Batiston_304585

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 Eduardo Roberto Batiston INCORPORAÇÃO DE NANOTUBOS DE CARBONO EM MATRIZ DE CIMENTO PORTLAND. Tese submetida ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Civil Orientador: Prof. Dr. Philippe Jean Paul Gleize Florianópolis 2012

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Tese

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  • Eduardo Roberto Batiston

    INCORPORAO DE NANOTUBOS DE CARBONO EM

    MATRIZ DE CIMENTO PORTLAND.

    Tese submetida ao Programa de Ps

    Graduao em Engenharia Civil da

    Universidade Federal de Santa

    Catarina para a obteno do Grau de

    Doutor em Engenharia Civil

    Orientador: Prof. Dr. Philippe Jean

    Paul Gleize

    Florianpolis

    2012

  • ii

  • iii

    INCORPORAO DE NANOTUBOS DE CARBONO EM MATRIZ DE

    CIMENTO PORTLAND

    EDUARDO ROBERTO BATISTON

    Tese julgada adequada para a obteno do Ttulo de DOUTOR em Engenharia Civil e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil - PPGEC da Universidade Federal de Santa

    Catarina UFSC

    -------------------------------------------------------------------------------------Prof.

    Dr. Roberto Caldas de Andrade Pinto- Coordenador do PPGEC

    -----------------------------------------------------------------------------------

    Prof. Dr. Philippe Jean Paul Gleize Orientador

    COMISSO EXAMINADORA:

    ---------------------------------------------------------------------------

    Dr. Ivo Jos Padaratz- Moderador- ECV/UFSC

    ---------------------------------------------------------------------------

    Dr. Romildo Dias Toledo Filho COPPE-UFRJ/RJ

    --------------------------------------------------------------------------

    Dr. Jos Mrcio Fonseca Calixto UFMG

    ------------------------------------------------------------------------- Dr. Alexandre Lago EMC/UFSC

    ------------------------------------------------------------------------

    Dra. Janade Cavalcante Rocha- ECV/UFSC

    ------------------------------------------------------------------------

    Dr. Luis Alberto Gmez - ECV/UFSC

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida aos quais sempre me

    apego.

    Aos meus pais Celso e Luci pela presena, incentivo e dedicao que

    so uma inspirao para mim. Aos meus irmos Jardel e Diego pela

    presentes e companheiros. A minha esposa Thaisa minha amiga e

    companheira, pelo amor e incentivo.

    Aos colegas de GDA, do NANOTEC, do GETEC e dos demais

    laboratrios, pelas experincias trocadas, pelo auxilio ou simplesmente

    pelas idias trocadas nos corredores, muito obrigado pela bagagem e

    pela amizade.

    Ao meu orientador, um grande amigo, e que com entusiasmo sempre

    nos motivou a buscar mais e melhor.

    Aos meus colegas bolsistas de iniciao cientifica, sempre dispostos a

    ajudar e compartilhar suas idias e tempo, sem vocs muito do que foi

    realizado no seria possvel.

    A CAPES e ao CNPQ pelo financiamento, sem o qual no poderamos

    ter realizado nosso trabalho.

    E aos demais que de alguma forma contriburam para a realizao deste

    trabalho, muito obrigado.

  • v

    RESUMO

    A modificao do cimento Portland pela nanoengenharia um campo

    em expanso. Por ser um material de importncia econmica relevante,

    a melhoria nas caractersticas dos produtos a base de cimento Portland

    de interesse da indstria e da sociedade. Sua estrutura complexa, o torna

    candidato natural para a nanomanipulao e,, a utilizao de

    nanoobjetos uma alternativa para o aprimoramento de suas

    caractersticas. Nanotubos de carbono, com suas caractersticas qumicas

    e fsicas singulares vem ganhando relevncia na produo dos mais

    diversos tipos de compsitos. Estudou-se neste trabalho as modificaes

    causadas pela presena de nanotubos de carbono na matriz de cimento.

    Foram estudadas tambm duas metodologias de funcionalizao para

    melhorar a interao dos nanotubos com os hidratos presentes na pasta e

    aprimorar sua disperso na matriz. Utilizaram-se quatro tipos de

    nanotubos e um tipo de nanofibra com os quais foram produzidas pastas

    de cimento de alta resistncia. Avaliaram-se as caractersticas reolgicas

    das pastas atravs do squeeze flow, e foi acompanhada a cintica de

    hidratao atravs de calorimetria por conduo. A resistncia mecnica

    foi medida atravs de ensaios de resistncia compresso e resistncia

    flexo e puderam ser estudados ainda os efeitos da presena dos

    nanotubos no comportamento termofsico das matrizes. Os processos de

    funcionalizao mostraram-se capazes de alterar as caractersticas dos

    nanotubos, porm no foram eficientes em melhorar sua disperso e a

    interao com a matriz de cimento. A resistncia mecnica no foi

    afetada de forma significativa pelos nanotubos que modificaram a

    reologia das pastas provocando aumento da viscosidade e da tenso de

    escoamento para todas as misturas. As caractersticas termofsicas foram

    alteradas de forma bastante acentuada chegando a aumentos de 20 vezes

    na difusividade trmica de algumas composies. Os ensaios de

    difusividade trmica mostraram-se ainda uma potencial ferramenta para

    identificar o grau de disperso dos nanotubos na matriz.

    Palavras chave:

    Cimento Portland, Nanotubos de Carbono, Difusividade trmica.

  • vi

    ABSTRACT

    The changing of nano-structure of Portland cement is a growing field.

    Due to their economic importance, the improvement of the

    characteristics of Portland cement-based products is highly interesting

    for the industry and society. Its complex structure, makes it a natural

    candidate for nanomanipulation and, the use of nano-objects is an

    alternative for the improvement of their characteristics. Carbon

    nanotubes, with their singular physical and chemical characteristics are

    gaining importance in the production of the most varied types of

    composites. The modifications caused by the presence of carbon

    nanotubes in the cement matrix were studied in this work. Two kind of

    functionalization were tested to improve nanotubes interaction with

    cement hydrates. Four types of nanotubes and one type nanofiber were

    used to produce high-strength cement pastes. The rheological

    characteristics of the pastes were assessed through the squeeze flow

    method, and cement hydration kinetics was followed by conduction

    calorimetry. Flexural and compressive strength and thermophysical

    properties were also assessed.. Results showed that although the

    functionalization processes were able to change the nanotubes

    characteristics, these treatments have not been effective in improving

    their dispersion and interaction with the cement matrix. Thus,

    mechanical strength was not significantly affected. However viscosity

    and yield stress were increased by carbon nanotubes for all mixtures.

    The thermophysical properties, as diffusivity, were highly affected by

    the presence of nanotubes: up to 20 times increase for some

    compositions. Thermal diffusivity also showed a potential tool to

    estimate the degree of dispersion of carbon nanotubes in the cement

    matrix.

    Key-words:

    Cement, Carbon Nanotubes, Composites.

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Estrutura do C-S-H em diferentes escalas de observao (MINET, 2003). _____________________________________________________ 8

    Figura 2 Modelo de Feldman e Sereda, que representa a estrutura do C-S-

    H (REGOURD, 1982). ________________________________________ 8

    Figura 3 Tipos de ligao entre as folhas de C-S-H (SIERRA apud

    RAMACHANDRAN, 1984). _____________________________________ 9

    Figura 4 Curva tpica de desenvolvimento de calor de hidratao de um

    cimento Portland comum. ______________________________________ 9

    Figura 5 A - Filamentos observados por Radushkevich e Lukijanovich em

    1952. B - Nanotubos de carbono observados por Oberlin et al., 1976. __ 13

    Figura 6 Trs tipos de hibridao do carbono (SILVA, 2008)._________ 14

    Figura 7 Estrutura do C60 (CAPAZ e CHACHAM, 2003) ____________ 14

    Figura 8 Nanotubos de carbono com as pontas fechadas (VAISMAN, WAGNER e MARON, 2006). ___________________________________ 15

    Figura 9 Estruturas de nanotubos de simples camadas perfeitos (FILHO e

    FAGAN, 2007). _____________________________________________ 16

    Figura 10 Esquema da formao de um nanotubo de carbono a partir de

    uma folha de grafite (HERBST, MACEDO e ROCCO, 2004). _________ 17

    Figura 11 Detalhe da curvatura de um MWNT (PONCHARAL et al., 2008).

    _________________________________________________________ 19

    Figura 12 Processo de crescimento dos nanotubos de carbono (HERBST,

    MACEDO e ROCCO, 2004) ___________________________________ 21

    Figura 13 Mecanismo para formao de nanotubos de carbono (PWT) (DU

    et al. 2006). ________________________________________________ 21

    Figura 14 Fases do mecanismo de PWT (DU, G. et al., 2006). ________ 22

    Figura 15 Exemplos de NTC sintetizados por CVD. _________________ 23

    Figura 16 Esquema dos orbitais nos fullerenos e nos nanotubos de carbono

    (NIYOGI et al.,2002) _________________________________________ 25

    Figura 17 Exemplo de ligao entre anis aromticos e NTC (CHEN et al.,

    2001). ____________________________________________________ 27

    Figura 18 Principais rotas de funcionalizao covalentes de NTC.

    (BANERJEE et al., 2005). _____________________________________ 29

  • viii

    Figura 19 Esquema da funcionalizao e desfuncionalizao de um SWNT,

    com posterior substituio do sitio ativo por um radical de interesse (TASIS

    et al., 2006). ________________________________________________ 31

    Figura 20 Efeito do processo de oxidao de NTC A) Tratamento de SWNT

    com HNO3 (TOUR, 2007) B) Tratamento de SWNT com SOCl2 e posterior

    alterao dos radicais com R-NH2 (VAISMAN, WAGNER e MARON, 2006).

