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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DA UFPB - CAMPUS I
CEVADA, Caroline M. (1); COSTA, Luísa D. de L. (1); SILVA, Camila C. (1); MARROQUIM, Flávia M. G. (2)
(1) Alunas de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB, e-mail: [email protected],
[email protected], [email protected];
(2) Arquiteta, Profª. Msc. da UFPB, e-mail: [email protected]
RESUMO
Neste trabalho pretendeu-se investigar a satisfação dos alunos em relação ao novo bloco do Centro de
Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade Federal da Paraíba – Campus I, no aspecto do conforto
ambiental. A metodologia fundamentou-se na Avaliação Pós-Ocupação (APO), com aplicação de
questionários, entrevistas e levantamentos físicos, além de medições de temperatura do ar, umidade
relativa do ar e níveis de ruído. De maneira geral, verificou-se um desempenho satisfatório da edificação
pelos alunos em relação ao conforto ambiental, porém mediante a análise técnica, a obra se mostrou
insuficiente em prover ambiência ideal em vários aspectos. O tipo de decisão arquitetônica pareceu ser o
implicador da maioria dos problemas, bem como a não-preocupação em valorizar artifícios sustentáveis de
uso da ventilação natural, e, sobretudo a falta de cuidado na organização espacial do edifício em relação à
atividade ao qual se destina a edificação. Constata-se que é de fundamental importância a identificação da
satisfação dos usuários do ambiente através de APO antes da ocorrência de qualquer tipo de reforma,
principalmente quando se trata de uma edificação destinada a abrigar indivíduos com diferentes
comportamentos e experiências de vida, como no caso de uma edificação escolar.
ABSTRACT
This paper aimed at investigating students’ degree of satisfaction regarding environmental comfort in the
new building of the Juridical Sciences Center, located at Campus I of Federal University of Paraíba.
Methodology was based on Post-Occupancy Evaluation (POE), with application of questionnaires, interviews
and physical rising support, besides measurement of air temperature, relative humidity and noise levels. On
average, it was verified that students consider the building to have satisfactory performance regarding
environmental comfort. However, through technical analysis, the building has shown to be insufficient in
providing ideal ambience in several aspects. The sort of architectural decision seemed to be the cause of
most problems, as well as the lack of concern with valuing sustainable assets of natural ventilation and,
above all, the lack of care with the spatial organization of the building regarding the activity to which it is
designed. It is evidenced that it is essential to identify building users’ degree of satisfaction through POE
before any renovation is carried out, mainly when it comes to a construction supposed to serve individuals
with different behaviors and backgrounds, as is the case of a school or university.
1. INTRODUÇÃO
É preocupante que nos dias de hoje ainda exista uma quantidade relevante de estabelecimentos de
ensino que não ofereçam as mínimas condições físicas para que ali sejam realizadas as atividades básicas
a que se propõem. O estado físico de equipamentos públicos é alarmante, principalmente nos países em
desenvolvimento como o Brasil. A conservação desses espaços é precária, resultado da qualidade do
projeto arquitetônico e da execução da construção.
O projeto arquitetônico de boa qualidade, ainda que otimizado em relação aos vários níveis de
conforto, nem sempre é suficiente para atingir a satisfação dos usuários de uma edificação; que não
compreendem decisões movidas à outra natureza fora o conforto e o bem-estar ambiente, gerando
desestímulo de permanência e convivência local (GURGEL, 1997).
A essas considerações, somam-se estudos como o de Bauman (1999) que concluiu que "ambientes
termicamente confortáveis favorecem a maximização da qualidade dos serviços" ou aos de Grandjean
(1998), onde “o calor excessivo em ambientes de trabalho proporciona cansaço e sonolência, que reduzem
a prontidão de resposta e aumenta a tendência a falhas”, ou ainda aos de Kroner (1994) que vê a
necessidade de uma análise minuciosa do grau de relação entre as variáveis que compõem o ambiente de
trabalho, entre essas, as de conforto térmico e as que fazem parte do processo produtivo, pois, segundo
ele, aquelas variáveis, se forem devidamente controladas, poderão representar aumento de produtividade.
