Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

96
PRISCILA PREVIATO DE ALMEIDA AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM USUÁRIOS CRÔNICOS DE MACONHA Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências São Paulo 2007

Transcript of Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Page 1: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

PRISCILA PREVIATO DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM USUÁRIOS CRÔNICOS DE MACONHA

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de

Mestre em Ciências

São Paulo 2007

Page 2: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

PRISCILA PREVIATO DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM USUÁRIOS CRÔNICOS DE MACONHA

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências

Orientador: Prof. Dr. Acioly Luiz Tavares de Lacerda

São Paulo 2007

Page 3: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Almeida, Priscila Previato Avaliação das Funções Executivas em Usuários Crônicos de

Maconha. / Priscila Previato de Almeida. -- São Paulo, 2007.

Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo.Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós – graduação em Psiquiatria.

viii, 73f.

Título em Inglês: Executive functioning evaluation in cannabis chronic users.

1. Maconha. 2. Neuropsicologia. 3.Funções Executivas.

Page 4: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA

Chefe do departamento: Prof. Dr. José Cássio do Nascimento Pitta Coordenador do Curso da Pós-graduação: Prof. Dr. Jair de Jesus Mari

Page 5: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

iii

PRISCILA PREVIATO DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS EM USUÁRIOS DE MACONHA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira Prof. Dr. José Alexandre Crippa Prof. Dra. Sonia Maria Dozzi Brucki Suplente: Prof. Dra. Neliana Buzi Figlie

Page 6: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

iv

À minha avó Edile, que embora não esteja mais aqui, deixou entre nós todo seu amor e sua fé. Aos meus pais, meus maiores incentivadores, lutadores incansáveis.

Page 7: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

v

Agradecimentos

À Capes, pela concessão da bolsa de mestrado, suporte financeiro para a

realização desse trabalho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Acioly Lacerda, por todo aprendizado que obtive

nesse percurso.

Ao Prof. Dr. Rodrigo Bressan, por despertar em mim o desejo de ser

pesquisadora.

À querida Maria Alice Novaes, por me abrir as portas e me apoiar, pessoa

fundamental para a execução desta pesquisa.

À querida Stella Malta, pelo carinho e acolhimento imediato à minha chegada

ao grupo.

A todos os integrantes do Linc (Laboratório Interdisciplinar de Neurociências

Clínicas), pelo companheirismo e apoio de sempre.

A todos da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) que participaram

e apoiaram a realização desse trabalho.

A todos os pacientes do estudo, os quais contribuíram de maneira fundamental

para o meu aprendizado a respeito da drogadição.

A toda minha família, em especial à minha avó Edile e à tia Marisa, as quais

me acolheram de braços abertos quando decidi morar nessa cidade imensa.

Aos meus maravilhosos pais, Maria Tereza e Maurício, pelo carinho e pelo

apoio constante ao longo de todo esse caminho.

Page 8: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

vi

Lista de tabelas

Tabela 1. Características demográficas.........................................................32

Tabela 2. Aspectos sociais.............................................................................34

Tabela 3. Padrão de consumo e freqüência de uso.......................................36

Tabela 4. Valores de QI estimado..................................................................37

Tabela 5. Resultados dos testes neuropsicológicos......................................38

Tabela 6. Dados sobre o consumo de maconha............................................42

Tabela 7. Comparação em relação à idade de início de uso.........................43

Tabela 8. Comparação em relação à freqüência de uso................................45

Tabela 9. Correlação entre idade de início de uso de maconha e desempenho

no WCST...........................................................................................................46

Tabela 10. Correlação entre idade de início de uso diário de maconha e

desempenho no teste de Stroop........................................................................47

Page 9: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

vii

Resumo

Objetivo: Avaliar o funcionamento executivo em usuários crônicos de maconha

em comparação com controles saudáveis, pareados por sexo, idade e anos de

escolaridade. Método: Foi realizado um estudo de corte transversal sediado na

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), ligada ao Departamento de

Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo. Foram avaliados 128

sujeitos com dependência ou abuso de maconha, diagnosticados segundo

critérios do DSM-IV/CID-10 e 32 controles. O grupo de usuários foi dividido em

três grupos de acordo com o período de abstinência: grupo (0), usuários não

abstinentes; grupo (1), usuários abstinentes entre um e sete dias; grupo (2),

usuários abstinentes há mais de sete dias. Os testes utilizados para a

avaliação do funcionamento executivo foram: teste de Stroop, Wisconsin Card

Sorting Test (WCST) e Frontal Assessment Battery (FAB). O escore de QI

estimado foi avaliado por meio dos subtestes Vocabulário e Cubos do WAIS-R.

Resultados: Os grupos não apresentaram diferenças de idade, anos de

escolaridade e proporção de homens e mulheres. Os usuários não abstinentes

apresentaram pior desempenho no WCST e lentificação na execução da

prancha 2 do teste de Stroop em comparação com o grupo controle. Os

usuários em abstinência precoce, além de apresentarem estes prejuízos,

também apresentaram pior desempenho na FAB. Já aqueles que estavam há

mais de sete dias abstinentes, quando comparados com o grupo de controles,

apresentaram prejuízos no WCST e no subteste de Programação Motora da

FAB. Conclusões: Os resultados sugerem que usuários crônicos de maconha

parecem apresentar prejuízos no funcionamento executivo em relação à

capacidade de raciocínio abstrato, organização e flexibilidade mental e que

estes prejuízos estão presentes mesmo após um período médio de 14 dias de

abstinência, ou seja, parecem representar efeitos residuais da maconha no

cérebro. Entretanto, não se pode afirmar que esses déficits são irreversíveis, já

que o desenho do estudo não permite afirmar que esses prejuízos

permanecem após um período mais prolongado de abstinência.

Page 10: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

viii

Sumário

Dedicatória..........................................................................................................iv Agradecimentos...................................................................................................v Lista de Tabelas e Figuras..................................................................................vi Resumo..............................................................................................................vii 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................1 1.1 Objetivos....................................................................................................... 2 2 REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................3 2.1 A maconha.....................................................................................................3 2.2 Técnicas de avaliação..................................................................................5 2.3 Funções executivas.....................................................................................10 2.4 Funcionamento executivo e o uso de substâncias......................................12 2.5 Funcionamento executivo e o uso de maconha..........................................14 3 MÉTODOS...................................................................................................22 3.1 Desenho do estudo......................................................................................22 3.2 Cálculo da amostra......................................................................................22 3.3 Aspectos éticos............................................................................................22 3.4 Sujeitos........................................................................................................23 3.5 Procedimentos.............................................................................................24 3.6 Instrumentos de avaliação neuropsicológica...............................................25 3.7 Análise estatística........................................................................................29 4 RESULTADOS.............................................................................................30 4.1 Características da amostra..........................................................................30 4.2 Resultados dos testes neuropsicológicos....................................................37 4.3 Análises secundárias...................................................................................41 4.4 Correlações..................................................................................................46 5 DISCUSSÃO................................................................................................48 6 CONCLUSÕES............................................................................................56 7 ANEXOS......................................................................................................57 8 REFERÊNCIAS............................................................................................65 Abstract..............................................................................................................73

Page 11: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a maconha é a droga

ilícita mais amplamente cultivada, comercializada e utilizada no mundo, tendo,

recentemente, apresentado uma preocupante tendência de aumento na prevalência de

uso regular, especialmente entre os adolescentes (WHO, 2004). Apesar desse

aumento crescente do uso regular da maconha, existem poucos estudos a respeito dos

déficits cognitivos causados pelo uso crônico desta substância. Três importantes

fatores podem ter contribuído para tal ‘negligência’: (1) acreditava-se que o uso

primário de maconha era bastante incomum, estando, na grande maioria dos casos,

associado ao uso de outras substâncias como álcool ou outra droga ilícita; (2) é

relativamente recente o reconhecimento de uma verdadeira síndrome de dependência

associada ao uso da maconha; (3) também é recente a descoberta e isolamento de

receptores canabinóides no cérebro (Matsuda et al, 1990). É bem estabelecido que uso

crônico e pesado da maconha pode estar associado ao desenvolvimento de uma

síndrome de dependência semelhante à descrita para outras substâncias (Hall et al,

1999).

A avaliação neuropsicológica vem se mostrando como técnica

eficiente para a avaliação de déficits no funcionamento executivo em usuários de

maconha. As manifestações clínicas desses déficits incluem síndrome amotivacional,

falta de flexibilidade cognitiva, desatenção, dificuldade de raciocínio abstrato e

formação de conceitos (Maruhin,1999). A despeito de tal relevância, poucos estudos

examinaram as funções executivas de usuários de maconha. Segundo Garcia et al

(2004), as funções executivas (FE) teriam um papel central no processo de

dependência, tanto no controle do impulso em usar a substância como na dificuldade

em interromper o uso. Neste caso, prejuízos em tais funções apresentariam uma

potencial importância etiológica ou, pelo menos, influenciariam a perpetuação do

problema.

O presente trabalho investigou a hipótese de que os usuários

crônicos de maconha apresentam prejuízos no funcionamento executivo e que estes

prejuízos estão presentes após um período de sete dias de abstinência.

Page 12: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

2

1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo principal

Investigar a presença de prejuízos no funcionamento executivo em

usuários crônicos de maconha, comparando-os a controles saudáveis, pareados por

sexo, idade e anos de escolaridade.

1.1.2 Objetivos secundários

1. Avaliar o funcionamento executivo em usuários crônicos de maconha não

abstinentes, durante abstinência precoce (até sete dias após o último episódio de

intoxicação aguda) e após sete dias de abstinência em comparação com o

desempenho de controles saudáveis pareados por sexo, idade e anos de escolaridade.

2. Examinar possíveis efeitos de variáveis clínicas (e.g., tempo de uso, idade de início

do uso, quantidade e freqüência de uso) no funcionamento executivo de usuários

crônicos de maconha. 3. Analisar se eventuais prejuízos no funcionamento executivo de usuários crônicos de

maconha estão presentes nesses sujeitos após um período de pelo menos sete dias de

abstinência.

Page 13: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

3

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A maconha

A maconha é a droga ilícita mais consumida mundialmente (Hall e

Solowij, 1995). Ela é experimentada por muitos jovens europeus e pela maioria dos

jovens nos Estados Unidos e na Austrália (Hall e Pakula, 2003). No Brasil, em apenas

uma década, a prevalência de uso de maconha entre estudantes triplicou (Galduroz et

al 2004). Em um levantamento domiciliar feito na cidade de São Paulo com uma

população de indivíduos maiores de 12 anos de idade, a maconha foi a droga ilícita que

teve maior freqüência de uso na vida, seguida de longe pelos solventes e a cocaína

(Carlini et al, 2002).

Há séculos, a maconha vem sendo utilizada para fins recreacionais,

porém, recentemente, vem ocorrendo um aumento no interesse acerca do uso

terapêutico desta substância em diferentes condições (e.g., glaucoma e perda de

apetite em pacientes com doenças consumptivas como AIDS e câncer). O potencial

uso terapêutico da maconha, no entanto, deve estar condicionado não apenas à

comprovação de sua eficácia nas indicações clínicas em questão, sendo necessário

assegurar que o seu uso regular não esteja associado a danos à saúde, incluindo

prejuízos no funcionamento cerebral. Deste modo, o estabelecimento de uma relação

risco-benefício favorável é fundamental para a condução da calorosa discussão

envolvendo a liberação do uso terapêutico da maconha.

A maconha é consumida na forma de cigarros ou em cachimbos.

Alguns usuários também a utilizam na forma de comida ou chás, além de misturarem

com outras drogas, tais como a cocaína e o crack. Quando fumada, os efeitos

euforizantes da maconha aparecem em minutos, atingem um pico na primeira meia

hora e duram, aproximadamente, de duas a quatro horas. Os efeitos somáticos mais

comuns envolvem dilatação dos vasos sanguíneos das conjuntivas (“olhos vermelhos”),

leve taquicardia, aumento de apetite e xerostomia (“boca seca”). Em altas doses, a

intoxicação aguda pode levar o usuário a experimentar sensações de

despersonalização e desrealização (Kaplan, Sadock e Grebb,1997).

Page 14: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

4

A cannabis sativa, planta de onde a maconha é extraída, contém em

suas folhas e flores uma resina com cerca de 60 componentes chamados

canabinóides. O principal componente psicoativo presente nos seus extratos é o ∆9-

tetrahidrocanabinol (THC). O THC é bastante lipossolúvel, atravessando facilmente a

barreira hemato-encefálica e exercendo seus efeitos centrais em neuro-receptores

específicos, os receptores canabinóides CB1 e CB2, os quais compõem o chamado

sistema canabinóide endógeno. As áreas do sistema nervoso central com maior

densidade de receptores CB1 encontram-se destacadas na figura 1.

Figura 1. LOCALIZAÇÃO DOS RECEPTORES CANABINÓIDES CB1.

Essas áreas são: o córtex frontal (área relacionada às funções

cognitivas superiores como raciocínio, abstração, julgamento e planejamento), os

núcleos da base (relacionados à motricidade) e o cerebelo (relacionado à coordenação

e equilíbrio). Outras regiões, tais como o hipotálamo (desempenha papel importante na

‘coordenação’ das manifestações emocionais), hipocampo (relacionado à memória

emocional e inibição da agressividade) e giro do cíngulo (relacionado ao controle dos

impulsos) também apresentam uma densidade elevada de receptores CB1. Os

receptores CB2, por sua vez, encontram-se localizados em tecidos periféricos,

especialmente no sistema imunológico (Iversen, 2003).