    __________________________________________________________ 31

    Figura 21 Mudana do potencial zeta x pH dos nanotubos de carbono

    tratados com misturas de cido ntrico e sulfrico concentrados para os seguintes tempos: 0h sem tratamento, 10 min de tratamento, 20 minutos de

    tratamento e 30 minutos de tratamento (ESUMI et al., 1996). _________ 32

    Figura 22 Imagens de MET de nanotubos sem tratamento (a e b) tratados com H2O2 (c e d) e tratados com cido (e e f) (LI, C-C, et al. 2007)._________________________________________________ 34

    Figura 23 Representao da concentrao inica prxima a uma partcula

    (Zeta-meter Inc., 2006). _______________________________________ 36

    Figura 24 Comportamento tpico de uma partcula em soluo aquosa

    (Andrade, 2002). ____________________________________________ 37

    Figura 25 Espectro Raman de MWNT a NTC puro e b NTC modificado com SDS (LIU, GAO e SUN, 2007). ____________________ 38

    Figura 26 Micrografias de uma amostra de pasta de cimento contendo NTC com 3 dias (MAKAR, MARGESON e LUTH, 2005) _____________ 40

    Figura 27 Micrografias de NTC em pastas de cimento com nanoslica, em A

    NTC funcionalizado recoberto com produtos hidratados, em B NTC sem

    funcionalizao, no recoberto. (LI, WANG, ZHAO, 2007). _________ 42

    Figura 28 Micrografias dos NTC sintetizados sobre os gros de cimento

    anidro, em A um gro de cimento recoberto por NTC, em B e C detalhes

    dos NTC que compem o material (NASIBULIN ET AL., 2009) ________ 43

    Figura 29 Posicionamento do on Ca2+ entre as estruturas de C-S-H e o

    grupo carboxila do NTC (SANCHEZ e ZHANG, 2008). ______________ 45

    Figura 30 Energia de ligao entre a superfcie graftica e o C-S-H para

    diversos meios. (SANCHEZ e ZHANG, 2008) ______________________ 45

    Figura 31 Interao entre C-S-H e Ca(OH)2 e NTC segundo Li, Wang e

    Zhao, 2005. _________________________________________________ 46

    Figura 32 Imagens de MEV de uma amostra de MWNT, A) vista geral da

    amostra B) detalhe da ponta de um MWNT. _______________________ 54

  • ix

    Figura 33 Esquema para produo de amostras de pasta de cimento ___ 57

    Figura 34 Esquema de apoio para o ensaio de flexo, medidas em mm. _ 60

    Figura 35 Resultados obtidos a partir de espectrometria RAMAN para as

    amostras de nanotubos. (A) nanotubo tipo 1 (ST: sem tratamento; TA:

    tratamento com acidos; TP: tratamento com perxido de hidrognio). __ 65

    Figura 36 Resultados obtidos a partir de espectrometria RAMAN para as

    amostras de nanotubos. (B) nanotubo tipo 2 (ST: sem tratamento; TA:

    tratamento com acidos; TP: tratamento com perxido de hidrognio). __ 66

    Figura 37Resultados obtidos a partir de espectrometria RAMAN para as amostras de nanotubos. (C) nanotubo tipo 3 (ST: sem tratamento; TA:

    tratamento com acidos; TP: tratamento com perxido de hidrognio). __ 66

    Figura 38 Resultados obtidos a partir de espectrometria RAMAN para as

    amostras de nanotubos. (D) nanotubo tipo 4 (ST: sem tratamento; TA:

    tratamento com acidos; TP: tratamento com perxido de hidrognio). __ 67

    Figura 39 Resultados obtidos a partir de espectrometria RAMAN para as

    amostras de nanotubos. (E) nanotubo tipo 5 (ST: sem tratamento; TA:

    tratamento com acidos; TP: tratamento com perxido de hidrognio). __ 67

    Figura 40 Resultados de potencial zeta das amostras de nanotubos antes e

    aps as funcionalizaes. A curva preta representa os nanotubos no

    tratados a vermelha os nanotubos com tratamento com cido ntrico e

    sulfrico e a verde os nanotubos tratados com perxido, em A os nanotubos tipo 1. ____________________________________________ 69

    Figura 41 Resultados de potencial zeta das amostras de nanotubos antes e

    aps as funcionalizaes. A curva preta representa os nanotubos no

    tratados a vermelha os nanotubos com tratamento com cido ntrico e

    sulfrico e a verde os nanotubos tratados com perxido, em B os nanotubos tipo 2. ____________________________________________ 70

    Figura 42 Resultados de potencial zeta das amostras de nanotubos antes e

    aps as funcionalizaes. A curva preta representa os nanotubos no

    tratados a vermelha os nanotubos com tratamento com cido ntrico e

    sulfrico e a verde os nanotubos tratados com perxido, em C as nanofibras tipo 3. ___________________________________________ 70

    Figura 43 Resultados de potencial zeta das amostras de nanotubos antes e

    aps as funcionalizaes. A curva preta representa os nanotubos no

    tratados a vermelha os nanotubos com tratamento com cido ntrico e

    sulfrico e a verde os nanotubos tratados com perxido, em D os nanotubos tipo 4. ____________________________________________ 71

  • x

    Figura 44 Resultados de potencial zeta das amostras de nanotubos antes e

    aps as funcionalizaes. A curva preta representa os nanotubos no

    tratados a vermelha os nanotubos com tratamento com cido ntrico e

    sulfrico e a verde os nanotubos tratados com perxido de hidrognio, em

    E os tipo 5. _______________________________________________ 71

    Figura 45 Grfico log S x log f mostrando a regio de linearidade

    escolhida para o ajuste do sinal pela equao 9. Nota-se que a inclinao

    da reta compatvel com o mecanismo de recombinao na superfcie com

    f-1,0. _______________________________________________________ 73

    Figura 46 Grfico da fase do sinal pela freqncia de modulao,

    mostrando a melhor curva ajustada para o trecho definido pela linearidade

    mostrada na figura 38. Esta reta (em vermelho) o ajuste da equao 9. 73

    Figura 47 Medida de difusividade trmica para amostras de nanotubos de

    carbono tipo 1 com e sem funcionalizao. ________________________ 74

    Figura 48 Medida de difusividade trmica para amostras de nanotubos de

    carbono tipo 2 com e sem funcionalizao. ________________________ 75

    Figura 49 Medida de difusividade trmica para amostras de nanotubos de

    carbono tipo 4 com e sem funcionalizao. ________________________ 75

    Figura 50 Medida de difusividade trmica para amostras de nanotubos de

    carbono tipo 5 com e sem funcionalizao. ________________________ 76

    Figura 51 Fluxo de calor medido com calormetro de conduo da pasta referncia (preto) e da amostra contendo 0,05% nanotubo tipo 1 sem

    funcionalizao. _____________________________________________ 77

    Figura 52 Parmetros utilizados para o clculo do aumento da taxa de

    liberao de calor durante o perodo de acelerao da hidratao das

    pastas de cimento Portland. A reta A em vermelho representa a regresso linear correspondente ao intervalo de dados obtidos durante este

    perodo, representa a inclinao da reta e calculada a partir da tan-1(m), que o coeficiente angular da reta e representa o aumento da taxa de

    liberao de calor durante o intervalo estudado. ___________________ 78

    Figura 53 Coeficiente angular da reta que representa o perodo de

    acelerao da hidratao das pastas de cimento. ___________________ 79

    Figura 54 Calor normal para as pastas de cimento Portland. _________ 80

    Figura 55 Energia total liberada durante os perodos de acelerao e

    desacelerao das pastas de cimento Portland. _____________________ 80

  • xi

    Figura 56 Energia liberada durante o perodo de hidratao considerando-

    se o fator de forma e o teor de nanotubos. ________________________ 81

    Figura 57 Exemplo de curva de carregamento obtida no ensaio de squeeze

    flow. Neste caso mostram-se as trs curvas e a representao da mdia

    obtida para a pasta referncia. _________________________________ 82

    Figura 58 Tenso de escoamento mdia agrupada por tipo e por teor de

    nanotubos. _________________________________________________ 83

    Figura 59 Viscosidade mdia agrupada por tipo e teor de nanotubos. __ 83

    Figura 60 Tenso de escoamento para nanotubos no funcionalizados. _ 84

    Figura 61 Viscosidade para nanotubos no funcionalizados. _________ 84

    Figura 62 Tenso de escoamento para misturas com nanotubos

    funcionalizados com perxido de hidrognio. _____________________ 85

    Figura 63 Viscosidade mdia das misturas contendo nanotubos

    funcionalizados com perxido de hidrognio. _____________________ 85

    Figura 64 Viscosidade mdia para misturas contendo nanotubos

    funcionalizados com cido ntrico e sulfrico. _____________________ 86

    Figura 65 Tenso de escoamento para as misturas contendo nanotubos

    funcionalizados com cido ntrico e sulfrico. _____________________ 86

    Figura 66 Viscosidade mdias das misturas separadas por tipo de

    nanotubo. Os nanotubos N1, N2 e N3 so produzidos pela nano amorphus e

    os nanotubos N4 e N5 so da cheap tubes. Valores dos fatores de forma entre parnteses. ____________________________________________ 87

    Figura 67 Tenso de escoamento mdia das misturas em relao ao tipo de

    nanotubo. Valores diretamente proporcionais aos fatores de forma, entre

    parnteses. Nota-se a diviso dos nanotubos produzidos por empresas

    diferentes. _________________________________________________ 87

    Figura 68 Esquema de ensaio de resistncia compresso A e amostra dos padres de ruptura apresentados pelos corpos de prova B, C. _ 88

    Figura 69 Resistncia compresso mdia para as misturas estudadas. 89

    Figura 70 Resistncia compresso mdia em relao tipo de

    funcionalizao. ____________________________________________ 89

    Figura 71 Resistncia compresso mdia para os nanotubos tipo 1. __ 90

    Figura 72 Resistncia compresso mdia para as nanofibras tipo 3. __ 90

    Figura 73 Resistncia compresso mdia para os nanotubos tipo 2 ___ 91

  • xii

    Figura 74 Resistncia compresso mdia para os nanotubos tipo 4. ___ 91

    Figura 75 Resistncia compresso mdia para os nanotubos tipo 5. ___ 92

    Figura 76 No detalhe os nanotubos tipo 4 tratados com cido ntrico e

    sulfrico na matriz de cimento Portland. No foi observado nenhum

    nanotubo envolto em hidratos de cimento. _________________________ 93

    Figura 77 Esquema de ensaios de resistncia flexo A, em B molde utilizado para a produo dos corpos de prova. ____________________ 93

    Figura 78 Resultados da tenso de trao na flexo para a pasta

    referncia. _________________________________________________ 94

    Figura 79 Tenso de trao na flexo mdia para os compsitos de cimento

    Portland e nanotubos de carbono agrupados por tipo de funcionalizao. 94

    Figura 80 Tenso de trao na flexo para os compsitos de cimento

    Portland e nanotubos de carbono agrupados por tipo e funcionalizao. _ 95

    Figura 81 Tenso de trao mdia em relao ao fator de forma. ______ 96

    Figura 82 Variao da amplitude do sinal PA pela frequncia da

    modulao para a amostra referncia. ___________________________ 97

    Figura 83 Difusividade trmica das amostras de pasta de cimento com e

    sem nanotubos de carbono. Sendo a Ref. pasta de cimento sem NTC, ST

    pastas com NTC sem tratamento, TP pastas com NTC tratados com

    perxido de hidrognio e TA pastas com NTC tratados com cido ntrico e

    sulfrico.___________________________________________________ 98

    Figura 84 Difusividade trmica das amostras testadas. ______________ 98

    Figura 85 Ilustrao do aparato para mistura de pastas de cimento interna

    ao calorimetro de conduo (TA INSTRUMENTS)._________________ 114

    Figura 86 Fluxo de calor liberado pelas amostras de pasta de cimento

    Portland.__________________________________________________ 115

    Figura 87 Potencial zeta para nanotubos tipo 4, foram alterados os tempos

    de exposio ao acido para determinar qual seria a metodologia mais

    adequada a ser adotada. _____________________________________ 117

    Figura 88 Espectro RAMAN para os nanotubos funcionalizados. ______ 118

    Figura 89 Nanotubos tipo 4 antes da funcionalizao com cido ntrico e

    sulfrico.__________________________________________________ 119

    Figura 90 Nanotubos tipo 4 aps a funcionalizao com cido ntrico e

    sulfrico.__________________________________________________ 119

  • xiii

    Figura 91 Exemplo de disperso dos nanotubos aps vrios tempos de

    exposio ao acido. Nota-se a maior concentrao de nanotubos para 9h de

    mistura. __________________________________________________ 119

    Figura 92 Espectrometria RAMAN para nanotubos funcionalizados com

    hidrognio. _______________________________________________ 120

    Figura 93 FEG de amostras de nanotubos de carbono aps a

    funcionalizao. ___________________________________________ 121

    Figura 94 Perfil mdio obtido pelo ensaio de squeeze flow para os

    nanotubos tipo 1. ___________________________________________ 122

    Figura 95 Perfil mdio obtido pelo ensaio de squeeze flow para os

    nanotubos tipo 2. ___________________________________________ 122

    Figura 96Perfil mdio obtido pelo ensaio de squeeze flow para as

    nanofibras tipo 3. __________________________________________ 123

    Figura 97 Perfil mdio obtido pelo ensaio de squeeze flow para os

    nanotubos tipo 4. ___________________________________________ 123

    Figura 98 Perfil mdio obtido pelo ensaio de squeeze flow para os

    nanotubos tipo 5. ___________________________________________ 124

    Figura 99 Resistncia compresso das pastas contendo nanotubo tipo 1

    comparadas a referncia. ____________________________________ 131

    Figura 100 Resistncia compresso das pastas contendo nanotubo tipo 2

    comparadas a referncia. ____________________________________ 132

    Figura 101 Resistncia compresso das pastas contendo nanofibras tipo 3

    comparadas a referncia. ____________________________________ 132

    Figura 102 Resistncia compresso das pastas contendo nanotubo tipo 4

    comparadas a referncia. ____________________________________ 133

    Figura 103 Resistncia compresso das pastas contendo nanotubo tipo 5

    comparadas a referncia. ____________________________________ 133

  • xiv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Principais xidos presentes no cimento Portland _____________ 5

