Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação nº 02 · Periodicidade Bimestral ... Ficha de...

32
Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014 Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação nº 02 Periodicidade Bimestral Organização: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Editor-chefe: Sergio Fernando Zavarize Co-editora: Solange Muglia Wechsler

Transcript of Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação nº 02 · Periodicidade Bimestral ... Ficha de...

15

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Boletim Ibero-americano de

Criatividade e Inovação

nº 02

Periodicidade Bimestral

Organização:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO

Editor-chefe: Sergio Fernando Zavarize Co-editora: Solange Muglia Wechsler

16

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

SUMÁRIO

Editorial Tatiana de Cássia Nakano

17

PESSOAS CRIATIVAS REAGEM MELHOR A DOR

Sergio Fernando Zavarize

18

O PROGRAMA PARA SUPERDOTADOS DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL

Angela Virgolim

19

EL METODO CIENTÍFICO COMO MODELO EDUCATIVO MUSICAL I

Pilar Garcia Calero

21

CRIATIVIDADE DIGITAL

João Lins

29

CREATIVE EDUCATION FOR GIFTED CHILDREN

Fernanda Hellen Ribeiro Piske

32

ESTILOS DE PENSAR E CRIAR EM GERENTES DE EMPRESAS PAULISTAS

Maria Célia Bruno Mundim; Solange Muglia Wechsler; Evelin Martins

33

Vale a pena ler CRIATIVIDADE NA ESCOLA

34

CREATIVIDAD Y FORMACIÓN RADICAL E INCLUSIVA: CUANDO LA CREATIVIDAD NO SIRVE PARA NADA

INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA EN LA CREACIÓN ARTÍSTICA

35

35 O QUE LEVARIA UMA ALDEIA A SAIR DA MESMICE?

36

Eventos na área XIII FÓRUM INTERNACIONAL DE CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO: CRIATIVIDADE & INOVAÇÃO: PROBLEMA MUNDIAL, SOLUÇÕES LOCAIS!

Sebastião Fernando Viana VI FORUM INTERNACIONAL DE INNOVACIÓN Y CREATIVIDAD: Escuelas y aulas creativas

40 42

Reunião de Pesquisadores AVALIAÇÃO EM PSICOLOGIA POSITIVA E CRIATIVIDADE – ANPEP

Solange Muglia Wechsler

43

Sites interessantes

44

Chamada para a próxima Edição

46

17

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Editorial

Tatiana de Cássia Nakano Pontifícia Universidade Católica de Campinas Presidente Eleita para a Gestão 2014-2016 da CRIABRASILIS E-mail: [email protected]

Percebe-se, na literatura científica,

uma atenção cada vez maior ao conceito de

inovação e seu enfoque multidisciplinar, de

modo que pesquisas acerca desse fenômeno

têm sido desenvolvidas em diversas áreas de

conhecimento, incluindo, por exemplo,

administração, educação, economia,

psicologia e sociologia, dentre outras. Dada a

globalização dos negócios e a tendência para

a ampliação da atividade inovadora através de

fronteiras, tornou-se cada vez mais

importante que haja uma compreensão da

relação entre os processos de criatividade e

inovação, dada sua importância não só para a

performance individual e organizacional, mas,

também, para o sucesso econômico e

desenvolvimento social em nível global,

considerando-se, principalmente, que a

criatividade tem sido apontada como o

determinante mais importante dos processos

de inovação.

Atentos a esse movimento, deu-se a

fundação, em 2004, da Associação Brasileira

de Criatividade e Inovação, a qual acaba de

completar, no último dia 21 de abril, 10 anos de

existência. Um balanço das atividades

desenvolvidas pela associação nesse período

aponta para a contribuição de profissionais

das mais diferentes áreas tanto na diretoria da

Criabrasilis quanto no seu quadro de membros

(psicologia, engenharia de produção, artes

plásticas, gestão, design, fisioterapia,

educação, recursos humanos, engenharia civil,

jornalismo, farmácia, educação ambiental,

serviço social, dentre outras). Aponta também

para a realização do I Congresso Internacional

de Criatividade e Inovação em 2011,

participação dos membros em importantes

eventos nacionais e internacionais,

organização de um livro (Da criatividade à

inovação) e, mais recentemente, o

lançamento de um boletim Ibero-Americano.

Os próximos desafios envolvem, para

a diretoria que assume em 2014, não só a

consolidação e divulgação da Associação mas

também a realização de um segundo

congresso.

Ideias, sugestões e ajuda são bem

vindas !!!!

18

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

PESSOAS CRIATIVAS REAGEM MELHOR A DOR

Sergio Fernando Zavarize

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

E-mail: [email protected]

Em pesquisa que fez parte de um

programa de doutorado pela PUC de

Campinas, pôde-se constatar que pessoas com

características criativas reagem melhor à dor

crônica e às doenças de maneira geral. É

frequente observar, por meio de uma longa

experiência com pacientes portadores de dor

crônica, os mais variados tipos de

comportamentos. Alguns pacientes se

entregam a dor e vivem restritos aos limites

que ela lhes impõe. Outros, que entendemos

serem os mais criativos, tentam adaptar suas

vidas a esses limites por meio de diferentes

estratégias.

Particularmente em relação à dor,

existem principalmente dois tipos de pessoas.

Do primeiro tipo, fazem parte aquelas pessoas

que ao sentirem dor tomam medicamentos

dos mais variados e, muitas vezes,

incorretamente se automedicam, fazem

compressas de calor ou frio, passam pomadas,

fazem repouso, isto é, focam no sintoma da

dor. Algumas praticamente se entregam

diante de qualquer “dorzinha”.

Já no segundo tipo, fazem parte

aquelas pessoas que procuram reagir à dor de

outras formas, geralmente contrárias,

divergentes ou inovadoras em relação ao que

sentem. Esses indivíduos, diante de quadros

de dor muitas vezes crônicos, procuram

direcionar seu foco para outras coisas.

Começam a fazer aulas de pintura, de costura,

de artesanato, de música, dentre outras.

Alguns iniciam atividades de lazer como

caminhadas leves, exercícios de Pilates, Yoga,

meditação e alongamentos. A leitura, o

cinema e as reuniões sociais com os amigos,

também fazem parte desse arsenal de

estratégias que esses indivíduos adotam para

enfrentar o problema da dor crônica e tentar

esquecê-la.

O que se observou na pesquisa citada,

é que os indivíduos do segundo tipo de

pessoas, aqueles que procuram realizar coisas

diferentes para desfocar da dor, foram

avaliados como mais criativos do que os do

primeiro tipo. Estas pessoas apresentaram

também, índices menores de dor que o outro

grupo e ainda uma melhor qualidade de vida.

Portanto, as pessoas criativas têm

certas características de personalidade e um

jeito um pouco diferente de ver a vida e

encarar os problemas. A criatividade está

ligada a ação, à tendência individual de se

movimentar no mundo de maneira própria,

inovadora e produtiva, podendo ser capaz de

transformar o cotidiano desses indivíduos. A

pessoa criativa tende a buscar alternativas

para todas as situações e problemas,

independente do grau de dificuldade.

19

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

O PROGRAMA PARA SUPERDOTADOS DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL

Angela Virgolim

Departamento de Psicologia Escolar e do

Desenvolvimento da Universidade de Brasília

E-mail: [email protected]

Um dos grandes passos dados no

Brasil em direção a uma Política Nacional de

Educação Especial foi, sem dúvida alguma, a

implementação dos Núcleos de Atividades de

Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S)

pelo Ministério da Educação em 2005. O

programa, desenvolvido em todas as unidades

da Federação, em parceria com as Secretarias

de Educação, tornou-se tema amplamente

debatido em seminários, encontros,

congressos e cursos para a formação

continuada de professores da educação

inclusiva. Em 2007, com o intuito de subsidiar

as ações voltadas para a área e difundir

informações para auxiliar nas práticas de

atendimento ao aluno com altas habilidades/

superdotação, a Secretaria de Educação

Especial do MEC publicou uma série de quatro

volumes de livros didático-pedagógicos

denominados “A construção de Práticas

Educacionais para Alunos com Altas

Habilidades/ Superdotação”. Com estes

volumes, o MEC visava basicamente oferecer

atendimento educacional especializado com

atividades suplementares para: (a) aprofundar

e enriquecer o currículo, com vistas a ampliar

e diversificar os conhecimentos que

despertam curiosidade e interesse nos alunos;

(b) promover a inclusão educacional e social;

(c) estimular o pensamento produtivo e

criativo; (d) desenvolver potencialidades e

habilidades específicas; (e) propiciar

experiências de resolução de problemas,

formulação de hipóteses; e (f) promover o

ajustamento de diferentes áreas de

desenvolvimento (Barbosa, 2007).