Page 15: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

5

O sistema nervoso central possui neurotransmissores (canabinóides

endógenos), cujas moléculas são semelhantes à molécula de THC, todos derivados do

ácido aracdônico. Até então, três canabinóides endógenos foram identificados: a

anandamida (N-aracdonil-etanolamina), o 2-aracdonilglicerol e o 2-aracdonilgliceril éter.

A anandamida é a mais conhecida e estudada, sendo quatro a vinte vezes menos

potente que o THC, além de apresentar uma meia vida farmacológica menor (Iversen,

2000).

As substâncias psicoativas que podem causar dependência agem

direta ou indiretamente modulando as vias dopaminérgicas do sistema de recompensa

cerebral . Estudos com animais têm demonstrado que o THC e a anandamida,

aumentam a concentração de dopamina no estriado e no sistema mesolímbico (Gessa

et al 1998). O THC aumenta a concentração de dopamina nas vias nigro-estriatais,

através de inibição da recaptura de dopamina pelo transportador dopaminérgico e

facilitação da liberação de dopamina (Sakurai-Yamashita et al 1989).

Uma série de evidências sugere que a abstinência de maconha

encontra-se associada a uma redução da transmissão dopaminérgica no sistema

límbico, semelhante à observada com outras substâncias de abuso (Volkow et al,

2004). Estes achados sugerem um importante papel do sistema dopaminérgico

cerebral no mecanismo de reforço, na recaída e na ‘fissura’ em dependentes de

maconha.

2.2 Técnicas de Avaliação de Potenciais Danos Cerebrais Associados ao Uso de Substâncias

Diferentes estratégias têm se mostrado promissoras na investigação

de eventuais prejuízos no funcionamento cerebral decorrentes do uso regular de

substâncias, destacando-se as técnicas de neuroimagem funcional e estrutural e a

avaliação neuropsicológica. Em geral, as técnicas de neuroimagem têm uma indicação

clínica restrita à exclusão de etiologias não psiquiátricas, em casos de alterações de

comportamento do paciente.

No campo da pesquisa, técnicas de neuroimagem modernas, as

quais permitem a investigação de aspectos funcionais e anatômicos in vivo,

apresentam-se como instrumentos potencialmente úteis no estudo de eventuais efeitos

Page 16: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

6

neurotóxicos da maconha. No primeiro estudo de neuroimagem estrutural, Campbell et

al (1971), utilizando pneumoencefalografia, observaram um alargamento ventricular em

usuários de maconha quando comparados a controles saudáveis. Porém, três estudos

subseqüentes utilizando tomografia computadorizada de crânio não confirmaram tal

achado. As marcantes limitações metodológicas destes estudos (e.g., baixa resolução

espacial das imagens, métodos de análise de imagens imprecisos, falta de um controle

adequado do efeito de possíveis comorbidades) limitam sobremaneira a interpretação

dos resultados.

Wilson et al (2000) , utilizando imagens de ressonância magnética,

técnica considerada o padrão-ouro em avaliações neuroanatômicas, observaram que

indivíduos que iniciaram o uso de maconha antes dos 17 anos de idade apresentavam

uma redução do volume cerebral total e do percentual de substância cinzenta cortical,

além de um aumento no percentual de substância branca cerebral. Por outro lado,

Block et al (2002) , analisando imagens de ressonância magnética, não observaram

alterações cerebrais em usuários crônicos de maconha. Porém, estes estudos pecam

pelo pequeno tamanho de amostra (22 e 18 usuários, respectivamente), o que limita de

maneira importante seu poder conclusivo.

Em relação às técnicas de neuroimagem funcional, Bolla et al

(2005), avaliaram o processo de tomada de decisão e a atividade cerebral de usuários

pesados de maconha comparados com controles saudáveis, utilizando tomografia por

emissão de pósitrons (PET). Os resultados mostraram prejuízos no processo de

tomada de decisão, assim como alterações na atividade cerebral desses usuários. Já

em estudo conduzido por Eldreth et al (2004), também utilizando PET, não foram

encontradas diferenças entre o grupo de usuários pesados, há 25 dias abstinentes, e

controles no que se refere ao desempenho no teste de Stroop, porém os usuários

ativaram áreas cerebrais diferentes. O autor sugeriu que os usuários de maconha

recrutam áreas alternativas do cérebro como um mecanismo compensatório durante a

execução da tarefa. Entretanto, ainda não existem evidências conclusivas a respeito da

reversibilidade desse padrão de ativação cerebral e se esse aspecto é anterior ou não

ao uso.

A neuropsicologia avalia quantitativamente, por meio dos testes

neuropsicológicos, e qualitativamente, por meio de observações e anamnese, a relação

entre o funcionamento cerebral e o comportamento do paciente, envolvendo seus

aspectos cognitivos, sensoriais, motores, emocionais e sociais (Howieson e Lezak,

Page 17: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

7

1992). Os testes neuropsicológicos são ferramentas padronizadas que permitem

analisar o desempenho cognitivo dos sujeitos, comparando ao que é esperado para a

média populacional, considerando aspectos como sexo, idade, nível cognitivo e sócio-

cultural. A observação e a anamnese fornecem informações importantes a respeito do

funcionamento pré-mórbido do paciente e do impacto dos distúrbios neuropsicológicos

em sua vida diária, contribuindo para elaboração de um processo de intervenção

(Spreen e Strauss, 1998).

Pesquisas sobre os potenciais prejuízos neuropsicológicos

causados pela maconha registraram um crescimento entre as décadas de 1960 e 1970

em decorrência, principalmente, de discussões sobre a legalização e o uso terapêutico

de substâncias presentes na maconha. Estes primeiros estudos, porém, produziram

resultados contraditórios (Garcia et al, 2004). A partir dos anos 80 houve um aumento

no rigor metodológico desses estudos (Pope et al, 1995). Passaram a ser incluídos

períodos de abstinência e um grupo controle, sendo que vários desses estudos

começaram a detectar efeitos deletérios da maconha no Sistema Nervoso Central.

Varma et al, (1988) relataram déficits neuropsicológicos

significativos em usuários crônicos de maconha após um período controlado de doze

horas de abstinência no desempenho em três dos testes utilizados (Pencil Tapping,

estimativa de tamanho e tempo).

Page et al (1988), examinaram sujeitos que consumiram maconha

por mais de 25 anos. Após um período de abstinência, não supervisionado, entre 12 e

24 horas os sujeitos apresentaram prejuízos em várias funções cognitivas, incluindo

processamento de informação, atenção e memória, além de apresentarem prejuízo no

funcionamento social quando comparados com um grupo controle com as mesmas

características sócio-demográficas. Esta mesma amostra foi objeto de um estudo

prospectivo conduzido por Fletcher (1996), o qual incluiu diferentes grupos de usuários

jovens e adultos. Foram detectados déficits de memória em tarefa de recordação livre

de listas de palavras, bem como em tarefas de atenção seletiva e dividida.

Schwartz et al (1989), compararam dez usuários de maconha

abstinentes com oito usuários de outras drogas e nove sujeitos não usuários,

identificando prejuízos na memória visual e verbal nos dois grupos de usuários depois

de dois dias e de seis semanas de abstinência.

Page 18: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

8

Block e Ghoneim (1993) detectaram danos leves, embora

significativos, na memória de recuperação, fluência verbal e raciocínio abstrato em

usuários crônicos de maconha após vinte e quatro horas de abstinência.

Ehrenreich et al (1999) avaliaram, por meio de uma bateria

computadorizada, um amplo espectro de funções atencionais de 99 usuários de

maconha, sendo 48 com idade de início de uso anterior aos 16 anos e 51 com idade de

início após os 16 anos, comparados com 49 controles. Foram encontradas associações

entre prejuízos de atenção visual e idade de início de consumo anterior aos dezesseis

anos, sugerindo que o início de consumo de maconha ainda na adolescência pode

levar a déficits atencionais persistentes devido a alterações num período ainda

vulnerável de desenvolvimento do cérebro.

Estudos recentes sugerem que os prejuízos em decorrência do uso

de maconha estão relacionados mais a efeitos residuais da substância do que a efeitos

a longo prazo. Pope et al (2001), compararam o desempenho cognitivo de usuários de

maconha que faziam uso freqüente e pesado e usuários que faziam uso esporádico,

abstinentes por vinte e oito dias, com o desempenho cognitivo de controles saudáveis.

Foram encontrados prejuízos na memória verbal dos usuários freqüentes após uma

semana de abstinência, entretanto, após o período de vinte oito dias não foram

encontradas diferenças entre os grupos.

Apesar do desenvolvimento de desenhos de estudo mais

apropriados, a avaliação dos prejuízos neuropsicológicos decorrentes do uso da

maconha continua desafiando pesquisadores. Muitos estudos mostram alterações

significativas em um primeiro momento, mas falham em demonstrar déficits residuais.

Estas alterações são usualmente sutis, resultam do uso crônico e pesado da droga e

referem-se, sobretudo, a funções de memória e atenção (Grant et al, 2003).

A avaliação da existência de prejuízos neuropsicológicos em

usuários crônicos de substâncias é complicada por diversas dificuldades

metodológicas. Entre as variáveis que devem ser consideradas estão: o tipo de testes

neuropsicológicos utilizados, o intervalo entre a última vez que a droga foi consumida e

o momento da avaliação, os efeitos do uso de outras substâncias, a presença de

comorbidades psiquiátricas de eixo I, o tamanho da amostra e o tempo e intensidade

do uso da substância (Garcia et al, 2004). Além desses aspectos, existem questões

éticas devido ao fato da maconha ser classificada como uma substância ilícita na

maioria dos países e, por ser um ‘produto natural’, haver uma grande variabilidade na

Page 19: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

9

sua potência e composição. A variabilidade da potência e composição da maconha,

juntamente com as variações relacionadas à via de administração, pode resultar em

uma avaliação pouco confiável da exposição recente e da quantidade de uso ao longo

da vida.

Estimar o número de ‘baseados’ consumidos ao longo da vida ou

detalhar a exposição ao THC são informações importantes quando da avaliação do

impacto da maconha no funcionamento neurocognitivo. Porém, estas medidas

representam apenas aproximações rudimentares em relação à exposição real em

decorrência das limitações supracitadas. Há também problemas na confiabilidade da

memória e honestidade dos sujeitos em relatar o padrão de uso recente e crônico.

Além disso, os testes de urina são positivos de 3-5 dias depois de uma única

exposição, mas o THC pode permanecer detectável até 12 dias e os níveis de

metabólitos na urina podem flutuar entre positivo e negativo por vários dias, o que vai

depender da quantidade prévia e da freqüência de uso (Ellis et al, 1985; Grotenhermen,

2003).

Para minimizar as falhas metodológicas nos estudos sobre os

efeitos da maconha devem ser considerados os seguintes aspectos:

• Priorizar o uso de instrumentos e testes padronizados para a população em

análise e que sejam sensíveis para a avaliação de funções específicas;

• Precisar o início de um verdadeiro estado de abstinência, verificando a presença

de THC na urina para determinar efeitos residuais;

• Incluir um grupo controle pareado com o grupo de sujeitos examinados por idade,

sexo, anos de escolaridade e nível sócio-econômico;

• Definir claramente critérios de inclusão e exclusão;

• Estabelecer critérios cuidadosos para recrutamento de pacientes e controles,

evitando, assim, um possível viés de seleção;

• Utilizar dados neuropsicológicos anteriores ao uso, quando disponíveis, o que

pode ser um recurso valioso para se caracterizar o estado pré-mórbido;

• Realizar estudos de seguimento, idealmente acompanhando o sujeito desde antes

do primeiro episódio de uso.

Outra questão pertinente é diferenciar os termos freqüentemente

usados para descrever a toxicidade da droga como efeito agudo, subagudo e crônico.

O ‘efeito agudo’ refere-se aos efeitos produzidos por uma única dose de maconha, os

Page 20: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

10

quais incluem os efeitos buscados pelos usuários. A duração do efeito agudo depende

da dose e da via de administração, bem como do fato do usuário ser experiente ou não.

Os efeitos subagudos são aqueles que resultam da administração repetida da

substância por vários dias, podendo resultar em respostas adversas devido ao efeito

cumulativo. Já os chamados efeitos crônicos referem-se às conseqüências de

administrações repetidas da droga por um período prolongado. O efeito crônico

persiste além da fase de eliminação dos canabinóides do organismo e, por esta razão,

não são atribuíveis à ação direta destes (Solowij, 1998).

O termo ‘residual’ também vem sendo empregado na literatura para

descrever os efeitos de longo prazo do uso da maconha. Deste modo, o termo residual

pode se referir a prejuízos devido a resíduos de canabinóides agindo no sistema

nervoso central (SNC) depois de cessado o período de intoxicação aguda ou pode se

referir a danos no SNC que persistem mesmo depois de não haver mais resíduos da

substância no organismo (Pope et al, 1996). No presente estudo, adotamos a primeira

definição, ou seja, o termo residual refere-se à ação de canabinóides no SNC, após o

período de intoxicação aguda.

2.3 Funções Executivas

As funções executivas permitem ao homem desempenhar, de forma

independente e autônoma, atividades dirigidas a um objetivo específico, estritamente

relacionado ao comportamento humano. Essas funções englobam ações complexas

que dependem da integridade de vários processos cognitivos, emocionais,

motivacionais e volitivos, os quais estão intimamente associados ao funcionamento dos

lobos frontais (Lezak, 1995). Deste modo, as funções executivas podem ser divididas

em quatro componentes fundamentais: volição, planejamento, ação propositiva e

desempenho efetivo.

