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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES” Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes” Habilitação Profissional de Técnico em Farmácia Biossegurança nas Ações de Saúde MÓDULO I Tatuí-SP 2018

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES”

Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes”

Habilitação Profissional de Técnico em Farmácia

Biossegurança nas Ações de Saúde

MÓDULO I

Tatuí-SP

2018

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1. INTRODUÇÃO

A complexidade e diversidade das atividades do setor saúde vão desde o atendimento primário, que expõe o profissional a uma gama de agentes de risco por vezes desconhecidos, até sofisticados estudos com DNA recombinante que colocam o profissional diante de uma tecnologia avançada de terapia gênica, cuja dimensão de risco constitui um desafio a ser mensurado.

Além do enfrentamento com agentes patogênicos tradicionais, as doenças emergentes e reemergentes representam um problema adicional para os profissionais de saúde sob dois aspectos. Primeiro, no que diz respeito à definição de mecanismos eficazes de contenção do processo epidêmico e, segundo, na

identificação de medidas que assegurem o controle do risco ao qual estão sujeitos esses profissionais. Biossegurança é a condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a

prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e vegetal e o meio ambiente. Escola Técnica Dr. Gualter Nunes

Compreende também um conjunto de medidas voltadas para prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.

2. OS MICRO-ORGANISMOS

Os germes são seres vivos infinitamente pequenos, não sendo possível vê-los a olho nú. Para serem visualizados, precisamos da ajuda de um microscópio. Por isso são chamados de micro-organismos ou micróbios = micro (pequeno) bio (vida). Estes micróbios são classificados em: - protozoários - fungos - vírus - bactérias

Como exemplo de doenças causadas por protozoários temos a Giardíase, doença intestinal que causa diarréia, a Doença de Chagas causada pelo Trypanossoma ou a Toxoplasmose, doença transmitida pelo gato ou carne mal cozida de porco e carneiro contaminados. Das doenças causadas por fungos, temos as micoses de pele e a Candidíase oral (sapinho) ou vaginal. Exemplos de doenças causadas por vírus temos a Gripe, as Hepatites e a AIDS. Como doenças bacterianas, os furúnculos, as amigdalites, as cistites, as diarréias e as pneumonias causadas por estes germes são alguns exemplos. Assim, fica ilustrado que os microrganismos, também chamados de agentes infecciosos, podem causar infecção.

Infecção é uma doença caracterizada pela presença de agentes infecciosos que provocam danos em determinados órgãos ou tecidos do nosso organismo causando febre, dor, eritema (vermelhidão), edema (inchaço), alterações sanguíneas (aumento do numero de leucócitos) e secreção purulenta do local afetado, muitas vezes.

O nosso contato com micro-organismos não significa obrigatoriamente que desenvolveremos doenças, muito pelo contrário, o homem, os animais e as plantas não apenas convivem com os germes, mas dependem direta ou indiretamente deles. Todas as áreas da Terra, que reúnem condições de vida, são habitadas por micro-organismos e nós sempre convivemos com eles; inclusive em nosso corpo, onde eles auxiliam na proteção de nossa pele e mucosas contra a invasão de outros germes mais nocivos. Estes seres vivos minúsculos decompõem matéria orgânica transformando-a em sais minerais prontos para serem novamente sintetizados em substratos nutritivos que formarão os vegetais do qual homem e

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animais se alimentam. O homem (hospedeiro) e os germes (parasitas) convivem em pleno equilíbrio. Somente a quebra desta relação harmoniosa poderá causar a doença infecção.

A doença infecciosa é uma manifestação clínica de um desequilíbrio no sistema parasito-hospedeiro ambiente, causado pelo aumento da patogenicidade do parasita em relação aos mecanismos de defesa anti-infecciosa do hospedeiro, ou seja, quebra-se a relação harmoniosa entre as defesas do nosso corpo e o número e virulência dos germes, propiciando a invasão deles nos órgãos do corpo. Alguns micro-organismos possuem virulência elevada podendo causar infecção no primeiro contato, independente das nossas defesas. Outros, usualmente encontrados na nossa microbiota normal, não são tão virulentos, mas podem infectar o nosso organismo se diminuirmos a nossa capacidade de defesa.

