Avisa la Ed 51 completa-FIM · da versão era o texto original de Jakob e Wilhelm ... Ela não...
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Livros Filosofia da criação: reflexões sobre o sentido do sensível, de Marly Meira. Porto Alegre: Mediação: 2003. Tel.: (51) 3330-8105. Site: www.editoramediacao.com.br Encontros estéticos: coletânea de textos, de Jorge Anthonio e Silva (org). Caixa Econômica Cultural. 2005. Tel.: (11) 3321-4400. Site: www.caixacultural.com.br
Eduque Nova EscolaEndereço: Avenida Bosque da Saúde, 1404 – Bosque da Saúde. CEP: 04142-082 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5581-0123Site: www.novaescola-eduque.com.brDireção pedagógica: Patrícia CintraE-mail: [email protected]
F I C H A T É C N I C A
Ao formar crianças, os educadores também
são formados. Ao visitarem museus e suas percep-
ções sobre vários conceitos, os professores perce-
bem que a processualidade é o mapa da experi-
ência estética vivenciada por eles e pelos alunos,
traçada por caminhos (movimentos) que buscam
na Arte, como território da invenção, encontros sen-
síveis e criadores que possam afastar visões este-
reotipadas ou visões reduzidas do mundo, dimi-
nuindo o distanciamento entre Arte e vida.
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A segunda parte deste artigo será publicada na próxima edição.
Estudando os detalhes da obra de Frida Baranek
Compartilhando impressões: o que comi com os olhos?
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SABEMOS QUE LER DIARIAMENTE NA ESCOLA É
FUNDAMENTAL, MAS SERVE QUALQUER LIVRO? VE JA
AQUI A DISCUSSÃO A DISTÂNCIA ENTRE PROFISSIO-
NAIS DE EDUCAÇÃO SOBRE CRITÉRIOS DE ES COLHA
DE ACERVO LITERÁRIO PARA CRIANÇAS
F O R M A Ç Ã O N O S M U N I C Í P I O SF O R M A C Ã O N O S M U N I C Í P I O S
Qual é a melhorversão?
No curso online* sobre leitura pelo profes-
sor, propusemos uma unidade de es tu-
do sobre os critérios de seleção de tex-
tos para serem lidos para as crianças. Para além
da ilustração, do tema e do gênero, o que é pre-
ciso considerar? Como selecionar o texto a par-
tir de uma apreciação literária atenta à lingua-
gem empregada?
Para iniciar a discussão, fi zemos uma pesquisa
e, depois, abrimos um fórum para discutir as justi-
fi cativas de cada voto. Foi um sucesso! Tivemos
1.283 visitas a esse fórum, com 183 comentários
em duas semanas. Foram produzidos tantos posts
que não seria possível relacionar todos os nomes
dos participantes e todos os comentários. Nesse
artigo, procuramos realizar uma síntese e resga-
tar os momentos mais importantes da conversa.
Esperamos, com a apresentação do resultado de
nosso trabalho, levar esse debate às escolas, pro-
vocando discussões que possam alimentar os mo-
mentos de refl exão e de estudo dos professores.
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*Este curso fez parte da programação de cursos a distância do Instituto Avisa Lá.
SILVANA AUGUSTO1
1 Formadora do Instituto Avisa Lá, coordenadora do curso “O coordenador pedagógico como formador em sua unidade” e professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo (SP).
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Tudo começou com uma escolha
A proposta de discussão desse Fórum de Es-
tudos teve como ponto de partida a resolução de
um problema proposto por nós. Havíamos discu-
tido nas unidades anteriores que ler histórias é
diferente de contá-las, que as crianças não apren-
dem as mesmas coisas nessas duas atividades. De-
pois, usando os conhecimentos construídos ao lon-
go do curso, convidamos a todos para ajudar a
professora Cristina a resolver o seguinte proble-
ma de planejamento:
Qual é o melhor texto para ler para as crian-
ças? Mas atenção! A escolha é pelo texto que ela
deveria ler, não contar! Nós oferecemos duas ver-
sões de uma história muito apreciada pelas crian-
ças: Chapeuzinho Vermelho.