A volição é a capacidade de gerar comportamentos intencionais, a

qual necessita de motivação, iniciativa e autoconsciência. A perda da capacidade

volitiva acarreta um importante comprometimento funcional, quando o indivíduo pode

se tornar apático e sem iniciativa.

O planejamento requer capacidade de abstração, pensamento

antecipatório, capacidade de organizar uma seqüência de passos, controle de

Page 21: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

11

impulsos, fazer escolhas, sustentar a atenção e ter a memória preservada, além da

motivação e autoconsciência.

A ação propositiva demanda a capacidade de iniciar, manter, alterar

e interromper seqüências de comportamentos complexos de maneira integrada e

ordenada, além de flexibilidade para mudança de set perceptivo, cognitivo e

comportamental. Já o desempenho efetivo compreende a auto-monitorização e a auto-

regulação.

Assim, o funcionamento executivo pode ser definido como a

capacidade de se extrair informações de diversos sistemas cerebrais, verbais ou não

verbais, e agir sobre essas informações de modo a produzir novas respostas,

fornecendo aos sistemas funcionais orientações para um processamento eficiente das

informações. Segundo Saboya (2002), os processos cognitivos que sustentam as

funções executivas são: memória operacional, set preparatório e controle inibitório. A

memória operacional é a capacidade de manter e manipular a informação de curto

prazo para gerar uma ação num futuro próximo. O set preparatório se define como

prontidão de estruturas sensoriais e, principalmente, motoras para o desempenho de

um ato contingente a um evento prévio, representado na memória operacional. O

controle inibitório é um processo que objetiva suprimir influências internas ou externas

que possam interferir na seqüência comportamental em curso.

Estas funções primárias, somadas aos processos de natureza

emocional, motivacional ou volitiva podem ser consideradas a base das funções

executivas. Déficits mais amplos na capacidade de abstração, planejamento e

memória, assim como alterações de linguagem são, em parte, reflexo de perturbações

que acometem estas funções básicas.

As funções executivas estão intimamente ligadas ao funcionamento

do córtex pré-frontal, o qual se situa no lobo frontal, anteriormente às áreas motoras. O

córtex pré-frontal estabelece conexões recíprocas com praticamente todo o encéfalo:

com todas as áreas corticais; com os gânglios da base e o cerebelo (envolvidos em

vários aspectos do controle motor e movimentos); com o núcleo talâmico dorsomedial

(principal estação de integração neural com o tálamo); com o hipocampo (relacionado

às funções de memória); com a amígdala (relacionada às emoções); com o hipotálamo

(responsável pelo controle das funções homeostáticas vitais); e com o tronco encefálico

(responsável pela ativação e estimulação).

Page 22: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

12

Constituído por uma dezena de áreas citoarquitetônicas diferentes, o

córtex pré-frontal é dividido em três grandes regiões funcionais: (1) a região

ventromedial, envolvida com o planejamento de ações e do raciocínio e com a tomada

de decisão e o ajuste social do comportamento; (2) a região dorsolateral, envolvida

com a memória operacional, a atenção seletiva, a formação de conceitos e a

flexibilidade cognitiva; e (3) a região do cíngulo anterior, envolvida com as emoções e a

afetividade (Goldberg, 2002). Lesões nas áreas corticais pré-frontais podem ocasionar

alterações de comportamento e a desorganização de processos cognitivos, conhecidos

como síndromes disexecutivas (Saboya et al, 2002).

Déficits no controle, regulação e integração de atividades cognitivas

predominam em pacientes com lesões dorsolaterais. De acordo com Goldman-Rakic

(1998), o córtex pré-frontal dorsolateral tem uma função de processamento da

informação ‘on line’, ou seja, tem a memória operacional a serviço de várias funções

cognitivas. Estes processos ocorrem através de múltiplos circuitos neurais das áreas

sensoriais, motoras e límbicas, as quais integram atenção, memória, motricidade e,

possivelmente, dimensões afetivas do comportamento.

Lesões na região do cíngulo anterior ou lesões subcorticais que

envolvem vias conectando o córtex e os centros de integração afetiva no diencéfalo

afetam o comportamento social e emocional por diminuir ou anular a capacidade

motivacional para atividades sociais, interesse sexual, assim como necessidades

básicas como comer ou beber (Barrash et al, 2000).

O córtex pré-frontal ventromedial desempenha um importante papel

no controle de impulsos e na regulação e manutenção do comportamento em curso.

Danos nessa região ocasionam aumento da impulsividade e desinibição, aspectos

associados a problemas de comportamento como agressividade e promiscuidade.

Além disso, ocorre uma interrupção na capacidade do paciente de antever as

conseqüências futuras de seus atos, o que leva a um prejuízo na capacidade de

tomada de decisão (Bechara, 1994).

2.4 Funcionamento executivo e o uso de substâncias Estudos com usuários de drogas ilícitas têm detectado vários déficits

cognitivos semelhantes aos encontrados em pacientes com lesões frontais, como por

exemplo, incapacidade para utilizar conhecimentos específicos em uma ação

Page 23: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

13

apropriada, dificuldade de mudar de um conceito para o outro e alterar um

comportamento depois de iniciado, dificuldade em integrar detalhes isolados e de

manipular informações simultâneas (Rogers, 1999). Essas alterações variam de acordo

com o tipo de substância utilizada, freqüência de uso, intensidade e forma de

administração da substância.

A despeito de alguns achados controversos, os déficits

neuropsicológicos encontrados em usuários crônicos de cocaína apontam prejuízos na

memória de operacional, atenção, resposta inibitória, raciocínio abstrato e funções

psicomotoras. Estes prejuízos são acentuados pelo uso concomitante de álcool e

parcialmente recuperados após um período de abstinência prolongado (Bolla et al,

2000; Toomey et al, 2003).

Diferente do que ocorre com o uso de outras drogas, que requer uso

de longo prazo para que surjam efeitos deletérios, sujeitos que fazem uso esporádico

de ecstasy (MDMA) apresentam déficits cognitivos relacionados, principalmente, ao

efeito tóxico da droga no sistema serotonérgico do cérebro e parecem afetar,

sobretudo, estruturas temporais e funções de memória, fluência verbal e memória

operacional (McCann et al, 1999). Os processos de fluência verbal e de memória

operacional estão associados ao funcionamento executivo, entretanto não foram

encontrados prejuízos em outros aspectos do funcionamento executivo como tarefas

que envolvem planejamento, controle de impulsos e tomada de decisão.

Já o uso crônico de opióides, como a heroína, parecem afetar

processos relacionados ao funcionamento executivo como raciocínio abstrato,

flexibilidade cognitiva, controle inibitório, tomada de decisão e memória operacional

(Rogers e Robbins,2001; Pau et al,2002).

Segundo Adams et al (1995), a gravidade do uso de álcool tem sido

consistentemente associada a prejuízos no desempenho de testes que avaliam o

funcionamento executivo e a danos em diferentes regiões do córtex pré-frontal.

Verdejo-Garcia et al, 2004, avaliaram o funcionamento executivo de

40 homens consumidores de diversas substâncias, classificados de acordo com a

principal droga de consumo, os quais estavam abstinentes no mínimo por três

semanas. Os resultados do estudo sugerem que as diferentes substâncias afetam

diferentemente a cognição. O consumo de heroína e ecstasy está associado a

prejuízos em tarefa de fluência verbal; a gravidade do consumo de álcool, anfetaminas,

cocaína e heroína relaciona-se inversamente com o desempenho na tarefa de memória

Page 24: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

14

operacional; a gravidade do consumo de anfetaminas e heroína relaciona-se

inversamente com o desempenho em tarefa de formação de conceitos e flexibilidade

cognitiva; a gravidade de consumo de maconha relaciona-se com pior desempenho em

tarefas de atenção seletiva e controle inibitório. Não foram encontrados prejuízos em

relação à tarefa de tomada de decisão.

Em outro estudo conduzido por Verdejo-Garcia et al (2005), também

com usuários de diferentes substâncias, abstinentes no mínimo por duas semanas, foi

utilizada como medida uma escala de comportamento relacionada aos sistemas

frontais (Frontal Systems Behavior Scale), a qual avalia apatia, disfunção executiva e

controle de impulsos, aspectos ligados, respectivamente, ao cíngulo anterior, córtex

pré-frontal dorsolateral e córtex pré-frontal ventromedial. Os resultados mostraram que

o uso pesado da maconha está fortemente associado à apatia e à disfunção executiva,

situação semelhante à observada para usuários de álcool e heroína. Em contraste, o

uso grave de cocaína parece estar mais associado a problemas de controle de

impulsos.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA, 1994)

um sintoma central na síndrome de dependência de substâncias é a ingestão

compulsiva e o desejo intenso de usar a substância a despeito das conseqüências

desse comportamento em curto ou em longo prazo. A existência de prejuízos em

diversos aspectos do funcionamento executivo em usuários de diferentes substâncias

(álcool, cocaína, anfetaminas, opióides e maconha) envolve a maneira pela qual o

indivíduo lida com as propriedades de reforço da substância, assim como a deficiência

no controle dos mecanismos de respostas e a qualidade de tomada de decisões. Desta

maneira, as funções executivas desempenham um importante papel no processo de

dependência, no impulso em usar a droga e nas dificuldades para interromper o uso

(Verdejo-Garcia et al, 2004).

As alterações executivas podem ainda ter um considerável impacto

negativo na dinâmica e nos resultados do tratamento da dependência de substâncias.

Esta importância aumenta conforme aumentam as demandas cognitivas destes

tratamentos. Os sujeitos podem ter dificuldades para tomar consciência de seus

próprios déficits, para entender instruções complexas, inibir respostas impulsivas,

planejar suas atividades diárias e tomar decisões que fazem parte do seu cotidiano

(Verdejo-Garcia et al, 2006). Portanto, é importante relacionar os prejuízos nas funções

cognitivas com suas possíveis implicações na vida diária do paciente, assim como suas

Page 25: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

15

reações emocionais e seu padrão de raciocínio com o objetivo proposto pelo

tratamento (Rogers e Robins, 2001).

2.5 Funcionamento executivo e o uso de maconha

Estudos examinando os efeitos da maconha e suas implicações

neuropsicológicas envolvem tradicionalmente dois tipos de desenho: (a) aqueles nos

quais são administradas doses de tetra-hidrocabinol (THC) em voluntários com história

de uso leve e não regular; (b) estudos que analisam o desempenho neuropsicológico

de usuários crônicos de maconha. Os primeiros são mais apropriados para a avaliação

dos efeitos agudos decorrentes da intoxicação, enquanto que estudos com usuários

crônicos fornecem informações a respeito dos efeitos do uso prolongado da substância,

assim como potenciais efeitos residuais que persistem após a suspensão do uso

(Verdejo-Garcia et al, 2004).

Os estudos revisados nesta tese avaliam, em grande parte, outros

aspectos neuropsicológicos, porém serão descritos apenas aqueles que se referem às

Funções Executivas. Os referidos estudos foram agrupados em estudos examinando

os efeitos do uso agudo e estudos examinando os efeitos do uso crônico da maconha..

2.4.1 Estudos de efeito agudo

Hart et al (2001) examinaram os efeitos da intoxicação aguda por

maconha avaliando aspectos cognitivos das funções executivas, tais como raciocínio,

abstração, flexibilidade mental e controle inibitório, por meio de uma bateria

computadorizada (MicroCog: Assesment of Cognitive Functioning - Powell et al, 1993).

Foram avaliados 18 sujeitos que fumavam em média quatro ‘baseados’ por dia, seis

vezes por semana, por um período médio de quatro anos. Os sujeitos passaram por

três sessões experimentais, nas quais consumiram diferentes concentrações de THC

(0%, 1.8% e 3.9%) com um intervalo de pelo menos 72 horas entre as sessões. Não

foram observadas diferenças estatisticamente significativas no desempenho dos

sujeitos em função da concentração de THC consumido. Segundo os autores, uma

possível explicação para tal achado seria a de que usuários experientes acabam

Page 26: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

16

desenvolvendo estratégias compensatórias e tendem a ser mais cuidadosos na

execução de tarefas após o consumo da substância.

McDonald et al (2003), investigaram os efeitos agudos do THC em

comportamentos impulsivos definidos pelos autores como incapacidade de inibir ações

inapropriadas, insensibilidade a conseqüências, percepção distorcida do tempo e

perseveração de comportamentos, aspectos intimamente ligados ao funcionamento

executivo. Foram avaliados 18 homens e 19 mulheres, os quais tinham feito uso de

maconha ao menos 10 vezes na vida. Os participantes foram alocados aleatoriamente

e receberam cápsulas contendo placebo, 7,5mg ou 15mg de THC. Foram utilizados os

seguintes testes: Stop Task, Go/No Go e Delay Discounting Test. O THC aumentou as

respostas impulsivas no Stop Task, porém não afetou significativamente o desempenho

nos outros testes. Os autores concluíram que o THC pode afetar certos

comportamentos impulsivos e sugerem que a impulsividade é resultado de diversos

componentes.

