Boletim - Igrejas Lusófonas - 22

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ANGOLA GUINÉ-BISSAU CABO VERDE S. TOMÉ E PRÍNCIPE MOÇAMBIQUE TIMOR-LESTE BRASIL PORTUGAL Abril 2009 Vamos criar um clima para a JUSTiça! Montagem gráfica da capa: CIDSE

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ANGOLA GUINÉ-BISSAU CABO VERDE S. TOMÉ E PRÍNCIPE MOÇAMBIQUE TIMOR-LESTE BRASIL PORTUGAL

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2FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

A edição do Boletim das Igrejas Lusófonas (BIL) deste trimestre reflecte uma vez mais a preocupação da Fundação Evangelização e Culturas em estar na linha da frente na sensibilização para as grande questões que afectam o desenvolvimento dos povos e, nesse sentido, dedicamos uma atenção especial à Campanha política “Pobreza e Justiça Climática” promovida pela CIDSE e Caritas Internationalis, sob o slogan Create a Climate for Justice, e na qual estamos vivamente empenhados.

Temos noção de que as alterações climáticas afectam a todos, mas não de forma igual, contribuindo assim para o acentuar do fosso entre ricos e pobres.

Temos noção de que nos países em desenvolvimento existe uma maior vulnerabilidade às alterações climáticas, cujo impacto é extremamente negativo para a erradicação da pobreza.

Temos noção de que esta questão é, para além de ambiental, uma questão de justiça e igualdade social, uma questão que nos remete para o sétimo Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) proposto pelas Nações Unidas até 2015 – Garantir a Sustentabilidade Ambiental.

Realce ainda neste BIL para o “+Escola – Por uma Educação para Todos”, um projecto em curso na Guiné-Bissau nas regiões de Bafatá, Cacheu, Quínara e Tombali, promovido pela FEC, com apoio do IPAD e em parceria com a Comissão Interdiocesana de Educação e Ensino (CIEE), Plan Guiné-Bissau e Action Aid. Um projecto que visa capacitar professores, directores e comunidades procurando ajudar a cumprir o terceiro ODM - Promover a Igualdade de Género e a Capacitação das Mulheres.

Na verdade, numa altura de crise que pode levar à tentação de nos esquecermos dos ODM e dos compromissos assumidos, é essencial mostrar exemplos de iniciativas em curso e chamar a atenção para que o cumprimento dos ODM ainda é possível e implica o esforço de todos.

Se os Estados conseguiram, perante um cenário de crise, encontrar milhões de dólares para tentar travá-la, então é caso para perguntarmos porque é que não tentaram também encontrar respostas mais convincentes para parar a crise e a miséria em que vivem tantos e tantos seres humanos?

Faço votos para que este BIL possa ser mais uma ajuda neste combate global e civilizacional que temos de ganhar.

Quando nos aproximamos de 2015

Jorge Líbano MonteiroAdministrador da Fundação Evangelização e Culturas

Destaque

Campanha Pobreza e Justiça Climática

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Dossier Clima

Será a mudança climática uma tarefa da Igreja?

Henrique Lopes,Fundação Evangelização e Culturas

Moderação e Mudanças Climáticas

D. Amândio Tomás,Bispo coadjutor de Vila Real

As desigualdades e o futuro do Planeta

Francisco Ferreira,Professor universitário e vice-presidente da Quercus

África e Europa num abraço de justiça

Pe. José Augusto Leitão, svdResponsável pela Antena AEFJN Portugal

Mudanças Climáticas e o uso da ENERGIA

Eng. Carlos Pimenta,Presidente da SIIF Énergies Portugal

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Guiné-BissauPromoção do género feminino na Guiné-Bissau

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Pensar é aGirA África veio ao meu encontro

Pe. Valentim Gonçalves,Missionário do Verbo Divino

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Breves

nesta eDiÇÃo

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FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

Campanha Pobreza e Justiça Climática

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“O tempo já não é o mesmo”, uma expressão muito utilizada pelas pessoas mais velhas se considerarmos os efeitos que este dita em nós, no nosso humor, na forma como nos vestimos e até naquilo que comemos. O tempo influencia a nossa rotina diária. Contudo, o tempo não significa o mesmo que clima, que se define como um conjunto de condições atmosféricas que caracterizam determinada região durante um período alargado.

As alterações climáticas estão associadas a causas naturais, como as variações na radiação solar e erupções vulcânicas, mas estes exemplos contribuem apenas para uma ínfima parte do aumento do aquecimento global, fenómeno este que, de acordo com a investigação científica, é causado maioritariamente pela actividade humana.

Diariamente temos conhecimento de crimes contra o ambiente e, ao mesmo tempo, são-nos dadas sugestões e medidas que o protejam. Factos que muitas vezes nos passam ao lado, mas que estão a ter consequências nefastas para as populações mais pobres e, neste caso, referimo-nos sobretudo aos países do Sul.

As alterações climáticas afectam a todos, mas não de forma igual. Os custos sociais e económicos das alterações climáticas são muito mais pesados para os países em desenvolvimento e o seu impacto é crescente. Nestes países, não só existe uma maior vulnerabilidade às alterações climáticas, como existe uma maior dificuldade de adaptação ao impacto destas alterações.

A CIDSE, como agência para o desenvolvimento, está preocupada com o impacto negativo crescente das alterações climáticas na erradicação da pobreza, na concretização de modelos de desenvolvimento sustentáveis, na justiça social e pleno gozo dos direitos humanos. A CIDSE considera, por isso, que as alterações

climáticas são mais do que uma questão ambiental, são uma questão de justiça e igualdade global. A CIDSE advoga, nesse sentido, uma mudança na forma como se encaram as alterações climáticas. É imperativo reconhecer e responder às evidências científicas e recomendações de especialistas. Mas, mais importante, é preciso começar a pensar nas alterações climáticas em termos do seu impacto nas pessoas, das suas implicações sociais, económicas e humanas.

É com esta perspectiva que a CIDSE, em conjunto com a Caritas Internationalis, lança, para 2008 e 2009, a Campanha política «Pobreza e Justiça Climática», sob o slogan Create a Climate for Justice. Esta Campanha está focada nas duas conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas agendadas para este período – em Dezembro de 2008, em Poznan, na Polónia, e em Dezembro de 2009, em Copenhaga – e que configuram uma oportunidade para pressionar os governos a assumir um compromisso justo e efectivo para um acordo pós-2012.

DESTAQUE

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2009 é um ano crucial para a justiça climática. Numa altura em que a investigação científica indica que o aquecimento global está a acontecer mais rapidamente que o esperado, enquanto um declínio económico ameaça restringir os níveis de ambição, este ano a sociedade civil desempenhará um papel fundamental ao influenciar discussões internacionais para um novo acordo eficaz e equitativo.