    Tabela 2 Principais fases presentes no cimento Portland. ______________ 5

    Tabela 3 Fases do cimento anidro e seus produtos aps a hidratao. ____ 6

    Tabela 4 Caractersticas dos procedimentos de funcionalizao com

    mistura entre cido ntrico e sulfrico. ___________________________ 33

    Tabela 5 Porosimetria por intruso de mercrio. Onde PCC argamassa

    de cimento Portland referncia, PCCF argamassa com fibra de carbono e

    PCNT argamassa com NTC (LI, WANG e ZHAO, 2005). ___________ 41

    Tabela 6 Caracterizao do cimento Portland tipo I (o laudo da anlise

    qumica pode ser consultado no anexo 1). Caracterizao mecnica foi

    fornecida pelo fabricante. _____________________________________ 49

    Tabela 7 Caracterizao do aditivo superplastificante fornecida pelo

    fabricante. _________________________________________________ 50

    Tabela 8 Descrio dos nanotubos de carbono e da nanofibra _________ 50

    Tabela 9 Intensidade do sinal de Raman. A banda G originaria da

    estrutura hexagonal dos nanotubos enquanto a banda D causada pelos

    defeitos superficiais nos nanotubos. ______________________________ 68

    Tabela 10 Difusividade trmica medida por espectrometria fotoacstica. 74

    Tabela 11 Valor da difusividade trmica para as pastas de cimento e para

    os nanotubos puros. __________________________________________ 99

    Tabela 12 ndice ID/IG para os nanotubos funcionalizados. __________ 118

    Tabela 13 Resultado de espectrometria RAMAN para nanotubos

    funcionalizados com peroxido de hidrogenio. _____________________ 120

    Tabela 14 Valores da tenso de escoamento e da viscosidade para as pastas de cimento com nanotubos de carbono. __________________________ 125

    Tabela 15 Valores da viscosidade e tenso de escoamento para a pasta

    referncia. ________________________________________________ 130

  • xv

    LISTA DE SMBOLOS

    AC Corrente Alternada

    ADP Adsoro Difuso Precipitao

    -COOH Grupo Funcional Carboxila

    CP I S Cimento Portland Comum com Adio Segundo NBR 5732

    C-S-H Silicato de Clcio Hidratado

    CVD Deposio Qumica de Vapor

    DC Corrente Continua

    FEG Microscpio Eletrnico de Varredura de Emisso de Campo

    FT-IR Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier

    IBM International Business Machines

    MET Microscopia Eletrnica de Transmisso

    MEV Microscopia Eletrnica de Varredura

    MWNT Nanotubos com parede de Mltiplas Camadas

    NEC Nippon Eletronic Company

    NTC Nanotubo de Carbono

    PAA cido Poliacrlico

    PWT Particula Fio Tubo

    SDS Dodecil Sulfonato de Sdio

    SWNT Nanotubos com parede de Simples Camada

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

  • xvi

    SUMRIO

    Capitulo 1. Introduo 1 1.1. Objetivos 3 1.2. Hipteses 4

    Capitulo 2. Reviso Bibliogrfica 5 2.1. Cimento Portland 5

    2.1.1. Principais constituintes do cimento Portland hidratado 6 2.1.2. Hidratao do Cimento Portland 9 2.1.3. Constituio da fase lquida durante a hidratao 11

    2.2. Nanotubos de Carbono 12 2.2.1. Tipos e Propriedades dos NTC 13 2.2.2. Mtodos de Sntese 19 2.2.3. Mtodos de Funcionalizao / Disperso 24

    2.3. Compsito NTC/matriz cimento Portland. 38 2.3.1. Disperso dos NTC na matriz cimentcea. 43 2.3.2. Interao dos NTC com a matriz cimentcea. 44

    2.4. Sntese da bibliografia. 46 Capitulo 3. Materiais e mtodos 49

    3.1. Materiais 49 3.2. Programa experimental 51

    3.2.1. Procedimentos de funcionalizao 51 3.2.2. Caracterizao dos NTC 53 3.2.3. Preparao e anlise do compsito cimento/NTC. 56

    Capitulo 4. Resultados e discusses. 64 4.1. Caracterizao dos nanotubos de carbono 64

    4.1.1. RAMAN 64 4.1.2. Potencial zeta 68 4.1.3. Difusividade trmica. 72

    4.2. Caracterizao das pastas de cimento Portland 76 4.2.1. Calorimetria por conduo 76 4.2.2. Squeeze flow 81 4.2.3. Resistncia compresso 88 4.2.4. Resistncia flexo 93 4.2.5. Difusividade trmica 96

    Capitulo 5. Concluses 100 Referncias Bibliogrficas 102

    Apndice A Efeitos da exposio de nanotubos tratados com cido ntrico e sulfrico a soluo de hidrxido de clcio no perodo de induo de pastas de cimento. 114

  • xvii

    Apndice B - Estudo preliminar para a funcionalizao dos nanoubos de carbono. 116

    Funcionalizao com cido ntrico e sulfrico. 116 Funcionalizao com perxido de hidrognio: 120

    Apndice C Resultados dos ensaios de squeeze flow 122 Apndice D Resultados mdios de resistncia compresso. 131 Anexo 01 - Laudo da anlise qumica do Cimento Portland. 134

  • 1

    CAPITULO 1. INTRODUO

    O cimento Portland um produto relativamente barato, de fcil

    utilizao e com boas caractersticas mecnicas e de durabilidade. Ele

    produzido a partir da moagem de clnquer1 com uma pequena

    quantidade de gipsita, para impedir a pega instantnea. Suas

    caractersticas o tornaram um dos materiais de construo mais

    utilizados no mundo. Como a utilizao de materiais cimentceos

    abrange quase todos os tipos de obras, desde construes simples at

    grandes obras de engenharia, o desenvolvimento de materiais mais

    eficientes tem impacto econmico, social e ambiental em todos os nveis

    da sociedade.

    A maior parte do aperfeioamento das caractersticas mecnicas dos

    cimentos e compsitos cimentceos conseguidos nas ultimas dcadas

    vieram da reduo da porosidade capilar e melhoramentos no

    empilhamento das partculas (PELLENQ e DAMME, 2004). Entretanto,

    a intensidade destes avanos vem diminuindo, principalmente no que se

    refere ao desempenho, indicando que avanos na melhoria das

    caractersticas mecnicas devam vir do controle e aperfeioamento das

    estruturas mais finas destes materiais, como da nanoporosidade ou do

    prprio C-S-H (GLEIZE, 2008).

    A nanotecnologia trata da manipulao, controle e produo de

    materiais e sistemas em escala nanomtrica, normalmente delimitadas

    entre 1 e 100 nm. intrinsecamente multidisciplinar, com aplicaes em

    todas as reas das cincias.

    O controle das nanoestruturas, mais do que a hiperminiaturizao, pode

    proporcionar uma revoluo na maneira como utilizamos os materiais

    para a construo de sistemas e dispositivos. Pode-se criar novos tipos

    de materiais polifuncionais, aumentar a eficincia energtica e a

    versatilidade de produtos e sistemas.

    A indstria da construo dever se beneficiar das tcnicas e materiais

    nanotecnolgicos medida que o desenvolvimento atinja produtos

    utilizados no seu dia a dia. A nanotecnologia tem grande potencial para

    melhorar produtos como aos estruturais, vidros, polmeros e,

    sobretudo, materiais cimentceos.

    1 Clnquer um composto bem proporcionado de argilas e calcrios queimados em

    altas temperaturas.

  • 2

    Devido a sua estrutura complexa e diferentes morfologias dos produtos

    hidratados o cimento aparece como bom candidato manipulao

    utilizando-se tcnicas e conceitos de nanotecnologia (IRC, 2002).

    A adio de nanoobjetos ao cimento pode permitir o controle e o

    melhoramento do comportamento destes materiais, modificando sua

    nanoestrutura, o que pelas tcnicas atuais no poderia ser alcanado. A

    possibilidade de controle da difuso progressiva de aditivos, o

    autoreparo atravs da utilizao de nanocapsulas com material adesivo,

    o controle da fluncia, e o aumento da resistncia mecnica so alguns

    exemplos do que pode ser desenvolvido atravs da aplicao dos

    conceitos e tcnicas geradas pela nanotecnologia.

    Por sua vez, os nanotubos de carbono (NTC) vm, desde sua descoberta

    em 1991, despertando grande interesse de pesquisadores pelas suas

    caractersticas singulares. Os NTC possuem mdulo de elasticidade que

    pode chegar a grandezas de 1 TPa e ao mesmo tempo serem curvados a

    grandes ngulos sem quebrar (FLAHAUT, 1999. FAGAN, 2003). Os

    mtodos de produo, purificao e funcionalizao dos NTC esto em

    constante evoluo o que, provavelmente, deve torn-los acessveis ao

    uso em grande escala nos prximos anos.

    Para Vaisman, Wagner e Maron (2006), existem trs grandes desafios a

    serem superados para a utilizao eficiente dos NTC como reforo em

    materiais compsitos:

    1- O custo, que deve ser reduzido medida que a demanda aumenta, a partir do desenvolvimento de novos processos de

    produo e purificao.

    2- A disperso, sem uma homogenia distribuio dos nanotubos na matriz, sua eficincia reduzida tornando os ganhos reais

    de resistncia limitados.

    3- O alinhamento dos NTC, para que a eficincia seja melhorada, os nanotubos devem estar alinhados

    paralelamente ao sentido dos esforos aos quais so

    submetidos, exigindo maior energia para a formao e

    propagao de fissuras.

    Um quarto desafio pode ser citado, principalmente quando pensa-se em

    reforo em matriz cimentcea, que a interao eficiente dos

    nanoobjetos e os compostos da matriz. Sem uma interao adequada

    poucos efeitos de longo prazo acabam sendo observados, restando

  • 3

    apenas alteraes nos processos iniciais ou pequenas modificaes

    estruturais devido a presena de objetos de escala to diminuta.