Em uma universidade, mais precisamente em uma sala de aula, os alunos desenvolvem suas
tarefas assim como os trabalhadores no seu posto de trabalho. Contudo, nem sempre as variáveis
presentes nesses ambientes estão devidamente controladas, e esse fato pode comprometer o desempenho
dos alunos.
Uma boa qualidade de ensino depende não só da capacitação dos professores, como também das
condições físicas dos ambientes de estudo em geral. Já que existe relação direta da qualidade e da
produtividade com o ambiente de trabalho, pode-se afirmar que essas áreas de estudo precisam munir os
alunos e professores de condições saudáveis, garantindo a boa qualidade de aprendizado. Portanto, torna-
se relevante observar como os ambientes de Educação estão sendo utilizados e apreendidos por seus
usuários, uma vez que suas características implicam diretamente nessa percepção e indiretamente no
sucesso da função formadora e educadora das universidades.
Dentro desse contexto, a pesquisa aqui relatada objetivou identificar, a partir de métodos e técnicas
de APO, o índice de satisfação dos alunos do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB, no aspecto do
conforto ambiental, considerando seus valores, expectativas e necessidades em relação à edificação. Deste
modo, pretende-se que as informações deste artigo possam incentivar a existência de futuras melhorias
para o bloco, bem como servir de base para projetos semelhantes na Universidade, ansiando que estes
prezem pelo conforto dos seus usuários.
2. O CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
O Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) localiza-se no Campus I da Universidade Federal da Paraíba,
na cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. A cidade se encontra no litoral do estado,
nordeste brasileiro, na porção mais oriental das Américas do Brasil, e possui latitude 7º09'28’’S e longitude
de 34º47'30" O. O clima da cidade é quente e úmido, com temperaturas médias anuais de 26ºC e umidade
relativa média anual de 80%. Os ventos mais freqüentes são provenientes do quadrante Leste (SE, L e NE),
sendo que os ventos SE e L são constantes o ano inteiro e o vento NE ocorre nos meses mais quentes do
ano.
O CCJ se destaca na paisagem dos Centros de Ensino da UFPB pela sua arquitetura diferenciada
das demais edificações de seu entorno. Cercado de uma paisagem bastante arborizada, a edificação foi
implantada em "L", com fachadas ladrilhadas, panos de vidro em alguns trechos e uma grande área de
convívio, sendo parte dela coberta e outra parte exposta ao sol, delimitada por pilares de concreto, numa
releitura do que seria um 'propileu grego' (Figuras 1, 2, 3, 4 e 5).
Figura 1 - Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade Federal da Paraíba.
Figuras 2, 3 e 4 - Áreas de estacionamento do CCJ e auditório ao fundo.
Figuras 5, 6 e 7 - Pátio descoberto; pátio coberto e corredores do bloco do CCJ.
O bloco, destinado aos estudantes do curso de Direito da instituição de ensino, foi projetado pelo
arquiteto Claudino Lins Nóbrega e teve sua construção iniciada em janeiro de 2007, sendo concluída em
setembro de 2008 (houve algumas modificações com relação ao projeto inicial, sendo a mais considerável o
deslocamento do centro de cerca de 10 metros no sentido sudeste, com o intuito de não interferir
bruscamente na vegetação do local).
A estrutura física do CCJ é constituída de: no pavimento térreo tem-se a biblioteca, auditório, salas
administrativas (salas dos professores, secretarias e departamentos) e área de apoio (almoxarifado, copa e
banheiros); no pavimento superior, localizam-se salas administrativas, salas de aula e área de apoio
(diretório acadêmico, sala de xerox e banheiros). Conta ainda com estacionamento, pátio descoberto e
coberto, além das áreas de circulação (corredores, escadas e rampas) (Figura 6).