A CIDSE e a Caritas Internationalis uniram esforços numa campanha internacional no sentido de pressionar os líderes mundiais para que se consiga atingir um acordo global equitativo e socialmente justo sobre as mudanças climáticas globais. A CIDSE e a Caritas Internationalis acreditam que as mudanças climáticas não são

só um desafio ambiental, mas sim uma questão fundamental de justiça global para a população mundial mais pobre – eles são atingidos primeiro e com maior violência pelo impacto das mudanças climáticas - apesar de serem os que menos fizeram para criar o problema. As mudanças climáticas estão a provocar um aumento na frequência e intensidade dos desastres naturais, tais como ciclones e furacões, secas e cheias. Entre 1990 e 1998, 94% dos 568 maiores desastres mundiais e mais de 97% de todas as mortes

relacionadas com os mesmos ocorreram em países em desenvolvimento.

Estas ocorrências desastrosas representam crises humanitárias a curto prazo. As habitações, os meios de subsistência e as comunidades são repetidamente destruídos o que enfraquece a sua capacidade de lutar contra a pobreza.

Acertadamente, as mudanças climáticas estão firmemente incluídas na agenda política para 2009, e serão discutidas, quer no contexto das reuniões da UNFCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), quer em outros encontros políticos bilaterais ao longo de 2009. A comunidade internacional está a negociar um novo acordo global sobre alterações climáticas e o resultado destas negociações - o nível de compromisso no combate ao aquecimento global e o nível de apoio a conceder aos países em desenvolvimento que mais sofrem com as alterações climáticas - terão um impacto decisivo na perspectiva global de desenvolvimento humano.

Lançamento da Campanha “Let’s create a climate for justice” em Poznan, Polónia

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A CIDSE – Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade – é uma confederação internacional de 16 organizações católicas de cooperação para o desenvolvimento, com um âmbito de acção orientado para a discussão estratégica de políticas de desenvolvimento. Da CIDSE fazem parte, para além da FEC, organizações como a Trocaire, a CAFOD, a Manos Unidas, a CORDAID e a Misereor.

DESTAQUE

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A pressão pública coincide, portanto, com campanhas de pressão política e defesa desta causa antes da Cimeira da Primavera da UE, G20, G8, UNFCC e reuniões dos Ministros do Ambiente a nível nacional e internacional com a CIDSE e em coligação com parceiros chave. Ao longo do ano, a mobilização pública feita pelas organizações membro da CIDSE em toda a Europa é realizada para angariar o máximo de assinaturas possíveis para a petição internacional a ser entregue aos políticos na conferência da UNFCC em Copenhaga, em Dezembro de 2009. É crucial que se pressionem os governos nacionais ao longo deste ano para que estes cumpram o seu papel para garantir que o processo da UNFCC seja um sucesso para o desenvolvimento.

A nossa Fé Católica chama-nos a actuar e a cuidar da criação de Deus. Todos os cidadãos têm a responsabilidade individual de promover e proteger o Bem Comum, com o direito e o dever de tornar o seu governo responsável. Quando Estados-Nação têm uma autoridade limitada, os corpos directivos internacionais – neste caso a United Nations Framework Convention on Climate Change (Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) - deve ser chamada a actuar em prol do Bem Comum Global.

A campanha conjunta da CIDSE e Caritas Internationalis aspira a aumentar a consciência sobre a injustiça das mudanças climáticas e do seu impacto nas populações do Sul, para garantir que as suas necessidades e vozes sejam tomadas em consideração nas negociações e promover as seguintes exigências para o novo acordo sobre mudanças climáticas globais:

• O reconhecimento e protecção do direito ao desenvolvimento sustentável das populações dos países em desenvolvimento.

• Os países industrializados deverão fornecer apoio financeiro e tecnológico suficiente, adicional, seguro e acessível para a adaptação e esforços de mitigação dos impactos por parte dos países em desenvolvimento.

• Os países industrializados deverão comprometer-se a atingir pelo menos 30 a 40% de redução nas emissões de gases em 2020 (baseado nos níveis de 1990)

Vamos criar um clima para a justiça: Junte-se a nós e tome posição!

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Poznan abre caminho até Copenhaga

Em Dezembro de 2008 decorreu em Poznan, na Polónia, a 14ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Um encontro que ficou marcado pela definição de uma agenda de trabalhos para a reunião de Copenhaga, Dinamarca, agendada para Dezembro de 2009.

As Nações Unidas encaram o problema das alterações climáticas como uma questão de desenvolvimento, considerando ser uma das principais ameaças ao desenvolvimento humano. Desta forma, a conferência de Poznan representou um passo decisivo nas negociações internacionais, cujo principal objectivo será um acordo contra o aquecimento global que substituirá o protocolo de Quioto em 2012.

Por um Mundo Sustentável

A 28 e 29 de Abril realiza-se, no Centro de Congressos de Lisboa, a II Edição de “Os Dias do Desenvolvimento”. Uma iniciativa promovida pelo Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), Ministério da Educação e Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC).

Sob o slogan Por um Mundo Sustentável – Desenvolvimento e Recursos, esta segunda edição pretende promover a reflexão de temas como a Água e o Combate à Pobreza; as Energias Alternativas e o Desenvolvimento Económico e Sustentável; a Gestão dos Recursos e o respeito pelo Meio Ambiente; o Desafio Alimentar; a Eficácia da Ajuda; Saúde e o Desenvolvimento Humano.

É neste sentido que a FEC, como membro da CIDSE e, consequentemente, uma das promotoras da Campanha política «Pobreza e Justiça Climática» pretende aproveitar esta iniciativa para lançar o debate junto da opinião pública portuguesa e decisores. A FEC considera que Os Dias do Desenvolvimento 2009 – quer pelos seus objectivos, quer pelo tema deste ano – oferece uma oportunidade de excelência para este debate. Assim, propõe a realização de um workshop com vista a apresentar e discutir os fundamentos e objectivos desta Campanha, bem como a sua estratégia, quer enquanto campanha de sensibilização da opinião pública, quer enquanto campanha de lobbying e advocacy.

DESTAQUE

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Há 30 anos falar em ecologia, mudança climática e assuntos similares tinha um cunho ideológico, senão mesmo partidário. Há 20 anos essa temática seria fórum científico em círculos relativamente restritos e fraccionados por especialistas em clima, em alimentação, em biodiversidade. Há 10 anos já eram os políticos a tentar chegar a acordos e consensos reconhecendo a efectiva mudança de clima que se está a operar no planeta, tentando minguar as nefastas consequências que devemos esperar. Hoje, discutir a mudança do clima e a habitabilidade do planeta é matéria de sobrevivência à qual todos somos chamados a participar. Sua Santidade o Papa Bento XVI entendeu dar contributo próprio e orientação no seu famoso discurso de Loreto, Itália (2007): “Antes que seja demasiado tarde, temos de adoptar escolhas corajosas, as quais possam recriar uma forte aliança entre o Homem e a Terra”.

A mudança climática decorrente da actividade económica do Ser Humano, afectou os delicados equilíbrios estabelecidos pela Natureza ao longo de milénios. São múltiplas as impactações: contaminação da atmosfera, deterioração e escassez dos recursos aquíferos, esgotamento dos recursos naturais, desaparecimento de muitas formas de vida. Por exemplo, calcula-se que 15 a 40% das espécies de seres vivos estão em risco e que cada uma está intimamente ligada a pelo menos 2 ou 3 outras espécies...

