Avaliação etnoarqueologia

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Etnoarqueologia Menderson Rivadávia Alves Amaral Primeira avaliação I Existe uma divisão de dois blocos entre os Parakanãs, os Orientais e os Ocidentais, o que caracteriza de forma mais clara estes dois blocos são os padrões de assentamento e a dinâmica de mobilidade de cada um destes grupos. O bloco Oriental define o seu “território” como ka’a (“mata”), sendo seu plural “ore-ka’a” (“nossa mata”), que designa a faixa de floresta conhecida pelo grupo. Estas definições deixam claras as relações deste povo com a floresta. Dar nome a um lugar não é um ato simbólico antecipado, mas resultado de um longo processo de ocupação, o que mostra a intimidade deste povo com a dinâmica territorial em que se encontram. Após a cisão do grupo no século XIX os dois blocos se distinguiram e muito quanto a mobilidade. Para os Ocidentais o autor vai usar os seguintes conceitos para retratar a sua dinâmica de mobilidade, são eles a “contração e a dispersão”. Este bloco se dedica grande parte do tempo ao que o autor chama de “trekking”, ou seja “caminhando”, a aldeia e a horticultura passam a ter um caráter secundário na vida social. Nas narrativas de

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Universidade Federal de Minas GeraisFaculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Etnoarqueologia

Menderson Rivadávia Alves Amaral

Primeira avaliação

I

Existe uma divisão de dois blocos entre os Parakanãs, os Orientais e os

Ocidentais, o que caracteriza de forma mais clara estes dois blocos são os padrões de

assentamento e a dinâmica de mobilidade de cada um destes grupos. O bloco Oriental

define o seu “território” como ka’a (“mata”), sendo seu plural “ore-ka’a” (“nossa

mata”), que designa a faixa de floresta conhecida pelo grupo. Estas definições deixam

claras as relações deste povo com a floresta. Dar nome a um lugar não é um ato

simbólico antecipado, mas resultado de um longo processo de ocupação, o que mostra a

intimidade deste povo com a dinâmica territorial em que se encontram.

Após a cisão do grupo no século XIX os dois blocos se distinguiram e muito

quanto a mobilidade. Para os Ocidentais o autor vai usar os seguintes conceitos para

retratar a sua dinâmica de mobilidade, são eles a “contração e a dispersão”. Este bloco

se dedica grande parte do tempo ao que o autor chama de “trekking”, ou seja

“caminhando”, a aldeia e a horticultura passam a ter um caráter secundário na vida

social. Nas narrativas de guerras são comuns diversos relatos sobre uma movimentação

contínua do grupo por vários territórios. A movimentação incessante é um traço comum

das histórias contadas pelos Parakanãs ocidentais.

Este modo de mobilidade gera formas específicas de padrões de assentamento

nestes grupos, como o grupo passa a maior tempo na dispersão se dedicando a coleta e

principalmente a caça é possível encontrar uma diversidade de acampamentos e uma

“aldeia de mandioca”, um local de estocagem e reprodução do vegetal e do próprio

grupo, é nesta aldeia que acontece um pequeno momento de concentração para daí

novamente acontecer a possível dispersão. Não existe uma aldeia que concentre a

unidade política deste povo que acabam estando sempre dispersos e fragmentados, a

unidade se faz nos momentos de concentração na roça de mandioca, por um curto

período de tempo.

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Deste sistema de assentamento e mobilidade é possível inferir tipos específicos

de sítios arqueológicos, é possível pensar que em cada um destes sítios se achará

artefatos bem diversificados uns dos outros. Os acampamentos com certeza irão

preservar poucos materiais, uma vez que o grupo sempre está em dispersão é preciso

levar poucas coisas, selecionar bem quais são os materiais mais necessários para poder

se movimentar pela floresta e garantir a sobrevivência. Além destes pequenos utensílios

será possível encontrar também materiais de caça, restos destes materiais, possíveis

descartes de alimentos. Já a “aldeia de mandioca” por ser um lugar de concentração e

estocagem pode ter um leque mais amplo e diversificado de artefatos, pois seria ali o

lugar de encontro do grupo e onde acontecia diversas tarefas e ações sociais que

poderiam ter uma necessidade de certos artefatos específicos, é nesta aldeia que poderia

haver maior quantidade de descarte de materiais, porém, pensando na dinâmica deste

grupo pode-se pensar que mesmo neste local de concentração que os materiais que se

encontrariam nestes sítios seriam extremamente precisos devido à grande parte do

tempo em que o grupo estaria se deslocando. O fato de não se dedicarem de forma

intensa à roça também é um ponto importante, pois materiais relacionados a horticultura

não seriam tão recorrentes.

Os orientais possuíam maneiras distintas de assentamento e mobilidade. As

aldeias orientais teriam um tempo médio de mais ou menos dois anos de ocupação.

Algo interessante neste grupo era que eles possuíam vários acampamentos, pois havia

um movimento de dispersão principalmente se afastando do homem branco e da guerra.

Eles possuem um padrão de assentamento muito particular pois seus deslocamentos

eram de média distância, deslocamentos muitas vezes motivados pela caça. A mudança

destes ambientes de aldeia acontecem antes do ambiente ser super-depredado, o grupo

se diluía temporariamente para explorar mais de uma área. Sendo assim eles teriam um

conjunto de roças e florestas sempre em regeneração. Existem também deslocamentos

de longas distâncias ocorridos por motivos de guerra com os brancos, assim havia um

abandono de um determinado conjunto de aldeias. Porém estes deslocamentos não eram

para lugares desconhecidos, mas sim em territórios já ocupados anteriormente.