[http://portal.mec.gov.br/index.php?option=c

om_content&view=article&id=12679:a-

construcao-de-praticas-educacionais-para-

alunos-com-altas-

habilidadessuperdotacao&catid=192:seesp-

esducacao-especial&Itemid=860].

Buscando um aporte teórico que

abarcasse todas essas possibilidades, o MEC

adotou então o Modelo de Enriquecimento

Escolar (The Schoolwide Enrichment Model –

SEM), resultante do trabalho pioneiro do Dr.

Joseph Renzulli na década de 70, validado por

mais de vinte anos de pesquisas empíricas

(Renzulli & Reis, 2000). Este Modelo se

encontra ancorado em três pilares: (a) O

Modelo dos Três Anéis, que basicamente

fornece os pressupostos filosóficos utilizados

pelo SEM; (b) o Modelo de Identificação das

Portas Giratórias, que fornece os princípios

para a identificação e formação de um Pool de

Talentos; e (c) o Modelo Triádico de

Enriquecimento, que implementa as

atividades de Enriquecimento para todos os

alunos no contexto escolar.

No Distrito Federal, o Programa para

Superdotados da Secretaria de Estado de

Educação se destaca como vanguarda neste

tipo de atendimento, inicialmente implantado

em 1976. O programa é desenvolvido em

escolas públicas, sendo sete salas de recursos

especializadas em Brasília (Plano Piloto-

Cruzeiro) e 10 salas distribuídas nas cidades

satélites do entorno, com 30% das vagas

destinadas a alunos provenientes de escolas

20

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

particulares. Os alunos frequentam a sala de

recursos uma vez por semana no contra turno

da escola regular. O estudante tem ingresso

ao programa por vias diversas, tendo sido

predominante a indicação da escola, da família

ou de profissional da saúde.

A efetivação da matrícula se dá em

duas fases: a Primeira, chamada de

Qualificação da identificação, é o momento

em que o professor itinerante organiza a

documentação, verifica o preenchimento da

Ficha de Indicação, laudo psicológico (para os

alunos de escola particular) e outros

documentos anexados. Ele também faz o

acompanhamento do desempenho do aluno

na escola regular e busca subsídios para sua

indicação, colocando-o na fila de espera, caso

haja insuficiência de vagas. Na segunda fase se

dá o Encaminhamento para o Período de

Observação. O professor itinerante repassa as

fichas de identificação para o psicólogo, que

por sua vez realiza a reunião de acolhimento

da família. O aluno é então convidado a

participar do Programa por um período de 4 a

16 semanas, durante o qual ele participará de

todas as atividades rotineiras daquela sala de

recursos. O psicólogo, o professor

especializado e o professor itinerante avaliam

independentemente o aluno durante este

período, observando-o no desenvolvimento

de projetos e atividades, no contato social e

em atividades de lazer. Nos casos de altas

habilidades na área acadêmica, o psicólogo

poderá, se for necessário, utilizar testes

psicológicos para este fim; na área de talento

artístico, prescinde-se dos testes psicológicos,

sendo a avaliação feita pelo professor

especializado na área de artes. Além disso,

busca-se delinear os interesses do aluno, suas

áreas fortes, seu estilo de aprendizagem e

formas preferenciais de aprender.

Ao final desta etapa dá-se a devolutiva

com os pais, na qual o aluno que tem

confirmado sua potencialidade para as altas

habilidades, ou demonstra comportamentos

de superdotação (incluindo potencial para o

desenvolvimento de habilidade superior em

alguma área, grande comprometimento com a

tarefa e criatividade) é convidado a

permanecer no programa. O aluno que ainda

não apresenta comportamentos (manifestos

ou em potencial) de superdotação é

convidado a retornar em outra ocasião,

quando os indicadores estiverem mais visíveis

e sinais de motivação, persistência e

comprometimento se tornarem mais

evidentes. O aluno é avaliado continuamente

durante o desenvolvimento de projetos e

atividades do Tipo I, II e III (de acordo com o

modelo teórico SEM) e continua no programa

enquanto estiver motivado para as atividades

e demonstrar ganhos com sua participação.

Os pais participam de reuniões com

professores e psicólogos e compartilham suas

expectativas, receios e interesses. Os

professores recebem capacitação continuada

durante toda a sua estada no Programa, tendo

oportunidades para participar de cursos de

aperfeiçoamento, encontros e simpósios na

área, almejando sua qualificação profissional.

Professores do Departamento de Psicologia

Escolar e do Desenvolvimento da

Universidade de Brasília contribuem com

treinamento, capacitação e supervisão de

estagiários, numa atividade contínua e

enriquecedora. Além disso, o programa

recebe apoio institucional especializado do

Conselho Brasileiro para Superdotação

(ConBraSD – www.conbrasd.org), da qual é

associado.

Desta forma, o Programa para

Superdotados da Secretaria de Estado de

Educação do Distrito Federal tem ganhado

força e visualização entre os outros estados,

compartilhando com outros NAAH/S sua

grande experiência na área das altas

habilidades/superdotação.

21

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

EL METODO CIENTÍFICO COMO MODELO EDUCATIVO MUSICAL I THE SCIENTIFIC METHOD LIKE EDUCATIONAL MUSICAL MODEL I

Pilar G. Calero

Doctora en pedagogía

Catedra Piano CSM de Sevilla / Investigadora Universidad de Sevilla

E-mail: [email protected]

RESUMEN

Es importante que la enseñanza

musical potencie el desarrollo de la creatividad

artística y del método de investigación como

complemento a la experimentación propia,

concibiéndola no como un arte aislado, sino

como hija de su tiempo en interacción con las

artes de la época en la que vivimos que se

encuentran en una continua y mutua

interinfluencia; para ello es preciso trabajar los

aspectos comunes de los procesos de creación

contemporáneos generados a partir de esta

simbiosis de factores científicos y artísticos,

que parten de la experiencia y el intelecto,

apoyando en el análisis de los datos los

resultados científicos. Además se hace

necesario innovar en métodos de diagnóstico

que sirvan para aportar datos a la

investigación musical, confeccionados desde

diversas percepciones sensibles y cognitivas.

Así, el método científico se configura como

fundamento de la educación musical,

potenciador de construcción del propio

conocimiento y la creación de la propia

interpretación.

Descriptores: Música, creatividad,

experimentación, método científico,

diversidad.

ABSTRACT

It is important that the musical

education promotes the development of the

artistic creativity and of the method of

investigation as complement to the own

experimentation, concibiéndola not as an

isolated art, but as daughter of his time in

interaction with the arts of the epoch in which

we live that they are in a continuous and

mutual interinfluence; for it there is precise to

work the common aspects of the

contemporary processes of creation

generated from this symbiosis of scientific and

artistic factors, which depart from the

experience and the intellect, resting on the

analysis of the information the scientific

results. In addition it becomes necessary to

innovate in methods of diagnosis that serve to

contribute information to the musical

investigation, made from diverse sensitive and

cognitive perceptions. This way, the scientific

method is formed as foundation of the

musical education, potenciador of

construction of the own knowledge and the

creation of the own interpretation.

Key works: Music, creativity,

experimentation, scientific method, diversity.

22

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

1-CAMINANDO HACIA LA EVOLUCIÓN

DEL ARTE:

El primer paso para esta adaptación a lo

singular de cada uno, es el fomento de la

creatividad intrínseca del discente desde el

ámbito educativo. Sin el cultivo de esta

capacidad creativa interna es prácticamente

imposible generar actitudes que induzcan a la

fantasía, a la experimentación diferente, a la

solución divergente de problemas, a la

construcción del conocimiento y, como

consecuencia al pensamiento divergente

como hábito, base de la creación.

1.1-La Creatividad y las Inteligencias

múltiples como base del desarrollo educativo

innovador en el Arte.

Ser creativo, para algunos, encierra una

serie de características propias del ser

talentoso, en el que esta capacidad es casi

genética; pero, el poder creador abunda en

mentes con pocos mecanismos de represión,

sensibles a sus elaboraciones con gran

empatía con la gente y amplia penetración en

todo lo desconocido; y estos individuos de

gran curiosidad intelectual disciernen y

observan de manera diferente a los demás,

están siempre alertas, poseen amplia

información que pueden armonizar, elegir y

sintetizar para resolver problemas de manera

creativa; el ser creativos, por tanto, involucra

nuestros sentidos y nuestra mente en un

proceso sin fin por el cual buscamos una

mayor calidad en lo cotidiano (Tannenbaum,

1991).

