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Pesquisa do Congresso com governo Dilma.

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O governo Dilma na Câmara dos Deputados: comparando partidos e coalizões nos mandatos petistas. 

  

* NOTA DE PESQUISA1   

Fabiano Santos Júlio Canello 

  

Introdução. 

Após período conturbado, o da Copa das Confederações e as manifestações de junho, 

o governo readquire patamares elevados de aprovação e se torna mais uma vez favorito nas 

projeções dos institutos de pesquisa eleitoral. Por um lado, é certo que as taxas de apoio não 

voltaram aos níveis alcançados em  inícios de 2013, mas, por outro,  já era esperado que os 

sucessivos recordes de aprovação acabassem afetados pelos indicadores de inflação elevada e 

desempenho econômico abaixo do esperado. É razoável trabalhar, então, com a hipótese de 

que os números atuais, naquilo que são informativos a respeito do cenário político e humores 

dos votantes, expressam com maior  fidedignidade qual deve ser o ponto de partida do ano 

eleitoral.  

É importante, até mesmo central, refletir com mais cuidado sobre o que tem ocorrido 

na economia, os motivos pelos quais ela não vem crescendo tanto quanto se esperava e o que 

pode  ser  feito  para  a  frustração  não  resultar  ainda maior  em  plena  corrida  eleitoral. Nos 

primeiros anos à  frente da presidência, Dilma Rousseff promoveu mudanças  importantes e 

consideradas vitais, pelo conjunto mais significativo e expressivo do empresariado, para que o 

país pudesse crescer de maneira consistente com seu potencial, estimado em torno de 4,5 a 

5% ao ano: após promover pequena desvalorização no  câmbio, o Banco Central  inicia uma 

1 Esta nota reporta resultados parciais de pesquisa em desenvolvimento apoiada pela FAPERJ através do programa Cientista do Nosso Estado. Versão preliminar foi apresentada em 30/08/2013 no Workshop “Democracia, Redistribuição e Investimento: Dilemas Atuais do Desenvolvimento Brasileiro”, promovido pelo NECON em parceria com o Núcleo de Estudos do Empresariado, Instituições e Capitalismo (NEIC), ambos do IESP-UERJ. O banco de dados compilado pelo NECON e utilizado para este relatório encontra-se disponível ao público através do website do Núcleo.

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série de rodadas de redução na taxa básica de juros. Além disso, o custo da energia é reduzido 

de forma significativa, ocorrendo, também, a adoção por parte do Ministério da Fazenda de 

políticas  de  desoneração  tributária  em  segmentos  fundamentais  da  indústria.  Em  outras 

palavras, o governo fez o que o empresariado demandava como providências de curto prazo 

para que a indústria retomasse seu papel de polo dinâmico do desenvolvimento. 

Como  se  sabe,  os  efeitos  das medidas  estão  longe  de  corresponder  aos  objetivos 

colimados.  Sob uma perspectiva, é possível  sustentar que o  setor produtivo agiu de  forma 

oportunista,  vale dizer, usufruiu dos  rendimentos oferecidos por  taxas de  juros menores  e 

custos mais  baixos  de  produção,  via  desoneração  e  redução  do  preço  da  energia,  e  não 

entregou  aquilo  que  o  governo  e  sociedade  esperavam:  investimento.  A  resposta  do 

empresariado  levou  a  discussão  para  o  âmbito  do  Congresso Nacional  na medida  em  que 

fatores como o peso ainda elevado da burocracia, a ineficiência nos serviços de infraestrutura 

e  a  falta  de  preparo  da  mão  de  obra  são  elencados  para  explicar  o  baixo  retorno  em 

investimento das medidas adotadas no nível macro. Caberia a esta altura a indagação: teria o 

governo  Dilma  permanecido  inerte  no  âmbito  micro,  isto  é,  naquilo  que  se  refere  aos 

incentivos  legais para o investimento e a produção? Em outras palavras, não teria o governo 

apresentado  iniciativas  e  uma  agenda  de  políticas  visando  transformar  as  condições 

institucionais de funcionamento do capitalismo no Brasil?  

  Neste  texto, não  temos  respostas diretas para  tais questões. O que veremos, sim, é 

que os interesses do empresariado se fizeram sentir no Legislativo, o que acabou acarretando 

importantes  problemas  de  coordenação  no  interior  da  base  parlamentar  do  governo. 

Problemas  que  se  manifestaram,  sobretudo,  a  partir  da  disjuntiva  entre  PT  e  aliados  à 

esquerda versus PMDB, principal  interlocutor de segmentos específicos do capital, atingidos 

pontualmente a  cada política de envergadura proposta pelo Executivo. Assim, as perguntas 

que orientam a análise  feita nas próximas  seções podem  ser  resumidas da  seguinte  forma: 

Qual foi a performance da coalizão no plenário da Câmara dos Deputados em termos de apoio 

ao  governo  nas  votações?  Como  se  comportaram  os  partidos  em  termos  de  disciplina  e 

coesão, bem como apoio ao governo? Quais as diferenças e semelhanças desses  indicadores 

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em  relação aos governos petistas anteriores? Como se configurou o alinhamento partidário 

nesta legislatura? 

  Trabalhamos  com  a  hipótese  segundo  a  qual  o  governo  Dilma  se  caracteriza  pela 

transição de um modelo de governança baseado em uma coalizão em favor da redistribuição 

(tal como ocorreu durante o período Lula) para um que tem no investimento seu ponto fulcral 

e  nevrálgico,  onde  residem  tanto  os  desafios  econômicos  a  resolver,  quanto  as  tensões  e 

fragilidades políticas a superar. Trata‐se, em outras palavras, de um governo que busca uma 

agenda  capaz  de  definir  bases  de  longo  prazo  de  desenvolvimento  capitalista,  fortemente 

ancorado  na  coordenação  estatal,  mantendo‐se  ao  mesmo  tempo  os  pilares  construídos 

anteriormente  sob  a  égide  de  Lula  na  Presidência.  Veremos,  fundamentalmente,  como  tal 

transição tem gerado tensões e mudanças significativas no modo pelo qual a coalizão liderada 

pelo PT opera no Congresso, embora formalmente muito semelhante com a dos governos que 

antecederam Dilma Rousseff. 

 

Dados e Métodos. 

