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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIDISCIPLINAR DE ESTUDOS SOBRE DROGAS BOLETIM Nº 14, FEVEREIRO DE 2012 BOLETIM DA ABRAMD EDITORIAL - A Cracolândia acabou? Depois de um mês de intervenção (militar) no lugar conhecido como ―cracolândia‖ na cidade de São Paulo, fica cada vez mais fácil reconhecer o que muitos especialistas da área de drogas já haviam previsto: este tipo de ação não passa de um trabalho paliativo. Vejamos. Se o objetivo era impedir que várias pessoas ficassem usando crack indiscriminadamente na rua em ple- na luz do dia naquela região, sim, isto está sendo alcança- do. Se o objetivo era prender pequenos traficantes e procu- rados da justiça, sim, também poderíamos dizer que a ope- ração está obtendo algum êxito (a polícia declara que fo- ram 183 pessoas detidas, sendo que 43 eram procuradas pela Justiça). Soma-se ainda a estes resultados a internação de 80 pessoas para ―tratamento‖ (fonte: site da polícia militar de SP/operação centro legal). Para a população leiga estes números chegam como prova do sucesso desta operação: a cracolândia acabou. Porém, se olharmos com um pouco mais de atenção, é pos- sível perceber o contrário: a cracolândia não acabou, ape- nas foi pulverizada. Num rápido passeio pelo centro de SP encontramos os antigos habitantes da cracolândia agora espalhados por diversas ruas e alamedas. Obviamente o tráfico de drogas não acabou, nem diminuiu, apenas está sendo feito com mais cautela, nas partes mais escuras da cidade, um pouco mais longe da nossa ofuscada visão. Qualquer pessoa que tenha vivido o problema da depen- dência de drogas (pessoalmente ou na família) sabe que a internação não é a única e nem a melhor forma de resolver o problema. Claro que em alguns casos a internação é indi- cada, mas sempre como algo temporário e breve, parte de uma intervenção muito maior. Não se espantem se daqui a alguns meses encontrarmos grande parte das 80 pessoas que foram internadas (voluntária, involuntária ou compulsoria- mente) na rua, usando crack novamente, já que estudos mostram que o índice de sucesso do tratamento via interna- ção é abaixo dos 5%. Toda esta operação não passa de uma cortina de fuma- ça. Por sinal, ―Cortina de Fumaça‖ é o nome de um docu- mentário que trata a questão do uso de drogas de forma bastante interessante, mostra com muita propriedade a real dimensão deste problema, revelando que caminhos fáceis e milagrosos não existem. Para entendermos a complexa dimensão da problemáti- ca da dependência de drogas precisamos, antes de tudo, compreender uma questão vital, que ecoa sempre em cada um de nós: o que me possibilita viver e continuar vivendo a minha vida? Ou ainda mais especificamente: o que faz a minha vida ser digna de ser vivida? A maior dificuldade desta pergunta é que a resposta deve ser construída singularmente. Cada um de nós, ao longo da nossa história, vem elaborando um sentido singular para a vida, um sentido que faz com que todas as manhãs cada um acorde e levante da cama, que continue a viver e não desista apesar de todas as adversidades. Isto quer dizer que o ser hu- mano é vulnerável e, mais importante, que temos consciência disto. Enquanto acharmos que podemos dar ou construir para o outro o sentido de sua vida continuaremos a fracassar no trata- mento da dependência de drogas. Basicamente é isto que é feito quando uma pessoa é internada: ela é retirada da sua vida por um período. Neste tempo leva uma vida que não é a sua, depois sai da internação e volta para a mesma vida, para o mesmo sentido. Não é de se estranhar que a maioria volte para a dependência de drogas. O que é possível fazer verdadeiramente é ajudar o outro a construir o seu projeto de vida, um projeto que tenha um sen- tido próprio. Infelizmente, na prática, isto é algo extremamen- te difícil de desenvolver. Em primeiro lugar é a pessoa, ela mesma, que tem que querer rever a sua vida. Se não for ela a pessoa mais interessada em refazer o sentido de sua vida pou- co podemos fazer. Isto não quer dizer que precisamos ficar esperando passivamente esta vontade brotar no outro. Com estas pessoas o trabalho inicial é de sensibilização para a sua atual situação, na direção de ajudá-las a refletir sobre o modo como estão vivendo, se é deste modo que desejam viver real- mente. Fica evidente que este modo de lidar com a dependência de drogas requer tempo e paciência, não adianta buscar fór- mulas mágicas. Neste primeiro momento o mais indicado são as ações de Redução de Danos. Este tipo de intervenção traba- lha cara a cara com os usuários de drogas, no seu dia-a-dia, estabelecendo em primeiro lugar uma relação balizada na con- fiança e respeito. Aqui vale lembrar o óbvio: geralmente ouvi- mos e consideramos mais pessoas em quem temos confiança e respeito. É muito grave constatar que na operação ―centro legal‖, desenvolvida na cracolândia, a primeira instituição governa- mental a chegar foi a polícia. Forçoso é admitir que esta inter- venção não passa de uma ação higienista, preconizando a ex- clusão como forma de cuidado. Ao ―resolver‖ o problema des- ta maneira o governo está regredindo no tempo, já que ignora todo o conhecimento produzido e defendido pela Reforma Psi- quiátrica iniciada nos anos 1980. Paralelos à intervenção de Redução de Danos é funda- mental termos outros aparelhos de saúde prontos para receber os usuários que quiserem buscar alternativas para a sua vida. No Brasil contamos com o SUS, que integra vários serviços: Hospitais Gerais, Unidades Básicas de Saúde, CAPS (I, II, III,

