AVALIAO DAS PROPRIEDADES MECNICAS DOS PR-MOLDADOS … · 3 resistência à compressão e difração...
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AVALIAÇÃO DA PROPRIEDADE MECÂNICA DOS PRÉ-MOLDADOS DE GESSO TRATADOS TERMICAMENTE POR ENSAIO DE COMPRESSÃO
A.H. Shinohara1, R.P.Dourado1, C.B. Gurgel1, J.P. Soares1, A.G.C. Ciarlini2
Avenida Acadêmico Hélio Ramos, SN, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP:
50740-530, [email protected] de Engenharia Mecânica-CTG-UFPE – Recife-PE
2CTCC-SENAI – Recife-PE
RESUMO
Placas de gesso é um dos principais produtos derivados de gesso.
Basicamente, as suas propriedades mecânicas são determinadas pelo tipo de
matéria-prima empregada, microestrutura formada, do grau de intercrescimento dos
cristais de gipsita no processo de hidratação, porosidade, qualidade do gesso
empregado, quantidade de água adicionada. Industrialmente. Dentre várias
tecnologias para obter placas reforçadas, a possibilidade da utilização da técnica de
desidratação controlada é interessante e de grande interesse científico e
tecnológico. No presente trabalho,amostras de pré-moldados de gesso foram
tratadas termicamente à 150ºC, 300ºC, 500ºC e 900ºC por um período de 2h, e
submetidas ao ensaio de compressão. Como resultado, o valor de resistência à
compressão reduziu-se à metade quando 20% de água estrutural foi retirada por
desidratação térmica. As amostras tratadas termicamente foram também analisadas
com medidas de difração de raios-X, e densidade. O estudo de correlação entre a
densidade e resistência mecânica mostrou-se ser linear.
Palavras-chaves: pré-moldados de gesso, tratamento térmico, ensaios de
compressão, densidade.
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INTRODUÇÃO
No Pólo Gesseiro de Pernambuco, localizado no sertão pernambucano, estão
instalados em torno de 72 calcinadoras de gipsita produzindo anualmente cerca de
2 milhões de toneladas de gesso (CaSO4.½H2O), que corresponde a 95% da
produção nacional(1). O gesso obtido através de calcinação da gipsita, hoje, 90% é
utilizado essencialmente na construção civil. Um dos principais produtos de gesso é
o pré-moldado de gesso, o qual é largamente utilizado no interior das edificações
para dar o acabamento.
Para a conquista de novos mercados no ramo da construção civil, um grande
investimento em termos de pesquisa está sendo realizado no sentido de aumentar
as propriedades mecânicas através da introdução de reforços nas placas de pré-
moldados com fibras de vidro(2) ou cortiça(3). Porém, há um fator limitante quando diz
respeito à reciclagem de compósito de pré-moldados de gesso devido a dificuldade
no reprocessamento e elevado custo. Programa como o ZERI (Zero Emissions
Research Initiative) adotado pela Universidade das Nações Unidas realiza estudos
estratégicos no sentido de compreender o ciclo de vida dos materiais para o
desenvolvimento sustentável.
Industrialmente, as placas de gesso possuem dimensões de 60 x 60 cm2 e
pesam em torno de 6 kg. Por exemplo, no cálculo do peso do forro de pré-moldados
de gesso para uma sala de 100 m2 corresponde a uma massa total em torno de
1.667 kg, o qual requer um sistema de fixação bastante resistente,uma vez que está
envolvido a segurança. Portanto, placas de gesso mais leves com resistência
mecânica suficiente é um diferencial competitivo no mercado. Apesar de existirem
outras técnicas de obter-se pré-moldados mais leves, por exemplo, redução da
massa realizando furos nas placas, a possibilidade de obter placas de gesso mais
leves com resistência mecânica sem utilizar elementos de compósito é de grande
interesse científico e tecnológico. Em termos de propriedades mecânicas, um dos
principais fatores que afeta a resistência mecânica à compressão é a porosidade
estrutural(4).
O presente trabalho visou realizar um estudo sistemático sobre o efeito do
tratamento térmico nos pré-moldados de gesso através da avaliação das medidas de
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resistência à compressão e difração de raios-X(5), medidas de densidade, como meta
final de obter um pré-moldado de gesso mais leve.
MATERIAIS E MÉTODOS
Nesse trabalho, as amostras de gipsita foram retiradas das placas de pré-
moldados de gesso de formato cilíndrico, com diâmetro de 28 mm e espessura de
16 mm, conforme mostra Fig. 1. Após esta etapa, as amostras foram submetidas ao
tratamento térmico às temperaturas de 150º C, 300º C, 500º C, e 850ºC num forno
de resistência elétrica, durante um período de 2 horas. No total, foram preparadas
15 amostras.
