BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma...

106
Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências no Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área Física e Química dos Materiais Aeroespaciais. BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER HUMANO E NAS ESTRUTURAS Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados: Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Campo Montenegro São José dos Campos, SP - Brasil. 2007

Transcript of BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma...

Page 1: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título

de Mestre em Ciências no Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área

Física e Química dos Materiais Aeroespaciais.

BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO

SER HUMANO E NAS ESTRUTURAS

Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados:

Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Campo Montenegro São José dos Campos, SP - Brasil.

2007

Page 2: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

ii

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão de Informação e Documentação

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

XXXXXXXXXXXXXXXX BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER HUMANO E NAS ESTRUTURAS / Xxxxxxxxx. São José dos Campos, 2007. 107f. Tese de Mestrado – Curso de Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Área Física e Química dos Materiais Aeroespaciais Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2007. Orientador: Prof. Dr. Koshun Iha. 1. BLAST 2. Explosivos 3. Onda de choque 4. Cabeça de Guerra. I. Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Ciências Fundamentais – Química. II. Mestrado.

XXXXXXXXX Blast – Efeitos da Onda de Choque no Ser Humano e nas Estruturas. 2007. 107f. Tese de Mestrado – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: XXXXXXXXXXXX TITULO DO TRABALHO: Blast – Efeitos da Onda de Choque no Ser Humano e nas Estruturas. TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese / 2007 É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta tese e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida sem a sua autorização (do autor). XXXXXX

Page 3: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

iii

BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO

SER HUMANO E NAS ESTRUTURAS

Composição da Banca examinadora:

Prof. Francisco Bolivar Correto Machado Presidente – ITA Prof. Koshun Iha Orientador – ITA Prof. José Atílio Fritz Fidel Rocco ITA Profa. Elizabete Yoshie Kawachi ITA Prof. Antonio de Miranda UNIFESP-SP

ITA

Page 4: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

iv

“Si vis pacem, parabellum”.

(Cícero)

“Se queres a paz, prepara-te para guerra”

Page 5: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

v

RESUMO

A detonação de um explosivo resulta na produção e violenta liberação de gases

comprimidos. A energia produzida propaga-se rapidamente através do meio (ar ou água),

provocando variações de pressão, formando uma onda explosiva, que se propaga com

velocidade superior a do som. Esta frente de onda, com elevada pressão dinâmica e

velocidade supersônica, é conhecida como onda de choque que confere a detonação um

enorme poder de ruptura. O efeito terminal desta onda de choque é denominado Sopro ou

“Blast Effect”. Este trabalho estuda o efeito de sopro gerado por uma onda de choque sobre

pessoas e estruturas, descreve os danos causados ao corpo humano pelo aumento brusco e

repentino da pressão atmosférica, define distâncias de segurança para proteção de pessoal

contra o efeito de sopro e a relação entre pressão de detonação e massa de explosivo, visando

otimizar a quantidade de explosivos, bem como a sua distância ao alvo estrutural que se

pretende neutralizar. Através de métodos e equações matemáticas, pode-se calcular a pressão

gerada pela onda de choque resultante da detonação de certa quantidade de explosivo

químico, a uma determinada distância do foco. Dados experimentais relativos aos limites

suportados pelo homem e por determinadas estruturas são disponíveis na literatura. Assim,

aliando-se as bases teórica e experimental, é possível, com o relacionamento desses

parâmetros, elaborar tabelas dinâmicas em planilhas eletrônicas, gerando gráficos de rápida

leitura que possam auxiliar a tomada de decisões de profissionais que lidam com o efeito de

sopro causado pela detonação de artefatos explosivos militares ou improvisados, visando

estabelecer procedimentos para a proteção de pessoas e bens materiais, ou a provocação de

danos em um alvo específico.

Page 6: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

vi

ABSTRACT

The detonation of an explosive results in the production and violent release of

compressed gases. The produced energy rapidly propagates through the medium (air or

water), causing changes in pressure, forming an explosive wave, which propagates at a speed

higher than that of sound. This wave front, with high dynamic pressure and supersonic

velocity, is known as the shock wave that gives blasting an enormous power of collapse. The

terminal effect of this shock wave is called Blast Effect. This work examines the effect of

wind, generated by a shock wave, on people and structures and describes the damage caused

to the human body by the abrupt and sudden increase of atmospheric pressure. It also defines

security distances for protection against the effect of the wind and the relationship between

the pressure of blasting and the explosive mass, to optimize the amount of explosives, as well

as their distance to the structural target to be neutralized. Through methods and mathematical

equations, the pressure generated by the shock wave resulting from the detonation of a certain

quantity of chemical explosive, can be calculated from a certain distance of the outbreak.

Experimental data on the limits supported by man and by certain structures are available in

literature. Thus, by combining and comparing the theoretical and experimental bases, it is

possible to produce dynamic tables in spreadsheets, creating charts for quick reading that can

help the decision-making of professionals who deal with the effect of wind, caused by the

detonation of military or improvised explosive devices. The objective is to establish

procedures either for the protection of persons and property, or to cause damage in a specific

target.

Page 7: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação esquemática do comportamento energético de uma reação

exotérmica, indicando o complexo ativado e energia de ativação ...................................... 19

Figura 2 - Classificação de Explosivos Químicos ................................................................. 21

Figura 3 - Esquema de uma detonação [5]. .......................................................................... 22

Figura 4 – Esquema de um trem explosivo. [5] .................................................................... 24

Figura 5 - Desenvolvimento da onda de choque gerada por uma detonação [4]. ............. 28

Figura 6 - Função pressão-distância para tempos sucessivos de uma explosão em função

da distância [4]. ....................................................................................................................... 28

Figura 7 - Caso genérico ilustrativo das fases de uma explosão e seus efeitos sobre

estruturas alvos [4]. ................................................................................................................ 29

Figura 8 - Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo

[11]. .......................................................................................................................................... 31

Figura 9 - Exemplos de comportamentos de deflagrações do ponto de vista de um alvo

[11]. .......................................................................................................................................... 32

Figura 10 - Comportamento da pressão no tempo para uma onda explosiva genérica do

ponto de vista de um observador ou alvo [1]. ...................................................................... 34

Figura 11 - Curvas para diferentes explosões sentidas por um alvo qualquer, diferentes

impulsos positivos [4]. ............................................................................................................ 35

Figura 12 - Aproximações para a função de pressão de uma explosão [10]...................... 39

Figura 13 - Relação entre distância em escala de Sachs e sobrepressão para diferentes

intensidades de explosão [6]. .................................................................................................. 50

Figura 14 - Relação entre distância escalonada de Sachs e duração da fase positiva

escalonada de Sachs para diferentes forças de explosões [6]. ............................................. 51

Figura 15 - Parâmetros da onda de choque para a fase negativa para uma carga esférica

de TNT em ar livre ao nível do mar. [20]. ............................................................................ 52

Figura 16 - Magnitudes dos picos de pressão positiva e negativa em função da distância

escalar [20]. ............................................................................................................................. 53

Figura 17 - Efeito da detonação no ar formando onda mach [5]. ...................................... 54

Figura 18 - Curva de pressão vs. tempo mostrando segundo pico de pressão [2]. ........... 54

Figura 19 - Sobrepressão e pressão dinâmica em função do tempo, passando por uma

estrutura esférica [21]. ........................................................................................................... 59

Page 8: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

viii

Figura 20 - Coeficiente de Reflexão Λ em função do ângulo de incidência e da relação

pS/p0 para ondas de pressão (b) e de choque (a) [22]. .......................................................... 62

Figura 21 - Estrutura submetida a carregamento por difração I [5]. ............................... 65

Figura 22 - Estrutura submetida a carregamento por difração II [5]. .............................. 66

Figura 23 - Estrutura submetida a carregamento por arrasto [5]. .................................... 67

Figura 24 - Carregamento F(t) e deslocamento x de estruturas elásticas lineares (a),

elásticas não-lineares (b), plásticas (c) e elasto-plásticas (d) [22]. ...................................... 70

Figura 25 - Sistema Massa-Mola com um grau de liberdade não-amortecido (a) e

amortecido (b) [17]. ................................................................................................................ 71

Figura 26 - Efeito da duração do carregamento na resposta de um sistema concentrado

com um grau de liberdade para vários valores de td / tΠ .[4] ............................................... 73

Figura 27 - Carregamento Impulsivo F(t) de duração td << tΠ. ......................................... 74

Figura 28 - Carregamento Quase-estático F(t) de duração td muito maior que o período

natural da estrutura tΠ . ......................................................................................................... 76

Figura 29 - Carregamento Dinâmico F(t) de duração td da mesma ordem de grandeza

que o período natural da estrutura tΠ . [10] ......................................................................... 77

Figura 30 - Diagrama Pressão em função do Impulso mostrando regiões de

carregamento resultante de uma onda de choque capaz de gerar danos leves (entre 1 e

2), danos graves (entre 2 e 3) ou colapso (à direita e acima de 3) da estrutura. [22] ........ 79

Figura 31 - Estimativa de danos sobre uma edificação ....................................................... 83

Figura 32 - Estimativa de Efeito de Crateramento. ............................................................ 84

Figura 33 - Processo de formação da cratera [5] ................................................................. 85

Figura 34 - Estimativa para ruptura de paredes de concreto comum e reforçado .......... 86

Figura 35 - Estimativa de destruição de aeronaves, caminhões e antenas. ....................... 88

Figura 36 - Distância de segurança contra os efeitos diretos da onda de choque sobre o

homem. .................................................................................................................................... 91

Figura 37 - Gráfico da distância de segurança considerando uma área aberta sem

barreiras. ................................................................................................................................. 92

Figura 38 – Gráfico R x W com as principais lesões causadas no Homem pelo efeito

direto da onda de choque. ...................................................................................................... 93

Figura 39 – Distância mínima de segurança pessoal para artefatos explosivos

improvisados em cenário urbano sem e com barreiras. ..................................................... 95

Page 9: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Relação de alguns explosivos com suas equivalências em TNT [10]. ............... 26

Tabela 2 - Lista de constantes e parâmetros utilizados para obtenção dos valores

indicados na equação (24). [6, 17]. ........................................................................................ 45

Tabela 3 - Definição de valores mencionados nas equações anteriores. [19] .................... 48

Tabela 4 - Fator b em função da sobrepressão relativa pS/p0. [9] ....................................... 60

Tabela 5 - Exemplos de Mecanismo de Danos para o Efeito da Onde de Choque [4]. .... 68

Tabela 6 - Efeito da Onda de Choque sobre Estruturas [4] ............................................... 82

Tabela 7 - Bombas aéreas nacionais com suas respectivas massas de explosivos ............. 83

Tabela 8 - Relação de alguns danos causados diretamente aos seres humanos devido às

explosões [4]. ........................................................................................................................... 89

Tabela 9 - Distância de segurança para alguns artefatos explosivos militares ................. 96

Page 10: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

x

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS UTILIZADOS φ = níveis de reatividade, apresentado na Tabela 3

a – velocidade do som no ar

AIChE – American Institute of Chemical Engineer

b – parâmetro utilizado para representar a forma de decaimento da onda de choque

C – constante de amortecimento aplicável à Teoria da Elasticidade

CCPS – Center for Chemical Process Safety

Cd – coeficiente de Arrasto

CMR – Christian Michelsen Research

COMPOSIÇÃO B – Mistura de RDX e TNT (explosivo químico)

Cp - calor específico a pressão constante [kJ/kg.ºC]

Cv - calor específico a volume constante [kJ/kg.ºC]

DLF – Fator de Carregamento Dinâmico (Dynamic Load Factor)

E – energia do Explosivo [j]

Ec – energia de combustão por unidade de volume [J/m3]

EQ – energia total resultante da queima da mistura inflamável na nuvem [J]

HE – High Explosive – Alto Explosivo

HMX – Ciclotetrametilentetranitramina (Her Majesty's eXplosive) (explosivo químico)

I+, is + – Impulso por Unidade de Área da fase positiva

IAEA – International Atomic Energy Agency

Is – impulso por Unidade de Área da fase negativa

K, k – rigidez da Mola

L0 - comprimento característico da explosão – método Shock Wave [m]

LE – Low Explosive – Baixo Explosivo

Page 11: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

xi

LIE – Limite Inferior de Explosividade

LSE – Limite Superior de Explosividade

M – massa molecular do gás [kg/kmol]

MEF – Método dos Elementos Finitos

n – número de moles necessários para reação estequiométrica com oxigênio

Pa, patm – pressão atmosférica ao nível do mar [kPa]

PBX – Explosivo plástico

PETN - Tetranitrato de pentaeritritol (explosivo químico)

pr – pico de pressão refletida [kPa]

PROBIT - tipo de análise de regressão

PSO , PO , ps , pO – pico de sobrepressão [kPa]

qo – pressão dinâmica [kPa]

Qx - Energia Específica Mássica do Explosivo Sólido [kJ / kg]

R – distância Escalonada de Sachs

R – raio, distância do ponto ao centro da detonação [m]

RDX – Ciclometilenotrinitramina (Royal Demolition eXplosive) (explosivo químico)

rseg – distância segura [m]

SW – método Shock Wave

T - temperatura [ºC]

t – tempo [s]

ta – tempo de chegada [s]

td - tempo de duração da fase positiva da explosão [s]

TETRIL - Trinitro fenil metil nitramina (explosivo químico)

TNO – Prinz Mauritz Laboratory – instituição de pesquisa do Governo Holandês

TNT – trinitrotolueno – (explosivo químico)

Page 12: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

xii

ts - tempo de decaimento da pressão refletida [s]

tΠ - período natural de vibração da estrutura [s]

u – velocidade do fluido [m/s]

uf – velocidade de propagação da chama [m/s]

V0 – volume ocupado pela mistura estequiométrica gás-ar [m3]

WTNT , W – massa equivalente em TNT [kg]

Y – parâmetro resultante da equação de PROBIT

Z – distância em escala

ZH – distância em escala modificada

β – coeficiente de ruptura

η – eficiência empírica para explosão pelo método do TNT Equivalente

θ – ângulo de incidência da onda sobre a superfície / constante que mede o decaimento da

pressão em micro segundos (μs).

Λ - coeficiente de Reflexão (pr/ps)

ρ - densidade [kg/m3]

Page 13: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15

1.1 Objetivo ................................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ..................................................................................... 17

2.1 Conceitos Básicos de Explosões ............................................................................. 17 2.2 Explosivos Químicos ............................................................................................... 18

2.2.1 Complexo Ativado e Energia de Ativação .................................................... 18 2.3 Classificação dos Explosivos Químicos ................................................................. 21

2.3.1 Quanto à Velocidade de Decomposição ........................................................ 21 2.3.2 Quanto à Formação ........................................................................................ 24

2.4 Energia Liberada na Detonação de Explosivos Sólidos ...................................... 25 2.5 Onda de Choque ..................................................................................................... 27

2.5.1 Parâmetros da Onda de Choque ................................................................... 30

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 37

3.1 Modos de Representação da Onda de Choque .................................................... 37 3.1.1 Método Simplificado ...................................................................................... 37 3.1.2 Outros Métodos de Estimativa da Onda de Choque ................................... 40 3.1.3 Método do TNT Equivalente ......................................................................... 43 3.1.4 Método do Shock Wave – TNO ..................................................................... 46 3.1.5 Método Multienergia – TNO ......................................................................... 48

3.2 Consideração da Fase Negativa ............................................................................. 52 3.3 Reflexão das Ondas de Choque ............................................................................. 53

4 EFEITOS DA DETONAÇÃO SOBRE AS ESTRUTURAS ...................................... 56

4.1 Interação da Onda de Choque com a Estrutura .................................................. 58 4.2 Força Resultante sobre a Estrutura ...................................................................... 63

4.2.1 Carregamento por Difração .......................................................................... 63 4.2.2 Carregamento por Arrasto ............................................................................ 66

4.3 Modos de Reação da Estrutura ............................................................................. 69 4.3.1 Carregamento Impulsivo ............................................................................... 74 4.3.2 Carregamento Quase-Estático ...................................................................... 75 4.3.3 Carregamento Dinâmico ................................................................................ 76 4.3.4 Gráfico Pressão em Função do Impulso ....................................................... 77

4.4 Dimensionando Explosivos em Cabeça de Guerra .............................................. 80 4.4.1 Mecanismo de Danos do Efeito de Sopro ..................................................... 80 4.4.2 Cabeça de Guerra ........................................................................................... 80 4.4.3 Estimativa de Efeitos ...................................................................................... 81

4.4.3.1 Danos sobre uma Edificação ...................................................................... 81 4.4.3.2 Crateramento .............................................................................................. 83 4.4.3.3 Paredes de Concreto ................................................................................... 85 4.4.3.4 Critério de Destruição de Aeronaves, Caminhões e Antenas ................. 87

Page 14: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

14

5 EFEITOS DA DETONAÇÃO SOBRE O SER HUMANO ........................................ 89

5.1 Conceitos ................................................................................................................. 90 5.2 Distância de Segurança .......................................................................................... 90

5.2.1 Área sem Barreiras de Proteção.................................................................... 91 5.2.2 Área com Barreiras de Proteção ................................................................... 93 5.2.3 Artefatos Explosivos Improvisados ............................................................... 94 5.2.4 Artefatos Explosivos Militares ...................................................................... 95

6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 97

6.1 Impacto Operacional .............................................................................................. 98 6.2 Sugestão para Trabalhos Futuros ......................................................................... 99

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 100

APÊNDICE I - Ábacos apresentados por Baker. [9] ........................................................ 102

APÊNDICE II – Diferentes Equações de PROBIT ........................................................... 105

Page 15: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

15

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, tem-se cada vez mais em pauta o assunto “explosão”, nas mais diversas áreas

de atuação, principalmente nas de segurança pública e militar, e os objetivos desse interesse

são quase sempre os mesmos: “Estudar e conhecer o fenômeno da explosão para poder avaliar

riscos e danos, e desenvolver formas de proteção ao ser humano e a todos os bens que ele

possa usufruir em seu meio ambiente”. Já no aspecto militar, o principal interesse é otimizar

os requisitos de força para neutralizar alvos específicos.

