AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020....

71
DAIANE OLIVEIRA MATIAS AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM MODELO DE NEUROPATIA DOLOROSA INDUZIDA PELO PACLITAXEL Rio de Janeiro - RJ 2018

Transcript of AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020....

Page 1: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

DAIANE OLIVEIRA MATIAS

AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM MODELO DE

NEUROPATIA DOLOROSA INDUZIDA PELO PACLITAXEL

Rio de Janeiro - RJ

2018

Page 2: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

15

DAIANE OLIVEIRA MATIAS

AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM MODELO DE

NEUROPATIA DOLOROSA INDUZIDA PELO PACLITAXEL

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Ciências Farmacêuticas, da

Faculdade de Farmácia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção do Título de Mestre em

Ciências Farmacêuticas.

Orientador: Prof. Robson da Costa.

Co-orientadora: Prof.ª Cláudia Pinto

Figueiredo.

Rio de Janeiro - RJ

2018

Page 3: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

Ficha Catalográfica

Matias, Daiane Oliveira

Avaliação da inflamação na medula espinhal em um modelo de neuropatia

dolorosa induzida pelo paclitaxel. / Daiane Oliveira Matias. – Rio de Janeiro: UFRJ /

Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de Farmácia, 2018.

69 f. il. ; 31 cm.

Orientador: Robson da Costa

Coorientadora: Cláudia Pinto Figueiredo

Dissertação (mestrado) -- UFRJ, CCS, Faculdade de Farmácia, Programa de Pós-

Graduação em Ciências Farmacêuticas, 2018.

Referências: p. 61-69.

1. Paclitaxel. 2. Doenças do Sistema Nervoso Periférico- induzido quimicamente.

3.Inflamação. 4. Neuroglia - imunologia. 5. Medula espinhal. 6. Neutropenia. 7.

Farmácia - tese. I. Costa, Robson da. II. Figueiredo, Cláudia Pinto. III. UFRJ, CCS,

Faculdade de Farmácia, Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas.

IV. Título.

Page 4: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula
Page 5: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me mantido resiliente e pelas bênçãos concebidas a

mim nos últimos anos.

Ao meu orientador Robson da Costa, pela oportunidade, orientação,

dedicação, paciência e ensinamentos em todos estes anos desde a iniciação

cientifica, a co-orientadora e professora Claudia P. Figueiredo e a todos os

colaboradores do Núcleo de Neurociências da Faculdade de Farmácia (NNeFFar).

Ao professor Leandro Miranda Alves, pela receptividade e orientação nos

experimentos de imuno-histoquímica deste trabalho.

A professora Ana Luísa Palhares de Miranda, pelo incentivo e acolhimento.

A Mariana Soares pela ajuda em grande parte dos experimentos deste

trabalho.

Aos demais amigos que colaboraram ativamente para a realização deste

trabalho, Rafaela Vieira, Natália Linhares, Fabiana Chaves, Aline França, Vanessa

Domitila, Vinicius Santos e Luciana Afonso.

Aos demais amigos do laboratório de estudos em farmacologia experimental

(Lefex), pela agradável convivência e motivação diária.

A minha família e amigos, em especial a minha mãe Marilva Oliveira, avó

Santana Oneide, irmão Wenglis Oliveira, prima Marina Cruz, irmão Yuri Cavalcante,

amigo Jonathas Xavier e namorado Carlos Henrique Rodrigues, pelo amor, incentivo

e confiança.

A CAPES, CNPq, e FAPERJ pelo suporte financeiro. Meus sinceros agradecimentos a todos.

Page 6: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

“Seus feitos são seus monumentos. ”

(Palacio, R. J. 2013)

Page 7: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

RESUMO

Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula espinhal em um

modelo de neuropatia dolorosa induzida pelo paclitaxel. Rio de Janeiro, 2018.

Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade

de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

A neuropatia periférica dolorosa é um efeito adverso dose limitante do paclitaxel

(PTX), um quimioterápico amplamente utilizado no tratamento oncológico. Estudos

recentes evidenciam a importância da neuroinflamação na medula espinhal (ME) na

patogênese das neuropatias dolorosas causadas por lesão de nervos. No entanto,

os mecanismos neuroinflamatórios que ocorrem na neuropatia periférica induzida

pelo PTX ainda não são conhecidos. Neste estudo buscamos avaliar o envolvimento

da inflamação na ME na neuropatia induzida pelo PTX. Camundongos swiss machos

(30-40 g) foram tratados com PTX (2 mg/Kg, i.p.) ou veículo (0.9% NaCl) uma vez ao

dia por 5 dias consecutivos. A neuropatia periférica foi avaliada pela sensibilidade

plantar dos animais a estímulos mecânicos (filamentos de von Frey), ao frio (teste da

acetona) e ao calor (teste de Hargreaves). O tratamento com PTX reduziu

significantemente o limiar de retirada da pata aos estímulos mecânicos a partir do 7º

dia do protocolo experimental. As sensibilidades térmicas ao frio e ao calor não

foram alteradas. A migração de células imunes para o SNC pode contribuir para

neuropatia periférica, então avaliamos o papel dos neutrófilos na neuropatia induzida

pelo PTX através do ensaio de atividade da enzima mieloperoxidase (MPO),

determinando indiretamente a migração dessas células para a medula espinhal. Foi

avaliado também o efeito da depleção de neutrófilos sobre a hipersensibilidade

mecânica. Nossos resultados demonstram que não houve alteração da atividade da

MPO na ME de animais tratados com PTX, sugerindo não haver alterações na

migração de neutrófilos para esta estrutura neste modelo. Ainda, a depleção de

neutrófilos com vimblastina (5 mg/Kg i.v.) não interferiu no desenvolvimento da

neuropatia dolorosa causada pelo PTX, corroborando os dados bioquímicos. Os

níveis espinhais de interleucina-1β (IL-1β), foram quantificados (por ELISA) nos

diferentes grupos experimentais. A ME de camundongos tratados com PTX

apresentou níveis de IL-1β similares aos observados nos animais tratados com

veículo. As células gliais são chaves nos mecanismos neuroinflamatórios em

diferentes modelos de dor; neste trabalho avaliamos através do ensaio de

imunohistoquímica os níveis espinhais de marcadores para astrócito (GFAP) e

microglia (Iba-1), com o intuito de quantificar a ativação/migração de células da glia

para ME. Nossos resultados demonstram que a imunomarcação para GFAP

encontra-se significativamente aumentada 24 h após o primeiro tratamento com

PTX, indicando aumento na ativação de astrócitos. No entanto, não se observou

alterações significativas para a imunomarcação de Iba-1, sugerindo não haver

aumento na migração células microgliais. A participação de microglia na neuropatia

induzida pelo PTX foi também avaliada pelo tratamento com a minociclina (doses de

30 e 100 mg/kg), inibidor da ativação de microglia. O tratamento com a minociclina

Page 8: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

na dose de 30 mg/kg não alterou significativamente a sensibilidade mecânica

causada pelo PTX; entretanto, quando administrada na dose de 100 mg/kg, reduziu

de forma significativa a sensibilidade mecânica associada ao modelo. Em conjunto,

nossos dados sugerem que células gliais da medula espinhal contribuem para a

neuropatia dolorosa induzida pelo paclitaxel.

Palavras-Chaves: Neuroinflamação, Paclitaxel, Neuropatia, Quimioterápicos,

Neutrófilos, Glia.

Page 9: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

ABSTRACT

Matias, Daiane Oliveira. Evaluation of spinal cord inflammation in a model of

painful neuropathy induced by paclitaxel. Rio de Janeiro, 2018. Master's Degree

Dissertation, Post-Graduation in Pharmaceutical Sciences, Faculty of Pharmacy,

Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

Painful peripheral neuropathy is a dose-limiting adverse effect of paclitaxel (PTX), a

chemotherapy widely used in cancer treatment. Recent studies have demonstrated

the importance of neuroinflammation in the spinal cord (SC) in the pathogenesis of

painful neuropathies caused by nerve damage. However, the neuroinflammatory

mechanisms that occur in peripheral neuropathy induced by PTX are unknown. In

this study, we sought to evaluate the involvement of SC inflammation in PTX-induced

neuropathy in mice. Male swiss mice (30-40 g) were treated with PTX (2 mg/kg, i.p.)

or vehicle (0.9% NaCl) once a day for 5 consecutive days. Peripheral neuropathy

was evaluated by assessing mouse plantar sensitivity to mechanical (von Frey

filaments), cold (acetone test) and heat (Hargreaves test) stimuli. Treatment with PTX

significantly reduced the paw withdrawal threshold to mechanical stimulus from the

7th day of the experimental protocol. The thermal sensitivities to cold and heat were

not altered. Migration of immune cells to the CNS may contribute to peripheral

neuropathy, so we evaluated the role of neutrophils in PTX-induced neuropathy by

assessing the activity of myeloperoxidase (MPO) enzyme, an indirect marker of

neutrophils migration into the SC. The effect of neutrophil depletion on mechanical

hypersensitivity was also evaluated. Our results demonstrate that there was no

alteration in MPO activity in the mouse SC after the treatment with PTX, suggesting

no changes in neutrophil migration to this structure in this model. Furthermore,

neutrophil depletion with vimblastine (5 mg/kg i.v.) did not interfere in the

development of painful neuropathy caused by PTX, corroborating the biochemical

data. Spinal levels of interleukin-1β (IL-1β) were quantified (by ELISA) in the different

experimental groups. SC of mice treated with PTX showed IL-1β levels similar to

those observed in vehicle treated animals. Glial cells are key cells in the

neuroinflammatory mechanisms in different pain models; in this work we evaluated

the spinal levels of astrocyte (GFAP) and microglia (Iba-1) markers by

immunohistochemical assay to quantify the migration of glial cells to the SC. Our

results demonstrate that immunostaining for GFAP is significantly increased 24 h

after the first PTX treatment, indicating increased astrocyte activation. However, no

significant changes were observed for Iba-1 immunostaining, suggesting no increase

in microglial cell migration. The participation of microglia in PTX-induced neuropathy

was also evaluated by treatment with minocycline (doses of 30 and 100 mg / kg), an

inhibitor of microglia activation. Treatment with minocycline at the dose of 30 mg / kg

did not significantly alter the mechanical sensitivity caused by PTX; however, when

administered at a dose of 100 mg/kg, it significantly reduced the mechanical

sensitivity associated with the model. Taken together, our data suggest that glial cells

from the SC contribute to painful neuropathy induced by paclitaxel.

Page 10: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

Keywords: Neuroinflammation, Paclitaxel, Neuropathy, Chemotherapeutics,

Neutrophils, Glia.

Page 11: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema ilustrativo do circuito neuronal fisiológico da dor............ 17

Figura 2: Esquema ilustrativo dos danos que ocorrem a mitocôndria no

gânglio da raiz dorsal (GRD) após o tratamento com o paclitaxel 20

Figura 3: Células imunológicas liberam mediadores que produzem

sensibilização periférica de neurônios sensoriais nociceptores...... 22

Figura 4: Microglia e células T medeiam a sensibilização central da dor na

medula espinhal................................................................................. 24

Figura 5: Avaliação da sensibilidade térmica no modelo de neuropatia

induzida por PTX ............................................................................ 40

Figura 6: Caracterização do modelo de neuropatia periférica induzida pelo

PTX ................................................................................................ 42

Figura 7: Avaliação da migração de neutrófilos para medula espinhal de

camundongos tratados com PTX ................................................... 43

Figura 8: Efeito da depleção de neutrófilos sobre a neuropatia causada pelo

PTX ........................................................................................ 45

Figura 9: Níveis da citocina pró-inflamatória IL-1β em animais tratados com

PTX ........................................................................................ 47

Figura 10: Níveis de expressão de astrócitos (GFAP) na medula espinhal de

animais tratados com PTX ............................................................. 49

Figura 11: Níveis de expressão de microglia (IBA-1) na medula espinhal de

animais tratados com PTX ............................................................. 50

Figura 12: Bloqueio da microglia reduziu a hiperalgesia mecânica induzida por

PTX .......................................................................................... 52

Page 12: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Contagem total e diferencial de leucócitos no sangue de animais no 3º dia após o tratamento com vimblastina .......................................................................................

46

Tabela 2: Contagem total e diferencial de leucócitos no sangue de animais no 18º dia após o tratamento com vimblastina ............................................................................................

46

Page 13: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ATC – Antidepressivos tricíclicos

ATP – Adenosina trifosfato

AMPAR – Receptor a-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiónico

CGRP – Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina

G – Grama

GABA – Ácido Gama-aminobutírico

GFAP – Proteína glial fibrilar ácida

GRD – Gânglio da raiz dorsal

H – Horas

IASP – Associação Internacional do Estudo da Dor

IBA-1 – Molécula adaptadora de cálcio ionizado - 1

IL-1β – Interleucina 1 beta

IL-5 – Interleucina 5

IL-6 – Interleucina 6

IL-17A – Interleucina 17A

i.p. – Intraperitoneal

i.t. – Intratecal

i.v. – Intravenoso

LPNC – Ligação parcial do nervo ciático

MAPK – Proteína quinase ativada por mitógeno K

ME – Medula espinhal

Page 14: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

mPTP – Poro de transição de permeabilidade mitocondrial

MPO – Mieloperoxidase

NF-kB – Fator nuclear -kB

NPIQ – Neuropatia periférica induzida por quimioterápico

NPIP – Neuropatia periférica induzida pelo paclitaxel

NDMAR – Receptor N-metil-D-aspártico

PGE2 – Prostaglandina E2

PI3K – Fosfatidilinositol 3 quinase

PI3Kγ – Fosfatidilinositol 3 quinase gama

PKC – Proteína quinase C

PLC – Fosfolipase C

PTX – Paclitaxel

ROS – Espécie reativa de oxigênio

SNC – Sistema nervoso central

SNP – Sistema nervoso periférico

SP – Substância P

TLRs – Recpetores do tipo Toll

TNF – Fator de necrose tumoral

TNF-α – Fator de necrose tumoral alfa

TRPV1 – Receptor de potencial transitório vanilóide 1

OXA – Oxaliplatina

v.o. – Via oral

Page 15: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15

1.1 Dor neuropática ..................................................................................... 15

1.2 Tratamentos farmacológicos ................................................................ 18

1.3 Neuropatia periférica dolorosa induzida pelo paclitaxel ........................ 19

1.4 Inflamação e dor neuropática ............................................................... 21

2. OBJETIVOS ........................................................................................... 30

2.1 Objetivo geral ........................................................................................ 30

2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 30

3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................... 31

3.1 Reagentes ............................................................................................... 31

3.2 Animais ................................................................................................. 32

3.3 Procedimentos Experimentais ............................................................... 32

3.2.1 Neuropatia periférica induzida pelo paclitaxel ....................................... 33

3.3.2 Avaliação da sensibilidade mecânica ................................................... 33

3.3.3 Avaliação da sensibilidade ao frio ......................................................... 34

3.3.4 Avaliação da sensibilidade ao calor ...................................................... 34

3.3.5 Avaliação da atividade da mieloperoxidase .......................................... 34

3.3.6 Ensaio imuno enzimático (ELISA) para dosagem da citocina IL-1 β .... 35

3.3.7 Imunohistoquímica ............................................................................ 35

3.3.8 Depleção de neutrófilos .................................................................... 37

3.3.9 Tratamento com Minociclina ............................................................. 38

3.3.1 Análise estatística ........................................................................... 38

4. RESULTADOS 39

4.1 Caracterização do modelo de neuropatia periférica induzida pelo PTX 39

4.2 Avaliação da migração de neutrófilos para medula espinhal após o

tratamento com PTX .................................................................................

