo”. “Dinheiro não tem poder para tudo. Quem tem poder é o povo, é a coragem do povo de re-sistir, e essa coragem nós temos”, completa.

E a assembleia disse não

De acordo com o as-sessor especial do Minis-tério, Luiz Carvalho, não existe um projeto para re-alocar os moradores e ca-da caso vai ser tratado se-paradamente.

Em assembleia com 500 pessoas, ainda no dia 7, os moradores rejei-taram a proposta do go-verno de recadastramen-to de seus dados. “Foi uma comoção coletiva e de forma unânime re-solvemos que não vamos aceitar essa decisão. Pri-meiro, pela falta da par-ticipação popular e, se-gundo, pela forma arbi-trária e de total desres-peito”, explica Emília.

A decisão foi confi r-mada em nova assem-

“Quem tem poder é o povo, é a coragem do povo de resistir, e essa coragem nós temos”

bleia no sábado, 11. Na ocasião, os moradores afi rmaram que o jornal O Globo produz reporta-gens para jogar os cario-cas contra os moradores da comunidade. E afi r-mam que a Rede Globo tem interesse na área, in-clusive para a construção de um estacionamento. Ainda de acordo com fa-las na assembleia, a Glo-bo tem forte infl uência na Associação de Mora-dores do Jardim Botâni-co (AMA-JB). (Colabora-ram Alan Tygel, Aneci Pa-lheta, Claudia Santiago e Sheila Jacob)

Pedro Marins

Em assembleia, moradores do Horto decidem não aceitar proposta do governo

Pedro Marins

Moradores vivem clima de apreensão criado pelo medo de perder suas casas

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 brasil | 09

Entretanto, alguns dados revelam que o exame para estrangeiros tem sido extremamen-te rigoroso em nosso pa-ís. Os médicos cubanos têm índice de aprovação em Portugal de mais de 70% e no Brasil de ape-nas cerca de 10%. Ou-tro número importante é que 10% dos médicos em atividade em Portu-gal são estrangeiros. Na Inglaterra são 40%. No Brasil, esse número é menor que 1%.

Pedro Carranode Curitiba (PR)

Cuba envia médi-cos para mais de 70 pa-íses e tem o investimen-to de 12% de seu orça-mento nacional direcio-nado ao setor da saúde. Recentemente, o Minis-tério da Saúde brasilei-ro anunciou a intenção de contratar médicos estrangeiros, incluin-do a vinda imediata de 6 mil médicos cubanos para atuar nas regiões mais carentes do país, no interior do programa “Mais Médicos”.

No total, os médi-cos cubanos já trata-ram mais de 85 milhões de pessoas ao redor do mundo.

O anúncio do governo federal despertou rea-ções contrárias do Con-selho Federal de Medi-cina (CFM) e da Asso-ciação Médica Brasilei-ra (AMB).

Segundo o Professor Kico, membro do Ce-brapaz-PR e um dos or-ganizadores da 21ª Con-ferência de Solidarieda-de à Cuba, que será re-alizada de 13 a 15 de ju-nho, em Foz do Iguaçu (PR), o governo brasi-leiro pretende sustentar essa medida, “irreversí-vel”, em que pese a pres-são corporativa do CFM. “O protocolo já está pa-ra sair, via Organização Panamericana de Saú-de (Opas – ligada à Or-ganização Mundial de Saúde). Então, o proces-so corre por fora dessa pressão do CFM”, avalia.

O Conselho Fede-ral de Medicina tem disseminado sua posi-ção contrário por meio de blogs conservadores na internet. Para o inte-grante do Cebrapaz, es-ta posição se atribui ao corporativismo das en-

Governo defi ne vinda de6 mil médicos de Cuba SAÚDE Medida é atacada pela mídia a partir de pressão do Conselho Federal de Medicina e AMB

tidades médicas. “O ar-gumento do Conselho é de que os médicos cuba-nos não fi cariam no pa-ís. Mas, se fi carem a cur-to prazo, de cinco a dez anos, até conseguirmos formar nossos próprios quadros, serão úteis nas cidades onde não temos médicos”, afi rma.

A experiência de con-tratação de médicos es-trangeiros, de acordo com ele, teve um ensaio no estado de Tocantins. Mesmo o governo local não tendo uma orienta-

ção à esquerda, contratou 60 médicos cubanos. “Fi-caram lá durante um ano e meio, foi uma experiên-cia válida”, afi rma, ressal-tando a necessidade de envolvimento dos esta-dos – e não só dos muni-cípios – nesta questão.

Qualifi caçãoA atual medida do go-

verno brasileiro refl e-te, de acordo com o in-tegrante do Cebrapaz, a continuidade de uma agenda positiva entre Brasil e Cuba. “É a sequ-ência de uma caminha-da e nunca houve tan-tas exportações entre os dois países”, comenta.

O professor defende a importância da medi-da para reforçar a políti-ca de integração no Mer-cosul. “A integração es-tá cada vez mais fi rme, entendendo que a pro-posta do Itamaraty é por uma integração solidá-ria”, exemplifi ca.

A experiência de contratação de médicos estrangeiros, de acordo com ele, teve um ensaio no estado de Tocantins

“O argumento do Conselho é de que os médicos cubanos não fi cariam no país”

A ida de médicos cubanos para integrar o programa “Bairro Adentro”, na Venezuela também recebeu críti-cas de setores conserva-dores no país vizinho.

