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BOLETIM ANTI HIV/AIDS - NÚMERO 8 MUNDO Conferência de Barcelona Páginas 5 a 10 BRASIL Encontro na região Sul Páginas 20 e 21 NOVIDADE Superinfecção pelo HIV Páginas 2 a 4 PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - NOVEMBRO DE 2002

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BOLETIM

ANTI HIV/AIDS - NÚMERO 8

MUNDOConferência de Barcelona

Páginas 5 a 10

BRASILEncontro na região Sul

Páginas 20 e 21

NOVIDADESuperinfecção pelo HIV

Páginas 2 a 4

PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - NOVEMBRO DE 2002

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ENCONTRO

Emily Bass

Editorial

Superinfecção com HIV-1 - uma advertência ......................................... 2

Informe Breve: Um paciente com superinfecção pelo HIV-1.................... 4

Notícias

Vacinas Anti-HIV em Barcelona............................................................... 5

Outras notícias de Barcelona .................................................................. 8

Primeira Leitura

Para Entender as Vacinas ........................................................................ 11

Artigos

Comitês Comunitários reunem-se em São Paulo .................................... 12

Os desafios da educação comunitária em projetos de pesquisa ........... 14

O ensaio HTVN 026 continua no Rio. Por que não vaipara São Paulo .......................................................................................... 16

Estudo em Portugal descobre difusão do subtipo G do HIV ................... 18

Ativistas coumitários e o novo sítio de ensaio no sul do Brasil ............ 20

UDIs e ensaios de Vacina: o que a ciência diz sobre isso? .................... 22

Se tivéssemos hoje uma vacina : assegurando o acessoa futuras vacinas anti-Aids ..................................................................... 25

Ensaios de vacinas preventivas em curso e previstos .............................. 28

Glossário ................................................................................................. 31

ÍNDICE

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Barcelona, subtipos e superinfecção

Estivemos presentes à XIV Conferência Internacionalde AIDS em Barcelona e assistimos a algumas apresenta-ções em que notamos o crescimento do campo devacinas terapêuticas. Na Conferência, o governobrasileiro anunciou que investirá uma verba de U$ 2milhões por ano na pesquisa de vacinas anti-HIV. Osnossos parabéns à iniciativa. Ao mesmo tempo, aCoordenação Nacional de DST-AIDS assinou uma cartade cooperação com a IAVI, ONG sediada em NovaIorque, com uma enorme contribuição na área devacinas anti-HIV no mundo.

Neste número do Boletim, trazemos um resultado(condensado) sobre superinfecção publicado na ediçãode 5 de setembro deste ano do New England Journalof Medicine e o editorial desse mesmo número que fazcomentários sobre este artigo. Realmente é desencoraja-dor e suas conseqüências devem ser cuidadosamenteavaliadas. Esse resultado significaria que a resposta dosistema imunitário para controlar um subtipo de HIVpode ser insuficiente para controlar um outro subtipo.Ou seja, temos um exemplo de que a proteção cruzadaentre subtipos nem sempre existe. E, é claro, a afirma-ção que segue é que se o sistema imunitário nãoconsegue realizar a proteção cruzada, dificilmente umavacina conseguirá suscitar uma resposta do sistemaimunitário capaz de realizar essa função. Em outraspalavras, talvez seja necessária uma vacina contragrupos de subtipos, o que é muito complexo. Vale ler oeditorial e o artigo do New England com cuidado. Elemostra também que a prática do sexo seguro é umaquestão de sobrevivência para as pessoas com HIV.

Em contraposição a esse fato, há resultados da vacinada Glaxo SmithKline em macacos, publicados no Boletim7 que mostram defesa contra diversas variedades de ví-rus. Também a vacina da Merck, produzida a partir de um

BARCELONA, SUBTIPOSE SUPERINFECÇÃO

subtipo B, e em ensaios em humanos, mostrou in vitroresultados contra os subtipos A e C. Fazemos um relatode apresentações em Barcelona de ambas.

Nesta edição, mostramos, ainda, o crescimento dapesquisa de vacinas no mundo. Para tanto, apresenta-mos uma tabela de ensaios planejados pela HVTN. DoBrasil, temos a novidade do Encontro Sulbrasileiro deVacinas Anti-HIV, organizado pelo GAPA-RS e quecongregou mais de 80 membros de ONGs/AIDS.

Espera-se, até o final do ano, os resultados do ensaiode eficácia da AIDSVAX gp120 no Canadá, EUA, PaísesBaixos e Porto Rico, realizado em mais de cinco milvoluntários, que receberam cada um, sete doses. O ensaiodeve detectar uma eficácia superior a 30%. Embora aexpectativa de alguns cientistas não seja a melhor, emesmo que a vacina não seja eficaz, os dados obtidospodem ter importância para algumas questões, como a deanticorpos facilitadores. A conferir no final do ano.

Boa leitura!

Este número é dedicado à memória de Wagner Teixeira,

tesoureiro do GIV, que faleceu em 12 de julho de 2002.

Sua humildade e simpatia, além de sua dedicação,

deixaram uma enorme saudade. BOLE

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infecção aguda pelo vírustipo 1 (HIV-1) de imunodefi-ciência humana normalmen-

te está associada à uma síndrome si-milar à da influenza (gripe), com ní-veis de vírus tipicamente superiores a10 milhões de partículas por mililitrona corrente sangüínea durante o pe-ríodo sintomático inicial. Esses sinto-mas agudos normalmente se resol-vem dentro de uma ou duas sema-nas, quando há uma redução gradu-al da viremia para uma média de cer-ca de 30 mil partículas por mililitro umano após a infecção. Acredita-se queessa queda dramática na viremia sejadevido à indução de respostas imu-nológicas parcialmente eficazes con-tra o vírus – apesar de que, sem trata-mento, a viremia aumenta lentamen-te ao longo do tempo. A conclusãode que a contenção inicial do vírusrepresenta uma resposta imunológi-ca parcialmente protetora é apoiadapor estudos em modelos animais comAIDS, nos quais os elevados níveis ini-ciais do vírus persistem quando osubgrupo CD8 de linfócitos-T é remo-vido experimentalmente. Em conjun-to, essas observações sugerem quesão geradas respostas imunológicaseficazes contra o HIV-1, mesmo sen-do essencialmente incapazes de pre-venir a progressão da doença.

Outra forma de abordar a eficá-cia da imunidade induzida pela in-fecção pelo HIV-1 é examinar se ainfecção com uma variante genéticaespecífica de HIV-1 pode ou não for-necer proteção contra superinfecçãocom uma segunda variante genéti-ca específica após a contenção par-

cial do primeiro vírus. Mais de umadúzia de subtipos diferentes do HIV-1, chamados clades, têm sido identi-ficados mundialmente e podem serdiferenciados uns dos outros em cer-ca de 30% na seqüência do gene enve 15% na sequência do gene gag.

Embora inúmeros casos de novasinfecções simultâneas com duas vari-antes distintas de HIV-1 tenham sidorelatados, tem havido poucos casosclaros de superinfecção nos quais umsegundo vírus infecta o hospedeiro

Superinfecçãopode ocorrer depois

Num artigo do The New EnglandJournal of Medicine, de 5 de setem-bro de 2002, cujo resumo publica-mos neste número do Boletim, umaequipe da Universidade de Genebra,do Hospital Pitié Salpetrière, em Pa-ris, e da GlaxoSmithKline, do ReinoUnido, contesta esses pressupostose fornece evidências convincentes deque a superinfecção HIV-1 podeocorrer muito tempo depois da in-fecção inicial. O caso que descrevem,uma infecção inicial com HIV-1 sub-tipo (clade) AE, que é predominanteno Sudeste Asiático, foi documenta-da em 1998. Durante os 28 mesessubseqüentes, o único vírus detecta-do no paciente foi o mesmo subtipoAE. Durante esse período, o pacien-te foi tratado com sucesso com umesquema de quatro medicamentoscontra HIV-1. Três meses após terparado o tratamento devido à rea-ção tóxica aos medicamentos e trêssemanas depois que ele teve conta-tos sexuais adicionais no Brasil, o sub-tipo B do HIV-1, que é endêmico noBrasil, foi detectado quando o paci-ente teve um rebote súbito na vire-mia (carga viral). Apesar de não con-seguir identificar a pessoa infectadacom o subtipo B no Brasil, que lhetransmitiu o vírus e, portanto, impos-sibilitando a documentação de umaevidência inequívoca da superinfec-ção, esses dados suportam veemen-temente a conclusão de que essepaciente foi primeiro infectado porum vírus subtipo AE e superinfecta-do, depois de mais de dois anos, por

SUPERINFECÇÃO COM HIV-1—UMA ADVERTÊNCIA

Por Philip J.R. Goulder, M.D., Ph.D, e Bruce D. Walker, M.D., do Hospital Geral de Massachusetts.Adaptado do editorial do The New England Journal of Medicine (edição de 5/9/2002).

Estudos de modelosanimais têm demonstrado

que conseguir umaproteção contra variantes

genéticas específicas edivergentes do vírus que

causa a AIDS serácertamente uma tarefa

descomunal e poderequerer o

desenvolvimento devacinas polivalentes.

logo depois de se chegar a um regi-me quase-estável com relação ao pri-meiro vírus. Apesar de modelos expe-rimentais de AIDS em animais indica-rem que a superinfecção é possível,não existe documentação sobre talocorrência em humanos. O pressupos-to de que a superinfecção não ocorreem humanos infectados com HIV-1reforçou as esperanças de que podeser possível desenvolver uma vacinacontra a AIDS amplamente protetorae provavelmente também influencioudecisões de comum acordo entre par-ceiros infectados com HIV-1 sobre sedevem ou não seguir as recomenda-ções sobre a prática de sexo seguro.

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um vírus subtipo B, que acelerou aprogressão da doença. Uma superin-fecção pelo HIV-1 similar, com doissubtipos diferentes, também foi re-centemente descrita em dois usuári-os de drogas injetáveis na Tailândia.

Quais são as conseqüências paraas iniciativas da vacina anti-HIV-1, seé possível demonstrar que a imunida-de anti-HIV-1 não pode fornecer pro-teção contra a infecção por diferen-tes subtipos do vírus? Há aspectosdesse caso que não precisam nos le-var ao desespero. Primeiro, as respos-tas imunológicas específicas ao HIV-1detectadas foram de direcionamentolimitado e insatisfatórias, porque os lin-fócitos-T citotóxicos1 somente visavamuma única região do vírus identifica-do. A expansão gradual típica das res-postas imunológicas pode ter sidomoderada devido ao tratamento pre-coce e eficaz e pode ter esvaído ain-da mais durante o período de terapiaantiviral eficaz. Em segundo lugar,casos de superinfecção ocorrendocomo conseqüência de exposição aum subtipo de vírus geneticamentediferente não definem a probabilida-de de tais eventos. A exposição a umacepa homóloga de vírus, ou seja, umavariedade do vírus dentro do mesmosubtipo, é provavelmente muito maisfreqüente do que a exposição a sub-tipos geneticamente diferentes e, por-tanto, mais relevante para os progra-mas da vacina.

Dessa forma, se uma vacina podeinduzir, em pessoas totalmente imu-nocompetentes2 , respostas imunoló-gicas amplamente baseadas especí-ficas ao HIV-1, que estão associadascom o controle bem-sucedido da vi-remia, a vacina pode vir a ser bem-sucedida mesmo em face ao rarodesafio apresentado por um diferen-te subtipo de vírus. Finalmente, amaioria dos programas de desenvol-

vimento de vacinas anti-HIV-1 assu-me que a proteção contra múltiplossubtipos será difícil de se conseguir.Na verdade, a variação viral na in-fecção HIV-1 excede de longe as in-fecções observadas na influenza (gri-pe) e o próprio vírus influenza apre-senta diferenças suficientes ao longodo tempo, necessitando de umanova vacina a cada ano. Estudos demodelos animais têm demonstradoque conseguir uma proteção contravariantes genéticas específicas e di-vergentes do vírus que causa a AIDSserá certamente uma tarefa desco-munal e pode requerer o desenvol-vimento de vacinas polivalentes.

Ponta do icebergA perspectiva menos otimista des-

se caso é que ele pode ser a pontado iceberg — que a superinfecçãopode ser freqüente e pode explicara presença de vírus recombinantespor todo o mundo. O fato de que asprimeiras descrições de superinfec-ção em humanos envolvem subtiposheterólogos do vírus pode simples-mente refletir o fato de que é maisfácil se demonstrar a superinfecçãoquando dois subtipos distintos entãoenvolvidos do que quando somenteum subtipo está envolvido. Vale apena lembrar que somente uma fra-ção muito reduzida de linfócitos-TCD4 está infectado ao mesmo tem-po, deixando presumivelmente umgrande número de células não-infec-tadas disponíveis para serem alvo davariante genética viral da superinfec-ção. Deve-se tomar cuidado ao con-cluir que a resposta imunológica foinecessariamente fraca no pacientedescrito por Jost e colaboradores,desde que somente epitopos (deter-minantes antigênicos)3 previamentedefinidos de linfócitos-T citotóxicosforam testados para reconhecimen-

to e identificação, e desde que osníveis da atividade de linfócitos-T au-xiliares específicos do vírus e de anti-corpos neutralizantes não foram de-terminados. Também é difícil ignoraro fato de que esse paciente apresen-tou duas das moléculas HLA classe I(características genéticas), mais con-sistentemente associadas com o con-trole eficaz do HIV-1 — especifica-mente HLA-B57 e HLA-B51. No piorcenário possível, a superinfecçãocom um vírus que difere somente porum aminoácido em um epitopo (de-terminante antigênico) crítico podeser associada com a falta de controleimunológico e progressão à AIDS

As implicações para a saúde pú-blica a respeito desse e de outroscasos de superinfecção são claras. Osdados demonstram que a infecçãopelo HIV-1 não fornece necessaria-mente proteção contra superinfec-ção por outro subtipo de HIV-1, mes-mo que não revelem quão prováveltal superinfecção possa ser. Quaseque por definição, podemos decla-rar que a variante genética do vírusda superinfecção será aquela quenão está sendo contida apropriada-mente pela resposta imunológicadesenvolvida contra a variante inici-al. Dessa forma, a superinfecçãopode ocasionar uma progressão maisrápida da doença. Portanto, pesso-as infectadas e não-infectadas devemexercer o mesmo grau de vigilânciapara se prevenir contra a exposição

Pessoas infectadas e não-infectadas devem exercer omesmo grau de vigilânciapara se prevenir contra aexposição ao HIV-1. Essa éuma mensagem de saúde

pública que precisa sertransmitida em alto e bomtom, de forma bem clara.

1 Células-T assassinas, célula do sistema imunológico que destrói células infectadas ou cancerígenas2 Capaz de desenvolver uma resposta imunológica apropriada3 Epitopos: antígeno [substância] específico que estimula respostas imunológicas específicas BO

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ao HIV-1. Com a atividade sexualaparentemente aumentando entrepessoas infectadas com HIV-1, essaé uma mensagem de saúde públicaque precisa ser transmitida em alto ebom tom, de forma bem clara.

O relatório do caso atual deixadiversas questões em aberto, masessas questões irão claramente auxi-

Em novembro de 1998, umhomem de 38 anos apresentouuma síndrome de infecção agu-da pelo HIV-1. Os anticorpos eramindetectáveis, a carga viral emplasma era de 805 mil cópias pormililitro e os CD4 eram 684 célu-las por mm3. As seqüências gené-ticas da transcriptase reversa e daprotease não mostraram mutaçãoalguma associada com resistênciaa medicamentos e identificaram osubtipo AE do HIV-1. Duranteanos, esse paciente teve contatosexual com múltiplos parceirosmasculinos desconhecidos. Eleentrou no ensaio Qwest em no-vembro de 1998 e recebeu tera-pia antiviral com azt, 3tc, abaca-vir e amprenavir por 27 meses. Do21º ao 27º mês, ele participounum ensaio de vacinação e rece-beu, depois de randomização,ALVAC vCP1452.

Seis semanas depois do inícioda terapia antiviral, a carga viraldesceu para mil cópias por ml. Otratamento foi interrompido por

liar a focar os futuros esforços depesquisa. Por exemplo, qual é a ex-tensão do número crescente de ví-rus recombinantes ao redor do mun-do como resultado da superinfec-ção? A superinfecção ocorre dentrodos subtipos? Tais casos podem serutilizados para dissecar e analisar oscomponentes da imunidade prote-

tora na infecção HIV-1? Necessitamosurgentemente de avaliações detalha-das sobre as respostas imunológicase sobre as seqüências de vírus circu-lantes antes e depois da perda docontrole da viremia em casos de su-perinfecção. A magnitude da tarefade criar uma vacina anti-AIDS eficazficará, então, mais evidente.

INFORME BREVE: UM PACIENTECOM SUPERINFECÇÃO PELO HIV-1Por Stephanie Jost, Marie Charlotte Bernard, Laurent Kaiser, Sabine Yerly, Bernard Hirschel, Assia Samri, Brigitte

Autran, Li-Ean Goh e Luc Perrin (Universidade de Genebra, Hospital Pitié Salpetrière, Paris; GlaxoSmithKline, Reino Unido)Artigo adaptado e condensado do New England Journal of Medicine (5 de setembro de 2002; Vol 347 (10), 731-736)

seis semanas devido à toxicidadehepática. Depois de retomar a me-dicação, a carga viral decresceurapidamente para menos de 50cópias por ml. Após a vacinação,a terapia antiviral foi interrompida,em janeiro de 2001, como partedo protocolo. Em fevereiro de2001, a carga viral subiu para 80mil cópias por ml (primeiro rebo-te) e depois diminuiu para 21 milcópias por ml. Um rápido aumen-to da carga viral foi observado em10 de abril e oscilou entre 200 mile 400 mil cópias por ml pelos pró-ximos quatro meses. Os sintomasdo paciente (fadiga transitória efebre) foram suaves, e ele se recu-sou a retomar a terapia antiviraldurante o período.

Sua história revelou que eleteve vários contatos sexuais des-protegidos no Brasil três semanasantes do segundo rebote da vire-mia. Quatro meses depois do se-gundo rebote, porém, a terapiafoi retomada, e a carga viral rapi-damente caiu. O segundo rebote

envolveu o subtipo B, que rapi-damente substituiu o subtipo AE.Não foi detectado o subtipo B nasamostras de sangue coletadasanteriormente ao segundo rebo-te viral.