(a)
(b)
Figura 2 – Equipamento utilizado para o ensaio de Compressão
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Figura 1-(a) Amostras de pré-moldados de gesso utilizado no presente trabalho. (b) Imagem típica de MEV da estrutura do pré-moldado (11).
Em seguida, as amostras foram submetidas ao ensaio de resistência à
compressão numa máquina de compressão como mostrada na Fig.2. Por fim, as
amostras foram analisadas realizando-se medidas de espalhamento de raios-X a
alto ângulo(7) (WAXS) no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron – Campinas-SP
para identificação das fases cristalinas em cada temperatura. As medidas de
densidade foram realizadas preparando-se paralelepípedos e pesando numa
balança.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dependendo da temperatura de tratamento térmico a perda de massa pode
atingir até 21%. Além da perda de massa, há também formação de novas fases
cristalinas nos pré-moldados de gesso, tais como hemidrato (gesso) e anidrita 1, 2 e
3 (6), De acordo com os dados obtidos pela técnica de espalhamento de alto ângulo
(WAXS), apresentados na figura 3, diferentes fases cristalinas foram detectadas.
Para comparação, uma amostra de selenita também foi medida através de difração
de raios-X. Com relação à formação de novas fases, os dados de difração de
raios-X foram comparados com os dados de JCPSD do ICDD, edição 2000. Os
difratogramas apresentados confirmam a evolução da desidratação da gipsita.
Conforme apresentado, a gipsita da Região do Araripe sem tratamento térmico foi
caracterizada obtendo o JCPDS no 01-0355, cuja estrutura se apresenta como
monoclínica, já quando usamos a temperatura de 150oC, obtemos a caracterização
da fase através do JCPDS no 45-0848, cuja estrutura é hexagonal, o que se explica
pela perda de água na sua estrutura. Nessa fase, o teor de água pode variar entre
0,15 e 0,66 moléculas de água, formando o hidrato com meia molécula de água,
uma forma particular intermediária, de grande interesse comercial pela sua
estabilidade química. Quando a temperatura de 300ºC é alcançada, o hemidrato
perde quase toda sua água e obtém-se um anidrita solúvel (instável), denominada
anidrita III. A anidrita solúvel, de fórmula CaSO4.eH2O, indica que este produto pode
conter água de cristalização, embora em baixo teor, variável entre 0,11 a 0,06
moléculas de água. Podemos comprovar o surgimento de tal fase através do JCPDS
no 73-1942, cuja estrutura cristalina é hexagonal.
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Figura 3 – Dados de difração de raios-X das amostras de pré-moldados de gesso antes e após o tratamento térmico. Para comparação, os dados de difração de raios-X da selenita (lado direito).
Na temperatura de 500ºC, a anidrita III transforma-se em anidrita II, de acordo
com JCPDS no 37-1496. Esta fase possui hidratação lenta e, como o processo de
transformação da fase III para a fase II é exotérmico, a transformação é muito rápida
e não reversível. Quando a temperatura de 850 oC é alcançada, o produto é
similar à anidrita natural encontrada em minério de gipsita e conhecida com anidrita
I, de hidratação extremamente difícil e com estrutura cristalina ortorrômbica
conforme indica o JCPDS 86-2270.
Com relação a análise da técnica de WAXS, notamos na parte mais a direita
dos difratogramas apresentados da gipsita, uma região pouco definida, ou seja, sem
picos muito nítidos que se refere a região de espalhamento de Raios-X(6). Já com a
selenita não temos tão nítido esse espalhamento por se tratar justamente de um
material mais puro
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Tabela 1 – Materiais Originados da Gipsita
Material Fórmula Estrutura Temp. Fórmulas
Gipsita CaSO4.2H2
O MONOCLÍNICA 25 oC CaSO4.2H2O+Calor
Hemidrato CaSO4.1/2H
2O HEXAGONAL 150 oC CaSO4.1/2H2O+3/2H2O
Anidrita III CaSO4 HEXAGONAL 300 oC CaSO4.eH2O
Anidrita II CaSO4 ORTORRÔMBICA 500 oC CaSO4
Anidrita I CaSO4 ORTORRÔMBICA 850 oC CaSO4
A figura 3 mostra a média dos valores de resistência mecânica à compressão
em função da temperatura de tratamento térmico. Foi realizado um ajuste de uma
função Lorentziana aos dados obtidos. Observou-se que os valores de resistência à
compressão decai exponencialmente com aumento de temperatura. De acordo com
a cinética de desidratação da gipsita, o aumento de temperatura ocasiona remoção
das moléculas de água estrutural.