La creatividad es inteligencia no sólo

para problemas específicos sino para hacer

mejor la vida misma. El aprender para

aprender lleva consigo el aprender para

desaprender y volver a aprender. Hay cambios

deseables y cambios inevitables, y en la

necesidad de los cambios, la creatividad lleva a

replantear las situaciones incluyendo los

cambios ya establecidos; por eso la

creatividad consiste en abrir la percepción,

generar alternativas y después elegir entre

ellas; implicando en el proceso a la

percepción, lo sensorial, las ideas, los

sentimientos, etc..; supone abrirse hacia fuera

y hacia dentro, abrirse a la experiencia (Torre

de la, 1984).

Por tanto, las consecuencias de este

modo de concebir la creatividad nos llevan a la

concepción de un constructivismo de la propia

persona, que en esa apertura mental la sitúan

en una situación de constante evolución

interior, con lo cual el aprendizaje se convierte

en todo un arte, en algo a lo que tiene que

llegar la persona por sí misma en un continuo

esfuerzo por encontrar soluciones

divergentes. Así, plantearse en educación el

desarrollo de la creatividad es pensar en un

trabajo que desarrolle la inteligencia

divergente a través de los diversos procesos

de solución de problemas, como defendió en

1996 De Corte.

La otra aproximación teórica implicada

en esta investigación correspondió al

esquema conceptual de Sikora (Sikora,

Jvachim, 1979), quien aporta una comprensión

del proceso creativo, donde se concibe la

creatividad como una serie secuencial de

estados de actividad, cada una de las cuales

hace una contribución específica a la totalidad

del proceso.

23

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

Figura 1: Proceso creativo para el aprendizaje. Elaboración propia desde la investigación

A partir de estos estudios (Guildford,

1978), Guilford distinguió varias características

relacionadas directamente con el

pensamiento creativo, que emergen como

habilidades centrales en el proceso creador;

estas son las de fluidez, flexibilidad y

originalidad, definidas de la siguiente forma:

Características pensamiento creativo

-Fluidez: la capacidad para dar varias o múltiples respuestas válidas a un problema.

-Flexibilidad: implica una capacidad básica de adaptación en contraposición a un estilo rígido, y

está referida al manejo de variadas categorías de respuesta frente a una situación.

-Originalidad: la capacidad de emitir respuestas, que además de ser consideradas válidas,

resulten nuevas, novedosas, inesperadas y que por lo tanto, provoquen un cierto impacto o impresión.

Al respecto, Corazza (2004), basándose

en la idea del pensamiento divergente de

Gildford, Vaughan, Webster y Gorder,

considera que la fluidez se consigue con la

capacidad de producir diferentes ideas

musicales en un breve plazo de tiempo, la

flexibilidad en la elaboración de un nº

considerable de frases con contenido musical

diferente, y la originalidad con la producción

sonora de ideas musicales poco comunes.

Además, Trigo (1999) añade otra serie

de características que son de interés en este

trabajo.

24

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Otras características creativas

-La elaboración: rasgo de la creatividad que hace referencia a la realización de la respuesta, de

su acabado final, del cuidado y no de detalles incorporados para llevar a cabo la idea.

-El análisis: capacidad para descomponer mentalmente una realidad en sus partes;,

contemplando aspectos que unidos en lo real se distinguen en lo conceptual.

-Apertura mental: significa estar abierto a superar cualquier solución, es decir, aclarar,

fundamentar e ir más allá.

-La comunicación: rasgo típico del comportamiento creativo, porque el ser humano se expresa

comunicándose con los demás y dentro del proceso creativo.

-La sensibilidad para los problemas: sólo quien es capaz de ver los problemas evita un exagerado

planteamiento de la situación o un desenfoque dirigido por temores, fobias u oposiciones.

-La redefinición: capacidad de encontrar usos, funciones, aplicaciones diferentes a las

habituales; se trata de mostrar un objeto y formular un mayor nº de respuestas para agotar el ámbito de las posibilidades de utilización del mismo.

En otro sentido, Carter (1998) dibuja el

circuito de los estímulos emocionales,

partiendo de la base de que la emoción

consciente se genera, tanto directa como

indirectamente, por señales desde la amígdala

hacia la corteza frontal; la vía indirecta implica

al hipotálamo, que manda señales hormonales

al cuerpo para generar cambios físicos, y estos

cambios son enviados de vuelta a la corteza

somatosensorial, que lo envía a la corteza

frontal, donde es interpretada como emoción.

Figura 2: proceso cerebral de los estímulos emocionales. Elaboración propia desde la

investigación

25

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Gardner (2001), además, propone la existencia de siete inteligencias específicas del ser humano.

Inteligencias múltiples

1-La inteligencia lingüística: supone una sensibilidad especial hacia el lenguaje hablado y escrito,

la capacidad para aprender idiomas y de emplear el lenguaje para lograr determinados

objetivos.

2-La inteligencia lógico-matemática: supone la capacidad de analizar problemas de una manera

lógica, de llevar a cabo operaciones matemáticas y de realizar investigaciones de una manera científica, de tal modo que los matemáticos, los lógicos y los científicos emplean este tipo de inteligencia.

3-La inteligencia musical: supone la capacidad de interpretar, componer y apreciar pautas

musicales; es prácticamente análoga a la inteligencia lingüística, desde el punto de vista estructural.

4-La inteligencia corporal cinestésica: supone la capacidad de emplear partes del propio cuerpo o

su totalidad para resolver problemas o crear productos; y es propia de los bailarines, los actores y los deportistas, siendo de vital importancia también para los artesanos, los cirujanos, los científicos de laboratorio, los mecánicos y otros profesionales de orientación técnica.

5-La inteligencia espacial: supone la capacidad de reconocer y manipular pautas en espacios

grandes (como el mar y el espacio), o en espacios pequeños (como un hospital, un estudio..).

6-La inteligencia interpersonal: denota la capacidad de una persona para entender las intenciones,

las motivaciones, los deseos ajenos, y en consecuencia, su capacidad para trabajar eficazmente con otras personas; es propia de los vendedores, los educadores, los médicos, los líderes políticos y religiosos, los actores.

7- La inteligencia intrapersonal: supone la capacidad de comprenderse a uno mismo, de tener un

modelo útil y eficaz de uno mismo, y de emplear esta información con eficacia en la regulación de la propia vida.

El mismo autor, en otras

investigaciones posteriores descubre la

existencia de otras 3 inteligencias no

valoradas hasta la fecha, a las que,

posteriormente, añade una 4ª:

8-La inteligencia naturalista: caracteriza al experto en reconocer y valorar las numerosas especies

de su entorno (flora y fauna); es decir se trata de personas con un profundo conocimiento del mundo viviente.

9-La inteligencia espiritual: refleja el deseo de tener experiencias y conocer entidades cósmicas

que no son fáciles de percibir en un sentido material pero que, parecen tener importancia para los seres humanos; también se refiere a las personas que son capaces de entrar en contacto con los trascendental así como experimentar fenómenos psíquicos, espirituales o noéticos (como es el caso de los místicos, los yoguis, etc..); además, ciertas personas se consideran espirituales por los efectos que pueden ejercer sobre los demás mediante su actividad, o por su propia manera de ser.

26

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

10-La inteligencia existencial: trata de la capacidad de situarse uno mismo en relación con las

facetas más extremas del cosmos (lo infinito y lo infinitesimal) y la capacidad afín de situarse uno mismo en relación con determinadas características existenciales de la condición humana, como el significado de la vida y de la muerte, el destino final del mundo físico y el mundo psicológico y ciertas experiencias como sentir un profundo amor o quedarse absorto ante una obra de arte.

11-La inteligencia de los creadores y los líderes: Csikszentmihalyi (citado por Gardner), llega a la

conclusión de que la creatividad es el resultado de la interacción de tres elementos: un creador potencial con sus talentos, sus debilidades y sus ambiciones personales; un ámbito de actividad que exista en la cultura; un campo o conjunto de personas o instituciones que juzguen la calidad de las obras producidas.

Pero a estas capacidades personales,

hay que sumar otros factores que influyen

directamente en el desarrollo humano. Así, se

considera también que los seres humanos

aprendemos constantemente, a veces de la

propia realidad, pero hay procesos de

aprendizaje demasiado complejos si no se

organizan contextos específicos en los que se

enseñe lo que se debe aprender (Gardner,

2002). Y es esta organización de contextos

específicos de aprendizaje, que resuelve el

problema de los aprendizajes complejos, la

que a su vez desaprovecha la capacidad

natural de aprender y crea una gran distancia

entre los aprendizajes naturales y los

específicamente planificados (Estebaranz,

2000). Pero también es posible que en

situaciones informales se adquiera

conocimiento abstracto; al respecto, Neal y

Hesketh (1997) definen el aprendizaje

implícito como la adquisición de conocimiento

abstracto que ocurre fuera de la conciencia, o

al margen del control intencional.