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A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A M U L T I D I S C I P L I N A R D E E S T U D O S S O B R E D R O G A S

B O L E T I M N º 1 4 , F E V E R E I R O D E 2 0 1 2

B O L E T I M D A

A B R A M D

EDITORIAL - A Cracolândia acabou?

Depois de um mês de intervenção (militar) no lugar

conhecido como ―cracolândia‖ na cidade de São Paulo, fica

cada vez mais fácil reconhecer o que muitos especialistas

da área de drogas já haviam previsto: este tipo de ação não

passa de um trabalho paliativo.

Vejamos. Se o objetivo era impedir que várias pessoas

ficassem usando crack indiscriminadamente na rua em ple-

na luz do dia naquela região, sim, isto está sendo alcança-

do. Se o objetivo era prender pequenos traficantes e procu-

rados da justiça, sim, também poderíamos dizer que a ope-

ração está obtendo algum êxito (a polícia declara que fo-

ram 183 pessoas detidas, sendo que 43 eram procuradas

pela Justiça). Soma-se ainda a estes resultados a internação

de 80 pessoas para ―tratamento‖ (fonte: site da polícia

militar de SP/operação centro legal).

Para a população leiga estes números chegam como

prova do sucesso desta operação: a cracolândia acabou.

Porém, se olharmos com um pouco mais de atenção, é pos-

sível perceber o contrário: a cracolândia não acabou, ape-

nas foi pulverizada. Num rápido passeio pelo centro de SP

encontramos os antigos habitantes da cracolândia agora

espalhados por diversas ruas e alamedas. Obviamente o

tráfico de drogas não acabou, nem diminuiu, apenas está

sendo feito com mais cautela, nas partes mais escuras da

cidade, um pouco mais longe da nossa ofuscada visão.

Qualquer pessoa que tenha vivido o problema da depen-

dência de drogas (pessoalmente ou na família) sabe que a

internação não é a única e nem a melhor forma de resolver

o problema. Claro que em alguns casos a internação é indi-

cada, mas sempre como algo temporário e breve, parte de

uma intervenção muito maior. Não se espantem se daqui a

alguns meses encontrarmos grande parte das 80 pessoas que

foram internadas (voluntária, involuntária ou compulsoria-

mente) na rua, usando crack novamente, já que estudos

mostram que o índice de sucesso do tratamento via interna-

ção é abaixo dos 5%.