  Para discutir  tais questões, examinamos o comportamento das bancadas partidárias, 

coalizão de governo e parlamentares em votações nominais na Câmara dos Deputados, com 

foco nos três primeiros anos de cada um dos mandatos petistas no Planalto (2003‐05, 2007‐09 

e 2011‐13, até o final agosto do terceiro ano). Os resultados apresentados a seguir consistem, 

basicamente, em análises exploratórias das taxas obtidas para apoio ao governo, disciplina e 

coesão  partidária,  bem  como  a  estimação  de  pontos  ideais  para  os  partidos  políticos, 

considerando as orientações de  liderança. Espera‐se que este  recorte  temporal minimize os 

efeitos mais significativos das movimentações pré‐eleitorais na atividade  legislativa, aspecto 

merecedor de atenção específica. No caso do governo Dilma, por exemplo, tanto a criação de 

novos  partidos  políticos  (exceto  PSD,  considerado  na  discussão)  como  a  saída  do  PSB  da 

coalização governamental foram eventos posteriores, sem relação presumida com a dinâmica 

das votações em plenário. 

  Os dados brutos  foram obtidos pelo NECON diretamente da Câmara dos Deputados. 

Tais informações foram compiladas no banco de dados sobre votações nominais no plenário e 

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indicações  de  liderança,  disponibilizado  ao  público  pelo  Núcleo  através  de  seu  endereço 

eletrônico. Os  indicadores utilizados  (apoio ao governo, coesão e disciplina partidárias, com 

base  no  total  das  bancadas  ou  no  número  de  votantes)  foram  calculados  a  partir  de  um 

subconjunto  de  votações  nominais  selecionadas.  O  critério  fundamental  para  seleção  é  a 

existência  de  um  grau  mínimo  de  conflito  no  plenário.  Desse  modo,  foram  excluídas  as 

votações: 1) secretas; 2) unânimes; 3) quase consensuais, ou seja, aquelas com mais de 90% 

dos votos no lado majoritário2; e 4) aquelas em que os principais partidos (DEM, PDT, PMDB, 

PP,  PR,  PSB,  PSDB,  PT  e  PTB)  sinalizaram  a mesma  indicação  de  liderança. As  taxas  foram 

calculadas  para  os  partidos  mais  expressivos  em  cada  legislatura.  Assim,  apenas  as 

agremiações  que  ultrapassaram,  em  média,  10  votos  proferidos  no  plenário  da  Câmara 

aparecem na análise subsequente. Além disso, os indicadores de disciplina partidária somente 

consideraram o subconjunto de votações com registro de indicações de voto pelos respectivos 

líderes partidários. Do mesmo modo, o apoio partidário  considera apenas os  casos em que 

houve indicação expressa de voto pelo líder do Governo3. 

  A taxa de apoio ao governo corresponde ao percentual de parlamentares ou votos que 

segue a indicação do Líder do Governo. Tal medida foi observada 1) em termos gerais, como 

apoio recebido, considerando todos os parlamentares; e 2) agregada por partido, na forma de 

apoio ofertado. A coesão partidária foi mensurada através do usual índice de Rice4. Por fim, a 

disciplina  dos  partidos  teve  por medida  a  proporção  de  deputados  ou  votos  que  segue  a 

indicação do líder partidário5. Para examinar, ainda que indiretamente, a influência das faltas 

nas votações, os  três  indicadores  foram calculados com base  tanto no número de votantes, 

2 Sobre o terceiro critério de seleção, veja: FIGUEIREDO, Argelina e LIMONGI, Fernando (1999). Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional. Rio de Janeiro: Ed. FGV. 3 Desse modo, as votações sem indicação de líder partidário (disciplina) ou líder do governo (apoio) foram codificadas como casos faltantes (NAs). 4 Riceij = |%sim - %não|, para o partido i na votação j. Ou seja, para cada partido, em cada votação, é subtraído o percentual de votos “não” do percentual de votos “sim”, tomando seu resultado em valores absolutos. 5 Coesão e disciplina partidárias são conceitualmente distintas e implicam diferenças objetivas quanto à mensuração empírica. Em especial, enquanto para coesão interessa a congruência na preferência dos parlamentares de uma mesma agremiação ou bloco, para a disciplina o que importa é o grau de submissão à posição da liderança partidária, a despeito do posicionamento pessoal do deputado. Nossa medida também é imprecisa, pois, ao final, não é capaz de distinguir os casos em que o congressista alinha-se ao líder do partido por efeito de coesão. No caso, o inverso do nosso indicador poderia ser considerado uma medida de indisciplina.

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quanto  no  total  da  bancada  de  cada  partido. A  diferença  entre  os  percentuais  obtidos  de 

acordo com cada denominador é um indicativo do peso relativo das ausências no plenário. 

  Nossos  indicadores  conferem  atenção  diferenciada  à  obstrução.  A maior  parte  dos 

estudos sobre votações nominais em plenário tende a concentrar sua atenção nos votos “sim” 

e  “não”,  equiparando  as  declarações  de  obstrução, muitas  vezes,  a  abstenções  ou  simples 

faltas. Porém, a decisão de obstruir uma votação, normalmente pelas oposições,  indica uma 

tentativa  de  impedir  a  aprovação  de  uma  matéria  através  do  esvaziamento  do  plenário, 

evitando a obtenção do quórum necessário. Ou seja, pode significar uma forma alternativa de 

rejeição à proposta que não seja apenas o voto “não”. Uma oposição minoritária pode preferir 

obstruir  para  dificultar  a  passagem  de  um  projeto  no  qual  antevê  derrota  se  a  votação 

ocorrer. Nesse contexto, a obstrução declarada é mais significativa do que a simples ausência 

ao plenário, razão pela qual a equiparamos ao “não” nos  indicadores que  tem como base a 

totalidade das bancadas. 

  Durante o governo Dilma  (2011/2013, até o  final de agosto),  foram  registradas 289 

votações nominais no plenário da Câmara. Destas, oito foram consensuais, três secretas e 102 

classificadas como quase consensuais. Além disso, 76 votações não apresentaram divergência 

na indicação de liderança dos principais partidos. Assim, a cômputo dos indicadores levou em 

conta pouco mais da metade das  votações ocorridas  (147)6. A  tabela  seguinte apresenta o 

quantitativo geral para os  três governos petistas,  indicando, na última coluna, o número de 

casos analisados para fins de comparação.

Tabela 1. Número de votações nominais da Câmara dos Deputados. 2003‐2013. 