    Alguns trabalhos j vm sendo realizados para a produo de

    compsitos cimento Portland/nanotubo de carbono, em sua maioria

    obteve-se acrscimo na resistncia mecnica, como ser visto no

    capitulo 2.3. Porm, consenso que sua utilizao ainda um desafio.

    Para que atinja seu potencial terico, as tcnicas de disperso e a

    interao entre a matriz e os nanotubos devem ser melhor entendidas.

    Os nanotubos tambm podem alterar as propriedades termofsicas da

    pasta de cimento. Aumentando a difusividade trmica da matriz,

    permitindo assim maior eficincia na evacuao da energia gerada pelos

    processos de hidratao e minimizando as dilataes/retraes trmicas

    diferenciais as quais as peas de concreto so submetidas.

    1.1. Objetivos

    Este trabalho tem como objetivo geral produzir um compsito cimento

    Portland/nanotubo de carbono de alta resistncia.

    Pretende-se estudar alguns mtodos de funcionalizao para melhorar a

    disperso dos nanotubos em gua. Como conseqncia promover sua

    distribuio homognea na matriz cimentcea e tambm melhorar a

    interao destes nanotubos com os compsitos hidratados do cimento.

    Com a distribuio homognea dos nanotubos na matriz cimentcea,

    sero realizadas avaliaes do desempenho do compsito no estado

    fresco e endurecido.

    No primeiro caso sero avaliadas as modificaes na cintica de

    hidratao e na trabalhabilidade2 das pastas de cimento resultantes da

    introduo dos nanotubos na matriz, estas anlises devem ser realizadas

    por meio de calorimetria e de ensaios avaliando alguns parmetros

    reolgicos.

    Com o compsito em estado endurecido pretende-se avaliar seu

    desempenho mecnico atravs de ensaios de resistncia compresso e

    flexo. Pretende-se tambm estudar o comportamento trmico da

    2 Segundo Cardoso (2005) ACI define trabalhabilidade como a propriedade de um

    concreto ou argamassa no estado fresco que determina a facilidade com que estes

    podem ser misturados, aplicados, consolidados e acabados a uma condio homognea.

  • 4

    matriz cimentcea, atravs de medidas da difusividade trmica dos

    compsitos.

    1.2. Hipteses

    Espera-se que o tratamento qumico dos NTC leve formao de

    radicais funcionais do grupo carboxila, covalentemente ligados aos

    tomos de carbono da superfcie dos nanotubos. Este processo deve

    resultar na melhoria da disperso dos NTC em meio aquoso alcalino.

    Em meio alcalino o hidrognio do grupo carboxila se dissocia restando

    em stios reativos que serviriam como agentes dispersivos, ncleos de

    crescimento para os hidratos de cimento e tambm como ponto de

    ancoragem e transferncia de esforos mecnicos entre o NTC e a

    matriz cimentcea.

    Aps o processo de disperso e incorporao, esperado que os NTC

    absorvam uma parte dos esforos mecnicos impostos matriz do

    compsito, resultando no aumento da sua resistncia flexo e

    compresso.

    Tendo em vista que os radicais adicionados na superfcie dos NTC

    funcionem como ncleos de crescimento para os hidratos de cimento,

    espera-se que ocorra um adensamento da pasta, devido nucleao

    heterogenia. Este efeito pode levar modificaes na estrutura e na

    distribuio dos hidratos na pasta, e influenciar as caractersticas fsico-

    mecnicas do material.

    Espera-se que os nanotubos de carbono por possurem difusividade

    trmica elevada, quando introduzidos na matriz, proporcionem o

    aumento da difusividade trmica no compsito resultante, e

    conseqentemente aumentem a condutividade trmica da matriz.

  • 5

    CAPITULO 2. REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1. Cimento Portland

    O cimento Portland um composto mineral que em contato com a gua

    passa por reaes de hidrlise e hidratao, as quais lhe conferem

    estabilidade dimensional e resistncia mecnica. Sua composio varia

    de acordo com as matrias primas utilizadas durante a produo. Seus

    componentes so normalmente expressos na forma de xido e

    convenientemente abreviados conforme mostrado na tabela 1 (MEHTA

    e MONTEIRO, 2008.

    Tabela 1 Principais xidos presentes no cimento Portland

    xidos Abreviao

    CaO C

    SiO2 S

    Al2O3 A

    Fe2O3 F

    MgO M

    SO3 S

    H2O H

    O gro de clnquer, principal constituinte do cimento, uma mistura

    complexa de silicatos e aluminatos distribudos de forma heterogenia.

    As principais fases minerais encontradas so listadas por Taylor (1990)

    como sendo: silicato triclcico (Ca3SiO5), silicato diclcico (Ca2SiO4),

    aluminato de clcio (Ca3Al2O6) e ferrita ou ferroaluminato de clcio

    (Ca4Al2Fe2O10), vide tabela 2.

    Tabela 2 Principais fases presentes no cimento Portland.

    Fase Proporo

    (%) Frmula Abreviao

    Silicato Triclcico 35 65 Ca3Si2O5 C3S

    Silicato Diclcico 10 40 Ca2SiO4 C2S

    Aluminato de clcio 0 15 Ca3Al2O6 C3A

    Ferro Aluminato tetraclcico 5 15 Ca4Al2Fe2O10 C4AF

    Sulfato de clcio (gipsita) 3 CaSO5H4 CSH2

    Alm destas quatro, podem ser encontrados outros compostos em menor

    quantidade como MgO, Na2O e K2O. Na constituio do cimento

    Portland acrescentada tambm a gipsita, sulfato de clcio (CaSO5H4),

    com o intuito de controlar a hidratao instantnea dos aluminatos.

  • 6

    2.1.1. Principais constituintes do cimento Portland hidratado

    Aps as reaes de hidratao, o cimento Portland, apresenta vrios

    constituintes, sendo os principais: os silicatos de clcio hidratados (C-S-

    H), o hidrxido de clcio (Ca(OH)2), os sulfoaluminatos de clcio

    hidratado (etringita e monosulfato) e os aluminatos hidratados.

    Normalmente a hidratao dos aluminatos est relacionada com um

    enrijecimento da pasta de cimento enquanto que os silicatos so

    responsveis pelo incremento na resistncia mecnica.

    Sabe-se que o principal constituinte da pasta de cimento hidratado o

    C-S-H, ele representa 70% do material, e responsvel pela maior parte

    da sua resistncia mecnica. Os demais hidratos apresentam-se em

    menor quantidade, CH em torno de 20%, e os demais constituintes os

    10% restantes (REGOURD, 1982).

    Cada fase do cimento Portland anidro produz, aps o contato com a

    gua, uma famlia de compostos hidratados, cuja relao apresentada

    na tabela 3.

    Tabela 3 Fases do cimento anidro e seus produtos aps a hidratao.

    Fases anidras Fases hidratadas

    C3S C-S-H + CH

    C2S C-S-H + CH

    C3A C2AH8 + C4AH13 + C3AH13

    C3A + gipsita C3A.3CS.H32 + C3A.CS.H12 + C4AH13

    C4AF C2(A,F)H8 + C4(A,F)H13 + C3(A,F)H6

    C4AF + gipsita C3(A,F).3CS.H32 + C3(A,F).CS.H12 + C4(A,F)H13

    2.1.1.1. Sulfoaluminatos de clcio hidratado (etringita e monosulfato)

    Os sulfoaluminatos de clcio hidratado correspondem a menos de 10%

    do produto de hidratao do cimento Portland. A etringita se apresenta

    em duas formas morfolgicas, etringita primria, que aparece como

    agulhas hexagonais com alguns micrometros. J a etringita recristalizada

    pode ser identificada apenas atravs de microanlise, pois pode estar

    misturada ao monosulfato ou ao prprio C-S-H (SCRIVENER, 2004).

    A presena de monosulfato pode ser prejudicial ao concreto, uma vez

    que o ataque por sulfato transforma os monosulfatos em etringita na

    presena de Ca(OH)2. Esse fenmeno pode gerar tenses internas que

    potencializam o aparecimento de fissuras no concreto comprometendo

    sua durabilidade (MEHTA E MONTEIRO, 2008).

  • 7

    2.1.1.2. Hidrxido de Clcio

    A morfologia do hidrxido de clcio esta relacionada com o espao

    disponvel para sua cristalizao. Na presena de espaos maiores, em

    conseqncia de relaes gua/cimento elevadas, formam prismas

    hexagonais caractersticos. Com a reduo dos espaos podem aparecer

    como aglomerados mal definidos. O hidrxido de clcio contribui pouco

    para a resistncia mecnica do cimento, e por ser solvel em gua pode

    colaborar com o aumento da porosidade da pasta (MEHTA e

    MONTEIRO, 2008).

    Materiais contendo slica amorfa podem reagir com o Ca(OH)2 que

    resultam na produo de C-S-H adicional, provocando uma diminuio

    gradativa da concentrao de Ca(OH)2 na pasta. Este processo tambm

    responsvel pelo adensamento da pasta, reduzindo sua porosidade e

    elevando sua resistncia mecnica (SHA e PEREIRA, 2001).

    A carbonatao ocorre quando o Ca(OH)2 entra em contato com o gs

    carbnico formando CaCO3, muitas vezes com conseqncias

    indesejadas para a matriz cimentcea. Este processo pode resultar na

    reduo do pH da fase lquida da pasta endurecida e na ocorrncia de

    retrao, o que pode causar a despassivao da armadura e a fissurao

    da matriz devido tenses geradas por restries impostas a matriz do

    compsito (MEHTA e MONTEIRO, 2008).

    2.1.1.3. O silicato de clcio hidratado, C-S-H

    A fase silicato de clcio hidratado (C-S-H) o principal constituinte

    resultante da hidratao da pasta de cimento e, por conseqncia, o

    responsvel pela maior parcela da resistncia deste composto. Sua

    constituio no bem definida, fato que leva a hifenizar-se o termo C-

    S-H sem relao estequiomtrica entre os componentes. Ele apresenta

    uma relao clcio/slica em torno de 1,5 a 2,0 dependendo do tipo de

    cimento e das condies de hidratao (MEHTA e MONTEIRO, 2008).

    Pode ser considerado como um slido pouco cristalino, formado por

    partculas finas (dimetro entre 100 a 200 ) com alta rea interna.

    Uma estrutura bastante utilizada como modelo da estrutura morfolgica

    do C-S-H o mineral tobermorita, da sua designao ser gel de tobermorita. Este modelo prev uma estrutura de base em forma de folhas constitudas por uma estrutura de planos duplos de octaedros de

    clcio ligados entre si pelas arestas. A figura 1 mostra a representao

    da estrutura do C-S-H em diferentes escalas de observao apresentada

    por Minet (2003).

  • 8

    Figura 1 Estrutura do C-S-H em diferentes escalas de observao (MINET, 2003).

    No modelo proposto por Feldman e Sereda evidencia-se a morfologia e

    a forma como a gua est presente na estrutura dos C-S-H. Neste

    modelo a partcula de C-S-H composta por aglomerados de partculas

    no muito organizados contendo gua adsorvida sobre sua superfcie.