Toda esta operação não passa de uma cortina de fuma-

ça. Por sinal, ―Cortina de Fumaça‖ é o nome de um docu-

mentário que trata a questão do uso de drogas de forma

bastante interessante, mostra com muita propriedade a real

dimensão deste problema, revelando que caminhos fáceis e

milagrosos não existem.

Para entendermos a complexa dimensão da problemáti-

ca da dependência de drogas precisamos, antes de tudo,

compreender uma questão vital, que ecoa sempre em cada

um de nós: o que me possibilita viver e continuar vivendo a

minha vida? Ou ainda mais especificamente: o que faz a

minha vida ser digna de ser vivida?

A maior dificuldade desta pergunta é que a resposta

deve ser construída singularmente. Cada um de nós, ao longo

da nossa história, vem elaborando um sentido singular para a

vida, um sentido que faz com que todas as manhãs cada um

acorde e levante da cama, que continue a viver e não desista

apesar de todas as adversidades. Isto quer dizer que o ser hu-

mano é vulnerável e, mais importante, que temos consciência

disto.

Enquanto acharmos que podemos dar ou construir para o

outro o sentido de sua vida continuaremos a fracassar no trata-

mento da dependência de drogas. Basicamente é isto que é

feito quando uma pessoa é internada: ela é retirada da sua

vida por um período. Neste tempo leva uma vida que não é a

sua, depois sai da internação e volta para a mesma vida, para

o mesmo sentido. Não é de se estranhar que a maioria volte

para a dependência de drogas.

O que é possível fazer verdadeiramente é ajudar o outro a

construir o seu projeto de vida, um projeto que tenha um sen-

tido próprio. Infelizmente, na prática, isto é algo extremamen-

te difícil de desenvolver. Em primeiro lugar é a pessoa, ela

mesma, que tem que querer rever a sua vida. Se não for ela a

pessoa mais interessada em refazer o sentido de sua vida pou-

co podemos fazer. Isto não quer dizer que precisamos ficar

esperando passivamente esta vontade brotar no outro. Com

estas pessoas o trabalho inicial é de sensibilização para a sua

atual situação, na direção de ajudá-las a refletir sobre o modo

como estão vivendo, se é deste modo que desejam viver real-

mente.

Fica evidente que este modo de lidar com a dependência

de drogas requer tempo e paciência, não adianta buscar fór-

mulas mágicas. Neste primeiro momento o mais indicado são

as ações de Redução de Danos. Este tipo de intervenção traba-

lha cara a cara com os usuários de drogas, no seu dia-a-dia,

estabelecendo em primeiro lugar uma relação balizada na con-

fiança e respeito. Aqui vale lembrar o óbvio: geralmente ouvi-

mos e consideramos mais pessoas em quem temos confiança e

respeito.

É muito grave constatar que na operação ―centro legal‖,

desenvolvida na cracolândia, a primeira instituição governa-

mental a chegar foi a polícia. Forçoso é admitir que esta inter-

venção não passa de uma ação higienista, preconizando a ex-

clusão como forma de cuidado. Ao ―resolver‖ o problema des-

ta maneira o governo está regredindo no tempo, já que ignora

todo o conhecimento produzido e defendido pela Reforma Psi-

quiátrica iniciada nos anos 1980.

Paralelos à intervenção de Redução de Danos é funda-

mental termos outros aparelhos de saúde prontos para receber

os usuários que quiserem buscar alternativas para a sua vida.