Un modelo de enseñanza para el cambio

ha de ser holístico en sus metas, integrador en

sus planteamientos, adaptativo a contextos y

sujetos, polivalente en las estrategias y

evaluación, porque educar es un acto creativo,

constructivo, transformador.

Continuando en esta idea, Pablos Pons

(1996) aclara que las acciones humanas están

empotradas en actividades socioculturales

que funcionan como un contexto para las

acciones humanas. Al respecto, de la Torre

(1997) dice que el sistema y dimensiones del

cambio es polivalente, ya que ha de producirse

a nivel ideológico y político (dimensión

constitutiva), a nivel institucional y cultural

(dimensión contextual), a nivel social y

tecnológico (dimensión instrumentadora).

Además, mantiene que el desarrollo de la

innovación no es una curva creciente al modo

de la del coeficiente de inteligencia, sino una

curva ondulada determinada por factores

humanos. Pero estos factores humanos

también han de contabilizarse en el método

científico.

1.2-El método científico como

responsable de la evolución educativa en el

Arte.

Todos estos factores, unidos al hecho

del gran avance producido en el

descubrimiento del comportamiento de las

diversas áreas del cerebro y sus consecuencias

en los procesos y significado del

conocimiento, hace que la Educación en

general se vea en la necesidad de involucrarse

en el método científico para establecer su

base. Esta educación ha de tener una clara

dirección, dentro del respeto a las diversas

personalidades y cualidades que deberá

desarrollar íntegramente en un intento de

unificación de la personalidad humana: por un

lado hay que desarrollar las destrezas y

27

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

capacidades para las que se tiene facilidad y

por otro hay que potenciar aquellas

cualidades personales menos idóneas; todo

ello a favor del desarrollo integral de la

persona dentro del contexto adecuado.

Aunque se conoce la importancia de la

actividad investigadora en diversos ámbitos,

no se aplica aún de un modo asiduo,

generalizado y científico en algunos ámbitos

educativos, sabiendo que es un eje

fundamental en el desarrollo evolutivo de la

Educación y elemento imprescindible para la

construcción del conocimiento. García y García

(2000) consideran la investigación científica

cuando está enmarcada en teorías y marcos

conceptuales característicos de la Ciencia y se

centran en la descripción y explicación de la

realidad. Además, considera problemas

cotidianos los enmarcados en el conocimiento

ordinario de cada individuo, cuyo objetivo es

actuar en la realidad inmediata. Pero esta

actividad requiere de un nuevo tipo de

conocimiento, denominado significativo y

construido a través de la reestructuración

activa y continua de la interpretación que se

tiene del mundo. Desde esta perspectiva,

cualquier situación novedosa moldea las ideas

del individuo, construyendo nuevo

conocimiento. Por consiguiente, para estos

autores la investigación sería una estrategia

más en el conjunto de la programación,

principio orientador de las decisiones

curriculares, integrando diferentes recursos y

estrategias de enseñanza, posibilitando el

aprendizaje de procedimientos, destrezas y

conceptos.

Por eso, y para iniciar esta visión de la

metodología, en las disciplinas artísticas se

hace necesario un método diagnóstico

peculiar que, partiendo de la experiencia

sensible conduzca al alumno a una

exploración interna que sirva de impulso para

el desarrollo de sus capacidades.

1.2.1-Objetivos

-Impulsar y aplicar la utilización de un

método diagnóstico basado en la percepción

sensorial con el fin de encauzar el aprendizaje

de los procesos creadores y el desarrollo de

las capacidades individuales.

-Potenciar el desarrollo de diversas

capacidades humanas como parte de la

formación integral del discente, partiendo del

diagnóstico, el enfoque del nuevo mapa de

inteligencia musical, y del contexto educativo

apropiado.

-Abrir nuevas vías de investigación

musical.

1.2.2-Metodología:

-Se ha basado en los métodos de

investigación-acción adaptados a las prácticas

artísticas. La investigación-acción desde una

perspectiva crítica, científica y de procesos,

basada en el desarrollo interno neurológico

que parte de la autoexploración diagnóstica y

el desarrollo del proceso creador como

experiencia artística.

-La investigación cualitativa

experimental que induce a nuevas prácticas

artísticas de fomento de la creatividad en la

aplicación de los conocimientos, partiendo del

diagnóstico y desarrollando capacidades

humanas que se integran en el nuevo mapa de

la inteligencia musical. Uno de los medios es el

estudio de casos. El caso único y el caso

instrumental. Además de sumar el estudio de

dos procesos: el neurológico interno

(organizando los procesos naturales) y el

innovador (organizando la disposición del

trabajo el modo creativo).

-Desde el punto de vista metodológico,

existen unos rasgos de fondo de la actividad

investigadora promovidos por la

comunicación interpersonal; estos son: un

posicionamiento pragmático con respecto a la

forma de entender el conocimiento científico,

y la toma de conciencia de la necesidad de

conectar las metodologías con los cuerpos

28

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

teóricos. Además, la mirada transdisciplinar se

proyecta en la religación de los saberes,

siendo la tecnociencia la demostración de la

complementariedad entre los conocimientos

científico y tecnológico (Torre de la, Moraes,

Tejada ,Puyoll, 2011).

Referencias:

Carter, R. 1998. El nuevo mapa del

cerebro. Barcelona. Integral.

Corazza, S. 2004. Metainfanciofísica,

Infancionática: dois exercícios de ficción y

algumas práticas de artifícios. In: Corazza,

Sandra; Tadeu, Tomaz. Composições. Belo

Horizonte: Autêntica, 2003, p. 89-129.

Estebaranz García, A. Sevilla (2000).

Didáctica e innovación curricular. Proyecto

docente e investigador de Cátedra de

Didáctica y Organización Escolar. Sevilla.

Universidad de Sevilla.

García Calero, P. 2012. Innovación y

creatividad en la interpretación pianística. Vol

I, II y III. Saarbrucken. Germany: EAE.

García JE, García FF. 2000. Aprender

investigando. Una propuesta metodológica

basada en la investigación. Sevilla: Diada.

Gardner, H. 2001. La inteligencia

reformulada. Las inteligencias múltiples en el

S.XXI. Buenos Aires. Paidos.

Gardner, H. 2002. Mentes creativas.

Buenos Aires. Paidos.

Guilford, J. 1978. Creatividad y

educación. Buenos Aires. Paidos.

Neal, A. y Hesketh, B. (1997b). Future

decisions for implicit learning: Toward a

clarification of issues associated with

knowledge representation and consciousness.

Psychonomic Bulletin and Review, 4, 73–78.

Pablos Pons, J. de (1996). Tecnología y

Educación: una proximación sociocultural.

Barcelona. Cedecs.

Sikora, Jvachim.1979. “Manual de

Métodos Creativos” Ed.:Kapeluz - B. Aires.

Tannenbaum, A J. 1991. Creativity:

Educational Programs. En The International

Enciclopedia of Currículo. Lewy, A (editor).

USA. Pergamon Press.

Torre , S. De la. 1984. Educar en la

creatividad. Madrid. Narcea.

Torre, S. de la. 1997. Innovación

educativa. Madrid. Dykinson S.L.

Torre, S de la, Moraes, MC. Tejada, J.

Puyoll, MA. 2011. Decálogo sobre

transdisciplinariedad y ecoformación. En

Coord. Torre, S de la, Investigar en educación

con otra mirada, pag 26-53. Barcelona:

Editorial Universitarias SA.

Trigo, E. y colaboradores.1999.

Creatividad y motricidad. Zaragoza. Inde.

La segunda parte de este artículo estará disponible en el

próximo número.

29

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

CRIATIVIDADE DIGITAL

João F. Lins B. Rangel Junior

Universidade Federal de Pernambuco

E-mail: [email protected]

Tratando-se de transformações

tecnológicas em nossa era pós-industrial,

mudanças rápidas e frequentes ocorreram no

início da década de 1970, quando as pessoas

podiam com um computador básico e acesso

a uma linha telefônica trocar documentos, ler

notícias e enviar mensagens. Os e-mails se

tornaram populares no início da década de

1980 e no final da década de 1990 as pessoas

já conheciam e ampliavam a utilização de

mecanismos de busca, portais e sites de

comércio virtual. Na passagem do milênio

surgiram online as primeiras redes sociais e os

primeiros blogs que de fato se tornaram

populares.