A capacidade de defesa anti-infecciosa é multifatorial, pois é influenciada pela idade (bebês e idosos), estado nutricional, doenças e cirurgias, stress, uso de corticóides, quimioterapia, radioterapia, doenças imunossupressoras (HIV, leucemia), fatores climáticos e precárias condições de higiene e habitação. Escola Técnica Dr. Gualter Nunes

Na natureza, o estado de esterilidade, definido como ausência de micro-organismo vivo, é excepcional e transitoriamente encontrado no feto durante a gestação, excluindo os casos de bebês contaminados via placentária pela mãe. O contato com os micro-organismos começa com o nascimento, durante a passagem pelo canal vaginal do parto, onde a criança se contamina com os germes da mucosa vaginal e então se coloniza mantendo-se por toda a sua existência, até a decomposição total do organismo após a sua morte.

3. HISTÓRIA DA BIOSSEGURANÇA NO MUNDO E NO BRASIL

Apesar do termo biossegurança ser recente a idéia da segurança relacionada à prática biológica data dos anos 40. Os registros apontam que entre os anos 40 e 50, vários pesquisadores estudaram infecções humanas com vírus e bactérias adquiridas nos locais de trabalho, seja por exposição direta ou indireta ao agente infeccioso. Na década de 40, o Gabinete Militar do Governo dos Estados Unidos da América (EUA) iniciou, no chamado Forte Detrick no Estado de Mariland (EUA), um programa tendo por objetivo a preparação para guerra biológica. A preocupação veio com o uso de foguetes pela Alemanha Nazista durante a segunda guerra mundial, os quais poderiam ser utilizados como veículos para a guerra biológica. Neste forte foi construída a primeira instalação de segurança dedicada ao trabalho com agentes biológicos, a

chamada “Black Maria” um laboratório unicamente dedicado ao trabalho em contenção (trabalho em regime estritamente fechado, sem qualquer possibilidade de comunicação com o meio externo).

Assim, com o apoio de cientistas, de universidades e com o financiamento do Governo dos EUA, foram estabelecidas as bases para procedimentos no manuseio de organismos patogênicos, exigindo o desenvolvimento de equipamentos de proteção, de edificações, de práticas e normas de controle.

Na mesma época, avançam os estudos de genética sobre a transmissão de características hereditárias, culminando com a descrição do ácido desoxirribonucléico (DNA) por Watson e Crick em 1953.

Com a descoberta da molécula de DNA, seguiram-se cerca de duas décadas de estudos quando surgiram os primeiros relatos da possibilidade de manuseio do DNA até que, na década de 70, são publicados os primeiros trabalhos de transferência de genes entre seres, a chamada clonagem (Processo técnico pelo qual se isola e transfere um gene de um organismo a outro na busca de obter seu produto de expressão no organismo receptor).

Neste ponto, surge a chamada Tecnologia do DNA recombinante que, em termos muito simples, permite que genes que apresentem características de interesse possam ser transferidos pelo processo de clonagem a outro organismo que passaria a possuir tal característica.

Com essas possibilidades, em 1975 foi realizada a Conferência de Asilomar em Pacific Grove, Califórnia, reunião onde pela primeira vez foram discutidos diferentes aspectos sobre moléculas de DNA recombinante (moléculas que foram recebidas de outro organismo e que possuem efeitos biológicos), tendo definido a suspensão temporária de determinados experimentos e estabelecido as barreiras físicas e biológicas de segurança para trabalhos com organismos geneticamente modificados (OGM), também conhecidos por organismos transgênicos.

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Neste ponto, a biossegurança passa a ter preocupação não somente como os organismos patogênicos, mas também com os OGM.

Após alguns anos de pleno desenvolvimento tecnológico, o uso pelo homem de características biológicas de alguns organismos chamou a atenção, sendo então cunhado o termo Biotecnologia. A explosão da biotecnologia levou a avanços interessantes como a produção de insulina recombinante -1983 (insulina produzida in vitro pela tecnologia de DNA recombinante. Antes disso era utilizada a insulina purificada de suínos no tratamento de diabéticos.) e de uma série de plantas trangênicas como o tomate longa vida, o algodão resistente a pragas, dentre outros.

Obviamente, o desenvolvimento e a aplicação da técnica criava expectativas e temores, não somente pela possibilidade de sua utilização com finalidades destrutivas, bem como pelo desconhecimento acerca dos desdobramentos da manipulação genética.

Estes temores atingiram seu auge quando, em 1996, ao mesmo tempo em que o genoma humano estava sendo sequenciado, foi realizada a primeira clonagem de um ser vivo, a ovelha Dolly.