Como exemplos mais marcantes das conseqüências de explosões, pelo grande número de

vidas ceifadas, estão os acidentes nas indústrias e os atentados terroristas freqüentes no

Oriente Médio e Europa, com carros-bomba que explodem no meio das ruas, causando danos

materiais e pessoais a distâncias da ordem de dezenas e até mesmo centenas de metros.

Apesar de não contarmos com ações terroristas dessas proporções aqui no Brasil, é

crescente o número de ocorrências policiais envolvendo explosivos, por isso, é inquestionável

a necessidade do conhecimento mais aprofundado sobre o assunto.

1.1 Objetivo

O objetivo deste trabalho de pesquisa é estudar os efeitos provocados pelo súbito aumento

da pressão atmosférica, sobre pessoas e estruturas variadas, em decorrência da detonação de

explosivos químicos.

Conhecendo-se a variação de pressão gerada pela propagação da onda de choque

resultante da detonação de um explosivo químico a uma determinada distância do foco, bem

como os limites de resistência suportados pelo ser humano e por determinadas estruturas, é

possível, com o co-relacionamento desses parâmetros, elaborar tabelas interativas em

planilhas eletrônicas, gerando gráficos de rápida leitura que possam auxiliar na tomada de

Page 16: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

16

decisões relativas à proteção de pessoas e instalações ou mesmo o dimensionamento de uma

força contra alvos específicos.

No próximo item serão apresentados alguns conceitos sobre explosões, explosivos

químicos e suas formas de classificação e introdução à detonações.

Page 17: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

17

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 Conceitos Básicos de Explosões

Por explosão entende-se como uma reação que resulta numa rápida e violenta

liberação de energia com deslocamento de um grande volume de gases, em tempo

extremamente curto.

A literatura costuma classificar as explosões em Nuclear, Elétrica, Mecânica e

Química.

A explosão nuclear é causada por fissão e fusão nuclear descontrolada. Na fissão os

átomos de isótopos instáveis são fundidos através de nêutrons em alta velocidade e a divisão

do núcleo libera energia e mais nêutrons. Estes nêutrons vão dividir mais núcleos que criam

uma reação em cadeia. Na fusão os núcleos leves de hidrogênio e hélio combinam-se para

formar elementos mais pesados e liberam, neste processo enormes quantidade de energia. O

resultado é a explosão que cria uma tremenda onda de choque. Esta reação produz calor e

radiação e a energia liberada é muito maior do que em explosões químicas (por massa de

explosivo).

A explosão elétrica é causada por descarga de corrente elétrica de alta intensidade,

ocorrendo uma expansão gasosa por centelhamento.

A explosão mecânica é causada pelo aumento interno da pressão que rompe o

invólucro, cuja resistência é menor do que a força interna. Ex: pneu de ar, cilindro de gás

combustível, caldeira de água, etc.

A explosão química é o resultado de uma reação físico-química, na qual a velocidade

extremamente alta da reação é acompanhada por uma brusca elevação de pressão e

temperatura, devido ao fato da energia liberada pela reação em cadeia ser feita em um

intervalo de tempo muito curto para ser dissipada na medida de sua produção.

Page 18: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

18

Esse trabalho tratará exclusivamente de explosões químicas.

2.2 Explosivos Químicos

Explosivo é uma substância química ou mistura de substâncias que com a aplicação de

calor ou choque, decompõem-se com extrema rapidez, produzindo muito gás e calor.

A fórmula geral para um explosivo é CxHyNwOz [4].

Reações explosivas são reações de oxidação, em que o oxidante não precisa ser

necessariamente o oxigênio; pode ser um sal oxidante como um nitrato ou perclorato.

Para que uma substância química seja um explosivo, sua reação deve apresentar

formação de gases, evolução de calor, rapidez de reação e iniciação da reação (para ocorrer

quando desejado).

Para que a reação química ocorra, alguns fatores são necessários:

• Afinidade química: é a tendência natural que certas substâncias têm de reagir com outras.

É o que acontece entre ácidos e bases, metais e não-metais, oxidante e redutor, etc.

• Contato entre as moléculas dos reagentes: é necessário que as moléculas se choquem entre

si (choque efetivo – Teoria das Colisões) para reagirem, e esse choque deve ter uma

direção correta e uma energia mínima (energia de ativação). Durante a colisão há a

formação de um complexo ativado (composto mais energético da reação), que é um

composto intermediário e altamente instável.

2.2.1 Complexo Ativado e Energia de Ativação

Complexo ativado é o estado intermediário (estado de transição) formado entre reagentes

e produtos, em cuja estrutura existem ligações enfraquecidas (presentes nos reagentes) e

formação de novas ligações (presentes nos produtos). Para que ocorra a formação do

Page 19: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

19

complexo ativado, as moléculas dos reagentes devem apresentar certa quantidade de energia,

denominada energia de ativação (Ea).

A energia de ativação (Ea) é a menor quantidade de energia que deve ser fornecida aos

reagentes para a formação do complexo ativado e, conseqüentemente, para a ocorrência da

reação. Os fósforos usados diariamente só entram em combustão quando atritados. Nesse

caso, a Ea é obtida pelo atrito. Já na combustão do gás de isqueiro, a Ea é fornecida por uma

faísca. A Figura 2 representa a energia de ativação (b) necessária ao início da reação, a

energia dissipada após a reação exotérmica (c) e o estado de transição formado entre

reagentes e produtos denominado complexo ativado.

Figura 1 – Representação esquemática do comportamento energético de uma reação exotérmica, indicando o complexo ativado e energia de ativação

Alguns fatores influem na velocidade das reações, tais como:

• Estado físico dos reagentes: os gases reagem mais rapidamente que os líquidos e estes

mais rapidamente que os sólidos;

• Superfície de contato: pulverizam-se os sólidos com a finalidade de aumentar a superfície

de contato entre os reagentes, aumentando também a velocidade da reação.

Page 20: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

20

• Calor e luz: essas duas formas de energia são usadas como energia de ativação de algumas

reações. O aumento da temperatura implica um aumento da energia cinética molecular,

aumentando os choques efetivos e, conseqüentemente, a velocidade da reação.

• Catalisador e inibidor: catalisador é a substância que aumenta a velocidade de uma reação

(forma um complexo ativado de menor energia) sem ser consumida durante o processo.

Catálise é o aumento de velocidade da reação, provocado pelo catalisador. O inibidor é a

substância que diminui a velocidade de uma reação (forma um complexo ativado de maior

energia) e é consumida durante o processo.

• Pressão: só apresenta influência considerável na velocidade de reações em que pelo menos

um dos reagentes é gasoso. O aumento da pressão diminui o volume, aumentando o

número de choques e, conseqüentemente, a velocidade da reação.

• Concentração dos reagentes: um aumento na concentração dos reagentes provoca um

aumento na velocidade da reação, pois aumenta-se o número de moléculas reagentes e,

conseqüentemente, o número de choques.

Page 21: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

21

2.3 Classificação dos Explosivos Químicos

A forma clássica de taxonomia de explosivos químicos é apresentada no diagrama abaixo

Figura 2 - Classificação de Explosivos Químicos

2.3.1 Quanto à Velocidade de Decomposição

Os explosivos sólidos podem ser divididos em alto-explosivos (HE-High Explosive) e

baixo-explosivos (LE-Low Explosive), onde a principal diferença está nas velocidades de

queima, quando deflagrados ou detonados. Nos LE as velocidades de reação são sempre

menores do que a velocidade do som, o que não acontece aos HE, onde excedem a velocidade

do som [4].

As reações de decomposição térmica podem ser classificadas como combustão,

deflagração ou detonação.

Page 22: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

22

Combustão é uma reação química de oxidação e geralmente ocorre por conta do oxigênio

do ar e em baixas velocidades e tem como exemplo a queima de um pedaço de carvão ou de

uma vela.

A deflagração se propaga por condutividade térmica. Normalmente com velocidade

subsônica, nesta reação há a participação não só do oxigênio do ar, mas também daquele

intrínseco a substância. É o caso das pólvoras ou propelentes.

Detonação – É uma reação de decomposição com a participação exclusiva do oxigênio

intrínseco da substância explosiva, ocorrendo com velocidades que variam de 1.500 m/s a

9.000 m/s. Em função da quantidade de energia envolvida no processo, far-se-á sempre

acompanhada de uma onda de choque. É esta onda de choque que, com sua frente de elevada

pressão, confere a detonação um enorme poder de ruptura. Na Figura 3 vemos o esquema de

uma detonação, onde há formação de onda de choque; a velocidade de avanço da zona de

reação é maior que a velocidade do som e a zona de reação e o produto da reação tem o

mesmo sentido.

Figura 3 - Esquema de uma detonação [5].

Page 23: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

23

Assim, como nosso foco será em torno dos efeitos das explosões químicas,

estudaremos a reação dos explosivos sólidos classificados como alto explosivos.

Os altos explosivos são sub classificados quanto à sensibilidade como primários e

secundários. As características principais dos explosivos primários são alta sensibilidade ao

choque mecânico, calor e atrito, (compatíveis com um grau aceitável de segurança na

fabricação, transporte, armazenamento e emprego, e em conseqüência, requerem baixa

energia de ativação; sendo os explosivos primários iniciadores de outros explosivos menos

sensíveis. Uma vez iniciada a reação, detonam.

Como exemplos de explosivos primários temos a Azida de Chumbo, Estifnato de

Chumbo, Fulminato de Mercúrio e o Tetraceno. São aplicados em cápsulas detonadoras

elétricas, espoletas, misturas primer, etc. São misturados com substâncias fleugmatizantes,

como cera de abelha, para diminuir a sensibilidade, permitindo o manuseio e uso como agente

ligante.

Quanto aos explosivos secundários, caracterizam-se por apresentar baixa sensibilidade

ao choque mecânico, calor e atrito, sendo iniciados somente por choque de alta intensidade,

produzindo grande quantidade de gases. Como exemplos podemos citar o TNT, PETN, HMX,

RDX, Composição B e os Explosivos Plásticos (PBX). São aplicados em cabeça-de-guerra de

mísseis e foguetes, granadas, bombas, reforçadores (booster), carga oca, cordéis detonantes,

etc.

A reação da carga principal de um explosivo pode ser iniciada empregando-se um

trem explosivo, que se compõe de uma série de elementos explosivos montados na ordem

decrescente de sensibilidade à iniciação e na ordem crescente de potencial de energia.

Conforme ilustra a Figura 4.

Page 24: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

24

DIMINUIÇÃO DA SENSIBILIDADE À INICIAÇÃO

CÁPSULA REFORÇADOR DETONADOR INICIADORA

EXPLOSIVO EXPLOSIVO EXPLOSIVO PRIMÁRIO SECUNDÁRIO PRIMÁRIO

AUMENTO DO POTENCIAL DE ENERGIA

Figura 4 – Esquema de um trem explosivo. [5]

2.3.2 Quanto à Formação

Os explosivos também podem ser classificados quanto ao número de substâncias

constituintes:

• Podem ser formados de uma substância composta, quando temos somente um tipo de

molécula na sua composição. Como o TNT, PETN, RDX, HMX e Azida de Chumbo.

• Podem ser formados por uma mistura de duas ou mais substâncias explosivas. Como

Pentolite - mistura de PETN + TNT (50/50), Composição B - mistura de RDX +

TNT(60/40), Tritonal - mistura de TNT + Al (80/20) e Torpex - mistura de RDX +

TNT + Al (42/40/18).

• Podem ser formados por uma substância explosiva com mais um componente

totalmente inerte, sendo que os “componentes inertes”, geralmente em proporção

nunca superior a 25%, são usados para conferir ao produto final propriedades

mecânicas adequadas ao uso. Como Explosivos Plásticos (PBX) ou mistura de RDX

ou HMX com plástico inerte.

Page 25: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

25

• Podem ser formados por uma mistura de substâncias não explosivas, mas que, quando

juntas em determinadas proporções, formam uma mistura explosiva (misturados

mecanicamente). Assim como pólvora negra (75% KNO3, 15% carvão, 10% enxofre),

explosivo tipo ANFO (nitrato de amônio (NH4NO3) + combustível) e misturas

pirotécnicas em geral.

2.4 Energia Liberada na Detonação de Explosivos Sólidos

Em termos de energia liberada na detonação, é comum admitir que esta é dependente

apenas da massa de explosivo utilizado (W).

Devido à alta densidade dos explosivos sólidos em relação às misturas gasosas, para

cargas semelhantes o volume se torna muito menor. Isso permite a consideração de carga

concentrada nestas situações, gerando então uma onda de pressão esférica no ar. Com isso, o

volume atingido pelos efeitos da explosão no tempo vai depender da distância ao cubo (R 3)

até o epicentro.

A partir desses argumentos, determina-se uma distância em escala (Z) a qual representa

uma Lei de escala para explosivos sólidos, conhecida como “Hopkinson-Cranz law of blast

scaling”. [7, 8]:

(1) 1/ 3 /Z R W=

Para qualquer variação nos parâmetros de distância (R) e quantidade de explosivo

(W), desde que mantidos o mesmo explosivo e a distância em escala, produzirá efeito

semelhante de sobrepressão sobre um alvo [9]. Reforça-se aqui a hipótese de propagação

esférica no ar.

Como esta lei de escala e outras considerações estão bem definidas na literatura,

apresenta-se uma regra geral para a definição da distância mínima segura, utilizando os

mesmos fundamentos [4]:

Page 26: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

26

(2) 1/ 3120.r Wseg =

onde rseg é uma distância radial, em metros, do local do centro da explosão, mínima para

garantir a segurança de pessoas e estruturas. Serve como uma rápida indicação para casos

experimentais sem a necessidade de cálculos mais aprofundados. Estes se fazem obrigatórios

quando avaliados os efeitos sobre estruturas ou sobre as pessoas, apresentados no Apêndice II.

Com a lei de escala definida passa-se a utilizar o TNT como referência para explosivos

devido a sua boa reprodutibilidade em ensaios de explosão e, principalmente, quanto à sua

constituição química pura [4]. Com isto, os estudos e publicações passaram a se referir

sempre como “massas equivalentes” a um “padrão”, o TNT, utilizando-se então WTNT ou W

[kg] como símbolo e unidade, respectivamente. A Tabela 1 contém alguns desses outros

explosivos com suas equivalências de massas. Outros parâmetros de caracterização de

explosões também podem utilizar equivalências relacionadas ao TNT, como o “impulso

equivalente”, por exemplo.

Tabela 1 - Relação de alguns explosivos com suas equivalências em TNT [10]. Nome do Explosivo Energia Específica

Mássica Qx (kJ / kg) TNT Equivalente

(Qx / QTNT)

Amatol 80/20 (80% nitrato de amônia, 20% TNT)

2650 0,586

RDX 5360 1,185

Nitroglicerina (Líquida) 6700 1,481

PETN 5800 1,282

Pentolite 50/50 (50% PETN, 50% TNT) 5110 1,129

TETRIL 4520 1,000

Dinamite de Nitroglicerina 2710 0,600

Page 27: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

27

Utilizando os dados apresentados na Tabela 1 e aplicando na equação (1), pode-se

dizer que os efeitos gerados na explosão de 1 kg de PETN a 100 m do epicentro são iguais aos

causados por 1 kg de Dinamite de Nitroglicerina a 77,64 m de distância do epicentro, pois

suas distâncias em escala (Z) tem o mesmo valor (92,052 m/kg1/3) e as massas de explosivo

são as mesmas.

Demonstrando conforme (1):

1 kg de PETN equivale a 1,282 kg de TNT, logo W= 1,282 kg,

sendo R=100 m > 3100 / 1, 282Z = = 92,052 m/kg 1/3 .

1 kg de Dinamite de Nitroglicerina equivale a 0,6 kg de TNT, logo W= 0,6 kg,

sendo R=77,64 m > 377,64 / 0,6Z = = 92,052 m/kg 1/3 .

2.5 Onda de Choque

Quando um explosivo é detonado no ar, a energia é liberada em torno do material

explosivo forçando o volume gasoso a se expandir, causando o “shock up” que forma a onda

de choque[13].

Em geral, esta região de pressão alterada, iniciada normalmente em forma hemisférica

(Figura 5a), desloca-se radialmente do centro da explosão (epicentro) com uma velocidade

que supera a do som e assume a forma apresentada na Figura 5c, na medida que se afasta

deste ponto central. Esta frente de onda com velocidade supersônica é conhecida como onda

de choque.

Page 28: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

28

Figura 5 - Desenvolvimento da onda de choque gerada por uma detonação [4].

Atrás da onda de choque, o movimento das partículas de ar provoca uma pressão

dinâmica, formada pelos ventos gerados na explosão. No caso de grandes eventos (como

exemplo explosões nucleares), o vento pode ser de fundamental importância na resposta das

estruturas, porém não é fator predominante para os casos menos severos, em geral com

explosivos químicos [1].

A onda de choque apresenta um decaimento de pressão em função da distância tomada

ao epicentro, assumindo o comportamento apresentado na Figura 6, onde a certa distância ao

epicentro passa a apresentar inclusive sucção (pressão negativa) depois do pico do

sobrepressão [4].

Figura 6 - Função pressão-distância para tempos sucessivos de uma explosão em função da distância [4].