Ramaekers et al (2006) avaliaram os efeitos agudos da maconha

através de uma curva dose-resposta (250 µg/kg e 500 µg/kg de THC) em um estudo

cruzado, duplo cego e controlado por placebo, com 20 usuários recreacionais, os quais

tinham entre 19 e 29 anos e fumavam em média 3 vezes por mês há aproximadamente

4 anos. As funções executivas foram avaliadas por meio dos seguintes testes: Torre de

Londres, Stop Signal Task e o Iowa Gambling Task (IGT). Ao comparar o desempenho

dos indivíduos com o grupo placebo na Torre de Londres, observou-se uma diminuição

no número de respostas corretas nos dois grupos que utilizaram THC. Já na tarefa de

controle inibitório do Stop Signal Test, observou-se pior desempenho apenas no grupo

que recebeu a maior dose de THC. Não houve diferença significativa no que se refere

às medidas do IGT. Os autores concluem que há uma relação dose-resposta no

desempenho dos sujeitos no que se refere ao controle inibitório, porém atentam para o

fato de que os sujeitos do estudo são usuários leves e podem ser mais sensíveis se

comparados com usuários pesados.

Existem algumas limitações metodológicas em relação a esses

estudos que merecem ser comentadas. Em primeiro lugar, a diferença de idade dos

sujeitos avaliados. Nos estudos conduzidos por Hart et al (2001) e Ramaekers et al

(2006), a diferença de idade dos sujeitos variava em torno de dez anos, ou seja,

estavam dentro de uma mesma faixa etária, enquanto que, no estudo de McDonald et

al (2003), essa diferença de idade se estendia em 27 anos. Em relação ao padrão de

Page 27: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

17

consumo, enquanto que no estudo conduzido por Hart, os sujeitos eram experientes e

fumavam em média 6 (1,3) vezes por semana há quatro anos, os sujeitos avaliados por

Mcdonald fumavam em média 1,55 (2,02) vez por semana e os sujeitos avaliados por

Ramaekers fumavam em média 3,4 (3) vezes por mês há quatro anos.

Deve-se levar em conta a quantidade, a freqüência e a duração do

uso da substância, já que esses aspectos estão relacionados com o desenvolvimento

de tolerância por parte dos usuários. Em estudos de efeito agudo, o ideal seria

administrar a substância a um indivíduo que nunca a usou ou a um usuário abstinente.

Como isso não é possível devido a questões éticas, os grupos de comparação são

geralmente usuários ocasionais.

Finalmente, os prejuízos encontrados relacionam-se a dois aspectos

principais do funcionamento executivo: (1) o controle inibitório, um processo que

objetiva suprimir influências internas ou externas que possam interferir na ação em

curso. Memórias sensoriais ou motoras e estímulos distratores são impedidos de

alterar a estrutura global da ação decorrida no tempo; (2) o planejamento, o qual requer

capacidade conceitual e de abstração, capacidade de organizar etapas em seqüência,

gerar alternativas e fazer escolhas.

Foram encontradas relações entre dose ingerida e piora no controle

inibitório, nos estudos de McDonald e Ramaekers, sendo que neste último não houve

diferença em relação à dose e desempenho em tarefa que exige planejamento, porém

o grupo placebo obteve melhor desempenho. No estudo conduzido por Hart não foram

encontradas diferenças relacionadas à concentração de THC consumida.

Diferentes estudos examinando os efeitos agudos da maconha

encontraram menores prejuízos cognitivos em usuários pesados quando comparados a

usuários leves (Cohen e Rickles,1974). Como nestes casos os sujeitos são seus

próprios controles e já possuem uma história prévia de consumo, poucas

administrações dificilmente levariam à produção de decréscimo no seu desempenho

(Solowij,1998), situação que explicaria este achado aparentemente contra-intuitivo.

2.4.2 Estudos de efeito do uso crônico

Solowij et al (2002) examinaram os efeitos do tempo de uso da

maconha nas funções cognitivas, comparando 51 usuários de longo prazo (média de

Page 28: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

18

23,9 anos de uso), 51 usuários de curto prazo (média de 10,2 anos de uso) e 33 não

usuários. No momento da avaliação, os usuários estavam abstinentes por um período

médio de 17 horas. As funções executivas foram avaliadas pelo Wisconsin Card

Sorting Test (WCST) e pelo teste de Stroop. Não foram observadas diferenças entre os

grupos no desempenho do teste de Stroop. Já no WCST, os usuários de longo prazo

apresentaram mais falhas na manutenção da série do que os usuários de curto prazo e

os controles. Porém, alguns autores (e.g., Lezak, 1995) sugerem que esta medida

representa, na verdade, um comprometimento na atenção ao invés de um prejuízo

executivo primário.

Pope et al (1996), avaliaram se o uso freqüente de maconha está

associado com prejuízos neuropsicológicos residuais. Dois grupos de estudantes foram

examinados: 65 usuários pesados, os quais tinham fumado em média 29 dias no último

mês (de 22 a 30 dias), com resultado de urina positivo para canabinóides; 64 usuários

leves, os quais tinham fumado em média um dia nos últimos trinta dias (de 0 a 9 dias)

com teste de detecção de canabinóides na urina negativo. Foi administrada uma

bateria de testes neuropsicológicos após 19 horas de abstinência. As funções

executivas foram avaliadas utilizando-se o WCST, onde os usuários pesados obtiveram

resultados significativamente piores que os usuários leves, apresentando maior

tendência a perseveração. Esta medida está relacionada com flexibilidade mental, ou

seja, a capacidade do indivíduo em mudar ou manter um comportamento a partir de um

feedback do ambiente. Esta diferença persistiu quando da análise de cada sexo

separadamente. Os autores sugeriram que o uso pesado de maconha encontra-se

associado com um prejuízo no funcionamento executivo.

Em um outro estudo realizado em 2001, Pope et al recrutaram

indivíduos de 30 a 55 anos divididos em três grupos: 63 usuários pesados e freqüentes

que tinham fumado ao menos 5000 vezes na vida e que fumavam diariamente quando

da entrada no estudo; 45 usuários pesados que tivessem fumado ao menos 5000

vezes na vida, mas não mais que 12 vezes nos últimos três meses; 72 sujeitos

controles que tinham fumado ao menos uma vez, mas não mais que 50 vezes na vida e

não mais que uma vez no último ano. Foi solicitado que os sujeitos ficassem

abstinentes por 28 dias, sendo realizadas avaliações nos dias 0, 1, 7 e 28. No último

dia, foram aplicados o WCST e o Teste de Stroop. Não foram encontradas diferenças

significativas entre os grupos em nenhuma das medidas neuropsicológicas analisadas.

Page 29: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

19

Os autores concluíram que alguns déficits parecem reversíveis e relacionados com a

exposição recente à substância.

Em 2003, Pope e colaboradores avaliaram a relação entre a idade

de início de consumo de maconha e o desempenho cognitivo de 122 usuários

comparados com 87 controles, os quais já haviam feito uso de maconha ao menos uma

vez, mas não mais que 50 vezes na vida e não mais que uma vez no último ano. Os

usuários entraram no estudo após 28 dias de abstinência monitorados diariamente por

meio de testes de urina e foram divididos em dois grupos: (1) usuários pesados que

fumaram ao menos 5000 vezes na vida e diariamente antes da entrada no estudo; (2)

usuários que haviam fumado 5000 vezes na vida, mas menos que 12 vezes nos três

últimos meses antes do estudo. Estes dois grupos foram, então, subdivididos entre

aqueles que haviam iniciado o consumo antes dos 17 anos (n=69) e depois dos 17

anos (n=53). Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em

relação aos testes de funções executivas aplicados, entre eles o FAS (Fluência Verbal-

categoria semântica), o WCST e o Teste de Stroop.

Bolla et al (2002), avaliaram se déficits neurocognitivos associados

ao uso crônico de maconha persistem após 28 dias de abstinência e se estes estão

relacionados com o número de ‘baseados’ fumados por semana. Os usuários do

estudo fumavam há pelo menos dois anos e ao menos três vezes por semana. Foram

divididos em três grupos: 7 usuários leves (média de 10 ‘baseados’/semana); 8

usuários medianos (média de 42,1 ‘baseados’/semana) e 7 usuários pesados (média

de 93,9 ‘baseados’/ semana). Os testes usados para avaliar as funções executivas

foram o Teste de Stroop, o WCST e o Trail Making Test (partes A e B). Houve uma

correlação negativa entre o número de ‘baseados’ fumados e o desempenho nos

testes, sendo que os usuários pesados tiveram um desempenho significativamente pior

do que os usuários leves, no que se refere ao desempenho no WCST. Os autores

concluíram que há um decréscimo no funcionamento executivo em função da

quantidade de maconha utilizada pelos usuários, sugerindo um efeito neurotóxico

cumulativo pelo menos em um subgrupo de usuários caracterizado por um padrão

pesado de uso.

Lyons et al (2004), examinaram 54 pares de gêmeos monozigóticos

discordantes para o uso de maconha. Um mínimo de um ano havia se passado desde

o último episódio de uso e os usuários tinham usado regularmente por um período

Page 30: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

20

médio de 20 anos. Os testes utilizados para avaliar o funcionamento executivo foram:

WCST, Teste de Stroop, Trail Making Test (partes A e B) e Figura Complexa de Rey.

Os resultados não demonstraram diferenças estatisticamente significante entre o

desempenho dos dois grupos nos testes citados.

Os estudos citados utilizaram diferentes critérios no que se refere ao

grupo controle. Solowij et al (2002) utilizaram como grupo controle sujeitos que nunca

tinham feito uso de maconha. Pope et al (2001 e 2002), na tentativa de minimizar

variáveis confundidoras, usaram como controles sujeitos que já haviam experimentado

maconha, mas não mais que 50 vezes na vida e não mais que uma vez no último ano.

Lyon et al (2004), utilizaram como controle os irmãos gêmeos do grupo de usuários, os

quais não poderiam ter fumado mais que cinco vezes na vida.

No estudo de Pope et al (1996), os usuários pesados, tiveram pior

desempenho no WCST em relação à quantidade de erros perseverativos, quando

comparados com os usuários leves, após 19 horas de abstinência. Porém, não se pode

determinar se este prejuízo é devido a efeitos residuais da droga no cérebro ou se está

relacionado à síndrome de abstinência. A maconha tem uma meia-vida de eliminação

aproximadamente sete dias, devido ao seu acúmulo no tecido adiposo e extensiva

recirculação entero-hepática, sendo que a completa eliminação de uma simples dose

pode levar até 30 dias (Maykut,1985). Além disso, a suspensão abrupta do uso pode se

seguir de sintomas de abstinência tais como inquietação, ansiedade, insônia e

alterações motoras. Segundo Jones (1983), uma dose diária de 180 mg de THC entre

11 e 21 dias já é o suficiente para produzir uma síndrome de abstinência bem definida.

Estes aspectos podem ser variáveis confundidoras quando se

analisam os resultados do estudo de Pope (1996), bem como o estudo realizado por

Solowij et al (2002). Neste último, a avaliação foi realizada com os sujeitos abstinentes

por um período médio de 17 horas. Deste modo, a diferença encontrada no WCST

(falha em manter o set) pode ser decorrente de efeitos residuais ou da suspensão

abrupta do uso da substância. Além disso, esta medida do teste está mais relacionada

com aspectos atencionais (Lezak, 1995).

Estudos comparando usuários pesados, usuários leves e controles

(Pope et al, 2001) e usuários pesados com usuários leves, levando em consideração a

idade de início de uso (Pope et al, 2003), após 28 dias de abstinência, não

encontraram diferenças significativas entre os grupos. Em contrapartida, Bolla et al

(2002), ao avaliar três grupos de usuários classificados de acordo com a intensidade de

Page 31: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

21

uso em pesados, medianos e leves, após 28 dias de abstinência, encontraram

diferenças significativas entre os grupos, com um maior prejuízo entre os usuários

pesados.

A freqüência e a duração do uso são aspectos extremamente

relevantes para tais estudos, porém muitas vezes são dados pouco confiáveis, já que

dependem da integridade da memória e honestidade no relato dos sujeitos (Ponto,

2006). Nos estudos de Pope et al (2001 e 2003) foi utilizado um limiar de 5000

episódios para uso pesado, o que é equivalente a fumar ao menos uma vez por dia

durante 13 anos. Assim como o efeito agudo difere entre usuários experientes e

inexperientes, efeitos de longo prazo variam de acordo com a duração e freqüência de

uso. De acordo com Chang et al (2006), usuários de longo prazo parecem apresentar

mecanismos neuroadaptativos que compensariam eventuais prejuízos cognitivos, o

que é consistente com resultados de estudos de neuroimagem funcional que

demonstraram a ativação de áreas compensatórias durante a realização de tarefas

cognitivas (Eldreth et al, 2004).

No estudo de Bolla et al (2002), os sujeitos fumavam em média há

4,8 ± 3,1 anos e foram classificados como usuários pesados aqueles que fumavam em

média 93,9 baseados por semana ou 13,41 baseados por dia. Esse pode ser

considerado um padrão de consumo muito pesado, o qual não reflete o padrão típico

do usuário de maconha. Isto pode explicar, pelo menos em parte, os resultados

positivos do referido estudo.

Aparentemente, os sujeitos avaliados por Lyons et al (2004) se

aproximam mais do típico usuário de maconha no que se refere ao padrão de

consumo. Porém, não foram encontradas diferenças intergrupos em relação às funções

executivas no estudo conduzido com 54 pares de gêmeos discordantes para o uso de

maconha. Os usuários fumaram em média 20 anos e não fumavam há ao menos um

ano. Como apenas metade dos pares de gêmeos identificados participou do estudo, é

possível que este tenha sido influenciado por um viés de seleção, já que os indivíduos

com funcionamento cognitivo comprometido poderiam encontrar maior dificuldade e

estarem menos motivados para participar do estudo. Alternativamente, este resultado

pode indicar a ausência de efeitos residuais nas habilidades cognitivas destes usuários.