A primeira versão não trazia o nome do autor e
apresentava um texto mais empobrecido. A segun-
da versão era o texto original de Jakob e Wilhelm
Grimm, autores de Os contos de Grimm, traduzido
por Tatiana Belink para a editora Paulus (São Pau-
lo, 1989).
A seguir, apresentamos uma comparação de
alguns trechos:
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Versão 2 (5 páginas)
Era uma vez uma meninazinha mimosa, que todo o mundo amava assim
que a via, mas mais que todos a amava a sua avó. Ela não sabia mais o que
dar a essa criança. Certa vez, ela deu-lhe de presente um capuzinho de
veludo vermelho, e porque este lhe fi cava tão bem, e a menina não queria
mais usar outra coisa, fi cou se chamando Chapeuzinho Vermelho.
– Chapeuzinho Vermelho, olha só para as lindas fl ores que crescem aqui em
volta! Por que não olhas para os lados? Acho que nem ouves o mavioso
canto dos passarinhos! Andas em frente como se fosses para a escola, e no
entanto, é tão alegre lá no meio do mato.
Chapeuzinho Vermelho arregalou os olhos, e quando viu os raios de sol dan-
çando de lá para cá por entre as árvores, e como tudo estava tão cheio de
fl ores, pensou: “Se eu levar um raminho de fl ores frescas para a vovó, ela fi -
cará contente; ainda é tão cedo, que chegarei lá no tempo certo”.
Então ela saiu do caminho e correu para o mato, à procura de fl ores. E quando
apanhava uma, parecia-lhe que mais adiante havia outra mais bonita, e ela
corria para colhê-la e se embrenhava cada vez mais pela fl oresta adentro.
Quando o lobo satisfez a sua vontade, deitou-se de novo na cama, adorme-
ceu e começou a roncar muito alto. O caçador passou perto da casa e
pensou: “Como a velha está roncando hoje! Preciso ver se não lhe falta al-
guma coisa”. Então ele entrou na casa, e quando olhou para a cama, viu
que o lobo dormia nela.
– É aqui que eu te encontro, velho malfeitor – disse ele –, há muito tempo
que estou à tua procura.
Aí ele quis apontar a espingarda, mas lembrou-se de que o lobo podia ter
devorado a vovó, e que ela ainda poderia ser salva. Por isso, ele não atirou,
mas pegou uma tesoura e começou a abrir a barriga do lobo adormecido.
E quando deu algumas tesouradas, viu logo o vermelho do chapeuzinho, e
mais um par de tesouradas, e a menina saltou para fora e gritou:
– Ai, como eu fi quei assustada, como estava escuro lá dentro da barriga do
lobo!
E aí também a velha avó saiu para fora ainda viva, mal conseguindo respirar.
Mas Chapeuzinho Vermelho trouxe depressa umas grandes pedras, com as
quais encheu a barriga do lobo. Quando ele acordou, quis fugir correndo,
mas as pedras eram tão pesadas, que ele não pôde se levantar e caiu morto.
Então os três fi caram contentíssimos. O caçador arrancou a pele do lobo e
levou-a para casa, a vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho
Vermelho trouxera, e logo melhorou, mas Chapeuzinho Vermelho pensou:
“Nunca mais eu sairei do caminho sozinha, para correr dentro do mato,
quando a mamãe me proibir fazer isso”.
Versão 1 (2 páginas)
Era uma vez uma linda menina cha-
mada Chapeuzinho Vermelho. Um
dia, sua mãe pediu que ela levasse
uma cesta de doces para a vovó,
que estava muito doente.
E a menina partiu. Como a estrada
era muito longa, Chapeuzinho pen-
sou que não haveria problema em
desobedecer à sua mãe, e resolveu
ir pelo meio da fl oresta. Assim, che-
gava mais rápido à casa da vovó.
Algumas horas depois, passa por
ali um caçador, que estranha o ron-
co do lobo e entra na casa da ve-
lhinha. Abre a barriga da fera e
en contra a avó e a menina ainda
vi vas. Todos comemoram, menos o
lobo, que saiu correndo para nun-
ca mais voltar.