No Brasil contamos com o SUS, que integra vários serviços:

Hospitais Gerais, Unidades Básicas de Saúde, CAPS (I, II, III,

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Página 2 B O L E T I M D A A B R A M D

DISCUSSÕES MULTIDISCIPLINARES SOBRE O USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS Núcleo Abramd São Paulo

Auditório Brasil Tufik – UNIFESP Rua Napoleão de Barros, 925 / Vila Clementino São Paulo, SP

Sábados, das 10:00 às 12:00 horas

INSCRIÇÕES ANTECIPADAS: Telefone: 5549-2500 com Alice ou Ítali / Email: [email protected]

Álcool e Drogas), consultórios de rua, casas de acolhi-

mento.

Nos quase vinte anos de existência, o SUS nunca

foi implementado na sua totalidade e o serviço funciona

de modo precário. Apesar disso, por absurdo que possa

parecer, o modelo do SUS é referência mundial em ter-

mos de saúde pública. Diante deste mau funcionamen-

to, torna-se fácil não acreditar no serviço público e bus-

car na rede privada a solução. Como exemplo, temos a

atual decisão governamental de ceder verbas públicas

para as comunidades terapêuticas. Não precisamos de

mais comunidades terapêuticas precisamos que o SUS

funcione plenamente.

Lidar com a questão do uso de drogas é um grande

desafio. Arrisco-me a dizer que nunca vamos acabar com o

consumo de drogas, o que podemos alcançar é aprender a

lidar com esta questão com maior dignidade, sempre respei-

tando os direitos humanos.

Enfim, não precisamos inventar a roda, precisamos

fazê-la rodar!!!

Marcelo Sodelli—Professor-doutor do Curso de Psicologia da

PUC-SP, presidente da ABRAMD (Associação Brasileira Multi-

disciplinar de Estudos sobre Drogas).

CICLO DE PALESTRAS GRATUÍTAS E ABERTAS (PARCERIA UDED-ABRAMD)

DATA TEMA CONVIDADOS E MEDIADORES

25 de fevereiro Universidade e Uso de Drogas Palestrantes: Dr. Dartiu Xavier da Silveira (UNIFESP) Dr. Vladimir Safatle (Fac. Filosofia – USP) Mediador: Dr. Marcelo Sodelli (ABRAMD)

14 de abril Crack: Um Desafio Social?

Palestrantes: Dra. Regina Medeiros (PUC – Minas Gerais) Dra. Telva Barros - Brasília-DF Mediadora: Dra. Solange Nappo (UNIFESP - Campus Diadema)

30 de Junho

Arte, “Loucura” e Dependência

de Drogas

Palestrantes Dra. Selma Ciornai e Dra. Iraci Salviani Instituto Gestalt - SP Márcia Pompermaier e Julia Catunda “DAS DOIDA” – Arte Educação – CAPS AD - Embu Mediadora: Dra. Celi Cavallari - ABRAMD

25 de agosto Tráfico de Drogas e Sistema Prisi-onal Masculino e Feminino

Palestrantes: Dr. Dráuzio Varela (a confirmar) Dra. Maria Lúcia Rodrigues (PUC SP) Mediadora: Dra. Maria Alice Pollo Araújo - IMESC-SP

27 de outubro Efeitos sociais do álcool e violên-

cia no trânsito

Palestrantes: Dra. Silvia Cazenave - Toxicologista IML Campinas Dr. Sergio Seibel (Psiquiatra) Mediadora: Dra. Ana Regina Noto (UNIFESP)

08 de dezembro Dependentes de Drogas e HIV: Redução de Danos, Estigmas e Preconceitos

Palestrantes: Dra. Cristiane O. Silva – NEPAIDS-USP-UNIFESP Dra. Daniela Piconez (Presidente – REDUC) Mediadora: Dra. Vera Da Ros

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cionadas ao uso ou tráfico de drogas

serem apenas consequências ou sinto-

mas de outra disfunção presente em

um sistema ainda maior, pelo qual,

todos fazem parte. O reconhecimento

integral consiste em perceber que a-

ções isoladas ou a tendência em procu-

rar culpados/responsáveis como em um

jogo de ―batata quente‖ não serão

suficientes para enfrentar o problema.