A partir disto, define-se uma forma típica de passagem sobre um alvo, como ilustrado

na Figura 7. Esta figura clássica divide o evento em quatro fases distintas.

Page 29: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

29

A . Antes da passagem da onda de choque

B . Imediatamente após a passagem da frente de onda

C . Fase de sobrepressão negativa com o vento reverso

D . Após a onda de choque se acalmar

Figura 7 - Caso genérico ilustrativo das fases de uma explosão e seus efeitos sobre estruturas alvos [4].

Inicialmente, uma situação normal (A.) sucedida pela detonação do explosivo,

acontece o chamado pico de sobrepressão, mostrado na fase (B.), significando um aumento

súbito de pressão acima da pressão atmosférica e que irá determinar a forma da onda de

choque. Segue um decréscimo em forma similar à logarítmica até uma fase de pressão

“negativa”, fase (C.). Por fim, a tendência natural é a estabilização, atingindo novamente a

pressão atmosférica (D.).

O efeito de pressão “negativa” (sucção) é a diminuição da pressão abaixo da

atmosférica, ocorrendo devido à contração dos fluidos que expandiram na explosão para

proporcionar o equilíbrio do sistema.

Page 30: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

30

A incidência da onda de choque sobre corpos gera reflexões que também devem ser

consideradas, modificando a forma como a pressão é aplicada em diferentes pontos de tal

corpo.

2.5.1 Parâmetros da Onda de Choque

A variação da pressão ao longo do tempo, em uma posição definida referente ao

epicentro de uma explosão, mostra um conjunto de informações essenciais na caracterização

da mesma, minimizando e, por vezes, dispensando a definição de outros parâmetros. Diversos

são os métodos numéricos utilizados atualmente para se obter esta função, cada um com o seu

nível de complexidade. Somados a estes, há os experimentais, que podem usar relações de

escala ou não.

Por existirem diversas variáveis envolvidas na concepção de um evento explosivo,

constatam-se algumas características fundamentais dos parâmetros da explosão, sendo elas:

• Tipo de explosivo: Diversas combinações e mistura de elementos químicos são capazes de

gerar explosão, porém, as queimas nas combinações entre sólidos e líquidos normalmente

acontecem mais rapidamente;

• Quantidade: Quanto maior a quantidade seja qual for o combustível, e considerando as

mesmas condições de explosividade e velocidade de queima, por exemplo, maior a

quantidade de energia liberada, e assim, maior o efeito;

• Riqueza da mistura: Por serem reações químicas, existe uma quantidade exata de elementos

constituintes para definir o balanceamento correto da equação, chamada de equilíbrio

estequiométrico. Se não for alcançado este valor para a reação em questão, chamar-se-á uma

mistura desbalanceada, “rica” ou “pobre” conforme for o caso e, conseqüentemente, menor

será a velocidade obtida para a queima;

Page 31: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

31

• Energia de ativação ou de ignição: É a energia mínima necessária para provocar a reação. As

características dos reagentes exigirão uma fonte de ignição de maior ou menor intensidade

para que o processo seja iniciado ou que o mesmo ocorra;

• Local da explosão: Se houver um confinamento, o processo poderá ser acelerado devido à

turbulência que irá causar. O local também influi muito no que diz respeito às barreiras,

reflexão da onda gerada e efeitos nas estruturas próximas, etc.

Assim, estes parâmetros irão definir o comportamento da reação, a qual às vezes não

chega a se transformar em uma explosão efetivamente, tornando-se apenas uma queima

acelerada (deflagração). Quando as velocidades de queima envolvidas são suficientemente

altas para criar a onda de choque, considera-se então uma detonação.

Na deflagração, a reação se propaga fundamentalmente por transmissão de calor das

porções da mistura onde já ocorreu a reação de combustão para aquelas ainda não reagidas.

Pode-se ter a formação de onda de choque, como mostrada na Figura 9, que normalmente

viaja com a velocidade do som.

Quando a propagação da reação ocorre pela passagem da onda de choque na parte da

mistura ainda não reagida, tem-se uma detonação, onde a propagação da onda de choque pode

ser supersônica.

Pa

Figura 8 - Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo [11].

Page 32: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

32

Pa

Pa

Figura 9 - Exemplos de comportamentos de deflagrações do ponto de vista de um alvo [11].

Na observação da Figura 8, verifica-se que o pico de sobrepressão é atingido quase

instantaneamente (quando chega ao alvo), sendo um fator de amplificação dos danos sobre

estruturas. Nos casos de deflagração (Figura 9), principalmente lenta, a fase negativa sempre

ocorre e apresenta uma menor escala em relação à positiva. Como definido pela International

Atomic Energy Agency – IAEA [12], para alguns casos a análise de estruturas submetidas a

deflagrações deve considerar a carga devido ao calor, o qual é responsável por grande parte da

energia dissipada.

Nos casos onde a causa da explosão é um fator físico apenas, como a explosão de um

vaso de pressão ou caldeira, por exemplo, estes pontos cruciais listados anteriormente (tipo de

explosivo, quantidade, etc.) podem ser diferentes, não sendo exatamente o objetivo deste

estudo.

Nestes casos não se considera exatamente uma reação e sim um rompimento de uma

estrutura com a liberação abrupta de energia contida.

A onda de choque pode ser caracterizada através de parâmetros independentes que são [4]:

Page 33: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

33

a) Tempo de chegada (ta ou “arrival time”) é o tempo que a onda de choque leva, contado

a partir do instante da ignição, para atingir um determinado ponto a certa distância da origem

da explosão;

b) Tempo de duração ou “duration time” [td, t0 ou t0 +] da fase positiva, que é o período

que vai do início da passagem da onda de choque pelo ponto considerado até o instante em

que a pressão nele decai pela primeira vez até o valor da pressão atmosférica, antes de entrar

no período de pressão subatmosférica. É o aspecto da capacidade da onda de sopro em causar

danos. A pressão deve agir durante um tempo suficiente para vencer a inércia e deformar o

alvo suficientemente para causar o dano necessário;

c) Período de pressão subatmosférica é aquele durante o qual a pressão cai abaixo da

atmosférica devido à inércia dos gases em expansão, também chamado de fase negativa da

onda de choque;

d) Pico de pressão (sobrepressão) [Pso, Pso+, P0] – Pressão máxima exercida pela onda

de sopro contra o alvo. Para causar danos, o sopro deve ser grande o suficiente para vencer a

resistência estrutural do alvo e deformá-lo. Este valor, associado ao tempo de duração da fase

positiva e ao formato da onda de choque, será usado para calcular o impulso por unidade de

área projetada resultante da passagem da onda, cujo valor corresponde à área entre a curva e a

linha de pressão atmosférica (o zero da Figura 10) durante a fase positiva. Para uma onda com

o formato da mostrada na Figura 10, esta área seria aproximadamente ( t0 . pso+ ) / 2;

e) Impulso por unidade de área [I/A] - O impulso é uma medida combinada da pressão e

da duração do sopro. Essas duas grandezas combinadas proporcionam os efeitos destrutivos

nas estruturas. É claro que cada tipo de estrutura necessita de valores diferentes para serem

destruídas. Os vidros requerem uma curta duração da fase positiva e moderado pico de

pressão. As paredes são demolidas através de um pico de pressão moderado e uma longa

duração na fase positiva. Os estudos nessa área são conhecidos como estudos de letalidade.

Page 34: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

34

Através de modelos matemáticos ou ensaios são obtidas relações entre o tipo de dano

desejado e os valores de pico e duração da fase positiva.

A Figura 10 ilustra com mais detalhes a nomenclatura e seqüência cronológica das fases

de passagem de uma onda de choque generalizada.

Figura 10 - Comportamento da pressão no tempo para uma onda explosiva genérica do ponto de vista de um observador ou alvo [1].

Onde o tA é o tempo de chegada da onda de choque e, a partir daí, segue a forma da

onda de choque já citada na Figura 6. Esse tempo vai depender basicamente da distância (do

ponto ao epicentro), da turbulência do ambiente e da velocidade de propagação da onda.

A integração da curva pressão, (força/unidade de área), versus o tempo resulta no

impulso por unidade de área [I/A] (Figura 10), tanto para a fase positiva quanto para a

negativa [4]. A forma como é mostrada a taxa de decaimento da curva, implica na força

aplicada em uma estrutura alvo. A Figura 11 exemplifica duas curvas de explosões distintas a

e b, com mesmo pico de sobrepressão, tempo de chegada e duração da onda. Observa-se a

curva b com um impulso positivo maior, significando que a sua integral é maior quando

comparada à curva a, e, dessa forma, a resposta da estrutura para ambos os casos será

diferente.

Page 35: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

35

(3) ∫=dt

pdtAI0

/

Figura 11 - Curvas para diferentes explosões sentidas por um alvo qualquer, diferentes impulsos positivos [4].

Cabe salientar que quaisquer alterações ambientais (relevo ou altitude) ou no tipo de

explosivo utilizado podem ocasionar mudanças significativas na forma como se apresentará a

onda de choque e suas conseqüências sobre a estrutura.

Podemos exemplificar a formação de uma onda de choque com a detonação de uma

bomba que ocorre em aproximadamente 10-4 seg, gerando uma pressão da ordem de 100 GPa

e temperaturas superiores a 3000o C. O casco metálico expande-se rapidamente até 1,5 vezes

o seu tamanho original antes de se fragmentar. A energia da detonação, aproximadamente

50%, é consumida em parte para a expansão do casco e para projetar os fragmentos. A energia

restante é dissipada na compressão do meio circunvizinho. Em uma detonação ocorrida na

atmosfera, a espessura da camada de ar comprimido da onda de pressão é da ordem de

0,01mm.

Page 36: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

36

A duração da fase positiva da onda de choque é aproximadamente ¼ da fase negativa.

A variação de pressão, com relação a pressão atmosférica, na fase positiva é muito maior que

na fase negativa.

Veremos no ítem 3 as formas matemáticas de representação da onda de choque,

considerações sobre sua fase negativa e ondas refletidas.

Page 37: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

37

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Modos de Representação da Onda de Choque

Diversos são os métodos utilizados atualmente para estimar a função pressão-tempo,

gerada a partir de uma explosão (principalmente explosões no ar) a uma determinada distância

do epicentro da mesma. Alguns destes, citados a seguir, levam em conta o efeito da

turbulência de gases, local da explosão, riqueza da mistura, entre outros fatores. Outros fazem

considerações simplificadoras que reduzem sensivelmente o tempo para obtenção da resposta.

Com o uso cada vez mais abrangente de técnicas computacionais, os métodos numéricos

também devem ser citados, os quais apresentam excelentes resultados em tempos de respostas

cada vez menores. A seguir, realiza-se uma revisão dos principais métodos disponíveis

atualmente para determinar a distribuição espacial e temporal da pressão produzida por uma

explosão.

3.1.1 Método Simplificado

Para a obtenção das pressões geradas a partir de uma detonação de um explosivo

sólido, um dos métodos mais simples utilizados e, possivelmente, um dos mais difundidos, é o

Método Simplificado. Este faz uso dos ábacos e gráficos apresentados por Baker et al. [9] e,

em alguns casos, aplica a linearização da função de decaimento.

Tais gráficos fornecem os parâmetros indicados na Figura 10 em função da distância

em escala (Z) definida pela equação (1). Esta, por sua vez, é dependente do fator de escala

(W1/3) e da distância (R) entre o epicentro e o ponto estudado. No Apêndice I são apresentados

os gráficos confeccionados por Baker et al. [9]. Apesar de ser um método desenvolvido nos

anos 70, ainda é utilizado e apresenta bons resultados.

A sua aplicação é bastante simples, o que, sem dúvida, é uma das suas maiores

vantagens, pois, uma vez calculada a distância em escala, basta fazer a leitura gráfica direta da

Page 38: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

38

variável de interesse. É importante ressaltar que alguns destes parâmetros citados em 2.5.1 são

obtidos diretamente dos ábacos nas unidades finais, porém outros (is, ta, ts, ir) estão divididos

pelo fator de escala, mostrando a dependência em relação à massa de explosivo. Na leitura

destes basta uma multiplicação pelo fator de escala para se obter a unidade respectiva.

A apresentação das curvas em forma logarítmica com a presença de mais de uma

escala predispõe a erros de leitura, sendo uma desvantagem em razão do tempo dispendido

nesta fase. Outro detalhe importante é o fato de a explosão ser considerada como pontual, o

que para explosivos sólidos em geral não leva a erros significativos, mas para nuvens de

gases, principalmente, para locais mais próximos do centro da explosão, aumenta bastante os

erros.

Quando se tratar de uma explosão em que se deseja considerar a porção refletida da

onda de pressão, utiliza-se também a Figura I.3 do Apêndice I, na página 106, referente à

reflexão. Neste caso, outros parâmetros de entrada devem ser considerados, tais como

dimensões básicas do corpo sobre o qual a onda de choque passará, como também se

considera a velocidade da onda de choque para determinar o tempo que esta leva para

ultrapassar tal obstáculo, utilizando-se também este tempo para encontrar a função de pressão.

A Figura I.2, na página 105, contém outras variáveis possíveis de serem consideradas

na utilização dos ábacos, sendo de fundamental importância os valores de pressão dinâmica

(q0), os quais são somados aos valores de Ps na construção da função pressão-tempo. Um

importante destaque deve ser dado ao fato de que tal pressão dinâmica ganha maior

importância numérica quanto maior for o Ps, principalmente a partir de 200 kPa (Z < 1,8

m.kg1/3), onde os valores chegam a atingir a mesma ordem Ps ≈ q0 .

Uma simplificação conservativa muito comumente utilizada neste método é a

linearização da função de pressão, sendo apenas uma das formas de representar o decaimento

da pressão no tempo. Isto significa que, uma vez encontrados os valores de tempo e pressão,

Page 39: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

39

pode-se traçar uma reta formando um triângulo (reta I da Figura 12). Esta é a aproximação do

comportamento exponencial da pressão para a situação em questão. Smith & Hetherington

[10], comentam que tal reta traçada pode também ser colocada de forma que o tempo Ts fique

menor (reta II da mesma figura), tornando o valor do impulso com o valor mais próximo do

real.

Figura 12 - Aproximações para a função de pressão de uma explosão [10].

Na realidade, a forma como a pressão se comporta ao longo do tempo depende das

constantes θ (para explosões submersas) ou b (para explosões no ar) apresentadas nas

equações (11) e (22) respectivamente, sendo que ambas são dependentes da distância (R) e da

massa de explosivo (W). O método aqui apresentado fornece, também através dos ábacos, a

constante b, de forma que se pode traçar a curva de pressão e integrá-la, possibilitando ainda

uma comparação entre os impulsos gerados para os casos com e sem a linearização da função.

Outra informação fundamental é quanto às detonações em materiais sólidos. Estas são

caracterizadas por um aumento pontual de pressão, o qual expande do centro do explosivo

como uma onda, e por isso, valores de impulsos negativos são muito menos freqüentes nestes

casos, diferindo de explosões de nuvens de gás [12]. Como o método simplificado está

baseado na equivalência em massa de explosivo de TNT, as pressões apresentadas seguem um

comportamento mais parecido com este explosivo. Segundo IAEA [12], normalmente a

Page 40: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

40

representação da fase positiva da curva de pressão apenas incluindo os efeitos de reflexão é

suficiente para avaliações de engenharia.

3.1.2. Outros Métodos de Estimativa da Onda de Choque

Outras formas de representar a pressão no tempo de uma explosão são apresentadas,

porém, será focado neste trabalho o citado por Kinney & Graham [4], por ser voltada para

explosivos químicos sólidos e ser de fácil implementação matemática.

Na maioria, as equações que fornecem os parâmetros têm como variável de entrada a

distância escalonada, como no caso anterior.

Para explosões químicas e nucleares, Kinney & Graham [4] fornecem equações para

determinação destes parâmetros, sendo para as químicas em ambientes abertos as seguintes:

( )

( ) ( ) ( )

2808 1 / 4,5

2 21 / 0,048 1 / 0,32 1 /1,35

so

a

ZPP Z Z Z

⎡ ⎤+⎢ ⎥⎣ ⎦=+ + + 2

(4)

1/ 2

1 16

17

rt da Pa sorx c Pa

⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥

= ∫ ⎢ ⎥⎢ ⎥+⎢ ⎥⎣ ⎦

r (5)

( )

( ) ( ) ( )

10980 1 / 0,54

1/ 3 3 61 / 0,02 . 1 / 0,74 . 1 / 6,9

ZtdW Z Z Z

⎡ ⎤+⎢ ⎥⎣ ⎦=⎡ ⎤ ⎡ ⎤+ + +⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦

2 (6)

( )

( )

40,067 1 / 0, 23

32 3. 1 /1,55

ZIA Z Z

+=

+ (7)

Page 41: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

41

Para explosões nucleares, são apresentadas equações semelhantes, também para

ambientes abertos, sendo que ta possui a mesma equação e não é fornecida a equação para

impulso:

( )233,2 6. . 1 / 87 1800

Pso ZE Z ZPa

⎡ ⎤−= + +⎢ ⎥⎣ ⎦ (8)

( )

( ) ( ) ( )

3180 1 /100

1/ 3 56 61 / 40 . 1 / 285 . 1 / 50000

ZtdW Z Z Z

⎡ ⎤+⎢ ⎥⎣ ⎦=+ + +

(9)

Em caso de explosões submersas em água, Ramajeyathilagam et al. [14] propõem as

seguintes equações para representar o fenômeno:

52,16 61/ 3

EPso Z= (10)

(11) 0,221/ 392,5. .W Zθ =

( ) ( ) / ,0t tdP t P e tsoθ

θ− −

= ≤ ≤ (12)

Onde θ é uma constante que mede o decaimento da pressão em micro segundos (μs).