43

Page 16: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

4.3 Efeito da depleção de neutrófilos sobre a hipersensibilidade mecânica

induzida pelo PTX ....................................................................................

44

4.4 Avaliação dos níveis da citocina pró-inflamatória IL-1β na medula

espinhal de animais tratados com PTX ...................................................

47

4.5 Avaliação dos níveis de marcadores de células gliais na medula espinhal

de animais tratados com PTX .................................................................

48

4.6 Efeito do tratamento com minociclina sobre a hipersensibilidade mecânica

causada pelo PTX ......................................................................................

51

5. DISCUSSÃO .............................................................................................. 53

6. CONCLUSÕES........................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 61

Page 17: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

15

1. INTRODUÇÃO

1.1. Dor

A dor é por definição uma experiência sensorial e emocional desagradável

associada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos (IASP, 2010). Sendo

assim a dor é um mecanismo fisiológico fundamental de proteção e defesa contra

agentes nocivos externos ou lesão tecidual. A capacidade de detectar estímulos

nocivos é extremamente importante para o bom funcionamento do organismo,

entretanto comumente a dor pode sofrer alterações em seu curso normal e deixar de

ser uma função útil de alerta agudo e tornar-se crônica e debilitante (BASBAUM et

al., 2009; KUNER, 2010).

O processamento fisiológico da dor envolve circuitos neuronais periféricos e

centrais tanto excitatórios quanto inibitórios, que em condições normais estão em

equilíbrio e a disfunção desses circuitos resulta no desenvolvimento patológico da

dor e o surgimento da dor crônica (WOOLF, 2010). Determinados estímulos nocivos,

como calor, frio, compressão mecânica e componentes químicos podem ser

detectados por diferentes tipos de fibras (C e Aδ) nervosas periféricas. As fibras C

podem ser subdividas em fibras C peptidérgicas e fibras C não peptidérgicas; ambas

são fibras nociceptivas não mielinizadas, de pequeno diâmetro. As fibras Aδ também

são fibras nociceptivas, porém pouco mielinizadas e de médio diâmetro. Ambas

fibras C e Aδ respondem a estímulos mecânicos, térmicos e químicos; essas fibras

diferem apenas na velocidade na qual são capazes de conduzir os sinais neuronais.

Ainda existem as fibras Aα e Aβ que fisiologicamente desempenham funções

relacionadas a sensação tátil e movimentos, no entanto em condições patológicas

elas podem passar a transmitir também os estímulos nocivos. Os corpos celulares

das fibras aferentes primárias encontram-se no gânglio da raiz dorsal (GRD) e suas

terminações encontram-se entre as lâminas I e IV do corno dorsal da medula

espinhal, onde ocorre a comunicação entre sistema nervoso periférico e sistema

nervoso central (KUNER, 2010; WOOLF, 2011).

Os estímulos nocivos são convertidos em sinais elétricos pelos receptores de

potencial transitório e pelos receptores purinérgicos, ainda essa atividade elétrica é

amplificada pelos canais de sódio Nav 1.8 e Nav 1.7 desencadeando o potencial de

Page 18: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

16

ação. As fibras nociceptivas aferentes transmitem esse sinal até a medula espinhal,

liberando os neurotransmissores como por exemplo, adenosina trifosfato (ATP),

CGRP (Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), substância P (SP) e

glutamato. Estes mediadores ativam neurônios de segunda ordem na fenda

sináptica, os quais por via ascendente projetam estes sinais até o cérebro,

especificamente no tálamo e córtex onde a dor por fim é processada e interpretada

(Figura 1) (KUNER, 2010; GANGADHARAN e KUNER, 2013; LATREMOLIERE e

WOLF 2010; COLLOCA et al., 2017).

Figura 1. Esquema ilustrativo do circuito neuronal fisiológico da dor. Fonte: Kunner, R. Central mechanismis of pathological pain, Nature, 2010.

Page 19: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

17

Considerando suas características, a dor pode ser classificada em três tipos:

i) dor nociceptiva, protetora, que responde a estímulos prejudiciais ou nocivos; ii) dor

inflamatória que resulta de uma lesão tecidual, sendo também um mecanismo de

defesa contra um dano maior a área afetada e, iii) dor patológica, uma resposta mal-

adaptativa decorrente de uma disfunção do sistema nervoso, que produz dor mesmo

após a cura da lesão ou na ausência de um estimulo nocivo (WOOLF, 2010).

1.2. Dor neuropática

A dor neuropática é um subtipo de dor patológica, de difícil tratamento, que é

causada por uma lesão que afeta o sistema somatosensorial. Como resposta a essa

lesão, a dor neuropática é tipicamente caracterizada pela hiperalgesia, ou seja,

resposta dolorosa aumentada a estímulos mecânicos e térmicos nocivos, bem como

pela alodinia, sendo uma resposta dolorosa a estímulos inócuos, uma vez que

ocorrem mudanças significativas nas propriedades eletrofisiológicas e moleculares

dos neurônios nociceptores e da medula espinhal (LOESER e TREEDE, 2008).

Existem diversos fatores que podem desencadear o desenvolvimento da dor

neuropática, dentre eles estão incluídos principalmente lesões focais ou multifocais

no sistema nervoso periférico, como a neuralgia pós-herpética, dor do membro

fantasma e neuralgia traumática; lesões no sistema nervoso central, como lesão na

medula espinhal e esclerose múltipla; doenças neuropáticas complexas, como a

síndrome dolorosa complexa e as polineuropatias periféricas generalizadas,

causadas por diabetes mellitus, álcool, HIV e por efeito tóxico de quimioterápicos

usados no tratamento do câncer (JI et al., 2014).

A dor neuropática tem grandes consequências clínicas e sociais e acomete

cerca de 6,9 a 10% da população mundial (KAWAI et al., 2017; IASP, 2014). No

Brasil, a dor crônica e condição clinica bastante frequente, acometendo entre 28 e

41% da população brasileira (DIAS et al., 2009; SA et al., 2009). Além disso, de 25 a

34% dos pacientes com dor neuropática, sofrem de distúrbios psiquiátricos como

ansiedade e depressão (GUSTORFF et al., 2008), afetando assim em longo prazo a

qualidade física e emocional de vida destes pacientes, visto que 80% dos pacientes

Page 20: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

18

com dor neuropática também apresentam distúrbios do sono e consequentemente

alterações do humor (ALKAN MELIKOGLU e CELIK, 2017).

1.3. Tratamentos farmacológicos para dor neuropática

A dor neuropática é de difícil tratamento pois as terapias disponíveis não são

eficazes para a maior parte dos pacientes com esta condição. Baseado nos

mecanismos fisiopatológicos envolvidos, o tratamento atual da dor neuropática

envolve principalmente a modulação da excitabilidade neuronal.

Desta forma, o tratamento de primeira escolha são os antidepressivos

tricíclicos (ATC) (nortriptilina e desmipramina), inibidores da recaptação de

serotonina e noradrenalina (duloxetina) e ligantes do canal de cálcio alfa-2-delta-1

(gabapentina e pregabalina). A utilização destes fármacos é limitada em virtude de

sua ação lenta (dias ou até semanas), pois exige a administração inicial em

pequenas doses com aumento gradual até que se atinja a dose efetiva para o

controle da dor. Além disso todos possuem muitos efeitos adversos, tais como

letargia, sedação, toxicidade cardíaca pelo uso de ATC e sonolência e tontura pelo

uso de gabapentina (DWORKIN, 2007).

O tratamento de segunda escolha baseia-se no uso de analgésicos opióides

(morfina, tramadol, oxicodona, metadona) principalmente pela falta de estudos de

segurança com o tratamento a longo prazo, e pelo seu potencial clássico em causar

dependência e tolerância. Alguns dos efeitos adversos observados na terapia com

opióides são alterações imunológicas, náuseas, vômitos, constipação, sonolência e

tontura (DWORKIN, 2007 e 2010; COLLOCA L. et al., 2017).

Ainda não existe tratamento específico para a neuropatia periférica induzida

por quimioterápico (NPIQ), no entanto um ensaio clinico demonstrou eficácia para a

duloxetina em 5 semanas de tratamento na redução dos sintomas de dor em

pacientes com neuropatia periférica induzida por Paclitaxel (PTX) ou Oxaliplatina

(OXA) em comparação com o placebo; no entanto o efeito benéfico foi apenas 20%

maior que o relatado pelo grupo placebo (SMITH EM et al., 2013). Na clínica, ainda

são utilizados alguns nutracêuticos (vitamina E, vitamina B6, magnésio, cálcio,

acetil-L-carnitina, glutamina, glutationa dentre outros), como estratégias adjuvantes

de farmacoterapia da NPIQ (SCHLOSS JM et al., 2013).

Page 21: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

19

1.4. Neuropatia periférica dolorosa induzida pelo paclitaxel

A neuropatia periférica induzida por quimioterápico (NPIQ) pode ocorrer de

três formas: autonômica, motora e/ou sensorial. Esta última é a forma mais frequente

entre os quimioterápicos, e pode manifestar-se como parestesia ou disestesia, dor

em queimação, bem como alodinia mecânica e térmica ao frio (FLATTERS e

BENNETT, 2006).

O paclitaxel (PTX) é um quimioterápico eficaz contra diferentes tipos de

câncer. No entanto, um de seus principais efeitos adversos é a neuropatia dolorosa,

a qual pode se manifestar de forma aguda (durante a quimioterapia) ou crônica

(após a quimioterapia e com duração de pelo menos 6 meses). A forma aguda

acomete entre 59-78% dos usuários, enquanto 30% deles desenvolvem a forma

crônica (BEIJERS et al. 2012; BALAYSSAC et al., 2011).

Em relação aos taxanos, classe à qual pertence o PTX, acredita-se que o

efeito tóxico destes medicamentos sobre os aferentes primários ocorra por atuarem

sobre a dinâmica dos microtubulos axonais, como na formação ou aumento da

polimerização dos microtúbulos, o que impediria o funcionamento normal do

citoesqueleto celular e, consequentemente, comprometeria o transporte axonal de

proteínas, vesículas e organelas (CARLSON et al., 2011; CAROZZI, CANTA e

CHIERAZZI, 2015).

Ainda, ha fortes evidências que a neurotoxicidade causada pelo paclitaxel age

principalmente através de disfunção mitocondrial nos GRD, levando ao aumento da

concentração intracelular de cálcio (excitotoxicidade neuronal) e estresse oxidativo.

Tais eventos podem desencadear a apoptose celular de parte das fibras sensoriais e

seria responsável também pela degeneração de fibras sensoriais periféricas

remanescentes (JAGGI e SINGH, 2012).

A administração de PTX age diretamente nas mitocôndrias levando a

liberação de citocromo C o que inicia a ativação da caspase durante a apoptose. O

poro de transição de permeabilidade mitocondrial (mPTP), é um complexo multi-

molecular contendo proteínas transmembranas como canais de aníons dependentes

de voltagem/tensão, o translocador de nucleotídeos de adenina e as proteínas de

Page 22: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

20

membrana mitocondrial. A abertura da mPTP é seguida pela perda de potencial de

membrana mitocondrial aumentando a geração de espécies reativas de oxigênio

(ROS) e levando a redução dos níveis de ATP e liberação de Ca2+ (MARTIN et al.,

2009). O PTX abre os mPTP e resulta em mitocôndrias vacuoladas/dilatadas e

funcionalmente comprometidas (Figura 2). A Mitocôndria em neurônios periféricos

tem um mecanismo de reparo mais lento que em outros tecidos. Além disso, as

mitocôndrias estão envolvidas na homeostase intracelular de Ca2+ e se as

mitocôndrias estão danificadas ou a captação mitocondrial de Ca2+ é prejudicada,

isto pode ser responsável pela propagação aumentada da sinalização induzida pelo

Ca2+ e, assim, os processos dependentes de Ca2+ na dor neuropática induzida por

PTX poderiam ser desencadeados como a ativação dos canais iônicos dependentes

de Ca2+ como Nav 1.7, Nav 1.8 e ainda os receptores de potencial transitório (TRP),

especificamente TRPV1, TRPA1 e TRPV4 já foram relatados em participar destes

mecanismos (KIDD et al., 2002; MIRONOV et al., 2005; FERRIER et al., 2013;

CARROZZI et al., 2015).

Figura 2. Esquema ilustrativo dos danos que ocorrem a mitocôndria no gânglio da raiz dorsal (GRD) após o tratamento com o paclitaxel. Fonte: V.A. Carozzi et al. Neuroscience Letters 596 90–107, 2015.

A NPIQ do tipo sensorial dificulta a adesão dos pacientes ao tratamento e,

frequentemente, leva a diminuição da dose eficaz contra o câncer ou, até mesmo,

Page 23: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

21

interrupção da quimioterapia (QUASTHOFF e HARTUNG, 2002). Outro fator que

reforça a importância clínica da NPIQ é o fato de que ela pode causar dor crônica,

com duração de meses ou anos (HAN e SMITH, 2013). Desta maneira, o emprego

de modelos animais na tentativa de elucidar os mecanismos responsáveis pelo

desenvolvimento da NPIQ é de extrema importância principalmente no que diz

respeito a estratégias preventivas.

Até o momento, não foram desenvolvidas terapias eficazes para o tratamento

da dor crônica. Além disso, as opções disponíveis atualmente para o tratamento

deste tipo de dor são acompanhadas de muitos efeitos adversos que limitam o uso

destes medicamentos (COLLOCA L. et al., 2017). Portanto, é importante que sejam

realizados estudos para identificar alvos moleculares que sirvam como ponto de

partida para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para o tratamento

da dor neuropática.

1.5. Inflamação e dor neuropática

Diversos mecanismos estão envolvidos na fisiopatologia da dor neuropática

incluindo a sensibilização neurônios periféricos e centrais, e a participação de

células não-neuronais, como as células gliais e células do sistema imunológico (REN

K e DUBNER R. 2010).

Logo após um dano a um nervo periférico, a inflamação é desencadeada pela

ativação imune inata de receptores como os do tipo Toll (TLRs) que reconhecem

moléculas endógenas liberadas de células danificadas como por exemplo as

proteínas de choque térmico (LACAGNINA et al., 2018). Os TLRs são expressos em

células do sistema imunológico, incluindo monócitos ou macrófagos e células

dendríticas, e em células relacionadas ao sistema imunológico, como os

queratinócitos. A ligação aos TLRs é seguida pela ativação da sinalização do fator

nuclear-kB (NF-kB) e pela liberação fatores endógenos de sinalização como

mediadores pró-inflamatórios como citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento

são liberados, sensibilizando os nociceptores, fibras nervosas do tipo Aδ

mielinizadas de médio diâmetro e fibras C não-mielinizadas de pequeno diâmetro, as

quais são responsivas a estímulos nocivos mecânicos, térmicos e químicos

(WOOLF, 2007, 2010; LATREMOLIERE, 2009; REN K e DUBNER R. 2010).