Em 1999, um ano antes da publicação do genoma humano, foi realizada uma reunião em Cartagena, na Colômbia, da qual emergiu o chamado Protocolo de Cartagena. Este protocolo, do qual o Brasil é signatário, foi firmado em 2000 e, por fazer parte da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), visa “assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência da manipulação e do uso seguro dos organismos vivos modificados”.

As discussões técnicas e éticas levantadas pela clonagem e pelos OGM ainda ocorrem, chegando por vezes a embates severos e ações drásticas.

No Brasil, a biossegurança teve início em 1984 quando foi realizado o “Primeiro Workshop de Biossegurança” (Biossegurança em laboratórios) pela Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. Esta ação gerou os primeiros levantamentos de risco nos laboratórios daquela entidade.

Na década de 90, a biossegurança começa a ser direcionada para as preocupações advindas do uso da tecnologia do DNA recombinante, levando o Ministério da Saúde do Governo Federal a realizar um primeiro projeto de fortalecimento das ações em biossegurança, criando um Núcleo de Biossegurança.

Estas ações levaram à elaboração da primeira Lei de Biossegurança no Brasil (Lei 8.974/1995) a qual, estabelecia as regras para o trabalho com DNA recombinante no Brasil, incluindo pesquisa, produção e comercialização de OGM de modo a proteger a saúde do homem, animais e meio ambiente.

Instituía ainda a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Escola Técnica Dr. Gualter Nunes

Quando a lei começou a ser aplicada, revelou possuir inúmeras incongruências que levaram a muitos problemas, culminando em 2005 com a aprovação da nova Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005). A nova lei revogava a anterior e revia as normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam OGM e seus derivados, reestruturava a CTNBio e criava o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) que teria por função elaborar a Política Nacional de Biossegurança (PNB).

Existem diferentes definições do termo biossegurança, as quais tentam incluir aspectos de segurança do trabalhador (Pesquisador, Técnico, Professor, Estudante, etc.), da coletividade e do meio ambiente em relação aos riscos à saúde. Riscos à saúde são definidos como “a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos à saúde relacionados com a exposição humana a agentes físicos, químicos ou biológicos, em que o indivíduo exposto a um determinado agente apresente doença, agravo ou até mesmo morte, dentro de um período determinado de tempo ou idade” (ANVISA, 2006)

Mundialmente utilizado como referência, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão do Governo Norte Americano dedicado à prevenção e controle de doenças e ameaças biológicas, define biossegurança como “A aplicação de práticas e procedimentos combinados em laboratório utilizando equipamentos de segurança quando se trabalha ou manipula microorganismos potencialmente patogênicos.”

No Brasil, a CTNBio apresenta uma definição de biossegurança mais ampla, sendo a “Ciência voltada para o controle e minimização de riscos advindos da prática de diferentes tecnologias em laboratório ou aplicadas ao meio ambiente, assegurando o avanço dos processos tecnológicos e protegendo a saúde humana, animal ou ambiente”.

A biossegurança praticada, ainda que possua alguns pontos regulamentados de forma independente, não está prevista em lei ou baseada em legislação única, dependendo ainda, em grande parte, do conhecimento e bom senso dos trabalhadores.

Assim, biossegurança é um conjunto de leis, normas, conceitos, princípios, práticas e ações individuais e coletivas que visam prevenir ou quando possível, eliminar, a exposição de um

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trabalhador, de um ambiente de trabalho e/ou do meio ambiente a agentes possivelmente patogênicos ou causadores de impacto negativo.

4. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIS) 4.1 – Introdução Todos os profissionais da saúde e profissionais que atuam na prevenção de acidentes

compartilham o mesmo problema: trabalhar por um longo período manipulando e/ou manuseando materiais e/ou equipamentos que podem produzir risco à saúde e ao meio ambiente. As substâncias manuseadas e os tipos de equipamentos operados podem resultar numa série de acidentes, como intoxicações, envenenamentos, queimaduras térmicas e químicas, contágio por agentes biológicos, incêndios, explosões, etc. Esses acidentes podem ser evitados ou minimizados pelo uso de equipamentos de proteção individual e coletivos de forma correta.

Sempre se deve escolher EPIs de boa qualidade que possuam certificados de aprovação perante o Ministério do Trabalho e Emprego.