As equações (11) e (12) fornecem a variação da pressão da onda de choque no tempo

diretamente, permitindo definir matematicamente as outras variáveis como impulso por

unidade de área, tempo da fase positiva, e pico de sobrepressão.

Smith & Hetherington [10] citam também equações propostas por Henrych [15] para

estimar o pico de sobrepressão, baseadas em soluções numéricas e experimentos:

( )14,072 5,540 0,357 0,00625 , 0,05 0,32 3 4Pso bar ZZ Z Z Z

= + + + ≤ ≤ (13)

Page 42: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

42

(6,94 0,326 2,132 , 0 12 3Pso bar ZZ Z Z

= + + ≤ ≤ ) (14)

( )0,662 4,05 3, 288 , 1 102 3Pso bar ZZ Z Z

= + + ≤ ≤ (15)

Para as variáveis impulso, tempo e pressão máxima da fase negativa, Smith &

Hetherington [10] apresentam as equações propostas por Brode [16] que seguem abaixo.

0,35min , ( 1,6)P ZZ

Δ = − > (16)

1/ 31,25T W− = (17)

112

i is Z⎡ ⎤− ≈ −⎢ ⎥⎣ ⎦

(18)

Onde:

ΔP min = pico de pressão na fase negativa da onda de pressão;

T - = tempo total da fase negativa da onda de pressão;

i - = impulso da fase negativa da onda de pressão;

is- =impulso por Unidade de Área da fase negativa.

Com relação às equações apresentadas anteriormente é importante ressaltar o fato de

serem consideradas explosões à baixas altitudes, ao nível do mar. Caso a intenção seja estimar

os valores a elevadas altitudes, onde as condições ambientais são diferentes, podem-se utilizar

as seguintes relações [10]:

PsoPPa

− = (19)

. 0

1/ 3 2 / 3.

i asiE Pa

− = (20)

Page 43: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

43

1/ 3.

1/ 3R PaR

E− = (21)

Onde: Pso = Pico de pressão (sobrepressão);

Pa = Pressão atmosférica;

E = energia do explosivo [J];

R - = distância escalonada de Sachs;

R = distância da explosão analisada [m].

A partir dos parâmetros levantados por diferentes formas apresentadas, tem-se então a

equação da pressão em função do tempo, que é:

( ) 1 exptP t Pso T Ts s

bt⎡ ⎤ ⎧ ⎫⎪ ⎪⎢ ⎥= − −⎨ ⎬⎢ ⎥ ⎪ ⎪⎣ ⎦ ⎩ ⎭

(22)

onde b é o parâmetro de forma da onda dependente da distância em escala e Ts é o tempo da

fase positiva da onda [10].

3.1.3. Método do TNT Equivalente

O Método do TNT Equivalente está baseado na consideração de equivalência entre um

material inflamável e o TNT, o qual já possui diversas representações gráficas e analíticas

para o levantamento dos parâmetros, como visto anteriormente. A massa de TNT é definida

por

MEcWTNT ETNT

η= (23)

Onde:

η = eficiência de explosão empírica;

M = massa de hidrocarboneto [kg];

Ec = calor de combustão do gás inflamável [kJ/kg];

Page 44: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

44

ETNT = calor de combustão do TNT [4437-4765 kJ/kg].

Assim, sabendo-se a massa de gás inflamável que entrou em combustão, a energia de

combustão e estimando-se um valor de η, calcula-se a massa equivalente de TNT. Tal

eficiência deve estar entre 1 e 10%, segundo Lees [17]. Já AIChE/CCPS [6], cita seu valor

como dependente do método de determinação da contribuição da massa de combustível.

Explica ainda que modelos baseados na quantidade total da massa de gás possuem baixas

eficiências, aumentando seus valores para modelos baseados nas massas de nuvens de gás

separadamente. O maior problema deste método é exatamente a definição desta eficiência.

Uma vez encontrada a massa equivalente de TNT (WTNT), utiliza-se a equação (1) para

definir a distância em escala (Z). Este será um dos parâmetros necessários para a equação

(24).

A partir daí, Lees [17] apud [6] propõe um equacionamento para obtenção da

sobrepressão, impulso por unidade de área, tempo de chegada e duração da fase positiva,

chamados de Ф e apresentados na Tabela 2 como segue.

(24) (log .log10 10n i

c a b Zii oΦ = +∑

=)

Sendo:

Ф = variável que se pretende encontrar (PS ; iS ; td ; ta );

a ; b ; c = constantes dadas na Tabela 2;

i = subíndice utilizado na Tabela 2.

Page 45: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

45

Tabela 2 - Lista de constantes e parâmetros utilizados para obtenção dos valores indicados na equação (24). [6, 17].

Constante Faixa Função Φ

P0(kPa) is (Pa.s) td(ms) ta(ms) 1 0,0674 ≤Z ≤ 40 0,0674 ≤Z ≤ 0,955 0,178 ≤Z ≤ 1,01 ≤Z ≤

2 - 0,955 ≤Z ≤ 40 1,01 ≤Z ≤ 2,78 -

3 - - 2,78 ≤Z ≤ 40 -

a 1 -0,214362789151 2,06761908721 1,92946154068 -0,202425716178 2 - -1,94708846747 -2,12492525216 - 3 - - -3,53626218091 -

b 1 1,35034249993 3,0760329666 5,25099193925 1,37784223635 2 - 2,40697745406 9,296288611 - 3 - - 3,46349745571 -

c 0 1 2,78076916577 2,52455620925 -0,614227603559 -0,0591634288046 2 - 1,67281645863 0,315409245784 - 3 - - 0,686906642409 -

c 1 1 -1,6958988741 -0,502992763686 0,130143717675 1,35706496258 2 - -0,384519026965 -0,0297944268976 - 3 - - 0,0933035304009 -

c 2 1 -0,154159376846 0,171335645235 0,134872511954 0,052492798645 2 - -0,0260816706301 0,030632955288 - 3 - - -0,0005849420883 -

c 3 1 0,514060730593 0,0450176963051 0,0391574276906 -0,196563954086 2 - 0,0059579875382 0,0183405574086 - 3 - - -0,00226884995013 -

c 4 1 0,0988554365274 -0,0118964626402 -0,004759336647 -0,0601770052288 2 - 0,014544526107 -0,0173964666211 - 3 - - -0,00295908591505 -

c 5 1 -0,293912623038 - -0,00428144598008 0,0696360270891 2 - -0,006632893347 -0,00106321963633 - 3 - - 0,00148029868929 -

c 6 1 -0,0268112345019 - - 0,0215297490092 2 - -0,00284189327204 0,00562060030977 - 3 - - - -

c 7 1 0,109097496421 - - -0,0161658930785 2 - 0,0013644816227 0,000161821750 - 3 - - - -

c 8 1 0,00162846756311 - - -

0,00232531970294 2 - - -0,00068601889440 - 3 - - - -

c 9 1 -0,021463103024 - - 0,00147752067524 2 - - - - 3 - - - -

c 10 1 0,0001456723382 - - - 2 - - - - 3 - - - -

c 11 1 0,00167847752266 - - - 2 - - - - 3 - - - -

É importante salientar o comentário de Leal [18]: “Um problema encontrado neste

método de cálculo é a geração de resultados de sobrepressão muito altos para pontos

próximos ao centro da explosão. Isto é verdadeiro para explosivos sólidos, mas não

diretamente aplicável à explosão de nuvem de gás. Para esse tipo de explosão, a

sobrepressão não pode exceder o valor observado em um vaso fechado”.

Page 46: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

46

3.1.4. Método do Shock Wave – TNO

Seguindo a evolução dos métodos preditivos, surgiu o Método do Shock Wave – TNO

sendo um método apropriado para explosões de gases [Wiekema, 1979 apud 11]. Este

método considera que a nuvem de vapor pode ser simulada como sendo hemisférica e

homogênea, com mistura estequiométrica e com sua ignição ocorrendo em seu centro. Uma

grande vantagem em relação ao método anteriormente citado é a reprodução mais fiel do

comportamento da explosão a pequenas distâncias do centro da nuvem.

O procedimento de cálculo é apresentado em quatro etapas segundo TNO [19]. A

primeira delas é o equacionamento de um comprimento característico (L0), conforme abaixo:

1/ 3

.0EVCL Vo Patm

⎡ ⎤⎢ ⎥=⎢ ⎥⎣ ⎦

(25)

Onde:

L0 = comprimento característico [m];

V0 = volume ocupado pela mistura estequiométrica gás-ar [m3];

EVC = energia específica da combustão [J/m3]; (3,5 x 106 valor médio para

hidrocarbonetos);

Patm = 101, 325 [N/m2] – Pressão atmosférica ao nível do mar.

Sendo que volume de mistura estequiométrica é calculado considerando o ar contendo

20% de oxigênio, apresentando-se assim o segundo passo do cálculo:

( )1 5. . . .0 .

n m R TV

M Patm

+= (26)

Sendo:

m = massa de gás entre LIE e LSE [kg];

LIE – Limite Inferior de Explosividade;

Page 47: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

47

LSE – Limite Superior de Explosividade;

R =constante dos gases [J/kmol.K];

T = temperatura da mistura [K];

M = massa molar do gás [kg/kmol];

n = número de moles necessários para reação estequiométrica com O2.

Na terceira etapa, estimam-se os níveis de sobrepressão considerando diferentes tipos

de gases, no que diz respeito às suas reatividades: baixa, média e alta, respectivamente.

( )/0P P L xatm φ= /0 (27)

Onde:

P0 = Pico de sobrepressão na onda de choque [N/m2];

φ = níveis de reatividade, apresentado na Tabela 3;

x = distância do ponto tomado até o centro da explosão [m];

Uma vez encontrado o pico de sobrepressão, é calculado o tempo de duração da fase

positiva, formando a quarta e última etapa deste método.

71 .3.3.0 0,456 1 ln 1,0647 1

xL Latd a u f

φφ

φ

⎡ ⎤⎛ ⎞+⎢ ⎥⎜ ⎟⎛ ⎞⎢ ⎜⎜ ⎟= − +⎢ ⎜⎜ ⎟

+⎢ ⎥⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦

0 ⎥⎟⎥⎟ (28)

Sendo:

a = velocidade do som no ar [m/s];

uf = velocidade de propagação da chama [m/s].

As variáveis citadas nas equações (27) e (28), com exemplos de gases, são

exemplificadas na Tabela 3, conforme o grau de reatividade.

Page 48: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

48

Tabela 3 - Definição de valores mencionados nas equações anteriores. [19] Reatividade uf [m/s] φ Exemplos de gases

Baixa (A) 40 0,02 Metano, monóxido de carbono, etc. Média (B) 80 0,06 Etano, propano, butano, etc. Alta (C) 160 0,15 Hidrogênio, acetileno, óxido de eteno, etc.

3.1.5. Método Multienergia – TNO

Este método é utilizado para avaliar a distribuição no tempo e espaço da pressão

produzida por uma explosão gasosa sobre um alvo. Propõe uma série de expressões que

permitem determinar a função de sobrepressão com a “premissa de que apenas as parcelas

com certo grau mínimo de confinamento ou localizadas em partes da nuvem particularmente

obstruídas, ao invés de toda a porção inflamável da nuvem (seção 3.1.4), realmente

contribuem para a geração de sobrepressão efetiva” [11].

Desta forma, pode-se caracterizar a explosão diferenciando locais ou regiões com

características isoladas, sem considerar todo o volume de gás com as mesmas características.

Para isto, um detalhamento do local de concentração dos gases deve ser avaliado, o que já

diferencia este método do apresentado anteriormente. Seguem-se alguns passos necessários

para a aplicação deste método:

1 – Identificar locais de concentração de gases dentro das áreas congestionadas, considerando

que normalmente gases pesados se movem e se concentram em áreas baixas;

2 – Estimar a energia da carga ar-combustível equivalente, sendo importante considerar cada

nuvem separadamente. Os volumes de cada parcela devem ser somados para cada região, mas

devem estar subtraídos dos obstáculos (máquinas, construções, tubulações, etc.). No caso de

uma relação estequiométrica entre o ar (20% O2 e 80% N2) e um hidrocarboneto (tratado

como um gás perfeito), tem-se:

Page 49: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

49

( )1 5. . .0.

. . 0

n R TE EQ VC m M Pgas

+= 0 (29)

sendo:

n0 = relação entre número de moles de gás e nº. de moles de oxigênio para queima

estequiométrica;

M = massa molar do gás [kg/kmol];

R = constante universal dos gases [j/kmol.K];

T0 e P0 = temperatura e pressão ambientes [K] e [N/m2];

EVC = Energia específica da combustão [J/m3] [Harris, 1983 apud [6]].

EQ = Energia total resultante da queima da mistura inflamável na nuvem [j].

3 – Determinar um valor de intensidade da explosão entre 1 e 10, para cada volume

considerado, ou seja, se ela está mais próxima de uma detonação ou de uma deflagração.

Sendo que 10 representa uma explosão com intensidade máxima e direciona normalmente a

análise para uma visão conservativa. Valores comumente utilizados são da ordem de 7, porém

os analistas de riscos definem seus critérios e seus valores [6].

4 – Definir a distância em escala de “Sachs” ( R− ) (apud [6]), utilizando a equação (21), e

com este valor encontrar o pico de sobrepressão em escala de “Sachs” (apud [6]), utilizando a

Figura 13.

Page 50: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

50

Figura 13 - Relação entre distância em escala de Sachs e sobrepressão para diferentes intensidades de explosão [6].

Para esta etapa, colocar em tabela caso diferentes volumes e forças forem

considerados. Multiplicar os valores de sobrepressão escalonada pela pressão ambiente,

resultando nos picos de sobrepressão.

. 0P P PSS = (30)

Neste momento, podem-se somar os efeitos de sobrepressão das diferentes massas de

gás, consideradas se as distâncias do centro destes volumes forem semelhantes, fazendo com

que seus efeitos se sobreponham.

5 – Encontrar também a partir de R o tempo em escala da fase positiva de “Sachs” (apud

[6]), através da Figura 13. Uma vez definido este tempo em escala, calcula-se o tempo de

duração da fase positiva de pressão conforme equação abaixo:

Page 51: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

51

( )0

1/ 3. /Qt E Pt

a+=+ (31)

sendo:

a = velocidade do som no ar [m/s];

t+ = tempo de duração da fase positiva [s].

Figura 14 - Relação entre distância escalonada de Sachs e duração da fase positiva escalonada de Sachs para diferentes forças de explosões [6].

Este método é explicado com detalhe em Santiago [11], onde o autor realiza cálculos

para um vaso de pressão esférico frente à ação de uma nuvem explosiva de um gás pesado.

O maior problema da aplicação deste método é que, novamente, a análise deve definir

a severidade da explosão [6] (ver passo 3 apresentado). O fato de serem apresentadas 10

curvas diferentes permite que esta escolha seja um pouco mais detalhada e criteriosa do que o

método do Shock Wave – TNO.

Page 52: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

52

3.2. Consideração da Fase Negativa

Um aspecto comum na caracterização da onda de sobrepressão é o aparecimento de

uma fase negativa, como já citado na Seção 2.5. Para o levantamento de parâmetros

relacionados a esta fase, Krauthammer e Altenberg [20], citam um ábaco onde se podem

colher diretamente os valores de tempo, impulso, e pressão envolvidos. De uma forma

semelhante à apresentada na seção 3.1.1, basta determinar a distância em escala e utilizá-la

como parâmetro de entrada na Figura 15. Alguns valores de variáveis devem ser

multiplicados pela raiz cúbica da massa equivalente de TNT, da mesma forma como definida

pelo Método Simplificado.

Observa-se que este ábaco foi definido em unidades Inglesas.

Figura 15 - Parâmetros da onda de choque para a fase negativa para uma carga esférica de TNT em ar livre ao nível do mar. [20].

Uma consideração comum para dimensionamentos de estruturas é o uso apenas da fase

positiva da sobrepressão para representar todo o carregamento. Porém, essa consideração não

é verdadeira para todos os valores de distância escalonada (Z), onde valores maiores que 20

Page 53: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

53

apresentam picos de pressão similares, tanto positivos quanto negativos, especialmente

quando Z> 50 [20]. Os mesmos autores apresentam em seu estudo um gráfico que quantifica

os picos (positivos e negativos) de pressão refletida para diferentes distâncias escalares,

conforme Figura 16.

Figura 16 - Magnitudes dos picos de pressão positiva e negativa em função da distância escalar [20].

Uma visualização rápida e simples desta figura mostra a importância da fase negativa

comparada à positiva, principalmente, para maiores distâncias escalares.

3.3. Reflexão das Ondas de Choque

Uma característica comum encontrada em eventos explosivos é a reflexão da onda de

pressão que ocorre quando o deslocamento de ar encontra um obstáculo oferecendo

resistência à sua propagação. Neste sentido, o solo acaba sendo uma destas estruturas

reflexivas, principalmente quando o centro da explosão possui altura diferente de zero, porém

não muito elevada.

A Figura 17 mostra uma detonação no ar em que a onda de choque incidente, de

propagação esférica, é refletida no solo. Em seguida esta onda refletida encontra a incidente,

gerando em conseqüência, uma terceira onda (Onda Mach), de intensidade maior que a onda

incidente.

Page 54: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

54

Figura 17 - Efeito da detonação no ar formando onda mach [5].

A maneira como se apresenta esta reflexão no solo é caracterizada por outros

pequenos picos de sobrepressão, como pode ser visto na Figura 18.

Figura 18 - Curva de pressão vs. tempo mostrando segundo pico de pressão [2].