Nos setores técnicos das varas

de infância e juventude psicólogos e

assistentes sociais, com o apoio da

rede de proteção do município e auxí-

lio de outros profissionais têm a difícil

tarefa de sensibilizar estas famílias e

os jovens sobre a importância das a-

ções integradas, sugerindo medidas

protetivas que não se apliquem apenas

ao adolescente ou se restrinjam a in-

ternação compulsória. Outras formas

de atenção em saúde como atendimen-

to ambulatorial, inserção de jovens e

suas famílias em programas de desen-

volvimento social, prevenção e promo-

ção de atividades que ajudem a desen-

volver habilidades e estimulem uma

comunicação mais efetiva entre os

membros são exemplos de ações que

visam favorecer o crescimento dos in-

divíduos, oferecendo outras possibili-

dades de identificação, ao invés de

concentrar todas as críticas ou a res-

ponsabilidade apenas ao uso de drogas.

Fábio de Carvalho Mastroianni

Psicólogo jurídico e professor universi-

tário especialista em dependência de

drogas

dos com estas práticas são diariamente

encaminhados às varas de infância e

juventude através das escolas, conse-

lhos tutelares ou pelos próprios famili-

ares que se sentem impotentes ou con-

sideram ter esgotados todos os recur-

sos possíveis no sentido de modificar a

situação. Muitos pais, desorientados ou

negligentes em relação às suas fun-

ções, procuram o poder judiciário na

expectativa de que uma advertência,

―corretivo‖ ou a simples ameaça de

punição possam reverter este quadro.

Esse pedido de ajuda é importante e

pode favorecer o prognóstico, mas a

percepção a respeito da problemática

não pode ser apenas parcial.

Entende-se por reconhecimento

parcial quando a família ou os respon-

sáveis atribuem o problema apenas à

droga ou ao adolescente envolvido com

estas práticas. Sob esta perspectiva,

qualquer tentativa de intervenção ou

encaminhamento fica prejudicada, pois

a tendência geralmente apresentada é

a de querer se esquivar ou se abdicar

das funções que lhe são próprias, con-

ferindo a responsabilidade que também

é da família, sociedade e de todos,

conforme preceitua o Estatuto da Cri-

ança e do Adolescente (Lei 8.069/90),

apenas ao estado.

Não se trata de inverter a equa-

ção transformando as famílias, geral-

mente denominadas vítimas, em culpa-

das, mas sim em orientá-las a refletir e

perceber que problemas de comporta-

mento entre jovens exigem atenção e

participação ativa da família e da co-

munidade, podendo as questões rela-

Página 3 B O L E T I M N º 1 4 , F E V E R E I R O D E 2 0 1 2

O uso de drogas entre jovens

vem se tornando um tema cada vez

mais presente nas pautas de discussão,

preocupando não só familiares pais e

responsáveis como profissionais da

saúde, educação, do poder público e

da população em geral. A imprensa,

importante instrumento de formação

da opinião pública, também contribui

para divulgar e alardear o temor refe-

rente a estas questões, sendo comum

observar reportagens e até mesmo al-

guns profissionais desavisados que,

influenciados pelo discurso midiático,

tendem a atribuir as adversidades e

dificuldades relacionadas à etapa da

adolescência ao uso destas substâncias.

Sabe-se que nem todo adoles-

cente fará uso, assim como nem todo

usuário está envolvido com o tráfico,

organizações criminosas ou se tornará,

necessariamente, um dependente de

drogas. A despeito do que as pesquisas

e os estudos possam indicar sobre fato-

res de risco ou de proteção referentes

a estas práticas, fato é que o uso de

drogas ainda vem sendo considerado o

principal problema ou alvo de interven-

ção quando se trata do público adoles-

cente. Por um lado este discurso favo-

rece o reconhecimento sobre a necessi-

dade de discutir e articular políticas

públicas visando proteger crianças e

jovens, por outro, entretanto, reforça

a ideia de que a droga é a vilã, as fa-

mílias são as vítimas e os jovens envol-

vidos com estas atividades estão em

conflito com a lei ou são dependentes

e precisam de internação urgente.