Na avaliação de Jaque-line Teixeira, estudan-te brasileira de medici-na na Escola Latino-a-mericana de Medici-na (ELAM, localizada em Havana), o progra-ma funciona dentro de um projeto mais amplo, de consolidação do sis-tema de saúde pública venezuelano. “Ele con-ta com diversos níveis de atenção. Cobre o ní-vel primário e, em parte, secundário”, informa Ja-queline. (PC)

BAIRRO ADENTRO

Brigada Médica Internacional Henry Reeve

Médicos cubanos atendem paciente no Haiti: corporativismo das entidades médicas no Brasil é obstáculo

FATOS EM FOCO

ABI é invadida A sede da Associação Brasileira de Impren-sa (ABI) foi invadida na madrugada desta quarta-feira (15), su-postamente por assal-tantes que teriam en-trado no prédio, atra-vés de andaimes. Fo-ram levados bens ma-teriais irrisórios. Os invasores danifi ca-ram, sobretudo, o sé-timo andar, onde fun-cionam a administra-ção, o site da ABI, a diretoria, dois peque-nos auditórios. O au-ditório principal, pa-ra 800 pessoas, fi cou parcialmente sem luz, além do 11º e segun-do andar.

Estranho assaltoO estranho assalto pode ter sido motiva-do em razão do em-penho da ABI pela abertura dos arquivos da ditadura e apoio à Comissão da Verda-de e, ainda, represá-lia ao projeto de lei de iniciativa popular por uma mídia democrá-tica, com participação de membros da ABI.

IndústrianacionalA produção industrial brasileira, em mar-ço, aumentou em oito das 14 regiões pesqui-sadas pelo IBGE. O maior aumento foi no Paraná, 5,4%; Minas registrou 4,4%. O Es-tado de São Paulo te-ve aumento de 0,68%. A recuperação, mo-desta, não é dissemi-nada. Segundo fontes do próprio IBGE, ela se concentra mais no setor automotivo e na cadeia relacionada ao setor de automóveis.

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | mundo10

Elza Fiúza/ABr

Pedro Rafaelde Brasília (DF)

Desde que foi instituí-da, em 1995, a Organiza-ção Mundial do Comér-cio (OMC) sempre refl e-tiu o interesse das eco-nomias mais poderosas do planeta. A ideia de fi -xar as mesmas regras e parâmetros para a tro-ca de mercadorias, num progressivo processo de liberalização comercial, tenderia a reproduzir e aprofundar as desigual-dades entre os países.

Quase duas décadas depois, como refl exo po-lítico da crise econômica de 2008, o esboço de um novo cenário começa a se desenhar.

No que parece ser sua maior infl exão desde que foi criada, a OMC terá à sua frente, pela primeira vez, um diretor-geral la-tino-americano. O diplo-

GEOPOLÍTICA Eleição de embaixador brasileiro para dirigir Organização Mundial do Comércio fortalece multilateralismo e amplia força política das potências emergentes

mata brasileiro Roberto Azevêdo, 55 anos, só pô-de ser indicado ao posto, na semana passada, após um longo processo elei-toral que durou dois me-ses e envolveu oito candi-datos em três turnos.

Os números não são divulgados, mas calcu-la-se que Azevêdo tenha recebido apoio de 93 dos 159 países-membros da organização, quando o mínimo necessário eram 80 votos.

Na rodada fi nal, ele concorreu com o mexica-no Hermínio Blanco, ex-ministro da Indústria e Comércio do México, en-tre 1994 e 2000, um dos principais arquitetos do Acordo de Livre Comér-cio da América do Nor-te (Nafta, na sigla em in-glês), assinado com Es-tados Unidos e Canadá. O economista recebeu o apoio da União Europeia,

Estados Unidos e Japão. O contraste nos votos

opôs a preferência das nações mais ricas com a posição das potências emergentes e países po-bres. O brasileiro contou com votos da maioria dos países latino-americanos e africanos, além das po-derosas economias de Rússia, Índia, China, Áfri-ca do Sul e alguns outros países asiáticos.

“Foi uma vitória po-lítica muito importante, que sinaliza mudanças na correlação de forças da geopolítica mundial. Há alguns anos, Estados Unidos, Europa e Japão não veriam seu candida-to derrotado para a dire-ção-geral da OMC”, diz Fátima Mello, mestre em relações internacionais e membro da Federa-ção de Órgãos para a As-sistência Social e Educa-cional (Fase).

Para ela, talvez seja uma das mais importan-tes conquistas diplomá-ticas do Brasil no perío-do recente. “Refl ete um olhar anti-imperialista e a luta por um sistema inter-nacional mais democráti-co, onde as potências tra-dicionais estão perdendo peso”, avalia.

A postura unifi cada das economias emergen-tes também marcou a re-confi guração política in-ternacional expressa na escolha do novo diretor-geral da OMC.

“Ficou muito clara a vontade dos países em desenvolvimento. E is-so remonta à iniciativa

do Brasil e de outros pa-íses na criação do gru-po de nações em desen-volvimento, o G-20, no âmbito da própria OMC, há dez anos. E, mais re-centemente, a composi-ção dos Brics [Brasil, Rús-sia, Índia, China e África do Sul]”, comenta Kjeld Jakobsen, diretor do Ins-tituto para o Desenvolvi-mento e Cooperação das Relações Internacionais (Idecri).

Também pesou o per-fi l do embaixador brasi-leiro. Roberto Azevêdo é diplomata de carreira há representante perma-nente do Brasil na OMC. Está diretamente envolvi-do em assuntos econômi-cos e comerciais há mais de 20 anos.

Foi chefe do Departa-mento Econômico do Mi-nistério das Relações Ex-teriores (Itamaraty), de 2005 a 2006, e liderou a delegação brasileira nas negociações da Rodada Doha da OMC, sobre li-beralização comercial.