Liang et al. apud Casagrande[2] apresentam em uma seqüência de figuras uma

comparação dos contornos de pressão para uma explosão. Apesar de considerar os efeitos

Page 55: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

55

viscosos do fluido de propagação, eles observam um comportamento semelhante entre os três

casos de diferentes viscosidades.

Assim como a onda reflete no solo, reflete nos alvos (estruturas) por onde a onda

passa, fator este que depende do ângulo formado entre a onda e a superfície. “Esta reflexão

acaba por aumentar a sobrepressão efetiva assim como a carga resultante sobre a

estrutura”[11].

Em sua dissertação, Santiago [11] apresenta algumas considerações sobre a reflexão

das ondas, ilustrando equações e gráficos que relacionam coeficientes de reflexão,

sobrepressão e o coeficiente b de decaimento da onda de choque.

É apresentada por Autoridad Regulatoria Nuclear [1], algumas equações e uma

metodologia simplificada para estimar o comportamento da pressão sobre um objeto a ser

ultrapassado pela onda de choque.

No próximo ítem será apresentada a interação da onda de choque com a estrutura, as

forças resultantes dessa interação, os modos como a estrutura reage ao carregamento de

pressão e uma aplicação direta ao se dimensionar os explosivos em uma cabeça de guerra para

neutralizar um determinado alvo.

Page 56: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

56

4 EFEITOS DA DETONAÇÃO SOBRE AS ESTRUTURAS

Nesta seção serão apresentados os possíveis efeitos da passagem de uma onda de

choque sobre uma estrutura, bem como as formas pelas quais se pode avaliá-los.

As características de cada onda de choque podem variar muito dependendo de como a

detonação ocorre. O comportamento da curva de pressão em função do tempo, assim como os

fatores responsáveis por ela, analisados na seção 2.5, pode apresentar sensíveis diferenças,

vindo a caracterizar tipos distintos de explosão. Da mesma forma, os efeitos sobre as

estruturas próximas serão diferentes de uma explosão para outra. Isso porque a pressão

máxima atingida pela onda de choque, sua variação progressiva ou abrupta e seu tempo de

duração serão distintos em cada caso, o que se refletirá diretamente no esforço aplicado sobre

a estrutura.

Nos itens 2 e 3 foram vistas as principais características de uma onda de choque.

Agora serão vistas as influências da onda de choque em função das características da

estrutura. Estas características serão usadas para diferenciar a forma de reação da estrutura e

escolher o tipo de análise mais apropriado para cada caso específico.

As principais características de interesse que serão analisadas são:

a) Rigidez estrutural: esta característica é função dos materiais utilizados na

construção da estrutura, refletindo a forma pela qual ela se deformará e quais os limites de

carregamento que podem levá-la ao colapso. Estruturas industriais comumente utilizam perfis

e chapas de aço na sua construção, proporcionando um maior grau de deformação elástica

antes que a deformação plástica e posterior ruptura ocorram. Prédios vizinhos e algumas

instalações de controle costumam ser feitos de concreto armado com paredes de tijolos e

aberturas de vidro, reagindo de forma completamente distinta das estruturas metálicas. No

cálculo da rigidez levam-se em conta as dimensões e o momento de inércia da seção

Page 57: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

57

transversal da estrutura na direção em que se propaga a onda de choque, fazendo com que não

apenas o material da estrutura, mas também seu formato espacial, sejam importantes para

avaliar a reação do conjunto ao carregamento produzido pela explosão;

b) Período Natural tπ : neste estudo será considerado como o inverso da menor

freqüência natural do modo principal de vibração da estrutura. Seu cálculo leva em

consideração a rigidez estrutural e as principais características associadas a ela, assim como a

sua massa e a forma pela qual ela está distribuída na estrutura. A comparação entre a ordem

de grandeza do período natural e o tempo necessário para a passagem da onda de choque pela

estrutura vai indicar o tipo de carregamento ao qual ela estará sujeita que poderá ser

impulsivo, quase-estático ou dinâmico. Em função de qual destes carregamentos ocorrer, será

determinado o tipo de análise mais adequado a cada caso específico;

c) Forma e orientação espacial da estrutura: os efeitos sobre as estruturas são em

função da sobrepressão característica da onda de choque, que é uma força por unidade de

área, cuja influência é diretamente proporcional à área da superfície exposta à onda de choque

da estrutura. Grande parte dos prédios tem forma de paralelepípedo, facilitando muito o

cálculo da interação já que, no caso da direção de propagação da onda de choque ser

perpendicular à sua face frontal, duas faces da estrutura serão perpendiculares ao sentido de

propagação da onda de choque e outras três paralelas a este. Já no caso de reservatórios e

instalações de processamento de matérias-primas, isto não ocorre, fazendo com que se tenha

que levar em conta a variação do ângulo que a superfície faz com a direção de propagação da

onda de choque à medida que esta passa pela estrutura. No caso de uma estrutura em que o

arrasto gerado pela pressão dinâmica da onda de choque seja significativo, a intensidade do

carregamento dependerá de um coeficiente ligado à forma da mesma, dito coeficiente de

arrasto.

Page 58: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

58

A existência ou não de aberturas na estrutura que possibilitem a rápida equalização

entre a pressão externa e a interna é igualmente importante, já que a força resultante numa

determinada direção será a diferença entre as parcelas aplicadas em sentidos opostos. Quanto

mais rapidamente esta diferença desaparecer, menor será o efeito resultante, fazendo com que

as estruturas com aberturas sejam menos suscetíveis aos efeitos do diferencial de pressão

entre as partes que se comuniquem através delas.

4.1 Interação da Onda de Choque com a Estrutura

A passagem da onda de choque sobre uma estrutura é acompanhada de uma série de

eventos característicos desta interação. São fenômenos físicos relacionados à colisão da onda

com a superfície e à transformação da energia cinética das partículas em movimento (vento

associado) em variações na pressão sobre a estrutura.

Uma das características das ondas de choque é que elas sofrem reflexão ao incidirem

sobre uma superfície, dependendo do ângulo formado entre elas. Esta reflexão acaba por

aumentar a sobrepressão efetiva, assim como a carga resultante sobre a estrutura.

As primeiras análises conclusivas sobre os parâmetros de uma onda de choque foram

feitas por Rankine e Hugoniot utilizando os princípios de conservação de momento e energia.

Muitas conclusões mostradas aqui são baseadas nesses estudos teóricos.

Se o ar for considerado como um gás ideal, com a razão entre seus calores específicos

Cp / Cv = γ , é possível mostrar que para um ângulo de incidência (ângulo entre a direção de

propagação da onda e a normal à superfície) igual à zero, ou seja, um choque frontal com uma

parede plana, a pressão refletida é dada segundo Smith e Hetherington, [10], por:

2 ( 1)r s sp p qγ= + + (32)

onde pr é a sobrepressão refletida, ps o pico de sobrepressão incidente e qs é o pico de

pressão dinâmica.

Page 59: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

59

Igualmente pode ser mostrado que, considerando γ = 7/5 (gás ideal) e qs, conforme

(34), a equação acima resulta em:

0

0

7 427

sr s

s

p pp pp p+

=+

(33)

onde p0 é a pressão atmosférica, e para a qual pode-se considerar dois casos extremos:

a) Quando ps é muito menor que p0, a equação se reduz a: pr = 2 ps;

b) Quando ps é muito maior que p0, a equação se reduz a: pr = 8 ps ;

Sendo assim, pode-se dizer que, teoricamente, para uma onda de choque incidindo

com ângulo igual a zero sobre uma superfície plana, a sobrepressão refletida será de duas a

oito vezes o valor da sobrepressão incidente. À relação dada pela sobrepressão refletida

dividida pelo pico de sobrepressão incidente dá-se o nome de Coeficiente de Reflexão

( Λ = pr / ps ).

Quando a estrutura é atingida pela onda de choque, há um aumento instantâneo da

sobrepressão efetiva, causado pela reflexão da onda incidente, seguido de um período de

rápido decaimento da sobrepressão (ts), ao fim do qual a sobrepressão e a pressão dinâmica

retornam ao patamar encontrado no fluxo livre, conforme pode ser visto na Figura 19 [21]:

Figura 19 - Sobrepressão e pressão dinâmica em função do tempo, passando por uma estrutura esférica [21].

Page 60: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

60

As cargas resultantes sobre a estrutura decorrem da influência dessas duas pressões

atuantes sobre sua superfície, a sobrepressão e a pressão dinâmica (“side-on overpressure” e

“dynamic pressure”). A pressão dinâmica, multiplicada por um coeficiente de forma

característico da estrutura é chamada pressão de arrasto (“drag pressure”).

Tem-se ainda que a pressão dinâmica, sendo função da velocidade das partículas em

movimento produzido pela sobrepressão (vento associado), pode ser expressa como uma

relação entre o pico de sobrepressão e a pressão atmosférica segundo a equação (34) [22]:

( )

2

0

52 7

ss

s

pqp p

=+

(34)

As curvas características da pressão dinâmica e da sobrepressão mostram na Figura 19

um comportamento típico de decaimento exponencial ao longo do tempo.

É possível verificar que este comportamento pode ser expresso pelas seguintes

equações para a sobrepressão e pressão dinâmica, respectivamente:

(35) - /( , ) ( ).(1- / ). t ds s d

b tp x t p x t t e=

(36) - /( , ) ( ).(1- / ). t ds s d

b tq x t q x t t e=

Nas equações (35) e (36) t é o tempo de decaimento e o fator b é função da

sobrepressão relativa pS /p0 e pode ser obtido diretamente ou por interpolação dos valores da

tabela 4 [9]:

Tabela 4 - Fator b em função da sobrepressão relativa pS/p0. [9]

ps/p0 3,46 2,05 1,38 0,772 0,506 0,161 0,0374 0,0261 0,0198 b 3,49 2,06 1,58 1,32 1,05 0,382 0,1170 0,1110 0,1490

Interpolando os valores da Tabela 4, pode-se calcular o decaimento da sobrepressão e

da pressão dinâmica em função do tempo para caso específico em estudo.

Para saber qual será a sobrepressão efetiva instantânea num ponto da estrutura, é

preciso calcular a sobrepressão refletida pela estrutura em cada ponto de sua superfície

Page 61: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

61

externa naquele instante. Esta reflexão é função, além da densidade do fluido (ar no caso), do

ângulo que a normal à onda faz com a normal à superfície da estrutura, e do tipo de onda em

estudo. Aqui será visto este comportamento para ondas de choque, mas deve ser notado que

para ondas de pressão os resultados seriam diferentes, como fica visível no gráfico (b) da

Figura 20.

Quando o ângulo de incidência for nulo, como em um choque frontal com uma parede

paralela à onda de choque, a equação (32) fornece o resultado desejado. No caso de choques

oblíquos, ou quando a superfície não é plana e este ângulo varia de ponto para ponto, precisa-

se recorrer a curvas experimentais que fornecem o Coeficiente de Reflexão Λ para cada

posição.

Na Figura 20, vê-se estas curvas para diversas razões entre sobrepressão relativa

(pS/p0), tanto para onda de pressão (b) como para ondas de choque (a), em função do ângulo

de incidência [22].

Page 62: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

62

Figura 20 - Coeficiente de Reflexão Λ em função do ângulo de incidência e da relação pS/p0 para ondas de pressão (b) e de choque (a) [22].

Para saber qual é a sobrepressão total que estará atuando sobre as superfícies

refletoras, deve-se somar a sobrepressão refletida com a pressão de arrasto multiplicada pelo

Coeficiente de Arrasto Cd. Este coeficiente depende da forma da estrutura com a qual a onda

de choque está interagindo e é facilmente obtido na literatura [17] para as formas geométricas

mais comuns.

Page 63: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

63

4.2 Força Resultante sobre a Estrutura

4.2.1 Carregamento por Difração

O carregamento produzido pela sobrepressão incidente, durante o processo de

interação no qual ela é refletida pela estrutura, é chamado de Carregamento por Difração, já

que este processo engloba os diversos tipos possíveis de reflexão ou mesmo a ausência dela.

Este carregamento pode ser dividido entre esforços gerados pelo diferencial de pressão entre a

superfície frontal e a posterior da estrutura, assim como pelos esforços gerados pelo

diferencial de pressão entre o interior e o exterior da mesma.

Nos casos de estruturas suspensas é conveniente decompor a força em três

componentes de acordo com sua direção em relação à direção da passagem da onda de

choque:

-FX : Força Longitudinal de Arrasto na mesma direção da onda de choque (vetor i);

-FY : Força de Empuxo Horizontal (vetor j);

-FZ : Força de Empuxo Lateral (vetor k);

Como a força total é a soma de FX , FY e FZ , que são as integrais ao longo da

superfície da estrutura das componentes da pressão normais às direções X, Y e Z

respectivamente, será visto que a Força de Empuxo Horizontal FY só existirá em estruturas

assimétricas em relação ao plano XZ paralelo ao solo, caso contrário suas componentes em

sentidos opostos se anularão. O mesmo se aplica às estruturas assimétricas em relação ao

plano XY , nas quais a Força de Empuxo Lateral não se anula.

O raciocínio que se segue diz respeito aos casos em que o esforço causador de um

possível colapso estrutural é aquele aplicado na direção de propagação da onda de choque, o

que corresponde à força FX, desprezando as outras componentes por considerá-las

inexistentes por simetria lateral e horizontal. As estruturas em que estiverem presentes forças

Page 64: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

64

de empuxo horizontal ou lateral seguem o mesmo raciocínio, adicionando estas componentes

ao carregamento total.

Para se obter a curva de carregamento por difração sobre a estrutura, ao longo da fase

positiva da onda de choque, é preciso saber qual a evolução da sobrepressão em cada ponto da

estrutura em função do tempo contado a partir do início da passagem da onda, comportamento

este descrito pela equação (35). Se for considerada a projeção no sentido de propagação da

onda (dAp) de uma área infinitesimal dA da superfície da estrutura, correspondente a um

diferencial de deslocamento dx da onda sobre o eixo de propagação, e multiplicar-se a mesma

pelo valor da sobrepressão instantânea e pelo coeficiente de reflexão naquele ponto, se obterá

a força atuante sobre esta superfície na direção de propagação da onda.

Considerando o carregamento sobre a face frontal como positivo e aquele sobre a face

posterior como negativo, o carregamento total, num dado instante, será dado por:

(37) 0

( ) ( , ). ( ). ( )x

r s px

F t P x t x dA x= Λ∫

Esta integral fica mais clara quando se expressa a área infinitesimal projetada dAp em

função do diferencial de deslocamento dx da onda sobre o eixo de propagação, como citado

anteriormente, usando como limites o ponto inicial x0 e o ponto final x, alcançado pela onda

de choque na estrutura até aquele instante, sobre este mesmo eixo de coordenadas.

A conversão da área infinitesimal real em projetada depende é claro da forma da

superfície da estrutura, podendo ser expressa como uma equação apenas para uma parcela das

formas geométricas estruturalmente utilizadas. Caso isso não seja possível, deve-se encarar

esta tarefa como um somatório de trechos discretos e finitos de uma estrutura complexa, o que

acarretaria um pouco mais de tempo e esforço para a obtenção do carregamento por difração

resultante.

Page 65: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

65

A Figura 21 mostra uma estrutura submetida a um carregamento por difração,

onde ocorreu uma aplicação repentina da pressão sobre todas as faces do alvo, de forma

aproximadamente simultânea.

Figura 21 - Estrutura submetida a carregamento por difração I [5].

Sob condições onde a frente de choque não envolveu todo o alvo, ocorre um

diferencial de pressão entre a parte dianteira e traseira. O diferencial de pressão produz uma

força lateral (“diffraction loading”) que tende a deslocar o alvo na mesma direção da onda de

sopro. Uma vez o alvo totalmente envolvido, o diferencial de pressão deixa de existir. Porém,

a pressão aplicada ainda é superior à pressão normal e a força lateral (“diffraction loading”)

dá lugar a uma pressão que tende a comprimir (“esmagar”) o alvo.

A Figura 22, mostra a seqüência de danos causados em um edifício submetido a um

carregamento por difração.

Page 66: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

66

igura 22 - Estrutura submetida a carregamento por difração II [5].

4.2.2 Carregamento por Arrasto

ento por

Arrasto. A tida multiplicando a pressão dinâmica

instant

de

incidên

1. A onda de choque quebra as vidraças, arrebenta as paredes e as colunas podem ser danificadas.

2. A onda de choque força o piso para cima.

3. A onda de choque envolve a estrutura, pressiona o teto para baixo e pressiona todos os lados para dentro.

F

O carregamento gerado pela pressão de arrasto é chamado de Carregam

pressão de arrasto instantânea é ob

ânea pela área projetada e pelo coeficiente de arrasto, Cd, na direção da passagem da

onda de choque, coeficiente este obtido da literatura [17] em função da forma da estrutura.

Os coeficientes para superfícies refletoras com formas geométricas mais usuais são

facilmente encontrados na literatura, porém seus valores para as superfícies cujo ângulo

cia não mais permite reflexão (acima de 90º) possuem valores negativos, o que

corresponde à formação de vórtices e zonas de baixa pressão aerodinâmica nestas regiões,

diminuindo aí a sobrepressão total sobre a superfície.

Page 67: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

67

O cálculo do carregamento por arrasto pode ser feito de forma semelhante ao do

carregamento por difração, como mostra a equação 38 :

(38)

A influência do carregamento por arrasto é tanto maior quanto mais longo for o

período da fase positiva da pressão [17], ou quanto menor for a dimensão da estrutura na

direção

Durante todo o período em que a fase positiva da onda de sopro está atuando, o alvo é

bmetido a um carregamento de pressão dinâmica causado pelos ventos transientes de

grande

. Para edifícios e tanques de armazenamento é mais importante o

carregamento por difração, já estruturas altas e esguias como postes e torres são mais afetadas

0

x

d d px

( ) ( , ). . ( )F t Q x t C dA x= ∫

de propagação da onda de choque como será visto adiante.