Governo  Votações Nominais 

Secretas  Consensuais Quase consensuais 

Sem  divergência na liderança 

Comparadas (2003‐2005) (2007‐2009) 

Lula I  442  7  23 194 104 175 

Lula II  624  4  37 257 118 259 

Dilma  (até 08/2013) 

289  3  8 102 76 147 

6 Veja o quadro resumo de votações e temas relativos ao Governo Dilma no final do texto.

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  Até agosto de 2013, a atual  legislatura ultrapassou a metade do número de votações 

registradas  no  primeiro  governo  de  Lula  da  Silva,  mas  não  alcançou  essa  proporção  em 

relação ao segundo mandato (primeira coluna da tabela). Porém, o quantitativo de episódios 

sem divergência na liderança ou quase consensuais também foi menor, o que pode sugerir um 

número relativamente maior de matérias submetidas à votação simbólica durante o governo 

atual, ou simplesmente uma agenda de votações menor do que em ambos os mandatos de 

Lula. Ao final, os casos efetivamente comparados, aqueles com conflito no plenário, alcançam 

aproximadamente 84% e 57% das votações analisadas para as duas legislaturas anteriores.  

  Por  fim,  vale  observar  as  diferenças  nos  três  períodos  quanto  ao  número  total  de 

deputados  que  exerceram  mandato  e  participaram  de  pelo  menos  uma  votação,  614 

parlamentares entre 2003‐2006, 608 entre 2007‐2010 e 623 entre 2011 e 2013, até o final de 

agosto. Além disso, por força das mudanças nas regras de fidelidade partidária7, houve uma 

importante diminuição no número de migrações a partir do segundo governo Lula  (233 em 

Lula I, 78 em Lula II e 68 em Dilma), considerando o conjunto de congressistas acima. Durante 

a atual legislatura, no período analisado, a mudança mais significativa decorreu da criação do 

Partido  Social  Democrata  (PSD),  em  2011,  acolhendo  deputados  de  várias  agremiações, 

especialmente do Democratas (DEM). 

Resultados. 

  Qual foi o desempenho do governo Dilma, até agosto de seu terceiro ano, em termos 

de  apoio  recebido  nas  votações  de  interesse  no  plenário  na  Câmara  dos  Deputados?  Sua 

performance na Câmara Baixa foi melhor ou pior do que seu antecessor? Em que medida?  As 

bancadas  parlamentares  foram mais  ou menos  disciplinadas  e  coesas  em  relação  aos  dois 

governos anteriores? 

  Para  iniciar  o  exame  dessas  questões,  o  gráfico  seguinte  apresenta  o  apoio médio 

recebido pelo governo nos dois primeiros anos e meio de cada legislatura, tendo como base o 

7 Em março de 2007, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) editou a Resolução 22.610, disciplinando o processo de perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa. Mais tarde, tal iniciativa foi julgada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Essa modificação nas regras de fidelidade partidária foi acompanhada de uma diminuição expressiva no troca-troca de partidos e vários pedidos de perda de mandato.

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total  de  parlamentares  das  bancadas  (contando  as  faltas)  ou  o  quantitativo  de  deputados 

votantes (apenas os presentes).

 Gráfico 1. 

   Comparado às duas legislaturas anteriores, Dilma obteve a menor média de apoio ao 

governo em votações, aproximadamente 44% do total da Câmara dos Deputados ou 62% dos 

parlamentares presentes nas votações. Quando os efeitos das ausências não são levados em 

consideração, observa‐se um decréscimo significativo no apoio recebido ao  longo do tempo, 

com o  intervalo entre 2003‐2005 (até final de agosto) sendo aquele em que a orientação da 

Liderança do Governo mais encontrou sustentação junto aos deputados.

  Para além de médias, o percentual de apoio obtido pode ser observado e comparado 

ao longo do tempo. O painel seguinte apresenta os resultados desagregados de cada governo, 

acompanhado  de  uma  curva  de  tendência  e  assinalando  50%  da  casa  legislativa  e  dos 

parlamentares votantes como pontos de corte relevantes. 

 Painel 1. Comparativo do apoio ao governo. 

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  Embora a diferença entre as médias possa não ser significativa isoladamente por conta 

do  número  distinto  de  votações  ocorridas  em  cada  período,  o  comportamento  do  apoio 

recebido ao longo do tempo, sintetizado nas curvas de tendência, sugere que a performance 

do  governo  atual  nas  votações  em  plenário  não  tem  reproduzido,  na  mesma  medida,  o 

sucesso  legislativo  de  Lula. Não  apenas  a  curva  é  decrescente, mas  sua  inclinação  é mais 

acentuada e a quantidade de votações em que o apoio recebido foi menor do que 50% das 

bancadas ou votantes é mais expressiva na atual legislatura e especialmente em 2013. 

  Nos  gráficos  da  primeira  coluna  do  painel  (total  das  bancadas,  considerando  as 

ausências em plenário), as votações abaixo da  linha de corte não  indicam, necessariamente, 

uma derrota da indicação do Líder do Governo. Nesses casos, mesmo sem contar com apoio 

da metade dos deputados federais em mandato, as ausências em plenário podem assegurar 

vitória  ao  governo,  dada  as  exigências  de  quórum  específicas  de  cada  votação. Ou  seja,  o 

Presidente não precisa de apoio da maioria absoluta da Casa se a oposição não for capaz de 

mobilizar parlamentares  suficientes para  votar  contrariamente. Por outro  lado, quando  são 

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considerados apenas os deputados presentes, como na  segunda coluna, os casos abaixo da 

linha  de  corte  indicam  aquelas  votações  em  que  a  posição  do  governo  realmente  não  foi 

vitoriosa8 ou as votações que não chegaram a  resultado  final por  falta de quórum, em boa 

parte das vezes por conta das obstruções da oposição.  

Para o governo Lula I, poucas votações encontram‐se nessa situação. O primeiro caso 

foi um destaque em emenda parlamentar que modificava o texto da MP 183/2004, relativa à 

redução das alíquotas de PIS/PASEP e COFINS para  fertilizantes e defensivos agropecuários. 

Na ocasião, em  julho de 2004, a posição da  liderança conseguiu o apoio de apenas 46% dos 

votantes. Ao final, a MP convertida em Lei foi parcialmente vetada pelo então Presidente Lula. 

Outros  casos  importantes  datam  de  março  de  2005,  quando  a  posição  do  governo  foi 

malsucedida  em  algumas  votações  da  PEC  227/2004,  em  destaques  para  votação  em 

separado  apresentados  pelo  PSDB  e  PFL.  Essa  proposta  originou  a  Emenda  Constitucional 

47/2005, relativa à Reforma da Previdência. 

