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BOLETIM INFORMATIVO DO FUNCIONÁRIO DA CML | PUBLICAÇÃO MENSAL | SETEMBRO 2007 | N.º 47 Biblioteca Maria Keil

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BOLETIM INFORMATIVO DO FUNCIONÁRIO DA CML | PUBLICAÇÃO MENSAL | SETEMBRO 2007 | N.º 47

BibliotecaMaria Keil

TEMA DE CAPA

em foco

Qual foi a última vez que entrou numa Biblioteca? Agora que tem nas mãos o Boletim CM, leia-o todinho e demore-se nas páginas que lhe falam das Bibliotecas como lugares que lhe pertencem. São catedrais de livros, maiores ou mais pequenas, que nos acolhem sem pressa e com a paciência e a sabedoria de quem tem tempo para nos contar histórias. A partir de agora tem um mês inteirinho para entrar nas Bibliotecas, até que este Boletim volte às suas mãos com outras propostas e outros convites de descoberta. Até nem precisamos de ter pretexto, como por exemplo, o de ir procurar um livro que nos faz falta. Não é preciso entrar numa Biblioteca por necessidade. Deixemo-nos guiar por Umberto Eco “Um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o facto de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo título se conhece…” Confesso que é a primeira vez que recebo uma Revista com o recibo do ordenado. E gostei. Este Boletim é feito por uma equipa que pensa em nós como destinatários exigentes e desejo a todos que o tema de capa nos reconcilie com a leitura. Por mim, irei (re)visitar as nossas Bibliotecas municipais e vou pedir emprestado um livro, para o devolver com o prazer da certeza que outro o irá buscar. São os nossos livros, são as Bibliotecas da nossa cidade.

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coluna de opinião

São onze horas de uma qualquer manhã de Verão e estamos na Biblioteca Maria Keil, no Alto do Lumiar. Dezenas de crianças invadem alegremente as salas. Um visitante mais distraído pode pensar que entrou no recreio de uma escola ou mesmo numa creche. Mas não, é apenas um espaço municipal que, adaptando-se às necessidades dos habitantes deste bairro, soube interessar os seus membros mais jovens pelos livros. Situação semelhante pode ser observada na Biblioteca Natália Correia, no Bairro Padre Cruz e na Biblioteca David Mourão-Ferreira, nos Olivais. Implantar e fazer crescer projectos desta natureza em bairros sociais é uma tarefa hercúlea, apenas possível devido ao empenho dos funcionários da CML. Muitos são técnicos de BAD (Bibliotecas e Documentação), que se viram catapultados para o papel de educadores, quantas vezes psicólogos.

Amér

ico

Sim

as

Biblioteca Maria Keil

Uma biblioteca projectada para ser-vir os moradores de bairros sociais tem, à partida, muitas dificuldades. Cristina Dias, Margarida Rodrigues, Isabel Monteiro, Ana Sottomayor e Bruno Rodrigues são os cinco fun-cionários que, lenta mas firmemente, implantaram a Biblioteca Maria Keil na comunidade. São eles que, com alguma angústia, traçam o perfil do bairro: “Crianças, jovens, adultos e velhos, entre ciganos, caucasianos e africanos, vivem paredes meias, gerindo os seus conflitos entre ta-reias, tiros e facadas. As famílias são numerosas e lidam de perto com toxicodependência, alcoolismo, prostituição e prisão. Faltam à escola e têm dificuldade de aprendizagem.

Sem saber ler, sem trabalho, sem ob-jectivos e com muitos filhos, vivem do rendimento mínimo e de muitos extras. Construiram um gueto do qual se orgulham e de onde não pre-tendem sair. São egocêntricos, não têm regras básicas de sociabilidade e são os próprios pais a fomentar a violência e a má educação. Deste modo a biblioteca é o depósito das crianças muito pequenas e o recreio das mais crescidas.”