MultilateralismoA expectativa em torno

da nova direção da OMC

recai sobre a capacida-de da organização em fo-mentar o multilateralis-mo na composição de re-gras comerciais e medi-das para o desenvolvi-mento dos países.

Desde o fracasso dasnegociações em Doha, háquase uma década, quan-do países ricos e econo-mias emergentes nãochegaram a um consen-so sobre redução de tari-fas para produtos agríco-las e industriais, os acor-dos bilaterais, entre doisou poucos países, cresce-ram muito. Esses acordosde livre comércio acabampassando ao largo do de-bate na organização.

Para especialistas, es-sa foi a principal estraté-gia das nações ricas paraexpandir a liberalizaçãoeconômica de forma des-coordenada.

Os Estados Unidos,por exemplo, estabele-ceram pactos comerciaiscom Chile, Peru, Colôm-bia e, há uma semana, opresidente Barack Oba-ma anunciou a intençãode costurar um acordode livre comércio com aUnião Europeia.

Vitória do Vitória do Sul na OMCSul na OMC

“Foi uma vitória política muito importante, que sinaliza mudanças na correlação de forças da geopolítica mundial”

O embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, eleito diretor-geral da OMC

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 cultura |

Sheila Jacobdo Rio de Janeiro (RJ)

Tem ganhado cada vez mais destaque no cenário musical do Rio a banda El Efecto. Ela é formada por cinco jovens que acredi-tam no poder da músi-ca de gerar refl exões, in-quietações, mal-estar e também esperança de mudar o mundo em que vivemos.

A banda existe desde 2002 e é formada por Bru-no Danton, Tomás Rosa-ti, Eduardo Baker, Pablo Barroso e Gustavo Lou-reiro. Nesses onze anos de estrada, o grupo já lan-çou quatro álbuns: Co-mo qualquer outra coisa (2004), Cidade das Almas Adormecidas (2008), No-vas Músicas Velhas An-gústias (2010) e Pedras e Sonhos (2012).

As letras são encanta-doras e ilustram a cren-ça de que a música po-de servir para questio-namentos e para repen-sar a forma como cada um se coloca diante dos problemas.

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Banda El Efecto compõe músicas sobre a política do Rio de JaneiroMÚSICA Letras sobre atuação de Eike Batista e as decepções com o governador Sérgio Cabral animam as plateias

CABRAL ONTEM E HOJE: A MESMA VIOLÊNCIA

Pra matar índio quem chegou de caravela?Cabral! Cabral! Cabral!Pra matar pobre que chegou lá na favela?Cabral! Cabral! Cabral!Tu prometeu na eleição que ia acabar com o caveirão... Mas que caô!Se elegeu governador,Esqueceu do trabalhadorMas viemos te cobrar o que é de direitoDignidade, justiça e respeito!

O grupo tem fãs no Brasil inteiro e já tem apresentações marcadas em São Paulo e em Minas Gerais. Também preten-dem fazer shows nas re-giões Nordeste e Centro-Oeste. No Rio de Janei-ro, a próxima apresenta-ção será nesta sexta-fei-ra, dia 17 de maio, na fes-ta de comemoração dos cinco anos da Revista Ví-rus Planetário.

A festa será no Cen-tro de Artes Maria Tere-sa Vieira: Rua da Cario-ca, 85, Centro do Rio. A

comemoração começa às 19h, e o show da ban-da está previsto para 1h da manhã.

Cabral e Eike

Quando ouvimos as canções da banda El Efecto percebemos que a boa música pode ser uma importante aliada às ini-ciativas de luta e pode, também, contribuir pa-ra a construção de alter-nativas. Uma dessas mú-sicas de refl exão é a can-ção em forma de cordel “O encontro de Lampião e Eike Batista”, que já teve mais de 187 mil visualiza-ções no youtube e está no último CD lançado.

A letra narra o momen-to em que o megaempre-sário tenta comprar as terras do bando de Virgu-lino Lampião. E a respos-ta? “Tu pode comprar São Paulo e o Rio de Janeiro / Foto em capa de revista por causa do seu dinhei-ro/ Ter obra no mundo inteiro, petróleo, minera-ção / Mas aqui nesse pe-daço, quem manda é o rei do cangaço…”

Nessa divertida e atu-al obra de fi cção, Eike Batista e seu grupo têm que fugir e, nos shows, a plateia vibra com o ver-so fi nal: “Eike, Eike, Ei-ke, Eike, Eike, hay que resistir!”.

Outro personagem do cenário político ca-rioca que vira tema das composições do grupo é o atual governador do Estado do Rio. Em “Ca-brais”, o grupo compara Sérgio Cabral ao portu-guês de mesmo sobreno-me que chegou ao Brasil em 1500.

No passado, os índios foram perseguidos e mortos; hoje, as princi-pais vítimas da atual po-lítica são o povo pobre e favelado. “Essa é uma

música simples, uma marchinha feita espe-cialmente para uma ma-nifestação contra a cri-minalização da pobre-za. Também foi feita a partir da indignação so-bre algumas declarações e falsas promessas do governador em seu pri-meiro mandato. Infeliz-mente não faltam episó-dios que renovam a atu-alidade da música”, con-tam os artistas.

Na opinião do grupo, o governador Sérgio Ca-bral e o empresário Eike Batista representam as vontades dos grupos pri-vados na nossa cidade e

No Rio de Janeiro, a próxima apresentação será nesta sexta-feira, dia 17 de maio, na festa de comemoração dos cinco anos da Revista Vírus Planetário

Em “Cabrais”, o grupo compara Sérgio Cabral ao português de mesmo sobrenome que chegou ao Brasil em 1500

o poder público a servi-ço desses interesses. “Es-sa articulação ‘canalha’ éum alvo importante paraa luta por justiça social,por isso temos que criti-cá-los!”, explicam os inte-grantes da banda.