No início de seu segundo mandato, Lula não foi bem sucedido numa quantidade maior 

de votações, porém a tendência de apoio recebido manteve‐se mais constante em torno da 

média, quando  considerados os deputados  votantes. Por outro  lado, Dilma apresentou um 

número maior de votações na parte inferior do ponto de corte, especialmente em seu terceiro 

ano,  indicando tanto uma tendência de queda mais acentuada, quanto uma dispersão maior 

no nível de apoio recebido. Ou seja, o comportamento verificado até agosto do terceiro ano 

desta  legislatura,  quando  comparado  às  antecessoras,  em  presidências  do  PT,  indica,  ao 

menos, maior incerteza quanto ao sucesso do governo nas votações da Câmara. 

Também é possível observar o apoio ao governo oferecido pelos partidos políticos. Os 

gráficos  seguintes  comparam  o  apoio  médio  das  nove  principais  agremiações  nos  três 

governos, marcando, expressamente, os valores obtidos para o governo atual. 

    

8 Vale notar que em alguns casos as orientações oficiais do Líder do Governo e do Líder do PT foram divergentes, ou, ainda, a bancada partidária foi liberada. É especialmente em tais situações que o corte de 50% não foi alcançado.

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Painel 2. Apoio médio ao governo por partidos. 

É interessante notar que os partidos da oposição (DEM e PSDB) mostram um nível de 

apoio  relativamente maior  durante  o  primeiro  governo  Lula,  especialmente  por  conta  da 

composição  inicial  da  agenda  de  votações,  que  incluiu  propostas  afeitas  a  essas  legendas, 

como  a  Reforma  da  Previdência  e  a  nova  Lei  de  Falências.  Passada  essa  primeira  fase,  a 

estratégia oposicionista  foi acentuada,  sobretudo no PSDB, o que  também  transparece nas 

recorrentes obstruções ao plenário. 

Em termos gerais, considerando os deputados votantes, a taxa de apoio nos primeiros 

anos  do  governo  Dilma  foi  a menor  na maioria  dos  partidos  analisados  que  compõem  a 

coalizão  governamental.  Mesmo  ocupando  a  vice‐presidência  e  outros  importantes 

ministérios, o PMDB ofereceu menor proporção de apoio médio que o PSB, que recentemente 

deixou o ministério, promovendo a candidatura presidencial de Eduardo Campos. Já o PR (ou 

PL  durante  o  primeiro  governo  Lula),  agora  sem  a  Vice‐Presidência,  apresentou  a  maior 

redução média no nível de apoio ofertado, estando longe de ser um dos parceiros mais fiéis, 

como no início do primeiro mandato petista. O impacto das faltas ao plenário também se faz 

sentir na comparação dos  indicadores. Por exemplo, ao se considerar as ausências, o PP dá 

passagem ao PDT ou PMDB como 3º partido com maior média de apoio. 

O  painel  seguinte  apresenta  esse  apoio  de  forma  desagregada, mostrando  tanto  a 

proporção de  votos  tucanos que  Lula obteve no  início de  seu governo, quanto a  tendência 

recente de importantes apoiadores, como PSB e PMDB. 

    

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Painel 3. Comparativo do apoio ao governo ‐ PMDB, PSB e PSDB. 

 

 

 

  Exclusivamente quanto ao governo Dilma, vale observar o comportamento do Partido 

Social Cristão e do novo Partido Social Democrata nas votações conflitivas com orientação da 

liderança do governo. Embora possua uma pequena bancada, o PSC acompanhou o governo 

em diversas votações, mas se uniu à oposição em outras tantas, mostrando uma tendência de 

queda de apoio no decorrer de 2012, voltando a colaborar com o governo em boa parte das 

votações  de  2013.  Já  o  PSD,  fundado  em  2011,  votou  majoritariamente  com  o  governo 

naquele ano, deixando de ser um parceiro no plenário em 2012, com pouco apoio majoritário, 

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situando‐se, via de regra, ao lado da oposição. Ao longo de 2013, o novo partido mostrou alta 

dispersão  no  apoio  ao  governo,  com  votações  de  expressiva  adesão  e  outras  de  forte 

contrariedade, o que levou a média para a faixa de 40%‐50%. Mesmo com o ingresso do PSD 

na coalizão governamental, através da  indicação de Afif Domingos ao Ministério da Micro e 

Pequena Empresa, o comportamento de sua bancada parlamentar não revela uma curva de 

retorno ao patamar de apoio ofertado no final de 2011.  

 Painel 4. Apoio ao governo Dilma ‐ PSC e PSD. 

 

  A  variação  nas  taxas  de  apoio  –  especialmente  nas  votações  situadas  em  torno  do 

ponto médio da escala  ‐  já é  capaz de  indicar  certa  fragilidade nos partidos em  termos de 

disciplina  e  coesão,  ao menos  naqueles  casos  em  que  houve  orientação  da  liderança  do 

governo. Os gráficos seguintes observam essa dimensão de unidade no comportamento das 

bancadas assinalando a proporção de apoio recebido pela  indicação da  liderança do partido 

(disciplina)  e  o  grau  de  assimetria  entre  os  lados  majoritário  e  minoritário  nas  votações 

(coesão).  Assim  como  para  o  indicador  anterior,  são  considerados  os  valores  obtidos  em 

relação  ao  número  total  de  deputados  da  agremiação  ou  apenas  à  quantidade  de 

parlamentares votantes9. 

    

9 As medianas obtidas para as taxas de coesão e disciplina são maiores que as médias, indicando um formato assimétrico na distribuição desses indicadores. Para alguns casos, a disciplina mediana chega a ser 100%, denotando que é apenas em um número pequeno de votações que a unidade dos partidos fica fragilizada.

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Painel 5. Coesão e disciplina partidária. 

Como já ocorria antes de assumir a Presidência, o PT aparece com as mais altas taxas 

de  disciplina  e  coesão  partidária.  Contrariando  resultados  de  alguns  estudos  relativos  à 

década  de  90,  bem  como  algumas  intuições  a  partir  de  sua  organização  partidária  nos 

diferentes estados, o PMDB aparece com uma  trajetória crescente nessas  taxas,  reduzindo, 

inclusive, a variação desses  indicadores,  capturada pelo desvio padrão.  Isso poderia  sugerir 

alguma espécie de efeito disciplinador, neste partido, da sua inclusão e crescente importância 

na  coalizão  de  governo.  De  modo  similar,  o  PP  revelou  taxas  médias  maiores  na  atual 

legislatura e na anterior do que no  início do primeiro mandato de  Lula, quando ainda não 

integrava a base de apoio. 