Page 32: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

22

3 MÉTODOS

3.1 Desenho do Estudo

Foi realizado um estudo de corte transversal para avaliar o

funcionamento executivo de usuários crônicos de maconha comparados com controles

saudáveis. O estudo foi sediado na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD),

ligada ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.

3.2 Cálculo da Amostra

O tamanho da amostra foi calculado levando-se em consideração a

probabilidade de erro tipo I de 5% (nível de significância) de erro tipo II de 20% (poder

do teste 80%), em um teste de hipótese bicaudal. Para este cálculo foram usados

dados da literatura de uma taxa média de abandono de 30% (Vendetti et al, 2002).

3.3 Aspectos Éticos

Os pacientes e controles saudáveis receberam informações

detalhadas sobre o projeto de pesquisa, tendo liberdade de optar pela participação no

estudo sem que isso interferisse em seu tratamento.

Foram considerados os aspectos éticos em relação aos

participantes do estudo, garantindo aos sujeitos sigilo e confidencialidade referente às

informações coletadas, acesso aos resultados da avaliação neuropsicológica em

entrevista devolutiva, bem como o direito de não aceitar algum procedimento ou desistir

do processo a qualquer momento.

Todos os sujeitos selecionados assinaram termo de consentimento

livre e esclarecido. O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Federal de São Paulo (anexo 1).

Page 33: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

23

3.4 Sujeitos

3.4.1 Usuários de maconha

Foram selecionados 170 sujeitos com dependência ou abuso de

maconha, diagnosticados segundo critérios do DSM-IV/CID-10 como determinado pela

entrevista estruturada Composite International Diagnostic Interview-CIDI, (WHO,1997).

- Critérios de inclusão:

1) Diagnóstico de dependência ou abuso de maconha segundo critérios do DSM-

IV/CID-10 determinado à partir de entrevista estruturada (CIDI);

2) Ter entre 18 e 55 anos de idade;

3) Ter consumido maconha no mínimo 40 vezes nos últimos 90 dias (o que delimita uso

recreacional e uso abusivo).

- Critérios de Exclusão:

1) Outro diagnóstico de transtornos psiquiátricos de eixo I (CID10/DSM-IV), incluindo

abuso/dependência de outras substâncias;

2) Doenças clínicas graves;

3) História de doença do Sistema Nervoso Central (e.g., epilepsia, meningite/encefalite,

acidente vascular cerebral);

4) História de traumatismo craniano com perda de consciência;

5) Analfabetismo funcional.

3.4.2 Grupo Controle

Foram selecionados 45 controles da comunidade:

- Critérios de inclusão:

1) Indivíduos de ambos os sexos entre 18 e 55 anos de idade;

2) Ter experimentado maconha pelo menos uma vez, usado menos que 50 vezes na

vida, e não mais que uma vez no último ano (Pope et al, 2001).

Page 34: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

24

- Critérios de Exclusão:

1) Diagnósticos psiquiátricos de eixo I (CID 10/DSM-IV);

2) Doenças clínicas graves;

3) História de doença do Sistema Nervoso Central;

4) História de traumatismo craniano com perda de consciência;

5) Analfabetismo funcional.

3.5 Procedimentos

Os sujeitos foram recrutados através de cartazes e anúncios em

jornais. Os usuários de maconha foram selecionados para participar de um ensaio

clínico conduzido no Ambulatório de Maconha da Unidade de Pesquisa em Álcool e

Drogas da UNIFESP, o qual tinha como objetivo principal avaliar a eficácia da

psicoterapia breve no tratamento do abuso e dependência de maconha.

Os interessados foram entrevistados inicialmente via telefone e,

após o esclarecimento de todos os detalhes da pesquisa, foi agendado o dia da

entrevista de triagem. Na entrevista de triagem e após assinarem o termo de

consentimento livre e esclarecido (anexo 2), os participantes completaram as escalas e

questionários descritos abaixo:

• Os dados sobre freqüência, quantidade e padrão de uso foram coletados a partir

do relato dos sujeitos utilizando-se o instrumento Time Line Follow Back (Sobel &

Sobel,1992). Este instrumento possui um questionário detalhado sobre a história de

consumo, onde o uso ou não da maconha é quantificado em termos de tamanho e

número de ‘baseados’.

• O uso de drogas e álcool foi avaliado por meio da entrevista estruturada

Addiction Severity Index - ASI, a qual avalia a gravidade de problemas relacionados ao

uso de substâncias em sete áreas diferentes (McLellan et al, 1992).

• Para a detecção e exclusão de outros transtornos psiquiátricos foi utilizado a

Composite International Diagnostic Interview - CIDI (WHO, 1997), traduzida para o

português por Quintana (2005).

Page 35: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

25

• Para avaliação diagnóstica e exclusão de transtorno de déficit de atenção e

hiperatividade (TDAH) foi utilizada a Wender Utah Rating Scale (Stein et al, 1995).

• Dados relacionados à idade, anos de escolaridade e condições

socioeconômicas foram coletados através de um questionário de dados demográficos

desenvolvido por Jungerman (2005).

Os participantes selecionados a partir da primeira entrevista foram

indicados para começar o tratamento psicoterápico breve (ensaio clínico). Os

participantes que ingressaram no tratamento fizeram teste de urina para verificar a

presença de THC e a avaliação neuropsicológica.

Os usuários foram, então, divididos em três grupos de acordo com o

tempo de abstinência anterior à avaliação neuropsicológica: grupo (0), usuários não

abstinentes; grupo (1), usuários em abstinência precoce, formado por aqueles que

estavam de um a sete dias abstinentes; grupo (2) formado por aqueles que estavam há

mais de sete dias abstinentes.

Os sujeitos do grupo controle (grupo 3) completaram o questionário

de dados demográficos, CIDI (Composite International Diagnostic Interview), realizaram

teste de urina para detecção de THC e avaliação neuropsicológica.

3.6 Instrumentos de Avaliação Neuropsicológica

Foi realizada seleção e treinamento dos neuropsicólogos para

aplicação dos testes com base em um manual previamente elaborado (Anexo 3). O

manual continha as instruções de cada teste a ser aplicado, com a indicação de como

utilizá-los no que se refere à aplicação e correção. Após o início do estudo, a equipe de

neuropsicólogos foi supervisionada semanalmente.

O QI estimado dos participantes foi obtido através dos subtestes

Cubos e Vocabulários do WAIS-R, (Wechsler Adult Intelligence Scale - Revised, 1981)

como medida de inteligência pré-morbida (Anexo 4). Para avaliação específica das

funções executivas, foram selecionados os testes neuropsicológicos mais

freqüentemente usados na literatura. Segue a descrição dos testes utilizados para

avaliação do funcionamento executivo e os subdomínios avaliados.

Page 36: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

26

3.6.1 Teste de Stroop

Foi utilizada a versão Vitória (Regard, 1981), composta por três

cartões, sendo o primeiro com tarjas coloridas (verde, rosa, azul e marrom); o segundo

com palavras escritas com as cores das tarjas (ex: a palavra “cada” escrita em verde) e

o terceiro com o nome das cores escritos em cores diferentes (ex: “marrom” escrito em

azul).

Solicita-se ao examinando que diga o nome das cores das tarjas do

primeiro cartão de cima para baixo, da esquerda para a direita, o mais rápido que

conseguir. Logo após é apresentado o segundo cartão e novamente é solicitado que o

sujeito diga o nome das cores que estão pintadas e não a palavra. Por último, é

apresentado o terceiro cartão e mais uma vez solicita-se o nome das cores em que

estão pintadas as palavras e não a palavra escrita. O tempo (em segundos) que o

sujeito levou para dizer as cores de cada cartão é registrado na folha de respostas

(anexo 5).

A velocidade de execução dos dois primeiros cartões do Stroop é a

priori uma medida de atenção. Porém, a tarefa exigida pelo terceiro cartão, avalia o

controle inibitório e a capacidade de monitoramento do comportamento, ou seja, mede

a facilidade com a qual a pessoa pode mudar ou ajustar sua percepção à mudança de

demanda/necessidade e conter uma resposta habitual em detrimento de uma pouco

usual.

Segundo Fuster (1997), o controle inibitório, juntamente com a

memória operacional e o set preparatório, desempenha papel na organização temporal

do comportamento e necessita da sua base pré-frontal para operar. Para o autor, o

controle inibitório é um processo que objetiva suprimir influências internas ou externas

que possam interferir na seqüência de ação em curso, ou seja, estímulos distratores

são impedidos de alterar a estrutura global da ação decorrida no tempo. Os substratos

neurais do controle inibitório incluem o córtex pré-frontal orbitomedial, além da região

parietal e estruturas subcorticais, tais como o caudado e o giro do cíngulo.

Page 37: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

27

3.6.2 Wisconsin Card Sorting Test (WCST)

O Wisconsin Card Sorting Test é amplamente usado na clínica e na

pesquisa para a avaliação do funcionamento executivo. Foi utilizada neste trabalho a

versão de 64 cartas (Heaton,1981), que consistem em cartões brancos com figuras

geométricas que variam de acordo com as características de forma (círculo, estrela,

triângulo e cruz), cor (vermelho, verde, azul e amarelo) e quantidade de figuras

representadas no cartão ( uma, duas, três e quatro).

É solicitado ao sujeito que combine cada uma das cartas com as

quatro cartas-estímulo que servirão de modelo. O examinador não deve dizer como

combinar as cartas, apenas se a combinação feita pelo avaliando está certa ou errada.

Não existe limite de tempo para esse teste (ver anexo 6).

O avaliando tem três possibilidades de combinação: cor, forma e

número. Quando o examinando consegue combinar corretamente dez cartões-resposta

consecutivos, o examinador muda o critério de combinação e novamente o examinando

tem de descobrir o novo critério de combinação, a partir do feedback do examinador, o

qual só pode dizer se está certo ou errado.

O desempenho no teste pode ser avaliado de diversas maneiras

(Heaton et al, 1993). No presente estudos, foram analisados os escores mais

amplamente usados segundo Lezak (2004).

- Número de categorias completadas: número de seqüências de dez combinações

corretas consecutivas, o que avalia capacidade de abstração e formação de conceitos.

- Erros perseverativos: número de tentativas incorretas em que o examinando persistiu

respondendo de acordo com o critério de combinação anterior à mudança e não de

acordo com o critério de combinação vigente naquele momento. Esta medida revela a

habilidade do sujeito para usar feedback do ambiente para mudança de contexto e

flexibilidade mental

O WCST requer planejamento, habilidade em solucionar problemas,

mudança de estratégias, e comportamento orientado para um objetivo, avaliando

diferentes aspectos das funções executivas, os quais estão associados ao

funcionamento do córtex pré-frontal dorsolateral.

Page 38: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

28

3.6.3 Frontal Assessment Battery (FAB)

Esta bateria publicada por Dubois et al (2000), avalia as funções dos

lobos frontais por meio de seis subtestes, os quais exploram os seguintes aspectos:

formação de conceitos, flexibilidade mental, programação motora, sensibilidade à

interferência, controle inibitório e autonomia ambiental. Para a execução de cada um

desses processos é necessária a elaboração apropriada de comportamento dirigidos a

um objetivo específico e a adaptação das respostas do sujeito a novas situações.

Trata-se de um teste curto e sua aplicação leva em média dez minutos. Segue a

descrição dos subtestes:

1) Semelhanças: é solicitado ao sujeito que conceitualize a relação entre dois objetos

da mesma categoria em três tentativas, como por exemplo, banana e laranja.

2) Fluência verbal: o sujeito deve dizer o maior número de palavras que conseguir

começando, por exemplo, com a letra S em um minuto. Esta tarefa requer a

organização de estratégias cognitivas para a recuperação da memória semântica.

3) Programação motora: o paciente deve repetir uma série motora como, por exemplo,

“punho – palma – lado”. A execução desta série de movimentos exige organização

temporal e manutenção de ações sucessivas.

4) Sensibilidade à interferência: são dadas instruções conflitantes e os sujeitos devem

obedecer a um comando verbal discordante do que ele vê, sendo necessária uma

auto-regulação eficiente. É pedido ao paciente que bata uma vez na mesa, quando

o examinador bater duas e que ela bata duas vezes quando o examinador bater

uma vez.

5) Go/ No Go: É uma tarefa de controle inibitório, onde o sujeito deve inibir respostas

inapropriadas quando é solicitado que ele bata uma vez quando o examinador

também bater uma vez na mesa e que ela não bata (iniba a resposta), quando o

examinador bater duas vezes.

Page 39: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

29

6) Comportamento de preensão manual: exige autonomia ambiental, na medida em

que o examinador solicita que o paciente posicione as mãos com as palmas

voltadas para cima e, em seguida, coloca suas mão sobre as do paciente. O

paciente não deve segurar as mãos do examinador. Se isto acontecer, o

examinador diz que ele não deve pegar suas mãos e repete o processo.

Cada subteste é pontuado com o máximo de três pontos,

obedecendo a critérios específicos (ver anexo 7), sendo que a pontuação máxima do

teste é igual a 18. O FAB tem se mostrado uma medida eficaz para se avaliar prejuízos

em diferentes domínios das funções executivas.

3.7 Análise Estatística

Os dados clínicos e de avaliação neuropsicológica foram tabulados

e analisados estatisticamente, utilizando o Social Package for Social Sciences (SPSS

11.0, Chicago, Illinois) em sua versão para Windows. Em todas as análises a

significância estatística foi estabelecida como p < 0,05.