Para conhecer o traba-lho do grupo, basta aces-sar www.elefecto.com.bre baixar todos os discos.Nessa página tambémestão os contatos parashows, a agenda com aprogramação e outras in-formações. O grupo tam-bém possui uma pági-na no Facebook: https://w w w . f a c e b o o k . c o m /bandaelefecto

MÚSICA

Domingo é Dia de Cinema

Divulgação

Banda El Efecto se apresenta em sessão do projeto Domingo é dia de cinema, no Odeon

Canções da banda estimulam refl exão e construção de alternativas

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | cultura12

Vivian Virissimodo Rio de Janeiro (RJ)

Zózimo Bulbul nunca concordou com a con-dição reservada aos ne-gros nas telas do cine-ma. Teimoso, escreveu e dirigiu seus próprios fi lmes e se tornou um dos maiores expoentes da cinematografi a afro-brasileira.

Como ator, trabalhou em mais de 30 produ-ções, com destaque para o clássico Terra em Tran-se, de Glauber Rocha, 5XFavela, de Leon Hirst-ma, e Filhas do Vento de Joel Zito Araújo.

Com intensa progra-mação, a Semana Zózi-mo BulBul será no Cen-tro Afro Carioca, na Rua Joaquim Silva, 40, La-pa, às 18h30. A lotação é de 36 pessoas, portan-to confi rme sua presen-ça: [email protected]. Todos os fi lmes são dele, exce-to A deusa negra e Com-passo de Espera.

Segundo Naira Fer-nandes, uma das direto-ras do Afro Carioca, Zó-zimo criou o centro em 2007 para garantir um local para exibir seus fi l-mes porque ele não en-contrava espaço nas ca-sas comerciais.

“Esse é o primei-ro evento depois de sua morte. O objetivo é não deixarmos cair no es-quecimento uma fi gu-ra como Zózimo Bulbul. Por isso, queremos dia-logar com os jovens que não conhecem sua cine-matografi a”, fala.

Naira explica que o grande legado do dire-tor foi aproximar a Áfri-ca do Brasil por meio do cinema. “Antes desse es-forço, o brasileiro não conhecia a África. Nin-guém tinha feito essa

Cinema afro-brasileiro na Semana Zózimo BulbulMOSTRA Morto em janeiro de 2013, Zózimo será homenageado no mês da consciência negra no Centro Afro Carioca de Cinema

aproximação. Como ele sempre dizia, a abolição ainda não foi concluída nesse país”, destaca.

ProgramaçãoA programação ini-

cia na segunda-feira (20) com o documentá-rio Abolição. O fi lme de 1988 faz, através de um olhar negro, o resgate dos 100 anos da Lei Áu-rea, questionando o ti-po de abolição que hou-ve no país que até hoje é desigual e racista.

Antes da exibição ha-verá debate com Edinho Alves, Flavio Leandro e Ruth Pinheiro (militan-te do movimento negro).

No terça (21), será exi-bido o documentário Aniceto em dia de alfor-ria (1981) que conta a tra-jetória do fundador da Escola de Samba Impé-rio Serrano e militante no Cais do Porto: Aniceto do Império Serrano.

Na sequência, o “A deusa negra” (1979), fi l-me fi ccional do dire-tor Ola Balogun (Nigé-ria), narra a história do africano Babatunde que vem ao Brasil em busca

de seus ancestrais e re-vive, pelos caminhos do candomblé, o percurso de seu ancestral escravo, Oluyole.

Na quarta (22), é o dia do fi lme Alma no Olho, considerado o melhor trabalho de Zózimo. O fi lme faz uma refl exão sobre a identidade ne-gra no Brasil, focando a origem africana, a colo-nização europeia e a li-beração através da cul-tura. Também será exi-bido o fi lme Compasso de Espera (1973), do di-retor Antunes Filho, que conta com atuação de Zózimo.

Veja a sinopse: O poeta Jorge (Zózimo Bulbul), se apaixona por Cristi-na, uma jovem branca e rica, passando a sofrer preconceito.

Na quinta (23), a pro-jeção será do fi lme Sam-ba no Trem (2005), so-bre a celebração do Dia Nacional do Samba.

Em seguida, o docu-mentário República Ti-radentes (2005) uma homenagem principal-mente à origem das ga-fi eiras.

Na sexta (24), o docu-mentário Pequena Áfri-ca (2002) apresenta a Praça XI, a Central do Brasil, Gamboa, Saúde e bairro de Santo Cristo de hoje, e que eram conhe-cidos nos idos de 1850 até 1920 como Peque-na África, por terem si-do locais habitados por escravos alforriados no período imperial.

Depois, é a vez do “Zona Carioca do Por-to” (2006), fi lme base-ado na resistência e na ancestralidade dos afri-canos que lá chegaram, habitaram e construí-ram a zona portuária, e parte da resistência cul-tural de nosso povo.

Samba – da Saúde com Terrei-ro de Breque - 16/5 (5ª feira) - 19h - Largo de São Francisco da Prai-nha – do Ouvidor - 18/5 (sá-bado) - 16h30 - Rua da Ouvidor com Rua do Mercado– da Cartola - 19/5 (do-mingo) - 17h - Praça do Poeta - Catete (ao la-do do Museu da Repú-blica)– da Pedra do Sal - 20/5 (2ª feira) - 18h - Pedra do Sal – Gamboa

Teatro “Dona Mulata e Triun-fo”. Com texto e direção de Miguel Pinheiro, a peça conta com a atua-ção de Marisa Francis-ca e Welket Bungué. Si-nopse: Um encontro entre Dona Mulata e o escravo Triunfo, resis-tentes ao tempo, os per-sonagens viajam des-de a época da escrava-tura até os dias de ho-je. A encenação ocor-re na Pedra do sal, pró-ximo ao Largo de São Francisco da Prainha, na Praça Mauá. Com 90 minutos de duração, os atores apresentam a peça na quinta-feira e no sábado, às 19h.