Casos de adolescentes envolvi-

Uso de drogas entre adolescentes: o papel da família, da comunidade e dos profissionais vinculados ao poder judiciário

A REBRA-REDE DE ESCRITORAS BRASILEIRAS TEM O ORGULHO DE CONVIDAR PARA O LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA "L’INDISCUTABLE TALENT DES ÉCRIVAINES BRÉSILIENNES" do qual a escritora e contista Sabine Cavalcante participa. LANÇAMENTO DIA 16/03/2012 DAS 17 ÀS 19 HORAS SALÓN DU LIVRE DE PARIS STAND U 41- YVELINÉDITION PORTE DE VERSAILLES BOULEVARD VICTOR, PARIS 15ÈME PARIS - FRANÇA

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Página 4 T Í T U L O D O B O L E T I M I N F O R M A T I V O

ce espontaneamente. Há uma tendên-

cia em focar-se no ―fazer ciência‖ a

não ―gastar tempo‖ como assuntos

―periféricos‖ como comunicar-se, escu-

tar e construir conhecimento junto, a

partir de diferentes pontos de vista. No

projeto ALICE RAP foram propostas al-

gumas estratégias para estimular

networking e facilitar a interação dos

grupos de trabalho, como teleconferên-

cias, canais interativos de comunicação

e compartilhamento da tomada de deci-

sões, entre outros. O uso de uma dessas

estratégias interacionais - Computer-

Mediated Methodology (CMC) - foi ava-

liado e os resultados dessa experiência

serão publicados em breve.

A evidência demonstra que os

processos de saúde e adoecimento pos-

suem múltiplos determinantes enraiza-

dos em laços culturais e comunitários,

apontando para a necessidade de estra-

tégias amplas de produção e intercâm-

bio de conhecimento. Atualmente, ali-

anças e iniciativas integradoras vêm

sendo criadas para acelerar a pesquisa,

o ativismo social e o compromisso polí-

tico, fecundando debates mais condi-

zentes com os pluralismos e a diversida-

de de nossa realidade. Parece que os

―cegos‖ começam a falar entre si!

Michaela Bitarello do Amaral Sabadini

Psicóloga, PhD

tivos, que congreguem cientistas com

saberes tão variados quanto exija a

complexidade da realidade estudada,

permitem a articulação de redes de

conhecimento e recursos, que aceleram

a produção e a adoção de ações e práti-

cas de comprovada evidência.

É verdade que colaborações ci-

entíficas existem há muitos anos, mas a

tão falada transdisciplinareidade ainda

é pouco vivenciada no dia a dia da aca-

demia. No caso da área de ―drogas‖

isso ainda é bastante notável, com dis-

cursos reducionistas que tentam expli-

car fenômenos humanos que precisam

ser vistos de maneira integradora, ou

não poderão nunca ser compreendidos

de fato. É como na parábola indiana dos

sábios cegos e o elefante. Cada sábio

toca uma parte do elefante, eles discu-

tem sobre quem tem a verdade sobre o

que seria este curioso e enorme animal,

mas nenhum deles consegue ter a visão

do todo até que decidem unir suas ob-

servações.