Para verificar a possível existência de diferenças estatísticas entre

os grupos em relação às características demográficas foi utilizado o teste de análise de

variância (ANOVA) para as variáveis contínuas e com distribuição normal e o teste Qui-

quadrado para variáveis categóricas.

Foram conduzidas análises de covariância (ANCOVA) bicaudais,

com os dados neuropsicológicos introduzidos como variável dependente, diagnóstico

como variável independente e idade, QI e anos de escolaridade como covariáveis.

Foram examinados através do mesmo modelo, os subgrupos de pacientes (0) não

abstinentes, (1) abstinentes entre um e sete dias e (2) abstinentes há mais de sete

dias, comparados com o grupo (3) de controles saudáveis.

Análises de covariância também foram utilizadas para examinar os

possíveis efeitos de variáveis clínicas no funcionamento executivo de usuários crônicos

de maconha como idade de início do uso e quantidade e freqüência de uso. Correlações entre dados neuropsicológicos e quantidade, freqüência

e idade de início de uso regular de maconha foram examinadas através de coeficientes

de correlação de Spearman.

Page 40: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

30

4 RESULTADOS

4.1 Características da amostra

Dos 215 sujeitos que entraram no estudo, foram excluídos 42

usuários e 13 controles, restando um total de 160 sujeitos (figura 2). Entre os usuários

excluídos, um foi devido à idade acima do estipulado, quatro apresentaram

dependência de álcool e cinco apresentaram outros diagnósticos de eixo I, segundo

DSM IV/CID10. Os pacientes classificados como não avaliados não compareceram ou

se negaram a fazer a avaliação neuropsicológica. A classificação “outros” indica

exclusão devido à condição clínica ou doenças neurológicas graves.

O grupo de usuários incluídos no estudo foi, então, dividido em três

grupos de acordo com o período de abstinência:

• Grupo (0), formado por 74 usuários que não estavam abstinentes, ou seja, havia

se passado menos de vinte e quatro horas desde o último episódio de uso;

• O grupo (1), formado por 25 usuários em abstinência precoce, ou seja, entre um e

sete de abstinência (M=3,28; DP=2,13);

• O grupo (2), composto por 29 usuários abstinentes há mais de sete dias, entre

oito e vinte e cinco dias (M=14,31; DP= 5,05).

No grupo controle (grupo 3), três sujeitos apresentaram teste de

urina para detecção de THC (tetrahidrocanabinol) positivo no momento da avaliação,

um era dependente de álcool e seis apresentaram outros diagnósticos de eixo I,

segundo DSM IV/CID10. Com isso, foi incluído no estudo um total de 32 controles.

Os quatro grupos avaliados não apresentaram diferenças

estatisticamente significantes em relação à idade (ANOVA, F 0,67;3 = 1,384, p= 0,250),

anos de escolaridade (ANOVA, F 0,28;3 = 0,152, p= 0,928) e proporção de homens e

mulheres (ҳ² = 4,25,p= 0,235), dados que podem ser observados na tabela1.

A idade dos sujeitos avaliados variou entre 18 e 53 anos. A média

de idade do grupo (0) foi igual a 33,78 (DP = 8,87), no grupo (1) foi igual a 31,28(DP =

6,77), no grupo (2) a média de idade foi igual a 32,21 (DP = 6,43) e no grupo (3) foi

igual a 29,74 (DP = 8,47).

Page 41: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

31

Total de sujeitos selecionados para o estudo. N=215

Usuários de maconha N= 170

Controles N=45

Excluídos: Urina positiva n=3 Dependência álcool n=1 Outros Diag. Eixo I n=6 Outros n= 3

Excluídos: Idade n=1 Dependência álcool n=4 Outros Diag. Eixo I n=5 Não avaliados n=24 Outros n=8

Grupo controle (3) N= 32

Grupo (0) Usuários não abstinentes

N=74

Grupo (1) Usuários em abstinência

precoce N= 25

Grupo (2) Usuários abstinentes há mais

de sete dias N=29

Figura 2. QUANTIDADE DE SUJEITOS RECRUTADOS, EXCLUÍDOS E AVALIADOS

NO ESTUDO.

A escolaridade foi medida por anos de estudo completados. Pode-se

observar que os grupos apresentam média de anos de escolaridade bastante

semelhantes. No que se refere ao gênero, todos os grupos apresentaram uma

predominância do sexo masculino.

Page 42: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

32

Tabela 1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS

Grupos Caract. Demográficas

(0) usuários não abstinentes. N = 74

(1) usuários abstinentes entre 1 e 7 dias. N=25

(2) usuários abstinentes há mais de 7 dias. N=29

(3) controles N = 32

Idade M (DP) [Min-Max]

33,78 (8,87) [20-53]

31,28 (6,77)

[19-48]

32,21 (6,43)

[18-44]

29,74 (8,47)

[18-53]

Anos de escolaridade M (DP) [Min-Max]

13,04 (3,51) [4-22]

13,08 (3,22) [8-21]

13,21 (3,07) [5-18]

13,97 (3,27) [5-21]

Sexo M / F Porcentagem (%)

58/16 78/22

22/3 88/12

23/6 79/21

21/11 65/35

Anova F= 1,384 , p=0,250

Anova F=0,152, p= 0,928

Qui-quadrado ҳ² = 4,25 p= 0,235

No que se refere ao estado civil, à condição ocupacional e ao nível

sócio-econômico dos indivíduos participantes do estudo, pode-se notar que a maioria

dos sujeitos em todos os grupos é formada por indivíduos solteiros, que atualmente

trabalham e pertencem à classe C (tabela 2).

Os sujeitos classificados como ‘outros’ na categoria estado civil são

aqueles que moram com companheiro ou namorado, mas não são casados

oficialmente. O nível sócio-econômico foi estabelecido de acordo com o critério de

classificação desenvolvido pela Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de

Mercado (ABIPEME, 1978) com a finalidade dividir a população em categorias segundo

padrões ou potenciais de consumo, ou seja, a definição de classe utilizada foi o poder

aquisitivo das famílias (anexo 8).

Page 43: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

33

Não foram observadas diferenças estatísticas entre os grupos em

relação a esses aspectos. Apesar disso, observa-se que há um maior número de

sujeito que trabalham e estudam ou que só estudam no grupo controle, enquanto que

nos grupos de usuários ocorre uma maior freqüência de sujeitos sem ocupação. Além

disso, sujeitos classificados como pertencentes à classe E aparecem apenas no grupo

de usuários não abstinentes e não há indivíduos pertencentes à classe A1 em nenhum

dos grupos.

No grupo 0, 62% dos sujeitos são solteiros, 18,9% são casados,

13,5% são separados ou divorciados e 5,4% moram com companheiro. Destes 62,2%

trabalham, 18,9% trabalham e estudam, 12,2% não têm ocupação e 6,8% apenas

estudam. Entre esses sujeitos, 51,4% pertencem à classe C, 14,9% pertencem à

classe B1, 13,5% pertencem à classe B2, 9,5% pertencem à classe A2, 9,5%

pertencem à classe D e 1,4% pertencem à classe E.

Entre os sujeitos do grupo 1, 68% são solteiros, 24% são casados,

4% são separados ou divorciados e 4% moram com companheiro. A porcentagem de

sujeitos que trabalham é de 64%, 20% não têm ocupação, 12% estudam e 4%

trabalham e estudam. 40% dos sujeitos estão classificados como pertencentes à classe

C, 24% estão na classe B2, 16% estão na classe B1, 12% estão na classe D e 8%

estão na classe A2.

A porcentagem de sujeitos solteiros no grupo 2 é de 48,3%, os

casados representam 37,9%, divorciados ou separados são 6,9%, assim como a

porcentagem daqueles que moram com companheiro. Neste grupo, 69% trabalham,

13,8% trabalham e estudam, 10,3% não têm ocupação e 6,9% apenas estudam. Em

relação ao nível sócio-econômico, 51,7% são da classe C, 20,7% são da classe B1,

20,7% são classe B2, 3,4% são da classe D e 3,4% são da classe A2.

No grupo controle, 70% dos sujeitos são solteiros, 16,7% são

casados, 8,4% são separados ou divorciados e 4,2% moram com companheiro. Em

relação à situação ocupacional, 37,5% trabalham, 29,2% trabalham e estudam, 25%

apenas estudam e 8,3 % não têm ocupação. Dentro dos sujeitos controles, 37,5%

pertencem à classe C, 29,2% pertencem à classe B1, 16,7% pertencem à classe D,

12,5% pertencem à classe A2, e 4,2% pertencem à classe B2.

Page 44: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

34

Tabela 2. ASPECTOS SOCIAIS

Grupos

(0) usuários não abstinentes. N = 74

(1) usuários abstinentes entre 1 e 7 dias. N=25

(2) usuários abstinentes há mais de 7 dias. N=29

(3) controles N = 32

Estado civil Solteiro Casado Separado ou divorciado Outros

62,2 %

18,9 %

13,5 %

5,4 %

68 %

24 %

4 %

4 %

48,3 %

37,9 %

6,9 %

6,9 %

70 %

16,7 %

8,4 %

4,2 % Status ocupacional Estuda Trabalha Trabalha e estuda Sem ocupação

6,8 %

62,2 %

18,9 %

12,2 %

12 %

64 %

4 %

20%

6,9 %

69 %

13,8 %

10,3 %

25 %

37,5 %

29,2 %

8,3 %

Nível Sócio – econômico Classe A2 Classe B1 Classe B2 Classe C Classe D Classe E

9,5 %

14,9 %

13,5 %

51,4 %

9,5 %

1,4 %

8,0 %

16,0 %

24,0 %

40,0 %

12,0 %

---

3,4 %

20,7 %

20,7 %

51,7 %

3,4 %

---

12,5 %

29,2 %

4,2 %

37,5 %

16,7 %

--- Qui-quadrado ҳ² = 8,97 p= 0,705

Qui-quadrado ҳ² =15,18 p= 0,086

Qui-quadrado ҳ² =12,16 p= 0,667

Page 45: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

35

A tabela 3 sumariza as características dos usuários em relação ao

padrão de consumo e freqüência de uso de maconha. Para esta análise foi utilizado o

teste de análise de variância. Os três grupos de usuários não apresentaram diferenças

estatisticamente significantes em relação à idade de experimentação da droga, idade

de início de consumo diário, anos e números de dias de consumo diário na vida do

paciente, padrão de consumo em ‘baseados’ médios e número de ‘baseados’ fumados

na vida após inicio de consumo diário.

A idade em que os sujeitos usaram maconha pela primeira vez

variou entre 8 e 35 anos. Já a idade em que o uso tornou-se diário variou entre 11 e 55

anos. O número de anos de consumo diário na vida dos pacientes variou entre 1 (365

dias) e 35 anos (12775 dias). O padrão de consumo foi medido em ‘baseados’ médios,

ou seja, a referência utilizada foi a de um ‘baseado’ de tamanho médio dividido em

quartos. Assim, o padrão de consumo variou de 0,25 (1/4 de ‘baseado’) a 20

‘baseados’ de tamanho médio por dia. O número de ‘baseados’ fumados na vida após

inicio do consumo diário variou entre 365 e 124100.

Os usuários não abstinentes (grupo 0) usaram maconha pela

primeira vez em média com 16,5 anos (±3,31), começaram a fazer uso diário em média

com 21,05 anos (±6,38). Fumaram em média por 12,59 anos (±8,32), num total de

4595 (±3037) dias. O padrão de consumo médio desses usuários foi de 2,17

‘baseados’ por dia (±2,88), perfazendo um total de 10323 (±20251) ‘baseados’ fumados

na vida.

No grupo (1), de usuários abstinentes em entre 1 e 7 dias, o primeiro

episódio de uso ocorreu em média com 16,72 anos (±4,46) e começaram a fazer uso

diário em média com 20 anos (±4,85). Fizeram uso diário em média por 10,76 anos

(±5,80), num total de 3927 dias (±2118). A média de padrão de consumo foi de 1,78

(±2,30) ‘baseados’ por dia, com um consumo médio de 7320,9 (±10385) ‘baseados’

fumados na vida.

A idade média em que os usuários do grupo (2) usaram pela

primeira vez foi aos 17,21 anos (±3,43) e começaram a fazer uso diário em média com

22 (±5,42) anos. A média de anos de consumo deste grupo foi de 10,29 anos (±7,37),

num total de 3754 (±2692) dias. A média de padrão de consumo foi de 1,79(±2,25)

‘baseados’ por dia, num total de 9105 (±17070) ‘baseados’ fumados na vida.

Page 46: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

36

Tabela 3. PADRÃO DE CONSUMO E FREQUENCIA DE USO

Grupos

Freq. e padrão de consumo

(0) usuários não abstinentes. N = 74

(1) usuários abstinentes entre 1 e 7 dias. N=25

(2) usuários abstinentes há mais de 7 dias. N=29

ANOVA

Valor de p

Idade em que usou pela primeira vez. M (DP) [Min-Max]

16,50 (3,31) [8 - 28]

16,72 (4,46) [13-35]

17,21 (3,43) [13-29] 0,669

Idade em que começou a fumar maconha diariamente. M(DP) [Min-Max]

21,05 (6,38) [13-55]

20,56 ( 4,85)

[14-35]

22,00 (5,42) [11-35] 0,656

Anos de consumo diário na vida. M(DP) [Min-Max]

12,59 (8,32) [1-35]

10,76 (5,80) [3-29]

10,29 (7,37) [1-28] 0,320

Número de dias de consumo diário na vida. M(DP) [Min-Max]

4595 (3037) [365-12775]

3927 (2118) [1095-10585]

3754 (2692) [365 -10220] 0,320

Padrão de consumo em baseados médios por dia. M(DP) [Min-Max]

2,17 (2,88) [0,25-20]

1,78 (2,30) [0,25-10]

1,79 (2,25) [0,25-10] 0,714

Número de baseados fumados na vida após o início de seu consumo diário. M(DP) [Min-Max]

10323,3 (20251) [365- 124100]

7320,9 (10385) [273-40150]

9105,4 (17070) [182-69350] 0,768

Page 47: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

37

4.2 Resultados dos testes neuropsicológicos

Os grupos estudados não apresentaram diferença estatisticamente

significante em relação à medida de QI estimado, obtida por meio dos subtestes

Vocabulário e Cubos do WAIS-R (tabela 4), o que pôde ser constatado através de teste

de análise de variância (ANOVA, F 0,77;3 = 0,76; p=0,973).