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Os textos foram apresentados de duas manei-
ras: na versão escrita e na versão lida em voz alta,
que podia ser acessada nos podcasts que fi caram
disponíveis na área do Fórum. Pedimos que todos
lessem os textos ou escutassem a leitura em voz
alta em um dos podcasts do curso e, em seguida,
escolhessem a melhor e explicassem para a pro-
fessora Cristina os motivos da escolha, argumen-
tando com ela sobre os benefícios de seguir a in-
dicação feita.
Foi M.M., de Itaguaí (RJ) que saiu na dianteira.
Ela votou na versão 2 porque tem um fi m diferen te.
Depois dela, outras postagens foram feitas ao lon-
go de toda a semana. A maioria do grupo escolheu
a versão 2 por conta do vocabulário, mais rico do
que o da versão 1, e porque a história é muito mais
detalhada. Mas também surgiram outros argumen-
tos. Procuramos fazer uma lista com a síntese de
todas as qualidades da versão 2. Concluiu-se que a
segunda versão é a melhor porque tem:
enredo diferente;
riqueza de adjetivos;
boas descrições, muitos detalhes;
bons personagens, bem caracterizados;
presença de elementos mágicos na narrativa,
cumprindo uma certa função estética;
narração dos lugares e das cenas com beleza
e simplicidade;
clareza na apresentação dos fatos ao longo
do tempo e do espaço, tem boa sequência
narrativa;
vários momentos de tensão e suspense, até o
desfecho;
bons diálogos (as crianças fazem muito uso
dele ao narrar suas histórias);
perspectiva de fomentar o pensamento críti-
co, que auxiliará na resolução de confl itos a
partir da refl exão da dualidade entre o bem e
o mal, o certo e o errado;
autoria (a versão 1 não tem autor defi nido).
Reconhecemos que apenas essa lista das qua-
lidades do texto a ser lido para as crianças nos
auxiliava a defi nir importantes critérios para es-
colher melhor os textos que vamos ler em sala
de aula. No entanto, sabemos que nem todos os
textos que costumam ser oferecidos às crianças
possuem tantas qualidades. Mas não paramos por
aí. Outros debates surgiram, enriquecendo mui-
to a nossa discussão.
Deve-se evitar a leitura de certos trechos
de histórias que mencionem morte e outros
temas mais difíceis?
Quem trouxe essa questão foi N., de Porto Ale-
gre (RS). Embora tenha gostado da versão 2, ela
fi cou em dúvida porque pensou o seguinte:
Não gostei da parte que relata a cena de
uso de arma, mesmo que branca, para abrir
a barriga de um animal. Essa cena, até eu fi quei cho-
cada. Imagino uma criança. Penso que em épocas
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ras: na versão escrita e na versão lida em voz alta,
que podia ser acessada nos podcasts que ficaram
vários momentos de tensão e suspense, até o
desfecho;
bons diálogos (as crianças fazem muito uso
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em que não havia tanta violência, as crianças até
poderiam não estabelecer relações, mas hoje a vio-
lência está tão presente no dia a dia das pessoas,
das crianças e dos animais.
O assunto que N. trouxe foi tão interessante
que chamou a atenção de outras pessoas. E. de
Natal (RN), por exemplo, escreveu:
No que diz respeito à violência abordada na
versão 2, concordo que o assunto deve ser
discutido com o grupo, observando o que pensam e
que alternativas sugerem para o problema. Penso
que questões como essas não devem ser camufl a-
das na tentativa de se poupar as crianças, pois elas
estão imersas em um mundo onde não há apenas
paz e amor. Acredito que os textos literários tam-
bém têm essa fi nalidade: fornecer elementos para
lidarmos com nossos confl itos internos e externos.
J., de São Paulo (SP), se animou com a discus-
são e trouxe a seguinte refl exão para o debate:
Há uma coleção de Contos de Fadas da Lan-
dy editora que traz vários contos russos (três
volumes), celtas, indianos e chineses. Da Compa-
nhia das Letras, há contos e lendas da Europa Me-
dieval e também Africanos. Toda e qualquer histó-
ria retrata sempre uma época em que fora escrita.