Os equipamentos de uso coletivo nem sempre significam os de manipulação pessoal. Um exemplo clássico é o sistema de ventilação central com deficiência de exaustão. Tal anormalidade pode comprometer seriamente o ambiente de trabalho que manipula produtos químicos voláteis, tóxicos entre outros, levando a sérios riscos aos trabalhadores se não utilizarem capelas químicas de forma adequada.

Os equipamentos de proteção individual destinam-se a proteger a pessoa nas operações com riscos de exposição ou quando houver emanações de produtos químicos, riscos de explosões, riscos de cortes ou perfurações na pele, etc. Os EPIs podem ainda ser considerados um dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade física e a saúde do trabalhador. Os EPIs devem proporcionar o mínimo de desconforto sem tirar a liberdade de movimento do funcionário.

4.2 - Legislação Segundo a Lei nº 6.514, de 22.12.97, Seção IV, art. 166, toda a empresa é obrigada a fornecer aos

seus funcionários, gratuitamente, EPIs segundo as suas necessidades de trabalho e ao risco inerente do exercício profissional e em perfeito estado de conservação.

Os empregados, de acordo com a Norma Regulamentadora nº 6 (NR6) da Portaria nº 3.214, de 8 de Junho de 1978, são obrigados a usar os EPIs e se responsabilizar pela guarda e conservação destes.

É obrigatório a utilização desses equipamentos de proteção na execução de qualquer atividade que envolva o manuseio, movimentação e transporte de materiais perigosos e também na circulação em áreas externas, consideradas de risco.

4.3 - Classificação A classificação dos EPIs pode ser feita segundo a parte do corpo que se protege: proteção

para a cabeça, proteção do corpo, dos membros superiores e dos membros inferiores (CIPI 1992).

4.3.1 - Protetores para a cabeça

Capacete de segurança: proteção da cabeça contra impactos, partículas desprendidas, choque elétrico ou qualquer combinação desses efeitos.

Óculos de segurança: proteção ocular contra riscos de impactos, aerossóis de substâncias nocivas ou radiações.

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Protetores faciais (máscaras faciais): Protegem a face contra riscos de impactos (partículas sólidas, quentes ou frias), substâncias nocivas (poeiras, líquidos e vapores), radiações (raios infravermelho, ultravioleta, etc). Oferecem uma proteção adicional à face do operador sem necessitar do uso de óculos de segurança. Proporcionam melhor proteção pois, além dos olhos, amparam toda a face contra os perigos dos respingos das substâncias potencialmente corrosivas e tóxicas.

Proteção respiratória (máscaras): são utilizadas máscaras com filtros que protegem o aparelho respiratório podendo ter: respiradores com filtros mecânicos para proteção contra partículas suspensa no ar, respiradores com filtros químicos que protegem contra gases e vapores orgânicos e respiradores com filtros combinados (mecânicos e químicos).

Proteção auricular (intra-auricular e extra-auricular) ou Proteção contra Níveis Elevados de Ruído: os controles dos níveis de ruído são estabelecidos pela NBR nº 10152/ABNT, que estabelece limite de 60 decibéis para uma condição de conforto durante a jornada de trabalho.

4.3.2 - Protetores para o tronco

Avental/Capa/Macacão: Protegem as roupas e o corpo contra borrifos químicos e biológicos e ainda fornece amparo de proteção adicional ao corpo.

4.3.3 - Proteção para membros superiores (mãos e braços) Luvas de látex, Luvas de borracha, Luvas especiais: Atuam contra riscos biológicos, queimaduras químicas, calor ou frio excessivos, mordidas, cortes, choques elétricos e outros riscos físicos. As luvas também fornecem elevado grau de proteção contra dermatites, pois a exposição repetida a pequenas concentrações de inúmeros compostos químicos eventualmente criam reações adversas na pele dos operadores.

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4.3.4 - Proteção para membros inferiores (pés e pernas) Botas de segurança: protegem os pés e as pernas de impactos, perfurações, queimaduras,

choques, substâncias químicas e biológicas, calor e frio, perigos elétricos, impactos de objetos pesados, etc. Elas podem ter o cano alto, chegando até a altura dos joelhos, e devem ser resistentes à ação de ácidos e bases fortes, fogo, eletricidade, etc.

As botas de borracha são indicadas para quem trabalha em áreas úmidas, serviços de limpeza e outros serviços que necessitem de proteção máxima.