Exposição“2 Complexos” – mos-tra fotografi as que são resultado dos proje-tos Foto Clube Alemão (Morro do Alemão) e Mão na Lata (Favela da Maré). A exposição po-de ser visitada até 28 de julho na Galeria Pretos Novos, na Rua Pedro Ernesto, 32, na Gam-boa. Terça a sábado, das 10h à 18h.“Nossos traços, novos espaços” – Em cartaz até 9/6, o grupo de ar-tistas multimídia, com origem em Niteroi e São Gonçalo, expõe seus graffi tis no Estú-dio Belas Artes, na Tiju-ca (R. Major Ávila, 430 - 2204.1004).

AGENDA 0800

“Antes desse esforço, o brasileiro não conhecia a África. Ninguém tinha feito essa aproximação. Como ele sempre dizia, a abolição ainda não foi concluída nesse país”

Fotos: Reprodução

O ator e cineasta Zózimo Bulbul

Zózimo em Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz

Cena do Filme A Compadecida

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 variedades | 13

HORÓSCOPO

Nesta semana pessoas próximas e questões familiares vão exigir mais atenção. Novas atividades que há tempos tinha interesse vai desperta-lo novamente. No amor, a tendên-cia é para expor mais seus sentimentos.

Áries(21/3 a 20/4)

Sua semana deve ser aproveitada para transmitir sentimentos de maneira mais intensa. Nas relações amorosas, dedique de forma intensa. Momento é bom para refl e-tir sobre as coisas que são realmente úteis.

Câncer(21/6 a 22/7)

Sua semana terá momentos bons para mudar planos. Seja um pouco mais diplomático com as diferenças nas relações. Compartilhe seus momentos com outras pessoas. Isso vai fazer bem.

Libra(23/9 a 22/10)

Momento para perceber diferenças com algumas relações. Paciência e respeito são importantes no convívio com outras pes-soas. Procure se dedicar mais a cuidados com corpo e a saúde.

Capricórnio(22/12 a 20/1)

A semana vai exigir ponderações para ações e questões fi nanceiras. Esclarecer assuntos pen-dentes pode ajudar nas relações. Mas cuidado para não ser disperso com quem mais gosta. Tudo pode fi car bem, só depende de você.

Touro(21/4 a 20/5)

A semana é propícia para buscar novos rumos, direção a projetos e assuntos importantes. Nos relacionamentos afetivos, evite impulsos e posturas exageradas. Um bom momento para se comunicar com quem mais gosta.

Leão(23/7 a 22/8)

Semana especial para novos conhecimen-tos e refl exões sobre trabalho. Período favorável para negócios e novos projetos. No amor, questões profi ssionais deixa você vulnerável. O orgulho pode atrapalhar.

Escorpião(23/10 a 21/11)

A semana é indicada para esclarecimento de sentimentos mal resolvidos. Momento de tomar decisões importantes que devem marcar sua vida amorosa. Valorize o roman-tismo e simplicidades.

Aquário(21/1 a 19/2)

Sua semana exige ponderações com aquelas questões necessárias em sua vida. Momento é favorável para novos contatos. Procure conversar sobre assuntos familiares e da vida amorosa.

Gêmeos(21/5 a 20/6)

Semana propícia para estudos e atividades culturais. Em relacionamentos, momento para mais cuidado. Pense bem antes de falar, sua comunicação estará mais direta. No trabalho, avalie bem se envolver mais responsabilidade.

Virgem(23/8 a 22/9)

Momento importante para tomada de decisões, tanto no trabalho ou fi nanceiras. A semana exige mais observação nas outras pessoas, até para saber como se portar diante delas. Pensamentos positivos na vida afetiva.

Sagitário (22/11 a 21/12)

A semana vai propiciar tensões. Então, recomenda-se ponderação na maneira de lidar as pessoas e com assuntos espinhentos. Evite polêmica com coisas sem importância. No amor, procure resolver antigas pendências.

Peixes(20/2 a 20/3)

PALAVRAS CRUZADAS DIRETASwww.coquetel.com.br © Revistas COQUETEL 2013

BANCO 34

Única pes-soa que

podia cri-ticar o rei

(?) certo:ter bom

resultado

Brinde distribuído

no final do ano

Bebidaalcoólicacaseira e tradicional

Festacatólica de 25 dedezembroSecreçãoprotetorado estô-

mago

Condiçãoreligiosade AlbertCamus

Planta quefornece aatropina

Período de maioratividadecorporal

Como ficaa pupila

no escuro

Tipo demerceariaque vende

frutas

Expressãosonora de re-

provação

Acalmar;serenar

Estado nordestinoda Praiado Futuro

Ave-símbolo doPantanal

Eventoesportivode Torontoem 2015

Formatodo ben-jamim

Vitamina(?):

ácidoascórbico

Sean Penn, atorde "Milk"

(EUA)

Formagráfica de zero

Membrosdo corpodiscente

Henrique(?), reiinglês

(séc. XV)

"A Crechedo (?)",comédia

(Cin.)