Tabela 4 – VALORES DE QI ESTIMADO

Grupos (0) usuários não abstinentes. N = 74

(1) usuários abstinentes entre 1 e 7 dias. N=25

(2) usuários abstinentes há mais de 7 dias. N=29

(3) controles N = 32

ANOVA

Valor de p

QI

Estimado

M (DP)

99,60

(9,77)

99,00

(8,84)

98,96

(9,05)

99,96

(11,25) 0,973

Os usuários não abstinentes (grupo 0) obtiveram um QI médio igual

a 99,60 (±9,77), o grupo (1) abstinente entre um e sete dias obteve resultado igual a 99

(±8,84), o grupo (2) abstinente há mais de uma semana obteve resultado igual a 98,96

(±9,05) e o grupo controle obteve QI médio igual a 99,96 (±11,25).

Os principais resultados dos testes neuropsicológicos são mostrados

na tabela 5. Foram realizadas análises de covariância bicaudais (ANCOVA) para

verificar o desempenho de cada grupo de usuários em relação aos controles. Foram

considerados como co-variáveis a idade dos sujeitos, anos de escolaridade e a medida

de QI estimado. O tamanho do efeito foi calculado para verificar a magnitude da

diferença entre as médias dos usuários e controles.

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes

entre os grupos de usuários quando comparados separadamente com o grupo controle

em relação ao tempo de execução das pranchas 1 e 3 do teste de Stroop .

Page 48: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

38

Tabela 5. RESULTADOS DOS TESTES NEUROPSICOLÓGICOS

Testesª

Grupo 0 M (DP) N= 74

Grupo 1M (DP) N= 25

Grupo 2M (DP) N= 29

ControleM (DP) N= 32

0 vs 3

Valor de p¹

1vs 3

2 vs 3

Grupo 0 vs

controles

Tamanho do efeito²

Grupo 1 vs

controles

Grupo 2 vs

controles Stroop (tempo)

Prancha 1 16,82 (6,03)

16,41 (5,78)

17,21 (6,48)

15,45 (4,82) 0,201 0,190 0,243 0,25 0,18 0,30

Prancha 2 17,67 (5,17)

18,77 (7,56)

17,11 (4,01)

15,58 (2,86) 0,036 0,010 0,185 0,50 0,55 0,43

Prancha 3 27,63 (13,4)

26,65 (11,0)

24,04 (7,50)

24,84 (8,19) 0,427 0,499 0,421 0,25 0,18 -0,10

WCST

Número de categorias

2,77 (2,42)

3,09 (1,44)

3,39 (1,06)

3,73 (1,01) 0,001 0,111 0,416 -0,51 -0,51 -0,32

Erros perseverativos

9,70 (6,55)

8,00 (4,32)

8,11 (4,54)

5,73 (2,37) 0,004 0,028 0,036 0,80 0,65 0,65

Perda de set 0,57 (0,85)

0,95 (1,06)

0,35 (0,48)

0,61 (0,88) 0,644 0,279 0,108 -0,04 0,34 -0,36

¹Ancova – p < 0,05

² Cohen’s d – effect size

ª São mostradas as médias e os desvios-padrão (DP)

(1) Não foi possível realizar o cálculo, pois não houve erros Continua

Page 49: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

39

Continuação

Tabela 5. RESULTADOS DOS TESTES NEUROPSICOLÓGICOS

Testesª Grupo 0 M (DP) N= 74

Grupo 1M (DP) N= 25

Grupo 2M (DP) N= 29

ControleM (DP) N= 32

0 vs 3

Valor de p¹

1vs 3

2 vs 3

Grupo 0 vs

controles

Tamanho do efeito²

Grupo 1 vs

controles

Grupo 2 vs

controles FAB

Semelhanças 2,61 (0,61)

2,64 (0,56)

2,59 (0,56)

2,65 (0,60) 0,731 0,910 0,802 -0,06 -0,01 -0,10

Fluência verbal

2,88 (0,36)

2,64 (0,56)

2,83 (0,46)

2,87 (0,34) 0,614 0,099 0,651 0,03 -0,49 -0,09

Programação motora

2,41 (0,95)

2,48 (0,87)

2,24 (1,02)

2,74 (0,57) 0,171 0,257 0,040 -0,42 -0,35 -0,60

Sensibilidade à interferência

2,93 (0,34)

2,84 (0,47)

2,79 (0,49)

2,94 (0,25) 0,854 0,355 0,260 -0,03 -0,26 -0,38

Go/ No Go 2,78 (0,60)

2,52 (0,77)

2,66 (0,85)

2,84 (0,52) 0,885 0,085 0,515 -0,10 -0,48 -0,25

Preensão manual.

2,92 (0,49)

2,92 (0,40)

3,00 (0,00)

3,00 (0,00) 0,476 0,220 (1) -0,23 -0,28 (1)

Escore total 16,50 (1,98)

15,96 (1,90)

16,10 (1,93)

17,00 (1,15) 0,375 0,023 0,064 0,30 -0,66 -0,56

¹Ancova – p < 0,05

² Cohen’s d – effect size

ª São mostradas as médias e os desvios-padrão (DP)

Não foi possível realizar o cálculo, pois não houve erros

Page 50: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Os usuários não abstinentes (grupo 0) e os usuários que estavam

entre um e sete dias de abstinência (grupo 1) levaram um maior tempo para a

execução da prancha dois do teste de Stroop quando comparados com o desempenho

dos controles, gerando diferenças estatisticamente significantes, porém a magnitude do

efeito é considerada apenas média. Os usuários do grupo 0 levaram em média 17,67 (±

5,17) segundos para a execução da tarefa e os usuários do grupo 1 levaram em média

18,77 (± 7,56) segundos, enquanto os controles realizaram a tarefa levando em média

15,58 segundos (± 2,86).

Os usuários que não estavam abstinentes no momento da avaliação

(grupo 0) completaram menor número de categorias (2, 77, ± 1,42 vs 3,73, ±1, 01;

F0,16;1 =11,01, p= 0,01) e apresentaram maior número de erros perseverativos (9,70,

±6,55 vs 5,73, ±2,37; F0,77;1 =8,76, p= 0,004) no WCST quando comparado com o

grupo de controles saudáveis. O tamanho do efeito para o número de categorias e

erros perseverativos variou entre médio e grande, 0,51 e 0, 80, respectivamente.

Quando foram comparados os usuários do grupo 1 com o grupo

controle, foram encontradas diferenças no que se refere ao número de erros

perseverativos (F0,90;1 = 5,13;p=0,028). No grupo de usuários abstinentes há mais de

uma semana (grupo 2), também foram encontradas diferenças em relação a esta

variável (F0,85;1 = 4,60; p=0,036). Pode - se notar que os três grupos de usuários

fizeram maior número de erros perseverativos do que os controles, porém o tamanho

do efeito foi maior entre os usuários não abstinentes e o grupo controle.

Foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre o

grupo 1 e o grupo controle no que se refere ao escore total da FAB (F0,38;1 = 5,51;

p=0,023) e entre o grupo 2 e o grupo controle em relação ao subteste de programação

motora (F0,19;1= 4,43; p=0,040). O desempenho dos grupos de usuários não foi

estatisticamente diferente do grupo controle no que se refere aos escores obtidos em

outros subtestes da FAB, bem como no escore total.

4.3 Análises secundárias

Foram realizadas análises para verificar os possíveis efeitos de

variáveis clínicas como a idade em que os usuários usaram maconha pela primeira vez

e a quantidade de baseados fumados na vida.

Page 51: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

41

Em primeiro lugar, os usuários foram divididos em dois grupos de

acordo com a idade em que fizeram uso de maconha pela primeira vez. O grupo (1) foi

composto por usuários que tinham 17 anos ou menos no primeiro episódio de uso de

maconha e o grupo (2) foi formado por aqueles que tinham mais de 17 anos quando da

primeira exposição à maconha.

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes

entre os dois grupos citados em relação à média de dias abstinentes antes da

avaliação, anos de consumo e número de dias de consumo diário, padrão de consumo

em ‘baseados’ médios por dia e número de ‘baseados’ fumados na vida, o que pode

ser observado na tabela 6. Para esta análise foi utilizado o teste T de Student para

amostras independentes, por se tratarem de dados com distribuição normal.

Os usuários do grupo 1 estavam abstinentes em média há 3,85

(±6,54) dias e fumavam em média há 11,42 (±7,65) anos. Além disso, a média de

número de dias de consumo diário foi igual a 4168 (±2795,50), tinham um padrão de

consumo de 1,97 (2,32) ‘baseados’ por dia e tinham fumado em média 7782,40

(±11972,92) ‘baseados’ na vida.

A média de dias abstinentes dos usuários do grupo 2 foi igual a 3,35

(5,95). Estes usuários fumavam em média há 12,03 (7,48) com um padrão de consumo

médio de 2,47 (3,71) ‘baseados’ por dia. A média de dias de consumo diário na vida foi

igual a 4389,3 (2732,03) e a média do número de ‘baseados’ fumados na vida igual a

13125,96 (26363,50).

Nesta análise foram observadas diferenças de idade e anos de

escolaridade entre os grupos de usuários e controles. Os sujeitos do grupo (1) tinham

em média 30,84 (7,95) anos e em média 12,66 (3,14) anos de escolaridade, enquanto

que os sujeitos do grupo (2) tinham em média 36,34 (6,98) anos e em média 13,98

(3,43) anos de escolaridade. Os sujeitos do grupo controle apresentaram valores

médios de idade e anos de escolaridade já descritos acima (tabela 1). Em relação ao

escore de QI estimado e proporção de homens e mulheres não foram observadas

diferenças significativas entre os grupos.

Page 52: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

42

Tabela 6 – DADOS SOBRE O CONSUMO DE MACONHA

Grupos

Freq. e padrão de consumo

(1) primeiro uso com 17 anos ou menos N=89

(2) primeiro uso com mais de 17 anos N=39

Teste-T

Valor de p*

Número de dias abstinente M (DP)

3,85 (6,54)

3,95 (5,95) 0,934

Anos de consumo diário na vida. M(DP)

11,42 (7,65).

12,03 (7,48)

0,675

Número de dias de consumo diário na vida. M(DP)

4168,06

(2795,50)

4389,36 (2732,03) 0,675

Padrão de consumo em baseados médios por dia. M(DP)

1,9791 (2,32)

2,4756 (3,71) 0,350

Número de baseados fumados na vida M(DP)

7782,40 (11972,92)

13125,96 (26363,50) 0,112

* Teste t de student – p <0, 05

O desempenho dos grupos nos testes neuropsicológicos foi

comparado separadamente com o grupo controle, por meio de análise de covariância,

tendo idade e anos de escolaridade como covariáveis. Esta análise também foi

realizada para a comparação do desempenho entre os dois grupos de usuários.

Quando foi comparado o grupo (1) com o grupo controle, foram

encontradas diferenças em relação ao número de categorias completadas (2, 94, ±1,34

vs 3,73, ±1,01; F0,14;1 = 6,13, p= 0,015) e ao número de erros perseverativos (9,30,

±6,07 vs 5,73, ±2,37; F0,60;1 =7,22, p= 0,008) no WCST, ou seja, os usuários que

começaram a fumar com 17 anos ou menos completaram menor número de categorias

e fizeram maior número de erros perseverativos quando comparados ao grupo

controle. Além disso, também obtiveram pior desempenho no subteste de séries

motoras do FAB (2,32, ±1,00 vs 2,74, ±0,57; F0,08;1 =4,02, p= 0,047)

Page 53: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

43

Tabela 7 - COMPARAÇÃO EM RELAÇÃO À IDADE DE INÍCIO DE USO

Testesª

Grupo 1 M (DP)

N= 89

Grupo 2M (DP)

N= 39

Controle M (DP)

N= 32

1 vs 3

Valor de p*

2 vs 3

1 vs 2 Stroop (tempo)

Prancha 1 16,35 (6,24)

17,35 (5,55)

15,45 (4,82) 0,343 0,181 0,684

Prancha 2 17,42 (5,48)

18,33 (5,30)

15,58 (2,86) 0,069 0,043 0,640

Prancha 3 26,71 (13,37)

25,95 (6,41)

24,84 (8,19) 0,573 0,840 0,304

WCST

Número de categorias

2,94 (1,34)

3,10 (1,39)

3,73 (1,01) 0,015 0,047 0,871

Erros perseverativos

9,30 (6,07)

8,08 (4,90)

5,73 (2,37) 0,008 0,053 0,339

Perda de set 0,54 (0,78)

0,71 (0,94)

0,61 (0,88) 0,454 0,615 0,327

FAB

Semelhanças 2,63 (0,58)

2,59 (0,59)

2,65 (0,60) 0,920 0,602 0,335

Fluência verbal

2,82 (0,46)

2,85 (0,35)

2,87 (0,34) 0,883 0,766 0,496

Programação motora

2,32 (1,00)

2,54 (0,77)

2,74 (0,57) 0,047 0,140 0,259

Sensibilidade à interferência

2,88 (0,38)

2,88 (0,45)

2,94 (0,25) 0,507 0,902 0,847

Go/ No Go 2,72 (0,68)

2,68 (0,72)

2,84 (0,52) 0,595 0,424 0,729

Preensão manual.