Figura 23 - Estrutura submetida a carregamento por arrasto [5].

su

intensidade que acompanham a frente da onda de choque, produzindo uma força

lateral na direção da onda.

De acordo com a geometria da estrutura ela será mais suscetível a danos por um ou por

outro tipo de carregamento

Page 68: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

68

pelos c

erão arrancados e poderão ser deslocados por

vários

Tabela

os Mecanismo de danos

arregamentos por arrasto. Por este critério costuma-se chamar as primeiras de Alvos de

Difração (diffraction target) e às últimas de Alvos de Arrasto (drag target), numa clara alusão

ao uso militar inicialmente feito desses termos.

Alguns alvos que são relativamente flexíveis não são danificados pelo carregamento

por difração. Estes mesmos alvos podem ser vulneráveis aos danos pelo carregamento por

arrasto. Alvos que não são firmemente fixados s

metros. As pessoas são muito vulneráveis a este tipo de dano, bem como à ameaça

secundária de ser atingido por outros objetos e destroços lançados pela explosão. Aeronaves e

equipamentos leves também são susceptíveis de serem danificados pelo carregamento por

arrasto.

A Tabela 5 apresenta exemplos de possíveis alvos, e a indicação de que efeito de

carregamento são mais vulneráveis

5 - Exemplos de Mecanismo de Danos para o Efeito da Onde de Choque [4].

Alv

Edifícios Industriais Difração

Estradas e Pontes Difração

Blindados Leves Arrasto

Blindados Pesados Difração

Tro rtopas em Campo Abe Arrasto

T ropas em bunkers Difração

Aeronaves Estacionadas Arrasto

Page 69: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

69

4.3 Modos de Reação da Estrutura

ra a um carregamento se traduz em determinado deslocamento ou

eformação produzidos nela durante determinado período de tempo. Caso a deformação

exceda o limite máximo de deformação do material, ou o deslocamento seja maior que o

tolerável, poderá ocorrer o colapso parcial ou total da estrutura. A forma como a estrutura

reage à medida que o carregamento é aplicado sobre ela depende de diversos fatores que serão

alvo de análise nesta seção.

Quando o carregamento atuante sobre uma estrutura a mantém dentro do regime

elástico, a força aplicada a ela produz um deslocamento proporcional a uma resistência

característica. Para estruturas elásticas esta resistência pode ser comparada à rigidez k de uma

mola. Cessado o carregamento, a estrutura volta ao seu estado inicial, revertendo o

deslocamento causado por ele. O comportamento elástico pode ainda ser linear ou não-linear.

No caso de estruturas elásticas lineares, a razão de proporcionalidade entre carregamento e

deslocamento é fixa, ao contrário daquelas elásticas não-lineares em que esta razão varia de

acordo com a intensidade do carregamento aplicado. Caso o carregamento supere o limite

elástico da estrutura, poderá ocorrer uma deformação plástica, ou seja, um deslocamento

adicional que se manterá permanentemente mesmo após cessado o carregamento. Quando o

carregamento exceder o limite elástico do material e a força exercida superar a capacidade de

deformação plástica do mesmo, haverá o colapso da estrutura.

Na Figura 24 vê-se os gráficos de carregamento em função do deslocamento (F x X)

onde ficam claras as diferenças de comportamento entre os diversos tipos de materiais usados

em estruturas com seus comportamentos típicos.

À esquerda e acima da Figura 24 [22] vê-se o comportamento de um material elástico

linear (a), seguido à sua direita pelo comportamento de um material elástico não-linear (b). O

gráfico abaixo e à esquerda representa o comportamento de um material plástico (c) e o

A reação da estrutu

d

Page 70: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

70

debaixo e à direita um material elasto-plástico (d), o qual se comporta elasticamente até um

mite de deformação Xel, e plasticamente após este limite, o que reproduz o comportamento

da maior parte dos materiais utilizados estruturalmente.

li

Figura 24 - Carregamento F(t) e deslocamento x de estruturas elásticas lineares (a), elásticas não-lineares (b), plásticas (c) e elasto-plásticas (d) [22].

Se for aplicada repentinamente uma força sobre a estrutura, esta tenderá a oscilar

numa determinada direção. A amplitude da oscilação resultante e sua duração serão

determinadas por uma constante de amortecimento C característica da estrutura, assim como

seu período dependerá de suas m

um grau de liberdade. Este modelo simples

é representado por um conjunto massa-mola, onde m é a massa concentrada, k é a rigidez da

mola e C a constante de amortecimento aplicáveis à Teoria da Elasticidade [23].

assa e rigidez.

Uma das formas mais usuais de estudo, consiste em tratar a estrutura como uma massa

única concentrada (“lumped system”) com apenas

Page 71: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

71

A Figura 25 ilustra este modelo com apenas um grau de liberdade com a possibilidade

de amortecimento (b) e o caso mais simplificado em que o sistema é livre para oscilar de

forma não-amortecida (a) [17].

Figura 25 - Sistema Massa-Mola com um grau de liberdade não-amortecido (a) e amortecido (b) [17].

to nos sistemas equivalentes usados

para análises estruturais simplificadas, portanto será adotado para efeito de raciocínio o

esquema não-amortecido (a) da esquerda da Figura 25.

No caso de prédios com formatos semelhantes a paralelepípedos, onde a estrutura é

totalmente fechada, a estimativa pode ser considerada válida apesar da simplificação imposta

pelo método. Já para estruturas parcialmente abertas, com variações abruptas de seção

transversal ou qualquer outro tipo de característica que as tornem particularmente complexas,

a análise como um sistema concentrado impõe um grau de inexatidão exagerado e a solução

poderá ser mais facilmente encontrada pelo uso de ferramentas de análise mais sofisticadas.

É comum se desprezar o efeito de amortecimen

Page 72: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

72

Uma d

à análise, é necessário que se estabeleça a forma como se

dará o carregamento e compará-la com uma outra característica da estrutura: seu período

natural de oscilação.

Calcular o período natural de uma estrutura tridimensional é uma tarefa que se torna

tão complexa quanto mais elaborada for a forma da mesma. Usualmente se faz necessário

certo grau de simplificação para que este processo seja realizado de forma mais rápida,

simplificação esta que envolve um grau de imprecisão tolerável nas estruturas mais simples.

Com a montagem do sistema equivalente pode-se obter o período natural tΠ da

seguinte forma:

as formas já citadas anteriormente envolve a análise estrutural através de programas

baseados no Método de Elementos Finitos (MEF).

Para dar prosseguimento

2 mtk

πΠ = (39)

Obtido o período natural, o passo seguinte é compará-lo com a duração da fase

a onda de choque. Para tanto se aplica um dos métodos preditivos, escolhendo-o

conforme os critérios expostos na seção 3.1 em função do cenário estudado, obtendo assim os

valores de pico de sobrepressão e duração da fase positiva da para cada distância ao centro da

detonação. Com base nesses resultados pode-se estabelecer uma relação td / tΠ representativa

da situação em estudo. Caso o cenário em estudo envolva uma distância pré-estabelecida para

a distância da estrutura ao centro da detonação tem-se apenas um valor para t . Pode-se

também querer determinar a distância mais segura entre a estrutura e o explosivo, usando

então uma faixa de distâncias neste cálculo e obtendo como resultado uma faixa de relações

t / t .

ou dinâmico após fazer a comparação entre seu período natural de oscilação e a duração da

positiva d

d

d Π

Logo, será possível dizer se o carregamento da estrutura será impulsivo, quase-estático

Page 73: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

73

fase positiva , seja para uma distância fixa como para uma faixa de distâncias entre a estrutura

e o foco. Toma-se como referência para termo de comparação o valor do deslocamento

calcula

ra começasse com seu valor máximo e tivesse um decaimento linear

(F(t) =

0,1 até

do como se a carga fosse estática com valor da força máxima exercida sobre a

estrutura, o qual será chamado de Deslocamento Estático. Supondo uma onda cuja força

inicial sobre a estrutu

F0 – C . t ), chamado daqui em diante de Carregamento Triangular, é possível calcular

numericamente a curva resultante de deslocamento em função do tempo para uma série de

durações de carregamento td, em função de um período natural fixo tΠ. É possível visualizar

no gráfico da Figura 26 uma série de curvas força X deslocamento para relações variando de

10 [4].

dttΠ

Deslocamento estático

p mo l e g a d a s

i l i met r os

Figura 26 - Efeito da duração do carregamento na resposta de um sistema concentrado com um grau de liberdade para vários valores de td / tΠ .[4]

A linha tracejada horizontal da Figura 26 representa a deslocamento estático. A

comparação deste valor com as deformações calculadas para diversas relações de td / tΠ

mostra claramente que quanto maior for a duração do carregamento maior será o

deslocamento da estrutura para um mesmo valor de força aplicada.

Page 74: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

74

4.3.1 Carregamento Impulsivo

Quando o tempo que a onda de choque leva para passar pela estrutura é pequeno se

comparado ao seu período natural, pode-se tratar o carregamento como um único impulso

aplicado na estrutura, o que chamaremos de Carregamento Impulsivo.

A Figura 27 ilustra este tipo de carregamento F(t) no qual a estrutura não tem tempo

de produzir um deslocamento significativo R(t) antes que a fase positiva da onda de choque

acabe no tempo td [10]:

tΠ F(t)

t

Figura 27 - Carregamento Impulsivo F(t) de duração td << tΠ.

Para um ento Impulsivo (td / tΠ < 0,1), considera-se que o impulso faz com

que a estrutura adquira uma aceleração inicial inversamente proporcional à sua massa,

correspondente a certo valor de energia cinética que será transformada em deformação, cujo

carregam

máximo é dado por:

max .Ixk m

= (40)

onde m é a massa e I é o impulso, que corresponde à área abaixo da curva da força em

função do tempo F(t).

Page 75: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

75

O impulso pode ser expresso, portanto pela seguinte integral:

( )t

0I F t dt= ∫ (41)

Para o caso de um carregamento triangular a área abaixo da curva é um triângulo e o

impulso será dado por:

max.2dtI F= (42)

4.3.2 Carregamento Quase-Estático

Quando a duração da fase positiva td for maior que o período natural tΠ , a estrutura

terá tempo de reagir durante o carregamento e seu deslocamento R(t) atingirá seu máximo

durante a fase positiva da onda, podendo o termo de inércia da equação (40) ser desprezado na

análise. Nos carre ntos Quase-estáticos, o deslocamento máximo da estrutura pode ser

estimado como o dobro do deslocamento estático F/k, que é o máximo que F(t) tende a atingir

pelo gráfico da Figura 26 durante a passagem da onda pela estrutura, ou seja:

game

max 2. Fx = (43) k

da estrutura.

exemplo deste carregamento pode ser visto na Figura 28 [10]:

É perceptível na Figura 26 que a aproximação da resposta do sistema por um

carregamento estático é tolerável até uma relação td / tΠ de 0,3. Além desse valor deve-se

tratar a passagem da onda de choque como um carregamento dinâmico para não subestimar o

deslocamento efetivo

Um

Page 76: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

76

td

t tΠ

Figura 28 - Carregamento Quase-estático F(t) de duração td muito maior que o período natura

4.3.3 Carregamento Dinâmico

Quando o período natural for da mesma ordem de grandeza da duração da fase

positiva da onda, deve-se analisar o carregamento como uma carga dinâmica, representada

por um somatório de esforços sobre uma estrutura em oscilação, ou por uma integral sempre

que for possível traduzir analiticamente a curva da força em função do tempo.

ara os Carregamentos Dinâmicos, a curva

compo

gamento foi menor ou se excedeu o limite de deformação

da estr ral neste caso

particular.

Na Figura 29 é vista a representação gráfica do deslocamento em função da carga para

um Carregamento Dinâmico, mostrando claramente a semelhança na ordem de grandeza da

duração da fase positiva e do período natural de oscilação da estrutura, representada pela

reação da mesma ao carregamento [10]:

l da estrutura tΠ .

P de carregamento deve ser analisada, seu

rtamento se possível traduzido por uma equação, e as equações da oscilação do corpo e

do deslocamento igualadas para se isolar o deslocamento máximo resultante.

Com base neste deslocamento máximo resultante e nas características mecânicas do

material, é possível dizer se o carre

utura. Assim pode-se afirmar se ocorreu ou não o colapso estrutu

Page 77: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

77

tΠ td

Figura 29 - Carregam d da mesma ordem de grandeza que o período

em estruturas

é utilizar um

valiações mais

superficiais e sim

deslocamento total, dividido pelo deslocamento elástico máximo, e dá uma idéia do

deslocam

Outro fator envolvido no uso deste diagrama é o Fator de Carregamento Dinâmico

d Π

ento Dinâmico F(t) de duração t natural da estrutura tΠ . [10]

4.3.4 Gráfico Pressão em Função do Impulso

Uma forma muito utilizada para avaliar a capacidade de produzir danos

gráfico pressão X impulso, do qual têm-se aqui uma noção simplificada, pois o

objetivo deste ítem é uma análise mais profunda dos efeitos da detonação sobre as estruturas,

cabendo apenas uma visão rápida desta ferramenta bastante utilizada para a

plificadas de dano estrutural.

Seu uso como ferramenta de previsão de dano estrutural envolve uma avaliação da

razão de dutilidade, Du, do material da estrutura. Este coeficiente é a razão entre o máximo

ento plástico que a estrutura pode suportar antes do colapso.

(DLF - Dynamic Load Factor), que é o mesmo t / t usado no gráfico da Figura 26. O DLF

Page 78: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

78

varia entre zero, para os casos em que a duração da fase positiva é muito menor que o período

natural, e dois, quando o período natural é muito menor que a duração da fase positiva.

Quando se multiplica o valor máximo de carregamento dinâmico pelo DLF, obtêm-se uma

aproximação do valor equivalente se o cálculo fosse feito como um carregamento quase-

estático.

Para construir o gráfico da pressão X impulso, usa-se como valores das assíntotas,

para o cenário em estudo, aqueles obtidos da seguinte relação para o impulso:

´ 2.i Du 1= − (44)

e da seguinte para a assíntota de pressão:

0,5´ DuP −

Du= (45)

a curva no mesmo diagrama, delimitando faixas

intermediárias de dano leve, médio e destruição parcial da estrutura em função do grau de

dutilidade u a para cada condição.

Pode-se usar mais de um

sado, ou seja, da deformação plástica máxima permitid

Page 79: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

79

Um gráfico assim obtido é visto na Figura 30 [22]:

Fre

igura 30 - Diagrama Pressão em função do Impulso mostrando regiões de carregamento sultante de uma onda de choque capaz de gerar danos leves (entre 1 e 2), danos graves

(entre 2 e 3) ou colapso (à direita e acima de 3) da estrutura. [22]

A partir da montagem deste diagrama, seu uso é uma forma fácil e simplificada de

avaliação de dano à estrutura. Quando um determinado carregamento for plotado no gráfico,

caso esteja na região acima e à direita da curva a estrutura pode ser considerada danificada.

Os carregamentos que caiam na região abaixo e à esquerda das curvas não causariam dano

significativo à estrutura. Já aqueles carregamentos que caíssem entre as curvas representariam

os casos de danos leves (entre Du=1 e Du=5), e de danos graves (entre Du=5 e Du=10).

É importante observar que este tipo de gráfico não deve ser usado para carregamentos

impulsivos, sendo um recurso aplicável com relativa precisão apenas para os casos em que

DLF > 0,1 , abrangendo os carregamentos dinâmicos e quase-estáticos.

Page 80: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

80

4.4 Dimensionando Explosivos em Cabeça de Guerra

Considerando todas as informações aqui apresentadas, temos base suficiente para

sugerir o uso de equações matemáticas que definam a vulnerabilidade dos alvos ao efeito de

sopro com a finalidade de dimensionar uma cabeça-de-guerra e seu explosivo para a

neutralização de tais alvos.

4.4.1 Mecanismo de Danos do Efeito de Sopro

A maior parte dos danos resultantes da detonação de um alto explosivo ou de uma

explosão nuclear é devida, tanto direta como indiretamente, à onda de sopro (onda de choque)

que acompanha a detonação.

Conforme descrito em 2.5.1, a detonação de altos explosivos pode gerar pressões de

até 700 ton / pol2 e temperaturas da ordem de 3000º a 4500º C, antes da ruptura do corpo.

Aproximadamente metade da energia dos gases produtos da detonação é utilizada para

expandir o corpo em cerca de 1,5 vezes o seu diâmetro antes da fragmentação e ejeção dos

a sobrepressão de tal

ma q

uir alvos. Em síntese,

fragmentos, a energia restante é gasta para comprimir o meio circundante e é a responsável

elo efeito de sopro (blast). A destruição ocorre através da geração de ump

for ue o alvo não resiste estruturalmente.

Fatores tais como a resistência estrutural do alvo, sua resiliência (capacidade de se

deformar e retornar ao estado original), seu tamanho, e sua orientação em relação à detonação

influenciam o efeito de sopro sobre a estrutura. O sopro deve ser concentrado e precisamente

direcionado contra os elementos vitais para produzir um dano significativo.