Sapatos fechados impermeáveis: pés desprotegidos pelo uso de sandálias ou pouco protegidos pelo uso de sapatos de pano, acarretam problemas sérios e podem gerar situações perigosas. O sapato deve ser compatível com a atividade desenvolvida.

5. NORMAS TÉCNICAS EM NOSSO PAÍS

A ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS) define como resíduos resultantes

das atividades exercidas por estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, exemplo: hospitais, clínicas médicas, clínicas veterinárias, clínicas odontológicas, farmácias, ambulatórios, postos de saúde, laboratórios de análises clínicas, laboratórios de análises de alimentos, laboratórios de pesquisa, consultórios médicos e odontológicos, empresas de biotecnologia, casas de repouso e casas funerárias.

A resolução CONAMA (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE) nº05/93 estende-se ainda aos resíduos gerados nos portos e aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários.

Há também a Norma NBR nº 12.808 da ABNT de 1997. Esta norma classifica os Resíduos de Serviços de Saúde quanto aos riscos potenciais ao trabalhador, ao meio ambiente e à saúde pública, visando adotar um sistema de gerenciamento adequado, sendo esta classificação também adotada pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 1999). Escola Técnica Dr. Gualter Nunes

O resíduo sólido de serviço de saúde (RSSS) apresenta risco potencial à saúde e ao meio ambiente, devido à presença de material biológico, químico , radioativo, perfuro cortante. O tratamento

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adequado previne infecções cruzadas, proporciona conforto e segurança à clientela a à equipe de trabalho, bem como mantém o ambiente limpo e agradável.

São eles: TIPO A – resíduo biológico TIPO B – resíduo químico TIPO C – resíduo radioativo TIPO D – lixo comum 6. BIOSSEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO E DESCARTE DE PRODUTOS BIOLÓGICOS

Os riscos biológicos são decorrentes da exposição a agentes do reino animal, vegetal e de microrganismos ou de seus subprodutos. Entre os agentes de risco biológico podemos citar como os mais importantes: bactérias, fungos, rickétsias, vírus, protozoários, metazoários. Tais agentes podem estar presentes veiculados sob diversas formas que oferecem risco biológico, como aerossóis, poeira, alimentos, água, amostras de (sangue, fezes, urina, escarro etc), entre outros. No contato com esses produtos, o profissional deve utilizar EPIs de acordo com o modo de contaminação do agente microbiano. É necessário, no entanto, fazer uma avaliação cuidadosa dos agentes microbianos para classificá-los de forma adequada e segura.

GRUPO 1 – é constituído de microorganismos que provavelmente não provocam doenças no homem ou nos animais.

GRUPO 2 – inclui germes patogênicos capazes de causar doenças em seres humanos ou animais. Porém não apresentam um perigo sério para o indivíduo. Constitui um risco moderado individual e baixo risco para comunidade.

GRUPO 3 – é constituído de germes patogênicos que costumam provocar doença grave em seres humanos e animais. É considerado de alto risco individual e de baixo risco para a comunidade.

GRUPO 4 – Inclui agentes infecciosos patogênicos que geralmente causam doenças graves ao ser humano ou animais. Na maioria das vezes não se conhece tratamento eficaz e as medidas profiláticas não estão bem estabelecidas.

Como se pode verificar, é necessário fazer uma avaliação cuidadosa dos grupos acima citados para promover o seu descarte de forma adequada evitando a contaminação local e do meio ambiente. As normas de segurança devem ser rigorosamente seguidas para propiciar melhor saúde a todos os envolvidos.

7. BIOSSEGURANÇA NO DESCARTE DE PRODUTOS QUÍMICOS

Ante o assombroso número de mais de 4 milhões de substâncias químicas conhecidas, entre as quais, cerca de 130 mil têm algum tipo de periculosidade e pouco mais de 200 apresentam método de descarte adequado, outras entidades, conselhos e sindicatos também atuam para colaborar na diminuição de riscos por meio da melhoria na segurança química, sempre com base nas normas da ABNT. A ABNT define, classifica e lista os resíduos, servindo de norma e dando respaldo técnico a leis nos três níveis de Governo (Federal, Estadual e Municipal).

Segundo a NBR 10004 de setembro de 1987, da ABNT os resíduos classificam-se em: Classe I – perigosos Classe II – não inertes Classe III - inertes Ficam então definidos os riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública.

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O setor industrial utiliza-se dessa classificação enquanto os serviços de saúde se baseiam na classificação adotada e baseada pela NBR nº 12.808 da ABNT DE 1997.