Não há, por isso, qualquer dúvida de que o clima está a mudar para pior. O GIEC, grupo de especialistas franceses que foi recentemente constituído para acompanhar esta problemática, analisou todos os 23 modelos científicos de previsão de alteração do clima e foi-lhes pedido que verificassem o que seria de esperar do clima do planeta até 2100. A conclusão foi a de que todos os modelos chegaram às mesmas conclusões apenas variando no grau de impactação.

É genericamente admitido que o limite de resistência do actual equilíbrio climático é de +20C relativamente às médias anteriores à fase de industrialização. Já se consumiram 0,760C dos 2,00C e os cenários para 2100 variam de um mínimo de 1,8 a 5,40C, conforme o grau de radicalidade das medidas que vierem a ser adoptadas pelos países. E

Será a mudança climática uma tarefa da Igreja?

Henrique LopesFundação Evangelização e Culturas

Bispos Católicos unidos por um clima melhor

Na sequência da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que decorreu em Poznan, na Polónia, em Dezembro de 2008, os Bispos Católicos do Norte e do Sul assinaram “A Call for Climate Justice” dirigido aos líderes mundiais para que as negociações que resultarem destes dois encontros sejam decisivas para a vida e sustento de toda a humanidade.

Considerando ser sua obrigação moral, agir e alertar para o impacto das alterações climáticas, um problema de justiça social cujas consequências são devastadoras nos países em desenvolvimento, os Bispos Católicos juntam-se à campanha da CIDSE e da Caritas Internationalis relembrando as palavras do Santo Padre João Paulo II:

«As pessoas apercebem-se que estão unidas por um destino comum, o qual deve ser construído em conjunto para que seja evitada a catástrofe para todos».

quando se fala do cenário de 1,80C falamos de medidas verdadeiramente drásticas.

O impacto das alterações climáticas, fruto de propriedades de própria Natureza, faz com que os povos dos países pobres sejam 200 vezes (em número de habitantes) mais prejudicados do que os dos países ricos, sendo que a contribuição para a alteração climática seja 70% da responsabilidade dos países desenvolvidos, os quais não chegam a 20% da população.

Vários tipos de problemas são previsíveis com as alterações climáticas: modificação dos padrões de distribuição da chuva, intensificação dos fenómenos meteorológicos violentos, subida do nível dos oceanos, alteração da produtividade das terras aráveis, redução da biodiversidade, inundação permanente de terras aráveis e habitáveis, intensificação de correntes migratórias de povos vindos das zonas mais afectadas para as menos afectadas (os chamados refugiados do clima) e, como resultado de tudo isto, grande prejuízo económico. Para se ter uma ideia deste último parâmetro, exemplifica-se que a actual crise financeira impacta 2 a 4% da riqueza mundial e as alterações climáticas podem chegar aos 20% no cenário pior que é o de deixar as coisas ficarem como até aqui.

E nós por cá? A região da Península Ibérica é das mais afectadas do planeta no que concerne à redução de chuvas, tanto de Verão, como nas de Inverno, com tudo o que isso significa de desertificação. As regiões dos PALOP também são previsivelmente muito afectadas, principalmente por empobrecimento dos solos e aquíferos, com excepção do Norte de Moçambique onde choverá mais do que actualmente.

Em suma lutar contra as mudanças climáticas já não é uma opção: transformou-se numa necessidade de sobrevivência. Sigamos o conselho avisado e visionário de Bento XVI.

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7FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

A Igreja Católica, ao ratificar o Protocolo de Quioto e a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, apoiou a defesa do ambiente e o uso moderado dos bens. Devemos proteger a criação, com solicitude. Deus deu-nos as criaturas, não as maltratemos, para nossa ruína, pois “Deus perdoa sempre, o homem às vezes, a natureza nunca”. Abusar dos bens, envenenar a terra, o mar e o ar é preparar a morte doce em quarto envenenado. Sejamos responsáveis, solidários, atentos ao bem comum, ao destino universal dos bens, aos métodos de produção e hábitos de consumo, impedindo o arrefecimento global, desflorestação e os crimes ecológicos. As mudanças climáticas ameaçam a sobrevivência. Não vivemos sem bens materiais, mas devemos distinguir o essencial do supérfluo, evitar o despesismo e o uso desregrado, viver com moderação (autarkeia, em grego) ou temperança, lutar contra a anarquia ambiental, o uso desregrado e o descalabro planetário, opostos à utilização moderada e saudável dos bens da terra.

Ecologia e Economia supõem o uso recto e moderado dos bens, na casa (‘oikos’). A Ecologia estuda a relação com o ambiente e a Economia a administração e moderação no consumo e ambas abrem à Etologia, ciência do comportamento dos seres vivos no meio natural, segundo o costume ou ‘ethos’ e nunca sem a Ética. A Ecologia é questão de moralidade e ética pública. O comportamento humano é decisivo, para a defesa do ambiente, para a rentabilidade económica e para o bem dos seres vivos. O homem é o beneficiário e o guardião dos bens da terra.

A defesa da criação é um quebra-cabeças para a humanidade e conduziu à criação do GIEC, Grupo Intergovernamental de sábios para a Evolução do Clima, que, no Quarto Relatório de 2007, alerta para emissão de gases e aquecimento do planeta, que provocam escassez de água, secas, inundações descontroladas, erosão das costas marítimas e degelo, sobretudo nos pólos, com prejuízo das populações desfavorecidas, forçadas a deixar as terras, aumentando, assim, ainda mais, o fosso entre ricos e pobres. A protecção do clima ajuda a combater a má nutrição, a doença e a fome.

O Grupo de Especialistas, chefiado pelo Prof. Franz Fischler, investigou, desde Janeiro de 2008, para a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia e,

Moderação e Mudanças Climáticas

D. Amândio TomásBispo coadjutor de Vila Real e representante da Conferência Episcopal Portuguesa

junto da Comissão das Conferências Episcopais da Europa

em Novembro de 2008, propôs à Assembleia dos Bispos da COMECE, em Bruxelas, a “Reflexão Cristã sobre as mudanças Climáticas e suas implicações nos estilos de vida e nas políticas europeias”, sendo o que aqui se diz um eco desse documento.

A doutrina cristã ensina que somos interdependentes, filhos de Deus, beneficiários dos bens criados, e devemos deixar a outros o mundo são, limpo e ordenado, sem os “pecados sociais que bradam aos céus” (João Paulo II). “O dever de solidariedade das pessoas é também o dos povos” dizia Paulo VI. Para lá de técnicas e energias alternativas, amigas do ambiente, deve haver “novo estilo de vida, disciplina,

renúncias e reconhecimento dos outros aos quais a Criação pertence... na disciplina da responsabilidade perante o futuro dos outros e do nosso, com responsabilidade diante d’Aquele que é nosso Juiz e Redentor” (Bento XVI aos Padres e Diáconos, em Brixen, a 6 de Agosto de 2008). Já o Beato João XXIII falou do bem comum mundial e duma autoridade que o regule, para alcançar a justiça planetária.

Que a caridade de Cristo nos torne solidários e ajude a viver com moderação, atentos ao bem dos outros, à beleza e bondade do ‘mundo’, que, etimologicamente, quer dizer ‘limpo’, bom e belo e assim deve ser mantido e entregue aos vindouros, como cosmos ordenado, saudável, rico de beleza e manancial de vida e esperança.