Pensando nos contos, que representam histórias
tradicionais orais de vários lugares por volta dos
séculos XVII a XIX, tragédia e violência são caracte-
rísticas dos costumes e das culturas de um deter-
minado lugar e período. Como podemos interferir
nisso? Os estúdios da Walt Disney adaptaram al-
guns contos de fadas justamente por achá-los mui-
to violentos. Mas para quais crianças? E se pensar-
mos que as mulheres e as crianças trabalhavam
em fábricas por quase quatorze horas diárias? O
primeiro conto de fada a ser fi lmado foi Branca de
Neve, em 1937, pré-Segunda Guerra Mundial. Mas
quando modifi camos uma história, fazemos isso
com a intenção de proteger nossos alunos? Mas a
vida de cada um não é real, há sempre alguém
para protegê-los de algum sentimento? Tenho uma
preocupação quanto à moral da história. Deixo
sempre em aberto e realizo muitas perguntas para
insistir no debate e, às vezes, termina com uma
pergunta. Temos que buscar as discussões. Aliás,
as crianças deveriam ter aula de fi losofi a para re-
fl etir sobre a vida. A literatura promove o pensa-
mento crítico, o conhecimento, às vezes o conforto
para algumas respostas da inquietação do ser hu-
mano ou não.
Mas não é uma bela questão para se pensar?
Depois desse post a discussão pegou fogo! C., de
São José do Rio Preto (SP), concordou com N., e
muitas pessoas se posicionaram com a mesma
preocupação trazida por elas. Justamente por ser
a questão tão polêmica é que é importante ouvir
e pensar sobre outros pontos de vista.
Foi com esse espírito que L., de São José do
Rio Preto (SP), também se manifestou. Ela refl etiu
sobre algumas questões:
O que é um bom texto literário para crian-
ças? Acredito que seja aquele texto que es-
tabeleça uma relação signifi cativa para a criança,
que proporcione situações de prazer, de descober-
tas, de emoções, de cultura e também uma amplia-
ção de visão de mundo. Um bom livro deve fazer
pensar, interagir, deve aguçar a curiosidade, esti-
mular o imaginário, deve promover o conhecimen-
to crítico e refl exivo da criança. O que fazer quan-
do um texto traz trechos violentos. Ler ou não ler?
Hoje, independente da situação social ou cultural,
a violência está em evidência. Já dei aulas em es-
colas de periferia, onde muitas dessas crianças já
conviveram ou ainda convivem com as mais diver-
sas situações de violência, tanto dentro de casa
quanto fora dela. Por inúmeras vezes, os alunos
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me relatavam cenas ou acontecimentos violentos
que eles presenciavam. Eram relatos que me dei-
xavam mui to impressionada. Já para as crian-
ças era uma coisa normal, fazia parte do cotidiano
daquele determinado bairro. Quando um texto
traz algum trecho violento, independente se sua
clientela tem um maior ou menor contato com a
situação citada acima, acredito que deve ser lido
e até levantar uma discussão sobre o assunto – o
que é certo, o que é errado etc. Com isso, aprovei-
tamos para trabalhar valores, atitudes, caráter,
ou seja, tudo aquilo que já é trabalhado no coti-
diano de uma sala de aula, para que a criança te-
nha exemplos do que é ser um bom cidadão.
M., de São José do Rio Preto (SP), conseguiu
expressar o que N. estava pensando, dizendo o
seguinte:
Concordo que as crianças, hoje em dia, so-
frem e são bombardeadas com cenas de
violência, mas acredito que a escola não tenha
que dar uma extensão muito grande a isso, aca-
bando por banalizar, virar algo comum. Tem que
haver uma sistematização desse tipo de diálogo.
Sinceramente, não sei como agir ou conduzir um de-
bate com esse assunto, principalmente com crian-
ças, por isso prefi ro evitar. Procuro sempre trazer
para meus alunos notícias, assuntos e exemplos de
cidadania que possam melhorar suas vidas. A valo-
rização da paz não é feita através da violência mas
da própria vida em paz.