Transformações tecnológicas e novos

padrões de comportamento levaram a

impactos sociais e econômicos. Por exemplo,

enquanto empresas destacadas, líderes de

mercado fechavam as portas de suas lojas de

câmeras fotográficas tradicionais, assistiam no

início da década de 2000 as câmeras digitais

iniciarem a trajetória ascendente de vendas.

De modo semelhante, na mesma década

ocorreu com o mercado da música; lojas de

discos de músicas armazenadas em mídias

tradicionais encerravam suas atividades

comerciais ao passo que, em 2008, a iTunes no

comércio de músicas adquiridas diretamente

pela internet através de downloads de

arquivos, tornou-se uma líder empresa

varejista de música dos Estados Unidos. Para

utilização das músicas, passou-se a contar com

outros novos dispositivos, como telefones

celulares com novas funções, que estavam

alinhados com novos padrões de

comportamento das pessoas, como a

mobilidade para ouvir música e seu

compartilhamento com outras pessoas

através da internet, promovendo diversas

formas de contato entre as pessoas.

Uma vida assim interativa pode tender

para mais produções criativas, sobretudo

devido ao grande número de oportunidades

que as redes de contato com pessoas e

possibilidades que novas experiências

proporcionam. Assim, a chegada e

popularização da internet tiveram sua

contribuição para um mundo criativo.

Esse cenário de intenso

desenvolvimento das tecnologias da

informação e comunicação (TIC’s), despertou

a observação sobre a presença de

determinados grupos de pessoas ocupadas

com tecnologias na sociedade. Essa relação

suscitou discussões, por exemplo, a respeito

das pessoas que nasceram e se

desenvolveram em meio a um conjunto de

hábitos e costumes permeados pelas

tecnologias digitais e outro grupo de pessoas

com idade acima de 20 anos, que nasceram

anteriormente ao boom tecnológico digital,

mas que aprenderam a usar a tecnologia e

passaram a fazer uso da mesma de maneira

intensiva.

Entre as pessoas com grande tempo

dedicado ao uso da tecnologia, muitas vezes

atuando profissionalmente com o

desenvolvimento da mesma, surgiram alguns

estereótipos. Apesar de origem imprecisa,

talvez a partir dos anos 50, dois estereótipos

ou termos atribuídos a determinados tipos de

pessoas, acabaram se popularizando nos

filmes, nas novelas e nas ruas. Um deles foi o

30

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Geek, referente a um tipo de pessoa

excêntrica, que se veste de forma estranha e

que comumente nutre obsessão por

tecnologia, incluindo jogos eletrônicos. O

outro termo foi o Nerd, atribuído a um tipo de

pessoa reconhecida popularmente como

“intelectual”, uma pessoa precocemente

envolvida com atividades complexas para sua

faixa etária, como tecnologias avançadas, o

que confere a si um tipo de pessoa solitária,

com certa dificuldade de se integrar

socialmente.

Ao longo das décadas daquilo que se

denomina de revolução digital, diversas

implicações de natureza psicológica puderam

ser evidenciadas. Uma delas foi sobre as

interações em grupos e aquisição de novas

linguagens ou representações mentais.

Também trouxe um certo alívio da pressão

sobre a cognição através do uso de novas

ferramentas para armazenar e processar

informações, auxiliando o cérebro em suas

atividades.

Nos estudos do campo da psicologia

cognitiva, a proposta teórica do prof Bruno

Campello de Souza identifica na Era Digital a

emergência de uma hipercultura com certas

características especiais sugeridas em

pesquisa realizada, tais como: apresenta-se

associada ao uso de metáforas com as TIC’s na

linguagem cotidiana, sobretudo com os mais

jovens apresentando maior uso de metáforas

e representações mentais do que os mais

velhos; parece se desenvolver gradualmente

em função da experiência com as TIC’s até

atingir um tipo de "ponto de saturação";

mostra-se tão maior quanto mais precoce for

o início da experiência da pessoa com as TIC’s.

Além disso, algumas características gerais

próprias das tecnologias digitais, identificou-

se que as mesmas executam processamento

de modo lógico em sequência, programável,

autônomo, simbólico e capaz de adaptação;

requerem o domínio da lógica da tecnologia,

do mercado e das comunidades de usuários.

Além disso, envolvem conceitos inéditos, tais

como interatividade, hipertexto, virtual, etc.

Além de análises sobre as pessoas

imersas em certas características tecnológicas,

há também observações sobre os ambientes

que promovem de modo significativo a

hipercultura e ao mesmo tempo a criatividade

e inovação; no Brasil há vários polos

tecnológicos que arranjam produtivamente

grupos de empresas que atuam com

desenvolvimento tecnológico e estas, por sua

vez, atraem muitas pessoas com interesse em

ocupações no mercado de trabalho

proporcionado por tais espaços. A exemplo

disso há o parque tecnológico Porto Digital,

caracterizado como um arranjo produtivo de

tecnologia da informação e comunicação e

economia criativa, que está situado em Recife-

PE. Considerado um dos principais ambientes

de inovação do país, o Porto Digital

compreende cerca de 200 empresas, que em

2010 faturaram R$ 1bilhão.

Esse ambiente tecnológico em Recife-

PE foi um dos estímulos e fornecedor de

amostra de participantes para o

desenvolvimento da nossa pesquisa

transformada em tese, intitulada “Criatividade

digital: um mundo de ideias e bytes”, cujo

objetivo foi compreender como a hipercultura

implica na criatividade através da análise dos

estilos de pensar e criar. E de modo específico,

tentar explicar como a hipercultura promove a

criatividade e se haveria um estilo a ser

denominado de criatividade da Era Digital. A

hipercultura foi explicada a partir da Teoria da

Mediação Cognitiva, elaborada pelo prof.

Bruno Campello de Souza, a partir de escolas

de pensamento e das teorias de Jean Piaget,

Lev Semenovich Vygotsky, Gerard Vergnaud,

David Chalmers, Robert Sternberg entre

outros. Para a compreensão dos estilos de

criar, foi utilizada a base teórica dos Estilos de

Pensar e Criar, desenvolvida pela profa.

Solange Wechsler.

Na amostra considerada, percebe-se

que quanto mais o indivíduo usa a tecnologia

31

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

digital para finalidades criativas, maior a

propensão que a pessoa tem para a ocupação

denominada de atividade digital, como é o

caso dos desenvolvedores de softwares, ou

técnica estética, como no caso dos arquitetos.

Este achado sugere uma aproximação entre

tecnologias digitais e criatividade.

Curioso foi identificar o estilo de criar

Emocional Intuitivo dentro do contexto do

estudo relacionado às atividades digitais, que

se colocou até mesmo em lado oposto do

estilo Lógico Objetivo, que comumente é

associado a ocupações tecnológicas. Outra

relação importante identificada foi sobre o

estilo Emocional Intuitivo em relação ao uso

de metáforas. E assim, observou-se uma

relação significativa entre indivíduos que usam

metáforas com as TICs e o estilo Emocional

Intuitivo. Outros achados demonstram que a

emergência da incorporação das TICs no

vocabulário ocorre devido à idade digital e não

em relação à experiência digital. Isso significa

que a incorporação ocorre de maneira

significativa em relação à idade da pessoa,

provavelmente por ter nascido imerso em

uma cultura cujas transformações digitais já

estavam instaladas.

A incorporação de analogias,

representadas por comparação entre certos

aspectos do meio digital e do pensamento, foi

identificada como uma variável central, sendo

esta a essência da internalização da

hipercultura, através da incorporação de

dispositivos da linguagem e desenvolvimento

de um vocabulário próprio, explicando como a

hipercultura implica na criatividade. Assim, a

criatividade digital é apresentada no estudo

como a criatividade relacionada ao estilo

Emocional Intuitivo, respondendo que esta é a

criatividade da Era Digital para a população

pesquisada.

É necessário considerar os resultados

do referido estudo como relativo a

determinada amostra, sob contexto

específico, etc. mas ao mesmo tempo,

podemos estar diante de mudanças que

representam a passagem de um estilo

caracterizado pelo pensamento lógico,

racional e pragmático para um estilo de

pessoa que se caracteriza pelo predomínio das

emoções e das intuições sobre seu modo de

agir no mundo digital.