“A Ecologia é questão de moralidade e ética

pública. O comportamento humano é decisivo, para a defesa do ambiente, para a rentabilidade económica e

para o bem dos seres vivos.”

“A doutrina cristã ensina que somos interdependentes, filhos de Deus, beneficiários dos bens criados, e devemos deixar a outros o mundo são,

limpo e ordenado, sem os “pecados sociais que bradam aos céus” (João Paulo II).”

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Nas próximas décadas, as alterações climáticas vão ser, sem dúvida, uma das maiores ameaças ao desenvolvimento sustentável do Planeta. O aquecimento global resultante da emissão de gases com efeito de estufa provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis, mas também agravado pela incapacidade das florestas, cada vez com menor área, de consumirem carbono, está a ter um conjunto de consequências que deverão complicar em muito o nosso futuro. A ciência apresenta-nos um quadro onde a alteração climática, se o aquecimento for superior a dois graus centígrados em relação à era pré-industrial, será dramática. Isto é, doenças como a malária abrangerão áreas muito maiores que as actuais, várias regiões sofrerão de falta de água e a sua qualidade será pior, os equilíbrios de diversos ecossistemas estarão em risco com perdas significativas de biodiversidade. Ou seja,

em muitos países onde a qualidade de vida é já mínima, as alterações climáticas serão um factor de agravamento de tensões sociais e de maior crise económica. Se as questões políticas da equidade entre as pessoas, da distribuição equilibrada de bens e rendimentos, estão já na ordem do dia

em muitos dos países em desenvolvimento, a crise climática irá agravar de forma decisiva a situação de muitas populações.

Se a inevitabilidade do aquecimento global é um facto, a luta por objectivos de redução das emissões, a par da ajuda, por razões morais, de solidariedade e até no âmbito de uma estratégia de desenvolvimento sustentável global pelos países mais industrializados, é um objectivo essencial. Efectivamente, foi à custa do uso desenfreado da energia pelos países mais ricos, como suporte a um suposto crescimento económico cujo paradigma está agora a ser posto em causa, que o clima tem vindo a mudar. Não podemos fugir de nos adaptarmos às mudanças climáticas, sendo mais difícil fazê-lo nos países com menos recursos que assim necessitam, não apenas de usufruir da transferência de tecnologia, de investimentos em energias renováveis, como suporte a um desenvolvimento com menores impactes no ambiente, mas também de apoios financeiros e outros para lidar com secas, cheias, aumento do nível do mar ou o aumento da população atingida por determinadas doenças.

O grande dilema surge na cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda recentemente, a associação ambientalista Greenpeace bloqueava em Bruxelas a entrada na reunião dos Ministros das Finanças da Europa, afirmando que eram migalhas a ajuda programada para os países que já sofrem as consequências da alteração

As desigualdades e o futuro do Planeta

do clima. Simultaneamente, os países desenvolvidos não querem transferir verbas ou tecnologia que dizem, nos corredores, seriam desbaratados pela má gestão e pela corrupção que atinge muitos dos países receptores da ajuda.

Em Dezembro de 2009, em Copenhaga, deverá ser aprovado um novo acordo que irá definir os objectivos e as regras à escala mundial após 2012, na sequência do Protocolo de Quioto. Saber como apoiar um desenvolvimento mais amigo do ambiente pelas economias emergentes, saber como suportar muitos países pobres envoltos em crises políticas e humanitárias e acima de tudo saber reduzir à escala mundial as emissões de gases com efeito de estufa na ordem dos 60 a 80% em relação aos níveis actuais, evitando um aumento dramático da temperatura. Transformar as alterações climáticas numa oportunidade para o recurso às energias renováveis, eficiência energética e entendimento entre os povos num quadro de responsabilidade partilhada entre países e nos países é o desafio que temos que enfrentar com a participação de todos.

Francisco FerreiraProfessor universitário e Vice-Presidente da Quercus

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“O grande dilema surge na cooperação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.”

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O papa Bento XVI visitou África de 17 a 23 de Março de 2009. Uma visita aos Camarões e Angola. Nestes dois países quis, simbolicamente, abraçar toda a África com as suas feridas dolorosas e enormes esperanças. Bento XVI deseja que o ano de 2009 seja o ano de África. Por isso, além desta visita, convocou para Roma, nos dias 4 a 25 de Outubro, o segundo Sínodo dos Bispos de África, sob o tema: A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz.

A Rede África-Europa Fé e Justiça (AEFJN), criada nos anos 80 por cerca de 50 institutos missionários, procura realizar a sua missão, prevenindo e alertando para as causas da injustiça nas relações entre África e a Europa. Com o secretariado em Bruxelas e “Antenas” em vários países da Europa, bate-se por uma ética política e económica que dê prioridade ao ser humano, ao desenvolvimento sustentado e ao ambiente. Como cristãos e cidadãos do mundo, é natural que se coloque ao lado do elo mais fraco que, neste caso, é África.

África é um Continente rico em recursos humanos e naturais. No entanto, a realidade da maioria dos seus países está marcada pela pobreza e a incapacidade de um desenvolvimento sustentável e abrangente. O seu comércio tem uma fraca expressão mundial e muitas vezes está baseado num único produto, o que o torna pouco competitivo e quase totalmente dependente de bens importados. Os conflitos internos, a corrupção e a vulnerabilidade democrática impedem projectos de desenvolvimento estruturais a longo prazo.

As potências mundiais e as economias emergentes procuram em África o controle e a exploração dos seus muitos recursos naturais.

A actual crise económica e financeira levou muitos países a diminuir a Ajuda Pública ao Desenvolvimento e a implementar políticas proteccionistas. A desaceleração económica provocou o aumento do desemprego e o agravamento duma crise social, onde a população migrante africana é uma das mais atingidas. África vê, assim, escassear as receitas dos emigrantes, diminuir a ajuda dos países mais ricos e impedida de vender os seus produtos na Europa. Os Acordos de Parceria Económica (APE), recentemente assinados e que prevêem o livre comércio sem taxas aduaneiras, vêm agravar a situação dos países africanos que perdem mais estas receitas sem grandes contrapartidas. Com tudo isto, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) dificilmente poderão ser alcançados até 2015.

África e Europa num abraço de justiça

Pe. José Augusto Leitão, svdResponsável pela Antena AEFJN Portugal

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O abate incontrolado de florestas fez diminuir as zonas verdes no planeta. O aumento de emissões de gases com efeito de estufa aqueceu febrilmente a terra e está a fazer aumentar o nível dos oceanos e das áreas desertificadas. África é um Continente extremamente sensível ao desequilíbrio ecológico e às alterações climáticas.