Não é difícil imaginar, entretan-

to, que dado o poder do pensamento

compartimentado em disciplinas, é ne-

cessário um esforço especial para esti-

mular o pensamento transdisciplinar e a

interação entre pesquisadores. Leva

tempo para que pesquisadores se fami-

liarizem e aprendam mutuamente com

a linguagem, abordagens e modos de

pensar uns dos outros. Isso não aconte-

Durante o período de setembro

de 2010 a outubro de 2011, trabalhei

como pesquisadora na Unidade de Alco-

ología da Hospital Clínico da Universida-

de de Barcelona, em projetos multicên-

tricos europeus na área de políticas de

álcool e drogas. A experiência de parti-

cipar nesses projetos foi enriquecedora

em vários aspectos, e gostaria de co-

mentar aqui sobre um deles em especi-

al, relacionado ao projeto ―ALICE RAP -

Addictions and Lifestyles in Contempo-

rary Europe - Reframing Addiction Pro-

ject” (www.alicerap.eu). Esta iniciativa

é uma proposta transdisciplinar de 5

anos de duração, que conta com a par-

ticipação de 126 cientistas, de 73 insti-

tuições de pesquisa, de 31 países euro-

peus. Seu objetivo é produzir evidência

científica que informe e estimule um

amplo debate público sobre as atuais

abordagens e possíveis alternativas para

o tema drogas e problemas associados,

na sociedade contemporânea. Os pes-

quisadores desse projeto tem back-

grounds em cerca de 40 disciplinas e

especialidades diferentes, desde a an-

tropologia, a economia até a toxicologi-

a. Acredito que, e este é o ponto que

gostaria de enfatizar, colaborações

científicas com tamanha diversidade de

pesquisadores e disciplinas, são fruto

de um saudável amadurecimento aca-

dêmico dos estudos atuais sobre a cha-

mada ―questão das drogas‖. Esses cole-

Participe do lançamento nacional do livro "Adolescência, Uso e Abuso de Dro-

gas: uma Visão Integrativa", pela Editora Fap-UNIFESP em São Paulo no dia 01 de

março de 2012, na livraria Martins Fontes, Av.Paulista, 509, horário 19:00 às

21:30hs.

Será um coquetel com video, musica, encontros e trocas construtivas.

Sua presença nos honrará muito.

Atenciosamente,

Dra.Eroy Aparecida da Silva

Dra.Denise De Micheli

Organizadoras

Conte sua história em 500 palavras:

“Quando os cegos falam entre si”

Lançamento do livro "Adolescência, Uso e Abuso de Drogas: uma Visão Integrativa"

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Página 5 T Í T U L O D O B O L E T I M I N F O R M A T I V O

como também, diversas formas sutis de

abordar o assunto, desde o espaço de

discussão aberta oferecido pela orienta-

ção educacional ao espaço interdiscipli-

nar. Esta etapa é iniciada, como uma

abordagem direta e objetiva aos alunos,

onde damos ciências aos mesmos sobre

todo e esquema didático e lúdico do

programa, aplicamos um questionário

onde os dados oriundos do mesmo, nor-

teará as ações subseqüentes, ou seja,

um dos objetivos precípuos do progra-

ma é a observância das peculiaridades e

características sócio-culturais de cada

estabelecimento de ensino.

Público Alvo

Alunos da Rede Municipal de Ensino,

do 6° ao 9° ano.

Corpo técnico-administrativo, e

Docente

Pais e familiares

Atividades

Palestras Áudio Visuais (data show)

em sala de aula em módulos.

Círculos de Debates em sala de aula.

Desafios de Debates entre escolas,

pautados nos módulos abordados em

sala.

Testemunhos de Adictos em reabili-

tação.

Atividades Lúdicas e Recreativas (no

contra turno) visando atenuar a ociosi-

dade.

pendência.

Contribuir na formação das ações

anti-drogas.

Informar sobre drogas, mostrando

que elas causam dependência mental e

física.

Despertar o interesse dos alunos,

educadores, pais e familiares na busca

de ações coletivas preventivas contra o

uso de drogas.

Oportunizar o debate e reflexões em

torno dos fatores sociais, familiares,

econômicos que influem no uso abusivo

das drogas.

Fortalecer as redes sociais para re-

duzir os fatores de risco que contribu-

em para o uso da droga.

Metodologia

O PRECOPAD passa por três etapas,

envolvendo, respectivamente, os profis-

sionais da escola, pais e alunos.