Comogostam deandar osnaturistas

Laurêncio(símbolo)

VladimirNabokov,escritorrusso

Especialidade médicade Adib Jatene

Livro de poesia deOswald de Andrade

Construtorda Arca(Bíblia)

Debaixo de

Gelo, eminglês

Sujeira;mancha

CedeTemperoextraído da oliva

Volt(símbolo)

3 notamusical

EquipeEmbar-caçãogrande

Provocar(fogo)

Bom, eminglês

Norma;princípioSaudação

juvenil

Escolherem eleição

Torna aamarrar

AmásiaA maior cidade dacomunidade autô-

noma da Catalunha

a

V A I A3/ice. 4/good — muco. 8/beladona. 9/pau-brasil. 11/cardiologia.

SoluçãoJogos e enigmas queatravessaramos séculos.Nas bancase livrarias

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NOERVAIAT

RANQUILIZARAUOOET

CITPICEESTUDANTES

PAPAINOEARNUSDVN

CARDIOLOGIAPAUBRASIL

ASTROLOGIA - Semana de 16 a 22 de maio de 2013A semana exige ponderação para lidar com pessoas e relações próximas; Momento para priorizar o diálogo.

Banksy

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | esporte14

Daniel Israelda Redação

Presidente de honra da Fifa até o fi m de abril, o brasileiro João Have-lange renunciou ao cargo para não correr o risco de ser cassado (sofrer o im-peachment, como ocor-reu com o ex-presidente Collor).

Como noticiou o Bra-sil de Fato-RJ, Havelan-ge é acusado de ter favo-recido, quando era presi-dente da entidade máxi-ma do futebol (entre 1974 e 1988), a empresa de marketing esportivo ISL em contratos sobre direi-tos de transmissão de jo-gos da Copa do Mundo.

Para evitar que o Enge-nhão sirva à memória do dirigente, três vereado-res do Partido Socialismo e Liberdade (PSoL) apre-sentaram um projeto de lei (PL) para que o Enge-nhão passe a se chamar Estádio Olímpico João Saldanha.

No Engenhão, No Engenhão, a homenagem a homenagem é para outro Joãoé para outro João

MUDANÇA DE NOME Vereadores propõem projeto de lei para tirar nome de Havelange e colocar o de João Saldanha

“A origem do PL se de-veu ao que ouvíamos dos torcedores. Além do mais, o Havelange não tem cur-rículo, então nós abraça-mos a causa não apenas porque acreditamos, mas por ser a vontade de uma parte signifi cativa da po-pulação carioca”, conta o vereador Eliomar Coelho.

O prefeito Eduardo Pa-es se manifestou contrá-rio à mudança do nome, mas disse que a decisão cabe à diretoria do Bota-fogo. “Mesmo com a dis-cordância do prefeito, nós mobilizamos até um dos sobrinhos do João Saldanha (o historiador do esporte Raul Milliet).

É o momento de mudar, além de ser uma forma de melhorar a cara da ci-dade”, afi rma o vereador Paulo Pinheiro.

Uso do nome O estádio foi inaugu-

rado nos Jogos Pan-Ame-ricanos de 2007, mesmo ano em que o Botafogo ganhou a licitação que o permitiria arrendá-lo (ter a concessão) por 20 anos. Pelo lado do Bota, a ques-tão passa pelo direito de uso do nome que o clu-be tem como ofi cial: Sta-dium Rio.

“Não é que o Botafogo, ou sua diretoria, seja con-trário à mudança no no-me do estádio. A questão gira em torno do direito sobre uso do nome (co-nhecido pelo termo em inglês, naming rights) do estádio”, pondera Carlo Carrion, da assessoria de imprensa do Botafogo.

Segundo ele, é uma forma de se agregar valor à marca através da assina-

tura de contratos com al-gum parceiro comercial, que colocaria seu nome no estádio. “Acredito que o clube nem mesmo te-nha autonomia para al-terar o nome, de João Ha-velange para João Salda-nha, explica.

Interditado para par-tidas de futebol há qua-se dois meses (desde 26 de março) por falhas es-truturais, o Botafogo re-pensa a continuidade no uso do estádio: por mês, o clube tem um gasto de cerca de R$ 40 mil na ma-nutenção.

Para o vereador Rena-to Cinco, é boa a expec-tativa para a aprovação do projeto de lei. “O PL está na Mesa Diretora da

Câmara dos Vereadores desde quinta-feira (9 de maio) e não tem previsão para ser votado, destaca.

No próximo dia 27, às 18h30, está programado um debate público na Câ-mara, a respeito do tema.

Serviço

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro (CMRJ) fi ca na esquina da Rua Alcin-do Guanabara com a Praça Mahatma Gandhi, na Cinelândia, Centro.

“Não é que o Botafogo, ou sua diretoria, seja contrário à mudança no nome do estádio”

“É o momento de mudar, além de ser uma forma de melhorar a cara da cidade”

Funcionário trabalha na manutenção do gramado do Engenhão

O ex-presidente da FIFA, João Havelange

Marino Azevedo/Governo RJ

Wagner Meier/AGIF/Botafogo Ofi cial

Page 15: Brasil de Fato RJ - 003

Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 esporte |

para a realização desses eventos”, cita Gaff ney.

Mas o primeiro docu-mento desse tipo foi lan-çado em dezembro de 2011, pelo Comitê Nacio-nal da Copa e Olimpía-das. Gaff ney lembra que

as exigências feitas pelaFifa (no caso do Rio, tam-bém o Comitê Olímpico)criaram no Brasil “novasformas governamentais”.