A União Europeia (UE), para poder cumprir o Acordo de Quioto e libertar-se da dependência energética do petróleo e do gás da Rússia, tem procurado investir em energias alternativas e sustentáveis. Entre estas energias aparecem os biocombustíveis. A UE tem como meta introduzir 10% de biocombustíveis nos transportes até 2020. Esta directiva provocou o cultivo intensivo e industrializado de plantas para a produção de biodiesel e bioteanol. No entanto, a produção de biocombustíveis é dispendiosa e ocupa terrenos normalmente usados para a produção de alimentos. Por isso, os investidores viram-se para África onde procuram grandes superfícies e contratos mais lucrativos de produção. O presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, defendeu na FAO que os biocombustíveis podem ser uma alternativa em África, “desde que a sua produção não concorra com a produção agrícola para alimentação humana, não ponha em causa a segurança alimentar para todos, nem contribua para a destruição das florestas primárias, e se faça com as devidas precauções sociais e ambientais”.

A AEFJN, sabendo que são demasiadas condições para quem procura o lucro e não a ética social e a defesa do ambiente, propõe uma moratória de cinco anos à produção de biocombustíveis em África. Durante este período podia-se investigar os impactos positivos e negativos dos biocombustíveis e os africanos podiam preparar-se melhor para a produção de biocombustíveis, sem afectar a sua soberania alimentar, nem provocar desequilíbrios ecológicos.

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DOSSIER CLIMA

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FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

O clima é fortemente influenciado por mudanças nas concentrações atmosféricas de diversos gases, que capturam parte da radiação infravermelha proveniente da superfície da Terra e produzem o chamado “Efeito de estufa”. Sem este efeito de estufa natural, a temperatura média da superfície da Terra, que é hoje de 14ºC, seria negativa (cerca de 18ºC negativos) e o nosso planeta inabitável. Entre estes gases, os dois que merecem especial destaque são o dióxido de carbono (CO2) e o Metano (CH4).

As alterações climáticas são presentemente consideradas uma das mais sérias ameaças ambientais a nível global, com fortes impactes nos ecossistemas, na saúde humana, nas actividades económicas e na qualidade da água (OCDE, 2001). A abordagem desta problemática é enquadrada no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC) e no Protocolo de Quioto de 1997. O último relatório científico (IPCC 2007) confirma e reforça as conclusões dos estudos anteriores no que toca às responsabilidades das actividades humanas - nomeadamente as actividades relacionadas com a produção e o consumo de energia - no fenómeno do aquecimento global.

As emissões de gases com efeito estufa, resultantes das actividades humanas, aumentam a capacidade da atmosfera para absorver radiação infravermelha, alterando a forma como o clima mantém o balanço entre a energia que chega e a que sai da Terra. (…)

O dióxido de carbono (CO2), um dos principais desses gases, desempenha um papel complexo no ciclo vital. É libertado pela erupção vulcânica, pela respiração, por processos do solo, pela queima de componentes de carbono e pela evaporação oceânica. Por sua vez, dissolve-se nos oceanos e é consumido pela fotossíntese dos vegetais. Posteriormente à Revolução Industrial e, em especial, após a Segunda Guerra Mundial, a actividade industrial libertou enormes quantidades de CO2 na atmosfera,

Mudanças Climáticas e o uso da ENERGIA

Eng. Carlos PimentaPresidente da SIIF Énergies Portugal

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através da queima de combustíveis fósseis de depósitos subterrâneos, sendo os três principais o carvão, o petróleo e o gás.

A maior parte das emissões de dióxido de carbono é devida ao uso de combustíveis fósseis para a geração de energia, a processos industriais e ao transporte, mas também a processos de desflorestação. A actividade agrícola e as mudanças no uso da terra resultam em emissão de metano e outros gases, ao passo que os processos industriais também emitem produtos químicos artificiais, chamados de halocarbonos (CFCs, HFCs, PFCs).

Embora o clima da Terra seja instável, ou, melhor ainda, imprevisível – e muito sensível a factores internos ou externos a temperatura não mudou muito nos últimos 400 mil anos: as temperaturas da última época glacial foram apenas 5 ºC mais frias, em média, do que no presente.

No entanto, nos últimos 200 anos, tem-se vindo a registar um violento aumento da temperatura. Em média, a temperatura da superfície terrestre aumentou de 0,6 ºC em relação à era pré-industrial, sendo que o maior incremento aconteceu nos últimos 40 anos. (…)

Tudo leva a crer que as emissões de gases de efeito estufa resultantes da actividade humana podem provocar mudanças climáticas drásticas no século XXI e seguintes, com efeitos imprevisíveis e potencialmente catastróficos para o equilíbrio planetário que conhecemos. Portugal, dada a sua grande linha de costa e a sua localização na transição das zonas climáticas atlântica e mediterrânica, é particularmente vulnerável e pode vir a sofrer danos muito sérios. (…)

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FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

A Energia, o seu uso e a dependência de Portugal

(…) Portugal tem uma dependência externa, em termos de energia primária, claramente superior àquilo que é a média da União Europeia e dos países comparáveis. O nosso país importa cerca de 84 por cento da energia que consome - 6.000 milhões de euros/ano de importações, e tem um dos piores níveis de eficiência dos 27 Estados-membros na utilização da energia, com evidentes reflexos negativos na competitividade da economia, por via da maior incorporação relativa dos custos energéticos por unidade de PIB. Importa, assim, tentar minimizar esta dependência, bem como garantir a segurança do abastecimento nacional, apostando também na diversificação de fontes.

Uma política energética moderna assenta em três vectores essenciais:

• segurança do abastecimento;

• compatibilidade ambiental;

• competitividade da economia, que tem que ver com os preços da energia, mas também com a eficiência dos seus usos e, ainda, com as formas de energia usadas tendo em conta as externalidades ambientais, que tendem a onerar os custos das energias menos limpas.

Ao contrário do que é voz corrente, Portugal é um Pais rico em recursos energéticos.

Temos sol, vento, água, biomassa e mesmo geotermia com “fartura”. É, pois, uma aberração que não apostemos decididamente nas energias renováveis e na conservação de energia.

Em ambos os casos, a equação económica é simples: substituem-se custos de funcionamento e poluição (queima de combustíveis importados) por custos de investimento, geradores de emprego, mais-valia e Investigação científica e tecnológica. A recente Directiva Europeia de Dezembro de 2008 que fixa em 20% a percentagem da energia de origem renovável no balanço global energético da União Europeia veio abrir um mundo novo de oportunidades e desafios de que Portugal muito pode aproveitar. Entre as prioridades imediatas destaco:

• A energia eólica. É a fonte de energia renovável que apresenta actualmente maior potencial de crescimento, sendo fundamental para o cumprimento das metas estabelecidas para Portugal. A capacidade instalada de energia eólica rondava, em Dezembro de 2008, os 2850 MW. O projecto industrial de produção de equipamentos e aerogeradores, de Viana do Castelo criou 1800 novos postos de trabalho directos e 6.000 indirectos, e gera mais de 200 M€/ano de exportações;

• A energia do sol, seja para o simples aquecimento de águas sanitárias, seja para a produção descentralizada de electricidade, usando a tecnologia do fotovoltaico ou a da concentração de alta temperatura. O recente desenvolvimento da microgeração de electricidade, sobretudo a partir de painéis fotovoltaicos, e a difusão dos tradicionais “painés de água quente solar” são boas notícias que é bom salientar;

• A Hídrica, que pode ter um duplo papel de produção directa de electricidade e de regulador global do sistema eléctrico, em momentos em que a oferta exceda a procura (por exemplo, durante a noite), se se fizer o seu aproveitamento recorrendo ao armazenamento que as barragens permitem, através da instalação de bombagem e de grupos reversíveis, bem como no aumento da capacidade actualmente instalada;

• A energia da biomassa, do biogás dos aterros, das ondas, geotérmica para aquecimento descentralizado, são múltiplos exemplos de oportunidades de utilizar formas descentralizadas, evitar a queima de combustíveis fósseis e criar emprego de base tecnológica;

• Há que incentivar a utilização de biocombustíveis nos transportes nomeadamente os de segunda e terceira geração, tendo contudo sempre presente que não se devem descurar os problemas inerentes ao seu ciclo integral;

• Há que implementar o que a Lei já prevê relativamente à introdução obrigatória de boas práticas energéticas na construção de edifícios e a revisão da política de transportes, com desenvolvimento dos modos “sobre carris” e a conclusão dos interfaces para passageiros e mercadorias há tanto planeados.