4.4.2 Cabeça de Guerra

As cabeças-de-guerra são invólucros carregados com explosivos e conferem aos

mísseis, foguetes ou munições de um modo geral, a capacidade de destr

Page 81: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

81

é a çado. É constituído de um

invóluc

cendiário, etc. O foco deste trabalho é sobre o efeito de sopro

(blast efecct)

eso permissível, tamanho e

forma d

da

detona

razão da existência de qualquer artefato bélico propulsado ou lan

ro, geralmente metálico, carga explosiva, espoleta e um mecanismo de segurança e

armação. O seu invólucro e a carga explosiva constituem os agentes destrutivos que

efetivamente causam danos ao inimigo. Pode apresentar os efeitos terminais de sopro,

fragmentação, carga oca, in

Seu projeto leva em consideração vários fatores como p

o compartimento destinado à cabeça de guerra, velocidade do míssil (foguete, bomba),

erro de guiamento, tamanho, forma e velocidade do alvo.

4.4.3 Estimativa de Efeitos

Conhecendo-se a pressão gerada pela propagação da onda de choque resultante

ção de um explosivo químico a uma determinada distância do foco, bem como os

limites suportados por determinadas estruturas, é possível, relacionando-se esses parâmetros,

dimensionar uma cabeça-de-guerra que cause no alvo o dano desejado, de acordo com a

distância máxima entre o ponto de detonação e o alvo.

4.4.3.1 Danos sobre uma Edificação

Neste cenário, Kinney & Graham [4] fornecem equações para determinação destes

parâmetros conforme (1) e (4), complementadas pelas equações (46) e (47):

( )1, 2W F CF C= × × × (46)

onde

F = Fa ação ao TNT;

C = Ma

tor de eficiência do explosivo em rel

ssa do explosivo em questão;

CF = Fórmula de Fano (fator de casco);

Page 82: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

82

1,2 = Fator para máximo efeito direcional.

sendo

1

0,6 0, 4 1CFC

2

M

−⎛ ⎞⎜ ⎟= + × +⎜ ⎟

(47) ⎝ ⎠

A Fórmula de Fano considera que parte da energia química do explosivo liberada na

detonação é utilizada para romper o invólucro metálico. Portanto, deve-se considerar o efeito

de confinamento. Nesta fórmula, M = Massa metálica do invólucro e C = Massa do explosivo.

A Tabela 6 exemplifica a variação de pressão, causada pela onda de choque, com os

respectivos danos sofridos pelas diversas partes das estruturas.

Tabela 6 - E truturas [4] Variação de Pressão (PSO

feito da Onda de Choque sobre Es )

DANO Bar psi Quebra de vidraças 0,01 - 0,015 0,15 - 0,22

Danos mínimos em construções 0,035 - 0,075 0,52 - 1,12

Danos em painéis metálicos 0,075 - 0,125 1,12 - 1,87 Falha de painéis de madeira

(construções) 0,075 - 0,15 1,12 - 2,25 Falha em paredes de tijolos 0,125 - 0,2 1,87 - 3 Rompimento de tanques de

refinarias 0,2 - 0,3 3 - 4,5 Danos em edifícios (estruturas

m 4,5 - 7,5 etálicas) 0,3 - 0,5 Danos em estrutu 0,4 - 0,6 6,0 - 9,0 ras concretadas

Promaioria das construções 0,7 - 0,8 10,5 - 12

vável destruição total da

Com a aplicação do dano constante (pico de sobrepressão) e a variação do peso de

demos estimar os danos sobre uma explosivo (WTNT) e da distância do foco da detonação, po

edificação conforme a Figura 31 .

Page 83: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

83

Figura 31 - Es e danos sobre uma e

P bas desenhadas nos gráficos representam à família BAFG

(Baixo Arrasto Fins Gerais), conforme Ta

Tabela 7 - nacionais com s assas s BO CF Equivalente em

TNT

timativa d dificação

ara uma melhor ilustração, as bom

bela 7.

Bombas aéreas uas respectivas m de explosivo

MBAS TRITONAL (kg) ( W )

B 0,70 45 AFG 120 46 BAFG 230 0 10 0,72 102 BAFG 460 202 0,72 205 BAFG 920 467 0,73 485

cálculo de W foi baseado na equação (46) utilizando Ftritonal = 1,18. [4]

ratera com pouco mais de 120 metros de diâmetro e cerca

de 30 metros de profundidade foi formado em Oppau, Alemanha, em 1921, pela explosão de

O

4.4.3.2 Crateramento

Um impressionante aspecto de uma detonação na superfície é que resulta em um

crateramento. Por exemplo, uma c

Page 84: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

84

cerca de 4000 toneladas de fertilizante a base de nitrato-sulfato de amônio. Um estudo

estatístico de cerca de 200 grandes explosões acidentais estabeleceu uma equação estimando o

diâmetro da cratera em função da quantidade de explosivo para explosões na superfície, como

(48)

A grande variação na formação da cratera é devida ao desvio padrão de cerca de 1/3

do diâmetro dado pela equação (48), onde W = massa de explosivo em kilogramas de TNT e

d = diâmetro da cratera em metros. [4]. A Figura 32 representa a curva de efeito de

crateramento em função da massa explosiva, conforme a equação (48).

1/ 30,8.d W=

Figura 32 - Estimativa de Efeito de Crateramento.

A profundidade da cratera criada pela explosão é normalmente cerca de 1/4 do

diâmetro, mas isso depende do tipo de solo envolvido. Para explosões abaixo da superfície, o

diâmetro da cratera aum

enta inicialmente com a profundidade da explosão, atinge um máximo

e então diminui substancialmente.

Page 85: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

85

Observa-se que a partir de 50 kg, dobrando-se a massa de explosivos, o efeito será

aumentado em cerca de apenas 30%.

Figura 33 - Processo de formação da cratera [5]

Na detonação no solo, o diâmetro e a profundidade da cratera variam com a raiz

cúbica do peso de explosivo. Alguns parâmetros afetam as dimensões da cratera tais como:

altura e profundidade do centro de gravidade da carga com relação à superfície do terreno,

tipo de explosivo, relação C/M e tipo e condição do solo.

4.4.3.3 Paredes de Concreto

A correlação entre a distância e a massa explosiva citada anteriormente estabelece, por

estimativa, a distância na qual um efeito descrito pode ser esperado, para uma quantidade

específica de explosivos. Essa relação pode também ser aplicada em situação inversa, de

efeito em uma distância especificada.

e de explosivo necessária para rompê-la, por:

(49)

estimativa de explosivos necessários para causar um

A quantidade de explosivos necessária para a ruptura de paredes de concreto pela

detonação em contato direto é um tipo inverso dessa relação.

Experimentos controlados, (Moses,1957 apud [4]) demonstraram a relação entre a

espessura da parede de concreto e a quantidad

β 1/3W = .r

Page 86: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

86

Onde W = quantidade de explosivo em kg de TNT (quantidade mínima de explosivo

necessária para abrir a parede), β = coeficiente de ruptura que para concreto comum é igual a

15 kg TNT/ m3 e para concreto reforçado vale 27 kg TNT/m

3 e r = espessura da parede em

metros. [4]

BAFG 460

Figura 34 - Estim creto comum e reforçado

o

reforça

ente para o concreto comum e

reforça

o

com a superfície do alvo.

ativa para ruptura de paredes de con

A Figura 34 exemplifica que se uma BAFG 230, com média de 100 kg de tritonal,

equivalente a 102 kg de TNT, atingisse diretamente uma parede de concreto ou se quantidade

equivalente de explosivo fosse colocada em contato com essa parede, conseguiria rompê-la

caso sua espessura fosse de até 1,90 m para o concreto comum e de até 1,57 m para

do. No caso de uma BAFG 120, com massa equivalente de TNT de 45 kg, a espessura

máxima da parede deveria ser de 1,44 m e 1,20 m respectivam

do. Desprezando-se a energia cinética de impacto no caso de lançamento da bomba

Deve ser observado que esta estimativa é válida somente no caso de contato diret

Page 87: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

87

4.4.3.4 Critério de Destruição de Aeronaves, Caminhões e Antenas

Peter Westine [24] definiu, através de experimentos, o uso de equações na estimativa

de vulnerabilidade de alguns alvos ao efeito de uma onda de choque, sendo o resumo dos

resultados apresentado a seguir para três alvos, como exemplos:

Aeronave (caça):

1/ 38,748.1/ 624981

WR

W

=⎛ ⎞+⎜ ⎟⎝ ⎠

(50)

Caminhão:

1/ 36, 481.

1/ 645,06 60451 2

WR

W W

=⎛ ⎞+ +⎜ ⎟

⎝ ⎠

(51)

Antena:

1/ 36, 295.W

1/ 6R

W

=⎛ ⎞

⎝ ⎠

(52)

Onde a unidade de R é em ft e W em lb.

Os dados obtidos pelas equações foram transferidos para gráficos da distância do foco

da detonação até o alvo versus a massa de explosivo detonado, convertidos para o SI.

O gráfico formado pela curva R-W representa um nível constante do dano para um

determinado alvo de acordo com o relacionamento entre a quantidade de explosivo e a

distância do alvo.

Na Figura 35 é visualizada a curva “isodamage”, que representa um único tipo de

dano, neste caso destruição, de três alvos distintos.

103,81 2+⎜ ⎟

Page 88: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

88

Figura 35 - Estimativa de destruição de aeronaves, caminhões e antenas.

Através de interpolação pode-se deduzir imediatamente qual seria a distância

máxima do foco da detonação para se destruir um caminhão com uma massa M de explosivo

ou vice-versa. Da mesma forma pode-se calcular a massa explosiva necessária a um artefato

baseado na precisão com que atingirá ou se aproxim

BAFG 120, com 45 kg de WTNT, poderia destruir uma aeronave, caso sua detonação

ocorresse a uma distância máxima de 7 metros do alvo, ou até 8 metros de distância se o alvo

fosse um a antena, teria êxito se detonasse em um raio

máximo

efeito de fragm

em, quando submetido a uma onda de choque.

ará do alvo. Por exemplo, uma

caminhão. Porém se o alvo fosse um

de 9 metros.

Deve-se lembrar que estamos considerando somente o efeito terminal de sopro, o

entação não esta sendo abordado.

Uma vez apresentado a interação da onda de choque com as estruturas, veremos no

próximo item os efeitos sentidos pelo hom

Page 89: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

89

5 EFEITOS DA DETONAÇÃO SOBRE O SER HUMANO

Quando acontece uma detonação e a conseqüente propagação da onda de choque,

muitos danos podem ser causados, seja em estruturas, no solo, alvos em geral, seja em seres

humanos. Segundo Baker et al. [9], são dois os efeitos sobre pessoas: diretos e indiretos. Os

efeitos diretos, ou primários, estão relacionados com as variações de pressão geradas pela

detonação da carga. Alguns fatores específicos ainda poderiam ser detalhados para um

levantamento mais criterioso destes danos, tais como idade, condições físicas das pessoas,

peso e altura, entre outros.

Porém, importa neste estudo um resultado médio destes danos, o qual pode ser

as por AIChE/CCPS

(American Institute of Chemical Engineers/Center for Chemical Process Safety – CCPS) para

analisar probabilisticamente os diferentes danos aos seres humanos devido aos efeitos diretos.

Baker et al. [9] definem que os efeitos indiretos se subdividem em secundários,

terciários e diversos, onde os secundários envolvem lançamentos de projéteis oriundos da

própria explosão ou da passagem da onda de pressão sobre algum material.

Tabela 8 - Relação de alguns danos causados diretamente aos seres humanos devido às

Variação de Pressão

observado na Tabela 8. No Apêndice II estão algumas equações propost

explosões [4].

Efeito Bar psi Suportável (não causa danos) Até 0,0001 Até 0,0015

Queda 0,07 - 0,1 1,05 - 1,5 Ruptura do tímpano 0,35 - 1,0 5,25 - 15 Lesões nos pulmões 2,0 - 5,0 30 - 75

Morte 7,0 - 15,0 105 - 225

Page 90: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

90

Os efeitos terciários estão diretamente ligados à aceleração ou desaceleração que o

orpo humano pode atingir, quando submetido a uma onda de pressão ou quando

desace

lamento matemático para encontrar formas de proteção ao ser

human

seguido

apresentar perda

auditiva, otalgia, vertigem, hemorragia do canal externo ou ruptura. Todos os pacientes

o m es veículos estão

associadas à grande índ

5.2 Distância

ara a proteção de se anos contra os etos s decorrentes de

uma onda de choque, ou seja, a brusca mudança de pressão define-se uma distância de

segurança adequada, de modo que ao atingir o homem, a frente da onda esteja com uma

c

lerado bruscamente ao impactar com alguma barreira.

Os efeitos diversos envolvem as radiações térmicas e as nuvens de areia, sendo

considerados insignificantes em explosões convencionais.

5.1 Conceitos

O assunto apresentado neste item, diferentemente do anterior, possui um enfoque na

proteção, e utiliza o mode

o, em diversos cenários envolvendo explosivos.

Explosões podem causar tipos de lesões, que raramente são vistas fora dos cenários de

guerra. A lesão nos pulmões ("blast lung") é uma conseqüência direta da sobrepressão gerada

pela onda de choque. É o ferimento fatal mais comum dentre os sobreviventes iniciais,

de perfuração nos tímpanos, que é uma lesão no ouvido médio e depende da

orientação do ouvido no momento da explosão. Sinais de lesões no ouvido estão geralmente

presentes no momento da avaliação inicial e deve ser confirmada para quem

expostos à explosão devem passar por uma avaliação de audiometria.

Explosões em espaços confinados com inas, prédios ou grand

ice d idade. e mortal

de Segurança

P res hum efeitos dir ou primário

Page 91: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

91

intensidade em sua variação, inferior a 0,07 Bar. Para traçar a curva desta distância de

segurança X peso líquido de explosivo, aplica-se os dados obtidos nas equações (1), (4) e na

tabela 8.

Figura 36 - Distância de segurança contra os efeitos diretos da onda de choque sobre o homem.

5.2.1 Área sem Barreiras de Proteção

A distância de segurança apresentada no gráfico acima, é eficaz exclusivamente

contra os efeitos da sobrepressão gerada pela onda de choque de uma detonação.

lhor compreensão sobre a distância de segurança

dequada para pessoal contra os efeitos indiretos.

elidos durante uma explosão. Eles podem ser formados

pelos d

Apesar de não ser o foco deste trabalho, um breve esclarecimento sobre projéteis e

fragmentos deve ser apresentado, para me

a

Os projéteis são objetos prop

etritos que se encontram no caminho da onda de choque, pelos escombros da estrutura

danificada ou podem ser formados intencionalmente, como o invólucro de uma cabeça de

guerra. Tais projéteis formados intencionalmente são chamados de fragmentos.

Page 92: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

92

A distância na qual projéteis podem ser propelidos por uma explosão, depende

fortemente de sua direção inicial e velocidade.

A distância de segurança adequada para prevenir danos às pessoas, devido aos

projéteis que geralmente acompanham a onda de choque, é determinante em situações como

em um trabalho de neutralização de artefatos explosivos ou na evacuação de área aberta sob a

ameaça de bombas. A norma prática de neutralização de bombas [Lenz apud [4]], define a

distância de segurança, em metros, pela equação (2), apresentado na seção 2.4.

(2)

Esta distância é estimada, considerando-se uma área aberta sem proteção, e pode ser

reduzida com a instalação de barreiras que possam conter ou absorver a energia dos projéteis,

sendo que o valor mínimo não poderá ser inferior a 90 metros.

A Figura 37 apresenta a curva W x R para distância de segurança de pessoal em uma

área aberta e sem barreiras de proteção.

1/ 3120.r W=

Figura 37 - Gráfico da distância de segurança considerando uma área aberta sem barreiras.

Page 93: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

93

5.2.2 Área com Barreiras de Proteção

A proteção contra projéteis e fragmentos durante uma detonação é obtida por

intermédio de barreiras físicas que possam conter ou absorver a energia cinética desses

objetos. Porém, a forma de proteção, visando atenuar o efeito direto da onda de choque, é

guardar a maior distância possível do foco.

As tabelas e gráficos apresentados a seguir, referem-se aos efeitos diretos da onda de

choque.

Figura 38 – Gráfico R x W com as principais lesões causadas no Homem pelo efeito direto da onda de choque.

O gráfico da Figura 38, Distância do foco X Peso líquido de explosivo, mostra regiões

de carregamento resultante de uma onda de choque capaz de gerar danos pessoais leves

(acima e a esquerda de C1), ruptura dos tímpanos (entre C1 e C2), Lesão nos pulmões (entre

C2 e C3) ou Morte (à direita e abaixo de C3).

Page 94: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

94

5.2.3 Artefatos Explosivos Improvisados

comércio local.

em jornais on line na internet, cerca de 40 notícias envolvendo a apreensão, por

parte das autoridades policiais, de diversos artefatos explosivos na sociedade civil brasileira.

Diante deste cenário, torna-se indispensável que as forças de segurança públicas

estejam preparadas para lidar com esta ameaça com o mínimo possível de risco para a

população.

A Figura 39 apresenta alguns possíveis modos de camuflar artefatos explosivos

improvisados e suas respectivas distâncias de segurança, em metros, para um cenário aberto e

sem barreiras e outro, para um cenário com barreiras para a proteção de projéteis e

fragmentos.

Para o cálculo da massa explosiva, foi considerado o volume do objeto multiplicado

pela densidade do TNT, em torno de 1600 kg/m3.

Com a popularização da rede mundial de computadores (internet) e a farta publicação

de assuntos variados nela disponíveis, não é difícil encontrar fontes que orientem os

internautas a fabricarem “bombas caseiras”, substituindo as matérias-primas necessárias por

produtos que estão facilmente disponíveis no

Durante o período compreendido entre novembro de 2006 a setembro de 2007, foi

coletado,

Page 95: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

95

ínima de segurança pessoal para artefatos explosivos improvisados

em cenário urbano sem e com barreiras.