Figura 6 – Setorização do pavimento térreo e do primeiro pavimento do CCJ/UFPB.
Fonte: Plantas - Arquivo da Prefeitura Universitária - UFPB, modificado pelo grupo. Imagens - Acervo do grupo, 2010.
Atualmente o CCJ-Campus I possui 15 turmas sendo 6 no período matutino, 3 no vespertino e 6 no
noturno, totalizando aproximadamente 680 alunos na graduação.
Apesar da edificação ter sido implantada para um melhor aproveitamento dos ventos
predominantes, alguns ambientes dispõem de climatização artificial (pavimento térreo: salas administrativas,
biblioteca e auditório; pavimento superior: salas administrativas); as salas de aula (1º andar) são equipadas
com ventiladores de teto.
. 3. METODOLOGIA
O processo metodológico adotado neste artigo fundamentou-se na Avaliação Pós-Ocupação (APO),
adotando-se uma APO do tipo indicativa - onde objetiva-se identificar os aspectos-problema e oferecer
soluções ou indicações imediativas ao objeto analisado – com enfoque no conforto ambiental (ORNSTEIN;
ROMERO, 1992).
Para uma melhor aplicação da metodologia o trabalho foi subdividido em duas etapas: 1)- avaliação
ambiental e 2)- avaliação dos usuários, além da etapa preliminar que consistiu basicamente na coleta de
dados sobre a edificação, através de levantamentos de campo e de arquivo, entrevistas com pessoas-
chaves, observações e registros fotográficos.
3.1. AVALIAÇÃO AMBIENTAL
A avaliação ambiental foi realizada através de medições de temperatura do ar, umidade relativa do
ar e níveis de ruído (pressão sonora), com a utilização dos seguintes aparelhos: Estação Meteorológica La
Crosse 2310 – RX e Decibelímetro Minipa MSL – 1352A. Algumas medições in loco foram comparadas com
o recomendado em normas específicas.
As medições ocorreram no dia 28 de abril às 9, 15 e 21h, de acordo com o sugerido pela
Organização Meteorológica Mundial (OMN) em 6 pontos distintos do CCJ - escolhidos pela maior
permanência de alunos - sendo 3 pontos no pavimento térreo e 3 no pavimento superior: PONTO 1 – pátio
descoberto, PONTO 2 – pátio coberto, PONTO 3 – sala de aula, PONTO 4 – corredor sudeste (entre salas
de aula e banheiros), PONTO 5 – sala de aula e PONTO 6 – corredor nordeste (Figura 7).
Figura 7 – Plantas baixas do CCJ com indicação dos 6 pontos de medição.
3.2. AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS
Esta avaliação foi realizada a partir da aplicação de questionários em 6 turmas do curso de Direito
do CCJ com alunos do 1º, 2º e 3º períodos nos turnos matutino (3 turmas) e noturno (3 turmas), sendo que
63,7% apresentava idade até 20 anos, 21,4% tinha idade entre 21 e 25 anos e 14,9% representavam os
alunos com idade superior a 26 anos. O período vespertino é formado por alunos de períodos mais
adiantados e que estudaram os primeiros anos do curso em um antigo prédio fora do Campus I da UFPB (o
que poderia influenciar nos resultados da pesquisa).
O questionário contava com questões subjetivas e objetivas com as seguintes escalas de
satisfação: ruim, regular, bom e ótimo, de modo a identificar a satisfação dos usuários em relação às salas
de aula, áreas comuns (banheiros, corredores, biblioteca, auditório, corredores e escada), áreas externas
(pátio coberto e descoberto, estacionamento e paisagismo), além de aspectos gerais do bloco (limpeza,
segurança, sinalização e acessibilidade). Neste artigo serão abordados apenas os aspectos referentes ao
conforto ambiental dos seguintes espaços: salas de aula, corredores e os pátios descoberto e coberto,
como áreas externas.