Os resíduos perigosos gerados pelo setor industrial são considerados normais se estiverem em torno de 100 ton/mês.

São necessários conhecimento, cautela e bom senso ante o manuseio e descarte dos resíduos químicos.

O descarte de resíduos é um trabalho que se torna cada vez mais importante. Por isso, o trabalho de esclarecimento e conscientização é fundamental para a preservação do meio ambiente e para a saúde pública.

7.1 – Identificação e rotulagem Para que os materiais a serem descartados possam ser manipulados com segurança, tanto para os

operadores internos quanto para os procedimentos seguros de transporte e destinação final, são necessárias informações que podem constar num rótulo simples elaborado no próprio ambiente de trabalho. Além das questões relativas à segurança, a identificação precisa é muito importante também para a adequação do material às normas impostas pelas empresas de incineração ou disposição final do resíduo ou ainda para envio a outras finalidades como recuperação, reciclagem, reutilização, etc.

Diagrama de Hommel, mundialmente conhecido pelo código NFPA 704 7.2 – Procedimentos gerais para tratamento de resíduos químicos A geração de resíduos perigosos precisa ser evitada, porém, quando isso não é possível, devem-

se buscar meios de minimizar os efeitos nocivos por meio de desativação ou reciclagem. Os processos utilizados são:

7.2.1 – Métodos Físicos:

• Filtração, sedimentação • Destilação, evaporação

7.2.2 – Métodos Químicos:

• Neutralização

7.2.3 – Tratamentos Térmicos: • Incineração

7.2.4 – Métodos Biológicos:

• Depósitos no Oceano • Aterros Sanitários

Vermelho

Amarelo

Branco

Azul

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8. BIOSSEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DE RADIOISÓTOPOS

O termo proteção radiológica refere-se à proteção contra radiações, a higiene, a segurança e ao controle no manuseio de materiais radioativos. Visa não somente a proteção adequada às pessoas que trabalham com radiação como também à população em geral, que de alguma forma pode ser exposta. Sua finalidade é proteger contra os perigos potenciais dessa exposição e possibilitar o uso de seus benefícios. Escola Técnica Dr. Gualter Nunes Até a descoberta dos raios X e da radioatividade a exposição do ser humano limitou-se, quase que exclusivamente, às fontes naturais de radiação cósmica (raios ultravioletas, infravermelhos). A proteção radiológica inclui desde o estudo para construção de um laboratório ou

usina até a disposição final de resíduos radioativos. Algumas características serão expostas a seguir:

Blindagem: adequada para o radioisótopo que está sendo manuseado. Exaustão: a capela deve ter compressão menor do que a do laboratório. Manuseio: com ferramentas adequadas que permitam o trabalho à distância e não prejudiquem a

sua precisão. Resíduo: precisam ser retirados sem que entrem em contato com o meio ambiente. A CNEM (Comissão Nacional de Energia Nuclear) é o órgão que regulamenta a utilização de

material radioativo no país, credencia laboratórios e pessoal e fiscaliza o cumprimento de normas de proteção.

8.1 - Rejeitos Radioativos Os materiais radioativos produzidos em Instalações Nucleares (Reatores Nucleares, Usinas de

Beneficiamento de Minério de Urânio e Tório, Unidades do Ciclo do Combustível Nuclear), Laboratórios e Hospitais, nas formas sólida, líquida ou gasosa, que não têm utilidade, não podem ser simplesmente “jogados fora” ou “no lixo”, por causa das radiações que emitem.

Esses materiais, que não são utilizados em virtude dos riscos que apresentam, são chamados de Rejeitos Radioativos. Na realidade, a expressão “lixo atômico” é um pleonasmo, porque qualquer lixo é formado por átomos e, portanto, é atômico. Ele passa a ter essa denominação popular, quando é radioativo.

Os rejeitos radioativos precisam ser tratados, antes de serem liberados para o meio ambiente, se for o caso. Eles podem ser liberados quando o nível de radiação é igual ao do meio ambiente e quando não apresentam toxidez química.

Rejeitos sólidos, líquidos ou gasosos podem ser, ainda, classificados, quanto à atividade, em rejeitos de baixa, média e alta atividade.