O curso biológico depois dasuperinfecção com o subtipo B foicaracterizado pela persistência dealtos níveis de carga viral e umaperda de 300 células CD4 pormm3 dentro dos quatro meses daemergência do subtipo B. A supe-rinfecção pelo subtipo B levou auma rápida progressão da doen-ça em contraste com a doençaobservada em superinfecção emmacacos. Nossos dados indicamque a infecção natural não neces-sariamente induz proteção cruza-da entre subtipos. Deve haver umacompanhamento cuidadoso dascepas do HIV-1 circulantes no con-texto de desenvolvimento de va-cinas. Nossas observações tam-bém apóiam o uso de precauçõesde sexo seguro ainda entre pes-soas infectadas pelo HIV-1.

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s vacinas anti-HIV foram umdos temas de destaque du-rante a XIV Conferência Inter-

nacional de AIDS, realizada em Bar-celona, na Espanha, de 8 a 11 de ju-lho deste ano. Na realidade, a ênfasenas vacinas não ocorreu em funçãode avanços científicos significativos,mas sim como conseqüência da vi-são atual das limitações da terapia anti-retroviral e da necessidade de investirem outras estratégias para o controleda infecção pelo HIV. Após o entusi-asmo inicial com o advento da tera-pia anti-retroviral combinada potente(HAART), constatou-se que, por maiseficazes que fossem os esquemas anti-retrovirais, a erradicação do HIV eraimpossível devido à sua persistêncianos reservatórios virais. Além disso, acada ano novos efeitos adversos dosmedicamentos anti-retrovirais, algunspotencialmente letais, são identifica-dos e descritos.

Na sessão plenária sobre “VacinasAnti-HIV: Ciência e Política”, Lawren-ce Corey, pesquisador principal daHVTN (Rede de Ensaios de Vacinasanti-HIV dos Institutos de Saúde dosEstados Unidos) abordou os princi-pais obstáculos ao desenvolvimentode uma vacina anti-HIV, destacando:a ausência de marcadores de prote-ção contra a infecção pelo HIV, osvários mecanismos de escape do sis-tema imunitário desenvolvidos peloHIV e o maior investimento de recur-sos financeiros na pesquisa de medi-camentos anti-retrovirais em detri-

mento dos estudos com vacinas.Com relação aos aspectos imunogê-nicos, ressaltou que para obtermosuma vacina efetiva é necessário queesta seja capaz de induzir a produ-ção de anticorpos neutralizantes quebloqueiem os vírus livres nas secre-ções e de células T de memória queatuem nas células infectadas pelo HIV.

Posteriormente, Corey discorreusobre o histórico e perspectivas daspesquisas em vacinas anti-HIV, lem-brando que a “primeira onda” de va-cinas utilizando antígenos do envelo-pe viral não teve êxito principalmentedevido à ausência de indução de res-posta imunitária celular. A “segundaonda” de vacinas anti-HIV reconheceua importância da resposta específicados linfócitos T CD8 citotóxicos (CTL)contra o HIV e baseou-se no desen-volvimento de vacinas recombinantes.Atualmente, estamos atravessando a“terceira onda” que aponta a estraté-gia de vacinas DNA combinadas a umreforço com vacinas recombinantescomo mais promissora. No momen-to, existem 66 pesquisas com vacinasanti-HIV, sendo que somente dois es-tudos encontram-se em Fase III. Casoessas vacinas demonstrem eficácia esegurança, poderão estar disponíveisem 2004/2005.

Finalizou comentando que muitoprovavelmente a primeira geração devacinas anti-HIV não irá prevenir a in-fecção, mas sim diminuir a taxa de re-plicação viral. A diminuição da taxa dereplicação viral poderá ter um impactopositivo na redução da transmissão doHIV. Entretanto, não é possível saber seo controle da viremia será duradouroe qual o risco da emergência de cepasmutantes a médio e longo prazo.

Ensaios clínicose pré-clínicos

Na sessão “Vacinas: Ensaios Clí-nicos e Pré-clínicos” foram apresen-tados estudos com vacinas DNA evacinas recombinantes utilizandovetores virais. Estudo realizado commodelos de AIDS em macacos inves-tigou comparativamente vacinascom DNA proviral (SHIV) depletadodo nef e env expressando gag outat. A vacina expressando antígenosdo gag demonstrou melhor induçãode resposta imune celular contra oHIV, incluindo a resposta de células Tauxiliadoras e células T citotóxicas.Nenhuma das vacinas demonstroueficácia na proteção contra a infec-ção, mas foi observada excelenteação contra a infecção aguda.

K. Matsuo e colaboradores, do JSTVaccine Project do Ministério da Saú-de da Tailândia, relataram estudos emmodelos animais (macacos) com va-cinas recombinantes expressandoantígenos do gag, utilizando comovetores vivos o Mycobacterium bovis(BCG) e uma cepa de vírus Vacciniaaltamente atenuada. Os macacosimunizados com ambas as vacinasdemonstraram uma melhor respostaimune celular quando comparadosaos macacos imunizados com apenasuma das vacinas. A proteção contra aprovocação através de inoculaçãoretal com o SHIV foi parcial; ocorren-do a infecção, mas com uma supres-são da replicação viral 100 vezes maisbaixa do que a observada nos maca-cos não-imunizados.

Foi apresentado também um es-tudo em Fase I/II com a ALVAC-HIVvCP1521 que está sendo conduzidona Tailândia. Essa vacina foi construí-

VACINAS ANTI-HIV EM BARCELONAPor Norma Rubini

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Norma Rubini é professora da Universidade do Rio de Janeiro - UNI-RIO e do Setor de Imunologia Pediátrica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - UNI-RIO, e colaboradora da Sociedade Viva Cazuza. BOLE

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da utilizado um vetor vivo (Canarypox)expressando antígenos dos supbtiposB e E. A Fase II incluiu 46 voluntáriosno grupo que recebeu a vacina e 15pessoas no grupo-controle. A vacinafoi bem tolerada, ocorrendo induçãode resposta linfoproliferativa específi-ca contra os antígenos do envelopeviral dos subtipos B e E em 76% e 89%dos voluntários, respectivamente.

S. Nitayaphan e colaboradores, doInstituto de Pesquisa em Ciências Mé-dicas do Exército da Tailândia, estãodesenvolvendo estudo em Fase II coma vacina recombinante ALVAC-HIV(vCP1521) associada a um reforçocom a AIDSVAX B/E em indivíduoscom baixo risco para a aquisição doHIV. Os resultados preliminares indicamuma boa tolerância e segurança. Den-tre os voluntários imunizados com asduas vacinas, 71% desenvolveram an-ticorpos neutralizantes contra o subti-po E e 98% contra o subtipo B. Osresultados com relação à resposta imu-ne celular ainda não estão disponíveis.Caso venham a ser favoráveis, esta as-sociação de vacinas deverá ser candi-data a ensaios de Fase III.

Ensaios clínicos comvacinas anti-HIV

A apresentação dos estudos comvacinas anti-HIV em fases mais avan-çadas ocorreu no Simpósio “EnsaiosClínicos com Vacinas Anti-HIV”. Nes-sa sessão, foram abordados os estu-dos com a AIDSVAX B/B e AIDSVAXB/E. Ocorreu, ainda, uma discussãosobre temas gerais, incluindo a esti-mativa das necessidades mundiais, acapacidade de produção e distribui-ção de futuras vacinas anti-HIV e aimportância da definição de parâme-tros de eficácia de vacinas anti-HIVna proteção contra a doença.

O ensaio em Fase III com a AIDS-VAX B/B está sendo desenvolvido naAmérica do Norte e Europa. Esse estu-do, duplo-cego, controlado, envolve

a participação de 5.418 voluntários(5.109 homens que fazem sexo comhomens e 309 mulheres), e o esque-ma vacinal consiste na administraçãode sete doses da vacina ao longo detrês anos. O principal efeito adversoobservado, ocorrendo em 87% dosindivíduos imunizados, foi reação lo-cal com dor. Nenhum evento adversograve foi relatado. Os resultados daeficácia deverão estar disponíveis nofinal de 2002 ou em 2003.

O estudo com a AIDSVAX B/E(Fase III) está sendo conduzido naTailândia e conta com participaçãode 2.545 voluntários usuários de dro-gas injetáveis ilícitas, dentre os quais93% do sexo masculino. Os resulta-dos sobre segurança e eficácia serãoconcluídos somente em 2003.

M.L.Chang, da Iniciativa de Vaci-nas da OMS-UNAIDS, discorreu so-bre questões políticas relacionadas àdisponibilização e uso de futuras va-cinas anti-HIV de acordo com os di-ferentes cenários de eficácia vacinal.Apontou que as vacinas com baixa/moderada eficácia também poderãocontribuir para a prevenção da infec-ção pelo HIV. O alvo principal dessasvacinas seriam as “populações de altorisco”, tais como usuários de drogasinjetáveis ilícitas, homens que fazemsexo com homens, profissionais dosexo e populações com alta preva-lência de doenças sexualmente trans-missíveis. As vacinas com alta eficá-cia poderão ser utilizadas de formauniversal, independentemente domaior ou menor risco para a aquisi-ção do HIV.

Contudo, os programas de vaci-nação contra o HIV deverão estarintegrados dentro de uma estratégiaglobal de prevenção da infecçãopelo HIV. É essencial a realização deações de divulgação e informaçãoque impeçam possíveis estigmas as-sociados à vacina anti-HIV. Torna-senecessário ainda o estabelecimentode ações que previnam o recrudes-cimento de comportamentos de ris-co, especialmente no caso de vaci-nas com baixa eficácia.

Concluiu comentando os obstá-culos para realizar no presente umaestimativa das necessidades mundiaisde uma vacina anti-HIV, devido, prin-cipalmente, à incerteza sobre o graude eficácia da primeira geração devacinas e à dificuldade em definir eidentificar as populações de alto riscopara a aquisição do HIV. Ressaltou,também, a importância de um am-plo debate entre a indústria produto-ra de vacinas e as agências financia-doras para assegurar que o númeronecessário de doses de vacinas venhaa ser produzido no prazo apropriadoe a um custo acessível.

Os programas devacinação contra o HIVdeverão estar integradosdentro de uma estratégiaglobal de prevenção da

infecção pelo HIV. Éessencial a realização de

ações de divulgação einformação que impeçam

possíveis estigmasassociados à vacina

anti-HIV.

M. G. Hudgens, do Centro dePesquisa de Câncer Fred Hutchisondos EUA, destacou que como a pri-meira geração de vacinas anti-HIVnão irá proporcionar, provavelmen-te, uma proteção completa contra ainfecção pelo HIV, é necessário avali-ar nos ensaios clínicos os efeitos dasvacinas na progressão para a doen-ça. Como a carga viral é um dosmarcadores utilizados para avaliaçãode progressão para a doença, suge-riu que a análise comparativa damagnitude da carga viral em indiví-duos imunizados e não-imunizadosinfectados pelo HIV seja um parâme-tro candidato da eficácia das vacinasna proteção contra a doença.BO

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ImunomodulaçãoAo longo da XIV Conferência In-

ternacional de AIDS, foram apresen-tados vários trabalhos com interven-ções imunológicas para pacientescom infecção pelo HIV/AIDS. Dentreesses estudos, destacaram-se os en-saios com a vacina terapêutica REMU-NE (imunógeno HIV-1 inativado), in-terleucina-2 (IL-2), fator estimuladorde colônias de granulócitos e macró-fagos (GM-CSF) e hormônio do cres-cimento. Os objetivos principais dautilização de imunomoduladores sãoestimular a resposta imune específi-ca contra o HIV e/ou possibilitar umamelhor reconstituição imunológicaem pacientes com infecção pelo HIVem estágio avançado.

E. Fernandez-Cruz e colaborado-res, do Hospital da Universidade Gre-gório Marañón, na Espanha, desen-volveram estudo duplo-cego, placebocontrolado, avaliando a eficácia daREMUNE em associação à terapia anti-retroviral potente (HAART). Foram ana-lisados comparativamente 243 pacien-tes subdivididos em dois grupos; umgrupo utilizando apenas HAART e ou-tro grupo em uso da HAART associa-da à REMUNE. A vacinação terapêuti-ca induziu um decréscimo na ativaçãodo sistema imune, um aumento daresposta imune celular T auxiliadora eT citotóxica específica contra o HIV,bem como um impacto positivo nocontrole da viremia dos pacientes imu-nocompetentes em uso de HAART.

Estudo realizado na Tailândia in-vestigou os efeitos da monoterapiacom REMUNE durante 132 semanasem 223 voluntários infectados peloHIV assintomáticos e com contagemde linfócitos T CD4>300 células/mm3.A média da contagem de linfócitos TCD4 manteve-se acima dos valoresiniciais, com um aumento médio de36 células/mm3. Doze pacientes(2,16/100 pessoas/ano) progredirampara AIDS de acordo com critérios

imunológicos e quatro pacientes(0,72/100 pessoas/ano) desenvolve-ram doença indicativa de AIDS. Osautores compararam esses dados como curso natural da infecção pelo HIVna Tailândia, que apresenta uma taxade progressão para AIDS de 6,8 a12,2/100 pessoas/ano. Concluíramsugerindo que o uso da monotera-pia com REMUNE em pacientes assin-tomáticos e sem imunodepressãopode retardar a progressão para a sín-drome. A ausência de um grupo con-trole e um período maior de segui-mento clínico não propiciam funda-mentos para conclusões.

Valdez e colaboradores, do Cen-tro de Pesquisa de AIDS Case Westerndos EUA, avaliaram a resposta imuni-tária funcional de anticorpos em paci-entes do ACTG 328 em uso de HAART+/- IL-2. Trinta e oito pacientes comcontagem inicial de linfócitos T CD4<350 células/mm3 e apresentandoapós um período de 60 semanas oumais de terapia com HAART +/- IL-2carga viral <2.000 cópias/ml foramimunizados com REMUNE, toxóide te-tânico, vacinas contra hepatite A e B.Os pacientes do grupo da HAART + IL-2 apresentavam no momento das imu-nizações contagem de linfócitos T CD4significativamente superior ao do gru-po em uso somente de HAART (855versus 444 células/mm3, p=0,02).Contudo, a resposta de produção deanticorpos aos antígenos imunizantesfoi similar em ambos os grupos. Essesresultados indicam que, embora o usode IL-2 aumente o número de célulasCD4, essas células adicionais não po-tencializam a produção de anticorposem resposta a imunizações.

Inglaterra: Fase IEstudo em Fase I desenvolvido na

Inglaterra analisou comparativamen-te a resposta imunitária específica con-tra o HIV em 36 pacientes subdividi-dos em quatro grupos: 1) uso ape-

nas de HAART, 2) uso de HAART + IL-2, 3) uso de HAART + IL-2 + REMUNEe 4) uso de HAART + REMUNE. O usode HAART isoladamente foi insuficien-te para permitir uma reconstituição daresposta imune contra o HIV. Foi ob-servada uma regeneração transitóriada resposta imune anti-HIV nos paci-entes em uso de IL-2 +/- REMUNE.

O uso de HAART resulta em bene-fícios clínicos e imunológicos significa-tivos, mas o seu uso prolongado impli-ca o risco de vários efeitos adversos.Por outro lado, a interrupção da tera-pia anti-retroviral acarreta um rebote nareplicação viral e, conseqüentemente,risco de depleção da população de lin-fócitos T CD4 e desenvolvimento deAIDS. N. F. Bernard e colaboradores,da Universidade McGill, do Canadá,investigaram a eficácia do uso de GM-CSF e REMUNE na prevenção do re-bote viral na interrupção da HAART empacientes com excelente resposta viro-lógica. Os pacientes (n=10) avaliadosapresentavam carga viral <50 cópias/ml por um período médio de doisanos, sendo submetidos a uma inten-sificação da HAART com didanosina +hidroxiuréia (seis meses), ao uso deGM-CSF (nos primeiros três meses) e auma dose de REMUNE antes da sus-pensão da HAART. Após a interrupçãoda HAART, os pacientes mantiveram ouso de REMUNE a cada três meses. Ainterrupção da HAART resultou em re-bote viral em todos os pacientes. Essesresultados indicam que essas estraté-gias imunomoduladoras não permi-tem a suspensão da HAART.

ReconstituiçãoImunológica

A reconstituição imunológica éum dos objetivos da terapêutica anti-retroviral. Entretanto, alguns pacien-tes, apesar da boa resposta virológi-ca ao uso de esquemas anti-retrovi-rais potentes, apresentam dificulda-de na reconstituição da população

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de linfócitos T CD4. A normalizaçãoda contagem de linfócitos T CD4 empacientes em uso de HAART é resul-tante de uma produção tímica ade-quada e da diminuição da destruiçãode linfócitos T CD4 pelo HIV no san-gue periférico. A infecção pelo HIV decélulas progenitoras CD4+ no timoocasiona um decréscimo na produ-ção de linfócitos T CD4. Além disso,nos adultos ocorre um processo na-tural de involução tímica. Esses doisfatores podem dificultar a repopula-ção de linfócitos T CD4 em pacientescom boa resposta à terapia anti-retro-viral, que iniciaram a terapia em umaFase avançada da infecção pelo HIV.

Estudo desenvolvido por L.A. Na-politano e colaboradores, do InstitutoGladstone da UCSF, nos EUA, investi-

em entrevista coletiva, uma vacinano mercado em dois anos, mas, in-felizmente, as expectativas sobreessa vacina (sobre a qual se desejaavaliar uma eficácia de pelo menos30% e que é administrada em setedoses) não são as melhores. Os re-sultados do ensaio de Fase III, de-senvolvido no Canadá, nos EUA, naHolanda e em Porto Rico, e queenvolvem mais de 5 mil voluntári-os, só devem ser divulgados no fi-nal do ano.

Após demonstrar, no ano passa-do, controle de carga viral em maca-cos (carga viral indetectável) com umavacina preventiva de DNA mais MVA(num esquema primário mais reforço)infectados com SHIV 89.6P – vírus queé uma combinação do HIV e do SIV eque produz AIDS nos macacos, Harri-et Robinson, da Universidade Emoryde Atlanta, nos EUA, relatou na Con-ferência de Barcelona que a carga vi-

ral diminuiu e que é cada vez maisdifícil cultivar vírus a partir das células,ou seja a eliminação continua. Elamostrou resultados que demonstramser necessário incluir o gene env navacina, junto com o gag e pol. Noentanto, a vacina gp120 não substi-tui o env; pelo contrário, as respostaspioram uma vez que a vacina é admi-nistrada em combinação (posterior-mente) à outra.