O desafio é urgente. É uma questão de sobrevivência ambiental e económica.

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“O impacte ambiental da energia a nível local, regional e global tende a ser expresso em parâmetros económicos. Até hoje, não se tem feito a internalização económica dos verdadeiros custos ambientais resultantes do uso da energia. Assim, o seu preço não reflecte o seu impacte e, consequentemente, não induz investimentos na sua melhor utilização.”

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A promoção do género feminino nos projectos de cooperação para o desenvolvimento, tem sido uma “moda” à qual a Fundação Evangelização e Culturas (FEC) também aderiu. Como todas as “modas” importa perceber o seu porquê, de que modo é feito e como influencia ou poderá influenciar toda a sociedade. Então, porque será assim tão importante desenvolver acções que promovam a igualdade entre homens e mulheres?

Centremo-nos no contexto da Guiné-Bissau, país onde a FEC actua desde 2001 e onde tem um papel importante na capacitação de diferentes agentes na área da educação. Este país é constituído por cerca de quinze etnias, sendo sete as principais, e muitas delas conferem à mulher um estatuto diferenciado, variando de acordo com a cultura e a religião. A diferenciação que muitas etnias fazem entre os géneros vai no sentido de travar o acesso à escolarização das mulheres, e por consequência, impedir a sua independência e autonomia face à comunidade onde vivem e à sociedade guineense em geral. Estes entraves traduzem-se primeiramente no facto das crianças do género feminino serem consideradas, principalmente para as etnias muçulmanas, mulheres muito cedo, sendo “dadas” em casamento ainda na adolescência (entre os 12 e os 14 anos sensivelmente). Outra razão prende-se com a fertilidade ser uma mais-valia perante a sociedade, pelo que as raparigas começam a ter relações sexuais precocemente e, não tendo informações sobre métodos anticoncepcionais, engravidam ainda meninas. Adicionalmente, o trabalho infantil é uma realidade muito presente, sendo estas obrigadas a trabalhar nas lavras e em casa. Quando adultas, são atribuídas funções exclusivamente a elas, tais como: assegurar as tarefas da casa, pilar o arroz para a alimentação e cuidar dos filhos ou ainda tarefas de sustento da família, como o trabalho na agricultura e a venda no mercado. Por outro lado, a escola é pouco valorizada em muitas comunidades, ou porque de facto não tem qualidade, visto que o ano lectivo é menos de 8 meses e um dia de aulas tem menos de 4 horas, o que leva a muitas reprovações e posterior abandono escolar, ou ainda porque, culturalmente, a escola não é vista como algo importante, tanto para os rapazes como para as raparigas1.

Sendo este um problema que não afecta apenas a Guiné-Bissau, o terceiro Objectivo do Milénio para o Desenvolvimento, vai precisamente no sentido de “Promover a Igualdade entre os sexos e a autonomização das mulheres”, o qual este país já contempla na Constituição da República da Guiné-Bissau. Para o Estado guineense todos os cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos na vida política, social, económica e cultural. Apesar de os direitos das mulheres estarem reconhecidos e protegidos pela lei, ainda muito falta fazer para que sejam, de facto, uma realidade2.

A FEC, que actua há 8 anos na Guiné-Bissau na capacitação de professores, directores, bibliotecários, inspectores e outros agentes educativos estatais e ligados às estruturas da Igreja Católica, tem tido esta preocupação nos diferentes projectos de cooperação que tem envergado. O exemplo mais recente é o “Projecto + Escola – Capacitação de professores, directores e comunidades” que está presente em dois núcleos nas regiões de Cacheu e Bafatá e nas regiões de Quínara, Tombali e Bolama. Este projecto tem a duração de dois anos (de Setembro de 2007 a Agosto de 2009) e nas suas diversas actividades tem privilegiado, entre outras componentes, a não-discriminação do género feminino, actuando directa ou indirectamente sobre o público-alvo.

Os professores que participam no projecto são o reflexo da sociedade guineense. Em Canchungo (região de Cacheu), em 46 professores, apenas sete são mulheres e em Bafatá, dos

1 In “Passaporte para o Futuro” – 8 Objectivos, 8 Maneiras de melhorar a sua vida e a Guiné-Bissau. (Campanha Nacional de Informação; Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento; Guiné-Bissau 2006)2 Ibidem

12FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

Promoção do género feminino na Guiné-Bissau

Grupo misto na Formação Intensiva de Matemática

Dirigente da associação CONGAI, uma defensora dos direitos das mulheres

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Ana PoçasTécnica Formadora da FEC, 2008-2009

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26 professores, existe apenas uma professora, o que ilustra bem a fraca progressão do género feminino na escola. As que conseguem chegar à docência enfrentam diversas dificuldades em conciliar a profissão com os demais encargos familiares. Uma das situações testemunhadas é precisamente a da única professora da região de Bafatá que, no início do 1º ano do projecto, foi proibida pelo marido de frequentar as formações por ter que se deslocar até à cidade e pelo facto das formações serem assistidas na sua totalidade por homens. Esta situação foi resolvida com sensibilização, através de sucessivas conversas com as pessoas importantes e mais velhas da tabanca, como o “homem grande”, o chefe da tabanca e o líder religioso. Outra situação acontece com uma professora em Canchungo, que se vê obrigada a levar o filho bebé para as aulas por não o poder deixar com mais ninguém. No entanto, existem também casos “felizes”, como é o exemplo de uma jovem que é coordenadora pedagógica de duas escolas de autogestão da Missão Católica de Catió. Esta realiza um trabalho muito válido junto dos Comités de Gestão e dos “homens grandes” das tabancas na consciencialização para as questões de género, tendo já conseguido, não só uma diminuição do abandono escolar feminino, como uma maior taxa de inscrição de meninas.