Page 24: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

22

As células imunes residentes como mastócitos e macrófagos também são

ativadas minutos após a lesão e também passam a liberar mediadores inflamatórios

como citocinas pró-inflamatórias (IL-5, IL-6 e IL-1β), efetores da cascata do sistema

complemento (C3a e C5a) e vasodilatadores (bradicinina). Neutrófilos, monócitos e

linfócitos T migram pelo sangue aderem às paredes dos vasos, extravasam e se

acumulam no local da lesão. Essas células imunológicas contribuem para a

sensibilização nociceptiva periférica, liberando fatores solúveis (TNF-α, PGE2, IL-1β,

IL-17A) e interagindo diretamente com os nociceptores (Figura 3) (CUNHA et al,

2005; REN K e DUBNER R. 2010; RITTNER et al, 2008; PINHEIRO-RIBEIRO et al.,

2017).

Figura 3. Células imunológicas liberam mediadores que produzem sensibilização periférica de neurônios sensoriais nociceptores. Fonte: Pinho-Ribeiro et al., “Nociceptor Sensory Neuron-Immune Interactions in Pain and I Inflammation. Trends in Immunology, 2017.

As citocinas pró-inflamatórias derivadas das células imunes são mediadores

cruciais para a atividade dos nociceptores e para a sensibilização a dor. A primeira

citocina descrita como hiperalgésica foi a IL-1β (FERREIRA et al., 1988). Vem sido

largamente descrito um grande papel para as citocinas na modulação da dor de

forma geral e incluindo-se a dor neuropática. Destacando IL-1β, IL-6, TNFα, IL-17A e

IL-5 que atuam diretamente nos neurônios nociceptores. Especificamente a IL-1β

atua sensibilizando os neurônios nociceptores via fosforilação da p38, MAPK, e

canais de sódio Nav 1.8, levando ao aumento da geração de potencial de ação e

resultando em hiperalgesia mecânica e térmica. A IL-1β também ativa o IL-1R1 nos

neurônios nociceptores levando ao aumento da expressão dos receptores de

Page 25: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

23

potencial transitório vanilóide-1 (TRPV1) e consequentemente gerando sensibilidade

aos estímulos térmicos (Figura 3) (BINSHTOK AM, et al. 2008; EBBINGHAUS M, et

al. 2012; PINHEIRO-RIBEIRO et al., 2017).

A sensibilização periférica transmite as informações nociceptivas para a

medula espinhal, e os eventos espinhais desencadeados por esses

neurotransmissores e mediadores levam à sensibilização central, um processo

crítico que contribui para a cronicidade da dor. Após a lesão do nervo e em

condições de dor crônica, os neurônios nociceptores expressam e liberam dos seus

terminais aferentes para a medula espinhal, neurotransmissores, neuromoduladores

e mediadores inflamatórios, tais como ATP, CGRP, SP, quimiocinas (fractalcina,

CXCL1), citocinas (IL-6 e IL-1β) glutamato e moléculas de adesão celular, estes

agem sobre os receptores no terminal do nervo pós-sináptico, e nas células da glia,

como microglia e astrócitos, modulando a atividade destas células. Estes eventos

contribuem para a ativação microglial e podem sensibilizar e alterar o limiar de

disparo neuronal, o que causa alterações importantes na morfologia, migração de

células imunes para o local da lesão e proliferação celular, ou seja gerando uma

correlação patológica com a sensibilização central e estados de dor crônica (Figura

4) (REN K. e DUBNER R. 2010; ZHAO et al., 2017; ZHANG ZJ et al., 2017;

PINHEIRO-RIBEIRO et al., 2017).

Além da ativação de células gliais, a lesão no nervo induz a migração de

células do sistema imune inato e adaptativo para o sistema nervoso periférico e

central, como linfócitos T, também produzindo citocinas e quimiocinas que

amplificam a resposta inflamatória, que dada a localização passa a ser denominada

neuroinflamação (JI et al., 2014; PENG et al., 2017).

Page 26: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

24

Figura 4. Microglia e células T medeiam a sensibilização central da dor na medula espinhal Fonte: Pinho-Ribeiro et al., “Nociceptor Sensory Neuron-Immune Interactions in Pain and I Inflammation. Trends in Immunology, 2017.

Um dos mecanismos propostos para fundamentar a plasticidade sináptica,

pertinente ao desenvolvimento e persistência da dor crônica, inclui interações

neurônio-glia. Nesta proposta as células imunes, a glia e os neurônios formam uma

integração na qual a ativação de uma resposta imune modula a excitabilidade das

vias de dor. De forma análoga aos neurônios, as células imunes e glia mostram

plasticidade dinâmica, e contribuem para a hiperexcitabilidade neuronal nas vias de

transmissão da dor (REN K. e DUBNER R. 2008, 2010; DELEO JA et al., 2004).

De acordo com esta proposta já foi demonstrado que em diferentes modelos

animais de dor inflamatória como injeção de formalina (FU KY et al., 2000) ou

carragenina (HUA XY et al., 2005) na pata traseira, ocorre de fato a ativação de

células da gliais na medula espinhal (avaliadas pelo aumento da expressão de

CD11b, IBA-1 e GFAP).

Uma vez ativadas, as células gliais contribuem para o aumento e a

manutenção da dor neuropática, liberando potentes neuromoduladores na medula

Page 27: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

25

espinhal, como fatores de crescimento, citocinas pró-inflamatórias (TNF, IL-1β, IL-6)

e quimiocinas como CC ligante 2 (CCL2), CXC ligante 3 (CXCL3) e CXC ligante 1

(CXCL1), que causam alterações na atividade dos receptores N-metil-D-aspártico

(NDMAR) a-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico (AMPAR). A

hiperexcitabilidade também pode ser causada por uma perda de interneurônios

inibitórios gabaérgicos, ou alterações de função nas quais eles passam a exercer

ações excitatórias a níveis espinhais. Essas mudanças em neurônios de segunda

ordem explicam de forma plausível a alodinia observada tanto por dados de

estudos em animais quanto em humanos (COLLOCA et al., 2017).

Em particular, as quimiocinas estão envolvidas na neuroinflamação em

diferentes localizações anatômicas, incluindo o nervo lesado, o gânglio da raiz

dorsal, a medula espinhal e o cérebro, contribuindo para o processamento crônico

da dor (REN K. e DUBNER R. 2010; ZHANG et al. 2012).

É cada vez mais evidente que as células da microglia e vários tipos de

células, incluindo neurônios, oligondendrócitos e astrócitos possuem uma rede de

mecanismos de sinalização celular que sustentam o quadro de dor neuropática; de

fato alguns estudos relataram que em diferentes modelos de dor neuropática como

aquela causada por constrição do nervo ciático (ECHEVERRY et al., 2008),

transecção do nervo ciático (LIU et al., 2000) e ligadura parcial do nervo ciático

(NARITA et al., 2006) ocorreu proliferação celular precoce e transitória na medula

espinhal ipsilateral à lesão, e a maioria das células em proliferação foram positivas

para iba-1 (marcador de microglia), juntamente com alguns progenitores de

oligodendrócitos (NG2 positivas) e astrócitos (GFAP positivas); destas células 30%

foram astrócitos e sendo que o fenótipo para microglia foi predominante sendo mais

de 60% desta população de células recém-geradas. Ainda, os autores observaram

uma correlação temporal entre a proliferação microglial e as respostas anormais a

dor, sugerindo então uma importante contribuição da microglia para os sintomas da

dor neuropática (SUTER et al., 2007).

Juntamente com a microglia, os astrócitos são outro tipo de célula glial cuja

contribuição no desenvolvimento da dor neuropática é cada vez mais reconhecida.

Em concordância, um estudo que investigava o papel glial na dor neuropática

causada pela oxaliplatina em ratos, mostrou que o tratamento intratecal com

Page 28: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

26

inibidores da microglia e astrócitos, minociclina e fluorocitrato, respectivamente,

reduziram de forma significativa a dor provocada pela oxaliplatina, com uma maior

eficácia para o fluorocitrato o que indica um papel proeminente dos astrócitos na dor

neuropática (DI CESARI MANNELI et al., 2014). Corroborando estes achados, outro

estudo mostrou que ocorre ativação de astrócitos, mas não da microglia na medula

espinhal de ratos, após o tratamento com oxaliplatina e bortezomibe, e isto acontece

de forma paralela as alterações comportamentais de dor evocadas pelos

quimioterápicos (ROBINSON MA et al., 2014).

Ainda sobre as interações neuroinflamatórias mediadas pelas células gliais,

em contraste com o que foi observado para oxaliplatina, no modelo de dor

neuropática induzida por paclitaxel, estudos sugerem que há expressão microglial e

astrocitária na medula espinhal de camundongos tratados com o paclitaxel, de modo

que também se correlaciona com os sinais de dor neuropática (RUIZ-MEDINA et al.,

2013; PEVIDA et al., 2013). Essas evidências sugerem que a microglia e os

astrócitos espinhais são elementos centrais nos mecanismos de dor neuropática, e

podem ser um alvo potencial para o tratamento do estado de dor crônica.

As quimiocinas constituem uma família de mediadores inflamatórios e

imunológicos que, assim como as citocinas, são proteínas secretórias produzidas

por leucócitos e células teciduais constitutivas após alguma lesão; entretanto as

quimiocinas são moléculas bem menores que as citocinas, com peso molecular de 7

a 15 kDa (OLIVEIRA et al. 2007). De acordo com o número e espaçamento dos

aminoácidos existentes nos dois primeiros resíduos de cisteína da extremidade N-

terminal elas são classificadas em quatro subfamílias: CXC, CC, CX3C e C, onde C

representa cisteína e X ou X3 representa um ou três aminoácidos (PALOMINO e

MARTI, 2015). No início da década passada, foi proposto um novo sistema de

nomenclatura para as quimiocinas que usa o nome da família, indicando a classe à

qual a quimiocina pertence, seguido da letra “L” (designando ligante) e um número,

correspondente ao já utilizado para designar o gene que codifica a quimiocina

(ZLOTNIK e YOSHIE, 2000).

As quimiocinas desempenham suas funções via receptores acoplados a

proteína G, os quais possuem sete domínios transmembrana; a região extracelular é

constituída por três alças e pela região N-terminal, onde se liga à quimiocina, e a

Page 29: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

27

região intracelular é formada por três alças e o domínio C-terminal que fazem a

transdução do sinal. Estes receptores podem reconhecer mais do que uma

quimiocina, mas estão praticamente restritos a uma única subfamília, dessa forma a

nomenclatura baseia-se na especificidade do receptor para a subfamília de

quimiocinas. Assim, os receptores são denominados de CXCR1 a CXCR6 (quando

se ligam as quimiocinas CXC), CCR1 a CCR10 (ligação ás quimiocinas CC),

CX3CR1 (liga-se a fractalcina) e XCR1 (liga-se à linfotactina) (ABBADIE et al., 2003;

ZHANG et al., 2012).

O principal papel das quimiocinas no desenvolvimento de um processo

inflamatório é o recrutamento de células do sistema imune para o sítio de inflamação

(GUERREIRO, SANTOS-COSTA, E AZEVEDO-PEREIRA, 2011). Entretanto, outras

funções vêm sido atribuídas para estes peptídeos. Em 2003 Abbadie e

colaboradores realizaram um estudo com camundongos nocautes para o receptor de

quimiocina CCR2 e verificaram que estes animais não desenvolveram alodinia

mecânica no modelo de dor neuropática induzida pela ligadura do nervo, bem como

apresentaram resposta dolorosa reduzida em modelos de dor inflamatória. Além

disso, estes autores demonstraram que animais selvagens submetidos a estes

modelos de dor crônica apresentavam maior ativação de microglia positiva para

CCR2 na medula espinhal (ABBADIE et al., 2003).

Posteriormente, outros trabalhos mostraram que CCL2, uma quimiocina que

se liga preferencialmente ao CCR2, produzida por neurônios sensoriais danificados

ou não, em estados de dor neuropática, desempenha um papel essencial para a dor

neuropática em ratos, uma vez que o anticorpo anti-CCL2 injetado por via intratecal

(i.t.) reduziu a ativação microglial e os comportamentos de dor nestes animais

(ABBADIE et al., 2003; THACKER et al., 2009; ZHANG et al., 2012). Coletivamente,

esses dados sugerem que o recrutamento e a ativação de macrófagos e microglia

perifericamente e no tecido neural podem contribuir tanto para a dor inflamatória,

como para a dor neuropática.

A fractalcina (CX3CL1) é uma quimiocina expressa na superfície extracelular

de terminações centrais de aferentes primários na medula espinhal, bem como em

neurônios espinhais. Na medula espinhal dorsal, o receptor de fractalcina (CX3CR1)

é expresso principalmente pela microglia, e já é bem conhecido o efeito

Page 30: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

28

neuromodulatório da fractalcina sobre a dor neuropática; vários estudos mostram

que a inibição farmacológica do CX3CR1 leva ao retardo do desenvolvimento de

alodinia mecânica e hiperalgesia térmica em diferentes modelos de dor neuropática

(MILLIGAN et al., 2004). Complementando estes achados, outro estudo investigou

ainda a via pela qual a fractalcina ativa a microglia em uma condição de dor

neuropática. Utilizando o modelo de ligação do nervo espinhal (SNL), Zhuang e

colaboradores (2007) verificaram que há a liberação de fractalcina após a lesão

nervosa, o que gera uma importante interação neurônio-microglia, que é mediada

pela ativação de CX3CR1 e, subsequentemente, ativação de p38 MAPK; eventos

estes que são cruciais para o desenvolvimento da dor neuropática neste modelo

(ZHUANG et al., 2007).

Os primeiros relatos correlacionando a participação direta de uma quimiocina

na dor foram através da administração intradérmica da interleucina-8 (IL-8) em ratos

o que gerou uma redução do limiar de dor destes animais, causando uma

hiperalgesia mecânica de maneira dose e tempo dependente, a IL-8 pertence a

subfamília CXC e tem como homologa CINC-1 em ratos e CXCL1 (também

conhecida como quimiocina derivada de queratinóticos) em camundongos (CUNHA,

1991; REUTERSHAN et al., 2006). Esta quimiocina é normalmente liberada por

macrófagos ativados e células endoteliais, entre outras células, e causam

preferencialmente o recrutamento de neutrófilos através da ligação a seus

receptores, CXCR1 e CXCR2 (RAVIDRAN et al., 2013).

Em relação a contribuição da quimiocina CXCL1 para a dor neuropática, foi

visto que no modelo de ligadura do nervo espinhal (SNL), ocorre um aumento da

expressão desta quimiocina, bem como do seu receptor CXCR2, no corno dorsal da

medula espinhal; neste estudo os autores verificaram que a CXCL1 foi induzida

principalmente pelos astrócitos espinhais, e que a administração intratecal do

anticorpo neutralizante de CXCL1 foi capaz de reduzir de forma transitória a

hipersensibilidade mecânica e térmica associadas ao modelo (LI et al., 2007;

ZHANG et al., 2013). Ademais, outro recente estudo utilizando um modelo de

ligadura parcial do nervo ciático (LPNC), demonstrou que CXCL1 possuí quimiotaxia

por neutrófilos tanto no nervo lesionado quanto na medula espinhal, e isso é crucial

para o estabelecimento da dor neuropática neste modelo, pois o tratamento com o

Page 31: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

29

anticorpo anti-CXCL1 preveniu de forma eficaz as respostas nociceptivas induzidas

pela LPNC. Além disso, os autores verificaram que a administração de CXCL1 no

nervo ciático dos camundongos produziu dor de longa duração de forma similar ao

modelo de PSLN (MANJAVACHI et al., 2014).