A perda de massa pode atingir até uma redução de até 21% em peso quando
a gipsita passa para a fase anidrita. Do ponto de vista morfológica, não há
alterações significativas. Por outro lado, há um aumento considerável da porosidade
e alteração estrutural em termos de transformação de fases.
A figura 4 mostra a correlação entre a densidade e resistência mecânica à
compressão. O fato interessante deste resultado é a relação linear entre estes dois
parâmetros. Após o ajuste de uma equação de reta, estimou-se a resistência
mecânica da gipsita natural que possui uma densidade de 3,2 g/cm2. O valor
encontrado foi em torno de 20 MPa. A partir desta correlação entre a densidade e
resistência mecânica à compressão, o aumento da resistência a compressão é
crescente linearmente com o aumento da densidade.
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Figura 5. Correlação linear entre a tensão de compressão e densidade
Figura 4. Correlação entre tensão de compressão e temperatura
CONCLUSÕES
O tratamento térmico ocasiona basicamente dois efeitos simultâneos, a perda
de massa com formação de porosidade na estrutura e a alteração micro-estrutural
através de formação de novas fases cristalinas.
No presente trabalho, observou-se que a influência da porosidade é o fator
principal que afeta a resistência mecânica. Por outro lado, alterações na
microestrutura em termos de transformações de fases cristalinas, parece que
praticamente não ocasionaram influência no resultado final da resistência mecânica.
Através do tratamento térmico, placas de gesso 20% mais leves podem ser
obtidas, entretanto, a resistência mecânica decai em torno de 50%. Por outro lado, a
partir deste estudo, observou-se uma relação linear entre a densidade e resistência
mecânica.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio financeiro do Fundo Verde –Amarelo/ FINEP,
CNPq, CAPES, SENAI – FACEPE.
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REFERÊNCIAS
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2. M. Ali, F. Grimer, Mechanical Properties of Glass Fibre-reinforced Gypsum,
Journal of Material Science 4 (1969) 389-394
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gypsum Composities for Building Applications, Costruction and Building Materials 13
(1999) 179-186.
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Plaster Products, ZKG Inernational 50 (1997) 54-62.
5. E.M. Sipple, P.Bracconi, P.Dufour, J.C.Mutin, Microsstructural Modifications
Resulting from the Dehydration of Gypsum, Solid State Ionics 141-142.(2001) 447-
454
6. R.A Kuntze, The Chemistry and Techonolgy of Gypsum, ASTM Special Technical
Publication;861, Atlanta, Ga (1983) 50-53.
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and Materials Science, University of Notre Dame, Indiana, EUA (1977) 111-115.
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Rouquerol, Study of Gypsum Dehydration by Controlled Tansformation Rate Thermal
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9. L. Peres, M. Benachour, V.A. Santos, O Gesso – Produção e Utilização na
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Machine Learning Methods, National Institute of Standards and techonology,
Gaithesburg MD, USA 1-12.
11. D. Jeulin, P. Monnaie, F.Peronnet, Gypsum Morphological Analysis and
Modeling, Cement Concrete Composities 23 (2001) 299-311.
12. H. Engelke, Change in Mechanical Properties of Gypsum Building Materials on
and After Saturation with Water, Zement-Kalk-Gips 32 (1979) 560-568.
13. T. K. -C. Chan and B. W. Darvell, Effect of Storage Conditions on Calcium
Sulphate Hemihydrate-containing products, Dental Materials 17( 2001) 134-141.
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EVALUATION OF MECHANICAL PROPERTY OF HEAT TREATED GYPSUM CEILING BY THE COMPRESSION TEST
ABSTRACT
key-words: plate of plaster, compression resistance, density, thermal treatment
Plates of plaster (60x60 cm2 and 6 kg/each) it is one of the main products of the Pólo
Gesseiro Pernambucano. Basically, the mechanical properties of the plates are
defined for the type microestructure, that depends on the degree of intergrowth of the
gipsita crystals, porous, the plaster quality, amount of added water. In industry,
among the several technologies to improve the mechanical properties, the possibility
of the use of the technique of controlled dehydration is of great interest from scientific
and technological point of view. In the present work, 15 samples of plate of plaster
with diameter of 28 mm and 16 mm in thickness were prepared and thermal treated
at 150ºC, 300ºC, 500ºC and 900ºC for a period of 2 hours, and they are submitted to
the compression test. As result, the resistance values to the compression reduced
around 50% when 20% of structural water were removed by dehydration.
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