Para colmatar estas dificuldades, dando ênfase às boas práticas que já se vêm a realizar, o projecto + Escola definiu dois objectivos gerais que pretendem contribuir para a aquisição de conhecimentos e para o desenvolvimento de competências dos alunos das escolas alvo, bem como contribuir para a redução do abandono escolar da 3ª para a 4ª classes nas escolas alvo. Para o primeiro objectivo, os indicadores, isto é, os pontos de referência que o projecto tem para medir a sua eficiência são, precisamente, o aumento de 10% na taxa de aprovação das(os) alunas(os) dos professores alvo do projecto na disciplina de Língua Portuguesa e o aumento de 10% na taxa de aprovação das(os) alunas(os) dos professores alvo do projecto na disciplina de Matemática (para o segundo ano do projecto será considerada a disciplina de Ciências Integradas). Para o segundo objectivo, os indicadores são a diminuição de 5% da taxa média de abandono escolar das(os) alunas(os) que frequentam a 3ª classe nas escolas alvo do projecto. Os indicadores escolhidos espelham bem a preocupação do + Escola pelas questões de género.

Segundo o relatório de avaliação do 1º ano do projecto + Escola3, os resultados apurados apontam para uma melhoria de todos os indicadores utilizados, como deixa transparecer o seguinte quadro:

Objectivos Gerais Indicadores Resultado apurado

OG1: Contribuir para a aquisição de

conhecimentos e para o desenvolvimento de

competências dos alunos, das escolas-alvo;

OG2: Contribuir para a redução do abandono escolar da 3ª para a 4ª

classes nas escolas-alvo.

♀LP: Aumento de 10% na taxa de aprovação das alunas dos professores alvo do projecto na disciplina de Língua Portuguesa

♂LP: Aumento de 10% na taxa de aprovação dos alunos dos professores alvo do projecto na disciplina de Língua Portuguesa

♀M: Aumento de 10% na taxa de aprovação dos alunos dos professores alvo do projecto na disciplina de Matemática

♂M: Aumento de 10% na taxa de aprovação dos alunos dos professores alvo do projecto na disciplina de Matemática

♀: Diminuição de 5% da taxa média de abandono escolar das alunas que frequentam a 3ª classe nas escolas alvo do projecto

♂: Diminuição de 5% da taxa média de abandono escolar dos alunos que frequentam a 3ª classe nas escolas alvo do projecto

4,7%

3,8%

11,8%

4,25%

22%

8%

3 Relatório de Avaliação do Projecto + Escola. Setembro 2007 – Agosto 2008. FEC: Guiné-Bissau.

13FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

Irmã e Professoras de Canchungo na reunião de apresentação do 2º ano do +Escola

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14FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

Dos resultados apurados, destaca-se um aumento dos alunos com nota positiva, bem como a diminuição do abandono escolar. Para todos os indicadores verifica-se que são as raparigas, mais do que os rapazes, que beneficiam do impacto do projecto a nível local. Há ainda que notar a diminuição de 22% no abandono escolar deste grupo populacional, o que é cerca de quatro vezes mais do que estava estabelecido como meta. Para a obtenção destes resultados a FEC contou com o apoio de outras organizações que trabalham, igualmente, para a promoção do género feminino.

Para atingir os objectivos pretendidos, a FEC, através do projecto + Escola, definiu diferentes actividades nas quais são pensadas estratégias e metodologias que incentivem à reflexão e inclusão do género feminino na vida escolar e social. Uma das actividades é a organização e realização de sessões de formação de professores nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Integradas onde se formam grupos de trabalho mistos, estimulando a aceitação de professoras na representação dos mesmos.

Na actividade de observação de aulas é possível criar e desenvolver, nos professores, rotinas de solicitação para a participação dos alunos nas actividades de aulas, nomeadamente participação oral, de forma equitativa entre alunos e alunas. Apesar da grande maioria dos professores serem homens, não se nota o tratamento diferenciado entre os géneros. Aliás, muitos elogiam as alunas por estarem mais atentas e estudarem melhor as lições.

Nas sessões de formação de directores e representantes das associações das escolas, é reforçada a metodologia dos grupos mistos, por se considerar que este público-alvo tem a possibilidade de introduzir estas dinâmicas a nível local. Nos módulos de formação, mais propriamente no tema de gestão de recursos humanos, é reflectida a possibilidade de atribuição de cargos de representatividade e de gestão das actividades da escola, a ambos os géneros. Em algumas Escolas Comunitárias4 de Bafatá, por exemplo, existem dois comités de gestão, um de homens e um de mulheres, em que são elas as responsáveis pela parte financeira fazendo a recolha da mensalidade para o pagamento ao professor.

A actividade de acompanhamento de directores pretende contribuir, entre outros temas, para atenuar/ eliminar as discriminações de género, através da criação ou reformulação dos regulamentos internos, onde esteja visível esta questão. Outros temas abordados são a permanência das alunas e professoras na escola, bem como a sensibilização da comunidade para a idade de entrada na 1ª classe dos alunos (em muitos casos na puberdade em vez da infância, o que leva a que com 14 anos uma menina na 3ª classe já seja uma mulher para casar).

No que concerne às actividades relacionadas com os missionários e responsáveis por escolas privadas e de autogestão, pretende-se que, com o apoio da FEC, haja a criação de documentos que apontem, claramente, para a justiça social no tratamento das questões de género e que se projecte o papel da Igreja na luta contra a discriminação de género.

Tendo em conta o contexto guineense, a “moda” da promoção de actividades para acabar com a diferenciação de género é bastante pertinente e pode, lentamente, fazer a diferença nesta sociedade marcada pelo machismo. Atendendo à própria dinâmica social, que dificulta o acesso à educação e profissionalização das mulheres, é intenção da FEC colmatar estas restrições através da integração de mais elementos do género feminino no próximo projecto, que terá a duração de três anos5, continuando a desenvolver acções que incentivem e apelem à igualdade entre homens e mulheres. Só com uma educação de qualidade para todos é que se poderá mudar atitudes e fazer entender aos intervenientes a importância da escola para o desenvolvimento da sociedade mais justa e livre.

4 As Escolas Comunitárias são construídas pela comunidade em parceria com a ONGD Plan-GB, em tabancas onde não existem escolas públicas. A sua gestão fica a cargo da comunidade.5 Da Proposta Narrativa “Nô Djunta Mon – Ensino de Qualidade em português”. FEC: Guiné-Bissau (2008).

Observação de aulas em Cambeidare

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Os alunos da EC Gã-Fati a limpar a escola

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15FUNDAÇÃO EVANGELIZAÇÃO E CULTURASABRIL 2009 | Nº 22

Cedo ouvi falar das missões do Verbo Divino na Ásia e particularmente na China, já nessa altura assolada pela Revolução Cultural. A visita do missionário vindo dessas paragens provocava em mim um interesse e um impacto muito especiais. A missão no Oriente estava presente no meu imaginário de adolescente e de jovem.

Mas a vida é o que é, o homem põe e Deus dispõe. Após a ordenação presbiteral a missão esperava-me em Portugal nos trabalhos da Congregação; a partir de 1990 ocupou-me em Lisboa, em serviços idênticos. No entanto, procurando complementá-la com uma pastoral mais directa, nos tempos disponíveis comecei a trabalhar nas margens da sociedade, chegando ao Bairro da Quinta da Serra, no Prior Velho, e a seguir ao Bairro da Quinta do Mocho. Diante de mim tinha estrangeiros acabados de chegar em busca de melhores condições de vida; muitos eram cristãos e tinham vindo com a esperança de aqui se encontrarem em casa, no meio de irmãos. Da minha parte era o momento para confirmar isso, ou para actuar nesse sentido.