    Estas partculas por sua vez seriam formadas por duas ou trs folhas

    com estrutura semelhantes a da tobermorita, como mostrado na figura 2

    (GLEIZE, 2008).

    Figura 2 Modelo de Feldman e Sereda, que representa a estrutura do C-S-H

    (REGOURD, 1982).

    Sierra complementou o modelo proposto por Feldman e Sereda

    atribuindo manuteno da coeso do C-S-H a dois fatores.

    1. A presena de ligaes qumicas fortes entre as folhas; porm, estas ligaes cobririam somente uma pequena

    parte da superfcie das partculas. A ligao entre as

    partculas seria feita atravs de interaes do tipo fora

    de van der Walls.

    2. H tambm uma estruturao da gua intersticial, conforme pode ser visto na figura 3 (REGOURD, 1982)

  • 9

    Figura 3 Tipos de ligao entre as folhas de C-S-H (SIERRA apud RAMACHANDRAN,

    1984).

    2.1.2. Hidratao do Cimento Portland

    Apesar de no totalmente elucidados, consenso que os processos de

    hidratao do cimento so divididos em cinco estgios bem definidos

    (AITCIN, 2000). As reaes de hidrolise e hidratao so exotrmicas e

    podem ser acompanhados pela curva de calor liberado aps a mistura do

    cimento com a gua, como apresentado na figura 4 (JOLICOEUR e

    SIMARD, 1998).

    Figura 4 Curva tpica de desenvolvimento de calor de hidratao de um cimento Portland

    comum.

    Estagio I - Perodo inicial de hidratao. Imediatamente aps o contato

    com a gua ocorre uma intensa dissoluo dos compostos anidros mais

    facilmente ionizveis (KSO4, CaSO4xH2O). Estas reaes so

    responsveis pela liberao de grande quantidade de calor, porm a taxa

  • 10

    de hidratao decresce rapidamente para valores muito baixos. Sua

    durao de poucos minutos. O pH da soluo aumenta o que

    potencializa a dissoluo dos silicatos e aluminatos, que por sua vez,

    liberam ons Ca2+

    e OH-. Alm dos ons silicatos e aluminatos, outros

    ons que esto presentes na soluo so Na+, K

    +, SO4

    2-, estes ltimos em

    menor quantidade (JOLICOEUR e SIMARD, 1998).

    Com o aumento das concentraes inicas inicia-se a cristalizao de

    alguns compostos, principalmente etringita e C-S-H, formando camadas

    sobre os gros de cimento anidro, o que dificulta a difuso da gua e dos

    ons para a soluo; este processo citado como um dos possveis

    responsveis pelo inicio do perodo de induo (JOLICOEUR e

    SIMARD, 1998).

    Estagio II - Perodo de induo. Aps a reduo da taxa de hidratao, a

    soluo continua hidratando os gros de cimento, porm de forma lenta;

    este perodo marcado pela manuteno da trabalhabilidade do

    composto, podendo durar algumas horas.

    Para Jolicoeur e Simard (1998), este perodo dominado pelas reaes

    dos aluminatos, com o crescimento dos cristais de etringita e

    espessamento da camada sobre os gros anidros. Se quantidades muito

    altas de SO42-

    estiverem presentes ocorrer uma massiva re-cristalizao

    de gipsita podendo gerar falsa pega, caso contrrio, se a concentrao

    for muito baixa haver a nucleao e crescimento de C-A-H, causando a

    pega instantnea. Na quantidade adequada vrios fenmenos fsico-

    qumicos contribuiro para a evoluo gradual do sistema.

    Segundo Odler (1998), apesar da formao de etringita, a concentrao

    de SO42-

    mantm-se constante devido dissoluo continua dos sulfatos

    de clcio. A baixa liberao de calor observada neste perodo indica a

    reduo da velocidade das reaes de hidratao e dissoluo.

    Estagio III - Perodo de acelerao e pega. Passado o perodo de

    dormncia, as reaes de hidratao voltam a acelerar, gerando mais

    calor e aumentando a precipitao de compostos slidos. Este perodo

    marcado pelo incio da pega do cimento e sua durao de algumas

    horas.

    Para Taylor (1990) e Jolicoeur e Simard (1998), neste perodo, ocorre a

    formao de grande quantidade de C-S-H e CH provenientes do C3S,

    diminuindo a concentrao de Ca2+

    na soluo. Ocorre tambm a

    formao de etringita que consome os ons SO42-

    . Grande quantidade de

    gua da mistura consumida, devido cristalizao dos aluminatos e

  • 11

    formao dos outros produtos hidratados, causando um aumento brusco

    da viscosidade da pasta devido ao aumento da relao slido/lquido.

    Neste perodo os gros menores so completamente hidratados, o que

    pode levar a formao dos chamados gros de Hadley, enquanto que

    gros de tamanho mdio e grande continuam a hidratar e formam C-S-H

    mais denso (ODLER, 1998; SCRIVENER, 2004).

    Estagio IV - Perodo de desacelerao e endurecimento. Aps a

    acelerao das reaes, os hidratos precipitados comeam a impedir a

    dissoluo dos compostos ainda no hidratados, a taxa de hidratao

    diminui e o esqueleto slido do composto adquire resistncia mecnica.

    Sua durao de algumas horas at alguns dias.

    Estagio V - Perodo de cura. A partir da reduo da taxa de hidratao a

    maioria dos gros de cimento j est completamente coberta por

    compostos hidratados; os gros menores foram consumidos e o

    esqueleto slido do composto passa a ganhar resistncia mecnica

    significativa. As reaes de hidratao passam a ser predominantemente

    de natureza topoqumica. Este perodo tem durao de vrios dias.

    Neste perodo pode ocorrer o aparecimento de um shoulder3 no

    grfico de fluxo de calor. Segundo Quarcioni (2008) este shoulder causado pela hidratao da fase ferrita.

    Alm da evoluo do calor liberado, a hidratao pode ser acompanhada

    tambm pela determinao dos teores das fases anidras e hidratadas,

    pela concentrao inica na fase aquosa, pela determinao do teor de

    gua combinada e pela retrao qumica (TAYLOR, 1990).

    2.1.3. Constituio da fase lquida durante a hidratao

    Segundo Odler (1998), anlises da fase lquida retirada da pasta no

    decorrer do perodo de hidratao, por meio de filtrao ou

    centrifugao, mostram que imediatamente aps a mistura os principais

    ons presentes so K+ e o Na

    + originrios dos sulfatos juntamente com

    certa quantidade de SO42-

    . As concentraes de K+ e Na

    + podem variar

    bastante, de aproximadamente 5 a 50 mmol/l de Na+ e de 20 a 200

    mmol/l de K+, dependendo da solubilidade dos sulfatos e da relao

    gua/cimento.

    3 Shoulder, ombro em traduo literal. Refere-se a uma mudana na taxa de liberao

    de calor, mas que no chega a causar a formao de um novo pico distinto.

  • 12

    J os ons Ca2+

    so originrios da dissoluo da cal livre e devido

    hidratao dos silicatos de clcio, saturam a soluo rapidamente, entre

    1 e 3 h aps a mistura com a gua. Sua concentrao cai devido

    formao de etringita e pela precipitao de portlandita, enquanto a

    concentrao dos ons K+ e Na

    + aumenta (TAYLOR, 1990, ODLER,

    1998).

    O SO42-

    inicialmente originrio da decomposio dos sulfatos tem sua

    concentrao regulada pela relao gua/cimento e o tipo de sulfato

    presente no cimento (anidro, dihidratado ou hemihidratado). Estes ons

    so consumidos para formao de etringita e podem ser adsorvidos pelas

    superfcies do C-S-H. Sua concentrao diminui at chegar prxima a

    zero em alguns dias aps a mistura do cimento com a gua.

    As hidroxilas OH- so resultantes da dissoluo do hidrxido de clcio e

    da hidrolise dos silicatos. Sua concentrao aumenta durante o processo

    de hidratao, e eles so um dos principais responsveis pela regulao

    do pH da soluo. Sua concentrao est relacionada com a

    concentrao dos ons K+ e Na

    +.

    2.2. Nanotubos de Carbono

    A possibilidade da produo de filamentos base de carbono atravs da

    decomposio de hidrocarbonetos foi mencionada pela primeira vez por

    Hughes e Chambers no ano de 1889 numa patente norte-americana. Em

    1952 foram feitas as primeiras imagens de estruturas tubulares de

    carbono com dimenses nanomtricas, publicadas no The Journal of

    Physical Chemistry of Rssia por Radushkevich e Lukijanovich (figura

    5-A).

    Em 1976 foram obtidas as primeiras imagens de nanotubos de carbono,

    por Oberlin et al. (figura 5-B). No ano de 1985, Kroto et al. observaram

    os fullerenos, estruturas formadas por carbono na forma de esferas.

    Finalmente em 1991 Sumio Iijima da NEC (Nippon Electric Company),

    observa estruturas tubulares formadas por varias camadas de grafeno, as

    quais so chamadas de nanotubos de carbono (NTC). E em 1993 Sumio

    Iijima e Ichihashi da NEC e Donald Bethune et al. da IBM - USA em

    trabalhos independentes, sintetizam pela primeira vez NTC de paredes

    simples.

    A escalada de descobertas sobre as propriedades, mtodos de

    sntese e possibilidades de utilizao vm crescendo desde ento, e hoje,

    j possvel encontrar produtos com adio de nanotubos de carbono

  • 13

    sendo comercializados. Um exemplo so raquetes de tnis e polmeros

    reforados para a indstria aeroespacial.

    Figura 5 A - Filamentos observados por Radushkevich e Lukijanovich em 1952. B -

    Nanotubos de carbono observados por Oberlin et al., 1976.

    2.2.1. Tipos e Propriedades dos NTC

    O carbono um elemento singular da tabela peridica, sua versatilidade

    comprovada pela variedade de caractersticas presentes nas estruturas

    formadas por este elemento. O carbono possui quatro eltrons na

    camada de valncia o que possibilita a formao de orbitais hbridos

    para a formao de ligaes qumicas. Dependendo do tipo de ligao

    atmica, os eltrons de valncia do carbono podem ocupar diferentes

    lacunas nos orbitais mais externos, minimizando a energia total do

    sistema. Quando, nestas ligaes, ocorre a sobreposio de orbitais

    distintos do tipo s com p por exemplo, diz-se que o tomo apresenta hibridao.

    O carbono possui trs tipos de hibridao que so exemplificadas a

    seguir:

    No diamante, o carbono tem hibridao do tipo sp3 e

    forma estruturas tetragonais com ligaes entre todos os tomos vizinhos, resultando em um material com alta

    dureza e grande estabilidade qumica (figura 6A).

    J a grafite, que possui hibridao sp2 apresenta estrutura

    bidimensional, com ligaes do tipo apenas na direo do plano, e ligaes entre planos, o que explica suas

    A B

  • 14

    propriedades lubrificantes e seu comportamento

    eletrnico (figura 6B).

    Em molculas como a do acetileno, apresentam ligao apenas em um eixo devido hibridao do tipo sp, as

    outras ligaes so do tipo , mais fracas (figura 6C) (FAGAN, 2003; MARCHIORI, 2007).

    Figura 6 Trs tipos de hibridao do carbono (SILVA, 2008).