No  campo  da  oposição,  os  níveis  mais  baixos  de  disciplina  e  coesão  partidária 

apareceram no Governo Lula I, justamente quando a agenda de votações contemplou pontos 

que  encontraram  aderência  entre membros  do  PSDB  e  DEM  (então  PFL).  Esse  indicativo 

também pode sugerir que, para além de uma questão de agenda, os primeiros momentos de 

tais partidos como oposição tenham sido mais desagregadores justamente pela falta de uma 

experiência prévia ou estratégia clara de atuação oposicionista no âmbito federal. 

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Por fim, também é possível observar as diferenças de coesão e disciplina partidária ao 

longo das  votações. Nesse  âmbito, é  válido  analisar os  resultados obtidos, durante  a  atual 

legislatura, para três importantes partidos nas negociações do governo, PSB, PR e PSD. 

 Painel 6. Coesão e disciplina partidária no governo Dilma ‐ PSB, PR e PSD. 

 

Do ponto de vista do governo, os níveis relativamente mais baixos e decrescentes na 

coesão  e  disciplina  partidária  dos membros  de  sua  coalizão  podem  representar  um  alerta 

quanto  às  expectativas  de  apoio  desses  parceiros  em  votações  importantes.  Ao  inverso, 

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dependendo  dos  itens  específicos  da  agenda  legislativa,  a  indisciplina  em  partidos  não 

alinhados ou oposicionistas  representa um potencial espaço de manobra para obtenção de 

apoio ad hoc, votação por votação. 

Embora esta nota de pesquisa apresente uma análise ainda exploratória dos dados, é 

possível considerar o padrão de desempenho da coalizão governativa no plenário da Câmara 

dos  Deputados  ao  comparar  as  votações  nominais  conforme  seus  principais  tipos.  Uma 

abordagem  possível  é  distinguir  o  nível  de  apoio  médio  recebido  (assim  como  a  coesão 

partidária)  nos  casos  que  tratam  de  emendas  aos  projetos  e  destaques  para  votação  em 

separado, por um lado, e nos votos relativos à redação final de projetos, por outro lado.  

Tal separação é  importante porque a apresentação de emendas ou destaques  figura 

como  mecanismo  de  atuação  legislativa  utilizado  prioritariamente  pela  oposição.  Sem  as 

vantagens da ocupação do Poder Executivo ou da constituição de uma maioria parlamentar, é 

através  desses  instrumentos,  entre  outros,  que  a  oposição  (ou  minoria)  pode  influir  no 

conteúdo das políticas apreciadas pela Câmara, seja apresentando modificações (emendas) ou 

buscando a manutenção de itens descartados pelos Relatores dos projetos (destaques).  

Por consequência, a expectativa é que o conflito legislativo seja mais expressivo nessas 

votações, pois elas  interessam mais à oposição. Assim, é nesse  conjunto de disputas que a 

força  legislativa  da  coalizão  governamental  coloca‐se  à  prova.  A  hipótese  deduzida  deste 

argumento é que a base de apoio revela‐se suficientemente robusta quando o desempenho 

nas  votações  de  projetos  e  emendas/destaques  é  equivalente,  ou  suas  diferenças  não  são 

significativas. Ao contrário, uma performance  inferior nas votações de emendas e destaques 

(aquelas  com  maior  disputa,  vale  insistir)  releva  algo  sobre  o  tamanho  e  o  sentido  da 

fragilidade da coalizão governamental no plenário da Câmara dos Deputados. 

Os  gráficos  seguintes  comparam  o  apoio  médio  obtido  pelo  Governo  Dilma  nas 

votações de projetos x emendas, bem como o apoio médio ofertado pelos principais partidos 

no mesmo período. Em  termos gerais, os  resultados nas votações de emendas e destaques 

são inferiores, revelando mais dificuldade ao governo nas situações de maior disputa. Mesmo 

assim, tais valores agregados não são suficientes para sugerir derrotas legislativas expressivas, 

ultrapassando a barreira de 50% dos votantes, em termos médios, inclusive para emendas. 

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 Gráfico 2 

Ao observar as médias agregadas por partido, pode‐se discutir a efetividade do apoio 

ou fidelização do parceiro na coalizão governativa. A expectativa é de que um bom parceiro 

revele seu apoio ao governo de maneira mais  incisiva, ou pelo menos equivalente, naquelas 

votações mais disputadas, como as emendas e destaques. Ao contrário, a oposição revelará as 

menores  taxas  de  apoio  nas  emendas/destaques,  que  constituem  peças  relevantes  de  sua 

estratégia de atuação legislativa. Contudo, considerando os deputados votantes, apenas o PT 

e o PP revelaram esse comportamento. 

 Gráfico 3

Uma hipótese  semelhante pode  ser pensada  em  relação  à  coesão partidária.  Tanto 

para governistas ou oposicionistas, é mais  relevante, como sinal de  fidelidade ao bloco que 

pertence, apresentar maior coesão nas votações mais disputadas, como emendas/destaques. 

Sob essa perspectiva, o PSDB releva‐se a oposição mais consistente. Porém, novamente com 

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exceção do PT e PP, os partidos da base de apoio mostram maior divisão interna nas votações 

mais críticas. 

 Gráfico 4

Por  fim, além de considerar os níveis de apoio ao governo, coesão e disciplina, vale 

investigar o padrão de alinhamento partidário na atual  legislatura utilizando as  informações 

sobre  as  orientações  de  liderança  no  Plenário  da  Câmara.  Para  permitir  essa  análise, 

efetuamos  uma  estimação  de  pontos  ideais  dos  16  partidos  com  maior  representação 

parlamentar,  além  do  Governo  e  Minoria,  adotando  a  metodologia  bayesiana  (IDEAL) 

implementada por  Jackman  (2008)10. Uma das vantagens dessa abordagem  relativamente a 

outros métodos  concorrentes  é  permitir  a  estimativa  da  incerteza  em  torno  das  posições, 

através da construção de intervalos de confiança. 

Os  gráficos  seguintes  apresentam  as médias  posteriores,  ou  seja,  os  pontos  ideais 

estimados para cada agremiação e o intervalo de confiança de 95% para cada estimativa. Não 

somente  é  possível  perceber  a  ordem  do  alinhamento  dos  partidos,  como  também  suas 

distâncias  relativas  e  o  grau  de  incerteza  em  torno  de  cada  posição.  Esse  é  um  aspecto 

importante:  quanto  menor  o  intervalo  de  confiança,  mais  segura  é  a  afirmação  sobre  o 

posicionamento do partido e sua diferença ou semelhança com os demais. Ao inverso, quanto 

maior  esse  intervalo, mais  provável  que  a  distinção  não  seja  verdadeira  ou,  ainda,  que  as 

estimativas  reflitam  um  comportamento  oscilante  dos  líderes  partidários,  sumarizando 

10 JACKMAN, Simon. 2008. PSCL: Classes and Methods for R Developed in the Political Science Computational Laboratory, Stanford University. Stanford, California: Department of Political Science, Stanford University. R package.  Para saber mais sobre a técnica empregada, consulte as "Notas Metodológicas" no website do NECON.