Juliana Lisziewicz, do PoliclínicoSan Matteo, em Pavia, na Itália, ecolegas dos Estados Unidos apresen-taram uma vacina terapêutica dérmi-ca em macacos, usada em combina-ção com HAART em IET (Interrupçãoestruturada de tratamento). Porém,o controle da carga viral não signifi-cou ser indetectável. Este ano serãoiniciados os estudos de Fase I emhumanos.

Conheça agora os principaisacontecimentos do evento:

OUTRAS NOTÍCIAS DE BARCELONA

gou os efeitos do hormônio do cresci-mento (rhGH) em pacientes (n=5)com infecção pelo HIV em uso deHAART. Foi utilizado para comparaçãoum grupo-controle incluindo sete pa-cientes com características clínicas eimunológicas similares. Foram obser-vados aumento do volume e densi-dade tímica, através de avaliação portomografia computadorizada pré epós-terapia com rhGH, e aumento dapopulação de linfócitos T CD4 naive.

A. Pires e colaboradores, do Impe-rial College do Reino Unido, avaliaramo uso de rhGH em 12 pacientes emuso de HAART com boa resposta. Osresultados também foram favoráveis;sendo evidenciados desenvolvimentode timócitos, indução de linfócitos Tde memória e aumento da contagem

de células CD4 e CD8 naive. Foi ain-da observado em outro estudo como rhGH desenvolvido pelo mesmogrupo de pesquisadores aumento daresposta imunitária específica T auxili-adora e T citotóxica contra o HIV.

Os resultados preliminares com ouso de rhGH, embora promissores,não permitem a sua utilização forado âmbito dos ensaios clínicos. Sãonecessários novos estudos com mai-or número de pacientes que validemesses achados iniciais e que investi-guem os riscos e benefícios da utili-zação do rhGH em pacientes cominfecção pelo HIV a longo prazo.

A íntegra do artigo, com as refe-rências, pode ser encontrada emwww.vivacazuza.org.br.

XIV Conferência Internacio-nal de AIDS foi, também,palco para que os maiores

estudiosos sobre o HIV/AIDS partici-passem de vários debates e apresen-tações. O Dr. Robert Gallo, do Insti-tuto de Virologia Humana da Univer-sidade de Maryland, nos EUA, reali-zou uma palestra na qual afirmouque as abordagens atuais de vacinasestão erradas, por não poder darconta da variedade de subtipos doHIV-1. A abordagem por ele propos-ta é a de inibir a fusão do vírus coma célula, o que permitiria superar osproblemas com a variedade de sub-tipos de HIV-1.

Don Francis, do laboratório Va-xgen, que tem duas versões da mes-ma vacina em Fase III, prometeu,

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• • • • • Simpósio Satélite sobrevacinas anti-HIV

organizado pela IAVINo dia 6 de julho, foi realizado

um simpósio de vacinas anti-HIV, or-ganizado pela IAVI (Iniciativa Interna-cional de Vacina contra a AIDS) e co-patrocinado por várias organizações,entre elas a CN/DST-AIDS – Coorde-nação de Doenças SexualmenteTransmissíveis e Aids, do Ministério daSaúde do Brasil, em que houveramvárias apresentações sobre produtosem testagem e sobre envolvimentocomunitário. O simpósio foi abertopelas exposições de Kapil Sibal, par-lamentar da Índia, e de Paulo Teixei-ra, representante da CN/DST-AIDS,que falaram sobre o apoio político àpesquisa de vacinas em cada um dospaíses; e pelo depoimento de ummilitar ugandense voluntário de umteste de vacinas.

Em seguida, Supachai Ngarm,especialista sênior de Medicina Pre-ventiva no Departamento de Doen-ças Transmissíveis do Ministério daSaúde da Tailândia, falou sobre en-saios de Fase III; Seth Berkley, presi-dente da IAVI, abordou o desenvol-vimento e fornecimento de vacinas;e David Patterson, da Rede de Direi-tos para HIV/AIDS do Canadá, discor-reu sobre o acesso a vacinas. Duran-te sua apresentação, Patterson obser-vou que, às vezes, há uma concor-rência entre o acesso a medicaçõese o acesso a vacinas, mas que emalguns encontros patrocinados pelaRede de Direitos para HIV/AIDS doCanadá esses enfrentamentos sãoesclarecidos e resolvidos.

À tarde, foram apresentados no-vos produtos e dados sobre mobili-zação comunitária tanto para a reali-zação de ensaios clínicos como paragarantir o acesso. John Shiver, daMerck, relatou os dados da vacina(ensaio preventivo) em Fase I, desta-cando que as células estimuladas

pela vacina conseguem neutralizarisolados primários de subtipos A e Ccom muita eficiência, a partir de umavacina feita sobre o subtipo B. O re-lato, que não forneceu dados a res-peito do ensaio terapêutico da vaci-na, trouxe otimismo sobre a reaçãocruzada, que poderia levar a umaproteção cruzada entre subtipos,uma vez que a variabilidade do HIVnão teria tanto impacto sobre a cepade HIV relacionada à candidata avacina.

Gerald Voss falou sobre a vacinade proteínas da GlaxoSmithKline, so-bre a qual informamos no Boletimanterior. Esta candidata contém agp120 junto com a proteína de fu-são Nef-Tat. Segundo da GSK, a vaci-na está formulada com um novoadjuvante chamado AS02A. OASO2A parece estimular tanto as res-postas de anticorpos como celularese mostrou uma boa segurança noensaio de vacina para malária da GSKcom 1300 pessoas. Agora está sen-do usada para vários outros estudosde candidatas a vacina.

A vacina completa entrou em es-tudos clínicos em fevereiro de 2002em 10 centros da HVTN nos EUAdepois de um ensaio de Fase I coma gp120 isolada. O ensaio de 84pessoas testará a proteína Nef-Tat iso-lada e em combinação com dosescrescentes da gp120, todas com oadjuvante AS02A. Os resultados finaisserão divulgados em meados de2003. GSK planeja também o estu-do da vacina com terapêutica empessoas com HIV.

Antes do ensaio, a vacina mos-trou controlar a carga viral em ma-cacos rhesus num desafio com umvirus heterólogo SHIV89.6P, ou seja,que diferia da cepa da vacina em20% na gp120 e 10% no gene Tat.Voss relatou que estes animais conti-nuam sadios depois de três anos dodesafio.

• • • • • Simpósio Satélite daORVACS

No dia 7, foi promovido um sim-pósio sobre o trabalho da ORVACS(Objectif Recherche Vaccin SIDA),ONG francesa formada por pesqui-sadores e presidida por Brigitte Au-tran, renomada imunologista doHospital Cochin de Paris, que tem porobjetivo a pesquisa de vacinas tera-pêuticas. No simpósio, concluiu-seque devem ser criados novos parâ-metros para avaliação das candida-tas a vacinas terapêuticas que permi-tam estimar a extensão da respostaimunitária.

• • • • • Parceria entre a CN/DST-AIDS e a IAVI

A CN/DST-AIDS e a IAVI fecharamuma parceria para estimular o desen-volvimento de vacinas no âmbito in-ternacional. As duas instituições assi-naram uma Carta de Entendimentopara a pesquisa de uma vacina pre-ventiva de AIDS, em que se compro-metem a trabalhar para desenvolveruma vacina anti-HIV tanto no Brasilcomo internacionalmente, fornecerassistência técnica e cooperação daforma apropriada e assegurar que avacina esteja disponível onde houvernecessidade.

Entre as atividades previstas estãoa visita a laboratórios e sítios de pes-quisa da IAVI, o desenvolvimento detrabalhos com jornalistas e meios decomunicação, parlamentares e toma-dores de decisão sobre o financia-mento de atividades de educaçãocomunitária sobre vacinas paraONGs/AIDS brasileiras, e questões deacesso, como capacidade e harmo-nização regulatória, e capacidade demanufatura.

Atualmente, a IAVI possui oitoprodutos em testagem com subtiposde HIV de países em desenvolvimen-to (nenhum do tipo B) e tem interes-se no acesso imediato das vacinas

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nesses países. Na ocasião, ativistascomunitários expressaram à IAVI ointeresse em ensaiar uma candidataà vacina subtipo C na região sul doBrasil, onde esse subtipo tem preva-lência.

• • • • • O Ministério da Saúdee a pesquisa

O coordenador da CN/DST-AIDSdo Brasil, Paulo Teixeira, anunciou oapoio às atividades de vacinas anti-HIV. Para isso, o Ministério da Saúdeplaneja investir 2 milhões de dólarespor ano.

• • • • • Superinfecção em pessoascom interrupção detratamento (IET)

Em sua apresentação, BruceWalker, da Faculdade de Medicina deHarvard, nos EUA, relatou casos depacientes com IET no contexto deinfecção primária e mostrou um casode perda de controle pelo sistemaimunitário. O paciente estava semterapia, com uma carga viral estáveldepois de vários ciclos de tratamen-to e IET. Aproximadamente no 290ºdia sem terapia, a carga viral aumen-tou subitamente e o CD4 começoua cair, apesar da documentação deresposta CTL. A resposta específicados CD4 sobre o HIV também decres-ceu. O vírus original era um subtipoB e o vírus do rebote também. Elediferia em 12% do genoma do outrovírus, mas ainda era um subtipo B.Isso aconteceu num episódio de sexo

desprotegido anônimo. A superinfec-ção com outro subtipo B em pacien-tes com controle do subtipo B origi-nal mostrou-se desconcertante e jo-gou uma sombra sobre a possibili-dade de proteção cruzada ou aindadentro do próprio subtipo, o quetornaria a procura de uma vacinamuito mais complicada.

• • • • • Complexosde envoltório-CD4

Extraído do Boletim da IAVI (julho-setembro de 2002)

A falta de sucesso no desenvol-vimento de vacinas que possamneutralizar uma ampla gama de sub-tipos do HIV — uma caraterísticaque se pensa oferece a maior espe-rança para prevenir a infecção inici-al — constitui um dos impasses maisfrustrantes do campo. Mas uma can-didata que induz anticorpos desen-volvida por Tim Fouts e Anthony De-Vico no Instituto de Virologia Huma-na (IHV, Baltimore, EUA) mostrou al-guns resultados promissores emmodelos de macacos, segundo re-latou o diretor do IHV, Robert Gallo(ver publicação no Proceedings ofthe National Academy of Sciences99: 11842; 2002).

A candidata contém a proteínagp120 (ou gp140) ligada ao CD4, amolécula de superfície da célula T quese liga ao HIV. Essa causa uma mu-dança de forma na gp120 que reve-la epitopos normalmente escondidos

do sistema imunitário, que por sua veziniciam a entrada viral na célula. Gallorelatou que quando o complexogp120-CD4 foi usado para imunizarmacacos, gerou anticorpos que neu-tralizaram cepas primárias dos subti-pos A até E do HIV, independente-mente do uso do correceptor. Porém,teve desempenho fraco contra os ví-rus isolados de laboratório. Agora ospesquisadores estão testando formasde estimular essa resposta (por exem-plo, através do uso de um fragmentode toxina do cólera que mostrar ativi-dade forte com adjuvante). Em cola-boração com a Merck, estão avalian-do a habilidade da vacina de prote-ger macacos contra um desafio pelovírus SHIV.

Porém, o produto que iria para osensaios clínicos pode ser um poucodiferente, informou Gallo ao Boletimda IAVI. Para evitar preocupações coma segurança e aspectos regulatórioscom o uso do CD4 numa vacina, aequipe do IHV procurou a substitui-ção do componente do CD4. Atravésde modelagem, encontraram umsubstituto promissor: uma versão ate-nuada da toxina do escorpião, umamolécula com uma estrutura tridimen-sional similar ao CD4 que parece in-duzir a mesma mudança na forma dagp120. O complexo gp120-toxinaestá ainda num estágio inicial, mas éo que tem mais chances de ir para afrente no desenvolvimento dessanova abordagem para vacinas.

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PRIMEIRA

LEITURA

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APARA ENTENDER AS VACINAS ANTI-HIV

existência de uma vacinaanti-HIV pode levar até à er-radicação da AIDS, como jáaconteceu com a varíola.

Para isso, deve ser capaz de produziruma reação no sistema imunitário su-ficiente para neutralizar, eliminar oucontrolar o HIV.

A vacina pode ser preventiva, paraas pessoas sem HIV. Neste caso, ao en-trar em contato com o HIV, o organis-mo já teria uma resposta imunitária paracontrolar o vírus. As vacinas contra avaríola ou contra a pólio são exemplosbem sucedidos. Ela também poderiaser terapêutica, para as pessoas comHIV, com o objetivo de neutralizar o HIVapós reação do sistema imunitário.

Mais de 20 candidatas já foram ex-perimentada, seja em Fase I ou II ( an-tes do teste em larga escala, com mui-tas pessoas). Atualmente há duas va-cinas em pesquisas de Fase III na Tai-lândia e nos EUA, envolvendo 7.500voluntários.

No Brasil, há três centros nacionaisde pesquisas vacinas anti-HIV, em BeloHorizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Como se testa umavacina?

Antes do teste em seres huma-nos, deve ser testada em tecidos hu-manos e em pequenos e grandesanimais. Se os resultados forem pro-missores, se existir uma avaliação fa-vorável em relação à eficácia e segu-rança em seres humanos, passa-se àsfases clínicas. Estas são as Fases I, II eIII. As vacinas preventivas são testa-das em pessoas que não entraramem contato com o HIV.Fase I: é a introdução de uma vaci-na candidata numa população huma-na, para determinar a segurança (efei-tos adversos e tolerância) e a imuno-genicidade ( a capacidade de desper-tar reações imunológicas). Essa Fasepode incluir estudos de doses e formasde administração. Geralmente envol-ve menos de 100 voluntários.Fase II: dedica-se a testar a imuno-genicidade e examinar a eficácia emum número limitado de voluntários(entre 200 e 500).

4.Número mínimo de doses a seremtomadas e possibilidade de combina-ção com outros programas de imu-nização.5.Estabilidade (fácil de transportar, resis-tente a mudanças de temperatura, etc).6. Facilidade de administração (a viaoral, por exemplo, é melhor do que ainjetável).7.Baixo custo e possibilidade de pro-dução local.

Por que é possível umavacina anti-HIV?

1. A capacidade de algumas pessoas debarrar a infecção pelo HIV tem sido vistapor pesquisadores como a resposta deque a vacina é possível : existem crian-ças que nascem de mães infectadas masnão têm HIV; há também pessoas ex-postas, mas que não se infectam.2. É possível controlar a infecção agu-da pelo HIV.3. Existem pessoas infectadas há mui-to tempo e que não desenvolvemAIDS, permanecendo saudáveis.4. A transmissão por meio da mucosaapresenta relativa ineficiência.5. Já foi possível a proteção contra aAIDS em macacos, por meio do con-trole da carga viral.

Obstáculos para aprodução de uma vacina1. A resposta imunitária é medíocree lenta.2. Não se conhece quais são as rea-ções que devem ser desenvolvidaspelo sistema imunitário contra o HIV,com capacidade de neutralizá-lo.3. Há grande variabilidade do HIV-1.Existem três tipos: M, N e O. O tipo Mtem vários subtipos ( de A até J). Hátambém o “vírus mosaico”, com peda-ços de subtipos diferentes.4. Os modelos animais não são comple-tamente satisfatórios. Nenhum macacofica doente pelo HIV, apesar de haverrelatos de um macaco ter ficado doentedepois de vários anos, o que tambémnão é suficiente. Os modelos utilizam ainfecção pelo SIV (vírus de imunodefici-ência dos símios) ou pelo SHIV, que é umvírus combinado entre o HIV e o SIV, cri-ado em laboratório pelo homem.

Fase III: é a análise mais completade segurança e eficácia para a preven-ção da infecção pelo HIV. Envolve umnúmero maior de voluntários em umgrande estudo que inclui várias insti-tuições de saúde, muitas vezes de pa-íses diferentes.Fase IV : Se o resultado da Fase IIIfor favorável, a vacina é liberada parauso em determinadas populações.Mesmo depois de liberada, ela conti-nua sendo acompanhada para a ob-servação de efeitos colaterais que po-dem não ter sido registrados durantea experimentação.

Como calcular a eficáciaComo ainda não existe uma vaci-

na eficaz, a candidata é testada con-tra placebo, uma substância inócua,sem efeito nenhum. Por exemplo: umgrupo de pessoas sem HIV é divididoem dois grupos diferentes, ao acasoou por sorteio.

O grupo 1 recebe a candidata avacina; o grupo 2 recebe o placebo.Nem os voluntários nem os pesquisa-dores sabem o que cada pessoa estárecebendo: pode ser a vacina ou podeser o placebo. Esse estudo é chama-do de duplo cego.

Passado um tempo (um ano, porexemplo), algumas pessoas de ambosos grupos podem ter entrado em con-tato com o vírus HIV e podem ter seinfectado. A partir de fórmulas mate-máticas, comparando a incidência doHIV nos dois grupos, chega-se ao graude eficácia da vacina ou à conclusãode que a substância constitui um fatorde risco.

Caraterísticas de umavacina ideal

1.Segurança excelente e risco mínimode efeitos adversos.2. Eficácia na prevenção da transmis-são do HIV por todas as vias conheci-das (oral, genital, anal e sangüínea) eem diferentes populações (indepen-dentemente de estado nutricional,doenças preexistentes, caraterísticasétnicas, etc).3.Proteção de longa duração contratodas as variedades de HIV-1 existentes. BO

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ARTIGO

COMITÊS COMUNITÁRIOS

Comitê Comunitário deAcompanhamento de Pes-quisa – CCAP, do Rio de Ja-

neiro, e o Comitê de Acompanha-mento Comunitário – CAC, de SãoPaulo, estiveram reunidos na capitalpaulista, nos dias 1 e 2 de agostopara uma série de atividades.

O primeiro dia de trabalhos foimarcado pelas apresentações dosmédicos Ésper Kallás, da UNIFESP(Universidade Federal de São Paulo)e Mauro Schechter, do Projeto PraçaOnze, da Universidade Federal doRio de Janeiro – UFRJ, e da educa-dora comunitária do Projeto PraçaOnze, Mônica Barbosa. Nesse primei-ro dia estiveram presentes tambémprofissionais do CRT-AIDS. Ésper Kállasfalou, principalmente, sobre a can-didata à vacina do laboratório Merckque será testada em breve no Proje-to Praça Onze, no CRT-AIDS e naUNIFESP, e sobre os exames que ava-liam a imunidade celular (Elispot, crô-mio, entre outros). Já Schechter fezum histórico do Projeto Praça Onze.Mônica Barbosa apresentou um bre-ve seminário sobre o trabalho comvoluntários de pesquisas.