    At a dcada de 1980 duas estruturas cristalinas clssicas formadas

    apenas de tomos de carbono eram bem conhecidas, a grafite e a do

    diamante. Como mencionado anteriormente, no ano de 1985 os

    qumicos Harold Kroto, da Universidade de Sussex no Reino Unido,

    James Heath, Sean OBrian, Robert Curl e Richard Smalley da Universidade de Rice nos Estados Unidos, em um estudo conjunto sobre

    sublimao de carbono demonstraram a presena de estruturas na forma

    de esferas formadas por anis pentagonais e hexagonais de carbono

    (CAPAZ e CHACHAM, 2003). A forma mais conhecida destas esferas,

    denominadas fullerenos, so os C60 tambm chamadas de buckyball, mostrado na figura 7.

    Figura 7 Estrutura do C60 (CAPAZ e CHACHAM, 2003)

    A B C

  • 15

    Os fullerenos so muito reativos, podendo combinar-se com grande

    quantidade de compostos e, atualmente, podem ser encontrados em

    alguns tipos de cosmticos e produtos industriais.

    Os nanotubos de carbono observados por Iijima em 1991 foram

    sintetizados atravs de descarga de arco eltrico. Eles eram formados

    por varias camadas de grafeno na forma de tubos com dimetro de

    alguns nanmetros. Estes tubos apresentam normalmente comprimento

    da ordem de alguns micrometros, porm atualmente j possvel

    produzi-los com alguns milmetros4.

    De uma maneira simplificada pode-se olhar um nanotubo de carbono de

    parede simples como uma nica folha de grafeno enrolada para formar

    um tubo. Os nanotubos de carbono normalmente apresentam suas

    extremidades fechadas por cpulas, formadas por redes hexagonais e

    pentagonais semelhantes fullerenos (FIGURA 8).

    Figura 8 Nanotubos de carbono com as pontas fechadas (VAISMAN, WAGNER e

    MARON, 2006).

    Muito semelhante em estrutura ao grafeno, seus tomos de carbono

    possuem hibridao sp2, o que lhe confere alta estabilidade qumica. As

    regies mais reativas so as extremidades, pois os anis pentagonais no

    so to estveis, e regies de defeitos no corpo do tubo, onde os tomos

    de carbono no tm todas as ligaes qumicas satisfeitas (SUN e GAO,

    2003).

    Outra caracterstica importante sua rea superficial. Devido a suas

    dimenses eles dificilmente mantm-se isolados, ou seja, os tubos

    interagem entre si formando feixes e aglomerados unidos por interaes

    fsicas, foras de van der Waals, o que prejudica sua disperso em meios

    lquidos. Sua baixa molhabilidade tambm um empecilho para a

    formao de suspenses homogneas em gua, sendo este um dos

    maiores desafios para a utilizao comercial deste material (VAISMAN,

    WAGNER e MARON, 2006).

    4 http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010165070517

    visitado em 05/07/2008.

  • 16

    Os nanotubos de carbono apresentam caractersticas singulares devido a

    sua estrutura e dimenses. Sua alta resistncia mecnica, propriedades

    eletro-eletrnicas, estabilidade qumica entre outras, vem tornando este

    material objeto de um grande nmero de estudos. Seu mdulo de

    elasticidade terico pode atingir grandezas da ordem de 1 TPa em

    trao, e ao mesmo tempo podem ser dobrados a grandes ngulos sem

    apresentar fissura (FLAHAUT, 1999. FAGAN, 2003). Outra

    caracterstica peculiar dos nanotubos de simples camada que todos os

    seus tomos esto na superfcie, tornando as interaes superficiais

    extremamente importantes no seu processo de utilizao (CHEN et al.,

    2001).

    Dois tipos de nanotubos podem ser sintetizados: os nanotubos de parede

    simples, como j mencionado, e os de paredes mltiplas, como os

    obtidos por Iijima (1991), que so formados pela sobreposio de

    nanotubos de paredes simples concntricos. Estes ltimos tm sntese

    mais simples, e possuem um valor comercial inferior aos nanotubos de

    parede simples, o que os torna atrativos para utilizao na produo de

    materiais compsitos.

    Podem ser encontrados trs tipos distintos de organizao dos tomos

    em relao ao eixo do nanotubo de carbono, caracterstica esta

    conhecida como quiralidade:

    1. Nanotubos do tipo zig-zag (figura 9 A)

    2. Nanotubos do tipo poltrona (figura 9 B)

    3. Nanotubos do tipo espiral ou chiral (figura 9 C)

    Figura 9 Estruturas de nanotubos de simples camadas perfeitos (FILHO e FAGAN,

    2007).

  • 17

    O tipo de nanotubo a ser formado depende do ngulo chiral, que o

    ngulo formado entre a direo zig-zag da rede graftica e o vetor chiral,

    que representa a resultante entre os vetores unitrios da rede hexagonal

    (1 e 2) multiplicados pelos seus respectivos coeficientes (n e m),

    calculado pela equao 1. A representao grfica do vetor chiral pode

    ser vista na figura 10.

    21 amanC (1)

    Figura 10 Esquema da formao de um nanotubo de carbono a partir de uma folha de

    grafite (HERBST, MACEDO e ROCCO, 2004).

    O vetor chiral aponta dois stios cristalogrficos equivalentes, ele

    representa tambm o comprimento da circunferncia do tubo. Pode-se

    calcular o dimetro do nanotubo (td ) atravs da relao entre o vetor

    chiral ( hC ) e os coeficientes m e n pela equao 2.

    nmmnahCdt

    22

    (2)

    onde 342,1 a que o parmetro de rede da grafite em angstroms.

    O ngulo chiral pode variar de 0 a 30 tendo como extremo inferior

    nanotubos do tipo zig-zag, e em 30 nanotubos tipo poltrona. Para os

    demais ngulos formam-se nanotubos do tipo espiral (FAGAN, 2003;

    HERBST, MACEDO e ROCCO, 2004.).

  • 18

    Nos nanotubos de carbono de paredes mltiplas, formados por vrios

    tubos concntricos, cada tubo pode assumir qualquer uma das formas

    apresentadas. Observa-se tambm que no possvel controlar a

    formao dos nanotubos a ponto de produzir nanotubos completamente

    perfeitos ou com apenas uma quiralidade. Os processos de purificao e

    seleo de nanotubos com quiralidade especfica tm que ser realizados

    aps a sntese do material.

    A folha de grafeno naturalmente semicondutora; j as caractersticas

    dos nanotubos de carbono vo depender do dimetro e de sua

    quiralidade, podendo ser semicondutor ou condutores.

    Os nanotubos do tipo espiral e zig-zag podem comportar-se como

    condutores ou semicondutores dependendo do dimetro dos tubos.

    Quando muito pequenos podem gerar interaes entre os orbitais dos

    tomos da parede alterando suas caractersticas eletrnicas. J os

    nanotubos do tipo poltrona comportam-se sempre como condutores

    (FAGAN, 2003; HERBST, MACEDO e ROCCO, 2004.).

    As propriedades mecnicas dos nanotubos so singulares, com alto

    mdulo de elasticidade e resistncias que superam as dos aos de alta

    resistncia em trs e dez vezes, respectivamente. Dependendo do tipo de

    nanotubo e da presena de defeitos, podem resistir at 63 GPa na trao

    e alcanar 1500 GPa para mdulo (GAO et al.,1998. WALTERS et al.,

    1999; YU et al., 2000; THOSTENSON et al., 2001).

    As caractersticas mecnicas dos nanotubos de paredes mltiplas alm

    de dependerem do dimetro, comprimento e quiralidade ainda so

    influenciadas pelas interaes entre os nanotubos de camada simples

    que o compe.

    Os nanotubos que formam um MWNT5 perfeito so ligados entre si

    atravs de interaes fracas, foras de van der Waals, devido a sua rea

    de contato. Isto gera um fcil deslizamento axial entre os nanotubos

    quando submetidos a esforos de trao ou toro. Quando utilizados

    como reforo em materiais compsitos os nanotubos comportam-se

    como SWNT6, pois apenas o tubo externo responde a solicitaes de

    trao sendo que o conjunto de tubos internos contribui para a rigidez e

    5 MWNT Nanotubo com parede de mltiplas camadas

    6 SWNT Nanotubos com parede de simples camada

  • 19

    auxilia na resistncia a esforos radiais e flexo como pode ser visto

    na figura 11 (LORDI e YAO, 1998; PONCHARAL et al., 1999).

    Quando o nanotubo mais externo apresenta alguns defeitos em sua

    superfcie, a interao entre os nanotubos pode ser modificada. Estas

    interaes diminuem o escorregamento entre os planos resultando numa

    melhora da resistncia mecnica quando submetidos trao. Mesmo

    com baixa concentrao de defeitos, contanto que os nanotubos sejam

    mais longos, cerca de um defeito ativo para cada 300nm j suficiente

    para alteraes significativas em suas caractersticas (HUHTALA et al.,

    2004).

    Figura 11 Detalhe da curvatura de um MWNT (PONCHARAL et al., 2008).

    Isto ocorre devido ao aparecimento de stios reativos que ligam os

    nanotubos externos e os internos promovendo uma transferncia de

    esforos entre eles, o que no ocorre em tubos sem defeitos. Porm se a

    quantidade de defeitos no nanotubo perifrico for muito alta ele pode

    perder sua funo estrutural e o nanotubo posterior acaba absorvendo os

    esforos, comportando-se novamente como SWNT (HUHTALA et al.,

    2004).

    2.2.2. Mtodos de Sntese

    Segundo Vaisman, Wagner e Maron (2006), um dos empecilhos para a

    utilizao dos nanotubos em materiais compsitos seu custo, que pode

  • 20

    variar de poucos centavos a at algumas centenas de dlares por grama7,

    dependendo do tipo, do mtodo de sntese e dos nveis de purificao.

    Os mecanismos de sntese e crescimento dos nanotubos de carbono

    resultam em materiais com diferentes nveis de pureza. Seu

    entendimento resulta na melhoria dos processos de sntese e na obteno

    de materiais mais puros, que por sua vez reduz a necessidade de ps-

    tratamentos diminuindo seu custo final.

    Os nanotubos de carbono formam-se na tentativa de minimizar o

    excesso de energia dos tomos da periferia da folha de grafeno. Quando

    tomado um plano de grafeno com poucos tomos, cerca de 30 a 100

    tomos, a concentrao de energia relativa da borda para os tomos

    internos significativamente grande. Este excesso de energia fora o

    material a encontrar alguma alternativa para minimiz-la, a formao de

    tubos fechados uma delas. (SLORSANO, 2008)

    Foram observados dois mecanismos que resultam na formao e

    crescimento de nanotubos de carbono. Um, quando o carbono est na

    forma gasosa e o catalisador slido, aqui chamado de ADP (adsoro difuso - precipitao), mostrado na figura 12. O outro, onde tanto o

    catalisador como o carbono encontram-se na forma gasosa chamado de

    PWT (Particle wire - tube) observado por Du et al. (2006) ilustrado na figura 13.

    7 Alguns valores podem ser consultados no site www.nanoamor.com, visitado em

    19/03/2009.

  • 21

    Figura 12 Processo de crescimento dos nanotubos de carbono (HERBST, MACEDO e

    ROCCO, 2004)

    Figura 13 Mecanismo para formao de nanotubos de carbono (PWT) (DU et al. 2006).