Foram aplicados 168 questionários, sendo 82 no turno matutino e 86 no noturno, representando
aproximadamente 25% do total de alunos matriculados no período escolar em que foi realizada a pesquisa.
Todos os dados obtidos, tanto da avaliação ambiental quanto dos usuários, foram organizados em formas
de tabelas e gráficos para melhor compreensão. O trabalho contou com a participação dos alunos da
disciplina Técnicas de Avaliação Pós-Ocupação (TOP-32) do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Paraíba.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. AVALIAÇÃO AMBIENTAL
4.1.1. Temperatura do ar e umidade relativa do ar
Na Tabela 1 encontram-se os valores obtidos para temperaturas e umidade do ar nos 6 pontos de
medição do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB.
Tabela 1 – Temperatura do ar e umidade relativa do ar nos 6 pontos de medição do CCJ.
PONTO Temperatura (⁰C) Umidade (%)
9h 15h 21h 9h 15h 21h
PONTO 1 – Pátio descoberto 33.0 34.3 24.0 66 64 79
PONTO 2 – Pátio coberto 30.5 32.0 24.4 71 65 80
PONTO 3 – Sala de aula (térreo) 30.1 29.2 27.5 72 68 89
PONTO 4 – Corredor a sudeste 28.4 25.2 26.4 76 71 89
PONTO 5 – Sala de aula (1º andar) 29.0 29.6 24.9 77 71 82
PONTO 6 – Corredor a nordeste 28.0 26.3 25.9 76 72 88
Durante o dia, verifica-se uma maior variação na temperatura do ar e umidade, as quais oscilaram
entre 25.2ºC e 34.3ºC e entre 65% e 77%, respectivamente; à noite a temperatura variou entre 24ºC e
27.5ºC e a umidade entre 79% e 89%. Verifica-se que as maiores temperaturas e as menores umidades
relativas do ar foram registradas no período diurno (9 e 15h) e à noite registraram-se as menores
temperaturas e as maiores umidades relativas. Os pátios descoberto e coberto registraram as maiores
temperaturas durante o dia (às 9 e 15h) e a menor temperatura à noite, devido às maiores perdas noturnas
de calor do terreno para o céu em áreas pavimentadas com incidência solar direta (no caso do pátio
descoberto).
As salas de aula, tanto do pavimento térreo (PONTO 3) quanto do 1º andar (PONTO 5), registraram
maiores temperaturas durante o dia do que nos corredores, com máximo de 30.1ºC – um pouco acima dos
valores máximos de temperatura de conforto (entre 18ºC e 29ºC) recomendada na carta bioclimática para a
cidade de Recife (distante 120 km de João Pessoa). Para as medições nesses ambientes todos os
ventiladores encontravam-se ligados, amenizando os resultados obtidos; caso estivessem desligados,
provavelmente as temperaturas registradas em sala de aula seriam superiores (o conforto térmico das salas
de aula foi o aspecto que apresentou o pior desempenho nos questionários aplicados com os alunos).
Já no período noturno, apenas a sala do térreo (PONTO 3) registrou temperatura mais elevada do
que os corredores – a sala de aula do 1º andar (PONTO 5), devido a sua localização na edificação
apresenta uma maior quantidade de aberturas superiores (elementos vazados) na parede oposta às
janelas, permitindo a ventilação cruzada nesse ambiente e o registro de menores temperaturas em relação
à sala de aula do pavimento térreo e aos corredores (Figuras 8 e 9).
Figuras 8 e 9 – Elementos vazados para ventilação cruzada nas paredes das salas de aula.
4.1.2. Níveis de ruído
Para a medição do nível de ruído, os ventiladores das salas de aula permaneceram desligados, no
intuito de verificar a qualidade acústica do ambiente sem maiores interferências (todas as medições
ambientais foram realizadas com a presença dos alunos em atividade normal em sala de aula). As
medições foram comparadas à NBR-10152, que determina o nível de ruído para conforto e o nível máximo
aceitável para alguns ambientes específicos.