32

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

CREATIVE EDUCATION FOR GIFTED CHILDREN

Fernanda Hellen Ribeiro Piske

Universidade Federal do Paraná

E-mail: [email protected]

O artigo “Creative Education for Gifted

Children”, das autoras: Fernanda Hellen

Ribeiro Piske, Tania Stoltz e Jarci Machado,

publicado recentemente em uma importante

revista Americana Creative Education (Qualis

A) que trata com excelência sobre a temática

Criatividade: Creative Education, pode ser

acessado no link:

http://www.scirp.org/journal/PaperInf

ormation.aspx?PaperID=45206

Este artigo aponta a criatividade como

um atributo essencial para o desenvolvimento

do potencial criador, no entanto, nem sempre

é desenvolvido corretamente no contexto

escolar, especialmente quando se trata de

educação os alunos superdotados, porque

essas crianças precisam de um serviço

especializado para atender as suas

necessidades especiais que, na maioria das

vezes, não é ofertado adequadamente. Neste

sentido, este estudo tem como objetivo

contribuir para que os profissionais da

educação reflitam e tomem consciência da

importância da criatividade na educação.

O método utlizado neste estudo, foi

baseado em estudos nacionais e

internacionais voltados para a área de altas

habilidades / superdotação e criatividade no

contexto escolar.

A conclusão que as autoras

apresentam é queo desenvolvimento da

criatividade depende de uma boa formação de

professores na preparação de atividades que

despertem a curiosidade e interesse de cada

superdotado, permitindo que ao aluno um

pensamanto criativo, independente,

investigativo e crítico, além disso, os

professores devem proporcionar novas

oportunidades de reflexão sobre o processo

de ensino e aprendizagem.

Abstract

Creativity is an essential attribute for

the development of creative potential,

however, it is not always developed properly

in the school context, especially when it is

about gifted students education, because

these children need a specialized service to

attend their special needs. In this sense, this

study aims to contribute in order that

education professionals reflect and become

aware of the importance of creativity in

education. The method of this research was

based from national and international studies

focused on the area of High Abilities /

Giftedness and creativity in the school

context. The conclusion is that the

development of creativity depends on a good

teacher education in preparing activities that

arouse curiosity and interest of each gifted,

enabling the student creative and

independent, investigative and critical

thinking, furthermore, teachers should

provide new opportunities of reflection on the

process of teaching and learning.

33

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

ESTILOS DE PENSAR E CRIAR EM GERENTES DE EMPRESAS PAULISTAS

Trabalho apresentado no III Congreso Internacional de Ciudades Creativas e ocorreu do dia 28 à

30 de agosto de 2013 na Faculdade de Educação da Unicamp com parceria e por vídeo-conferencia

na Universidad Complutense de Madrid.

Maria Célia Bruno Mundim

Doutoranda em Psicologia

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

E-mail: [email protected]

Solange Muglia Wechsler

Docente de Pós-Graduação em Psicologia

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

E-mail: [email protected]

Evelin Martins

Me. em Psicologia

Centro Universitário Salesiano de Americana

Email: [email protected]

Resumo da apresentação oral

Considerando-se a importância da

gerência e da criatividade nas organizações,

esta pesquisa teve como objetivo investigar os

estilos de pensar e criar em gerentes

considerando seu gênero, idade e tipo de

empresa que trabalham. A amostra foi

composta por 38 gerentes (23 M, 15 F), com

idades variando de 30 a 53 anos, trabalhando

em nove pequenas empresas do setor de

serviços e de uma indústria de isolantes da

Região Metropolitana de Campinas. Os

gerentes foram contatados pelo setor de

Recursos Humanos das respectivas empresas

e convidados para participar no estudo. Como

instrumento de pesquisa foi utilizado a Escala

Estilos de Pensar e Criar. A Análise de Variância

Univariada indicou diferença significativa

(p≤0,05) entre os gêneros somente para o

Estilo Relacional-Divergente. Conclui-se que as

mulheres gerentes tendem a ouvir mais as

ideias do grupo antes de tomar decisões,

possuindo melhores habilidades para

relacionar-se com os subordinados,

apresentando, portanto, um estilo criativo

eficaz para exercer liderança.

Palavras-chaves: gerência, liderança, gênero, criatividade, estilos.

34

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Vale a pena ler

CRIATIVIDADE NA ESCOLA Este livro apresenta estudos e

pesquisas nacionais e internacionais

envolvendo a teoria e a prática de autores do

Brasil, de Portugal e da Espanha para

fundamentar o desenvolvimento do potencial

de todas as crianças, incluindo as que

possuem altas habilidades/superdotação

(AH/SD) e talentos a partir de um ensino

criativo na escola. Tem um conjunto de

propostas para promover a criatividade no

contexto de escolas, Universidades e outras

instituições. Esse atributo se faz premente e

requer práticas educacionais que possibilitem

o seu desenvolvimento.

Nos dias atuais, a criatividade vem

sendo reprimida, principalmente nas escolas

onde há alunos superdotados altamente

criativos e alunos que de modo geral buscam

por um ensino inovador. Neste sentido, os

profissionais da educação precisam utilizar

medidas educativas que instiguem a

curiosidade e interesse de cada discente.

Esta obra busca inspirar todos os

leitores a usarem o seu potencial criador para

uma vida melhor e um mundo mais colorido e

cheio de inovações nas escolas a partir do

desenvolvimento da criatividade. É justamente

a partir de um ensino fora do padrão, que

possibilite a liberdade de expressão que é

possível perceber o verdadeiro sentido do

processo da aprendizagem. Professores,

psicólogos, pedagogos, profissionais da

educação, famílias, alunos, e toda a sociedade,

unidos em prol de escolas mais criativas e

inovadoras.

35

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

Creatividad y formación radical e inclusiva: cuando la creatividad no sirve para nada

Investigación y docencia en la creación artística

Sugestión de Pablo García y Pablo Tejada Coordinadores CICREART

Desde el I Congreso de Investigación y

Docencia en la Creación Artística, deseemos

compartir los libros de ponencias del

congreso. Ambos se encuentran con Licencia

Creative Commons Atribución-NoComercial-

SinDerivadas 3.0 Unported, esto significa que

somos libres de reproducir y distribuir estas

obra, siempre que cite la autoría, que no se use

con fines comerciales o lucrativos y que no

haga ninguna obra derivada. Compartidlos con

todas aquellas personas que puedan estar

interesadas.

Herrán, A. de la (2014). Creatividad y

formación radical e inclusiva: cuando la

creatividad no sirve para nada. Granada:

Editorial Universidad de Granada.

https://www.dropbox.com/s/nbffisszdk

pl8hp/Creatividad%20y%20formacion%20radical

%20e%20inclusiva%20%20978-84-338-5649-4.pdf

http://issuu.com/pablogarciasempere/d

ocs/creatividad_y_formacion_radical_e_i

https://docs.google.com/file/d/0B5Sju9

aeFZ8ARUhVeURtRi1qUFU/edit

García-Sempere, P.; Tejada Romero, P. y

Ruscica, A. (coords.) (2014). Investigación y

docencia en la creación artística. Granada:

Editorial Universidad de Granada.

https://www.dropbox.com/s/sekrldydrl

8fq3o/Investigacion_y_docencia_en_la_creaci

on_artistica_978-84-338-5635-7.pdf

http://issuu.com/pablogarciasempere/d

ocs/investigacion_y_docencia_en_la_crea https://docs.google.com/file/d/0B5Sju9aeFZ8A

enQtZ3dNZF8wa0U/edit

También podemos acceder a los mismos desde:

http://www.cicreart.com/p/libro.html

36

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

O QUE LEVARIA UMA ALDEIA A SAIR DA MESMICE?

Denise Bragotto

Universidade Estadual de Londrina

E-mail: [email protected]

O livro “SEMPRE FOI ASSIM” relata a

história de uma aranha chamada Joana,

dotada de um estilo criativo, questionador e

vivaz, típico das crianças ávidas por conhecer

e compreender o mundo questiona o que

ninguém percebeu:

-Vovó, por que as aranhas têm quatro

olhos, mas somente dois estão abertos?

-Por que nenhuma aranha precisa usar

mais do que dois olhos para enxergar. Sempre

foi assim.

-Mas, vovó, se as aranhas precisam

somente de dois olhos, por que elas nascem

com quatro?

- Ora Joana, porque...porque...porque

sempre foi assim, disse a vovó.

Joana não é uma aranha observadora

que percebe a realidade sob uma nova

perspectiva e persiste em suas indagações até

encontrar respostas convincentes para as suas

perguntas:

Vovô, por que as aranhas fazem teias?

Porque esse é o trabalho das aranhas

fiandeiras. Sempre foi assim.

-E, por que as aranhas fazem teias

sempre do mesmo jeito?