“Esse dossiê foi impor-tante, além de tudo, por-que apontou todas as vio-lações praticadas no pa-ís, passando por cimade leis locais. A Lei Ge-ral da Copa, aprovada pe-la presidenta Dilma Rous-seff , deu carta branca pa-ra que se passasse por ci-ma da proibição de vendade bebida alcoólica nosestádios. Uma das expli-cações é que a Budwei-ser (marca de cerveja dosEUA, representada pelaBrahma, no Brasil) patro-cina a Fifa”, aponta. (DI)

15

Em setembro de 2012, saía a primeira edição do dossiê organizado pelo Comitê Popular do Rio de Janeiro. Naquela versão do documento, foi dado destaque à articulação do Comitê com moradores de favelas ameaçadas de remoção.

“Além das remo-ções, nos preocupamos em abordar o proces-so de privatização na ci-dade, tendo como pon-to de partida as reformas no Maracanã. Mas nos-so aprofundamento tam-bém serviu para enten-dermos os diversos me-canismos empregados pelos governos (muni-cipal, estadual e federal)

Dossiê aponta violações aos direitos humanos em obras MEGAEVENTOS Documento atualiza como órgãos públicos desrespeitam as vidas de milhares de cariocas

CARTA BRANCA Exigências da Fifa passam por cima de leis locais

Daniel Israeldo Rio de Janeiro (RJ)

Feitos com dinheiro público, os dois maio-res eventos esportivos do mundo não contarão com a diversidade que sempre foi a cara do po-vo carioca. Além do pre-ço dos ingressos, incom-patível com a realida-de da maioria da popu-lação, o aumento no pa-drão de vida, em toda a cidade, vem acompa-nhado por inúmeros ca-sos de violações aos di-reitos humanos.

Com a proposta de denunciar as violações cometidas contra as po-pulações mais pobres, o Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro lançou, na últi-ma quarta-feira (15), no Clube de Engenharia, no centro do Rio, a segunda edição do dossiê “Me-gaeventos e Violações

dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro”. No texto, atletas, moradores de favelas e pesquisado-res da UFF e UFRJ reve-lam como muitos cario-cas tiveram desrespeita-dos direitos básicos, co-mo a moradia, o meio ambiente e o trabalho.

“Em comparação com o primeiro dossiê, foram abertas outras li-nhas de investigação, nas áreas de economia e governança. Sobre se-

“O Batalhão de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra uma manifestação pacífi ca”

gurança pública, foi pos-sível analisar a presença dos militares, por exem-plo no jogo que marcou a reinauguração do Ma-racanã, no último sába-do de abril. Com a ale-gação de que era pre-ciso treinar os policiais para os próximos even-tos, o Batalhão de Cho-que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra uma manifestação pacífi ca, conta Christopher Gaf-fney, membro do Comi-tê Popular do Rio e pro-fessor de Pós-Gradua-ção na Escola de Arqui-tetura e Urbanismo da UFF (EAU/UFF).

O pesquisador da UFF adianta o que pre-tendem os integrantes do Comitê Popular com a ampliação das denún-cias. “A primeira edição teve uma repercussão internacional, por meio da mídia independente.

De novo, a mídia tradi-cional não vai dar aten-ção, mas o dossiê repre-senta a resistência aos megaeventos. Quere-mos que esse documen-

to seja um estímulo pa-ra se reverter o jogo e, assim, possamos buscar uma sociedade mais jus-ta”, explica.

Ainda sem outras da-

tas defi nidas, o ComitêPopular da Copa e Olim-píadas do Rio de Janeirodeve lançar o dossiê emoutros espaços, como fa-velas e universidades.

“Além das remoções, nos preocupamos em abordar o processo de privatização na cidade”

A serviço dos megaeventos

Museu do índio: gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha contra manifestantes

Tânia Rêgo/ABr

Lançamento da segunda edição do dossiê organizado pelo Comitê Popular do Rio

Rafael Daguerre

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Rio de Janeiro, de 16 a 22 de maio de 2013 | esporte

FLAMENGO 2 X 1 CAMPINENSE

16

APÓS O MASSACRE alemão na UEFA Cham-pions League, os olhos do mundo da bola se voltaram para o país tri-campeão do mundo.

Bayern de Munique e Borussia Dortmund tem grandes times, com excelentes treinadores, mas uma diferença fun-damental que empurra os alemães para o topo são seus torcedores.

O futebol não seria o que é sem seus amantes. E aí, abre-se um abis-mo entre a Alemanha e o Brasil.

Em torneios arrasta-dos, que fazem nossos clubes fi gurarem entre os que mais jogam por ano no mundo, o pre-ço dos ingressos retira

O que é que a Alemanha tem?os torcedores das arqui-bancadas, dando lugar a um punhado de abasta-dos espectadores.

Segundo a Pluri Con-sultoria, o Brasil tem o ingresso mais caro do mundo. A renda men-sal do brasileiro – de R$ 2.042,47 – paga 53 en-tradas para os jogos, por um valor médio de R$ 38,00 cada um.

A Alemanha ocupa o 14º lugar neste ranking. Pagando em média R$ 43,79 pelo ingresso, com uma renda mensal de R$ 6.813,99, o alemão ad-quire 155 bilhetes.

Enquanto os alemães ocupam 93% dos luga-res disponíveis nos es-tádios – parte signifi ca-tiva deles em pé, como

nós costumávamos fa-zer – nós precisamos dealguns jogos decisivospara elevar nossa taxade ocupação para pífi os44% dos assentos.

Nossos cartolas es-meram-se em retomaras origens do futebolbrasileiro, com arqui-bancadas de “coluna so-cial”. Sabem bem quaisas famílias que que-rem nos estádios: ricas ebrancas.

Aos demais, resta aopção mais barata e se-gura. O futebol-entrete-nimento da telinha. Osanunciantes agradecem,o futebol não.