Ainda outro trabalho do grupo, demonstrou envolvimento da sinalização

CXCL1/CXCR2 na neuropatia periférica induzida pelo quimioterápico PTX em

camundongos, foi observado um aumento desta quimiocina na medula espinhal dos

animais após o tratamento com o PTX, e ainda o tratamento com o anticorpo Anti-

CXCL1 ou com o antagonista do receptor CXCR2 (SB225002), ambos por via i.t.,

foram capazes de reduzir a hiperalgesia mecânica observada neste modelo

(MANJAVACHI et al., 2015). O envolvimento de outras quimiocinas e seus

receptores no desenvolvimento e/ou manutenção da dor crônica também já foram

reportados, incluindo: CXCL12 e seu receptor CXCR4 (BHANGOO et al., 2007),

CCL3 e seu receptor CCR5 (MATSUCHITA et al., 2014) e CCL7 (IMAI et al. 2013).

Ainda, estudos recentes apontam o envolvimento das quimiocinas CCL2 e CXCL12

na dor neuropática induzida por oxaliplatina, bortezomib ou paclitaxel (PEVIDA et al.,

2013; ROBINSON et al.,2014; XU et al. 2017).

Juntas estas evidências sugerem que o processo inflamatório no sistema

nervoso e especialmente na medula espinhal seja crucial para o desenvolvimento e

manutenção da dor neuropática. No entanto, os eventos inflamatórios e mecanismos

de sensibilização central, especificamente na medula espinhal, que possam estar

envolvidos na neuropatia periférica que é induzida pelo PTX não estão bem

esclarecidos, por exemplo, i) se ocorre a migração de células imunes tais como

neutrófilos para a medula espinhal, ii) ou a produção de citocinas pró-inflamatórias

(como IL-1β) iii) ou a ativação e/ou migração de células gliais.

Page 32: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

30

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Avaliar o envolvimento da inflamação na medula espinhal no modelo de

neuropatia periférica dolorosa causada pelo paclitaxel.

2.2. Objetivos específicos

• Caracterizar o modelo de neuropatia periférica dolorosa induzida pelo paclitaxel,

através da avaliação da sensibilidade mecânica, ao calor e ao frio;

• Avaliar a migração de neutrófilos para a medula espinhal em diferentes tempos

após o tratamento com paclitaxel, através da determinação da atividade da

enzima mieloperoxidase;

• Verificar se a depleção de neutrófilos, pelo tratamento com vimblastina, interfere

com o desenvolvimento da neuropatia periférica causada pelo paclitaxel;

• Quantificar os níveis da citocina IL-1β, na medula espinhal em diferentes tempos

após o tratamento com paclitaxel, através da técnica ELISA;

• Avaliar os níveis de marcadores para microglia e astrócitos na medula espinhal

em diferentes tempos após o tratamento com paclitaxel, através da técnica de

imunohistoquímica;

• Testar o efeito do tratamento com o inibidor de microglia, minociclina, sobre o

desenvolvimento da neuropatia dolorosa induzida pelo paclitaxel.

Page 33: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

31

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Reagentes

3-Aminopropiltrietoxisileno (ATPS) Sigma

Acetona PA Vetec

Ácido Cítrico Sigma

Álcool absoluto Isofar

Anticorpo Anti-iba-1 Rabbit Wako laboratory chemicals (catalog no. 019-19741)

Anticorpo monoclonal Anti-GFAP Sigma aldrich (product number g 3893)

Albumina Bovina Sigma

Albumina Soro Bovino (BSA) Sigma

Citrato de Sódio Sigma

Cloreto de sódio 0,9% Equiplex/vemer

Diaminobenzidina 3,3 (DAB) Dako liquid dab+ substrate chromogen system k3468

EDTA LabSynth

Entellan Merck

Quetamina/Xilazina Syntec

Fosfato de Potássio Monobásico Reagen

Fosfato de Potássio Bibásico Grupo química Fosfato de Sódio Monobásico Merck Fosfato de Sódio Bibásico Grupo química Giemsa Merck Hematoxilina de Harris Merck Hexadeciltrimetilamônio (HTAB) Sigma Histofine Histofine® simple stain TM max po (g) Kit específico IL1-β de ELISA R&d systems

Minociclina Sigma Pacitaxel Accord farmacêutica ltda Paraformaldeído Sigma Peróxido de hidrogênio Vetec Tetraborato de sódio Sigma Tetrametilbenzidina (TMB) Lgc biotecnologia Tris Sigma

Page 34: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

32

Triton Sigma Tween 20 Isofar Turk Dinâmica Vimblastina Libbs farmacêutica ltda Xilol Isofar Wright Bioclin

3.2. Animais

Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando entre 35 e 50

gramas, com aproximadamente 90 dias, provenientes do Biotério da Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os animais foram

mantidos em temperatura e umidade controladas (22 ± 1°C, 60-80 % de umidade),

em ciclo 12h claro/12h escuro, com livre acesso a água e ração. A criação e

utilização dos animais foram conduzidas de acordo com as recomendações do Guia

de Uso e Cuidado com Animais Laboratoriais do National Institutes of Health (NIH)

dos Estados Unidos da América (Publicação do NIH No 80-23, revisado em 1996) e

em conformidade com a lei brasileira Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. Todos os

procedimentos empregados no presente estudo foram previamente aprovados pelo

Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (número do protocolo

PP00811), e submetidos a Comissão de Ética no Uso de Animais em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (Número de ordem: 018/18).

Os animais foram distribuídos randomicamente entre os grupos

experimentais, utilizando-se 6-8 animais por grupo para os experimentos

comportamentais e 2-5 animais por grupo para os experimentos

mol3eculares/bioquímicos. Todos os experimentos comportamentais foram

conduzidos de maneira cega a fim de reduzir viés experimental. Os animais

permaneceram no laboratório a temperatura controlada (22 ± 2 ºC) durante um

período de adaptação de pelo menos 1 h antes da realização dos testes

comportamentais, realizados geralmente entre 08h00min e 16h00min. O número de

animais e a intensidade dos estímulos nocivos utilizados foram os mínimos

necessários para demonstrar efeitos consistentes.

Page 35: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

33

3.3. Procedimentos Experimentais

3.2.1 Neuropatia periférica induzida pelo paclitaxel

A neuropatia periférica dolorosa causada pelo paclitaxel (PTX) foi induzida

seguindo metodologia proposta por Polomano e colaboradores (2001) e adaptada

para camundongos (SMITH et al., 2004), com algumas modificações (COSTA et al.,

2011). O quimioterápico foi administrado durante cinco dias consecutivos, entre os

dias 0 e 4 do protocolo experimental. O PTX foi administrado por via intraperitoneal

(i.p.) na dose de 2 mg/Kg, diariamente, 1 vez ao dia. Animais controle receberam o

veículo (NaCl 0,9%). O volume de administração das soluções foi de 10 mL/Kg. Os

animais foram pesados antes da indução do modelo e semanalmente, a cada início

de semana, após a indução do modelo, durante o período total de avaliação dos

animais. A pesagem foi realizada em balança analítica.

3.2.2 Avaliação da sensibilidade mecânica

Os animais foram colocados individualmente em compartimentos de acrílico

transparente (9 x 7 x 11 cm) localizados sobre uma plataforma de arame elevada,

para permitir o acesso a superfície ventral das patas traseiras direitas. Os animais

foram ambientados por pelo menos 1h antes dos testes comportamentais. A

frequência de resposta de retirada das patas traseiras foi obtida através de 10

aplicações consecutivas (duração de 1 s cada) do filamento de Von Frey de 0,6 g

(VFH, Stoelting, Chicago, USA). O filamento 0,6 g, por produzir em média 20% de

frequência de retirada da pata, foi utilizado durante todo o trabalho por ser

considerado um valor adequado para a avaliação da hiperalgesia mecânica

(BORTOLANZA et al., 2002; QUINTÃO et al., 2005). Objetivando determinar o limiar

mecânico basal (B), todos os grupos de animais foram submetidos à avaliação

prévia e novamente avaliados em diferentes tempos após o tratamento com PTX. O

aumento de 2,5 vezes de porcentagem de retirada da pata (em relação ao basal de

cada animal) foi considerado como indicativo de indução de hiperalgesia mecânica.

Page 36: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

34

3.2.3 Avaliação da sensibilidade ao frio Os animais foram colocados individualmente em caixas de acrílico (9 x 7 x11

cm) localizadas sobre uma plataforma de arame elevada que permite o acesso às

patas dos animais. Após ambientação de 30 minutos, 100 μL de acetona padrão

analítico (PA) foram aplicados na superfície plantar da pata posterior direita com o

auxílio de uma seringa. Os animais foram observados por 2 minutos, e o tempo que

o animal permaneceu lambendo e/ou agitando a pata estimulada com a aplicação da

acetona foi contabilizado e considerado como indicativo de nocicepção declarada

(DE LA CALLE, 2002). A sensibilidade ao frio foi avaliada em vários intervalos de

tempo após a indução da neuropatia periférica induzida pelo PTX, o aumento no

tempo gasto com comportamentos nociceptivos foi considerado como indicativo de

hipersensibilidade térmica ao frio.

3.2.4 Avaliação da sensibilidade ao calor A avaliação da sensibilidade ao calor foi feita pela medida do tempo de

latência da retirada da pata frente a estimulação por um feixe de luz radiante

(HARGREAVES, 1988). A intensidade do feixe luminoso foi adequada para não

causar a retirada da pata dos animais controle num intervalo mínimo de tempo de 10

segundos. Inicialmente, os animais foram colocados sob funis de vidro localizados

sobre uma plataforma de vidro transparente, onde permaneceram pelo menos

durante 30 minutos antes do teste. Decorrido o tempo de adaptação dos animais ao

aparato, um feixe de luz previamente estabelecido foi incidido abaixo do fundo

transparente e posicionado sob a pata posterior direita dos animais. Os grupos de

animais foram submetidos à avaliação da sensibilidade ao calor antes e em

diferentes tempos após o tratamento com PTX. A hipersensibilidade térmica foi

representada pela redução do tempo de latência em relação ao tempo de resposta

basal de cada animal. Animais com medida acima de 20 segundos foram excluídos.

3.2.5 Avaliação da atividade da mieloperoxidase A migração de neutrófilos para a medula espinhal foi quantificada

indiretamente através da atividade da enzima mieloperoxidase (MPO). Para isso, os

animais foram sacrificados em diferentes tempos (8 – 24 horas e 7 - 14 dias) do

protocolo de indução com o quimioterápico paclitaxel e a medula espinhal foi

Page 37: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

35

coletada. O tecido foi homogeneizado em tampão (Na3PO4 0,5 M e 0,5% de

hexadeciltrimetilamônio (HTAB); pH 6,0), para a lise dos neutrófilos e liberação da

MPO para o sobrenadante, este sobrenadante foi coletado para a reação

colorimétrica. Foi utilizado 25 μL do sobrenadante para o ensaio de atividade da

MPO. A reação enzimática para MPO foi realizada na presença de

tetrametilbenzidina (TMB) 1,6 mM, NaPO4 80 mM e peróxido de hidrogênio (H2O2)

0,3 mM (ANDREWS; KRINSKY, 1982). A absorbância foi medida por

espectrofotometria em 690 nm, e os resultados foram expressos como densidade

ótica por grama de tecido.

3.2.6 Ensaio imunoenzimático (ELISA) para dosagem da citocina IL-1β

Os níveis teciduais de IL-1β na medula espinhal foram determinados em

diferentes tempos após o tratamento com o quimioterápico PTX (8 - 24 horas e 7 -14

dias). As medulas foram removidas e homogeneizadas com tampão fosfato. O

homogenato foi centrifugado a 10.000 RPM por 10 minutos a 4 ºC, e o sobrenadante

armazenado a -80 ºC até o momento da análise. Os níveis da citocinas foram

determinados utilizando-se Kits específicos IL1-β de ELISA (enzyme linked immuno

sorbent assay) de acordo com as recomendações do fabricante (R&D Systems). Os

resultados foram expressos por pg de IL-1 β por mililitro de sobrenadante.

3.2.7 Imunohistoquímica Coleta de tecidos Os camundongos tratados com PTX ou veículo foram eutanasiados em

diferentes tempos do protocolo de indução (8 – 24 horas e 7 -14 dias), para a coleta da

medula espinhal. Para tal, os animais foram anestesiados com quetamina (80 mg/kg,

i.p.) e xilazina (10 mg/kg, i.p.) e, logo em seguida, foi realizada uma perfusão com

solução salina (NaCl 0,9%) em seguida com paraformaldeído (PFA) 4%.

Preparo dos cortes histológicos

Após a fixação, as medulas espinhais dos animais foram desidratadas em

concentrações crescentes de álcool (70%, 90% e 100%) e clarificadas em xilol a

100% (xilol I, xilol II e xilol III) e embebidas em parafina. Os cortes teciduais (secção

Page 38: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

36

transversal) de 3 μm espessura foram obtidos em micrótomo (Leica RM2235) e

montados sobre lâminas cobertas com solução de ATPS, diluído em solução de

acetona PA a 5%. Logo após, as lâminas obtidas foram mantidas em estufa a uma

temperatura de 50 °C durante 1 h para adesão dos cortes às lâminas.

Após fixação, os cortes foram desparafinados em três xilol a 100% e

reidratados por passagens sucessivas em etanol em concentrações decrescentes

(100%, 90% e 70%). Em seguida, os cortes foram lavados em H2O destilada (2 x) e,

logo após, em solução de tetraborato de sódio a 5% para bloqueio dos radicais

aldeídicos livres.

Em seguida, as lâminas foram submetidas à recuperação antigênica

utilizando tampão citrato (ácido cítrico 0,1M + citrato de sódio 0,1 M) a 0,01M e pH

6,0 em steamer a 96oC por 30 minutos. Os cortes foram lavados com tampão fosfato

salina (PBS, 0,01M, pH=7,4) e, em seguida, incubados com H2O2 a 3% em metanol

por 20 min ao abrigo da luz. As lâminas foram retiradas do banho-maria, mantidas

durante 30 min à temperatura ambiente e lavadas com PBS 2x e com destilada 2x.

Para bloqueio de ligações inespecíficos os cortes foram incubados com

solução de albumina bovina 5% contendo gelatina, triton e Tween20 por 30 min em

câmara úmida e temperatura ambiente.

Detecção imunológica

A imunodetecção foi realizada utilizando anticorpo monoclonal anti-GFAP

(1:150 diluído em solução PBS/BSA 3%) e anti-IBA-1 (1:100 diluído em solução

PBS/BSA 3%). Os cortes foram incubados overnight em câmara úmida a

temperatura de 2-8 °C. No dia seguinte, deixadas a temperatura ambiente por 20

min e lavadas com tampão PBS/Tween20 a 0,25%. Após a lavagem as lâminas

foram incubadas com soro normal de cabra a 10% diluído em free fatty milk para

bloqueio de possíveis ligações inespecíficas advindas do anticorpo secundário do

polímero Histofine. Após lavagem as lâminas foram incubadas com o polímero anti-

rat e anti-rabbit Histofine conjugado a estreptavidina-peroxidase em câmara úmida

durante 1h e 30 minutos a temperatura ambiente. Posteriormente, as lâminas foram

lavadas três vezes em PBS/Tween20 (0,25%) por 5 minutos. Finalmente, os cortes

foram incubados com solução cromógena DAB+: 1-5% Tetracloruro de bifenilo

Page 39: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

37

3,3',4,4'-tretrailtetramonio para revelação da reação.