-Por que esse é o jeito de fazer teia.

Sempre foi assim.

-Nossa, que falta de imaginação, disse a

aranhinha.

37

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

A criação da história foi

cuidadosamente pensada, de maneira que

tanto a criação da narrativa e a criação das

personagens simbolizassem facetas

importantes da criatividade: a personalidade

criativa da Joana, as fases do processo criativo

representadas por um esquilo com perfil de

explorador que se aventura em novas

experiências; uma borboleta com perfil

artístico, capaz de transformar as informações

em novas ideias; uma coruja que avalia as

melhores ideias e um galo guerreiro, disposto

a colocar as ideias em prática. A criação desses

personagens foram baseados nos quatro

papéis essenciais do processo criativo,

proposto por Von Oech (1994). A narrativa

ainda apresenta o Vovô e a Vovó como figuras

representativas do ambiente facilitador à

expressão criativa e um bicho preguiça

representando as barreiras à criatividade. A

narrativa aborda ainda, a dimensão da

educação e do conhecimento para a

expressão criativa representada pela Escola

de Olhos, a dimensão do sonho e da

sabedoria, e ainda a importância da

persistência diante das adversidades e da

criatividade como um bem social. A

criatividade gera benefícios sociais como

desenvolvimento humano, como

desenvolvimento científico e como bem de

futuro (Torre, 2005). O livro traz ainda um

encarte direcionado ao leitor adulto, com o

“making off” da história, onde a autora relata

e analisa o seu processo criativo sob a

perspectiva da pesquisadora.

É comum encontrar a crença de que

criatividade é resultado de um momento

mágico de inspiração e, portanto, a produção

criativa não requer conhecimento, dedicação

ou disciplina. Essas crenças não

correspondem à verdade. A possibilidade de

entrar no mundo da literatura infantil surgiu

ao me deparar com a foto de uma aranha com

muitos olhos, quando fazia uma pesquisa de

imagens na internet, quando preparava uma

palestra. Até então, eu só havia escrito para

adultos, mas nutria o desejo de escrever para

crianças. A imagem dessa aranha remeteu-me

a um episódio curioso da minha infância. A

casa onde nasci tinha um porão, que era palco

de inúmeras brincadeiras. Nele, tanto a minha

imaginação quanto a de outras crianças rolava

solta e dentre tantas brincadeiras, havia uma

especial: o show de talentos, onde todas as

crianças tinham a oportunidade de mostrar

seus talentos artísticos.

Em um desses eventos, ao descer as

escadas da cozinha em direção ao porão com

a bandeja de lanche preparada pela minha

mãe, com um delicioso bolo de chocolate,

deparamo-nos com uma aranha caranguejeira.

A gritaria foi geral e, assustada, acabei

derrubando a bandeja de bolo e a jarra de

suco de laranja natural. A imagem da aranha

na internet reportou-me a esse episódio

divertido. No entanto, nem sempre foi assim!

Durante muito tempo acalentei uma

perspectiva raivosa daquela caranguejeira que

acabou com a nossa brincadeira. Ao lembrar-

me desse episódio de forma tão divertida,

percebi o quanto a minha perspectiva havia se

transformado. Então, comecei a brincar com

as ideias, flexibilizando o pensamento e

buscando perspectivas inusitadas da situação:

- E se a aranha também quisesse brincar? E se

ela fosse louca por bolo de chocolate? E se ela

quisesse uma chance no nosso show de

talentos?

Fazer perguntas abertas do tipo: e se...

é um ótimo exercício de flexibilização mental.

Arrisquei um pouco mais: - E se eu me

reconciliasse com a aranha e a convidasse

para brincar? E se eu continuasse a brincadeira

que ela interrompeu, o que eu faria? A

resposta foi imediata: eu escreveria um livro

infantil.

O acaso me fez encontrar a imagem da

aranha, entretanto, acreditar na ideia, topar o

desafio, buscar conhecimentos na biologia e

nas teorias da criatividade, dedicar-se

intensamente ao projeto, elaborando a

narrativa em linguagem compreensível às

38

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

crianças, costurando a história de forma a

abrir as portas para a entrada de novos

personagens numa narrativa que faça sentido

é um trabalho árduo que exige muita

transpiração.

O processo criativo começa e

recomeça incontáveis vezes. Uma das

experiências mais interessantes foi a criação

da protagonista. Ela foi batizada com o nome

de Joana, pelo fato de ser um nome comum

na sociedade brasileira. Eu queria mostrar que

a criatividade não é prerrogativa de pessoas

geniais, mas está presente no cotidiano das

pessoas comuns. Mas, que imagem ela

poderia ter? A partir da observação das

crianças da minha família e de outras que

encontrava no dia a dia, uma foto foi

delineada em minha mente. Foram

necessárias várias reuniões com o ilustrador

para que o desenho da personagem fosse fiel

à imagem da Joana que estava em meu álbum

mental. Foi assim que Joana nasceu. Era uma

figura doce, de olhos grandes e vívidos,

engraçada, sensível, questionadora e

determinada. Joana era curiosa, tinha atração

pela novidade e não se intimidava diante do

desconhecido. Uma aranha que não negava o

seu destino como aranha fiandeira, mas que

não se rendia ao conformismo e à mesmice de

ser, perceber e atuar no mundo como as todas

as outras. Esse é o perfil criativo característico

apontado na literatura (Alencar, 2004;

Wechsler, 2009). A liberdade de pensar de

forma original e autônoma protegiam-na da

obrigatoriedade de seguir o modelo do

comportamento automatizado e desprovido

de sentido típico das aranhas de sua aldeia.

Por vezes, Joana foi considerada maluca ou

doida pelos outros personagens, assim como

tantas pessoas criativas.

No entanto, a crença em suas próprias

ideias, o uso da intuição e o desejo de não

abandonar a sua originalidade permitiram que

ela caminhasse ao encontro de uma

perspectiva inusitada da realidade. A intuição

é uma importante aliada do processo criativo

e Joana não a menosprezou. Ela sentia haver

algo errado com as aranhas e abriu-se para a

descoberta: fez perguntas certeiras e graças à

sua coragem, persistência e ousadia

caramelizadas de solidariedade e compaixão,

a protagonista lidera o processo de

transformação da aldeia, revolucionando os

paradigmas tradicionais e provocando

mudanças na maneira de ser, de viver e de

construir teia. Desta forma, ela resgata a

identidade criativa das aranhas. A narrativa

comprova a afirmativa de Maslow (1996) "o

homem criativo não é o homem comum ao

qual se acrescentou algo. Criativo é o homem

comum do qual nada se tirou".

Membro fundadora e diretora da

Associação Brasileira de Criatividade e

Inovação, doutora em Psicologia pela PUC-

Campinas e docente e coordenadora do curso

de Especialização no Contexto Socioeducativo

da Universidade Estadual de Londrina. É

pesquisadora na área da Psicologia da

Criatividade. Ministra cursos e palestras na

área de criatividade e saúde mental em

instituições educacionais, universidades e

organizações nacionais e multinacionais.

Poeta e escritora, é autora de seis livros. Ex-

Presidente da Academia Feminina de Letras e

Artes de Jundiaí - SP. Escreve artigos para

revistas nacionais e estrangeiras.

39

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Referências:

Alencar, E. S. (2004) Como

desenvolver o potencial criativo. Vozes: São

Paulo.

Maslow, A. H. (1996) Introdução à

Psicologia do Ser. Livraria Eldorado: RJ.

Torre, S. (2005). Dialogando com a

Criatividade. São Paulo: Madras.

Von Oech, R. (1994) Um Chute na

rotina: os quatro papeis essenciais do

processo criativo. São Paulo:

Editora de Cultura.

Wechsler, S. M. (2009) Criatividade

Descobrindo e Encorajando. Campinas, São

Paulo: Psy.

40

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

Eventos na área

XIII FÓRUM INTERNACIONAL DE CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO: CRIATIVIDADE & INOVAÇÃO: PROBLEMA MUNDIAL, SOLUÇÕES LOCAIS!

Sebastião Fernando Viana

FUNDAÇÃO BRASIL CRIATIVO - Diretor Presidente

E-mail: www.fbcriativo.org.br

A Fundação Brasil Criativo realiza

desde 1999, em Aracaju, Sergipe o Fórum

Internacional de Criatividade e Inovação –

FICI, evento de reconhecimento internacional

e que aborda simultaneamente os temas

criatividade, inovação, liderança criativa e

economia criativa.