Na Tabela 2 encontram-se as medições em 4 pontos do CCJ nos 3 horários, além do nível máximo
aceitável (NMA) e o nível de ruído para conforto (NC), em dB(A). Os pontos localizados nos pátios não
foram considerados, uma vez que a norma não referencia explicitamente valores comparativos a estes tipos
de espaços abertos.
Tabela 2 – Níveis de ruído em 4 pontos de medição do CCJ.
PONTO Níveis de ruído - dB(A)
9h 15h 21h NMA NC
PONTO 3 – Sala de aula (térreo) 68.7 53.9 59.3 40 - 50 35 - 45
PONTO 4 – Corredor a sudeste 82.7 74.5 77.2 45 - 55 40 - 50
PONTO 5 – Sala de aula (1º andar) 68.8 57.0 67.3 40 - 50 35 - 45
PONTO 6 – Corredor a nordeste 62.7 59.1 65.9 45 - 55 40 - 50
Em todos os pontos avaliados as medições registradas ultrapassaram o nível máximo aceitável
(NMA) recomendado pela norma. Nas salas de aula a diferença variou entre 3,9 e 18,8 dB(A) e nos
corredores, variou entre 4,1 e 27,7 dB(A) em relação ao nível máximo aceitável (a diferença será maior se
os níveis de ruído forem comparados aos níveis de ruído para conforto - NC). Os maiores níveis de ruído
foram encontrados na sala do 1º andar (PONTO 5) e no corredor a sudeste (PONTO 4), provavelmente
devido a maior quantidade de alunos e a proximidade do corredor a superfícies refletores de ondas sonoras,
respectivamente.
Os índices indicam a inadequação do nível de ruído nos ambientes avaliados, principalmente no
turno da manhã, por conta do maior fluxo de veículos nesse turno. Esse resultado demonstra que o projeto
original provavelmente desconsiderou a organização espacial como objeto relevante à qualidade acústica
(como exemplos têm-se os corredores, os quais são bastante estreitos, possuindo no máximo 1,20m de
largura - em uma edificação escolar que pretende atender a mais de 1000 alunos - e a proximidade de
ambientes com altos índices de ruído, como a reprografia, com as salas de aula).
4.2. AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS
A partir dos resultados dos questionários aplicados, constatou-se que a maior parte dos aspectos
avaliados apresentou um bom desempenho pelos alunos variando a satisfação entre ‘regular’ e ‘bom’
(Figura 10).
Figura 10 - Grau de satisfação do usuário para as salas de aula, corredores e pátios do CCJ/UFPB.
Dos 5 aspectos avaliados nas salas de aula (ventilação natural e artificial, acústica, iluminação
natural e artificial), apenas a iluminação natural e artificial obtiveram melhores desempenhos na opinião dos
alunos (45,1% e 45,8% responderam como ‘bom’ esse aspecto).
A acústica apesar da maioria ter relatado como ‘regular’ (44%), muitos respondentes a
consideraram como ‘ruim’ (31%), ou seja, 75% consideraram entre ‘regular’ e ‘ruim’ a acústica das salas de
aula. Nesse aspecto, as respostas dos alunos foram condizentes com as medições in loco dos níveis de
ruído, os quais registraram valores superiores ao nível máximo aceitável, segundo a NBR-10152 (foram
ultrapassados 18,8 dB(A) e 27,7 dB(A) nas salas e nos corredores, respectivamente). Muitos desses ruídos
são provenientes das próprias salas e das salas adjacentes, as quais não recebem nenhum tratamento
acústico e permanecem com as portas abertas durante as aulas devido ao calor.