Contracoloração e montagem das lâminas

Após a revelação, foram realizadas a contracoloração dos cortes com solução

de hematoxilina de Harris (diluída 1:3 em água destilada). Em seguida os cortes

foram desidratados com concentrações crescentes de etanol (etanol 70%, 80%, 90%

e 100%), clarificados em xilol a 100% e as lâminas montadas com Entellan. Para

cada reação foi utilizado um controle negativo na ausência do anticorpo primário das

reações. As imagens foram obtidas utilizando objetiva de 40x e ocular de 10x em

microscópio óptico (OLYMPUS BX60) e câmera digital (Q-IMAGING Q31899),

acoplados. Imagens digitalizadas adquiridas e o número de células imunomarcadas

foi determinado utilizando Q-Capture Pro. Cada lâmina continha 3 cortes da medula

espinhal, de cada corte foi obtido 3 imagens de campos diferentes, totalizando 9

imagens por n. Para a quantificação foi considerado a média de células

imunomarcadas nos 9 campos analisados.

3.2.8 Depleção de neutrófilos Para avaliar o papel dos neutrófilos no modelo de dor neuropática induzida

por PTX, os camundongos foram depletados de neutrófilos, como descrito

anteriormente (RAEBURN et al., 2002; MANJAVACHI et al., 2015). Para isso, os

animais receberam sistemicamente vimblastina (5 mg/Kg, i.v.) 24 e 72 h antes da

primeira administração do PTX. A resposta de sensibilidade mecânica foi medida em

diferentes períodos de tempo após os procedimentos.

A fim de confirmar a depleção de neutrófilos induzida pelo tratamento com

vimblastina (5 mg/Kg, i.v.) foi realizada a contagem total e diferencial de leucócitos

em um grupo paralelo de animais. Para isso, amostras de sangue (1 mL) de animais

devidamente anestesiados foram coletadas por punção cardíaca em microtubos

contendo EDTA e processadas para contagens manual em câmara de Neubauer

com líquido de Turk para contagem total e extensões sanguíneas em lâminas para

coloração Wright e Giemsa para contagem diferencial. As coletas foram realizadas

em diferentes grupos animais no 3º e 18º dia após o tratamento com vimblastina, e

os valores de referência utilizados nas contagens foram descritos por Vianna (2007).

Page 40: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

38

3.2.9 Tratamento com minociclina

Para avaliar a participação da microglia na hipersensibilidade mecânica

induzida pelo PTX, os animais foram tratados com minociclina, um inibidor de

microglia. As doses e via de administração foram escolhidas com base em trabalhos

anteriores indicando uma inibição microglial após administração crônica de

minociclina (CHIN et al., 2017; ZYCHOWSKA M. et al., 2016). A minociclina foi

administrada durante sete dias consecutivos, entre os dias 0 e 6 do protocolo

experimental, por via i.p. na dose de 30 ou 100 mg/kg, diariamente, 1 vez ao dia.

Animais controle receberam o veículo (NaCl 0,9%). O volume de administração das

soluções será de 10 mL/Kg.

3.3.10 Análise estatística

Os resultados foram apresentados como a média ± erro padrão da média. A

normalidade dos dados foi testada pelos testes de normalidade de Kolmogorov-

Smirnov, D`Augostino e Shapiro-Wilk. Os dados com distribuição normal foram

avaliados por meio de análise de variância (ANOVA) de uma via ou duas vias com

medidas repetidas, seguidas dos pós-testes de Dunnetts e Bonferroni. Os dados que

não apresentaram distribuição normal foram avaliados pelo teste de Kruskal-Wallis

seguido do pós-teste de comparações múltiplas de Dunn. Valores de P menores que

0,05 (P<0,05) foram considerados como indicativos de significância. As analises

estatísticas foram realizadas utilizando o software GraphPad Prism® 5.00.

Page 41: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

39

4. RESULTADOS

4.1. Caracterização do modelo de neuropatia periférica induzida pelo PTX

O primeiro objetivo deste trabalho consistiu em caracterizar o modelo da dor

neuropática induzida pelo paclitaxel, para isso os animais foram avaliados em

diferentes tempos quanto à sensibilidade plantar a estímulos térmicos (frio e calor) e

mecânico.

O primeiro parâmetro avaliado foi a sensibilidade ao frio através da aplicação

de acetona na pata traseira de camundongos. Como observado na Figura 5 (A), a

resposta provocada pela aplicação de acetona não diferiu entre os animais tratados

com PTX e veículo (controle). Este resultado indica que o tratamento com PTX não

alterou a sensibilidade de camundongos ao frio.

Em seguida, avaliou-se a sensibilidade ao calor pelo método de Hargreaves.

De modo semelhante ao teste da acetona, não se observou diferença entre os

grupos controle e PTX quanto a sensibilidade ao calor (Figura 5B), indicando que

animais tratados com o quimioterápico não desenvolveram hiperalgesia térmica ao

calor.

Page 42: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

40

Figura 5. Avaliação da sensibilidade térmica no modelo de neuropatia induzida por Paclitaxel (PTX). Avaliação da sensibilidade ao frio (A; n=9) e ao calor (B; n=11-12) em diferentes intervalos de tempo após a administração do PTX. Cada grupo representa a média de 8-12 animais, e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). ANOVA de duas vias, seguido pelo teste de Bonferroni. B, limiar basal.

Page 43: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

41

Por conseguinte, avaliamos a sensibilidade mecânica através da aplicação de

filamentos de Von Frey. A partir do 7º dia após a primeira administração do PTX, foi

possível observar uma diferença significativa na sensibilidade mecânica dos animais

quando comparados ao grupo controle que recebeu apenas o veículo (NaCl 0,9%).

Esta resposta se manteve até o 21º dia do protocolo de avaliação o que demonstra

que o perfil neuropático foi estabelecido nos animais (Figura 6A).

Com intuito de avaliar o bem-estar dos animais, foi realizado o

acompanhamento do peso corporal, onde os animais foram pesados semanalmente

após o tratamento com PTX. Como observado na Figura 6 (B) durante o protocolo o

grupo tratado com quimioterápico ganhou mais peso em relação ao grupo controle.

Page 44: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

42

Figura 6. Caracterização do modelo de neuropatia periférica induzida pelo paclitaxel (PTX). Avaliação da sensibilidade mecânica (A; n=9) e avaliação do peso dos animais (B; representado pelo Δ do peso, n= 9). Cada grupo representa a média de 9 animais, e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). *p<0,05, ANOVA de duas vias, seguido pelo teste de Bonferroni. B, limiar ou peso basal.

Page 45: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

43

4.2. Avaliação da migração de neutrófilos para medula espinhal após o

tratamento com PTX

Considerando que a migração e participação de células do sistema imune

como macrófagos e neutrófilos são importantes para o estabelecimento e

manutenção da dor neuropática em diferentes modelos murinos (LIU T, et al., 2000;

GUERRERO et al., 2008; MANJAVACHI et al., 2014), avaliamos se existe aumento

de neutrófilos na medula espinhal dos animais com neuropatia no presente modelo.

Para tal, foi quantificada a atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) na medula

espinhal dos camundongos em diferentes períodos de tempo após a administração

do PTX. A MPO é um indicador indireto da migração de neutrófilos. Conforme

demonstrado na Figura 7, a atividade da enzima MPO na medula espinhal não foi

alterada significativamente nos animais tratados com PTX quando comparado com o

grupo controle.

0

200

400

600

Veículo 8h 24h 7d 14d

Tempo após tto com PTX

MP

O (

D.O

./g

de t

ecid

o)

Figura 7. Avaliação da atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) na medula espinhal de camundongos tratados com paclitaxel (PTX). Cada grupo representa a média de 6 a 10 animais por grupo. E as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM. Teste de Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de comparações múltiplas de Dunn.

Page 46: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

44

4.3. Efeito da depleção de neutrófilos sobre a hipersensibilidade mecânica

induzida pelo PTX

Para avaliar a importância dos neutrófilos na hipersensibilidade mecânica

induzida pelo PTX, realizamos depleção farmacológica de neutrófilos com

vimblastina. A figura 8A ilustra que o tratamento com a vimblastina não interferiu

com o desenvolvimento da hiperalgesia mecânica induzida pelo PTX. Uma vez que

a vimblastina também é um quimioterápico, avaliamos se este composto seria capaz

de alterar o limiar mecânico de camundongos. No entanto, a administração de

vimblastina não alterou a sensibilidade mecânica de camundongos (Figura 8B).

É importante destacar que o tratamento com vimblastina reduziu

significativamente a contagem total (não demonstrado) e diferencial (Tabela 1) de

neutrófilos no sangue de camundongos no 3º dia após o tratamento, ou seja, antes

da indução da neuropatia com PTX (Tabela 1). No entanto, os níveis celulares

retornaram aos valores normais no 18º dia após o tratamento com vimblastina, ou

seja, após o período de avaliação da neuropatia induzida pelo PTX (Tabela 2).

Resultados semelhantes foram observados para a contagem total de leucócitos

(Tabelas 1 e 2). Não foi observada perda de peso ou alteração na temperatura e nos

sinais aparentes de bem-estar animal após o tratamento com vimblastina (dados não

demonstrados).

Page 47: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

45

Figura 8. Efeito da depleção de neutrófilos sobre a neuropatia causada pelo paclitaxel (PTX). (A) A depleção de neutrófilos não altera a hipersensibilidade mecânica induzida por PTX. (B) O tratamento com vimblastina não altera a sensibilidade mecânica em camundongos. Cada representa a média de 6 - 9 animais, e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). *P <0,05, ANOVA de duas vias, seguido pelo teste de Bonferroni. B, limiar basal.

0

20

40

60

80

100

Controle

PTX (2 mg/kg, i.p.)

+ Vimblastina (5 mg/kg, i.v.)

B 7 8 9 10 14

***

**

A

Tempo após o 1o tratamento com PTX (dias)

Fre

qu

ên

cia

de

Re

sp

os

ta (

%)

0

20

40

60

80

100

Controle

Vimblastina (5 mg/kg, i.v.)

B 7 8 9 10 14

B

Tempo após o 1o tratamento com Vimblastina (dias)

Fre

qu

ên

cia

de

Re

sp

os

ta (

%)

Page 48: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

46

Tabela 1. Contagem total e diferencial de leucócitos no sangue de animais no 3º dia após o tratamento com vimblastina.

Valores de referência

(Vianna et al., 2007)

Controle Vimblastina

Estatística

Media Erro padrão Media Erro

padrão

Leucócitos (mm³) 6000 - 15000 2700 ± 228,2 1250 ± 176,8 *(P <0.05)

Neutrófilo (%) 20 -30 19,25 ± 4,131 0,75 ± 0,25 *(P <0.05)

Linfócito (%) 70-80 80 ± 4,203 99,25 ± 0,25 NS

Monócito (%) 0-2 0 0 0 0 NS

Eosinófilo (%) 0-7 0 0 0 0 NS

Basófilo (%) 0-1 0 0 0 0 NS

O total de leucócitos e a porcentagem de neutrófilos foi significativamente reduzida no grupo vimblastina em comparação com o grupo controle. Resultados expressos como média ± erro de cada grupo. *P< 0,05, Teste t de Student.

Tabela 2. Contagem total e diferencial de leucócitos no sangue de animais no 18º dia após o

tratamento com vimblastina.

Valores de

referência

(Vianna et al.,

2007)

Controle PTX PTX + Vimblastina

Estatística

Media Erro

padrão Media Erro padrão Média Erro padrão

Leucócitos (mm³) 6000 - 15000 4300 ± 856,9 5831,25 ± 1088 5143,75 ±635,7 NS

Neutrófilo (%) 20 -30 19,88 ± 3,399 17,88 ± 2,887 23,75 ± 4,139 NS

Linfócito (%) 70-80 78,5 ± 3,561 80,38 ± 2,815 73,25 ± 4,689 NS

Monócito (%) 0-2 0,875 ± 0,2950 1,25 ± 0,2500 1,25 ± 0,3134 NS

Eosinófilo (%) 0-7 0,625 ± 0,3750 0,5 ± 0,2673 0,25 ± 0,1637 NS

Basófilo (%) 0-1 0,125 ± 0,1250 0 0 0,25 ± 0,1637 NS

O total de leucócitos e a porcentagem de neutrófilos retornam aos valores normais comparáveis no grupo vimblastina em comparação com o grupo controle. Resultados expressos como média ± erro de cada grupo. Teste ANOVA de uma via, seguida pelo pós-teste de Bonferroni.

Page 49: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

47

4.4. Avaliação dos níveis da citocina pró-inflamatória IL-1β na medula espinhal

de animais tratados com PTX

Dentre os mediadores inflamatórios envolvidos na inflamação espinhal a

citocina pró-inflamatória IL-1β é uma das principais implicadas em participar da dor

neuropática (PINHEIRO-RIBEIRO et al., 2017). Neste sentido avaliamos o possível

aumento dos níveis da citocina IL-1β na medula espinhal dos camundongos após o

tratamento com o PTX. Os níveis de IL-1β na medula espinhal foram quantificados

em diferentes períodos experimentais. Conforme ilustrado na Figura 9, os níveis de

IL-1β na medula espinhal dos animais tratados com veículo ou PTX foram

semelhantes.

0

20

40

60

Veículo 8h 24h 7d 14d

Tempo após tto com PTX

IL-1

(p

g/m

L)

Figura 9. Avaliação dos níveis da citocina pró-inflamatória IL-1β na medula espinhal de camundongos submetidos a neuropatia induzida por quimioterápico. Os níveis de IL-1β foram quantificados por ELISA entre 8h e 14 dias após a primeira administração do paclitaxel (PTX). Cada grupo representa a média de 5 animais, e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). Teste de Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de comparações múltiplas de Dunn.

Page 50: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

48

4.5. Avaliação de gliose na medula espinhal de animais tratados com PTX

Estudos sugerem que a micro e/ou astrogliose da medula espinhal apresenta

papel importante na dor crônica (GAO YJ e JI RR, 2010; TSUDA et al., 2005; INOUE

K. e TSUDA M, 2018). Portanto, realizamos a análise quantitativa para a proteína

glial fibrilar ácida (GFAP) presente no citoplasma dos astrócitos, nos cortes

histológicos de medula espinhal dos animais tratados com veículo ou com PTX. A

Figura 10 demonstra que o tratamento com o PTX induziu um aumento significativo

na expressão de GFAP na medula espinhal dos animais 24 h após a primeira

administração (Figura 10).

Também realizamos imunohistoquimica para avaliação da expressão da

molécula adaptadora de cálcio ionizado (Iba-1), classicamente utilizada como

marcador de células microgliais. A Figura 11 mostra que o tratamento com o PTX

não alterou o número de positivas para Iba-1 (micróglia) na medula espinhal dos

animais tratados com PTX nos diferentes tempos avaliados (Figura 11).

Page 51: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

49

Figura 10. Análise da imunoexpressão de astrócitos (GFAP) na medula espinhal de animais tratados com paclitaxel (PTX). Imagens representativas (aumento de 400x) da imunoreatividade para os astrócitos (GFAP) na medula espinhal de animais controle que receberam apenas veículo, e paclitaxel (8 h, 24 h – 7d e 14d) após a indução do modelo. O gráfico representa a avaliação quantitativa do número de células positivas nos tempos de 8 h, 24 h, 7 dias e 14 dias após a primeira administração do PTX. Cada grupo representa a média de 2 animais (9 imagens de cada lâmina analisada contendo 03 cortes histológicos) e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). Teste de Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de comparações múltiplas de Dunn. *P< 0,05.