Durante as explanações, os par-ticipantes discutiram a suspensão doensaio HVTN501, provocada pelosresultados insatisfatórios do ensaio203 (ver Boletim 7). No dia seguin-te, membros dos dois comitês comu-nitários se reuniram no Grupo de In-centivo à Vida - GIV com as equipesde pesquisa.

Na reunião intercomitês, foramidentificados vários problemas co-muns, como a escassez de tempopara se tomar decisões, a falta detradução em documentos e as gra-ves falhas no repasse de informa-ções pelas equipes. Também foi sa-lientada a necessidade de criaçãode um orçamento próprio paracontemplar atividades como a soli-citação de parecer ou palestra deconsultor independente, a realiza-ção de reuniões intercomitês, aparticipação em reuniões (nacio-nais ou internacionais) relacionadasao desenvolvimento de pesquisascom vacinas, entre outros.

Uma diferença importante en-contrada no desenvolvimento dostrabalhos dos dois comitês é o con-tato com o Comitê de Ética em Pes-quisa – CEP das instituições. O CRT/DST-AIDS, por exemplo, é uma ins-tituição dedicada exclusivamen-te à AIDS e seu CEP somenteanalisa projetos relacionadosà AIDS. O representante deusuários do CEP participa doCAC. Já o Projeto PraçaOnze, vinculado à UFRJ, quedesenvolve múltiplas pesqui-sas, tem um CEP que, emconseqüência, aborda dife-rentes áreas. Como o repre-sentante de usuários do CEPnão participa do CCAP, osvínculos com o CEP são maisdistantes e precisam ser es-treitados.

Como resultado da reunião, foiencaminhado um documento àsequipes de pesquisa solicitando atradução dos documentos necessá-rios para uma análise adequada, oestabelecimento de um orçamentopróprio para cada comitê, o forne-cimento de informações com regu-laridade e o atendimento rápido dassolicitações de informação feita pe-los comitês. Foram solicitadas, ain-da, informações sobre a suspensãodo ensaio HVTN 501, decorrentedos resultados insuficientes de imu-nogenicidade observados no Ensaio203 e suas conseqüências sobre osensaios do Rio de Janeiro e São Pau-lo, lembrando que, depois da sus-pensão do HVTN 501, o Ensaio 026do Projeto Praça Onze continua aser realizado, mas a sua prolonga-ção em São Paulo foi suspensa.

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ARTIGO

COMITÊS COMUNITÁRIOS

A Coalizão de ativistas de vaci-nas para a AIDS (AVAC) lançou re-centemente um documento. Eleavalia os possíveis resultados de um

Leia na nossa página na internet: www.giv.org.br

AVAC LANÇA DOCUMENTOPARA AVALIAR RESULTADOS FUTUROS

DE TESTES DE EFICÁCIAPARA VACINAS

teste de Fase III de vacinas que se-rão divulgados no início de 2003.Por exemplo: a vacina pode se mos-trar altamente eficaz ou de baixa

eficácia: quais perguntas surgemnestes casos? Traduzimos para oportuguês e está disponível na nos-sa página.

Saiba mais sobre o CCAP e o CAC

A criação de comitêscomunitários é uma norma daHVTN – Rede de Ensaios deVacinas para HIV, dos EstadosUnidos, à qual os estudos estãovinculados. De acordo com anorma, cada centro de pesquisade vacinas deve ter um comitêcomunitário. Dessa forma, foramcriados o CCAP – ComitêComunitário deAcompanhamento de Pesquisa,no Rio de Janeiro, e o CAC –Comitê de AcompanhamentoComunitário, em São Paulo. Osdois comitês têm regulamentointerno para funcionamento,com algumas diferenças: noCCAP a entrada de novosmembros pode se dar aqualquer momento, enquantoque no CAC a entrada só é

permitida no início de um novoprojeto de pesquisa.

O CCAP formou-se há trêsanos para acompanhar oprotocolo 026 que está sendodesenvolvido no Estado do Rio.Esse ensaio testa a vacina ALVACcanarypox 1452 com umreforço de AIDSVAX. A linhamestra que guiou a convocaçãodos membros do CCAP foi aparticipação no movimento deluta contra a AIDS e pelosdireitos humanos dentro de suaárea de atuação, formando umgrupo com origens e formaçãodiversas.

Inicialmente, o CCAPdedicou-se exclusivamente adiscutir o Termo deConsentimento Livre eEsclarecido (TCLE) do Ensaio

026. Com o atraso no início dapesquisa, em razão deproblemas burocráticos após aaprovação do TCLE, o grupopassou por um período dedesmobilização, retomando suasatividades no início deste ano.

O CAC é mais recente, tendoiniciado suas reuniões em maiode 2001, com vistas a umaprovável prolongação do ensaio026 para São Paulo. Ele foiformado a convite direto doprincipal pesquisador do ensaio,Artur Kalichman. Seus membrossão representantes de ONGs/AIDS relacionadas com setoresde prevenção, do Fórum deONGs/AIDS, de pessoas comHIV/AIDS, e pessoas comexperiência em áreas de vacinase medicamentos.

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ENTREVISTA

Educação Comunitária

O recrutamento deve serfeito de forma

cuidadosa, para quesomente sejam incluídosvoluntários que tenhamcompreensão sobre o que

significa suaparticipação na

pesquisa.

Quais são os objetivos da edu-cação comunitária?

A educação comunitária tem porfinalidade aproximar o público leigodas pesquisas, informando a comu-nidade, especialmente aquela ondeestá sendo realizada a pesquisa, so-bre quais são os objetivos e os pro-cedimentos da pesquisa. Essa ativi-dade envolve desde o repasse deinformações aos possíveis voluntári-os, seus parentes e amigos, até a di-vulgação da pesquisa para os forma-dores de opinião, os líderes comuni-tários, as ONGs/AIDS e a imprensa.

Quais os desafios da educaçãocomunitária?

O primeiro é dar credibilidade àpesquisa junto ao público em ge-ral, diminuindo a desconfiança da

população com relação às pesqui-sas que envolvem seres humanos.O segundo desafio é informar semconfundir. A linguagem científicanão é de fácil entendimento e te-mos que decodificá-la para a comu-nidade entendê-la. Outros grandesdesafios que se apresentam, especi-almente no recrutamento de volun-tários para estudos de vacinas, sãoconvencer sobre possíveis benefíci-os de uma vacina anti-HIV sem criarfalsas esperanças e alertar sobre ris-cos de participação em uma pesqui-sa de vacinas sem assustar os poten-ciais voluntários.

A profa. da PUC-SP (PontifíciaUniversidade Católica) Mary JaneParis Spink menciona no BoletimVacinas 7 que muitos pensam navacina como a cura da AIDS. Oque você tem observado a esserespeito?

Concordo completamente comMary Jane. Na verdade, as pessoassabem o que é uma vacina em ge-ral. Você pergunta a elas: você to-

mou a vacina do sarampo,da difteria? Elas respon-dem que sim e depoiseu pergunto: paraque é essa vacina dosarampo, você tinhasarampo antes detomar a vacina?Elas respondemque não. Por últi-

mo eu digo, para que serviria umavacina contra a AIDS? Eles respon-dem: seria a cura da AIDS. A gran-de expectativa é de que se descu-bra um recurso que faça com que aAIDS seja erradicada para sempre.

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃOCOMUNITÁRIA

EM PROJETOS DE PESQUISANesta entrevista, a educadora comunitária do Projeto Praça Onze, do Rio de Janeiro,

Mônica Barbosa, explica o funcionamento e os desafios da educação comunitáriaem projetos de pesquisa.

Como você concilia a necessi-dade de informar claramente e deforma neutra ao candidato a vo-luntário e a necessidade de recru-tar voluntários?

O voluntário mal recrutado, istoé, o que percebe que alguma coisafoi mal explicada a ele, provavel-mente depois de um tempo vem adesistir de participar do projeto. Eter muitos desistentes é o pior quepode acontecer para um estudo.Portanto, o recrutamento deve serfeito de forma cuidadosa, para quesomente sejam incluídos voluntári-os que tenham compreensão sobreo que significa sua participação napesquisa. Informar o voluntário nãodificulta o recrutamento, ao contrá-rio, facilita.BO

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Educação Comunitária

Muitos dos candidatos a volun-tário não têm contato com pesso-as com HIV ou AIDS. O que levaessas pessoas a aderirem ao pro-jeto?

A maior parte dos voluntários(86%) tem vontade de dar sua con-tribuição para que a AIDS seja defini-tivamente erradicada de nosso pla-neta. Mesmo os que não conhecemninguém com HIV ou AIDS são moti-vados pelo altruísmo e pelo desejode dar um mundo sem AIDS parafuturas gerações.

501. Para informar os voluntáriossobre a suspensão do 501, optamospor entregar uma Carta aos Volun-tários, cujo texto foi enviado ao Co-mitê de Ética em Pesquisa, órgãoque aprova todo o material encami-nhado aos participantes do ensaio,e também foi aprovado pelo Comi-tê Comunitário de Acompanhamen-to de Pesquisa.

A pouca resposta de imunida-de celular observada no ensaio203 jogou uma sombra sobre apossibilidade dos produtos testa-dos no 026 serem eficazes, em-bora alguns afirmem que os ob-jetivos do 026 não foram afeta-dos por esses resultados. Comorespeitar ao mesmo tempo a mo-tivação dos participantes e pen-sar em termos dos objetivos dapesquisa?

Em primeiro lugar, as informa-ções sobre o 203 foram salientadaspara os voluntários. Em segundolugar, as motivações e os objetivosdo estudo não são conflitantes. Umdos desafios da educação comuni-tária é mostrar aos potenciais vo-luntários que mesmo que eles es-tejam participando de um estudocom um produto vacinal que nãoseja definitivo, eles estão contribu-indo com um passo importante noprocesso para a descoberta de umavacina eficaz.

A maior partedos voluntários (86%)tem vontade de dar

sua contribuição paraque a AIDS sejadefinitivamente

erradicada de nossoplaneta. Mesmo os que

não conhecem ninguémcom HIV ou AIDS

são motivadospelo altruísmo

e pelo desejo de darum mundo sem AIDS

para futuras gerações.

Nossa missãoé a de demonstrar

a importânciade uma vacinaque não cura

a AIDS nem previnenovas infecções,

mas que terá um papelessencial no controle

da epidemia.

Recentemente, houve a sus-pensão de um ensaio de eficácia(HVTN 501) com um produto quevocês estão testando em Fase II noprojeto 026. Isso afetou o anda-mento do projeto, uma vez quealguns pensaram que a suspensãodo 501 podia levar à suspensãodo 026, à modificação do Termode Consentimento Livre e Esclare-cido? Qual foi o procedimentoadotado pelo 026?

A suspensão do estudo HVTN501 teve pouco impacto prático so-bre a condução do 026, já que osobjetivos desse estudo não se mo-dificam e não estão relacionados di-retamente à realização ou não do

Se as pessoas já têm dificulda-de de entender o que é uma vaci-na de AIDS, que elimina o HIV,como é no caso da vacina que con-trola a carga viral e não elimina ovírus? Quais são os pensamentos epreocupações a esse respeito?

Recentemente entrevistamos algu-mas pessoas de ONGs/AIDS e elasformularam as seguintes expectativas:as vacinas contra o HIV vão curar aAIDS? As vacinas preventivas serão100% efetivas e devolverão à popula-ção a liberdade sexual? Sabemos queencontrar tal vacina talvez não sejapossível, porém do ponto de vista dopúblico, qualquer coisa que não sejaessa vacina perfeita é frustrante. Por-tanto, nossa missão é a de demons-trar a importância de uma vacina quenão cura a AIDS nem previne novasinfecções, mas que terá um papel es-sencial no controle da epidemia.

Quais foram as perguntas/pre-ocupações das pessoas sobre umavacina que não cura a AIDS e nemprevine a infecção?

Elas foram, entre outras:1. Se eu tomar essa vacina e me infec-

tar, eu nunca ficarei doente? Vouviver mais tempo sem doença?

2. Se eu tomar essa vacina e me infec-tar, vou ter uma AIDS mais fraca? (eo que é uma AIDS mais fraca?)

3. Se eu tomar essa vacina e me in-fectar, eu poderei transmitir o HIV?E se eu engravidar, poderei infec-tar meu filho?

4. Uma vacina que não previne ainfecção pode levar à erradica-ção?

5. Essa vacina tem utilidade em pes-soas com HIV?

6. Como avaliar a eficácia de tal va-cina já que ela não evita novas in-fecções?

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ENTREVISTA

Mauro Schechter & Artur Kalichman

omo informamos na ediçãoanterior, os resultados decep-cionantes em termos de imu-

nidade celular medidos pelo exameElispot no ensaio HVTN 203 levaramà suspensão do ensaio HVTN 501.O HVTN 203 ainda está em curso,próximo de sua finalização e testa osmesmos produtos que são utilizadosno ensaio HVTN 026, que está sen-do realizado no Rio de Janeiro. Esteensaio seria expandido para São Pau-lo, mas depois da suspensão do en-saio HVTN501, decidiu-se não reali-zá-lo em São Paulo. Obviamente osresultados do HVTN 203 repercuti-ram em ambos os sítios e em toda arede HVTN.

Para esclarecer alguns pontossobre esse assunto, entrevistamosMauro Schechter, investigador prin-cipal do Projeto Praça Onze do Riode Janeiro, que participa do ensaioHVTN 026, e depois Artur Kalichman,investigador principal do sítio de va-cinas da HVTN no CRT-AIDS de SãoPaulo, que fez algumas considera-ções adicionais sobre a decisão emSão Paulo.

Por que o HVTN 501 foi sus-penso?

Mauro Schechter: O prin-cipal objetivo do estudo HVTN501,que envolveria 11 mil voluntários,era validar a técnica chamada deElispot como exame laboratorialpara medir marcadores de prote-

ção de imunidade celular contrao HIV. O cancelamento deveu-seà freqüência menor que a espera-da de indução de respostas medi-das através de Elispot no estudodenominado HVTN203, embora afreqüência de indução de outrosmarcadores laboratoriais, incluindoanticorpos neutralizantes e CTL,tenha sido a esperada. Assim, nãohaveria sentido fazer um estudopara validar uma resposta labora-torial que não é induzida pelasvacinas em uso como potencialmarcador de proteção. Acho queseria um contra-senso - e até anti-ético, acredito - começar um estu-do que, de antemão, se sabe nãoser capaz de responder às pergun-tas colocadas.

A decisão não foi precipita-da, já que o ensaio não estavapara começar? Quem participoudessa discussão e decidiu sobreo assunto?

Mauro Schechter: A decisãonão foi apressada. Quando do pla-nejamento do HVTN501, havia sidoacordado, por todos os investigado-res que dele participariam, que omesmo só seria realizado caso a fre-qüência cumulativa de Elispot encon-trada no estudo 203 fosse igual ousuperior a 30%. Como não foi, ape-nas cumpriu-se o previamente acor-dado. De qualquer forma, essa deci-são foi referendada em reunião com

a participação de todos os investiga-dores principais do HVTN, realizadaem Seattle, antes da Conferência deRetrovírus e Infecções Oportunistas.

Por que talvez haja um en-saio de eficácia na Tailândia enão nos EUA?

Mauro Schechter: As ativida-des em HIV do Walter Reed ArmyResearch Institute – WRAIR (Institutode Pesquisa Walter Reed do Exércitodos EUA) foram, por decisão do po-der executivo dos EUA, transferidaspara os Institutos Nacionais de Saú-de dos Estados Unidos – NIH. Noentanto, todas as atividades que es-tavam em andamento foram manti-das, conforme previamente planeja-do, entre elas as pesquisas em vaci-nas realizadas em colaboração entreo WRAIR e o The Royal Thai Army(Real Exército da Tailândia). A cola-boração entre esses órgãos militares,que remonta a várias décadas e pre-cede em muito à epidemia de HIV,tem uma longa história de testarvacinas contra inúmeros patógenos.

A decisão foi tomada só emtermos da resposta de imunida-de celular pela técnica Elispot.Isso significa que a respostahumoral ou de anticorpos nãotem importância?

Mauro Schechter: A induçãode anticorpos ocorre na vasta maio-ria dos vacinados. Já respostas celula-

O ENSAIO HVTN 026CONTINUA NO RIO.

POR QUE NÃO VAI PARA SÃO PAULO?

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Mauro Schechter & Artur Kalichman

res mensuráveis não são tão comuns.Anticorpos podem ser de vários tipos,incluindo neutralizantes, associados àfixação de complemento etc. A res-posta celular, por sua vez, tambémpode ser subdividida em vários tipos.Não se sabe que atributos da respos-ta imune, isto é, que tipos de anticor-pos ou de respostas celulares, se as-sociam com proteção contra a infec-ção pelo HIV. Como antes referido, oestudo 501 averiguaria a relação en-tre indução de Elispot e proteção. Osestudos da VaxGen já em andamen-to nos EUA, na Holanda e na Tailân-dia, envolvendo milhares de voluntá-rios e com final previsto para o anoque vem, provavelmente fornecerãoinformações sobre a relação entre an-ticorpos e proteção.

Por que o ensaio continuaráno Rio de Janeiro, mas não seráiniciado em São Paulo como pre-visto? De quem foi essa decisão?

Mauro Schechter: O estudodo Rio de Janeiro foi mantido por-que, além de seus objetivos (avalia-ção da imunogenicidade e da segu-rança em países em desenvolvimen-to) não serem afetados pelos resulta-dos do estudo 203, sua conduçãonão tem relação com o estudo 501.No Rio de Janeiro, a decisão foi to-mada em reunião plenária da equi-pe do Praça Onze e referendada peloComitê Comunitário de Acompanha-mento de Pesquisa (CCAP).

O Praça Onze modificou oufez um adendo ao Termo deConsentimento Livre e Esclare-cimento (TCLE) com informa-ções sobre esse assunto?

Mauro Schechter: Acredita-mos não haver por que modificar oTCLE, pois o mesmo não faz qualquer

referência ao estudo 501. Por decisãoda equipe e do CCAP, uma Carta aoVoluntário foi redigida e está sendo dis-tribuída, após ter sido aprovada peloCEP (Comitê de Ética em Pesquisa).