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variações ocorridas entre as diversas votações. Vale observar que as dimensões apresentadas 

não possuem significado a priori. 

A primeira figura apresenta os pontos ideais e intervalos de confiança estimados para 

todas as votações nominais ocorridas no plenário da Câmara dos Deputados, desde 2011 até o 

final de agosto de 2013. Além da  clara e presumível distância entre Governo e Minoria, os 

pontos e traços identificam basicamente três segmentos nessa dimensão principal do conflito 

político:  num  extremo  o  PT,  em  boa medida  confundindo‐se  com  o  próprio  Governo;  ao 

centro  os  demais  partidos  que  compõem  a  coalizão  governamental  e  outras  forças  não 

alinhadas, mas que  revelam apoio  significativo; no outro extremo os partidos de oposição. 

Considerando o agregado geral de votações, verifica‐se um indicativo não desprezível de certa 

polarização do plenário, com um nítido espaço vazio entre a oposição declarada e os demais 

partidos, sem qualquer sobreposição de intervalo de confiança nessa região. 

 Gráfico 5. Pontos ideais estimados ‐ Lideranças partidárias (2011‐2013). 

  

A situação mais controversa e delicada diz respeito ao bloco central de partidos. PC do 

B, PMDB e PP revelam‐se um pouco mais próximos ao PT; PSB abre uma fatia mais central e 

quase sobreposta de partidos; e o PSD mostra‐se o mais próximo da oposição. Contudo, por 

conta dos valores contidos nos intervalos de confiança ‐ que indicam a incerteza da estimativa 

‐  não  é  seguro  tecer  distinções  nítidas  ou  robustas  entre  tais  agremiações.  Mesmo  as 

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lideranças do PC do B ou PMDB, mais governistas, apresentam bastante dispersão nos pontos 

ideais estimados. 

A segmentação por tipo de projetos (emendas/destaques x projetos) revela indicativos 

adicionais  sobre  o  alinhamento  partidário.  Embora  os  três  blocos  de  forças  mostrem‐se 

bastante  semelhantes,  o  intervalo  de  confiança  para  as  estimativas  referentes  à 

emendas/destaques é visivelmente menor do que no caso dos projetos.  Isso sugere, por um 

lado, que naquelas votações mais disputadas as orientações de  liderança tendem a ser mais 

consistentes (o que não  implica necessariamente coesão ou disciplina), mas, por outro  lado, 

que  a  diferença  de  posição  entre  o  PT  e  o Governo  em  relação  aos  demais  é,  aqui, mais 

relevante. Enquanto nas votações de projetos finais a base de apoio aparece como um bloco 

mais homogêneo ‐ note que mesmo o PT confunde‐se com outros parceiros da coalizão ‐, nas 

decisões  sobre emendas e destaques a posição do Governo encontra menor aderência dos 

demais líderes partidários em plenário. 

 Painel 7. Pontos ideais estimados por tipo de votação (2011‐2013). 

                  Emendas                    Projetos 

  

Nesse  contexto,  por  ser  o  parceiro  de  coalizão  numericamente mais  expressivo  na 

Câmara, o PMDB  revela uma situação de alinhamento bastante  tensa. Estimando os pontos 

ideais  para  duas  dimensões11,  nota‐se  que  PT  e  PMDB  ocupam  quadrantes  opostos  no 

11 Novamente, sem significado substantivo definido a priori.

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segundo eixo. E não apenas: a distância estimada entre esses partidos é maior nas votações 

de emendas e destaques, quando o PMDB está mais próximo de DEM e PSDB, do que do PT. 

 Painel 8. Pontos ideais estimados por tipo de votação (2011‐2013). Duas dimensões. 

Emendas                  Projetos 

  

  Esta  nota  de  pesquisa  não  pretende  atribuir  significados  unívocos  às  diferentes 

dimensões  captadas  na  estimação  de  pontos  ideais  às  lideranças  partidárias.  Porém,  é 

razoável assumir que o eixo horizontal traduza o conflito entre governo x oposição. Já o eixo 

vertical  pode  expressar,  sem  que  isso  passe  de  mera  sugestão,  algo  sobre  diferenças 

ideológicas  mais  tradicionais  num  binômio  esquerda  x  direita,  pois  distingue 

significativamente, no campo da oposição,  DEM e PSOL, e no campo do governo, PT e PP, por 

exemplo.  

  Nesse  contexto,  por  ser  o  parceiro  de  coalizão  numericamente mais  expressivo  na 

Câmara, o PMDB  revela uma situação de alinhamento bastante  tensa. Estimando os pontos 

ideais para duas dimensões, este partido encontra‐se no lado oposto da  linha de corte vis‐à‐

vis o posicionamento do PT. Nossa  interpretação  ‐ no estágio em que estamos não poderia 

deixar de ser uma  interpretação para discussão  ‐ é que este partido é o principal veículo de 

negociação dos interesses do capital, seja de segmentos específicos, ou de organizações mais 

amplas, no que tange a agenda apresentada pelo Executivo para mudança do status quo legal. 

Tal  atuação  releva‐se,  sobretudo,  nos  campos  da  regulação  econômica,  na  política  de 

investimento público e privado e no modelo de assistência social aos trabalhadores e famílias 

não proprietárias de capital, o que perpassou desde o caso da MP dos Portos, o Novo Código 

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Florestal, o  regime diferenciado de contratações públicas, até a  implantação da previdência 

complementar do servidor público federal. 

Discussão. 

  O que os resultados obtidos permitem dizer a respeito do desempenho da coalizão de 

governo na Câmara dos Deputados? Que  indicativos  tais números e comparações oferecem 

quanto aos desafios postos e mudanças ocorridas? Esta análise, embora exploratória e restrita 

ao  comportamento dos partidos  e parlamentares nas  votações nominais, dá margens para 

relevante discussão. 