O pior desempenho nas salas de aula foi com relação ao conforto térmico, onde mais de 60% dos
alunos consideraram ‘ruim’ a ventilação natural e artificial. Quanto a esse aspecto, constata-se que apesar
da edificação ter sido implantada considerando o aproveitamento dos ventos predominantes da região nos
ambientes de maior permanência (no caso as salas), a proximidade da vegetação funciona como uma
barreira para o fluxo de ar, resultando num desconforto térmico. Além disso, a própria edificação (área de
apoio e o auditório) também bloqueia o artifício da ventilação cruzada, principalmente das salas localizadas
a sudeste, contribuindo com temperaturas mais elevadas. A sugestão de climatização artificial em todas as
salas de aula é comum a boa parte dos alunos que respondeu ao questionário.
Os corredores apresentaram um melhor desempenho do que as salas de aula na opinião dos
alunos para os 3 aspectos analisados (iluminação natural: mais de 73% relataram entre ‘bom’ e ‘ótimo’;
iluminação artificial: mais de 70% considerou entre ‘bom’ e ‘regular’; ventilação natural: mais de 69%
opinaram entre ‘regular’ e ‘ruim’). Mesmo com um bom desempenho na iluminação de maneira geral, muitos
alunos sugeriram a melhoria da iluminação dos corredores (isso foi comprovado também durante o dia) e da
área externa, principalmente os do período noturno, por motivo de segurança. As larguras dos corredores e
das rampas de acesso ao primeiro pavimento e ao auditório também são bastante criticadas pelo corpo
discente (Figuras 11, 12, 13 e 14).
Figuras 11, 12, 13 e 14 – Corredores escuros do pavimento térreo e 1º andar; rampas do CCJ/UFPB.
Já com relação às áreas externas, pátios descoberto e coberto, apesar de terem recebido o maior
número de críticas e sugestões de melhorias pelos alunos, foram avaliados positivamente pelos mesmos,
com 67,9% e 70,2% variando entre ‘regular’ e ‘bom’, respectivamente. Dentre as sugestões de melhorias
estão a construção de cobertura ou passarela no pátio descoberto e a instalação de mobiliário em ambos os
pátios, visto que com as características que eles possuem atualmente, representam mais espaços de
passagem de alunos do que de convivência propriamente dita.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização desta APO no Centro de Ciências Jurídicas da UFPB, verifica-se que uma boa
qualidade de ensino depende não só da capacitação dos professores, como também das condições físicas
dos ambientes de estudo em geral, visto que as condições térmicas, acústicas e lumínicas são de grande
relevância projetual, podendo comprometer o bem estar e aproveitamento didático dos alunos.
Ressalta-se a importância do conhecimento dessas questões por parte dos projetistas que
trabalham com a produção de edificações escolares para auxiliá-los na elaboração de projetos mais
condizentes com a realidade desses usuários, melhorando consideravelmente a qualidade de uso e
funcionamento dessas edificações.
6. REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS. Nível de Ruido para Conforto Acústico. Rio de
Janeiro: ABNT, 1987, 4p. (NBR 10152/87).
BAUMAN, Fred S. P. E. Giving occupants what they want: guidelines for implementing personal
environmental control in your building. World Worplace 99, October 3-5, Los Angeles, CA, 1999.
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Stein. Porto Alegre: Artes Médicas, ed. 4ª, 1998.
GURGEL, Paulo. Ditos sobre a evasão escolar: estudo de caso no estado da Bahia. Ministério da
Educação de Brasília. Bahia: Ministério da Educação Brasil Ed., 1997.
KRONER, Walter et al. Enronmentally responsive workstations and office worker productivity.
ASHRAE Trans, v. 100, part 2, paper number Or-94-8-3, 1994.
ORNSTEIN, S. W.; BRUNA, G.; RÓMERO, M. Ambiente Construído e Comportamento: a avaliação pós-
ocupação e qualidade ambiental. São Paulo: Studio Nobel/FUPAM/FAU-USP, 1995.
ORNSTEIN, S. W.; ROMERO, M.(colaborador) Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São
Paulo: Studio Nobel, EDUSP, 1992.