    No mecanismo ADP os tomos de carbono no estado gasoso primeiro

    adsorvem na superfcie de gotculas nanomtricas de metais

    catalisadores localizados no substrato de suporte para em seguida, pelo

    processo de difuso seletiva, migrar para a parte inferior da gotcula

    formando o nanotubo. Este processo resulta em nanotubos de carbono

    que tm seu dimetro e o nmero de camadas dependentes das

    caractersticas das gotculas de catalisador.

    No segundo mecanismo, PWT, tanto o catalisador quanto o carbono

    esto na forma gasosa, os tomos encontram-se e formam fios slidos

    para s ento reorganizar sua estrutura e formar nanotubos. Este

    processo foi evidenciado atravs de imagens de microscopia eletrnica

    de transmisso onde possvel observar os estgios deste mecanismo

    (FIGURA 14) (DU et al.,2006).

  • 22

    Figura 14 Fases do mecanismo de PWT (DU, G. et al., 2006).

    Existem vrios mtodos para produo de nanotubos de carbono, dentre

    os quais destacam-se trs, a descarga de arco a ablao por laser e a

    CVD (chemical vapor deposition). Cada mtodo possui caractersticas

    distintas e resulta na formao de nanotubos com estrutura e pureza

    diferentes.

    A descarga de arco um processo com princpios relativamente simples,

    onde dois eletrodos de grafite so aproximados e um arco eltrico

    formado entre eles. A temperatura do plasma gerado pelo arco eltrico

    atinge cerca de 3000C e vaporiza o carbono dos eletrodos. Aps este

    processo os tomos de carbono comeam a se acumular no catodo, e na

    presena de metais catalisadores inicia-se o crescimento dos nanotubos

    de carbono (ROCHA, 2005). Este mtodo produz nanotubos de alta

    qualidade, porm a quantidade de material amorfo e partculas

    indesejadas so elevadas, tornando os processos de purificao

    onerosos.

    A ablao por laser consiste em vaporizar um eletrodo de grafite

    utilizando-se laser de alta potncia. O gs rico em carbono contido por

    um invlucro de quartzo aquecido e os nanotubos se depositam nas

    regies mais frias do equipamento, as paredes do reator e no coletor.

    Apesar do custo de produo maior que a descarga por arco, a ablao

  • 23

    por laser produz menos subprodutos diminuindo a necessidade de

    purificao posterior (MARCHIORI, 2007).

    A CVD utiliza gs rico em carbono, para produo de nanotubos de

    carbono. Este gs decomposto a temperaturas em torno de 500C. Este

    mtodo permite o crescimento de nanotubos alinhados ao substrato

    possibilitando um maior controle sobre os parmetros de crescimento

    (FIGURA 15). uma tcnica bastante utilizada devido alta produo e

    menor necessidade de purificaes posteriores (MARCHIORI, 2007).

    Porm os nanotubos sintetizados por CVD apresentam maior quantidade

    de defeitos o que pode restringir algumas aplicaes potenciais.

    Figura 15 Exemplos de NTC sintetizados por CVD.

    Muitas vezes aps a sntese faz-se necessria a purificao dos materiais

    resultantes para reduzir a quantidade de partculas indesejadas na

    amostra. Para a eliminao de carbono amorfo e catalisadores,

    normalmente se utiliza oxidao trmica. Para a remoo de fullerenos

    podem ser utilizadas a micro-filtragem e a extrao com CS28. Alguns

    catalisadores so removidos utilizando-se tratamentos com cidos ou

    para catalisadores magneticamente ativos utiliza-se a separao

    magntica (SLORSANO, 2006).

    8 Dissulfato de carbono.

  • 24

    Os principais desafios para utilizao de tcnicas de purificao esto na

    reduo do nmero de etapas, na conservao da estrutura dos NTC, na

    separao dos nanotubos por quiralidade e por tamanho. Contudo,

    muitos trabalhos vm sendo desenvolvidos com estes objetivos.

    2.2.3. Mtodos de Funcionalizao / Disperso

    Para que a produo de compsitos contendo NTC seja eficiente,

    indispensvel a sua homogenia disperso e compatibilidade com a

    matriz. Vrios trabalhos vm sendo realizados com este objetivo, sendo

    propostos diversos mecanismos para se chegar a uma distribuio

    homogenia dos nanotubos nos mais diversos meios. Podem-se dividir as

    metodologias para funcionalizao dos nanotubos de carbono em dois

    grandes grupos, classificados segundo os tipos de interao entre as

    molculas e os nanotubos (TASIS et al., 2006; FILHO, FAGAN, 2007;

    PARK et. al., 2008):

    1. Interaes no covalentes, que baseiam-se nas interaes fsicas atravs de foras de van der Walls e ligaes do

    tipo empilhamento -.

    2. Interaes covalentes, que utilizam processos de alterao qumica da superfcie dos nanotubos para ligar

    molculas diretamente em sua estrutura.

    Os nanotubos de carbono possuem estruturas semelhantes a do grafeno,

    conforme j mencionado, porm devido a sua curvatura, o

    comportamento qumico dos tomos de carbono modificado. Dois

    efeitos esto presentes no aumento da reatividade dos nanotubos em

    relao ao grafeno, o efeito de energia de piramidao, resultado da

    toro das ligaes e o alinhamento dos orbitais p.

    A curvatura dos nanotubos impe distores nas ligaes dos orbitais sp dos tomos que formam a estrutura do tubo, ocasionando um aumento da sua energia, que conhecida como energia de

    pirmidao. Ela inversamente proporcional ao dimetro do nanotubo,

    logo em tubos de menor dimetro espera-se uma maior reatividade. Nas

    extremidades a energia de piramidao significativamente maior, pois

    o ngulo de toro nunca inferior a 9,7, independente do dimetro do

    tubo.

    Os orbitais p posicionam-se perpendicularmente a superfcie do tubo, e podem ser encontrados alinhados ou desalinhados, dependendo da

    quiralidade dos nanotubos (FIGURA 16); quando alinhados tornam-se

  • 25

    mais reativos facilitando as interaes com o corpo do tubo (NIYOGI et

    al., 2002).

    Figura 16 Esquema dos orbitais nos fullerenos e nos nanotubos de carbono (NIYOGI et

    al.,2002)

    A diferena de estabilidade qumica no nanotubo ocasiona o

    aparecimento de duas zonas reativas: as extremidades, que possuem

    reatividade mais elevada, e o corpo do nanotubo que mais estvel. No

    processo de funcionalizao pode ocorrer a concentrao de molculas e

    radicais nas extremidades dos tubos, causado pela maior reatividade

    destes pontos. Deve-se ento adequar os mtodos de tratamento e os

    tipos de compostos aos quais os nanotubos so expostos, visando

    melhorar a distribuio destas molculas tornando a funcionalizao

    mais eficiente.

    2.2.3.1. Interaes no covalentes

    Os processos de funcionalizao por interaes no covalentes utilizam-

    se de interaes fsicas como as foras de van der Walls ou por ligaes

    fracas do tipo empilhamento - para adequar o comportamento dos nanotubos sua utilizao.

  • 26

    Diversos autores defendem o uso destes mtodos quando se deseja

    manter as caractersticas originais dos nanotubos, sem causar danos a

    sua estrutura (CHEN et al., 2001; LIU et al., 2007).

    Como as interaes ocorrem na superfcie do NTC, sem a necessidade

    de formao de ligao do tipo , a sua estrutura graftica mantida intacta, porm como o nanotubo fica envolto por molculas de

    dispersante, seu comportamento em relao ao solvente e aos nanotubos

    vizinhos muda, melhorando sua disperso. Isto importante,

    principalmente, quando se trabalha com SWNT, pois a induo de

    defeitos na estrutura ocasiona grandes modificaes nas caractersticas

    finais dos nanotubos (CHEN et al., 2001).

    A forte interao entre o agente solubilizador e o nanotubo essencial

    para a eficincia da disperso (LUI et al., 2007). Exemplos de

    funcionalizaes atravs de ligaes no covalentes so a utilizao de

    polmeros do tipo SDS9, PAA

    10, polivinil, poliestireno (NING et. al.,

    2004; GLEIZE, 2005), alm de biomolculas e outros (LIU, et al.,

    2007).

    Para os surfactantes o contato se d entre as superfcies altamente

    hidrofbicas dos nanotubos e as caudas tambm hidrofbicas dos

    surfactantes. Aps a adsoro das molculas, formam-se micelas em

    torno dos tubos que foram o afastamento entre os tubos e interagem

    com o solvente estabilizando a soluo. A densidade e homogeneidade

    destas micelas na superfcie dos NTC dependem da concentrao do

    agente surfactante na soluo (VAISMAN, WAGNER e MARON,

    2006; LIU et al., 2007; FILHO e FAGAN, 2007).

    A concentrao critica para formao das micelas uma caracterstica

    importante, e que torna o uso de surfactantes desvantajoso em certas

    situaes, pois exige grandes quantidades de molculas para que se

    tenha uma formao eficiente destas estruturas (LIU et al., 2007). O uso

    de tensoativos e de molculas ligadas por interao no covalentes

    normalmente reversvel e torna a disperso disponvel por tempos

    muito restritos (LIU et al., 2007).

    9 SDS - Dodecil Sulfonato de Sdio

    10 PAA cido Poliacrlico

  • 27

    No trabalho de Bandyopadhyaya et. al. (2002), foi utilizada goma

    arbica11

    como polmero adsorvente e observaram-se melhorias na

    disperso e estabilidade da suspenso de nanotubos em gua. Entretanto,

    segundo Cwirzen, Habermehl-Cwirzen e Penttala (2008), a adio de

    goma arbica diminuiu o tempo de estabilidade da suspenso, para cerca

    de 2 horas, quando os nanotubos foram pr-tratados com cido

    poliacrlico. Isso demonstra tambm a importncia da compatibilidade

    dos tratamentos aplicados aos nanotubos para a conservao da

    estabilidade das misturas, e evidencia o maior desafio destas tcnicas de

    disperso, que a manuteno da estabilidade da disperso por longos

    perodos de tempo.

    Para superar este desafio surgiram trabalhos com o objetivo de

    desenvolver processos de disperso utilizando interaes no covalentes,

    mas com efeitos irreversveis.

    Um caminho apontado pela bibliografia a utilizao de molculas que

    apresentam anis aromticos em sua constituio. Estes anis interagem

    com a parede do NTC formando ligaes do tipo empilhamento - (FIGURA 17) que uma ligao relativamente forte, se comparada a

    foras de van der Walls, e no provoca danos na estrutura graftica dos

    NTC, tornando a funcionalizao permanente (CHEN et al., 2001; LIU,

    GAO e SUN, 2007; LIU et al., 2007; XUE et al., 2008).

    Apesar da ligao do tipo ser covalente, ela no causa alterao na estrutura graftica dos nanotubos, assim alguns autores a classifica como

    interao no covalente.

    Figura 17 Exemplo de ligao entre anis aromticos e NTC (CHEN et al., 2001).

    Este tipo de funcionalizao permite a utilizao de uma vasta gama de

    reagentes aromticos. Liu, Gao e Sun, (2007) utilizaram lignosulfonato

    para potencializar a disperso de MWNT. Atravs de medidas de

    11 Goma arbica uma resina natural extrada da Acssia spp, composta de

    polissacardeos, sendo utilizada como espessante e estabilizante (CUNHA; de PAULA e FEITOSA, 2009).