Page 52: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

50

Figura 11. Análise da imunoexpressão de microglia (iba-1) na medula espinhal de animais tratados com paclitaxel (PTX). Imagens representativas (aumento de 400x) da imunoreatividade para microglia (iba-1) na medula espinhal de animais controle que receberam apenas veículo, e paclitaxel (8 h, 24 h – 7d e 14d) após a indução do modelo. O gráfico representa a avaliação quantitativa do número de células positivas nos tempos de 8 h, 24 h, 7 dias e 14 dias após a primeira administração do PTX. Cada grupo representa a média de 3 animais (9 imagens de cada lâmina analisada contendo 03 cortes histológicos) e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM). Teste de Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de comparações múltiplas de Dunn.

Page 53: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

51

4.6. Efeito do tratamento com minociclina sobre a hipersensibilidade mecânica

causada pelo PTX

Para avaliar a possível participação da microglia na hipersensibilidade

mecânica causada pelo PTX, os animais foram tratados com diferentes doses de

minociclina, um inibidor de ativação microglial, nos dias 0 e 6 do protocolo

experimental descrito acima (Pagina 35). O tratamento com a minociclina na menor

dose (30 mg/kg) mostrou uma tendência em reduzir a hipersensibilidade mecânica

causada pelo PTX (Figura 12A). Então nos perguntamos se o tratamento com este

inibidor em uma maior dose produziria um efeito mais pronunciado; assim,

realizamos o tratamento com minociclina na dose de 100 mg/kg e observamos que

este tratamento preveniu significativamente o desenvolvimento da hipersensibilidade

mecânica causada pelo PTX (Figura 12B).

Page 54: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

52

Figura 12. Bloqueio da microglia reduziu a hiperalgesia mecânica induzida por PTX: O tratamento preventivo com a minociclina 30 mg/kg resultou numa tendência em reduzir a sensibilidade mecânica, quando comparada ao grupo veículo (A). O tratamento com a minociclina na dose de 100 mg/kg reduziu significativamente a sensibilidade mecânica dos animais quando comparada ao grupo que recebeu apenas o veículo nos dias 7 e 8 do protocolo (B). Cada grupo representa a média de 8 animais, e as barras verticais indicam o erro padrão da média (EPM) (*p<0,05, ANOVA de duas vias, seguido pelo teste de Bonferroni). B, limiar basal.

Page 55: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

53

5. DISCUSSÃO

A dor neuropática é uma condição clínica que reduz a qualidade de vida dos

pacientes acometidos pois o desconforto gerado leva a distúrbios do sono, do

apetite e psíquicos. As opções de tratamentos farmacológicos disponíveis

atualmente são ineficazes, com diversos efeitos adversos e podendo levar a

dependência de alguns fármacos. Além disso, a dor crônica gera muitos custos aos

sistemas de saúde, especialmente por ter um diagnóstico complexo, e estima-se que

pacientes com dor crônica usam os serviços de saúde cinco vezes mais que o

restante da população (SERETNY et al., 2014; McWILLIAMS et al., 2003; BREIVIK

et al., 2006; KAMALERI et al., 2008; VAN HECKE et al., 2013; KALIRA et al., 2013).

Ainda, tem sido relatado que pacientes com dor crônica também tem uma redução

em sua produtividade no trabalho (VAN LEEUWEN et al., 2006). Neste contexto, o

conhecimento acerca da fisiopatologia da dor crônica facilitaria o desenvolvimento

de novos medicamentos específicos e eficazes para o seu tratamento e,

consequentemente, levaria a um melhor manejo clínico destes pacientes e melhoria

na qualidade de vida dos mesmos.

A neuropatia periférica induzida por quimioterápico (NPIQ) é um efeito

adverso dose-limitante no tratamento do câncer, e assim como as demais etiologias

de dor neuropática, não possuí tratamento eficaz e seguro. Sendo assim, é

importante que se invista na busca de novos alvos para o desenvolvimento de novas

opções terapêuticas para o seu tratamento. Neste cenário, vários modelos animais

têm sido desenvolvidos e empregados para investigar os mecanismos envolvidos na

fisiopatologia da dor neuropática, e assim proporcionar o estudo de novas

abordagens farmacológicas.

O paclitaxel (PTX) é um quimioterápico de extrema importância na clínica

para o tratamento de canceres como o de mama e de ovário; no entanto, seu

emprego pode gerar neuropatia periférica crônica em até 70% dos pacientes após o

tratamento (BEIJERS et al. 2012). Neste âmbito, o modelo animal de dor

neuropática induzida pelo PTX é uma importante ferramenta para melhor

compreensão dos mecanismos por trás do desenvolvimento da dor causada por este

quimioterápico.

Neste estudo, os animais foram submetidos ao modelo de dor neuropática

induzida pelo PTX, como inicialmente descrito por Polomano e colaboradores

Page 56: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

54

(2001), desenvolvendo hipersensibilidade mecânica a partir do sétimo dia após a

primeira administração do PTX e permanecendo com esta alteração até o vigésimo

primeiro dia (Figura 6A). Por outro lado, não observamos alterações nos parâmetros

de sensibilidade térmica ao frio (Figura 5A) e térmica ao calor (Figura 5B). De fato,

dados da literatura demonstram que o tratamento com o PTX causa

hipersensibilidade mecânica em camundongos (MAKKER et al., 2017; SEGAT et al.,

2017). No entanto, os dados da literatura sobre hipersensibilidade térmica neste

modelo são controversos, alguns estudos mostram aumento da sensibilidade

(PEVIDA et al.,2013), enquanto outros mostram não haver alteração nestes

parâmetros (RUIZ-MEDINA et al., 2013).

É importante destacar que os animais tratados com PTX aumentaram o

ganho de peso de forma significativa (Figura 6B), no entanto dados da literatura

demonstram que camundongos tratados com PTX em uma dose superior a utilizada

em nosso estudo, de até 30 mg/kg, não apresentou alterações de peso (PARAYATH

et al., 2016).

Estudos recentes fornecem evidências de que a neuroinflamação

desempenha um papel crucial na dor crônica, de maneira geral a literatura indica

que as alterações celulares que ocorrem no sistema nervoso central e periférico

resultam na sensibilização dos neurônios responsáveis pela transmissão da dor

(WOOLF, 2007). Ainda, a migração de células do sistema imune para o local da

lesão neuronal periférica, bem como para o SNC, leva a liberação de mediadores

inflamatórios por estas células, tais como quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias,

que atuam na manutenção da hipersensibilidade dolorosa por aumentarem a

excitabilidade neuronal (COLLOCA et al, 2017).

Os neutrófilos são os leucócitos polimorfonucleares mais abundantes, na

inflamação os neutrófilos migram para o local da lesão. A migração de neutrófilos

está associada à dor inflamatória (GUERRERO et al., 2008), e a dor neuropática

induzida pela ligadura parcial do nervo ciático (MANJAVACHI et al., 2014). Na

primeira hora do início da inflamação os neutrófilos podem migrar através do

endotélio vascular e acumularem no local da lesão. Ainda as terminações nervosas

podem influenciar o recrutramento de neutrófilos através da inflamação neurogênica,

que ocorre mesmo livre da existência de patógenos. Durante a inflamação

neurogênica, os mediadores liberados pelos neurônios aferentes primários, SP,

Page 57: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

55

CGRP, IL-1, CXCL1 induzem a migração de leucócitos polimorfonucleares, esta

interação neuroimune facilita a sensibilização e o surgimento de um estado de dor

crônica (PERRETTI et al. 1993; GUERRERO et al., 2008; RITTNER et al., 2008;

MANJAVACHI et al., 2014).

A quimiocina CXCL1 costuma ser liberada por macrófagos endoteliais e é

quimiotática principalmente para neutrófilos, através da ligação aos seus receptores

CXCR1 e CXCR2 (RAVIDRAN et al., 2013). Além disso já foi reportada a sua

participação em diferentes modelos murinos de dor neuropática, tais como o modelo

de ligadura do nervo espinhal (SNL) (LI et al., 2007), modelo de ligadura do nervo

ciático (PSLN) e a própria administração de CXCL1 no nervo ciático dos

camundongos é capaz de gerar dor de forma similar a tais modelos (MANJAVACHI

et al., 2014). Foi descrito previamente que a quimiocina CXCL1 está aumentada na

medula espinhal de camundongos no modelo do paclitaxel (MANJAVACHI et al.,

2015).

Uma vez que CXCL1 é quimiotática para neutrófilos, inicialmente

investigamos o papel dos neutrófilos na neuropatia periférica causada pelo PTX,

através da quantificação da atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) na medula

espinhal dos camundongos submetidos ao modelo, como indicador indireto da

migração de neutrófilos (Figura 7). No entanto, a atividade da enzima MPO na

medula espinhal não foi alterada após as administrações do PTX, sugerindo não

haver aumento da infiltração de neutrófilos para a medula espinhal neste modelo.

Seguindo a investigação da importância dos neutrófilos para a

hipersensibilidade mecânica induzida pelo paclitaxel, realizamos a depleção de

neutrófilos com vimblastina, onde verificamos que o tratamento com vimblastina não

interferiu com o desenvolvimento da hiperalgesia mecânica induzida pelo PTX

(Figura 8A). Assim, este resultado corrobora os dados obtidos na quantificação da

atividade da MPO. Juntos estes resultados sustentam a hipótese de que os

neutrófilos parecem não ser cruciais para o estabelecimento da neuropatia causada

pelo PTX.

As citocinas são mediadores chaves no desenvolvimento da dor neuropática.

Evidências sugerem que as citocinas pró-inflamatórias como a Interleucina-1β (IL-

1β) são liberadas na medula espinhal e gânglio da raiz dorsal sob várias condições

de lesão e contribuem para a hipersensibilidade dolorosa. Nos últimos anos, com o

Page 58: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

56

aprofundamento dos estudos sobre dor neuropática e neuroinflamação, espera-se

que os mecanismos de ação de citocinas na dor neuropática proporcionem

novos alvos para o tratamento e prevenção da dor (JI et al., 2014; SOMMER et al.,

2018; KIGUCHI et al., 2010). Alguns estudos clínicos realizados em paciente com

fibromialgia, outro tipo de neuropatia, demonstram que os níveis séricos da IL-1β

estão aumentados (HERNANDEZ et al., 2010; BAZZICHI et al., 2007). Além disso, já

foi demonstrado que os níveis desta citocina também estão aumentados no nervo

ciático de camundongos no modelo de LPNC em camundongos (MANJAVACHI et

al., 2014).

Portanto neste estudo avaliamos o possível aumento dos níveis da citocina

IL-1β na medula espinhal no modelo de dor neuropática causado pelo PTX. No

entanto os níveis de IL-1β na medula espinhal dos camundongos não foram

alterados pelo tratamento com PTX (Figura 9).

Dentre as alterações patológicas celulares envolvidos na dor neuropática

incluem-se as modificações no equilíbrio entre excitação e inibição sináptica dos

neurônios de projeção da lâmina I da medula espinhal, e parte dessas mudanças

ocorrem também pelas mudanças nos interneurônios excitatórios e inibitórios das

lâminas I, II e/ou III. Como estas alterações persistem a longo prazo ainda não é

sabido, mas nos últimos anos as pesquisas têm-se voltado para investigar o papel

das células não neuronais tais como, monócitos, células T, macrófagos e células

gliais, e tais células parecem desempenhar um papel importante neste quadro

(INOUE e TSUDA, 2018).

A participação dos astrócitos em modelos de dor neuropática induzida por

quimioterápicos como oxaliplatina, bortezomibe e paclitaxel já foi previamente

relatada. Di Cesari Maneli e colaboradores (2014) mostraram que o tratamento

intratecal com inibidor de astrócitos (fluorocitrato) reduziu de forma significativa a dor

provocada pela oxaliplatina em ratos. Outro estudo ainda demonstrou que o

aumento de astrócitos na medula espinhal de camundongos após o tratamento com

paclitaxel é dependente da idade, ou seja, quanto mais jovem o animal maior é o

aumento nos níveis de marcadores para astrócitos (RUIZ-MEDINA et al., 2013).

Em nosso estudo, verificamos que o tratamento com PTX aumenta os níveis

espinhais do marcador para astrócitos (GFAP) 24 h após o primeiro tratamento,

sugerindo a participação destas células no modelo de neuropatia periférica induzida

Page 59: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

57

pelo PTX. Este dado corrobora diversos estudos da literatura que evidenciaram a

participação dos astrócitos em diferentes modelos de dor neuropática; além dos

estudos citados acima, podemos destacar também os estudos utilizando o modelo

de constrição do nervo ciático (ECHEVERRY et al., 2008), o de transecção do nervo

ciático (LIU et al., 2000) e o de ligadura parcial do nervo ciático (NARITA et al.,

2006).

Observamos que o aumento da imunomarcação para GFAP em 24h se

correlaciona com o aumento da quimiocina CXCL1 na medula espinhal de

camundongos tratados com PTX (MANJAVACHI et al., 2015). Este resultado sugere

que a ativação astrocitária pode estar envolvida nos mecanismos nociceptivos da

CXCL1 na fase inicial do modelo de estudo. Levando-se em consideração que os

astrócitos podem liberar CXCL1 na medula espinhal (ZHANG et al., 2013), pode-se

especular que estas células poderiam ser a fonte da quimiocina nos estágios iniciais

do modelo. No entanto, os níveis de CXCL1 permanecem elevados por até 7 dias do

protocolo experimental, indicando que outros mecanismos estão relacionados com

sua liberação, bem como com seus efeitos nociceptivos.

Seguindo o intuito de investigar o papel das células gliais no presente

modelo, investigamos a contribuição de células microgliais através da

imunomarcação para Iba-1 (marcador de microglia) e pela inibição farmacológica

com minociclina. Nossos resultados demonstram que os níveis espinhais de Iba-1

não estão alterados no modelo de estudo, sugerido não haver migração/ativação de

microglia na medula espinhal.

Curiosamente, os resultados obtidos nesse estudo diferem de um estudo

preliminar de nosso grupo, onde observamos aumento da imunorreação de Iba-1

(microglia) na medula espinhal de camundongos tratados com PTX (SEGAT et al.,

2017). A discrepância entre estes estudos poderia ser justificada pelos diferentes

protocolos de indução da neuropatia empregados nestes trabalhos. No presente

estudo utilizou-se administração de PTX por dias consecutivos, enquanto no

trabalho anterior o PTX foi administrado em intervalos de 2 dias. Porém, de acordo

com o que observamos em nosso trabalho, outro estudo realizado com o modelo de

dor neuropática induzida por oxaliplatina e bortezomibe em ratos demonstrou que

houve ativação de astrócitos, mas não da microglia, na medula espinhal dos animais

(ROBINSON MA et al., 2014).

Page 60: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

58

Apesar de não termos observado aumento no número de células da

microglia na medula espinhal dos animais tratados com PTX, o tratamento com

inibidor da ativação de microglia (minociclina) na dose de 100 mg/kg, mas não na

dose de 30 mg/kg, retardou o desenvolvimento de hipersensibilidade mecânica nos

animais. Corroborando nossos resultados, alguns autores relataram que o

tratamento com este inibidor de microglia foi capaz de reduzir a sensibilidade

mecânica nos modelos de neuropatia periférica induzida por oxaliplatina e

neuropatia diabética dolorosa induzida por estreptozotocina em ratos (DI CESARI E

MANELLI et al., 2014; YANG C et al, 2017).