Artur Kalichman: Gostariade acrescentar duas coisas ao queo Mauro explicou aqui. Em relaçãoà não realização do estudo HVTN026 em São Paulo, a decisão foi to-mada pelo Núcleo de Coordenaçãodas Pesquisas de Vacinas do CRT-DST/AIDS, que é composto pelospesquisadores principais, pelo coor-denador clínico e pela educadoracomunitária, e apresentada e discu-tida com o CAC (Comitê de Acom-panhamento Comunitário), queconcordou com a decisão. Essa de-cisão foi tomada porque, diferente-mente do Rio de Janeiro, ainda es-távamos numa fase bastante inicialda implementação da pesquisa, nãotínhamos sequer tido a avaliação doCEP do CRT para sua realização.Decidimos não realizar o HVTN 501porque houve um convite para par-

ticipação em outro protocolo deFase II dentro do HVTN e teríamosdificuldade de iniciar essa participa-ção com três pesquisas simultâneas(duas de Fase II e o estudo de facti-bilidade que também pretendemosdesenvolver), uma vez que estamoscomeçando a montar nossa estru-tura para esse tipo de pesquisa.Além disso, a menor probabilidadede uma pesquisa de Fase III no Bra-sil com esses produtos, a curto pra-zo, influenciaram nossa decisão.Vale lembrar, como já foi dito, queesses produtos, com pequenas di-ferenças, devem ser testados emFase III na Tailândia em breve e, casosejam bem-sucedidos, a experiênciarealizada pelo Projeto Praça Onze,no Rio de Janeiro, será muito impor-tante. Ressalto, ainda, que o estudona Tailândia não busca primariamen-te marcadores de imunidade, masavaliar se os produtos candidatos àvacina protegem de alguma formaos voluntários que participam dapesquisa da infecção ou do desen-volvimento da AIDS.

Artur Kalichman, coordenador Estadual de DST/AIDS

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NOTÍCIAS

BREVES

difusão do subtipo G do HIV,proveniente da África Oci-dental e ligado à transmissão

da AIDS, aumentou de modo consi-derável em Portugal, segundo umestudo do laboratório de virologia doHospital de Lisboa Egaz Moniz.

De acordo com o informe, os casosde AIDS do subtipo G detectados ulti-mamente mostram uma alteração com-pleta e inesperada do tradicional perfilda doença. Os responsáveis pelo labo-ratório onde a pesquisa foi realizada afir-mam que ainda sabe-se muito poucodessa variante do vírus. Portugal é o paísda União Européia com o maior núme-ro de casos da doença em proporção àpopulação, com um total de 53 casospara cada 100 mil habitantes.

Tailândia desenvolve maisduas vacinas anti-HIVA Tailândia desenvolverá mais

duas vacinas anti-HIV para ensaiosem seres humanos nos próximos doisanos. Em julho deste ano, o paíshavia anunciado que realizaria omaior ensaio de vacinas anti-HIV.

De acordo com o ministro Suda-rat Keyuraphan, as vacinas BCG-gagE e Vaccinia-gag E, que visam com-bater o subtipo E do HIV amplamen-te circulante no país, já mostraramresultados estimulantes em macacos.O jornal “A Nação” citou um informedo Departamento de Ciência Médi-ca que relatava que as duas vacinasse mostraram eficientes na reativaçãodo sistema imunitário dos macacose em reduzir sua carga viral.

O governo tailandês está financi-ando mais de um quarto do projeto,orçado em U$ 3,8 milhões e o res-tante está sendo financiado pelo se-tor privado. Segundo as estatísticasoficiais, mais de 266.500 pessoas de-senvolveram AIDS na Tailândia desde1984, das quais 61.204 morreram.

Estudo promete novavacina

Estudiosos da AIDS, coordenadospor Robert Gallo, um dos descobri-dores do HIV, dizem ter desenvolvidouma vacina capaz de evitar que aspessoas sejam infectadas. Até agora,o grupo do Instituto de Virologia daUniversidade de Maryland só testoua imunização em macacos, mas achaque a nova estratégia, baseada nosmecanismos que o vírus usa para ade-rir às células do sistema imunológico,é a melhor elaborada até agora.

Produzir uma vacina anti-AIDS éuma tarefa difícil porque o vírus seintegra às células e ataca as própri-as células imunológicas estimuladaspelas vacinas. Embora dezenas devacinas estejam hoje em estágios di-versos de desenvolvimento, não seacredita, ainda, que uma vacina re-almente protetora tenha sido elabo-rada. Para os médicos, as vacinastestadas até agora podem simples-mente ajudar os indivíduos a vivermais tempo com o vírus ou a redu-zir o contágio.

Segundo Robert Gallo, o proble-ma das vacinas atuais, elaboradascom base em uma proteína chama-da gp120 (encontrada na superfíciedo HIV), é que elas só funcionam con-tra o tipo de vírus usado em laborató-rio. Como o HIV sofre mutações mui-to rápidas, a gp120 pode variar aponto de frustrar a imunização.

A vacina desenvolvida pelo gru-po de Gallo, descrita na revista ame-ricana PNAS (www.pnas.org), usou,além da gp120, os chamados recep-tores CD4, “fechaduras” molecularespara entrar na célula. Testes em ma-cacos mostraram que eles produzi-ram anticorpos que, in vitro, neutra-lizaram as principais cepas do HIV (A,B, C, D e E). O próximo passo é tes-tar os animais contra a infecção.

Vacina contra o HIV daÁfrica avança

Por Charles Wendo, da RevistaNew Vision de Uganda (edição de19 de agosto de 2002)

Uma das oito vacinas experimen-tais promissoras, cuja pesquisa a IAVIestá apoiando, entrará na fase finalde testagem em três países ao invésde um, como previsto anteriormen-te. A vacina candidata está para sertestada em Uganda. Assim, milharesou dezenas de milhares de voluntá-rios receberão as injeções, segundoos planos preliminares da IAVI.

A fase final deve começar no fi-nal de 2004 em Uganda, no Kenyae num terceiro país ainda a ser deci-dido, que pode ser Ruanda, Etiópiaou Tanzânia, dependendo do empe-nho de seus cientistas, assim comodo apoio político. “Necessitaremos degrande número de participantes, ea melhor maneira de obtê-los é divi-dir o ensaio em vários países,” afir-mou Seth Berkley, presidente da IAVI,ao justificar a decisão.

A vacina de codinome DNA-MVAé a primeira vacina de AIDS desenha-da para o subtipo que é predominan-te na África – a África Oriental tem,principalmente, os subtipos A e DF,enquanto que na África Meridionalpredomina o subtipo C. Os resulta-dos preliminares da vacina, que estásendo testada, por enquanto, noKenya e no Reino Unido, mostramque entre 60% e 70% das pessoasinjetadas apresentaram sinais preco-ces de que seu sangue poderia de-fender-se do HIV.

Para Berkley, o único modo desaber se a vacina é eficaz é testando-a num grande número de voluntári-os. “Quanto mais rápido realizarmosos ensaios, mais rapidamente sabere-mos se a vacina funciona”, explica.

ESTUDO EM PORTUGAL DESCOBREDIFUSÃO DO SUBTIPO G DO HIV

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NOTÍCIAS

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Normalmente, uma vacina passapor, pelo menos, três fases de ensaio.A vacina DNA-MVA entrou na segun-da fase no Reino Unido. O Kenyacompletou a Fase I e está se prepa-rando para a Fase II. Uganda está pla-nejando outra versão da Fase I, dese-nhada para determinar as doses damesma vacina em teste no Kenya eno Reino Unido. Falta apenas a apro-vação final para iniciar o teste.

“Se as Fases II do Kenya e do Rei-no Unido se mostrarem promissoras,decidiremos se vamos direto para aFase III ou se necessitaremos repetir aFase II. Estamos realizando planos paraa Fase II/III,” diz Pontiano Kaleebu,coordenador do ensaio de DNA-MVAem Uganda. Se a Fase III for iniciadaem 2004, os resultados definitivosdeverão ser conhecidos no final de2006. Só então os cientistas poderãoafirmar a eficiência da vacina.

Segundo o presidente da IAVI, avantagem da participação de Ugan-da no ensaio da DNA-MVA é que, seela for claramente eficaz, não precisa-rá ser pesquisada novamente no país.Enquanto outros países realizarãonovos testes para verificar o funciona-mento da vacina, Uganda iniciará aimunização de sua população.

Isabelle Claxton, vice-presidentede Comunicação da IAVI, relatou quea Instituição está trabalhando com asindústrias para assegurar a produçãode milhões de doses rapidamente eque haverá investimento suficientepara vacinar as pessoas que não po-dem pagar pela vacina. No entanto,na opinião da Claxton, mesmo queuma vacina fosse descoberta hoje,nenhuma nação teria estrutura sufi-ciente ou planos adequados paralevá-la a todos os cantos do país ra-pidamente: “A vacina do sarampo já

está disponível há muito tempo, masainda morrem de sarampo 500 milcrianças anualmente na África Sub-saariana”.

A IAVI espera que os políticosugandenses possam ajudar a supe-rar essa barreira, além de mobilizaras pessoas para o ensaio de Fase III.Com esse objetivo, os parlamentaresde Uganda aprovaram uma declara-ção de compromisso na segundasemana de agosto.

“Os cientistas podem realizar seutrabalho, mas para que a ciênciaavance, eles precisam do apoio dostomadores de decisões políticas. Es-tamos trabalhando com parlamenta-res para que, daqui a cinco ou dezanos, quando já tivermos uma vaci-na, eles já tenham elaborado formasde distribui-la,” diz Bala Sila, vice-pre-sidente de Preparação para Ensaiose Distribuição de Vacinas da IAVI.

ensaio ANRS VAC 17, inici-ado no final do ano passa-do, é uma continuidade do

ensaio ANRS VAC 10. Ele consiste naaplicação de LIPO-6T em dois gru-pos distintos de voluntários.

O ANRS VAC 17 segue a seguin-te metodologia: um grupo controlede dez voluntários que não partici-param do ensaio ANRS VAC 10 rece-beu uma injeção de LIPO-6T. En-quanto isso, o LIPO-6T foi injetado emum outro grupo, formado por 25voluntários que participaram do VAC10, entre 16 a 18 meses depois daúltima injeção no ensaio VAC 10,para verificar a tolerância aos lipopep-tídeos durante um novo estímulo deLIPO-6T, avaliar a persistência damemória depois de um ano ou maisda finalização do ensaio VAC 10 e

conhecer a cinética das respostas pormemória, em especial as celulares,induzidas pela injeção de estímulo,reações essas que formam um fatordeterminante de uma eventual pro-teção. A idéia é fazer uma compara-ção entre os dois grupos para avali-ar a memória surgida a partir das res-postas obtidas no VAC 10.

O teste é dirigido por BenjaminSilbermann, do Hospital Cochin. Paramais informações, o e-mail é[email protected].

Como foi o ANRS VAC 10O ANRS VAC 10 comparava a

tolerância e imunogenicidade detrês preparações em voluntáriossem HIV. A primeira preparação,LIPO-5, é formada por cinco lipo-

ANRS VAC 17: UM ENSAIOPARA AVALIAR A MEMÓRIA

peptídeos do HIV, dois gag, dois nefe um pol. A segunda substância,LIPO-6T, tem os mesmos lipopeptí-deos combinados com um lipopep-tídeo suplementar: um epitopoCD4 da toxina do tétano. A últimasubstância é um vetor canarypox(vCP1452) que tem várias proteínasdo HIV (gp120, gag e partes donef e do pol).

Foram realizadas cinco injeçõesdessas três substâncias em 12 meses,injetadas isoladamente ou em com-binação, em quatro grupos de vo-luntários (n=55). Um grupo recebeuo vCP1452, o segundo o LIPO-5, oterceiro o LIPO-6T e o quarto umaassociação de LIPO-6T e vCP1452. Osresultados mostraram uma taxa fortede resposta celular anti-HIV, tanto emcélulas CD4 como em CD8.

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* Com relato de Liandro Lindner, do GAPA/RS, que coordenou o seminário.Alexandre do Valle Menezes foi coordenador de projetos do Grupo Pela Vidda Rio de Janeiro e coordenador adjunto do Banco de Horas do IDAC. Atualmente, é consultor da IAVI em políticas

públicas.Ronaldo Mussauer de Lima é diretor de Tecnologia da Informação da IAVI e antigo ativista da luta contra a AIDS. Foi presidente do Grupo Pela Vidda do Rio de Janeiro e chefe do Departamento de

Informática da Coordenação Nacional de DST/AIDS.

e 2 a 4 de maio, um grupode ativistas comunitários en-volvidos na luta contra a

AIDS, responsáveis por políticas públi-cas e outros grupos interessados emHIV e AIDS estiveram reunidos no ISeminário Sulbrasileiro sobre VacinasAnti-HIV, na cidade de Santa Cruz doSul, no Rio Grande do Sul, a fim decomeçar a elaborar planos para a ins-talação de um sítio de pesquisa devacinas na região. Organizado peloGAPA/RS (Grupo de Apoio à Preven-ção à AIDS do Rio Grande do Sul),organização não-governamental queintegra o Comitê Nacional de Vacinasanti-HIV/AIDS do Ministério da Saúde,principal conselho consultivo para oassunto no país, o evento contou coma presença de cerca de 80 represen-tantes de ONGs-AIDS locais, associa-ções de profissionais do sexo, organi-zações de pesquisa, do Conselho Es-tadual de Saúde, do Laboratório Cen-tral de HIV e das Coordenações Esta-duais e Nacional de DST/AIDS.

O seminário teve dois objetivosprincipais: fazer com que as organi-zações participantes considerem eincorporem questões sobre vacinasem suas atividades diárias, e tomaros primeiros passos em direção à cri-ação de um futuro sítio de pesquisade vacinas e de um Comitê Comuni-tário de Acompanhamento de Pes-quisa (CCAP). Seguindo a sugestão

da CN-DST/AIDS, foi acordado quea melhor estratégia é iniciar com es-tudos de soroincidência de HIV e deoutros parâmetros que determinama viabilidade de uma região e de suapopulação para ensaios de vacinas -estudos esses que a CN-DST/AIDS jáconcordou em apoiar. A partir dessaetapa preparatória, partiria-se parauma pesquisa de vacinas, muito pro-vavelmente com a colaboração deum parceiro internacional.

Para colocar esse plano em práti-ca, parte da reunião foi dedicada àdefinição de metas de ativismo paraaumentar o envolvimento das secre-tarias de saúde locais e das instituiçõesde pesquisa. Cada organização comu-

nitária que esteve presente preparouum plano de ação e firmou o com-promisso de estabelecer vínculos comos conselhos locais de ética em pes-quisa, que podem auxiliar no estabe-lecimento dos CCAPs regionais. Tam-bém foram feitos planos para moni-toramento e revisão do progresso dostrabalhos e para manter a pressãopolítica e a ação comunitária.

Os ativistas reconheceram quepodem surgir dificuldades pelo cami-nho. Uma das principais que se apre-senta é organizar um sítio de ensaiosclínicos sem um parceiro comprome-tido a longo prazo ou um produtovacinal a ser testado. Mas o governoestá no início das conversações com

ATIVISTAS COMUNITÁRIOS E O NOVOSÍTIO DE ENSAIO NO SUL DO BRASIL

por Alexandre do Valle Menezes e Ronaldo Mussauer de Lima*

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diversos laboratórios sobre a condu-ção de ensaio de vacinas, e os parti-cipantes do seminário assumiram ocompromisso de dar continuidadeao ativismo em vacinas e de manteros esforços para estabelecer um cen-tro de pesquisas regional - razõespara se acreditar que o sul do Brasilpoderá juntar-se aos esforços globaisde vacinas muito em breve.

Idéia antigaApesar do seminário ter sido o

primeiro passo público para a mobi-lização local, a idéia de um centrode ensaios clínicos na região sul doBrasil não é nova: no início dos anos90, quando a Coordenação Nacio-

Enquanto a epidemiaparece estar controlada emmuitas regiões brasileiras,os três estados da região

sul apresentaram umcrescimento de 13% no

número de novos casos dasíndrome no ano passado,crescimento impulsionado,

parcialmente, por novoscasos relacionados à

população de UDIs naregião.

Tais planos foram reavivadosquando o Ministério da Saúde anun-ciou, no final do ano passado, suaintenção de impulsionar iniciativasde pesquisa de vacinas anti-HIV nopaís. Agora, os argumentos para oestabelecimento de um sítio na re-gião sul são ainda mais fortes. Umdeles é o crescimento dos casos deAIDS. Enquanto a epidemia pareceestar controlada em muitas regiõesbrasileiras, os três estados da regiãosul apresentaram um crescimentode 13% no número de novos casosda síndrome no ano passado (da-dos com base no número de pesso-as que se inscrevem para obter tra-tamento nos postos de saúde), cres-cimento impulsionado, parcialmen-te, por novos casos relacionados àpopulação de usuários de drogasinjetáveis (UDIs) na região, um pa-drão que difere do resto do Brasil.Por outro lado, um grande númerode infecções por HIV no grupo deUDIs é do subtipo C do HIV, ao in-

vés do subtipo B, que é predomi-nante nas infecções no resto do país.

Durante a década de 90, a in-fra-estrutura necessária para apoiarum sítio na região sul também foifortalecida. Além das universidadese hospitais com centro de pesquisaexistentes, houve um desenvolvi-mento do sistema público de saú-de, incluindo o laboratório centralresponsável por todas as análises re-lacionadas ao HIV, bem como amelhoria no tratamento de pessoascom HIV e AIDS. Outra vantagem éque a região sul possui o melhorprograma de redução de danos doBrasil, uma resposta ao crescimentoda epidemia em uma região quetem as taxas mais elevadas de de-senvolvimento social e renda dopaís. O Ministério da Saúde, atravésda CN-DST/AIDS, já apoiou interven-ções inovadoras, incluindo progra-mas de troca de seringas e de ade-são aos tratamentos antiretroviraispara UDIs.

nal de DST/AIDS começou o seu tra-balho na área de vacinas, previa-seum sítio na região, que seria respal-dado na infra-estrutura de pesquisae de assistência à saúde presentes noRio Grande do Sul. No entanto, en-quanto sítios de pesquisa em vacinasforam instalados em Minas Gerais, noRio de Janeiro e em São Paulo (osdois últimos agora fazem parte daRede de Ensaios de Vacina anti-HIVpatrocinada pelos Institutos Nacionaisde Saúde dos EUA), naquela épocanão seguiram adiante os planos ini-ciais para um centro de pesquisa nosul do país. BO

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grande peso do HIV/AIDSna África fez com que a co-munidade internacional au-

mentasse a pesquisa sobre estratégiaseficazes de prevenção para essa regiãoseveramente afetada e incluísse, apro-priadamente, uma ênfase no desen-volvimento de novas ferramentas – es-pecialmente vacinas e microbicidas –que irão reduzir a transmissão hete-rossexual, responsável pela grandemaioria de novas infecções no conti-nente. Muitos grupos estão trabalhan-do na ampliação da capacidade paratestar vacinas HIV candidatas na Áfri-ca e para incluir homens e mulheresem risco nesses estudos clínicos.