Os rejeitos de meia-vida curta são armazenados em locais apropriados (preparados), até sua atividade atingir um valor semelhante ao do meio ambiente, podendo, então, ser liberados. Esse critério de liberação leva em conta somente a atividade do rejeito. É evidente que materiais de atividade ao nível ambiental, mas que apresentam toxidez química para o ser humano ou que são prejudiciais ao ecossistema não podem ser liberados sem um tratamento químico adequado.

Rejeitos sólidos de baixa atividade, como partes de maquinária contaminadas, luvas usadas, sapatilhas e aventais contaminados, são colocados em sacos plásticos e guardados em tambores ou caixas de aço, após classificação e respectiva identificação.

Os produtos de fissão, resultantes do combustível nos reatores nucleares, sofrem tratamento especial em Usinas de Reprocessamento, onde são separados e comercializados, para uso nas diversas áreas de aplicação de radioisótopos. Os materiais radioativos restantes, que não têm justificativa técnica e/ou econômica para serem utilizados, sofrem tratamento químico especial e são vitrificados, guardados em sistemas de contenção e armazenados em Depósitos de Rejeitos Radioativos.

Trata-se da presença de radiação acima dos valores encontrados no meio ambiente, uma vez que a radiação está presente em qualquer lugar do planeta.

Símbolo da presença de radioatividade

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9. BIOSSEGURANÇA E CÂNCER

É provável que o câncer sempre tenha consistido em uma doença do ser humano, sendo conhecido desde a antiguidade. Assim, evidências de câncer foram encontradas em humanos mumificados e em fósseis de ossos de animais. Entretanto, as taxas de incidência de cânceres, bem como os padrões de ocorrência de diferentes cânceres, eram desconhecidas até épocas relativamente modernas. Desde o século XVIII, encontram-se registros em que se relacionava o ambiente de trabalho com a incidência de alguns

tipos de câncer. É o caso, por exemplo, de Sir Percival Pott que chamava atenção para alta incidência de câncer de escroto entre limpadores de chaminé de Londres. Segundo esse médico, a causa de tais casos estaria relacionada ao contato constante com o alcatrão e a fuligem presentes nas chaminés.

Nesse contexto, podemos observar que o ambiente de trabalho pode ser, em muitos casos, fonte de exposição a centenas de agentes nocivos à saúde, como pós e partículas, fumaças, fluidos, fibras, radiação e substâncias químicas.

O trabalho realizado pelos profissionais da saúde, em diversas situações, envolve a manipulação de substâncias carcinogênicas.

Assim, é de extrema importância que sejam inicialmente identificadas as substâncias em uso consideradas carcinogênicas. As medicações utilizadas para combater o câncer, podem também causar a doença em quem manipula e/ou administra tais medicações. Por isso é imprescindível o conhecimento na preparação e administração com também no descarte desses produtos. Os riscos podem atingir pacientes, manipuladores e meio ambiente. Escola Técnica Dr. Gualter Nunes É importante o uso de EPIs e outros equipamentos de proteção que serão descritos em oncologia posteriormente. Os procedimentos para descarte de carcinogênicos não podem envolver exposição

do pessoal às substâncias, nem resultar na produção de outros carcinogênicos. Eles não devem ser descartados em pias ou ralos.

Resíduos líquidos contaminados por carcinogênicos devem ser armazenados em recipientes adequados, para posterior descarte. A tampa deve estar bem fechada e o recipiente bem identificado.

No caso de resíduos sólidos (luvas, frascos, etc) deve-se embalá-los em sacos plásticos e identificá-los adequadamente até descartá-los.

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10. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA (ANBIO). Disponível http://www.anbio.org.br/ Acesso em 30 de Nov. 2011 HISTORICO EM BIOSSEGURANÇA. Disponível http://pt.scribd.com/doc/56599516/Texto-Aula-1-Historico-Conceito-e-Legislacao-em-Biosseguranca Acesso em 30 de Nov.2011 TRABULSI, L.R. Microbiologia. 2.ed., São Paulo, Atheneu, 1996. BIER, T. Bacteriologia e imunologia. 19.ed., São Paulo, Melhoramentos, 1978. VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. Vol. 1 e 2. São Paulo, Atheneu, 1996. HIRATA, M. H.; MANCINI FILHO, J. Manual de Biossegurança. Barueri, Manole, 2002. ALMEIDA ABS, AlBUQUERQUE MBM. Biossegurança: um enfoque histórico através da história oral. Hist. Cienc. Saúde Manguinhos 2000; 7(1): 171-83