Ainda não temos dados suficientes para explicar a discrepância entre os

dados moleculares e farmacológicos acerca do envolvimento da microglia neste

modelo. No entanto, há estudos sugerindo que a minociclina pode ser eficaz em

modelos de dor neuropática por agir em células mononucleares periféricas, incluindo

os macrófagos que migram para os gânglios da raiz dorsal (GRD) (LIU CC et al,

2010). Liu e colaboradores (2010) demonstraram que o tratamento com a

minociclina reduziu a hipersensibilidade mecânica induzida por PTX através da

redução da infiltração de macrófagos no GRD. Ademais, a supressão dos níveis

séricos da interleucina-6 (IL-6) em um modelo de constrição de nervo periférico já foi

atribuída como efeito neuroprotetor da minociclina (ZANJANI TM et al., 2006;

ZANJANI et al., 2016). Ainda, é importante ressaltar que aqui nós avaliamos apenas

quantitativamente se o número de células da microglia estaria alterado, o que não

descarta a possibilidade de que as células possam estar mais ativas e atuantes, o

que justificaria o fato do inibidor de microglia ter um efeito considerável sobre a

hipersensibilidade mecânica no presente modelo.

Juntos os resultados do presente estudo sugerem que a migração de

neutrófilos e a liberação da citocina pró-inflamatória IL-1 não estão envolvidos na

fisiopatologia da neuropatia periférica induzida pelo PTX em camundongos. Nossos

resultados acerca do envolvimento da microglia são ainda inconclusivos e, portanto,

não é possível concluir se a ativação/migração de microglia poderia estar envolvida

no presente modelo. No entanto, os astrócitos parecem estar ativados nos estágios

iniciais do modelo.

O presente estudo contribui para a compreensão dos mecanismos

inflamatórios espinhais envolvidos na neuropatia periférica dolorosa causada pelo

Page 61: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

59

PTX, especialmente por esclarecer a participação de neutrófilos e astrócitos na

medula espinhal. Estes achados contribuirão para estudos futuros procurando

esclarecer os mecanismos da neuropatia periférica induzida pelo PTX, o que poderá

auxiliar na descoberta de novas alternativas terapêuticas para o tratamento desta

condição clínica.

Page 62: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

60

6. CONCLUSÕES

• O tratamento com PTX causou hipersensibilidade mecânica, mas não ao frio ou

ao calor, em camundongos. Estes dados estão de acordo com a literatura, onde

alguns os estudos relatam não haver alteração do limiar térmico após o

tratamento com PTX, mas haver hipersensibilidade mecânica;

• A atividade da enzima mieloperoxidase na medula espinhal não foi alterada pelo

tratamento com PTX, sugerindo que a migração de neutrófilos para a medula

espinhal não esteja alterada na patogênese do modelo de estudo;

• A depleção de neutrófilos, pelo tratamento com vimblastina, não interfere com o

desenvolvimento da neuropatia periférica causada pelo PTX, corroborando o

dado bioquímico e, em conjunto com o mesmo, confirma que a migração de

neutrófilos para a medula espinhal não contribui para a neuropatia periférica.

• Os níveis da citocina IL-1β na medula espinhal não foram alterados pelo

tratamento com PTX.

• A imunomarcação para astrócitos (GFAP) está significativamente aumentada 24

h após o primeiro tratamento com PTX, sugerindo o envolvimento dos astrócitos

neste modelo.

• Os níveis espinhais do marcador para microglia (Iba-1) não foram alterados pelo

tratamento com PTX, sugerindo que o modelo não depende da migração de

microglia na medula espinhal;

• O tratamento com o inibidor da ativação de microglia (minociclina) na dose de

100 mg/kg retardou o desenvolvimento da hipersensibilidade mecânica causada

pelo PTX, mesmo o número de células da micróglia não tendo sido alterado,

sugerindo então que a microglia possa ser importante para o desenvolvimento

da neuropatia periférica.

Page 63: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALKAN MELIKOGLU, M. e CELIK A. Does Neuropathic Pain Affect the Quality of Sleep? Eurasian J Med., v.49 n.1 p.40–43, 2017.

ABBADIE C, LINDIA JA, CUMISKEY AM, PETERSON LB, MUDGETT JS, BAYNE EK, DEMARTINO JA, MACINTYRE DE, FORREST MJ. Impaired neuropathic pain responses in mice lacking the chemokine receptor CCR2. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. ;100:7947–7952, 2003.

ANDREWS PC, KRINSKY NI. Quantitative determination of myeloperoxidase using tetramethylbenzidine as substrate. Analytical biochemistry. 127:346-350, 1982.

BALAYSSAC, D; FERRIER, J.; DESCOEUR, J; LING, B; PEZET, D; ESCHALIER, A.; AUTHIER N. Chemotherapy-induced peripheral neuropathies: from clinical relevance to preclinical evidence. Expert Opin. Drug Saf. 10: 407–417, 2011.

BAZZICHI L, ROSSI A, MASSIMETTI G, GIANNACCINI G, GIULIANO T, DE FEO F, CIAPPARELLI A, DELL'OSSO L, BOMBARDIERI S. Cytokine patterns in fibromyalgia and their correlation with clinical manifestations. Clinical and experimental rheumatology. 25:225–230, 2007.

BASBAUM, AI; BAUTISTA, D M; SCHERRER, G.; JULIUS, D. Cellular and Molecular Mechanismsof Pain. Cell. v.139, n. 2, p. 267-284, 2009.

BEIJERS AJ, JONGEN JL, VREUGDENHIL G. Chemotherapy-induced neurotoxicity: the value of neuroprotective strategies. Neth J Med. v.70, n.1 p.18-25, 2012.

BINSHTOK AM, ET AL. Nociceptors are interleukin-1beta sensors. J. Neurosci. 28:14062–14073, 2008.

BHANGOO, S. K. ET AL. CXCR4 chemokine receptor signaling mediates pain hypersensitivity in association with antiretroviral toxic neuropathy. Brain Behav. Immun. 21, 581–591, 2007.

BREIVIK, Harald et al. Survey of chronic pain in Europe: Prevalence, impact on daily life, and treatment. European Journal of Pain, [s. l.], v. 10, n. 4, p. 287–333, 2006.

BORTOLANZA, L.B; FERREIRA, J; HESS, S.C; DELLE MONACHE, F; YUNES, RA; CALIXTO, JB. Anti-allodynic action of the tormentic acid, a triterpene isolated from plant, against neuropathic and inflammatory persistent pain in mice. Eur. J. Pharmacol. 453: 203-208, 2002.

CAROZZI VA, CANTA A, CHIORAZZI A. Chemotherapy-induced peripheral neuropathy: What do we know about mechanisms? Neurosci Lett. 2; 596:90-107, 2015.

CARLSON, K, OCEAN, AJ, Peripheral neuropathy with microtubule- targeting agents: occurrence and management approach. Clin.Breast.Cancer 11: 73-81, 2011.

COSTA, R.; MOTTA, E.M.; DUTRA, R.C.; MANJAVACHI, M.N.; BENTO, A.F.;

Page 64: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

62

MALINSKY, F.R.; PESQUERO, J.B.; CALIXTO, JB. Anti-nociceptive effect of kinin B₁ and B₂ receptor antagonists on peripheral neuropathy induced by paclitaxel in mice. Br J Pharmacol 164:681-93, 2011.

COLLOCA L, LUDMAN T, BOUHASSIRA D, BARON R, DICKENSON AH, YARNITSKY D., FREERMAN R., TRUINI A., ATTAL N, FINNERUP NB., ECCLESTON C., KALSO E., BENNETT DL., DWORKIN RH., RAJA SN., Neuropatic pain. Nature Review Dis. Primers. 16;3:17002, 2017.

CHIN TY, KIAT SS, FAIZUL HG, WU W, ABDULLAH JM.MALAYS J Med Sci. V.24 p. 31-39. 2017.

CUNHA, FQ; LORENZETTI, BB.; POOLE, S.; FERREIRA, S.H. Interleukin-8 as a mediator of sympathetic pain. Br. J. Pharmacol. 104: 765-767, 1991.

CUNHA, TM; VERRI JR., W.A.; SILVA, JS; POOLE, S; CUNHA, FQ; FERREIRA, SH. A cascade of cytokines mediates mechanical inflammatory hypernociception in mice. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 102: 1755-1760, 2005.

DE LA CALLE, L.; MENA, MA; GONZALEZ-ESCALADA, J R; PAINO, C. L. Intrathecal transplantation of neuroblastoma cells decreases heat hyperalgesia and cold allodynia in a rat model of neuropathic pain. Brain Research Bulletin, v. 59, p. 205- 211, 2002.

DELEO JA, TANGA FY TAWFIK VL. Neuroimmune activation and neuroinflammation in chronic pain and opioid tolerance/hyperalgesia. Neuroscientist, 10(1):40-52, 2004.

DIAS T, LATORRE MR, APPOLINARIO J, FERREIRA KA, TEIXEIRA MJ. The prevalence of chronic pain in São Paulo (Brazil): a population-based study using telephone interview, in: 5th World Pain Congress - World Institute of Pain - WIP. New York: Wiley-Blackwell, 2009.

DI CESARE MANNELLI L, PACINI A, MICHELI L, TANI A, ZANARDELLI M, GHELARDINI C. Glial role in oxaliplatin-induced neuropathic pain. Exp Neurol. 261:22-33, 2014.

DWORKIN, R.H., et al. Pharmacologic management of neuropathic pain: evidence-based recommendations. Pain. 132(3): 273-251, 2007.

DWORKIN, R.H.; et al. Recommendations for the pharmacological management of neuropathic pain: an overview and literature update. Mayo Clin Proc. 85(3): S3-14, 2010.

EBBINGHAUS M, ET AL. The role of interleukin-1β in arthritic pain: main involvement in thermal, but not mechanical, hyperalgesia in rat antigen-induced arthritis. Arthritis Rheum. 64:3897–3907, 2012.

ECHEVERRY S, SHI XQ, ZHANG J. Characterization of cell proliferation in rat spinal cord following peripheral nerve injury and the relationship with neuropathic pain. Pain. 135 (1-2):37-47, 2008.

Page 65: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

63

FERREIRA SH, ET AL. Interleukin-1 beta as a potent hyperalgesic agent antagonized by a tripeptide analogue. Nature. ;334:698–700, 1988.

FERRIER, J., PEREIRA, V., Busserolles, J. et al. Emerging trends in understanding chemotherapy-induced peripheral neuropathy, Curr Pain Headache Rep 17: 364, 2013.

FLATTERS, SJ, BENNETT, GJ, Studies of peripheral sensory nerves in paclitaxel-induced painful peripheral neuropathy: evidence for mitochondrial dysfunction. Pain 122: 245-57, 2006.

FU KY, LIGHT AR, MAIXNER W. Relationship between nociceptor activity, peripheral edema, spinal microglial activation and long-term hyperalgesia induced by formalin. Neuroscience. 101:1127–1135, 2000.

GANGADHARAN V, KUNER R. Pain hypersensitivity mechanisms at a glance. Disease Models & Mechanisms. 6(4):889-895, 2013.

GUERRERO AT, VERRI WA JR, CUNHA TM, SILVA TA, SCHIVO IR, Dal-Secco D, Canetti C, Rocha FA, Parada CA, Cunha FQ, Ferreira SH, Involvement of LTB4 in zymosan-induced joint nociception in mice: participation of neutrophils and PGE2, J Leukoc Biol. Jan; 83(1):122-30, 2008.

GAO YJ, JI RR. Chemokines, neuronal-glial interactions, and central processing of neuropathic pain. Pharmacol. Ther. 126:56–68, 2010.

GUSTORFF B, DORNER T, LIKAR R, GRISOLD W, LAWRENCE K, SCHWARZ F, RIEDER A. Prevalence of self-reported neuropathic pain and impact on quality of life: a prospective representative survey. Acta Anaesthesiol Scand. v.52, p.132-6, 2008.

HERNANDEZ ME, BECERRIL E, PEREZ M, LEFF P, ANTON B, ESTRADA S, ESTRADA I, SARASA M, SERRANO E, PAVON L. Proinflammatory cytokine levels in fibromyalgia patients are independent of body mass index. BMC research notes. 3:156, 2010.

HAN,Y, SMITH, M.T. Pathobiology of cancer chemotherapy-induced peripheral neuropathy (CIPN). Front Pharmacol. 4:1-16, 2013.

HARGREAVES, K.; DUBNER, R.; BROWN, F.; FLORES, C.; JORIS, J. A new and sensitive method for measuring thermal nociception in cutaneous hyperalgesia. Pain. 32(1): 77-88,; 1988.

HUA XY, SVENSSON CL, MATSUI T, FITZSIMMONS B, YAHSH TL, WEBB M, Intrathecal minocycline attenuates peripheral inflammation-induced hyperalgesia by inhibiting p38 MAPK in spinal microglia. Eur J Neurosci. 22(10):2431-40,2005.

IMAI, S. et al. Epigenetic transcriptional activation of monocyte chemotactic protein 3 contributes to long-lasting neuropathic pain. Brain 136, 828–843, 2013.

INTENATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF PAIN. Classification of Chronic Pain: Part III - Pain Terms, A Current List with Definitions and Notes on Usage. Second Edition. Seattle. p. 209-214. 1994 UPDATES IN 2011 and 2014.

Page 66: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

64

Disponível em: http://www.iasp-pain.org. Acesso em: abril/2018.

INOUE T, KAZUHIDE M. Microglia in neuropathic pain: cellular and molecular mechanisms and therapeutic potential. Nature Reviews Neuroscience 19;138, 2018.

JAGGI, A.S.; SINGH N. Mechanisms in cancer-chemotherapeutic drugs- induced peripheral neuropathy. Toxicology 291: 1-9, 2012.

JI RR, et al. Glia and pain: is chronic pain a gliopathy? Pain. 154: S10–S28, 2013.

JI, R.R.; XU, Z.Z.; GAO, Y.J. Emerging targets in neuroinflammation-driven chronic pain. Nat Rev Drug Discov. 13(7): 533-548, 2014.

KALIRA, VICKI; TREISMAN, GLENN J.; CLARK, MICHAEL R. Borderline personality disorder and chronic pain: A practical approach to evaluation and treatment topical collection on psychiatric management of pain. Current Pain and Headache Reports, [s. l.], v. 17, n. 8, 2013.

KAMALERI, Yusman et al. Localized or widespread musculoskeletal pain: Does it matter? Pain, [s. l.], v. 138, n. 1, p. 41–46, 2008.

KAWAI K, KAWAI AT, WOLLAN P, YAWN BP. Adverse impacts of chronic pain on health-related quality of life, work productivity, depression and anxiety in a community-based study. Fam Pract, 2017.

KIDD J, PILKINGTON M, SCHELL M, FOGARTY K, SKEPPER J, TAYLOR C, THORN P, Paclitaxel affects cytosolic Ca2+ signals by opening the mitochondrial permeability transition pore, J. Biol. Chem. 277 6504–6510, 2002. KIGUCHI, N., MAEDA, T., KOBAYASHI, Y., FUKAZAWA, Y. & KISHIOKA, S. Macrophage inflammatory protein-1α mediates the development of neuropathic pain following peripheral nerve injury through interleukin-1β up-regulation. Pain 149, 305–315, 2010.

KUNER, R. Central mechanisms of pathological pain. Nature Medicine. n.16, n. 11, p. 1258 –66, 2010.