A indiferença, o preconceito, a desconfiança, a marginalização constituíam, porém, a negação daquilo que antes lhes fora anunciado; junte-se ainda as dificuldades que encontravam, as incompreensões, o aproveitamento das suas fragilidades. Tudo isso me interpelava e desafiava a não entrar na corrente, procurando criar sinais de compromisso por parte da comunidade.

Tinham-me ensinado que o primeiro procedimento do missionário consistia em, antes de ensinar, procurar aprender. Vi que não deveria ser o “caixeiro viajante” do Evangelho pronto a convencer os interlocutores; apenas desejava ser o irmão que tenta conhecer a sua situação, compreender as razões da sua vida e, só depois, partilhar com ele algo do que tinha recebido. Naquele momento pareceu-me estar ao meu alcance ajudá-los na alfabetização para que pudessem “ler a vida com os seus olhos e escrever a história com as suas mãos”; julgo que foi o melhor método: não me apresentei

como padre, mas dentro de poucos dias já grande parte me reconhecia como tal; não lhes pregava nada e em pouco tempo as suas vidas, com coisas belas e com outras dolorosas, vinham ao meu encontro, para um partilhar, para um esclarecimento ou orientação. Não era de coisas que

A África veio ao meu encontro

eles precisavam; precisavam sim de serem respeitados como pessoas e como irmãos.

Com essas linhas fomos cosendo o tecido da nossa intervenção, começando na facilitação da sua autonomia, passando para o apoio escolar aos mais novos, não esquecendo a promoção cultural para salvaguardar tesouros em risco de se perderem, estando presentes

no encaminhamento para tudo o que é importante na vida, como a legalização, os cuidados de saúde, o acesso a condições mínimas de habitação, a integração no corpo social. Sem meios financeiros, lidando por vezes com poderes mais

preocupados com o formal e preconizando o óptimo enquanto se descomprometiam com o possível, apoiámo-nos na força da dignidade e da liberdade para afirmarmos a primazia da pessoa sobre a própria lei, que por vezes deixava de ter sentido e ofendia os princípios em que se fundamentava.

Mas, ao mesmo tempo, procurando as raízes dos problemas para sobre elas actuarmos, éramos conduzidos aos países de origem ou aos centros de decisão deste Norte enriquecido e interessado no Sul apenas enquanto dele puder tirar proveito.

Essa visão e essa dinâmica continuam hoje a animar-nos e a fazer-nos procurar novas formas de anunciar a Boa Nova neste mundo que é o único onde podemos ser nós mesmos e realizar a missão. É essa visão que, no serviço paroquial, procuramos partilhar com todos, nacionais e estrangeiros, como fundamento para uma Igreja que, muito mais do que estrutura patrimonial ou administrativa, deve ser uma tentativa de construção do Reino, o mundo como Deus propõe.

Pe. Valentim GonçalvesMissionário do Verbo Divino

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“Tinham-me ensinado que o primeiro procedimento do

missionário consistia em, antes de ensinar, procurar

aprender.”

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PENSAR É AGIR

Page 16: Boletim - Igrejas Lusófonas - 22

10 Anos de Rádios em CooperaçãoO projecto de Rádios em Cooperação promovido pela FEC, em parceria com o Grupo Renascença, celebra 10 anos de

encontro de vozes e culturas no seio da realidade dos países lusófonos, numa lógica de parceria entre rádios de inspiração cristã.

Este projecto deu origem em 1999 ao programa Igreja Lusófona (em 2008 passou a chamar-se Luso Fonias). A primeira emissão a 23 de Fevereiro de 1999 com D. Zacarias Kamwenho, Arcebispo do Lubango e, na época, Presidente da Conferência Episcopal de Angola, teve como mote de conversa a Campanha de Fraternidade – II Encontro de Igrejas Lusófonas, que marcou assim o início de cerca de 500 emissões.

Após nove anos de emissões na Renascença Regiões Lisboa, em Setembro de 2008 o Luso Fonias passou a ser transmitido em FM pela Rádio SIM, um novo canal lançado pelo Grupo Renascença.

Este programa semanal que incide sobre a realidade dos países de expressão portuguesa e funciona como um meio de inter-conhecimento e comunhão.

4171 Presentes angariados!Mais uma vez, a campanha Presentes Solidários provou ser um sucesso na época natalícia. A FEC conseguiu angariar um total de 4171 presentes que serão entregues aos seus destinatários. Mesmo numa altura de crise generalizada, esta campanha conseguiu superar os números obtidos nas campanhas anteriores e, assim, contribuir para um Natal solidário.

Cerca de 1000 pessoas aderiram a esta campanha e surpreenderam os seus amigos, colegas e familiares com estes presentes diferentes. A campanha angariou 491 Chapas de Zinco para Angola, 291 Passes Escolares para Cabo Verde, 335 Maletas de Parto para a Guiné-Bissau, 1173 Cobertores para Moçambique, 178 Filtros de Água para o Brasil, 398 Kit’s de Contrução para Timor-Leste e 1329 Mochilas e Estojos Escolares para São Tomé e Príncipe.

FEC inaugura novo websiteCorrespondendo à crescente necessidade de partilhar mais conteúdos com os seus parceiros e com o público em geral, a FEC lançou, no passado dia 13 de Março, um novo sítio na internet em www.fecongd.org no dia em que comemorou 19 anos de actividades em prol da cooperação no mundo lusófono.

As mudanças não se encontram só na “cara”. Estruturalmente, este novo site possibilita ao utilizador navegar de forma mais simples e organizada por todo o universo FEC. O programa Luso Fonias recebe uma página dedicada, onde por exemplo poderá ouvir todos os programas online. A área do Voluntariado Missionário possibilita a todos os interessados nesta temática pesquisar as várias entidades que fazem parte desta Plataforma promovida pela FEC. Na secção da Plataforma das Igrejas Lusófonas estão congregadas as conclusões de todos os Encontros das Igrejas Lusófonas realizados e um mapa-mundo que irá sendo actualizado para cada Diocese, permitindo ao utilizador pesquisar os contactos das várias Igrejas lusófonas espalhadas pelo mundo.

O novo site FEC é dinâmico e existe para servir todos quantos se interessam pelas temáticas ligadas a uma crescente cooperação entre entidades que promovam o desenvolvimento, designadamente nos países lusófonos.

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Nº 22FICHA TÉCNICAEDIÇÃO E PROPRIEDADE: Fundação Evangelização e Culturas | Quinta do Cabeço, Porta D | 1885-076 MoscavideTelf: (+351) 21 886 17 10 | Fax: (+351) 21 886 17 08 | [email protected] | www.fecongd.orgDIRECTOR: José Martins Maia | EDITOR: Adelaide Elias DESIGN GRÁFICO: Marisa Gomes | PAGINAÇÃO: Emanuel OliveiraDEPÓSITO LEGAL: 236835/05 | REGISTO E.R.C.: 125620 | TIRAGEM: 1500 exemplares

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