O apoio  recebido pelo governo Dilma nas votações em plenário  foi  significativamente 

menor do que aquele obtido por Lula em seus dois mandatos, com os níveis mais baixos em 

2013, sobretudo nas emendas parlamentares e destaques para votação em separado, itens de 

disputa mais intensa, nos quais a oposição reforça sua atuação. Também a coesão e disciplina 

dos partidos sofreram transformações no atual governo petista, apontado para um novo perfil 

de  coalizão  na  prática,  apesar  da  forte  semelhança  formal.  Por  fim,  o  alinhamento  dos 

partidos, estimado a partir das orientações de  liderança, sugere a existência de um bloco de 

parceiros formais e eventuais, mas que não guarda forte identificação de preferências com o 

núcleo central do governo e o PT. E não só: quando acrescentamos uma segunda dimensão, a 

análise  do  posicionamento  dos  partidos  que  integram  a  base  torna‐se  mais  delicada, 

revelando  outros  aspectos  –  ainda  merecedores  de  interpretação  –  que  distinguem 

apoiadores mais “à direita” (como PMDB, PP e PSD) de parceiros mais “à esquerda” (como PC 

do B, PSB e PDT). 

Por  sua  vez,  a  relação  do  governo  com  o  PMDB  mostra‐se  das  mais  tensas  e 

importantes. Não se trata apenas do partido com a mais expressiva presença parlamentar e 

com forte participação ministerial, além de ocupar a vice‐presidência. Trata‐se, talvez, do ator 

pivotal na decisão de políticas por parte da coalizão, fazendo o papel, em alguns momentos, 

do parceiro mais distante e difícil, noutros, da oposição mais propensa ao diálogo. A hipótese 

de  que  tal  partido  represente,  dentro  da  coalizão,  o  principal  veículo  de  negociação  dos 

interesses  do  capital,  flexionando  o  governo  em  direções  talvez  não  preferidas  pelo  seu 

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núcleo, não pode  ser descartada e carece de maior atenção específica. A metodologia e os 

dados utilizados até o momento não fornecem indicações definitivas sobre essa questão. 

As mudanças no desempenho do  governo no plenário da Câmara,  comparativamente 

aos mandatos de Lula, também podem indicar uma diferença no perfil de gestão da coalizão 

governativa e nas formas como as negociações e decisões são feitas. É certo que não se trata 

de um governo de cartel, em que as decisões tomadas previamente e no interior da coalizão 

são  quase  que  somente  homologadas  pelo  parlamento,  veja‐se  as  derrotas  sofridas  e  a 

redução no nível de  apoio. Pode‐se discutir,  ainda, em que medida  as decisões da própria 

coalizão estão deixando de ser tomadas no âmbito ministerial ou pelas lideranças dos partidos 

da  base  junto  ao  Executivo  para  passarem  à  negociação  no  próprio  Congresso.  Essa 

transformação  de  método,  por  sua  vez,  embora  possa  tornar  o  processo  decisório  mais 

custoso,  quiçá  traga mais  transparência  junto  ao  legislativo,  com  o  fortalecimento  de  suas 

arenas próprias, tais como as relatorias em projetos, as comissões permanentes, algo que, de 

certa maneira, as diferenças na performance em votações de emendas e destaques parece 

revelar.  De  todo  modo,  um  sinal  que  decorre  dessa  possível  transformação  na  gestão 

governativa  e  de  relações  com  o  Congresso  não  deixa  de  ser  a  própria  fragilidade,  talvez 

constitutiva, em  termos de eficácia das políticas e eficiência nas decisões, de uma  coalizão 

com características de condomínio. 

O desempenho do governo Dilma na Câmara dos Deputados, combinado com a possível 

mudança de método na gestão da base, apresenta limites às possibilidades de trânsito entre 

um  modelo  que  favoreça  a  redistribuição  para  outro  que,  sem  perder  as  conquistas 

anteriores,  promova  o  investimento  e  a  produção,  nas  bases  de  um  desenvolvimento 

capitalista alicerçado na coordenação estatal. Além das controvérsias já usuais no âmbito das 

políticas  macroeconômicas,  a  agenda  relativa  aos  marcos  legais  e  regulatórios  para  o 

investimento, mantendo a  rota de redução de desigualdade e combate à pobreza, encontra 

revezes, não raro ligados à heterogeneidade de grupos e interesses que circundam a coalizão 

governativa. E, negociando no Congresso, as fraturas ficam expostas, os adversários expõem 

as cicatrizes e tencionam as rupturas. 

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Em  alguma medida,  as manifestações  de  junho  revelaram  um  descompasso  entre  as 

agendas do Governo, do Congresso e uma série de anseios,  interesses e expressões que não 

se mostraram  atendidos  ou  se  revelaram mal  resolvidos, muitos  dos  quais  jamais  seriam 

vocalizados  sem  as  mudanças  positivas  das  últimas  duas  décadas  no  Brasil.  Retirados  os 

excessos de vários extremos e dispensadas as trapalhadas, insignificâncias ou mau momento 

de  algumas  propostas,  a  tentativa  de  equacionar  as  dissonâncias  entre  sociedade  e 

representação política não chegou ao seu  termo. A agenda geral da Câmara dos Deputados 

sofreu algum deslocamento, mas pequeno e momentâneo, agravando, porém, a performance 

do  Governo,  agora  às  vésperas  do  processo  eleitoral,  que  tentou  –  como  vários  atores 

políticos – capitalizar sob as manifestações, mas obteve resultados, no mínimo, limitados. 

Apesar do  avanço de  algumas políticas e proposições pontuais,  acompanhado de um 

arrefecimento nos humores, estar  ligado a uma  recuperação nas avaliações presidenciais, o 

que poderia favorecer as relações com o Congresso, o cenário eleitoral é o forte desafio que 

se põe para 2014. Mantido o padrão atual de gestão da coalizão governativa, considerando os 

resultados  obtidos  neste  triênio,  a  tendência  de  redução  de  apoio  de  alguns  partidos,  a 

criação  de  novas  agremiações mais  abertas  a  negociações  várias  e  a  saída  de  importante 

parceiro  ‐  o  PSB,  tudo  num  cenário  de  disputa  eleitoral,  é  pouco  provável  que  o  governo 

finalize sua transição para um modelo de investimento pró e pós‐redistributivo, consolidando 

novos  marcos  regulatórios,  salvo  exceções  consensuais.  É  em  2015  que  o  dilema  será 

recolocado;  e  quem  vencer  terá  desafios  ainda maiores  do  que  Dilma  em  2011. Manter 

conquistas, incrementar redistribuição e promover investimento num país plural, diversificado 

e continental nunca será tarefa fácil.  