5.2.4 Artefatos Explosivos Militares

Na últim

Figura 39 – Distância m

a década, a imprensa vem publicando a crescente utilização, por parte dos

traficantes de drogas, de equipam

lica, pois não é raro quando

squadrões antibombas, das polícias estaduais são acionados para neutralizar artefatos

militares e nem sempre há tempo hábil para acionar ou consultar o Órgão Militar responsável

pelo equipamento.

A tabela 9 apresenta uma relação dos principais artefatos explosivos de uso restrito

com suas distâncias de segurança, baseadas nas respectivas massas líquidas de explosivos.

ento de uso restrito das Forças Armadas, incluindo artefatos

explosivos. Isso tem preocupado as forças de segurança púb

e

Page 96: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

96

Tabela 9 - Distância de segurança para alguns artefatos explosivos militares

NOME BÁSICO DISTÂNCIA (m)

Com Barreiras Sem BarreirasADAPTADOR REFORCADOR P/ BAFG 120,230,460 E 920 kg 10 84 CABEÇA DE GUERRA 70 mm ANTI-CARRO 13 104 CABEÇA DE GUERRA 70 mm ANTI-PESSOAL 18 141 CARGA DE PROFUNDIDADE 6,8 lb MK-64 5 43 CARTUCHO AEI TOMBACK 30 X 113 mm 6 51 CARTUCHO IMPULSOR I-28 4 31 CORDEL DETONANTE MOD NP-10 (1 metro) 4 33 BAFG 120 kg 61 486 BAFG 230 kg 78 629 BAFG 460 kg 99 795 BAFG 920 kg 131 1051 BLG 252 C/ GRANADAS REAIS 57 460 ELEMENTO RETARDO M9 2 14 ESPOLETA CAUDA MECANICA P/ BAFG 8 63 ESPOLETA COMUM NR 8 2 14 ESPOLETA ELETRICA NR 8 2 13 EXPLOSIVO PLASTICO PLASTEX 12 100 GRANADA AC 40 mm PARA FZ HK 5,56 mm 7 53 GRANADA AP/AC Para BLG 252 9 70 GRANADA MÃO M20 ANTI-MOTIM 7 53 GRANADA MÃO OFENSIVA-DEFENSIVA M3 8 61 PETARDO TROTIL 100 g 8 63 PETAR 9 70 DO TROTIL 140 g PETARDO TROTIL 250 g 11 85

Conforme mencionado na Seção 5.2.1, no cenário de área aberta (sem barreira), a

distância mínima sugerida, para garantir uma efetiva proteção, não deverá ser inferior a 90

metros.

Uma vez apresentado os efeitos que o ser humano está passível de sofrer, quando

submetido a uma onda de choque proveniente de uma detonação, assim como os mecanismos

de defesa para atenuar esses efeitos, passaremos ao item final deste trabalho.

Page 97: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

97

6 CONCLUSÕES

Este traba sta estudar o efeito da onda de iente da

r humano e estruturas.

dade de “estudar e co ecer o fenôm o da explosão

senvolver formas de proteção ao ser humano e a todos

eio ambiente”, assim como no aspecto militar, o

resse é otimizar os requisitos de força para neu zar alvos específicos. Partiu-

a de que, conhecendo-se a pressão gerada pela propagação da onda de choque

um explosivo químico a uma determinada distância do foco, bem

os pelo ser humano e por determinadas estruturas, é possível, com o

os, elaborar tabelas dinâm s em planilhas eletrônicas,

itura que possam auxiliar a tomada de decisões relativas à

o o dimensionamento de uma força contra alvos

apresentado alguns conceitos sobre explosões, explosivos químicos,

suas fo

tação matemática da onda de choque, considerações sobre sua fase negativa e ondas

refletid

nto explosivo e

uma aplicação direta ao se dimensionar os explosivos em uma cabeça de guerra para

neutralizar determinados alvos como aeronaves, caminhões e antenas de radar, como também

estimar os efeitos de crateramento, ruptura em paredes de concreto e danos a edificações.

lho teve como propo choque proven

detonação de um alto explosivo sobre o se

Iniciamos introduzindo a necessi nh en

para poder avaliar riscos e danos, e de

os bens que ele possa usufruir em seu m

principal inte trali

se da premiss

resultante da detonação de

como os limites suportad

relacionamento desses parâmetr ica

gerando gráficos de rápida le

proteção de pessoas e instalações ou mesm

específicos.

Em seguida foi

rmas de classificação e introdução à detonações, energia liberada e onda de choque.

Uma revisão bibliográfica foi realizada, onde foram apresentados os modos de

represen

as.

Logo após, apresentou-se a interação da onda de choque com as estruturas, as forças

resultantes dessa interação, os modos como a estrutura reage ao carregame

Page 98: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

98

Finalmente, foram apresentadas as principais lesões sentidas pelo homem quando

submet

arreiras de proteção.

seguras. Trabalho este, cujo produto é apresentado como gráficos e tabelas

inform

os

numéri

• Do setor de Inteligência de Combate das Forças Armadas no sentido de otimizar os

requisitos de força, no dimensionamento de uma cabeça-de-guerra, para neutralizar alvos

específicos, baseado na precisão com que atingirá ou se aproximará do alvo, como

ido a uma onda de choque, distâncias de segurança envolvendo artefatos explosivos

improvisados e militares, considerando um cenário com ou sem b

Concluímos que neste trabalho foi realizada uma exploração das técnicas numéricas

existentes, as quais permitem simular diferentes aspectos relacionados a carregamentos

explosivos enfatizando as ondas de choque geradas em detonações.

Modelos numéricos são ferramentas que poderão auxiliar de forma eficaz na

modelagem de uma solicitação explosiva e na simulação da resposta das estruturas frente a

estes tipos de solicitações.

Assim, foi possível demonstrar que, através de equações, poderemos obter respostas

que auxiliem a resolver problemas relacionados com o dimensionamento de explosivos na

cabeça de guerra para se atingir o dano desejado em determinados alvos sob o efeito de sopro,

bem como resguardar a segurança de pessoal afastando-os do foco à distâncias consideradas

efetivamente

ativas.

Cabe salientar que problemas destes tipos são complexos, razão pela qual os model

cos a serem utilizados deverão ser aferidos com ensaios ou com modelos analíticos

mais simples.

6.1 Impacto Operacional

Espera-se com este trabalho contribuir com a missão:

Page 99: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

99

tam

adrões

An

• Do

o modelamento matemático com ensaios, onde a variação de pressão possa ser

ve

bém oferecer dados que possam ser implementados no Manual de Seleção de

Armamento MMA 136-1, do Comando da Aeronáutica;

• Das equipes de Descontaminação de Estande de Aviação, de Demolições e Esqu

tibomba das Polícias Estaduais e Federal, no sentido de oferecer uma base acadêmica e

confiável para a determinação do raio de segurança para a proteção do pessoal envolvido

operacionalmente e principalmente, do público em geral.

setor de aquisição de material bélico, apresentando parâmetros básicos que possam ser

confrontados com a performance divulgada pelo fabricante, diminuindo a possibilidade de

compras equivocadas.

6.2 Sugestão para Trabalhos Futuros • Apresentação de uma interface amigável para a planilha desenvolvida gerando, inclusive,

compatibilidade com dispositivos portáteis como handhelds, celulares, etc.

• Aferição d

rificada, utilizando instrumentação.

• Estudo dos efeitos terminais, associando a onda de choque com a fragmentação.

Page 100: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

100

REFERÊNCIAS [1]Autoridad Regulatoria Nuclear, 1998. “Efectos de Explosiones y Acciones Mitigantes

ember 2003.“Primer to Design Safe School Projects in Case of Terrorist Attacks”

Letalidade”, Notas de Aula da matéria Letalidade do Curso de amento Aéreo. ASD/IAE/CTA

]AIChE/CCPS, 2000 (American Institute of Chemical Engineers/Center for Chemical Process Safety – CCPS)

-Verlag, Berlin, 1926.

”,

[12] IAEA – International Atomic Energy Agency, 2005. “External Events Excluding arthquakes in the Design of Nuclear Power Plants”, Safety Guide No. NS-G-1.5.

[13] Chapman, T. C., Rose, T. A., Smith, P.D., 1995. “Reflected Blast Wave Resultants Behind Cantilever Walls: A New Prediction Technique”, International Journal of Impact Engineering, vol.16, p. 397-403, Pergamon. [14] Ramajeyathilagam, K., Vendhan, C.P., Rao, V. Bhujanga, 2000. “Non-linear Transient Dynamic Response of Rectangular Plates under Shock Loading”, International Journal of Impact Engineering, vol.24, p. 999-1015, Pergamon. [15] Henrych, J., 1979. “The Dynamic of Explosion and Its Use”, Elsevier, Amsterdam. [16] Brode, H. L., 1955. “Numerical Solution of Spherical Blast Waves”, Journal of Applied Physics nº 6.

Aplicables a Estructuras, Sistemas y Componentes de Instalaciones Civiles”, Buenos Aires, Argentina.

[2]Casagrande, A. S., 2006. “Estudo de Cargas Impulsivas com Ênfase em

Explosões: Estratégias de Análises Utilizando Métodos Numéricos”, Dissertação de Mestrado – PROMEC-UFRGS, Porto Alegre.

[3]Federal Emergency Management Agency FEMA 428 , Dec

[4]Kinney G. F. & Graham, K. J., 1985. “Explosive Shocks in Air”, 2. ed. Springer-Verlag. [5]Miscow, P.C. F., 2006. “

Extensão em Engenharia de Arm [6

[7] Cranz, C., Lehrbuch der Ballistik, Springer [8] Hopkinson, B., British Ordnance Board Minutes, 13565, 1915.

[9] Baker, W.E. et al., Explosion Hazards and Evaluation, Elsevier, 1983. [10] Smith, P.D. e Hetherington, J.G., Blast and Ballistic Loading of Structures, Butterworth-Heinemann, 1994. [11] Santiago, G. F., 2003. “Efeitos de Explosão de Nuvem de Vapor InflamávelDissertação de Mestrado – PROMEC-UFRGS, Porto Alegre.

E

Page 101: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

101

[17] Lees, F. P., 1996. “Loss Prevention in the Process Industries”, 2ª. ed. Butterworth- einemann.

Engenharia de Segurança do Trabalho, Depa

h

tive Phase Blast Effects on Glass Panels”,

ssel – An Investigation of Potential

R-W Plane Analysis for Vulnerability of Targets to Air Blast,

t Injuries: A Primer

H [18] Leal, C. A., 2003. “SEG 006 Gerência de Riscos”, Curso de Especialização de

rtamento de Engenharia Nuclear, Ufrgs. [19] TNO, 1997. “Methods for the Calculation of the P ysical Effects of the Escape of Dangerous Materials (Liquids and Gases) – Part II”, Yellow Book, 3ª ed.

0] Krauthammer T., Altenberg A., 2000. “Nega[2International Journal of Impact Engineering, vol.24, p. 1-17, Pergamon.

1] Wall. J., Blast Loading on a Spherical Storage Ve[2Hazards from Operations in the Canvey Island/Thurock Area, 1978. [22] Mercx, Paul, Curso Internacional sobre Avaliação dos Efeitos de Incêndios e Explosões para Análise de Riscos, Anais... Rio de Janeiro, 1997. [23] Timoshenko, S.P. e Goodier, J.N., Theory of Elasticity, 3ª ed., McGraw-Hill, 1970. 24] Westine, Peter S., [

1972. [25] Department of Health and Human Services, Explosions and Blasor Clinicians, 2003, em f http://www.bt.cdc.gov/masscasualties/injuriespub.asp , acessado em

e process industries, 21, 74-

26/10/2007. [26] Diaz Alonso, F. et al, Consequence analysis by means of characteristic curves to determine the damage to buildings from the detonation of explosive substances as a

nction of TNT equivalence. Journal of Loss Prevention in thfu81. 2007

Page 102: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

102

APÊNDICE I - Ábacos apresentados por Baker. [9]

Figura I.1: Parâmetros de Explosões para TNT.

Page 103: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

103

Figur NT.

a I.2: Parâmetros Adicionais de Explosões para T

Page 104: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

104

Figura TNT. I.3: Parâmetros de Explosões Refletidas Normalizados para

Page 105: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

105

APÊNDICE II – Diferentes Equações de PROBIT

Estas equações são utilizadas em casos de fatalidades ou grandes hemorragias, devido

aos danos diretos de explosões, sendo:

077.1 6.91ln( )Y P= − + (II.1)

Como citado por Leal [18], as equações para ruptura de tímpanos, danos estruturais

quebra de vidros, respectivamente são:

012.6 1.524ln( )Y P= − + (II.2)

023.8 2.92ln( )Y P= − + (II.3)

018.1 2.79ln( )Y P= − + (II.4)

Onde a pressão (P0) está fornecida em unidades do SI [N/m2]. (1 milibar = 100 Pa)

Por serem essas equações relacionadas a análises probabilísticas, seus resultados

devem ser transformados em tabelas de relação y-P, para assim obter a probabilidade de o

dano acontecer em determinada população, conforme Tabela II.1. A sua leitura é simples,

bastando encontrar o valor de y da equação ou interpolar entre os dois mais próximos da

tabela e verificar a porcentagem equivalente na primeira coluna somada à primeira linha,

resultando assim a probabilidade do evento acontecer.

Tabela II.1: Tabela de transformação de PROBIT em porcentagem [18].

Relacao y-P % 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 - 2,67 2,95 3,12 3,25 3,36 3,45 3,52 3,59 3,66

10 4,12 3,72 3,77 3,82 3,87 3,92 3,96 4,01 4,05 4,08 20 4,45 4,16 4,19 4,23 4,26 4,29 4,33 4,36 4,39 4,42 30 4,48 4,50 4,53 4,56 4,59 4,61 4,64 4,67 4,69 4,72 40 4,75 4,77 4,80 4,82 4,85 4,87 4,90 4,92 4,95 4,97 50 5,00 5,03 5,05 5,08 5,10 5,13 5,15 5,18 5,20 5,23 60 5,25 5,28 5,31 5,33 5,36 5,39 5,41 5,44 5,47 5,50 70 5,52 5,55 5,58 5,61 5,64 5,67 5,71 5,74 5,77 5,81 80 5,84 5,88 5,92 5,95 5,99 6,04 6,08 6,13 6,18 6,23 90 6,28 6,34 6,41 6,48 6,55 6,64 6,75 6,88 7,05 7,33

- 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 99 7,33 7,37 7,41 7,46 7,51 7,58 7,65 7,75 7,88 8,09

Page 106: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO SER ... - … · ... Exemplo de comportamento de uma detonação do ponto de vista de um alvo ... da mesma ordem de grandeza ... – número

106

FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO

1. CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA

de 2007

DOCUMENTO N°

CTA/ITA-IEF/TM-019/2007

N° DE PÁGINAS

107 TM

2.

18 de dezembro

3. 4.

5. TÍTUL SUBTÍTULO: Blast – efeitos da onda de choque no ser humano e nas estruturas

O E

6. AUTOR

XXXXXXXXXXXXXXXXXX

(ES):

7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVIInstituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão d

SÃO(ÕES): e Ciências Fundamentais – ITA/IEF

8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:

Blast, Explosivos, Onda de Choque, Cabeça de Guerra 9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:

Explosivos; Ondas de choque; Efeitos da pressão; CabeçaOndas de detonação; Efeitos fisiológicos; Efeitos ambientais; Engenharia química

de guerra; Análise numérica;

10. APRE

ITA, São J

SENTAÇÃO: X Nacional Internacional osé dos Campos, 2007, 107 páginas

11. RESUMO:

A detonação de um explosivo resulta na produção e violenta liberação de gases comprimidos. A energia produzida propaga-se rapidamente através do meio (ar ou água), provocando variações de pressão, formando uma onda explosiva, que se propaga com velocidade superior a do som. Esta frente de onda, com elevada pressão dinâmica e velocidade supersônica, é conhecida como onda de choque que confere a detonação um enorme poder de ruptura. O efeito terminal desta onda de choque é denominado Sopro ou “Blast Effect”. Este trabalho estuda o efeito de sopro gerado por uma onda de choque sobre pessoas e estruturas,

atmosférica, define distâncias de segurança para proteção dedescreve os danos causados ao corpo humano pelo aumento brusco e repentino da pressão

pessoal contra o efeito de sopro e a relação entre pressão de detonação e massa de explosivo, visando otimizar a quantidade de explosi ravés de métodos e equações matemáticas, pode-se calcular a pressão gerada pela onda de choque resultante da detonação de certa quantida co, a uma determinada distância do foco. Dados experimentais relativos a pelo homem e por determinadas estrutu são oníve na lit tur base eórica exper ental,

vos, bem como a sua distância ao alvo estrutural que se pretende neutralizar. At

de de explosivo químios limites suportados

ras disp is era a. Assim, aliando-se as s t e im é possível, com o relacionament ses me elab tab dinâ nileletrônicas, ge o g s d ida ra q ossa xil tomada de ões

o des parâ tros, orar elas micas em pla has rand ráfico e ráp leitu ue p m au iar a decis de

profis ais q dam o de o c o p eton de atos osimilita u im isad isa stab r pr bmateri ou a oca e d em vo ífic

sion ue li com efeito sopr ausad ela d ação artef expl vos res o prov os, v ndo e elece ocedimentos para a proteção de pessoas e ens ais, prov ção d anos um al espec o.

12. GRA E SIG

(X ) OSTENSIV ES DO ( ) CONFIDENCIAL ) S TO

U D ILO:

O ( ) R ERVA ( ECRE