Mas em muitos lugares fora docontinente africano, o quadro epide-miológico do HIV em 2002 é impres-sionantemente diferente. Na Rússia,Ucrânia, Belarus e nas Repúblicas daÁsia Central, Cazaquistão e Tajikistan,e ainda no leste na China, Irã, Malá-sia, Indonésia e Vietnã, a maioria doscasos de infecções de HIV e AIDS re-latada em 2001 proveio não de trans-missão sexual, mas através do com-partilhamento de agulhas entre osusuários de drogas injetáveis (UDIs).Enquanto na maioria dos lugares onúmero de infecções UDIs não é tãogrande em comparação com a po-pulação, esses países possuem enor-mes populações jovens, muitas comtaxas de abuso de utilização de subs-tâncias químicas aumentando rapi-damente. Um bom exemplo é o Vie-tnã, país de mais de 78 milhões depessoas, onde os UDIs representaram88% de todas as infecções de HIVrelatadas em 2000 e o tráfico ilegal

UDIS E ENSAIOS DE VACINA: O QUEA CIÊNCIA DIZ SOBRE ISSO?

Por Chris Beyrer (extraído do Boletim da IAVI de maio/junho de 2002)

da heroína através do Triângulo deOuro levou a um aumento dramáti-co da utilização da droga entre osjovens vietnamitas.

Em outros lugares, onde os UDIsnão representam a maioria das infec-ções, eles têm, de qualquer forma,sido importantes protagonistas nadisseminação do HIV. Isso é uma re-alidade em ambientes tão diversosquanto na Burmania (Myanmar) eem Baltimore, quanto no remotonordeste da Índia, e em cidades emunicípios da Espanha, Itália, Holan-da e Brasil. As epidemias relaciona-das com UDIs também foram funda-mentais na introdução inicial do HIV

Portanto, a epidemiologia de HIVem 2002 nos mostra que, para queuma vacina seja realmente eficazpara conter a epidemia global, é pre-ciso trabalhar tanto contra a transmis-são sexual quanto contra a transmis-são de UDIs. Entretanto, essas duastrajetórias de infecção talvez requei-ram abordagens distintas. Cientifica-mente, não sabemos se o mesmoconjunto de respostas imunológicasvai ou não funcionar contra ambasas rotas de transmissão. As duas cer-tamente não oferecem oportunida-des idênticas ao sistema imunológi-co, pois a transmissão através do san-gue no nascimento ultrapassa asdefesas imunológicas presentes norevestimento mucoso do trato geni-tal, onde ocorre a primeira exposiçãoao HIV transmitido sexualmente –defesas que podem vir a ser impor-tantes colaboradoras da proteção davacina. Do ponto de vista dos ensai-os clínicos, as populações de UDIsapresentam claramente seu próprioconjunto de desafios.

Aqui analiso alguns pontos cha-ves entre os muitos aspectos levan-tados pelos UDIs e vacinas de AIDS,e reviso resumidamente dados relati-vos.

1. Não podemos assumir que asvacinas que previnem ou reduzem atransmissão sexual irão necessaria-mente funcionar da mesma formacontra a disseminação UDI. As evidên-cias até o momento são simplesmen-te muito escassas para que se possatirar quaisquer conclusões, em qual-quer direção, e alguns dos dados dis-poníveis sugerem potencialmente di-

A epidemiologia de HIVem 2002 nos mostra que,

para que uma vacinaseja realmente eficaz paraconter a epidemia global,é preciso trabalhar tanto

contra a transmissãosexual quanto contra a

transmissão de UDIs.

em todos os países asiáticos, comexceção do Camboja, e são normal-mente cruciais na disseminação denovos subtipos e recombinantes deHIV-1 – por exemplo, na recente dis-seminação explosiva do vírus de sub-tipo A na Rússia e na Ucrânia, e umrecombinante B/C agora epidêmicoentre os UDIs nas regiões sul e oesteda China. Ao todo, o número depaíses que relatam infecções HIVentre UDIs à Organização Mundial daSaúde cresceu de 52 em 1992 para114 em 2000, enfatizando um au-mento global do risco de UDIs.

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ferenças importantes – tornando im-perativo testar as vacinas candidatascontra os dois tipos de transmissão.Uma vacina que reduz somente atransmissão sexual teria comprovada-mente um impacto limitado na saú-de pública em 114 países, especial-mente no continente euro-asiático, epode talvez levar a um cenário noqual a transmissão heterossexual sejacontrolada, mas onde a epidemia deHIV continue, onde quer que hajadisseminação e UDI.

2. Há uma percepção predomi-nante de que os UDIs não são bonsparticipantes de ensaios clínicos, de-vido a uma diversidade de razões –visão que é negada pelos dados.

3. Os locais dos ensaios poderi-am potencialmente ser construídosem cima de diversos projetos atual-mente em andamento no mundo,que agora estão trabalhando compopulações UDI. Um – os locais deBangkok onde a Fase III do ensaiode vacina da VaxGen está agora emexecução, envolvendo 2.500 UDIs –já está muito bem estabelecido, en-quanto outros, com desenvolvimen-to e ampliação adequados, poderi-am ser transformados, no futuro, emlocais de ensaio da vacina AIDS.

UDIS como participantesde ensaios de eficácia de

vacina HIVOs UDIs são participantes para

ensaios de vacina HIV? Têm-se levan-tado preocupações sobre baixas taxasde retenção, taxas elevadas de exclu-são médica (principalmente devido àinfecção de hepatite C) e, nos EUA,baixas taxas de incidência de HIV.

Entretanto, uma revisão dos da-dos disponíveis sugere que os UDIssão participantes ativos e comprome-tidos com os ensaios. O exemplomais nítido é o ensaio da vacina daAIDSVAX® à base de gp120 atual-mente em execução na Tailândia,

que conta com 2.500 UDIs sorone-gativos nas clínicas de metadona deBangkok. A retenção nessa coortetem sido incrivelmente alta, com umaperda de 1,5% por ano relatada noacompanhamento. Se esse índice formantido, obteremos uma retençãogeral de mais de 90% durante o en-saio de três anos, número excelentepara qualquer população em riscopara o HIV. Ao mesmo tempo, ape-sar de aconselhamento intensivo ede aplicação de medidas de reduçãode danos, há uma soroincidência altae mantida entre esses UDIs, geradae estimulada, principalmente, peloencarceramento dos participantesdevido a ações legais relacionadas àutilização de drogas.

troca de seringas e agulhas, e tera-pia de substituição, tal como MMT(terapia de manutenção de metado-na) – a utilização dessas ferramentasé proibida ou severamente restritapor lei na maioria dos países no mun-do. No continente asiático, por exem-plo, somente Hong Kong possui pro-gramas de MMT e redução de da-nos/maus tratos para UDIs.

Diversamente, onde esses progra-mas estão disponíveis, como estavampara muitos UDIs nos EUA durante osestudos de preparação e disposiçãopara a vacina do HIVNET, a soroinci-dência pode ser bem baixa.

Nesses estudos, a soroincidêncianos HSHs (homens que fazem sexocom homens), entre 1995-1997, foi1,55/100 pessoas/anos (PA), enquan-to que entre UDIs homens, a taxa foide 0,38/100 PA, considerada baixapara ensaios de eficácia por muitospesquisadores. As taxas foram maiselevadas entre as mulheres UDIs,1,24/100 PA, mas esse grupo teve omenor recrutamento de todos noensaio. As taxas de retenção entrehomens UDIs foram encorajadoras,com uma perda de 12,3% durante oacompanhamento de 18 meses, simi-lar aos HSHs. A maioria das participan-tes mulheres UDIs satisfizeram os cri-térios para recrutamento, tanto pararisco de injeção quanto para risco se-xual, sugerindo que seus riscos duplospossam fazer com que seja difícil ana-lisar a influência da rota de transmis-são sobre a proteção induzida pelavacina neste grupo.

Onde poderiam serrealizados os ensaios de

vacinas em UDIsAlém de Bangkok, onde existe

forte evidência demonstrando queUDIs podem ser recrutados e manti-dos, há outras coortes de UDIs quepoderiam participar em futuros en-saios. Também na Tailândia, uma

Uma vacina que reduzsomente a transmissão

sexual teriacomprovadamente umimpacto limitado nasaúde pública e pode

talvez levar a um cenáriono qual a transmissão

heterossexual sejacontrolada, mas onde a

epidemia de HIV continue,onde quer que haja

disseminação e UDI.

Mas existem importantes barrei-ras e obstáculos contra a participa-ção de UDIs nas pesquisas. Ser umUDI é possuir um comportamentoaltamente discriminado e estigmati-zado globalmente. Os UDIs geral-mente enfrentam muitos dos mes-mos desafios comportamentais e psi-cológicos comuns aos utilizadoresque abusam do uso de substânciasquímicas, mas também sofrem danoslegais e sociais devido à ilegalidadedas substâncias que utilizam. Alémdisso, enquanto diversas estratégiasdemonstraram eficácia na prevençãode infecção HIV em UDIs – incluin-do redução de danos, programas de

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coorte em Chiang Mai, patrocinadapelo Instituto Nacional de Abuso deDrogas – NIDA e pelo Instituto dosInstitutos Nacionais de Saúde dosEUA – NIH, que trabalham principal-mente com abuso de substâncias, eliderada por David Celentano e Vi-nai Suriyanon, encontrou uma taxade soroincidência elevada e estávelentre 400 UDIs, de 7.7/100 PA (in-tervalo de confiança em 95% 5.0-10.4) apesar de aconselhamento deredução de risco, promoção de pre-servativos e treinamento em práticasseguras de injeção. Praticamente to-dos os UDIs recém-infectados nessacoorte têm o mesmo subtipo E deHIV encontrado nas coortes de riscosexual em Chiang Mai.

Diversos locais de ensaio estãosendo agora montados na China. ARede de Ensaios de Vacina HIV –HVTN está patrocinando um localna província de Guangxi, na regiãosul chinesa, junto com a Rede deEnsaios de Prevenção de HIV –HPTN, que também trabalha em Xin-jiang, na região mais a noroeste daChina. Os dois locais do ensaio es-

tão incluídos no HPTN 039, um es-tudo de desenvolvimento de coor-te que tem como meta avaliar a re-tenção, soroincidência e capacida-de da coorte. O mesmo protocolotambém está em andamento entreUDIs em St. Petersburg e Rússia, eentre UDIs na Filadélfia, tambémcom patrocínio da HPTN.

Em outro local, um ensaio clíni-co em Nova Déli, Índia, está testan-do se novos tratamentos médicoscontra UDIs são ou não úteis comoferramenta de prevenção de HIV. Oestudo é uma colaboração entreSharan, uma ONG da Índia que tra-balha com UDIs que vivem nos bair-ros carentes, e pesquisadores daJohns Hopkins, e recebe apoio doNIDA como possível plataforma paraum ensaio da vacina. Grupos na Fi-ladélfia e em Baltimore demonstra-ram elevada taxa de retenção e, emBaltimore, também, soroincidênciasustenida entre jovens UDIs. Outrosestudos envolvendo HIV em UDIsestão em andamento em Hanói,Moscou, Karachi e em diversas cida-des brasileiras.

Se uma vacina HIV vem para ope-rar uma drástica mudança contraHIV/AIDS, deve também ser eficazcontra a transmissão em UDIs. Comcomprometimento e desenvolvimen-to adequados, as coortes de UDIsapropriadas para esses ensaios po-dem ser estabelecidas. Por outrolado, fazer com que UDIs se compro-metam, requer o aumento das par-cerias com os UDIs, ONGs e gruposde pesquisa que trabalham comUDIs, e com a comunidade de pes-quisa da vacina.

Chris Beyrer é professor associa-do de pesquisa de epidemiologia naBloomberg School of Public Health(Faculdade de Saúde Pública Bloom-berg), da Universidade Johns Ho-pkins, em Baltimore, e coordenadorcientífico sênior da HVTN. De 1992a 1997, trabalhou como diretor decampo para estudos de preparaçãoe disposição de vacina na Universi-dade de Chiang Mai (Tailândia).

A versão integral do texto com asreferências pode ser consultada emwww.iavi.org.

(Peterman et al. 1998.

Wiley et al.1989) Estados Unidos

(Wiley et al. 1989;

Padian et al. 1987) Estados Unidos

(Fischl et al. 1987) Estados Unidos

(Downs et al. 1996) Europa

Quênia

(Cameron et al. 1989)

Tailândia

(DeGruttola et al. 1989)

Estados Unidos

(Kaplan and Heimer. 1992)

Estados Unidos

Pênis_Vagina

Pênis_Vagina

Pênis_Vagina e Vagina----Pênis

Pênis_Vagina e Vagina----Pênis

Vagina----Pênis, de Trabalhadoras Sexuais

a homens que adquiriram uma DST sintomática

Vagina----Pênis, de Trabalhadoras Sexuais a homens

Pênis_ânus, receptivo

Partilhar agulhas ou seringas

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0.0067

Probabilidade de Transmissão do HIV por ato

Estudo Rota de transmissão ProbabilidadePopulação: Casal Heterossexual

População: Homens heterossexuais

População:Homens homossexuais

População: Usuários de Drogas intravenosas

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ara que os esforços globaisanti-HIV/AIDS sejam bem-su-cedidos, o mundo necessi-

tará desesperadamente de vacinasanti-HIV seguras e eficazes. Os inves-timentos em pesquisa e desenvolvi-mento da vacina aumentaram recen-temente e há candidatas promisso-ras entrando em ensaios clínicos. Éessencial que esses investimentoscontinuem; entretanto, descobriruma vacina segura e eficaz é somen-te metade do desafio. Se tivéssemostal vacina hoje, a grande maioria dapopulação mundial que poderia vira ser beneficiada não o seria. A nãoser que o mundo tome uma açãofinal e decisiva rapidamente para mu-dar a forma através da qual novastecnologias estão sendo introduzidas,os atrasos e desigualdades devasta-dores observados anteriormente emtratamentos anti-HIV e no desenvol-vimento de outras vacinas vitais se-rão repetidos nas vacinas anti-HIV.

Por que pensar sobre oacesso agora?

A introdução e a utilização bem-sucedidas de qualquer vacina porum país requerem compromisso po-lítico, recursos e preparação. O im-pacto potencial e a necessidade deuma vacina específica precisam sercompreendidos e devem ser desen-volvidas estratégias para sua utiliza-

ção eficaz. Um país capaz de apro-var uma vacina para utilização temque assegurar a disponibilidade deum financiamento suficiente paraaquisição e distribuição. As própriascomunidades precisam ser informa-das sobre a vacina e seus indivíduosdevem estar dispostos a receber a

sivo. Os países em desenvolvimento,normalmente, têm que esperar mui-tos anos antes que possam começara pensar em utilizar novas vacinaspara melhorar a saúde de sua popu-lação e precisam contar com a boa-vontade dos produtores de produzirem grandes quantidades para mer-cados onde conseguirão um lucrobem inferior. Para os países em de-senvolvimento, a falta de financia-mento e a fraca infra-estrutura dedistribuição, exacerbados pelos pre-ços excessivos e pelo fornecimentolimitado de vacinas, são os principaisobstáculos que implicam o atraso dautilização de vacinas recém-desenvol-vidas durante muitos anos.

Pensando no futuropara mudar o paradigma

do acessoEsse paradigma normal de gran-

des atrasos nos países em desenvolvi-mento pode ser alterado com boa-von-tade internacional, comprometimentofinanceiro e preparação adequada.Para mobilizar as ações e parcerias in-ternacionais necessárias, os ativistas epropulsores de vacinas devem identifi-car o impacto potencial, a necessida-de de vacinas anti-HIV e os respectivosobstáculos que precisam ser superados– tais como falta de capacidade deprodução, infra-estrutura de distribui-ção ou financiamento.

SE TIVÉSSEMOS HOJE UMA VACINA:ASSEGURANDO O ACESSO AFUTURAS VACINAS ANTI-AIDS

Por Saul Walker, coordenador de Política Européia da IAVI

A não ser que o mundotome uma ação final edecisiva rapidamentepara mudar a forma

através da qual novastecnologias estão sendo

introduzidas, os atrasos edesigualdades

devastadores observadosanteriormente em

tratamentos anti-HIV e nodesenvolvimento de outras

vacinas vitais serãorepetidos nas vacinas

anti-HIV.

vacinação. Também há a necessida-de de um suprimento suficiente davacina, a um preço acessível, pararesponder à demanda do país.

Normalmente, somente os paísesdesenvolvidos são capazes de supriressas necessidades quando umanova vacina é disponibilizada. Inici-almente, os produtores da vacina sepreocupam em atingir as metas defornecimento apresentadas pelospaíses desenvolvidos, estabelecendopreços elevados, fornecendo poucaquantidade e auferindo lucro exces-

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os usos potenciais de diferentes va-cinas em diferentes regiões do mun-do, para que se possa planejar e in-vestir nas necessidades de capaci-dade regulatória, fornecimento, fi-nanciamento e infra-estrutura dedistribuição.

Assegurar que tais capacidadesestejam prontas quando as primei-ras vacinas estiverem disponíveissignifica o desenvolvimento e im-plementação de políticas antes quea informação completa, sobre va-cinas em teste, esteja disponível. Ini-cialmente, o impacto e o uso po-tencial de futuras vacinas anti-HIVpodem ser estimados utilizando-seuma gama de técnicas de estimati-vas de demanda e modelagem

cerias para desenvolver e aumentaro entendimento do uso potencial dosdiferentes tipos de vacinas anti-HIV emdiferentes cenários mundiais e estimarsua demanda potencial (quantas pes-soas poderiam ser beneficiadas). Ava-liar a capacidade de responder a es-sas necessidades fornecerá, então,uma forma de estimar a demandaatual da vacina (quantas vacinas po-deriam atualmente ser adquiridas, dis-tribuídas e utilizadas). Se for tomadauma ação para aumentar a capaci-dade dos países para financiar, apro-var e distribuir vacinas, essa deman-da poderá ser incrementada. A dife-rença entre a necessidade potencialde uma vacina e sua demanda realdefine a escala da ação requerida paraassegurar o acesso global à vacina.