Esse vai e vem de argumentos é muito impor-
tante para que a discussão avance. Nesse caso, o
fórum foi tão signifi cativo, tivemos tantas posta-
gens, que nem todo mundo conseguiu ler e consi-
derar todas as opiniões. Por isso, destacamos aqui
nessa breve síntese algumas ideias que não foram
muito desenvolvidas, como a da Ana Carolina (Lili),
formadora do Avisa Lá. Lili concordou em parte
com E., mas utilizou um argumento diferente:
Essa questão da violência dos contos de fa-
das muitas vezes causa certo mal-estar. Não
foi à toa que muitos escritores e estudiosos de his-
tórias tradicionais e da educação se debruçaram
sobre essa questão. Bruno Bettelheim, psicólo-
go radicado nos Estados Unidos da América, foi
um deles. Algo que ele defende é que os contos,
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violência, mas acredito que a escola não tenha
de
clientela tem um maior ou menor contato com a
situação citada acima, acredito que deve ser lido
e até levantar uma discussão sobre o assunto – o
que é certo, o que é errado etc. Com isso, aprovei-
tamos para trabalhar valores, atitudes, caráter,
ou seja, tudo aquilo que já é trabalhado no coti-
diano de uma sala de aula, para que a criança te-
nha exemplos do que é ser um bom cidadão.
M., de São José do Rio Preto (SP), conseguiu
expressar o que N. estava pensando, dizendo o
seguinte:
Concordo que as crianças, hoje em dia, so-
frem e são bombardeadas com cenas de
violência mas acredito que a escola não tenha
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com toda a sua complexidade, possibilitam que as
crianças entendam e encontrem um lugar para
muitos sentimentos “pouco aceitos”, como a raiva,
o ciúme, a inveja... Histórias muito brandas não as
ajudariam a identifi car-se; ao contrário, poderiam
até causar um mal-estar, pois elas não encontra-
riam um espelho, um espaço para dialogar com
aquilo que sentem.
Pois bem, as histórias originais, embora tenham
passagens como a da morte do lobo, podem não
soar violentas, no sentido estrito da palavra. Por
outro lado, como disse Lili, se de fato for essa a
ideia, não temos de lidar com isso? O importante é
saber que tudo isso se passa na história, não na
vida real. E é justamente porque as crianças têm o
plano simbólico para elaborar esses sentimentos é
que não necessitam vivê-lo dessa forma no plano
real. Além do mais, o que realmente é importante
para a criança nessas histórias é a segurança de
que no fi m tudo vai dar certo e que elas serão pro-
tegidas. Certamente esse tema é mais forte para
elas do que o modo como o lobo mau morre.
Por fi m, diz Lili:
Esse pensamento vai ao encontro de outro
tema que ronda a educação: Para que serve
a leitura de literatura, afi nal? Será que precisamos
sempre encontrar um porquê, uma correspondên-
cia para os assuntos estudados em sala de aula?
Ou a literatura serve-nos para pensar sobre a vida,
sentir, emocionar-se, descobrir-se? E olhem só...
esse assunto também está relacionado ao modo
como apresento, leio e o que faço depois de ler
histórias para os alunos, não é?
O trabalho a partir de diferentes versões de
uma mesma história
Essa discussão sobre as versões diferentes da
história da Chapeuzinho levou o grupo a pensar
sobre a importância de se ler diferentes versões
como parte do trabalho de língua portuguesa.
Lançamos o convite, então: Vamos desenvolver
essa ideia? O que vocês acham que as crianças
podem aprender em um possível projeto que apre-
sente diferentes versões de uma mesma história?
Por que um trabalho como esse poderia ser bom?
T., de São José do Rio Preto (SP), disse:
Como a profa Cristina está fazendo um pla-
nejamento de uma possível sequência didá-
tica, por que não apresentar as duas leituras às
crianças em momentos distintos e confrontar com
elas as semelhanças e diferenças existentes entre
as duas versões?
Muita gente concordou com a ideia dela. Outras
participantes do fórum trouxeram novas versões da
mesma história, com fi nais diferentes, com estilos
diferentes... e essa diversidade só alimentou a dis-
cussão sobre a importância de se apresentar dife-
rentes versões para ajudar as crianças (e a nós mes-
mos, por que não dizer?) a reconhecerem o que é
um bom texto literário, as qualidades de cada um.
M.C., de Goiânia (GO), também achou que es-
se poderia ser um caminho:
Estudar os autores das obras literárias é
muito bom, mas também estudar as obras
dos autores desconhecidos é intrigante e aguça
a nossa imaginação, pois são textos sensacionais.