Na primeira etapa, são realizados

debates oferecidos cursos de capacita-

ção ao corpo técnico administrativo e

docente, vivências e sócio dramas, e a

aplicação de um questionário que avali-

ará o grau de noção e entendimento,

individual e coletivo de cada partici-

pante em relação ao tema.

A segunda etapa tem o objetivo de

fortalecer e aprimorar o contato com as

famílias evidenciaremos os sinais de

consumo de SPA, serão oferecidas téc-

nicas de abordagem e identificação de

possíveis adictos e conseqüentemente

meios de lidarem com a realidade, e

para que juntos possamos inverter a

situação.

A terceira etapa compreende um

trabalho de formação humana, ativida-

des culturais, artísticas e esportivas,

O PRECOPAD é uma das vertentes de

trabalho do CRDQ - Centro de Reabilita-

ção para Dependentes Químicos Adulão.

O CRDQ Adulão é um serviço de preven-

ção e tratamento para dependentes de

drogas e seus familiares em um novo

contexto social, educacional e familiar.

Em 28 de fevereiro de 2012, o CRDQ

Adulão realizará a pré inauguração de

suas instalações em Aparecida. Compa-

reça!

Objetivos Gerais

Promover uma conscientização em

relação à prevenção do uso de drogas,

bem como reconhecer comportamentos

de riscos no contexto escolar, fomen-

tando e norteando situações atenuantes

para a maximização dos fatores de pro-

teção e a minimização dos fatores de

risco, proporcionando assim uma me-

lhor qualidade de vida, saudável e ple-

na.

Objetivos Específicos

Realizar um Mapeamento em cada

uma das 09 unidades escolares abrangi-

das pelo programa, juntamente com

uma Observação do Entorno.

Realizar uma Triagem envolvendo

todos os alunos participantes do progra-

ma, num total de 77 salas de aula, cer-

ca de 2353 alunos.

Aplicar de um Questionário onde os

alunos manifestarão suas dúvidas, per-

guntas e curiosidades a cerca das SPA

(substâncias psicoativas).

Verificar a estruturação familiar dos

envolvidos no programa.

Demonstrar às crianças e jovens que

existem prazeres saudáveis e que estão

ao alcance de todos, em alternativa ao

consumo de produtos que levam à de-

Programa Educacional de Conscientização e Prevenção ao Abuso de Drogas

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NOVOS SÓCIOS

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Mande seus estudos, artigos ou a programação de eventos para serem divulgados no nosso Boletim!

Você também pode participar da seção - Conte sua história em 500 palavras. Trata-se de um es-

paço para os associados participarem do nosso Boletim com depoimentos, comentários, experiências pes-

soais ou de trabalho.

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Um novo ano começou e a ABRAMD já tem várias ativi-dades planejadas e em realização. Para torná-las viá-veis, é muito importante contar com a contribuição dos nossos Associados e com o pagamento da ANUIDADE 2012 Valores: (os mesmos do ano anterior) Profissionais: R$ 180,00 (ou duas parcelas de R$ 90,00) Estudantes de graduação, mestrado ou doutorado: R$ 60,00 (ou duas parcelas de R$ 30,00) Depósito ou transferência bancária para: ABRAMD – Associação Brasileira Multidisciplinar de Estu-dos sobre Drogas CNPJ – 08.304.612/0001-80 Banco Itaú Agência: 1664 Conta Corrente: 25768-8

ACERTANDO AS CONTAS

Prazo: 15 de março de 2012 Para pagamento em duas parcelas, os vencimen-tos são 15/03 e 15/04 Importante: Ao fazer o depósito ou transferência, enviar o compro-vante para a tesoureira da Abramd, Helena Albertani, email: [email protected] Esta confirmação é fundamental para que possamos identificar os depósitos, dar baixa em nossos controles e enviar o recibo de pagamento. Qualquer dúvida, por favor, escreva para o email acima.

www.abramd.org.br