Deste modo os orientais possuíam um sistema cujo nome o autor denominou de

semi-doméstico, é possível pensar portanto em um sítio com uma quantidade mais

considerável de materiais uma vez que o grupo está sempre unido. Em muitos casos de

estudo teóricos acharam que se tratava de um grupo extenso e fragmentado, pois muitas

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vezes encontravam estas aldeias vazias e com grande quantidade de materiais, mas

quando se percebeu estavam diante de apenas um grupo que dispersava para daí um

tempo voltar ao local de assentamento. Não existe uma atomização do grupo e o caráter

da dispersão se tratava muito de um compromisso com a mobilidade, mas neste caso

também com a vida aldeã. Uma valorização da aldeia e ao mesmo tempo da caça. Além

dos sítos relacionados às aldeis, é possível inferir também os sítios ligados à caça

durante o período de dispersão, nestes sítios evidentemente se encontrariam outras

espécies de materiais em uma quantidade menor, instrumentos de caça, restos de

alimentos e objetos ligados à esta atividade.

II

Com a pacificação em 1971 o padrão de assentamento de ambos os grupos foi

profundamente alterado, havendo uma maior sedentarização, uma ampliação da área de

cultivo e uma diversificação da dieta proteica, incorporando alimentos antes não

utilizados. Houve, portanto, uma menor mobilidade e uma intensificação da

dependência com a Sociedade Nacional. Os grupos Parakanãs tiveram que lidar com a

cena de um mundo novo com objetos novos e com isto alterar de forma significativa o

seu contexto sócio-político. A partir deste contato, os agentes da Funai detinham uma

determinação no movimento do grupo, por causa da distribuição de mercadorias e

remédios que agoram faziam parte do mundo dos povos indígenas. Os postos, serviços,

escola, farmácia, almoxarifado tornaram-se referências fundamentais para as aldeias,

tendo estas que se localizarem próximas destes serviços. A política dos agentes

coloniais e da Sociedade Nacional foi a de concentração e fixação dos nativos em

poucos locais, atendendo questões econômicas, logísticas e ideológicas. Assim foi

possível ver a reunião de grupos dispersos em um único aldeiamento, essa dimensão

afetaria de forma considerável o grupo ocidental.

A mobilidade e a dispersão, tão comum ao grupo ocidental, tornaram-se

obstáculos para as políticas de Estado, que se preocupavam muito mais com a

aculturação do grupo e com a redução do território, pois dessa forma seria mais prático

o controle e a vigilância sobre o povo e seus territórios, os Parakanãs começaram a se

mediarem através dos agentes e das políticas Estatais. O exemplo do caso Parakanã

pode nos mostrar os grandes impactos com relação as frentes colônias, em como este

encontro pode modificar questões bastante “essenciais” para estes grupos, alterando de

forma bem impactante a vida social, política e cultural destes povos.

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O grupo ocidental passou por difíceis transformações, que inclusive não se

adaptaram muito bem. A horticultura foi retomada por esse bloco, durante todo esse

tempo sem uma dedicação exclusiva à agricultura deixaram os ocidentais com poucas

habilidades com a roça, tendo que ter intervenções dos agentes dos postos para mantê-

las e para que a quantidade de recursos fosse suficiente para o grupo. A retomada da

horticultura também trouxe impactos fortíssimos para a divisão sexual do trabalho,

fazendo com que os homens passassem a cuidar de todo o processo de produção da

mandioca por exemplo A entrada de ferramentas antes não utilizadas pelos Parakanãs

fez com que houvesse uma boa parte de produção de excedentes que se voltaram para o

mercado Mudando todo este contexto é possível perceber uma mudança também nos

contexto arqueológicos, novos materiais, novas formas de cultivar e viver

coletivamente.

Fica claro através do texto os grandes impactos nos sistemas sócio-políticos

deste povo após o contato com os órgãos e agentes do Estado, é possível perceber como

as políticas de Estado estão interessadas em pontos importantes para seus projetos e

para a praticidade destes, mas claro existe também agência e participação do próprio

grupo que de alguma forma foram ativos para aceitar certas modificações, questionando

outras, alguns grupos preferiam não morar mais em suas ocas, mas em casas por

exemplo, mas através do contato com os agentes e instituições governamentais era

preciso tecer ali uma nova realidade, se adaptar às decisões, por costumes e valores para

serem renegociados, agora não apenas entre o próprio grupo e outros vizinhos, mas

entre agentes brancos do governo com projetos políticos muito bem demarcados e muito

das vezes divergente aos interesses do próprio grupo, isto gerou um intenso impacto em

ambos os blocos, o que nos permite inferir de forma reflexiva em como o contato com a

Funai e outros agentes pode ser de extrema importância na transformação, readaptação e

sobrevivência do grupo. Cabe a nos pesquisadores sociais da Antropologia e

Arqueologia, em trabalho coletivo, dialógico pensar em soluções ou em como nossa

ação de trabalho pode ajudar a amenizar estes impactos para os grupos.