A Figura 1 abaixo apresenta al-gumas das questões cruciais queprecisarão ser abordadas para per-mitir que o mundo possa aceleraro desenvolvimento e assegurar a rá-pida introdução de futuras vacinasanti-HIV. É essencial compreender

com base em suposições sobre ascaracterísticas e eficácia de vacinascandidatas promissoras. Esses mo-delos, hipóteses e estimativas po-dem ser melhorados de acordocom os dados obtidos através dosensaios clínicos.

O trabalho da IAVIA Iniciativa Internacional para

uma Vacina contra a AIDS (IAVI) éuma organização internacional semfins lucrativos comprometida emacelerar o desenvolvimento de va-cinas contra a AIDS seguras, efica-zes e a preços acessíveis para omundo. A organização está investin-do no desenvolvimento de vacinascandidatas promissoras em conjun-to com pesquisadores de países de-senvolvidos e em desenvolvimento.Com a mesma ênfase, a IAVI traba-lha com os responsáveis pelas polí-ticas e os líderes de todos os seto-res, para assegurar que o mundo seprepare agora para o acesso a futu-ras vacinas anti-HIV.

Esse trabalho de desenvolvimen-to e implementação de políticas terácomo foco os principais obstáculosque possam vir a atrasar o rápido de-senvolvimento e a utilização de vaci-nas anti-HIV. O ponto central é o in-vestimento de longo prazo em par-

Impacto Potencial/Necessidade

Qual é o potencial impacto equal a necessidade de umavacina ao longo do tempo?

Demanda Potencial

Qual a quantidade de vacinasque poderia ser atualmente

utilizada e quão rápido?

Fornecimento

Quanta capacidade deprodução é necessária

e quando?

Quais são as característicasdas diferentes vacinas?

Existem mecanismos paraaprovar a utilização de vacinas

Quantas doses sãonecessárias e quando

deve-se atingir a demanda?

Qual é o potencial impactodas diferentes vacinas?

Quem vai pagar? Quanto? Quem produzirá as vacinasnecessárias?

Como devem ser utilizadasdiferentes vacinas emdiferentes cenários?

Qual infraestrutura e pessoalé necessário para a

distribuição de uma vacinaespecífica?

Como se pode assegurar oinvestimento necessário?

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Saul Walker

A IAVI trabalhará com ativistas,governos e agências internacionaispara assegurar que seja preenchidaa lacuna entre a necessidade da va-cina e sua demanda. Isso incluirá tra-balhos específicos para abordar:

• Aprovação regulatória de fu-turas vacinas para utilização empaíses em desenvolvimento.

A IAVI irá advogar pela construçãode uma capacidade regulatória nospaíses em desenvolvimento e paraaumentar a sensibilidade dos respon-sáveis pelas regulamentações nospaíses desenvolvidos às necessidadesdos países em desenvolvimento.

• Estratégias e sistemas de dis-tribuição.

Ao contrário da maioria das vaci-nas, inicialmente as vacinas anti-HIVnão serão direcionadas a crianças eprecisarão de uma infra-estrutura dedistribuição diferente daquela dosprogramas atuais de imunização. AIAVI trabalhará com uma gama deparceiros para mapear as potenciaisoportunidades de distribuição davacina anti-HIV.

• Assegurar investimento su-ficiente em capacidade de pro-dução.

A demanda global de vacinasanti-HIV requererá investimentosgrandes e antecipados em capacida-de de produção. As parcerias públi-cas e privadas precisarão encorajaro investimento do setor privado nacapacidade de produção, através dofornecimento de oportunidades decompartilhamento de custos e riscos.Em troca, tais parcerias deverão as-segurar que os preços da vacina se-jam mais baixos para os países emdesenvolvimento. A IAVI irá trabalhar

com governos e produtores, tantonos países desenvolvidos quantonaqueles em desenvolvimento, paraidentificar opções de produção davacina em grande escala.

• Financiamentos futuros.A IAVI trabalhará com os países

em desenvolvimento, patrocinado-res e agências internacionais — taiscomo o Fundo Global de Combateà AIDS, Tuberculose e Malária —para planejar a escala do financia-mento que será necessário paracomprar e distribuir vacinas ao re-dor do mundo. O apoio aos esfor-ços abrangentes de tratamento,cuidados e prevenção deverá con-tinuar e, portanto, será crucial queos fundos para vacinas anti-HIV se-jam de fontes adicionais, globalmen-te. As vacinas devem constituir umacréscimo essencial aos esforços glo-bais contra HIV/AIDS, e não umasubstituição deles.

A introdução e autilização bem-sucedidas

de qualquer vacina porum país requerem

compromisso político,recursos e preparação.

Defesa e apoio dacomunidade

Assegurar o acesso amplo e rá-pido a futuras vacinas anti-HIV re-quererá uma total mudança emcomo os países em desenvolvimen-to são capazes de deter novas tec-nologias. A defesa e o apoio da co-munidade serão essenciais paraque isso ocorra. As vacinas anti-HIVdevem ser uma parte principal dosprogramas abrangentes de preven-ção, cuidados e tratamento, quefornecem às pessoas ao redor domundo a capacidade e os recursosque necessitam para responder efi-cazmente ao HIV e à AIDS. As co-munidades e as ONGs podem terum papel central, exigindo que osgovernos nacionais, o setor priva-do e as agências internacionaisapóiem o desenvolvimento de va-cinas e para que ajam de forma aassegurar o seu futuro acesso comoparte de suas estratégias no com-bate ao HIV e à AIDS. Se o potenci-al das vacinas anti-HIV for concreti-zado, será necessário um movimen-to e um comprometimento globalbem amplos.

O Chamado Global para a Açãoem prol de vacinas da IAVI temcomo meta ajudar a mobilizar talapoio e, literalmente, chama omundo para que seus habitantesajam decisivamente para acelerar apesquisa e o desenvolvimento davacina anti-HIV e preparar para seuacesso no futuro. Para assinar oChamado Global para a Ação (Callfor Action), acesse www.iavi.org/callforaction.

Para informações mais detalha-das sobre a IAVI, visite o website daorganização: www.iavi.org

Essas áreas estão altamente inter-conectadas e precisam ser aborda-das em paralelo. Compreender osusos potenciais das vacinas e a res-pectiva demanda é essencial paraplanejar sua introdução. Construir aconfiança em que as vacinas podemser financiadas e distribuídas enco-raja o investimento em pesquisa e de-senvolvimento, e na capacidade deprodução. Governos, agências inter-nacionais, comunidades e o setorprivado: todos têm um papel cruciale essencial a tomar para alcançaressas metas. BO

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ENSAIOS PREVISTOS

A pesquisa de vacinas progrediunotavelmente nos últimos anos. Comos resultados promissores de contro-le de carga viral apresentados porvacinas de DNA realizadas em ma-cacos, alguns produtos já estão sen-do testados em seres humanos,como a vacina da Merck e a vacinada Glaxo, entre outros. Esses testessão para o uso preventivo desses pro-dutos, isto é, para uso em pessoassem HIV, mas também há ensaiospara o uso terapêutico dessas candi-datas à vacina: o da Merck já foi inici-ado e o da Glaxo está a caminho.Novas abordagens, como a vacinade lipopeptídeos, proposta pela Fran-ça, estão em teste também, com opatrocínio da ANRS (Agência Nacio-nal de Pesquisa de AIDS da França).

Nem todos os resultados têm sidofavoráveis: no ensaio HVTN 203, quetestava a vacina ALVAC seguida de umreforço por gp120 da AIDSVAX, adetecção da resposta de imunidadecelular nos voluntários vacinados foimuito baixa, o que significa que aimunogenicidade (resposta imunitáriaao produto) foi insuficiente. Um en-saio de Fase II com esses produtos estásendo realizado no Rio de Janeiro.

No caso do ensaio HVTN 203, sófoi observada uma resposta imunitá-ria celular em menos de 10% dosvoluntários, mediante à técnica Elis-pot. Porém, na Tailândia (veja artigosobre as novidades da XIV Conferên-cia Internacional de AIDS em Barce-lona neste boletim) a resposta foimelhor, alcançando a 25% dos vo-

luntários - o número foi suficientepara que a Tailândia anunciasse arealização de um ensaio de Fase IIIcom esses produtos.

No final de 2002, os resultadosdo ensaio com a gp120 da AIDSVAXno Canadá, EUA, Holanda e PortoRico já deverão ser conhecidos. Avacina é administrada em sete do-ses e a eficácia testada é de 30%.Embora a expectativa é a de que osresultados não sejam animadores,certamente esse ensaio trará dadosvaliosos sobre a resposta imunitária,que poderá ajudar a construir ou-tros produtos.

Neste artigo, apresentamos a ta-bela de ensaios planejados pelaHVTN (Rede de Ensaios de Vacinasanti-HIV), rede mundial estabelecidapelos Institutos Nacionais de Saúdedos Estados Unidos. Para os interes-sados na história e na atualidade dosensaios de vacinas, sugerimos con-sultar a página da IAVI (Iniciativa In-ternacional da Vacina de AIDS),www. iavi.org, que apresenta duastabelas com essa informação. Umacom ensaios atualmente em curso,que continha 23 produtos em junhode 2002, e outra com os ensaios emcurso e realizados. As tabelas de-monstram o dinamismo desse cam-po e a importância crescente da pes-quisa de vacinas anti-HIV.

Vale ser observado, ainda, quehá ensaios em curso financiados pelaIAVI, mostrando a contribuição dosetor comunitário na pesquisa, e quena França foi fundada uma organi-

zação não-governamental sem finslucrativos, com a finalidade de pes-quisar vacinas terapêuticas, presididapela renomada imunologista BrigitteAutran.

Ensaios planejados daHVTN

A HVTN – Rede de Ensaios deVacinas Anti-HIV é uma colaboraçãointernacional de 25 instituições depesquisa que realiza ensaios paracandidatas à vacina anti-HIV, sedia-da em Seattle, no Centro de Pesqui-sa do Câncer Fred Hutchinson, e fi-

ENSAIOS DE VACINAS PREVENTIVASEM CURSO E PREVISTOS

A HVTNSeu objetivo é fornecer uma

rede global de ensaios paravacinas anti-HIV. Esses ensaiosavaliam esquemas de vacinasanti-HIV criadas para reduzir afreqüência da soroconversão,progressão da doençarelacionada ao HIV-1 e atransmissão do HIV-1. Opesquisador principal da HVTN éLarry Corey, que tem JudithWassesheit como diretora. Dezpaíses participam da Rede: Áfricado Sul, Botswana, Brasil, EstadosUnidos, Haiti, Malawi, Peru,Porto Rico, Tailândia e Trinidad eTobago. No Brasil, ospesquisadores são MauroSchechter, do Projeto PraçaOnze, e Artur Kalichman, doCentro de Referência eTreinamento de DST-AIDS emSão Paulo. Mais informações emwww.hvtn.org.

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ENSAIOS PREVISTOS

nanciada pelo Instituto Nacional deAlergia e Doenças Infecciosas dosInstitutos Nacionais de Saúde dosEUA. A tabela mostra os ensaios pla-nejados para os terceiro e quarto tri-mestres deste ano e para os dois pri-meiros trimestres de 2003.

Atualmente, a Rede está condu-zindo cinco ensaios clínicos para me-dir a segurança, a tolerância e a imu-nogenicidade de dois produtos. Háuma avaliação continuada da vacinarecombinante ALVAC (vCP 1452), pro-duzida pela Aventis Pasteur, em pes-soas sem HIV-1 em forma isolada oucombinada com a AIDSVAX (B/B), pro-duzida pela VAXGEN. Também há umensaio de Fase I com a GlaxoSmithKli-ne que avalia uma vacina e um adju-vante novo.

BATE-PAPO COMANDREW LAMBERT

Durante o XI Encontro de Pesso-as Vivendo com HIV-AIDS, realizadono Rio de Janeiro em setembro des-te ano, batemos um papo com oeducador comunitário da HVTN emSeattle, Andrew Lambert, que é mes-tre em Planejamento Comunitário eAmbiental.

Quantos sítios de vacinas têma HVTN?

Atualmente, são 25 com mais seispotenciais.

Quais são os produtos em teste?A combinação ALVAC 1452 com

AIDSVAX está em teste nos ensaiosHVTN 026 (Brasil, Haiti, Peru e Trini-dad e Tobago), HVTN 203, HVTN 039(doses maiores, na África do Sul eEUA). A vacina da GlaxoSmithKline emFase I está em curso no HVTN 041 e

há um ensaio HVTN 803 que acom-panha voluntários de outros ensaiosde vacinas já realizados para vercomo a resposta imunitária humanapode ser aproveitada para o desen-volvimento de futuras vacinas.

Quais as perspectivas para oano próximo?

Temos nove ensaios programa-dos para o próximo ano (ver tabe-la). Será uma tarefa “esmagadora”começar todos os ensaios ao mes-mo tempo. Nosso Centro de Ope-rações passou de seis pessoas parauma equipe de 20 pessoas. Esseexcelente time está construindo aestrutura que tornará esse planouma realidade.

Como a HVTN lida com a di-versidade cultural e lingüística dosComitês de AcompanhamentoComunitários que cada sítio deensaios de vacinas deve ter?

Nos encontros que acontecemsemestralmente com representantesde cada comitê, temos tradução si-multânea para o espanhol, francês eportuguês. Sempre tentamos ter,também, uma pessoa bilíngüe nasconferências telefônicas que são re-alizadas mensalmente com os edu-cadores comunitários, o Comitê Glo-bal, o grupo de trabalho de proto-colos etc. Há normalmente dois co-presidentes. A cada ano, temos umencontro das pessoas para estabele-cer um plano de trabalho anual. Nasconferências telefônicas são apresen-tados os temas de trabalho estabele-cidos e as questões surgidas nos co-mitês locais.

Como a HVTN encara a diver-sidade de normas éticas de cadapaís onde há sítios de vacinas?

Há certos princípios universais edebatemos os pontos que são dife-rentes. Essas questões devem serdebatidas em cada sítio. Tentamosque algumas pessoas dos comitês seenvolvam com as equipes de desen-volvimento de protocolos e traba-lhem juntos num grupo.

Qual é a origem dos ComitêsComunitários?

Os Comitês Comunitários dehoje nasceram do ativismo dos con-sumidores. Nos tempos iniciais daepidemia, pessoas que assistiam aosseus companheiros e a si mesmosformaram grupos como o Act Up.Esses grupos aprenderam a ciênciado HIV e se organizaram para aju-dar o governo dos EUA e pesquisa-dores financiados pelo governo amelhorar a agenda científica. An-thony Fauci (atual Diretor do Institu-to de Alergias e Doenças Infecciosasdos Institutos Nacionais de Saúdedos EUA) trouxe muitos desses ati-vistas como seus conselheiros. Ele osindicou para comitês e encorajououtros cientistas a usar esse recursovalioso na luta contra a AIDS.

Atualmente, a Divisão de AIDSdo Instituto Nacional de Alergias eDoenças Infecciosas (NIAID) dos Ins-titutos Nacionais de Saúde dos EUAtem um papel de liderança no en-volvimento de representantes comu-nitários nas atividades de pesquisalocais, nacionais e internacionais. ONIAID acredita que os membros dacomunidade devem ter um papelativo em todos os aspectos da pes-quisa. Isso facilita a comunicação ea troca de idéias, e ajuda a assegu-rar que as novas estratégias de tra-tamento e prevenção abordem áreada maior importância para os afeta-dos pela doença.

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ENSAIOS PREVISTOS

DNA-pGA2/JS2

VEE-gag C

Lipopeptídeo 5

Poly CTL Epitopo

Vetor do levedo com gene gag

DNA-gag/IL-2

Vários subtipos DNA + Adeno

MVA/FPV

DNA-gag/gag + IL-12

peptídeos CTL

DNA-gag/gag+IL-12

Gp 140 subtipo B, DNA/PLG B/C

MVA-pGA/JS2

045

040

042

048

TBD

044

TBD

TBD

047

TBD

TBD

TBD

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3º Trimestre/02

2º Trimestre/03

1º Trimestre/03

4º Trimestre/02

4º Trimestre/02

4º Trimestre/02

1º Trimestre/03

1º Trimestre/03

4º Trimestre/02

1º Trimestre/03

1º Trimestre/03

1º Trimestre/03

2º Trimestre/03

E.U.A

E.U.A/África do Sul

E.U.A/Botswana

E.U.A

E.U.A

E.U.A +Internacional

E.U.A

E.U.A

E.U.A+5 Regiões Internacionais

E.U.A

E.U.A

E.U.A+Internacional

H. Robinson

Alphavax/IAVI

ANRS

Epimune

Globeimmune

VCR

VCR

Therion

Merck

Wyeth

Wyeth

Chiron

B. Moss

Vacinas Protocolo

HVTN: ensaios planejados para 2002/2003

DataPrevista

PaísProdutor

Cada uma das redes de pesqui-sa de HIV/AIDS do NIAID apresentaoportunidades para a participaçãono processo de pesquisa dos Comi-tês de Acompanhamento Comuni-tário. Os membros desses comitêsaconselham os pesquisadores decada sítio em aspectos relativos àparticipação de voluntários e forne-

cem suporte por pares para os vo-luntários do sítio. Os membros docomitê também levam informaçõesde pesquisa e tratamentos às suascomunidades e retransmitem as pre-ocupações da comunidade aos pes-quisadores. O NIAID apóia sete re-des que realizam pesquisa sobreHIV/AIDS.

Alguns pesquisadores questio-nam a necessidade de haver en-volvimento comunitário em ensai-os de vacinas. O que você achasobre esse questionamento?

A participação comunitária é im-portante em qualquer tipo de ensaio.Os ensaios de vacinas somente to-maram essa iniciativa primeiro.

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GLOSSÁRIO

Dicionário Prático

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Adjuvante: substância incluída numa formula-ção de vacina para melhorar ou modificar suaspropriedades imuno-estimulantes.