LACAGNINA MJ, WATKINS LR, GRACE PM, Toll-like receptors and their role in persistent pain. Pharmacol Ther. Apr; 184:145-158, 2018.

LATREMOLIERE, A.; WOOLF, C.J. Central sensitization: a generator of pain hypersensitivity by central neural plasticity. J. pain. 10(9): 895-926, 2009.

LI, H., XIE, W., STRONG, J. A. AND ZHANG, J.-M. Systemic antiinflammatory corticosteroid reduces mechanical pain behavior, sympathetic sprouting, and elevation of proinflammatory cytokines in a rat model of neuropathic pain. Anesthesiology, v.107 n.3, pp. 469–77, 2007.

LIU, C.-C., LU, N., CUI, Y., YANG, T., ZHAO, Z.-Q., XIN, W.-J., & LIU, X.-G. Prevention of Paclitaxel-induced allodynia by Minocycline: Effect on loss of peripheral nerve fibers and infiltration of macrophages in rats. Molecular Pain, 6, 76. 2010.

Page 67: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

65

LIU L, RUDIN M, KOZLOVA EN. Glial cell proliferation in the spinal cord after dorsal rhizotomy or sciatic nerve transection in the adult rat. Exp Brain Res, 131(1):64–73, 2000.

LIU T, VAN ROOIJEN N, TRACEY DJ, Depletion of macrophages reduces axonal degeneration and hyperalgesia following nerve injury. Pain. May; 86(1-2):25-32, 2000.

LOESER, JD, TREEDE, RD, The Kyoto protocol of IASP Basic Pain Terminology. Pain 137: 473-77, 2008.

MAKKER PGS, DUFFY SS, LEES JG, CHAMINI J. PERERA CJ, TONKIN RS, OLEG BUTOVSKY O, PARK, SB, GOLDSTEIND AND MOALEM-TAYLOR G. Characterisation of Immune and Neuroinflammatory Changes Associated with Chemotherapy-Induced Peripheral Neuropathy. PLoS One.12(1), 2017.

MANJAVACHI, M. N., COSTA, R., QUINTÃO, N. L. AND CALIXTO, J. B. The role of keratinocyte-derived chemokine (KC) on hyperalgesia caused by peripheral nerve injury in mice, Neuropharmacology. Elsevier Ltd, 79, pp. 17–27, 2014.

MANJAVACHI, M.N. COSTA, R. CALIXTO, J. B. Participação da quimiocina cxcl1 em modelos experimentais de dor crônica. 2015. 130 f. Tese (Doutorado) Pos-graduacao em Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina. MARTIN LJ, GERTZ B, PAN Y, PRICE AC, MOLKENTIN JD, CHANG Q, The mitochondrial permeability transition pore in motor neurons: involvement in the pathobiology of ALS mice, Exp. Neurol. 218 333–346, 2009.

MATSUSHITA, K. et al. Chemokine (C-C motif) receptor 5 is an important pathological regulator in the development and maintenance of neuropathic pain. Anesthesiology 120, 1491–1503, 2014.

MIRONOV K, IVANNIKOV M, JOHANSSON M, [Ca2+] signaling between mitochondria and endoplasmic reticulum in neurons is regulated by microtubules. From mitochondrial permeability transition pore to Ca2+-induced Ca2+ release, J. Biol. Chem. 280 (2005) 715–721, 2005.

MCWILLIAMS, Lachlan A.; COX, Brian J.; ENNS, Murray W. Mood and anxiety disorders associated with chronic pain: An examination in a nationally representative sample. Pain, [s. l.], v. 106, n. 1–2, p. 127–133, 2003.

MILLIGAN, E. D., ZAPATA, V., CHACUR, M., SCHOENIGER, D., BIEDENKAPP, J., O’CONNOR, K. A., VERGE, G. M., CHAPMAN, G., GREEN, P., FOSTER, A. C., NAEVE, G. S., MAIER, S. F. AND WATKINS, L. R. Evidence that exogenous and endogenous fractalkine can induce spinal nociceptive facilitation in rats, European Journal of Neuroscience, v.20 n.9, pp. 2294–2302, 2004.

NARITA M, YOSHIDA T, NAKAJIMA M, NARITA M, MIYATAKE M, TAKAGI T, YAJIMA Y, SUZUKI T. Direct evidence for spinal cord microglia in the development of a neuropathic pain-like state in mice. J Neurochem. 97(5):1337–1348, 2006.

Page 68: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

66

OLIVEIRA, K. B., FUJITA, T. C., ODA, J. M. M., AOKI, M. N., TATAKIHARA, R. I., CARNEIRO, J. L. DO V. AND WATANABE, M. A. E. Envolvimento das quimiocinas e seus receptores na patogênese de doenças infecciosas e inflamatórias. Biosaúde, pp. 41–64, 2007.

PALOMINO, D. C. T. AND MARTI, L. C. Chemokines and immunity, Einstein, 13(3), pp. 469–473, 2015. PARAYATH, Neha N. et al. Styrene maleic acid-encapsulated paclitaxel micelles: Antitumor activity and toxicity studies following oral administration in a murine orthotopic colon cancer model. International Journal of Nanomedicine, [s. l.], v. 11, p. 3979–3991, 2016.

PENG J, GU N, ZHOU L, EYO UB, MURUGAN M, GAN WB, WU LJ. Microglia and monocytes synergistically promote the transition from acute to chronic pain after nerve injury. Nature communications. 1;13, 2017.

PERRETTI M, AHLUWALIA A, FLOWER RJ, MANZINI S, Endogenous tachykinins play a role in IL-1-induced neutrophil accumulation: involvement of NK-1 receptors. Immunology. Sep; 80(1):73-7, 1993. PEVIDA M, LASTRA A, HIDALGO A, BAAMONDE A, MENÉNDEZ L. Spinal CCL2 and microglial activation are involved in paclitaxel-evoked cold hyperalgesia. Brain Res Bull. 95:21-7, 2013.

PINHO-RIBEIRO, F. A., VERRI, W. A., & CHIU, I. M. Nociceptor Sensory Neuron-Immune Interactions in Pain and Inflammation. Trends in Immunology, 38(1), 5–19, 2017.

POLMANO R.C.; MANNES A.J.; CLARK U.S.; BENNETT G.J. A painful peripheral neuropathy in the rat produced by the chemotherapeutic drug, paclitaxel. Pain 94: 293-30, 2001.

QUASTHOFF, S.; HARTUNG, H.P. Chemotherapy-induced peripheral neuropathy. J. Neurol 249: 9–17, 2002.

QUINTÃO, N.L.M.; MEDEIROS, R.; SANTOS, A.R.S.; CAMPOS, M.M.; CALIXTO, J.B. Effects of diacerhein on mechanical allodynia in inflammatory and neuropathic models of nociception in mice. Anesth.Analg. 101: 1763-1769, 2005.

RAVINDRAN, A., SAWANT, K. V., SARMIENTO, J., NAVARRO, J. AND RAJARATHNAM, K. Chemokine CXCL1 dimer is a potent agonist for the CXCR2 receptor. Journal of Biological Chemistry. v.288 n.17, pp. 12244–12252, 2013.

RAEBURN, C.D.; CALKINS, C.M.; ZIMMERMAN, M.A.; SONG, Y.; AO, L.; BANERJEE, A.; HARKEN, A.H.; MENG, X. ICAM-1 and VCAM-1 mediate endotoxemic myocardial dysfunction independent of neutrophil accumulation. Am. J. Physiol. Regul. Integr. Comp. Physiol. 283: R477-R486, 2002.

REN K, DUBNER R. Interactions between the immune and nervous systems in pain. Nature medicine. 16(11):1267-1276, 2010.

Page 69: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

67

REN K, DUBNER R. Neuron-glia crosstalk gets serious: role in pain hypersensitivity. Curr Opin Anaesthesiol. 21:570–579, 2008.

REUTERSHAN, J., MORRIS, M. A., BURCIN, T. L., SMITH, D. F., CHANG, D., SAPRITO, M. S. AND LEY, K. Critical role of endothelial CXCR2 in LPS-induced neutrophil migration into the lung. Journal of Clinical Investigation, v.116 n.3, pp. 695–702, 2006.

RITTNER HL, BRACK A, STEIN C, Pain and the immune system. Br J Anaesth. Jul; 101(1):40-48, 2008.

ROBINSON CR, ZHANG H, DOUGHERTY PM. Astrocytes, but not microglia, are activated in oxaliplatin and bortezomib-induced peripheral neuropathy in the rat. Neuroscience. 22; 274:308-17, 2014.

RUIZ-MEDINA J, BAULIES A, BURA SA, VALVERDE O. Paclitaxel-induced neuropathic pain is age dependent and devolves on glial response. Eur J Pain. 17(1):75-85, 2013.

SA K, BAPTISTA AF, MATOS MA, LESSA I. Prevalence of chronic pain and associated factors in the population of Salvador, Bahia. Rev Saúde Publica. 43(4):622-30, 2009.

SEGAT, Gabriela C. et al. Antiallodynic effect of β-caryophyllene on paclitaxel-induced peripheral neuropathy in mice. Neuropharmacology, [s. l.], v. 125, p. 207–219, 2017.

SERETNY, M., CURRIE, G.L., SENA, E.S., RAMNARINE, S., GRANT, R., MACLEOD, M.R., COLVIN, L.A., FALLON, M., Incidence, prevalence, and predictors of chemotherapy-induced peripheral neuropathy: a systematic review and metaanalysis. Pain 155, 2461-2470, 2014.

SMITH S.B.; CRAGER S.E.; MOGIL J.S. Paclitaxel-induced neuropathic hypersensitivity in mice: responses in 10 inbred mouse strains. Life Sci. 74: 2593-604, 2004.

SMITH EM, PANG H, CIRRINCIONE C, et al. Effect of duloxetine on pain, function, and quality of life among patients with chemotherapy-induced painful peripheral neuropathy: a randomized clinical trial. JAMA; 309(13):1359–67. 2013.

SCHLOSS JM, COLOSIMO M, AIREY C, ET AL. Nutraceuticals and chemotherapy induced peripheral neuropathy (CIPN): a systematic review.Clin Nutr. 2013.

SOMMER C; LEINDERS M; ÜÇEYLER N, Inflammation in the pathophysiology of neuropathic pain. Pain. 159(3):595–602, MAR 2018

SUTER MR, WEN YR, DECOSTERD I, JI RR. Do glial cells control pain? Neuron Glia Biol. 3(3):255-68, 2007.

THACKER, M. A., CLARK, A. K., BISHOP, T., GRIST, J., YIP, P. K., MOON, L. D. F., THOMPSON, S. W. N., MARCHAND, F. AND MCMAHON, S. B. CCL2 is a key mediator of microglia activation in neuropathic pain states. European Journal of

Page 70: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

68

Pain. 13(3), pp. 263–272, 2009.

TSUDA, M. Modulation of Pain and Itch by Spinal Glia, Neurosci. Bull. 34: 178, 2018.

TSUDA, MAKOTO et al. Neuropathic pain and spinal microglia: a big problem from molecules in ‘small’ glia. Trends in Neurosciences, Volume 28, Issue 2, 101 - 107. 2005.

VAN HECKE, O.; TORRANCE, N.; SMITH, B. H. Chronic pain epidemiology and its clinical relevance. British Journal of Anaesthesia, [s. l.], v. 111, n. 1, p. 13–18, 2013.

VAN LEEUWEN, Marina T. et al. Chronic pain and reduced work effectiveness: The hidden cost to Australian employers. European Journal of Pain, [s. l.], v. 10, n. 2, p. 161–166, 2006.

VIANNA, F.A.B. Guia terapêutico veterinário. 2 ed. Lagoa Santa: Editora Cem., 2007, p. 462.

WOOLF, CJ, MA, Q. Nociceptors – noxious stimulus detectors. Neuron. 55(3): 353-364, 2007.

WOOLF, CJ, What is this thing called pain? J Clin Invest, v. 120, n. 11, p. 3742-3744, 2010.

WOOLF, CJ, Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain 152: S2-15, 2011.

XU T, ZHANG XL, OU-YANG HD, LI ZY, LIU CC, HUANG ZZ, XU J, WEI JY, NIE BL, MA C, WU SL, XIN WJ. Epigenetic upregulation of CXCL12 expression mediates antitubulin chemotherapeutics-induced neuropathic pain. Pain. 158(4):637-648, 2017.

YANG C, GAO J, WU B, YAN N, LI H, REN Y, KAN Y, LIANG J, JIAO Y, YU Y. Minocycline attenuates the development of diabetic neuropathy by inhibiting spinal cord Notch signaling in rat. Biomed Pharmacother, Oct;94:380-385, 2017.

ZANJANI TM, SABETKASAEI M, MOSAFFA N, MANAHEJI H, LABIBI F, FAROKHI B. Suppression of interleukin-6 by minocycline in a rat model of neuropathic pain. Eur J Pharmacol. 24;538(1-3):66-72, 2006.

ZANJANI, TM. OSTAD, S.-N., LABIBI, F., AMELI, H., MOSAFFA, N., & SABETKASAEI, M. Minocycline Effects on IL-6 Concentration in Macrophage and Microglial Cells in a Rat Model of Neuropathic Pain. Iranian Biomedical Journal, 20(5), 273–279, 2016.

ZHANG ZJ., DONG, Y. L., LU, Y., ZHAO, Z. Q., GAO, Y. J., CAO, S., ZHAO, Z. Q. AND GAO, Y. J. Chemokine CCL2 and its receptor CCR2 in the medullary dorsal horn are involved in trigeminal neuropathic pain, J Neuroinflammation. V.9 n.1, p. 136, 2012.

Page 71: AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO NA MEDULA ESPINHAL EM UM …objdig.ufrj.br/59/teses/900151.pdf · 2020. 12. 11. · RESUMO Matias, Daiane Oliveira. Avaliação da inflamação na medula

69

ZHANG Z-J, CAO D-L, ZHANG X, JI R-R, GAO Y-J. Chemokine contribution to neuropathic pain: respective induction of CXCL1 and CXCR2 in spinal cord astrocytes and neurons. Pain. 154(10):2185-2197, 2013.

ZHANG ZJ, JIANG BC, GAO YJ, chemokines in neuron-glial cell interaction and pathogenesis of neuropathic pain. Cell Mol Life Sci. 74(18):3275-3291, 2017.

ZHAO, H., ALAM, A., CHEN, Q., A. EUSMAN, M., PAL, A., EGUCHI, S., WU, L. AND MA, D. The role of microglia in the pathobiology of neuropathic pain development: what do we know?, BJA: British Journal of Anaesthesia, v.118 n.4, pp. 504–516, 2017.

ZHUANG ZY, KAWASAKI Y, TAN PH, WEN YR, HUANG J, JI RR. Role of the CX3CR1/p38 MAPK pathway in spinal microglia for the development of neuropathic pain following nerve injury-induced cleavage of fractalkine. Brain Behav Immun. v.21 n. 5 p.642-51, 2007.

ZLOTNIK A, YOSHIE O. Chemokines: a new classification system and their role in immunity. Immunity. ; 12(2):121-7, 2000.

ZYCHOWSKA M, ROJEWSKA E, PIOTROWSKA A, KREINER G, MIKA J. Microglial Inhibition Influences XCL1/XCR1 Expression and Causes Analgesic Effects in a Mouse Model of Diabetic Neuropathy. Anesthesiology. v.125 n.3 p.573-89, 2016.