Bruno Porpetta é autor do blog

porpetta.blogspot.com

opinião | Bruno Porpetta

Na próxima etapa, o time da Gávea pega o ASA (AL), que passou pelo Ceará

Aelson F. Amaral/VIPCOMM

Daniel Israeldo Rio de Janeiro (RJ)

Após amistoso entre Vasco da Gama e Tupy, no sábado (11), outro ti-me carioca atuou no Es-tádio Municipal Mário Helênio, em Juiz de Fo-ra (MG), no intervalo de quatro dias. O Flamengo fez valer a vantagem ob-tida em Campina Gran-de-PB e desclassifi cou o Campinense, após vitó-ria por 2 a 1.

Aos olhos de 20 mil presentes, o Flamengo começou pressionando e deu o primeiro chute a gol. Aos 3’, Ramon chu-tou forte, para boa defe-sa do goleiro Pantera, do Campinense. No minuto seguinte, Léo Moura cru-zou no meio da área. O zagueiro Dedé cabeceou de forma desengonçada, e a bola ainda bateu em Roberto Dias antes de entrar.

Até que, aos 5’, Bis-marck empatou após a bola sobrar livre na área do Flamengo. O empa-te deixou o jogo equili-brado, que passou a ter poucos lances de perigo. No restante do primeiro tempo, as duas equipes tiveram difi culdade para criar jogadas e entrar na área adversária.

A equipe carioca bus-cava o jogo mais pe-las pontas, com os late-rais Ramon e Léo Mou-ra. O Campinense, por sua vez, fazia infi ltrações pelo meio, tentando ar-rumar algum lance que resultasse em falta para cobrança de bola parada frontal ao gol de Felipe.

Aos 24’, Rafi nha rece-beu bom passe de Léo Moura e chutou cruzado. A bola desviou na zaga paraibana e sobrou pa-ra fácil defesa do goleiro Pantera. Em cobrança de falta pela ponta-esquer-da, aos 39’, o Campinen-se quase chegou ao gol.

Em sua 17ª participa-ção na Copa do Brasil, o Flamengo buscava o tri-campeonato (campeão

Flamengo vence de novoFUTEBOL Time carioca terá folga, até julho, na Copa do Brasil; estreia no Brasileirão será dia 26

em 1991 e 2006). O Cam-pinense jogava o torneio pela sexta vez.

Segundo tempoNo segundo tempo, o

time do Flamengo voltou a campo com uma mu-dança: Luís Antônio en-trou no lugar de Amaral. Já o Campinense voltou com a mesma formação.

Diferente da primeira etapa, quando as equi-pes fi caram empatadas na posse de bola, a en-trada do meia rubro-ne-gro signifi cou mais tem-po de bola nos pés do ti-me carioca.

De uma distância de pelo menos 35 metros, Renato cobrou falta, aos 13’, ao melhor estilo que o tornou conhecido no Brasil. A bola ainda des-viou na barreira e so-brou fácil para a defesa de Pantera.

Aos 15’, em lance po-lêmico que o auxiliar Pablo da Costa preferiu não marcar pênalti, Léo Moura foi puxado pe-la camisa e, depois, por um defensor do Campi-nense.

Dois minutos depois, Rafi nha deu bom pas-se para Elias, que chutou por cima. E Hernane, aos 19’, concluiu a gol, mas Pantera defendeu com facilidade.

Autor de um dos gols do Campinense na fi nal da Copa do Nordeste, Ri-cardo Maranhão entrou no lugar de Bismarck. Em seu primeiro chute à meta de Felipe, o atacan-te carregou até a meia-lua e, caído, chutou for-te. A bola subiu e não in-comodou o goleiro rubro-negro.

Após passe de Rafi -nha, aos 23’, Hernane chutou, e Edivânio, que acompanhava o lance, conseguiu desviar para escanteio. Na cobrança, o goleiro do time alvir-rubro, literalmente co-mo uma pantera, espal-mou pela linha-de-fun-do após belo voleio no ataque do time carioca.

Aos 30’, o técnico Oli-veira Canindé, do Cam-pinense, fez a segunda modifi cação: Tiago en-trou no lugar de Alberto. Já no Flamengo, Rena-to Abreu deu lugar a Ro-dolfo.

Passado um minuto, Elias tocou para o ata-cante Paulinho (que par-ticipava de um lance pe-la segunda vez), que de-volveu para o volante. Sem deixar a bola tocar o chão, Elias chutou com força e estufou a rede de Pantera.

Em falta cobrada da intermediária, ainda te-ve tempo para a última chance de empate da equipe paraibana: aos 38’, Felipe fez boa defe-sa, agarrando a bola à meia-altura e garantindo a passagem para as oita-vas-de-fi nal.

O Flamengo já sabe com que time vai jogar na fase de oitavas-de-fi -nal: será o ASA-AL, ape-nas em julho, após a Co-pa das Confederações. A equipe alagoana elimi-nou o Ceará, na quar-ta-feira (8/5), no Está-dio Presidente Vargas, em Fortaleza. Pelo Brasi-leirão, o time carioca en-tra em campo no dia 26, diante do Santos-SP, em Brasília.

GOLS: Roberto Dias (Contra), Bismarck e Elias FLAMENGO: Felipe, Léo Moura, Renato Santos, González e Ramon; Amaral (Luiz Antonio), Elias, Renato (Rodolfo) e Gabriel; Rafi nha (Paulinho) e Hernane. CAMPINENSE: Pantera, Al-berto (Tiago Granja), Edvânio, Roberto Dias e Panda; Wellington, Danilo Portugal (Edimar), Dedé e Bismarck (Ricardo Maranhão); Zé Paulo e Jeff erson Maranhense.