O FICI tem por finalidade estimular a

prática do pensamento criativo e como a

criatividade atua como uma mola propulsora

da inovação, que é uma competência

fundamental para a inclusão social e como

ajuda na transformação de pessoas,

empresas, comunidades, territórios e cidades.

A partir de 2013, depois de realizadas

11 edições com sucesso em Aracaju (SE), com

uma média de 860/1000 participantes

oriundos de diversas partes do Brasil e do

Exterior, o evento foi transferido para o

Estado do Espirito Santo e realizado nos dias

04 a 06/09/2013.

A adesão dos capixabas ao evento foi

elevada, resultando numa avaliação excelente

e no incentivo que o FICI continuasse em

Vitória, ES. Para a edição de 2013 contamos o

apoio da SEDES e com o patrocínio das

seguintes empresas/instituições capixabas:

SEBRAE/ES, FINDES, SESI/ES, PETROBRAS,

BANDES, BANESTES, SPASSU e com a

CONSTRUTORA COSIL/Aracaju, SE.

É intenção da FBC manter o evento

na cidade de Vitória e, assim sendo, o XIII FICI

acontecerá de 11 a 14/09/2014 no Golden Tulip

Porto Vitória Hotel, contando de palestras

magnas, palestras interativas, workshops,

“papers” e lançamentos de livros, constituído

por quatro núcleos principais de discussão:

criatividade e inovação, liderança criativa,

economia criativa e valores humanos como

ferramenta de gestão estratégica.

Para discutir e compartilhar

experiências e conhecimentos, durante o XIII

FICI, estarão em Vitória doutores, mestres,

pesquisadores, especialistas e executivos das

mais diferentes partes do nosso País, do

Exterior (EUA, Canadá e Portugal) e também

convidados do Estado do Espírito Santo.

Ao longo dos anos, o FICI tem

contado para a sua realização com o apoio de

uma rede de parceiros que têm como objetivo

comum a disseminação da prática do

pensamento criativo e da inovação no Brasil e

isto tem tornado possível disponibilizar para a

sociedade oportunidades para trocas de

conhecimentos e experiências de vanguardas

sobre os temas discutidos.

41

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

O XIII FICI estará focando no

seguinte público alvo: consultores,

educadores, micro, pequenos e médios

empresários, servidores públicos (municipais,

estaduais e federais) e às pessoas que

quiserem aprender como resgatar e

desenvolver a sua criatividade.

Finalmente, entendemos que os

temas abordados pelo XIII FICI atendem a

todos aqueles que querem conhecer ou

aprofundar os seus conhecimentos visando

aplicá-los nos seus projetos pessoais,

empresariais, institucionais ou comunitários,

seja com a finalidade de desenvolver

processos, produtos ou serviços inovadores,

seja visando o fortalecimento de

competências de vanguarda como criatividade

e inovação que irão propiciar o melhor

desempenho das atividades laborativas no

ambiente de trabalho altamente competitivo

e provocador da atualidade, ou seja, visando a

inclusão social em comunidades e territórios.

42

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

VI FORUM INTERNACIONAL DE INNOVACIÓN Y CREATIVIDAD:

Escuelas y aulas creativas

Fechas del evento: 3 y 4 de julio de 2014.

Para informaciones actualizadas acerca evento,

mira:

http://escuelascreativas.blogspot.com.es/

Nueva fecha límite de entrega del resumen y

artículo completo: 9 de junio de 2014

E-mail de envio:

[email protected]

Para hacer tu inscripción, mira:

http://www.ub.edu/ice/jornades/creatividad

Coste de Inscripción: Hasta 9 de junio, 80 euros.

Después de esa fecha, 100 euros para todos.

PROGRAMA DEL EVENTO

Orientaciones acerca de la presentación de

comunicaciones:

Versión en castellano:

https://docs.google.com/file/d/0B0UZd7gyXZPO

VjUyTy1fYThnSGc/edit

Versão em português:

https://docs.google.com/file/d/0B0UZd7gyXZPO

NUJwanMydVZGbEk/edit

43

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

REUNIÃO DE PESQUISADORES

AVALIAÇÃO EM PSICOLOGIA POSITIVA E CRIATIVIDADE

Solange Muglia Wechsler

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

E-mail: [email protected]

Pela primeira vez na história da

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-

graduação em Psicologia (ANPEPP) foi

organizado um grupo de pesquisa

denominado Avaliação em Psicologia Positiva e

Criatividade. Este grupo é formado por

docentes de instituições de diferentes regiões

brasileiras e tem por objetivo a coleta e

divulgação de dados científicos a fim de

promover o avanço das áreas de Psicologia

Positiva e Criatividade, formando futuros

pesquisadores em nível de pós-graduação

para atuar nestes campos e suas aplicações.

Este grupo é coordenado pela Dra.

Solange Wechsler e tem por vice-coordenador

o Dr. Claudio Hutz, atual presidente da

Associação Brasileira de Psicologia Positiva

(ABP+). Os pesquisadores que compõem este

grupo, apresentados na foto (listados a partir

da última fileira, da esquerda para a direita)

são: Bruno Figueiredo Damásio (UFF) Cristian

Zanon (USF), Wagner de Lara Machado

(UFRGS), Luciana Karine de Souza (UFMG) ,

Micheline Roat Bastianello (UFRGS), Juliana

Cerentini Pacico (UFRGS), Ana Paula Porto

Noronha (USF), Tatiana de Cassia Nakano

(PUCCAMP), Carolina Rosa Campos

44

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

(PUCCAMP), Claudia de Morais Bandeira (

UFRGS), Vicente Cassepp-Borges (UFF),

Solange Muglia Wechsler (PUCCAMP), Ana

Claudia Souza Vazquez (UFCS), Claudio Simon

Hutz (UFRGS), Claudette Medeiros Vendramini

(USF), Claudia Hofheinz Giacomoni (UFRGS).

Os temas apresentados nesta primeira

representaram os enfoques atuais de

pesquisas dos membros deste grupo e foram

os seguintes: avaliação do potencial cognitivo

e criativo; avaliação de afetos positivos e

negativos; validação de instrumentos para

medir forças e virtudes; a psicologia positiva

no contexto das organizações e do trabalho;

sentido de vida e bem-estar subjetivo ao longo

do ciclo vital; bem-estar subjetivo como fator

de proteção; avaliação de crianças deficientes

visuais; atitudes e psicologia positiva; bem-

estar subjetivo otimismo ao longo do

desenvolvimento infantil; avaliação da

autocompaixão; validação da versão brasileira

do Hope Index International; implicações do

otimismo, autoestima e suporte social em

mulheres com câncer de mama; bateria de

avaliação das altas habilidades ou

superdotação; investigação da validade de

instrumento de medida dos eixos do amor.

Algumas tarefas já foram programadas

para este grupo durante o próximo biênio, tais

como publicações conjuntas, um número

especial sobre psicologia positiva e

criatividade em revista científica, um livro

apresentando o estado da área nos diferentes

temas relacionados com a psicologia positiva e

criatividade e o primeiro congresso brasileiro a

ser realizado em outubro. Para mais

informações sobre a importância destes

temas, seus avanços científicos e aplicações

nos mais diversos contextos, recomenda-se a

inscrição no congresso pelo site:

http://www.psicopositiva.com.br/pagina_n.as

p?pg=1

45

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014

Sites interessantes

Sugestão dos editores:

Acesse em:

http://www.neuronilla.com/

Sugestión de Pilar Calero:

Os invito a ver el último programa

de la 4- Cuarto milenio, titulado

Educastración:

¿Nos hacen menos inteligentes para

manipularnos mejor?

'Cuarto Milenio' debate sobre la conspiración

de la educación

¿Nos hacen más dependientes, más inseguros? Hay círculos que hablan ya de “Educastración”. Educadores y pedagogos afirman que el cerebro del ser humano nace con unas capacidades impresionantes que acaban reduciéndose, según algunos, por los intereses de diversos grupos de poder.

http://www.cuatro.com/video/video-embed.html?contentId=MDSVID20140511_0019&width=300&height=169&showTitle=1&showSummary=1

46

Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 02, 15-46, maio-junho-2014.

Chamada para a próxima Edição

Convidamos a todos os interessados em publicar neste Boletim a enviar suas

contribuições até dia 20 de julho / 2014.

Boletim nº 03 – Lançamento previsto para dia 08 de agosto.

Este boletim aceita contribuições nos idiomas português, espanhol e inglês.

Participem. Esta é uma excelente oportunidade para divulgar seus trabalhos

para a comunidade ibero-americana.

E-mail para o envio: [email protected]

Cordialmente,

Sergio Fernando Zavarize Solange Muglia Wechsler

Editor-chefe Co-editora