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vida real. E é justamente porque as crianças têm o
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com toda a sua complexidade, possibilitam que as
crianças entendam e encontrem um lugar para
muitos sentimentos “pouco aceitos”, como a raiva,
o ciúme, a inveja... Histórias muito brandas não as
ajudariam a identifi car-se; ao contrário, poderiam
até causar um mal-estar, pois elas não encontra-
riam um espelho, um espaço para dialogar com
aquilo que sentem.
Pois bem, as histórias originais, embora tenham
passagens como a da morte do lobo, podem não
soar violentas, no sentido estrito da palavra. Por
outro lado, como disse Lili, se de fato for essa a
ideia, não temos de lidar com isso? O importante é
saber que tudo isso se passa na história, não na
vida real E é justamente porque as crianças têm o
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Estudar a autoria permite que nossos alunos se-
jam autores de sua própria história.
J. concordou e achou que é muito importante
para a própria formação do leitor, dá autonomia
para escolher o que vai ler:
Há tanta produção para ser analisada e re-
escrita... mas difi cilmente vimos, na esco-
la, o aluno desenvolver a sua autonomia em rela-
ção às suas produções e quanto às leituras de
gêneros. Nós precisamos dialogar mais com os
alunos sobre as suas escolhas como leitores, e
acreditar nisso. Muitas vezes queremos “contro-
lar” todos os passos dos alunos e acabamos en-
gessados. E depois de anos nesse modo, quan-
do proporcionamos o debate, o argumento,
isso não acontece, pois se olham, insegu-
ros. Ainda estão na dualidade entre o certo
e o errado. Então começamos a descons-
truir esse “padrão”, para a conquista da
segurança e autonomia, mas isso leva-
rá muito tempo. Os professores de lite-
ratura deveriam “olhar” para dentro de
cada aluno e enxergar um escritor e
um leitor em potencial.
S., professora de Assis (SP), trouxe
mais elementos para validarmos es se tra-
balho. Ela afi rma:
“Convidaria meus alu nos a
comparar versões diferen-
tes. A comparação de versões de
um mesmo texto deveria consistir
em uma prática usual do leitor. Ela
permite estabelecer critérios de es-
colha e realizar indicações literá-
rias. Nesse trabalho, as com parações
seriam inicialmente coordenadas pelo profes-
sor, que faria intervenções para que os alunos
atentassem para outros aspectos da obra, além
dos que normalmente levam em conta. Incentiva-
ria também a pensarem sobre o que está escrito
nesses textos. Como eles começam e terminam?
Quais as palavras diferentes que o autor utiliza?
Desse modo, ela desloca a discussão para além
do debate apenas moral e faz com que as crianças
refl itam sobre aspectos linguísticos e estilísticos
dos textos, condição fundamental para formar es-
critores na escola2.
Aprendendo com a experiência
N., de Porto Alegre (RS), deu uma versão mais
sofi sticada da história de Chapeuzinho Vermelho e
avaliou que a atividade foi um desafi o. Ela traba-
lhou com as duas versões apresentadas no fórum.
Depois, pediu aos alunos que prestassem bastante
atenção. Ao término da leitura, ela perguntou a
eles qual das duas histórias haviam gostado mais.
Eles disseram que gostaram mais da versão 2. N.
fi cou curiosa e quis saber o porquê. Responderam:
porque é bem mais explicada;
é maior que a outra;
é marcante;
é mais real.
Sobre a conclusão de seu trabalho, N. nos con-
tou: Eu que havia achado a versão mais complexa
muito forte e violenta para as minhas crianças, de-
vido ao fato de elas viverem numa comunidade
violenta e sofrerem vários tipos de violência, fi quei
um pouco chocada e pedi a elas que contassem a
2 Uma das vencedoras do prêmio Professor Nota 10, organizado pela Fundação Victor Civita, em 2011, realizou um projeto com diferentes versões do conto Chapeuzinho Vermelho com turmas de 1o ano. O objetivo era fazer os alunos avançar em suas hipóteses de escrita e ampliar seu repertório de textos literários, contribuindo para a formação do gosto e da apreciação estética. Para saber mais sobre o trabalho, acesse:<http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/reescrita-textos-literarios-alfabetizacao-inicial-677955.shtml>.
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