“Eles gostam de participar nas actividades que lhes são propostas”É com estes pressupostos que traba-lham desde que a biblioteca reabriu, a 10 de Julho de 2006. Um ano

TEMA DE CAPA

em foco

depois o balanço é positivo: Cristina Dias e Margarida Rodrigues brincam com os seus sucessos: “Já dizem bom dia, boa tarde, por favor, obrigado...” e acrescentam, animadas: “conse-guimos incutir-lhes hábitos de estudo e até de pesquisa. Apesar do poder de concentração ser muito limitado eles gostam de participar nas activi-dades”.

A alimentação é outro constrangi-mento. A biblioteca não encerra para almoço e os miúdos ficam por ali todo o dia. Por vezes pedem comida, “não é por capricho, têm mesmo fome”, diz Margarida Rodrigues, “há uma mãe ou outra que vêm buscá-los para almoçar mas na generalidade não”. “O melhor que temos nas nossas bibliotecas são os nossos leitores” Biblioteca David Mourão-Ferreira - Nos Olivais a realidade social é igual à descrita acima, mas Teresa Santos e Cristina Gaspar, funcioná-rias da biblioteca, reconhecem que aqui são menos conflituosos. Este equipamento municipal dispõe de uma secção de adultos que, embora seja usada mais para leitura domici-liária, serve como incentivo para as crianças, facultando-lhes uma conti-

nuidade nos hábitos de leitura. Para as suas funcionárias, “a importância destas bibliotecas é grande. Num bairro com estas características, o trabalho é mais amplo, desde o apoio aos meninos até ao apoio aos pais que, muitas vezes, não sabem pre-encher um impresso de IRS. Alguns não sabem ler e outros não sabem interpretar o que está escrito.”

Caminho para chegar aos livrosBiblioteca Natália Correia – Bairro Padre Cruz - Esta biblioteca serve uma população heterogénea por-que existem famílias mais antigas, quase sem crianças, e famílias em constante crescimento, como nos explica a sua coordenadora, Elfrida

Reis. Também aqui são as crianças os principais utentes. Quando os pais saem de casa deixam os filhos na rua entregues a si próprios; como se sen-tem bem recebidos e acarinhados na biblioteca é para lá que se dirigem, “e ainda bem” sublinha a coordena-dora. Assim, apesar de não ter sido criada a pensar nas crianças, a bi-blioteca foi a eles adaptada. Na sala infantil existe apenas um computa-dor e a internet tem ali sido utilizada como um caminho para chegar aos livros. Enquanto esperam a sua vez são incentivados a ler uma ou duas histórias e aprendem a gostar de ler. Este pequeno truque é já responsável pelo aparecimento de novos leitores de palmo e meio.

A biblioteca disponibiliza um es-paço multimédia onde os adultos podem ver um filme ou ouvir música e o catálogo bibliográfico contém um rico acervo de gastronomia. Alguns utentes vêm para usar a internet, ler o jornal ou procurar livros para ler em casa. “Outros vêm simplesmente para desabafar”, diz Elfrida Reis, con-cluindo: “Em bairros onde muitas vezes os habitantes nem ler sabem, a missão de uma biblioteca não pode esgotar-se na oferta de livros.”

João Mário AguiarAuxiliar

Administrativo

Normalmente não leio, mas o último livro

que li foi “Fados Nossos”. Gostei muito, porque, como alfacinha de gema, adoro fado.

Raquel RamalhoAssistente

Administrativa

Eu só leio nas férias ou quando tenho um

pouco mais de tempo. O último livro que li foi o “Código da Vinci”, de Dan Brown, e gostei bastante.

Lídia DinisAdministrativa

Principal

Foi “O Memorial do Convento”, de José

Saramago. Embora tenha começado por ser um livro de leitura obrigatória acabei por gostar, porque fiquei a conhecer a história do Convento de Mafra.

espaço leitorQual foi o último livro que leu?

Amér

ico

Sim

as