Anticorpo (também chamado imunoglobulina):proteína produzida pelo organismo contra infec-ções no sangue ou nos fluidos do corpo. O obje-tivo é reconhecer, neutralizar, e ajudar a destruirmicroorganismos patogênicos (por exemplo, bac-térias, vírus) ou toxinas. Os anticorpos são produ-zidos e secretados pelos linfócitos B como respos-ta ao estímulo por antígenos. Em geral, cada an-ticorpo se liga a um antígeno específico que esti-mulou sua produção e isto provoca sua elimina-ção ou prepara os antígenos para a ingestão eeliminação por células.

Anticorpo de ligação: um anticorpo que seliga a uma parte do microorganismo patôgeno,como o HIV. Os anticorpos de ligação podem ounão levar à eliminação do patôgeno.

Anticorpo facilitador: um tipo de anticorpoque pode aumentar a habilidade de um patôge-no de infectar células e produzir doença. Ainda édesconhecido se os anticorpos facilitadores têmqualquer efeito no curso da infecção pelo HIV. Osanticorpos faci-litadores podem ser pensadoscomo o oposto dos anticorpos neutralizantes.

Anticorpo neutralizante: anticorpo que im-pede o vírus de infectar uma célula, normalmen-te bloqueando os pontos de entrada viral (recep-tores) no vírus.

Antígeno: qualquer substância que é reconhe-cida por uma componente do sistema imunitário(por exemplo, anticorpos, células). Os antígenossão com freqüência agentes como bactérias ouvírus invasores .

Cepa: um tipo ou variedade de vírus. No caso doHIV, estas são muito heterogêneas, sem que duassejam exatamente iguais. Quando o HIV é isoladode um indivíduo e estudado no laboratório, ele éfreqüentemente “batizado” com seu próprio nomeidentificador ou nome da cepa (i.e., MN, LAI).

Cerne: a cápsula protéica que rodeia o DNA ouRNA do vírus. No HIV, a precursora da proteínado cerne (chamada p55) é quebrada nas molé-culas menores p24, p17, p7, e p6. O cerne doHIV está composto fundamentalmente de p24.

Coorte: grupo de indivíduos que partilham umaou mais características num estudo de pesquisa eque são acompanhados no tempo. Por exemplo,um ensaio de vacinas pode incluir duas coortes ,um grupo de alto risco e outro de baixo risco.

Correlatos de imunidade (também chama-dos correlatos de proteção): as respostas imunitá-rias específicas correlacionadas com a proteçãode uma certa infecção. Os correlatos de imunida-de necessários para o HIV são desconhecidos.

CTL (linfócitos T citotóxicos; também cha-madas de células T matadoras): células imunitáriasque destroem células do hospedeiro infectadas porvírus, fungos, ou certas bactérias, em contraste comos linfócitos B cujo alvo são geralmente os víruslivres flutuantes no sangue. As CTLs carregam omarcador de superfície CD8+ e pensa-se que re-presentam um papel importante na imunidade parao HIV, mas isto ainda não está provado.

Desafio: em experimentos com vacinas, a ex-posição proposital ao agente infeccioso de um ani-mal imunizado contra o agente. Os experimen-tos de desafio nunca deveriam ser realizados napesquisa em seres humanos. Na pesquisa paravacinas anti-HIV eles nunca foram realizados emseres humanos.

env: um gene do HIV que codifica a gp160, mo-lécula precursora que divide-se nas proteínas doenvelope gp120 e gp 41. (Ver glicoproteína.)

Envelope, envoltório: superfície externa deum vírus. Nem todos os vírus têm um envelope.

Enzima: proteína que acelera a taxa de uma rea-ção química específica recuperando-se inalteradano fim da reação. As enzimas geralmente são no-meadas somando o sufixo “ase” ao nome da subs-tância sobre a qual a enzima age (por exemplo,protease é uma enzima que age em proteínas).

Epitopo: um local específico de um antígenoonde os anticorpos se ligam. Sua presença esti-mula as respostas imunitárias específicas, como aprodução de anticorpos ou a ativação de célulasimunitárias.

Evento adverso: num ensaio clínico é um efei-to indesejado detectado em algum participante.O termo aplica-se tanto se o efeito pode ou nãoser atribuído ao estudo.

Fowlpox: membro da família dos poxvírus (queinclui os vírus da varíola humana e da varíola bo-vina (vaccínia) ). O fowlpox, como também o ca-narypox, são membros da subfamília “avipox”, queinfectam diferentes espécies de aves. O fowlpoxinfecta os frangos. A replicação dos avipox é defi-ciente em células de mamíferos, o que torna ovetores seguros (embora talvez não muito efeti-vos) para vacinas contra o HIV.

Gag: um gene do HIV que codifica a p55. Ap55 é a precursora das proteínas p17, p24, p7 ep6 do HIV que formam seu cerne, a cápsula inter-na de proteínas que abriga o RNA viral.Genes regulatórios: Genes do HIV (nef, rev, tat,vpr). Eles produzem proteínas que não são ne-cessárias para a replicação viral mas ajudam a re-gulá-la nas células infectadas.

Genoma: o material genético completo (DNAou RNA) presente numa célula ou vírus indivi-dual.

Genoma do HIV: é composto pelos genes gag,pol, env,tat, rev, vif, vpr, vpu e nef (ver Boletim nº5, página 30).

gp41 (glicoproteína 41): uma proteína no en-velope do HIV. A gp41 tem um papel chave naentrada do HIV na célula T CD4+, facilitando afusão das membranas do vírus e da célula.

gp120 (glicoproteína 120): glico-proteína do en-velope do HIV . Ela se liga à molécula CD4+ dacélula T auxiliar durante a infecção. Foi estudadacomo vacina experimental contra o HIV porque oenvelope é a primeira parte do vírus “vista” pelosanticorpos neutralizantes.

HLA: é a designação genética para o complexode histocompatibilidade principal (MHC) humano.Tem um papel importante na imunidade celular.Mediante este mecanismo o organismo reconhe-ce e elimina os corpos estranhos a ele. A funçãodas moléculas MHC é a de exibir na superfíciecelular fragmentos derivados do patôgeno situa-do no interior da célula. Assim estes são reconhe-cidos pelos linfócitos T apropriados o que quasesempre leva à eliminação do microorganismo.

Hospedeiro: planta ou animal que hospeda ouabriga um outro organismo.

Imunidade: resistência natural ou adquirida a umadoença, fornecida pelo sistema imunitário. A imu-nidade pode ser parcial ou completa, específica ouinespecífica, de longa duração ou temporária.

Imunidade de mucosa: resistência à infecçãovia membranas mucosas do corpo. Ela dependede células imunitárias e anticorpos presentes nostratos reprodutivos e gastrointestinais e outras su-perfícies de corpo úmidas expostas ao mundo ex-terno (a rota mais freqüente de infecção pelo HIV).

Imunidade esterilizante: uma resposta imu-nitária que previne completamente o estabeleci-mento de qualquer infecção detectável.

Imunidade humoral: é a imunidade que re-sulta da atividade dos anticorpos.

Imunidade mediada por células (tambémchamada imunidade celular): a parte do sistemaimunitário cujo alvo são as células do hospedeiroque estão infectadas por microorganismos comovírus, fungos, ou algumas bactérias. Ela é coorde-nada pelas células T auxiliares e pelas CTLs.

Imunização: o processo de induzir imunidade.Pode ser realizado administrando um antígeno (va-cina) para permitir ao sistema imunitário prevenira infecção ou doença quando ele entrar em con-tato com o agente infeccioso. Neste caso chama-se ativa. Pose ser realizado administrando direta-mente anticorpos (soro) para combater a infec-ção. Neste caso chama-se passiva.

Imunôgeno: uma substância capaz de provo-car uma resposta imunitária.

Imunogenicidade: a extensão da resposta imu-nitária estimulada por um imunôgeno ou vacina.

Imunoglobulina: um termo geral para anticor-pos que reconhecem organismos invasores, levan-do à sua destruição. Há cinco classes de imuno-globulinaas: IgA, IgG, IgM, IgD e IgE.

Glossário paravacinas anti-HIV

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GLOSSÁRIO

DICIONÁRIO PRÁTICO

Infecção inesperada (break-through*): umainfecção que a vacina devia prevenir, mas que ain-da assim ocorreu num voluntário durante umensaio clínico.

In vitro: (literalmente “no vidro”) num ambientede laboratório fora de organismos vivos (por exem-plo, um tubo para teste ou prato de cultura) usa-do para estudar doenças e processos biológicos.

In vivo: teste dentro de um organismo vivo. Porexemplo, estudos em humanos ou animais.

Isolado: uma cepa particular de HIV-1 de umapessoa (isolado primário ) ou cultivada em labo-ratório (isolado de laboratório).

LAI: nome de uma cepa do vírus HIV

Linfócito: célula branca do sangue (com funçõesdiferentes) responsável pelas respostas imunitárias.Há dois tipos principais: células B (responsáveis pelaprodução de anticorpos) e células T (que orques-tram todos os aspectos da resposta imunitária e re-alizam funções especializadas como destruir célu-las infectadas por patôgenos). São produzidas namedula óssea e no timo, respectivamente.

Linfócito B (célula B): células brancas do san-gue do sistema imunitário, derivadas da medulaóssea e baço. As células B se desenvolvem emcélulas do plasma , que produzem anticorpos.

Linfócito T CD4+ (também chamado célula Tauxiliar): célula imunitária que carrega um marca-dor CD4 na superfície. Os linfócitos T CD4+ são oalvo primário do HIV. Eles ajudam a orquestrartanto a resposta de anticorpos como a de célulasT citotóxicas.

Linfócito T CD8+: célula imunitária qua carre-ga o “conjunto de diferenciação 8”marcador(CD8) . As células T CD8 podem ser ci-totóxicas (matadoras) ou supressoras.

MHC (complexo de histocompatibilidade principal): o agrupamento de genes que controla certosaspectos da resposta imunitária. A função das mo-léculas MHC é a de exibir na superfície celular frag-mentos derivados do patôgeno no interior da cé-lula. Assim estes são reconhecidos pelos linfócitos Tapropriados o que quase sempre leva à elimina-ção do microorganismo. Mediante este mecanis-mo o organismo elimina os corpos estranhos a ele.

MN: uma cepa de HIV-1 que pertence ao subti-po B, o mais prevalente na América do Norte eEuropa. A MN foi extensamente usada no desen-volvimento de vacinas.

Nef: um gene presente no SIV e no HIV que nãoé necessário para a replicação viral mas serve paraa regulação dela. Vacinas feitas de SIV vivo massem nef (nef deletadas) foram estudadas em ma-cacos.

Peptídeo: uma molécula composta de dois oumais aminoácidos unidos. As proteínas são com-postas por peptídeos.

Primária-mais-reforço: uma combinação devacinas administradas em seqüência temporal.Uma combinação de primária e reforço pode in-duzir tipos diferentes de respostas imunitárias e/ou aumentar as respostas além daquelas obser-vadas com um único tipo de vacina.

Receptor: uma molécula na superfície da célu-la que serve como um local de reconhecimentoou de ligação para um antígeno específico, anti-corpo, enzima ou outra molécula.

Recombinante: vírus cujo genoma deriva-se dacombinação dos genomas de duas ou mais ce-pas virais diferentes. Em regiões do mundo ondecirculam diferentes subtipos do HIV, é freqüenteobservar uma variedade de cepas recombinan-tes. Alguns recombinantes (chamados “FormasRecombinantes Circulantes” ou CRF) parecem teralguma vantagem seletiva e são os mais observa-dos da epidemia em algumas regiões. O vírusmais freqüente na Tailândia é um recombinanteque possui o gene do envelope do subtipo E, e ogene gag do subtipo A. Na África Ocidental o CRFmais comum é o A/G. No Brasil circula um recom-binante B/F.

Reforço: uma vacina ou vacinas aplicada sub-sequentemente à vacina administrada em primei-ro lugar (primária), para aumentar a resposta imu-nitária. Um reforço pode ou não ser a mesma va-cina administrada em primeiro lugar.

Resposta imunitária: a reação do corpo a an-tígenos externos. Esta resposta pode neutralizarou eliminar os antígenos e fornecer imunidade.

Retrovírus: nome comum ao HIV e outros ví-rus cujo material genético é carregado na formade RNA no lugar de DNA. Estes vírus também con-têm a enzima transcriptase reversa que transcre-ve RNA em DNA. Este processo é o oposto doque normalmente acontece em animais e plantasonde o DNA é transformado em RNA; de onde o“retro “ do prefixo.

SF: nome de uma cepa do vírus HIV.

SHIV: um vírus “ híbrido “ criado por engenhariagenética com um envelope de HIV e cerne deSIV. O SHIV é amplamente usado para testar vaci-nas em macacos.

Significação estatística: a probabilidade deque uma diferença observada (por exemplo, en-tre dois braços de um ensaio de vacinas) seja devi-da à intervenção (vacina, medicação, aconselha-mento, etc) no lugar de ser devida ao acaso. Estaprobabilidade é determinada usando testes esta-tísticos para avaliar os dados coletados.

SIV (vírus da imunodeficiência dos símios): umvírus semelhante ao HIV que infecta macacos ecausa uma doença semelhante à AIDS em algu-mas espécies.

Soroconversão: o desenvolvimento de anticor-pos para um antígeno particular. Quando as pes-soas desenvolvem anticorpos para o HIV ou para

uma vacina experimental para HIV, eles “sorocon-vertem” de negativos para anticorpos a positivospara anticorpos. A soroconversão induzida porvacina não é uma infecção.

Subtipo (também chamado clade): grupo de ce-pas de HIV relacionadas e classificadas pelo seugrau de semelhança genética. Há 3 grupos prin-cipais (ou tipos) identificados até agora: M, O eN. O grupo M consiste de pelo menos oito subti-pos, de A até J

Vaccínia: um vírus da varíola bovina, antigamen-te usado em vacinas de varíola humana e agoracomo vetor em algumas vacinas para o HIV emexperimentação.

Vacina de subunidade: uma vacina que con-siste de só uma proteína do vírus ou de outro pa-tôgeno. As vacinas de sub-unidade para o HIVproduzidas por engenharia genética são chama-das de vacinas de sub-unidade recombinante.

Vacina de DNA: uma tecnologia de vacina ex-perimental na qual um ou mais genes que codifi-cam para antígeno(s) específico(s) são injetadosdiretamente no corpo com o intuito de que elesproduzam antígeno (s) no receptor e suscitem res-postas imunitárias. A tecnologia é altamente pro-missora para a produção de vacinas simples, bara-tas e estáveis para mudanças de temperaturas.

Vacina de vetor vivo: uma vacina que usaum organismo que não causa doença (vírus oubactéria) para transportar genes do HIV ou ou-tros genes estranhos (codificando antígenos) parao interior do corpo. Este tipo de vacina gera fre-qüentemente respostas de CTL.

Vacina polivalente: em vacinas para o HIV,uma vacina produzida de múltiplas cepas viraisprevalência: a proporção de pessoas com umadoença ou condição particular numa populaçãoespecífica e num determinado momento.

Vetor: uma bactéria ou vírus que não causa do-ença em humanos e é usado em vacinas criadaspara transportar genes que codificam antígenopara dentro do corpo e deste modo induzir umaresposta imunitária. Entre os exemplos está a vaccí-nia e o vírus da varíola dos canários ou canarypox.

Vírus da varíola dos canários (canarypox):um vírus que infecta pássaros e está sendo usadopara carregar genes do HIV para o interior decélulas humanas em várias candidatas a vacinacontra o HIV atualmente em ensaio clínico. O Ví-rus da varíola dos canários não pode crescer emcélulas humanas, o que é um traço importantepara a segurança das vacinas baseadas nele.

Esta é uma versão extraída e editada a partir deum glossário do Instituto Nacional de Alergia eDoenças Infecciosas dos EUA. Pode ser consulta-do na íntegra, em inglês: www.niaid.nih.gov/factsheets/glossary.htm

Agradecemos a colaboração da Dra. Sigrid dosSantos (ANCA-HCUSP)

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Boletim Vacina Anti – HIV/AIDSNovembro de 2002

Esta publicação é uma realização do Grupo de Incentivo à Vida (GIV) .

O GIV é um grupo de ajuda mútua para pessoas com sorologia positiva para oHIV e dirigido também por portadores (as). Não tem finalidades lucrativas nemvinculações de natureza político partidária ou religiosa, bem como é destituído

de quaisquer preconceitos.

Coordenadora do projetoTeresinha Martins

EditorJorge Beloqui

JornalistaJacinto Côrrea

ColaboradorRubens Oliveira Duda

Conselho EditorialGilvane C. da Silva, Roberto Chateaubriand, Ronaldo Mussauer, Sandra Perin e

Alexandre do Valle, Liandro Lindner e Mário Scheffer.

Diretoria do GIVPresidente: Gilvane C. da Silva. Vice- presidente: Cláudio Pereira. Tesoureira:

Silvana C. de Meneses Tesoureiro suplente: Silvia A. D. Almeida.Secretário: Jorge Beloqui . Secretário suplente: Tácito Molica.

Diretor Adjunto: Lucinéia Rodrigues.

ArteJosé Carlos Takachi

Impressão e acabamentoAGIL Gráfica

Tiragem9.000 exemplares

FinanciamentoEsta edição foi financiada pela Coordenação Nacional de DST/AIDS do

Ministério da Saúde em convênio com a UNESCO.

ApoioEste número do Boletim de Vacinas conta com o solidário apoio financeiro

da IAVI (Iniciativa Internacional para uma Vacina contra a AIDS),de Nova York, EUA.

Grupos representantes das ONGs/AIDS no Comitê Nacional deVacinas Anti-HIV/AIDS:

GIV, Grupo Pela VIDDA/RJ, GAPA/RS e GAPA/MG.

GIV- Grupo de Incentivo à VidaRua Capitão Cavalcanti , 145. Vila Mariana. CEP 04017-000. São Paulo – SP

Fone-fax (11) 5084-0255e-mail: [email protected]

Home page: www.giv.org.br

This Bulletin is a community initiative developed by GIV and other BrazilianNGOs, funded by the CNDST-AIDS, M. of Health and supported by IAVI.

Phone-fax number: (5511) 5084-0255Address: Rua Capitão Cavalcanti, 145

(04017-000) São Paulo – SPBrasil

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DICIONÁRIO PRÁTICO

International AIDSVaccine Initiative