  • 28

    potencial zeta12

    dos NTC antes e aps o tratamento, demonstraram que o

    lignosulfonato envolve os NTC tornando sua superfcie carregada

    negativamente melhorando a disperso por repulso eletrosttica.

    Mesmo com a vasta quantidade de alternativas apresentadas na

    bibliografia, no existe um consenso quanto a uma metodologia geral

    para disperso de NTC atravs de interaes no covalentes sendo

    necessria a adaptao das tcnicas para cada situao especfica.

    Muitas delas envolvem grande nmero de etapas, o que dificulta sua

    utilizao. Porm estas rotas vm sendo bastante estudadas, pois

    conservam a estrutura graftica e o comportamento original dos NTC.

    2.2.3.2. Interaes covalentes

    Estes tipos de funcionalizao compreendem um grande nmero de

    processos, como pode ser visto na figura 18, que resultam em interaes

    covalentes fortes entre o nanotubo e o grupo funcional. Uma das

    vantagens destes mtodos a irreversibilidade do processo e a

    estabilidade da suspenso por longos perodos de tempo.

    Como a interao entre os NTC e os radicais qumicos feita atravs de

    ligaes , apenas regies dos NTC onde existem discordncias ou defeitos estruturais sero reativas. A induo destes defeitos muitas

    vezes causa a deteriorao da estrutura externa dos MWNT e dos

    SWNT, resultando na perda das suas propriedades fsico-qumicas (LIU

    et al., 2007).

    A reatividade dos tubos inversamente proporcional ao seu dimetro,

    logo, quanto maior o dimetro do tubo mais agressivo deve ser o

    tratamento para se obter um nmero de stios reativos adequado. Muitas

    vezes, durante o processo de funcionalizao, nanotubos de menor

    dimetro podem ser muito danificados ou mesmo destrudos. Assim,

    deve-se ter cuidado na seleo do processo e nos tempos de tratamento

    sob pena de prejudicar as caractersticas de interesse dos nanotubos ou

    at reduzir sua presena na amostra.

    12 A medida do potencial zeta indica a carga da superfcie da partcula e utilizada

    como referncia para determinar a estabilidade da disperso: quanto mais distante de zero, mais estvel a mistura

  • 29

    Figura 18 Principais rotas de funcionalizao covalentes de NTC. (BANERJEE et al.,

    2005).

    Segundo Sun et al (2002), pode-se, a grosso modo, subdividir os

    processos de funcionalizao covalente em dois grupos:

  • 30

    (i)- Fixao direta do grupo funcional na estrutura graftica do nanotubo.

    (ii)- Utilizao de nanotubos vinculados a cidos carboxlicos.

    No primeiro caso citam-se alguns processos como a fluorao,

    hidrogenao, reaes com nitretos, carbetos e outros radicais

    (MICKELSON et al. 1998; PEKKER et al., 2001; HOLZINGER et al.,

    2001 apud SUN et al., 2002).

    A fluorao ocorre quando so adicionados tomos de flor na

    superfcie dos nanotubos. Mickelson et al. (1998) que utilizaram

    fluoreno como fonte de flor, destacam como vantagem da tcnica a

    possibilidade de desfuncionalizao e utilizao dos stios deixados pelo

    flor para a fixao de outros radicais (FIGURA 19). Porm, os autores

    observaram a destruio dos nanotubos quando submetidos fluorao

    com temperaturas acima de 500C, e a no presena de flor quando o

    tratamento foi realizado 150C.

    Para a hidrogenao dos nanotubos um mtodo comumente utilizado a

    chamada reduo Birch (PEKKER et al., 2001; SUN et al., 2002; TASIS et al., 2006), que utiliza ltio e metanol dissolvidos em amnia

    lquida. Segundo Pekker et al. (2001), a adio de hidrognio reativo

    causa um incremento na resistncia e na anisotropia dos nanotubos,

    devido a modificaes nas interaes entre os tomos de carbono.

    Foram utilizadas tcnicas de microscopia eletrnica de transmisso que

    comprovaram a modificao na ordenao das camadas dos nanotubos

    causadas pelo hidrognio.

  • 31

    Figura 19 Esquema da funcionalizao e desfuncionalizao de um SWNT, com posterior

    substituio do sitio ativo por um radical de interesse (TASIS et al., 2006).

    O segundo grupo definido por Sun et al. (2002) o uso de radicais de

    cidos carboxlicos como stios de ancoragem para outras molculas

    (FIGURA 20 A e B).

    Figura 20 Efeito do processo de oxidao de NTC A) Tratamento de SWNT com HNO3

    (TOUR, 2007) B) Tratamento de SWNT com SOCl2 e posterior alterao dos radicais

    com R-NH2 (VAISMAN, WAGNER e MARON, 2006).

    O uso de cidos concentrados, seja individualmente ou em conjunto,

    comum para funcionalizar nanotubos de carbono e resulta na adio de

    carboxilas em sua superfcie. Em um estudo para identificar os efeitos

    do tratamento qumico na obteno de disperso de nanotubos

    individuais, Esumi et al. (1996) testou o uso de cido ntrico

    concentrado (HNO3) individualmente e em conjunto com cido

  • 32

    sulfrico (H2SO4). A alterao do potencial zeta das amostras foi

    utilizada para indicar a eficincia do tratamento (FIGURA 21).

    Figura 21 Mudana do potencial zeta x pH dos nanotubos de carbono tratados com

    misturas de cido ntrico e sulfrico concentrados para os seguintes tempos: 0h sem

    tratamento, 10 min de tratamento, 20 minutos de tratamento e 30 minutos de tratamento

    (ESUMI et al., 1996).

    A utilizao da mistura de cidos ntrico e sulfrico bastante difundida

    sendo empregada por outros pesquisadores. A relao HNO3: H2SO4 em

    volume comumente utilizada de 1:3, e os tempos de exposio variam

    entre 3 e 5 h (TCHOUL et al. 2007). Este tipo de tratamento pode ser

    utilizado para o encurtamento e purificao dos nanotubos (LIU et al.

    1998). Segundo Tchoul et al. (2007) a taxa de encurtamento foi

    estimada em 130 nm/h para esta mistura de cidos. Logo, deve-se tomar

    precaues para evitar a destruio dos nanotubos pelo tratamento e,

    como os nanotubos de menor dimetro tendem a ser mais reativos, seu

    tempo de exposio mistura de cidos deve ser reduzido. Outros

    trabalhos onde foi utilizado este tipo de mistura so relacionados na

    tabela 4.

    -60

    -50

    -40

    -30

    -20

    -10

    0

    10

    20

    30

    40

    0 2 4 6 8 10 12 14

    pH

    /mV

    0 h

    10 min

    20 min

    30 min

  • 33

    Tabela 4 Caractersticas dos procedimentos de funcionalizao com mistura entre cido

    ntrico e sulfrico.

    Tipo de

    NTC

    ext.

    (nm)

    Compr.

    (m)

    Tempo

    (min)

    Temp.

    (C)

    Prop.

    da

    mist.

    Autores

    - - - 10 a 30 140 C 1:3 Esumi et

    al., (1996)

    MWNT 10 0,10 30 - 1:3

    Shaffer,

    Fan,

    Windle,

    (1998)

    MWNT - - 180 Amb. 1:3 Eitan et al.,

    (2003)

    MWNT 10-30 0,5-500 180 Amb. 1:3 Li et al., (2005)

    MWNT 40-60 - 1440 Amb. 1:3 Lin et al.,

    (2006)

    SWNT - 0,75 - 20 C 1:3 Marshall et

    al., (2006)

    MWNT 10-50 5-20 120 123C 1:3 Li et al.,

    (2007)

    Outro mtodo proposto para introduo destes radicais na superfcie dos

    nanotubos de carbono o tratamento com perxido de hidrognio

    (H2O2) que, segundo Li et al. (2007), pode ser uma alternativa

    oxidao por cidos concentrados. O H2O2 seria menos agressivo e

    preservaria melhor a estrutura dos nanotubos de carbono, como mostra a

    figura 22 (LI et al, 2007).

  • 34

    Figura 22 Imagens de MET de nanotubos sem tratamento (a e b) tratados com H2O2

    (c e d) e tratados com cido (e e f) (LI, C-C, et al. 2007).

    Li et al. (2007) comprovaram a presena de radicais carboxilas nas

    amostras tratadas com perxido de hidrognio por espectrometria FT-

    IR.

    Segundo Bahr e Tour (2002), pode-se utilizar tambm uma mistura de

    cido sulfrico e perxido de hidrognio, conhecido como piranha. Este mtodo, inspirado no conhecimento da qumica da grafite

    bastante eficiente na remoo de material amorfo e na introduo de

    radicais funcionais oxigenados como carboxilas, anidridos, quinonas e

    steres. Ainda segundo Bahr e Tour (2002) estes radicais funcionais

    tambm podem ser adicionados atravs de tratamento com oznio.

    Aps a fixao dos radicais funcionais na superfcie dos nanotubos de

    carbono, estas podem ser utilizadas como pontos de ancoragem para

    diversos tipos de compostos. Conhecido como enxerto, podem tornar os

    NTC compatveis com as matrizes dos compsitos.

    2.2.3.3. Ensaios de caracterizao dos nanotubos de carbono

    Uma das tcnicas utilizadas para a caracterizao dos nanotubos de

    carbono a medida de potencial zeta.

    Pode-se, atravs desta tcnica, comparar os NTC resultantes dos

    tratamentos qumicos, definindo os tempos de exposio adequados para

    se obter disperses estveis. Para compreender o significado da medida

  • 35

    do potencial zeta de uma partcula, deve-se primeiramente entender

    como as cargas eltricas se organizam na superfcie das partculas

    eletricamente carregada em soluo.

    Segundo Duncan (1975) e Rangel (2006), quando em soluo aquosa,

    normalmente, uma partcula adquire carga eltrica superficial. Estas

    cargas podem originam-se de trs formas distintas:

    1. Ionizao: quando a partcula possuir estruturas ionizveis sob a superfcie, libera ctions ou anions

    resultando em partculas carregadas eletricamente. Esta

    caracterstica fortemente ligada ao pH da soluo: as

    partculas geralmente assumem carga positiva em pH

    baixos (mais cidos), e carga negativa em pH elevados

    (mais alcalinos).

    2. Adsoro inica; se na soluo houver ons disponveis, estes podem migrar e adsorver na superfcie das

    partculas podendo, em certos casos, inverter a carga

    superficial das partculas. Na presena de tenso-ativos

    inicos, sua adsoro regula a carga superficial das

    partculas.

    3. Dissoluo inica: substncias inicas podem apresentar dissoluo preferencial, fenmeno que resulta na

    formao de partculas com carga eltrica preferencial na

    superfcie.

    De modo geral, partculas em soluo aquosa tm carga superficial

    negativa, pois ctions so mais hidrfilos e apresentam maior tendncia

    de permanecer em soluo, enquanto os anions tendem a permanecer

    adsorvidos na superfcie das partculas (DUNCAN, 1975).

    Para descrever o comportamento das cargas eltricas superficiais em

    partculas coloidais em suspenso foi proposto o modelo de dupla

    camada eltrica.

    Segundo Rangel (2006), o modelo de Gouy e Chapman descreve de

    maneira adequada a dupla camada eltrica.