 

NECON ‐ NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE O CONGRESSO 

 

   

Coordenador do NECON Prof. Fabiano Santos 

  

Pesquisador Júlio Canello 

 

 O  Núcleo  de  Estudos  sobre  o  Congresso  tem  por objetivo contribuir para o avanço da área de estudos legislativos  através  da  constituição  de  um laboratório de pesquisas dedicado à investigação de diversas  questões  ligadas  ao  Congresso Nacional  e Assembleias  Legislativas,  desde  índices  e  taxas  de coesão  e  disciplina,  informações  sobre  trajetória política  dos  parlamentares,  tramitação  de  políticas públicas e problemas de organização interna. 

 

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Temas dos projetos votados em plenário (2011 ‐ 08/2013)  Nº de votações  % 

Prorrogação DRU.  23  7,96

MP dos Portos.  21  7,27

Fundo Partidário e HPGE.  10  3,46

Novo Código Florestal.  9  3,11

Regime Diferenciado de Contratações Públicas.  8  2,77

Contribuições previdenciária e programas de incentivo.  7  2,42

Criação de Municípios.  7  2,42

Liderança PSD na Câmara.  7  2,42

BNDES e Trem de Alta Velocidade.  6  2,08

Fundo de Participação dos Estados.  6  2,08

Royalties do petróleo.  6  2,08

Incentivos tributários.  5  1,73

ELETROBRAS.  4  1,38

Lei Geral da Copa.  4  1,38

PEC da Música.  4  1,38

Política de Combustíveis. Correios e Ministérios.  4  1,38

Previdência Complementar Servidor Federal.  4  1,38

Salário mínimo.  4  1,38

Sistema de Concessões de energia elétrica. 4  1,38

Tratado de Itaipú.  4  1,38

Acordo Libéria.  3  1,04

Apoio financeiro educação infantil.  3  1,04

Bolsa‐Atleta.  3  1,04

Contribuição Social.  3  1,04

Crédito MDA.  3  1,04

Incentivo PIS.  3  1,04

Parcelamento PASEP estados. Refis da crise.  3  1,04

Recuperação Rede física Escolar Pública. 3  1,04

Rendimentos da poupança.  3  1,04

Servidores ex‐Territórios.  3  1,04

Sistema Nacional Políticas Drogas.  3  1,04

Criação de Tribunais Regionais Federais.  3  1,04

Adicional de Tarifa Aeroportuária.  2  0,69

Autonomia Defensorias.  2  0,69

Carreira Auditor.  2  0,69

Convocação de Ministro.  2  0,69

Defensoria Pública DF. 2  0,69

Destinação dos Royalties do petróleo.  2  0,69

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Extradição China.  2  0,69

Fiscalização combustíveis ‐ emissão poluentes ‐ etc.  2  0,69

Industria Automotiva. Incentivos fiscais.  2  0,69

IR pessoa física.  2  0,69

ISS Copa.  2  0,69

Moção de Repúdio.  2  0,69

Orçamento impositivo.  2  0,69

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.  2  0,69

Paridade aposentadoria invalidez.  2  0,69

PEC das domésticas.  2  0,69

Procurador Municipal.  2  0,69

PRONATEC.  2  0,69

Reintegra. Desoneração.  2  0,69

Requerimento Comissão Externa.  2  0,69

Secretaria da Micro e Pequena Empresa.  2  0,69

Sistema nacional de Cultura.  2  0,69

Aposentadoria especial deficiente RGPS.  1  0,35

Atuação das Fundações instituídas pelo Poder Público.  1  0,35

Aumenta penas para contrabando e descaminho.  1  0,35

Autoridade Olímpica.  1  0,35

Banco da Terra.  1  0,35

Benefício Garantia‐Safra.  1  0,35

Bolsa Médico‐Residente. Prorrogação de Gratificação para AGU.  1  0,35

Cargo de Defensor Público Federal.  1  0,35

CENSIPAN e FNDE.  1  0,35

Comissão Nacional da Verdade.  1  0,35

Conta de Desenvolvimento Energético.  1  0,35

Contas eleitorais.  1  0,35

Cooperação Turismo.  1  0,35

Crédito presumido álcool.  1  0,35

Crédito presumido e liquidação duvidosa.  1  0,35

Crimes de Genocídio, de Guerra e contra a Humanidade.  1  0,35

Defensoria Pública e Responsabilidade Fiscal.  1  0,35

Delitos informáticos. 1  0,35

Desoneração PIS/Pasep equipamentos necessidades especiais.  1  0,35

Eleição CNJ.  1  0,35

Eleição CNMP.  1  0,35

Eleições Mercosul.  1  0,35

Emenda 29.  1  0,35

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Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.  1  0,35

Empresa de Planejamento e Logística.  1  0,35

Estatuto da Juventude.  1  0,35

Exame OAB.  1  0,35

Facilita financiamentos para pessoas com deficiência.  1  0,35

FGTS. Minha Casa Minha Vida.  1  0,35

Fundo de Financiamento de Exportações. 1  0,35

Fundo Desenvolvimento Centro Oeste.  1  0,35

Fundo Soberano. Fundo de Compensações de Variações Salariais.  1  0,35

Fusões e aquisições.  1  0,35

Internet.  1  0,35

PEC 37. Investigação criminal Policia x MP.  1  0,35

ISS.  1  0,35

Mandato.  1  0,35

Mercosul.  1  0,35

Micro e Pequena Empresa.  1  0,35

Minha Casa Minha Vida.  1  0,35

Orçamento Instituto Social Mercosul.  1  0,35

Parcelamento débitos estados e municípios.  1  0,35

Parcerias Públio‐Privadas. CSLL.  1  0,35

Parques e áreas de prodeção amazônicas.  1  0,35

Participação nos Lucros. IR.  1  0,35

PEC do Trabalho Escravo.  1  0,35

PEC dos Cartórios.  1  0,35

Plano Geral de Cargos do Poder Executivo. 1  0,35

Política Monetária e Cambial. Derivativos.  1  0,35

Política Nacional de Integração Lavoura‐Pecuária‐Floresta.  1  0,35

Recurso.  1  0,35

REINTEGRA. IPI automotivo. Contribuição Previdenciária.  1  0,35

Remissão créditos tributários, responsabilidade fiscal e refinanciamento dívida estados municípios.  1  0,35

Representação.  1  0,35

Requerimento Yoaní Sanches.  1  0,35

Sequestro e cárcere privado.  1  0,35

Servidor Público.  1  0,35

Servidores Judiciário.  1  0,35

Simultaneidade eleições.  1  0,35

Subvenção produtores de cana ‐ SUDENE ‐ sagra 2010/11.  1  0,35

Trânsito.  1  0,35

Tributação ato cooperativo.  1  0,35