2,91 (0,48)

3,00 (0,00)

3,00 (0,00) 0,375 (1) 0,086

Escore total 16,23 (2,12)

16,54 (1,41)

17,00 (1,15) 0,131 0,192 0,444

* Ancova – p <0,05

ª São mostradas as médias e os desvios-padrão (±DP)

(1) Não foi possível realizar o cálculo, pois não houve erros

Page 54: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

44

O grupo (2), quando da comparação com os controles apresentou

um maior tempo para a execução da prancha 2 do teste de Stroop (18,33± 5,30 vs 15,

58, ±2,86; F0,51;1 =4,26, p= 0,043) e menor número de categorias completadas (3,10

±1,39 vs 3,73, ±1,01; F0,18;1 =4,11, p= 0,047) no WCST. Não foram encontradas

diferenças no desempenho dos testes quando comparados os dois grupos de usuários.

Os resultados descritos podem ser visualizados na tabela 7.

Posteriormente, foi realizada uma análise na qual os usuários foram

divididos de acordo com o número de ‘baseados’ fumados na vida. Cinco sujeitos foram

excluídos dessa análise, pois não tinham esses dados coletados e foram considerados

como dados perdidos. O grupo (1) foi formado por usuários que fumaram menos que

5000 vezes na vida e o grupo (2), formado por sujeitos que fizeram uso mais de 5000

vezes na vida. O critério utilizado de 5000 episódios de uso na vida foi o mesmo limiar

usado por Pope et al (2001) para caracterizar uso pesado, o que equivale a fumar ao

menos uma vez por dia durante treze anos. Os usuários estavam em média com 3,88

(± 6,33) dias de abstinência no momento da avaliação. Os grupos apresentaram média

de idade estatisticamente diferente, diferença esperada na medida em que há uma

correlação direta entre idade e número de episódios de exposição à substância.

A média de idade do grupo (1) foi igual a 30,84 (±8,04) e do grupo

(2) igual a 34,85 (±7,82). No que se refere aos anos de escolaridade, valor de QI

estimado e proporção de homens e mulheres, não foram observadas diferenças entre

os grupos de usuários e controles. Novamente, foi realizada análise de covariância

para verificar o desempenho dos grupos de usuários em relação aos controles (grupo

3). Os resultados são apresentados na tabela 8.

Os usuários que fumaram até 5000 vezes (grupo 1), obtiveram pior

desempenho nos testes neuropsicológicos quando comparados com controles

saudáveis. Os usuários de maconha completaram menos categorias (3,11, ±1,29 vs

3,73,±1,01; F0,15;1 =5,05, p=0,027) e fizeram maior número de erros perseverativos

(8,14, ±4,59 vs 5,73, ±2,37; F0,54;1 =7,10, p=0,009) no WCST.

Já os usuários do grupo 2, os quais tinham fumado mais que 5000

vezes na vida levaram um tempo maior para a execução da prancha 2 do teste de

Stroop em comparação aos controles (17, 88, ±6,58 vs 15,58, ±2,86; F0,75;1 =4,70, p=

0,033).

Page 55: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

45

Tabela 8 – COMPARAÇÃO EM RELAÇÃO À FREQUÊNCIA DE USO

Testesª

Grupo 1 M (DP)

N= 72

Grupo 2M (DP)

N= 51

Controle M (DP)

N= 32

1 vs 3

Valor de p*

2 vs 3

1 vs 2 Stroop (tempo)

Prancha 1 16,38 (6,02)

16,91 (6,24)

15,45 (4,82) 0,320 0,353 0,917

Prancha 2 17,19 (4,76)

17,88 (6,58)

15,58 (2,86) 0,102 0,033 0,461

Prancha 3 26,41 (13,64)

25,88 (7,92)

24,84 (8,19) 0,756 0,672 0,741

WCST

Número de categorias

3,11 (1,29)

2,81 (1,45)

3,73 (1,01) 0,027 0,006 0,309

Erros perseverativos

8,14 (4,59)

9,71 (6,70)

5,73 (2,37) 0,009 0,013 0,395

Perda de set 0,66 (0,96)

0,51 (0,64)

0,61 (0,88) 0,956 0,377 0,334

FAB

Semelhanças 2,64 (0,61)

2,64 (0,52)

2,65 (0,60) 0,852 0,795 0,994

Fluência verbal

2,80 (0,46)

2,89 (0,36)

2,87 (0,34) 0,683 0,595 0,098

Programação motora

2,47 (0,87)

2,33 (0,98)

2,74 (0,57) 0,073 0,105 0,925

Sensibilidade à interferência

2,88 (0,40)

2,87 (0,43)

2,94 (0,25) 0,571 0,524 0,864

Go/ No Go 2,68 (0,70)

2,75 (0,70)

2,84 (0,52) 0,412 0,923 0,391

Preensão manual.

2,89 (0,53)

3,00 (0,00)

3,00 (0,00) 0,360 (1) 0,061

Escore total 16,32 (2,04)

16,44 (1,77)

17,00 (1,15) 0,123 0,260 0,337

* Ancova – p<0,05

ª São mostradas as médias e os desvios-padrão (±DP)

(1) Não foi possível realizar o cálculo, pois não houve erros

Page 56: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

46

Os usuários do grupo 2 também apresentaram pior desempenho em

relação aos controles no que se refere ao número de categorias completadas (2,81,

±1,45 vs 3,73, ±1,01; F0,20;1 =7,88, p=0,006) e erros perseverativos (9,71, ±6,70 vs 5,73,

±2,37; F0,93;1 =6,45, p= 0,013) no WCST.Ao comparar a performance dos dois grupos

de usuários estudados, não foram encontradas diferenças estatisticamente

significantes no desempenho dos testes aplicados.

4.4 Correlações

Foi verificada a associação entre tempo, quantidade, freqüência de e

idade de início de uso regular de maconha e prejuízo no funcionamento executivo

(coeficientes de Spearman; p <0,05). Devido a grande quantidade de variáveis serão

mostrados apenas os resultados com significância estatística.

Ao analisar a associação entre idade de início de uso e desempenho

nos WCST, foi encontrada correlação direta entre idade em que o indivíduo começou a

fazer uso de maconha e número de categorias completadas (r=0,202; p=0,026) e

correlação inversa com a quantidade de erros perseverativos (r= -0,191; p= 0,035), ou

seja, quanto menor a idade em que os sujeitos começam a consumir maconha, menor

o número de categorias concluídas e maior o número de erros perseverativos

cometidos nesta tarefa (tabela 9).

Tabela 9 – CORRELAÇÃO ENTRE IDADE DE INÍCIO DE USO DE

MACONHA E DESEMPENHO NO WCST

WCST Coeficiente de correlação

Valor de p

Número de categorias

r= 0,202 0,026

Erros perseverativos

r= - 0,191 0,035

Page 57: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

47

Também foram encontradas associações diretas entre a idade em

que os usuários começaram a fazer uso diário de maconha e o desempenho na

execução da prancha 2 (r=0,195; p= 0,029) e da prancha 3 (r=0,180; p=0,045) do Teste

de Stroop (tabela 10). Não foram encontradas associações entre tempo, quantidade e

freqüência de uso em relação ao desempenho dos usuários estudados nos testes

neuropsicológicos aplicados.

Tabela 10 – CORRELAÇÃO ENTRE IDADE DE INÍCIO DE USO

DIÁRIO DE MACONHA E DESEMPENHO NO TESTE DE STROOP

STROOP Coeficiente de correlação

Valor de p

Prancha 2

r= 0,195 0,029

Prancha 3

r= 0, 180 0,045

Page 58: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

48

5 DISCUSSÃO

O objetivo principal do presente estudo foi avaliar o funcionamento

executivo em usuários crônicos de maconha não abstinentes, durante abstinência

precoce (até sete dias após o último episódio de intoxicação aguda) e após sete dias

de abstinência em comparando-o com o funcionamento executivo de controles

saudáveis pareados por sexo, idade e escolaridade.

Os usuários não abstinentes apresentaram pior desempenho no

WCST e lentificação na execução da prancha 2 do teste de Stroop em comparação

com o grupo controle. Os usuários em abstinência precoce, além de apresentarem

estes prejuízos, também apresentaram pior desempenho na FAB. Já aqueles que

estavam há mais de sete dias abstinentes, quando comparados com o grupo de

controles, apresentaram prejuízos no WCST e no subteste de Programação Motora da

FAB.

Os usuários não abstinentes completaram menos categorias no

WCST quando comparados aos controles. Esta é uma medida primariamente

relacionada à capacidade de abstração e formação de conceitos. O prejuízo nestas

funções parece estar associado à recente exposição ao THC por este grupo de

sujeitos, pois, quando da comparação com os controles, não foram encontradas

diferenças entre os sujeitos com período de abstinência entre um e sete dias, bem

como no grupo de sujeitos abstinentes há mais de uma semana. Deste modo, o

prejuízo nos subdomínios capacidade de abstração e formação de conceitos parece

estar restrito ao período de intoxicação aguda.

Os três grupos de usuários apresentaram maior número de erros

perseverativos no WCST, quando comparados com os controles, ou seja, o déficit está

presente durante a intoxicação aguda e persiste mesmo nos sujeitos que se

mantiveram em abstinência por um período superior a uma semana (média de 14,31

dias). Esta medida do WCST (erros perseverativos) encontra-se primariamente

relacionada à falta de flexibilidade cognitiva por parte desses usuários. Deste modo,

este pode representar um déficit potencialmente residual relacionado ao uso crônico de

maconha.

Pope et al (1996), ao avaliar efeitos residuais da maconha em

sujeitos com 19 horas de abstinência, também encontrou menor número de categorias

Page 59: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

49

completadas e maior número de erros perseverativos no WCST no grupo de usuários

pesados, os quais apresentavam urina positiva para detecção de maconha no

momento da avaliação. Porém, em outro estudo conduzido por Pope et al (2001), no

qual a avaliação ocorreu após 28 dias de abstinência, não foram encontradas

diferenças entre os grupos de usuários e controles.

Em contrapartida, Bolla et al (2002), ao avaliar três grupos de

usuários classificados de acordo com a intensidade de uso em pesados, medianos e

leves, encontraram diferenças significativas entre os grupos, com um maior prejuízo

entre os usuários pesados em relação ao número de categorias completadas no

WCST, mesmo após 28 dias de abstinência. Vale salientar que o padrão de consumo

dos usuários do estudo de Bolla et al (2002) é muito mais intenso que o padrão dos

usuários avaliados no presente estudo. Enquanto que os usuários pesados do estudo

citado fumavam em média 93,9 ‘baseados’ por semana, os sujeitos da amostra do

presente estudo fumavam em média 14,9 ‘baseados’ por semana.

A lentificação apresentada pelos sujeitos que não estavam em

abstinência e por aqueles em abstinência precoce na execução da prancha 2 do teste

de Stroop encontra-se primariamente relacionada a um prejuízo na atenção seletiva,

capacidade de concentração e à velocidade de processamento dos pacientes (Lezak,

1995). Diferentes estudos sugerem prejuízos na atenção em usuários de maconha (O’

Leary et al, 2002) após consumo entre doze e vinte e quatro horas, o que pode explicar

os resultados encontrados entre os usuários não abstinentes. A presença deste achado

no grupo de usuários em abstinência precoce pode estar relacionada à persistência

dos efeitos da maconha ou à síndrome de abstinência decorrente da suspensão

abrupta do uso (Pope et al, 1995), visto que o grupo em abstinência há mais de sete

dias não mais apresentava lentificação na execução da referida tarefa. O THC pode ser

detectado no organismo mesmo após 12 dias da última exposição à maconha, o que é

explicado por seu acúmulo em tecidos adiposos e sua extensiva recirculação entero-

hepática, o que também depende da freqüência de uso do indivíduo (Ponto, 2006). A

maioria dos sintomas da síndrome de abstinência da maconha se inicia dentro de 24

horas após a última exposição à substância, atinge o seu pico em cerca de uma

semana e tem uma duração de aproximadamente duas semanas dias (Budney et al,

2003; Kouri and Pope, 2000).

Não foram observadas diferenças entre os grupos na execução da

prancha três, esta uma medida primária de funcionamento executivo, já que avalia

Page 60: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

50

controle inibitório e a capacidade de o indivíduo regular o seu comportamento. Em um

estudo examinando usuários de maconha, Eldreth et al (2004), aplicaram o teste de

Stroop e analisaram exames de neuroimagem funcional (PET15O). Os resultados

revelaram diferenças no modo como os usuários tendem a processar as informações

cognitivas. Os usuários de maconha ativaram regiões do córtex pré-frontal e dos

hipocampos de forma anormal durante a execução da tarefa, representando,

possivelmente, um mecanismo compensatório cerebral relacionado à ação da maconha

no Sistema Nervoso Central. Desta maneira, mecanismos compensatórios podem

explicar, ao menos parcialmente, a ausência de déficits no desempenho de usuários

crônicos de maconha nesta tarefa neste e em outros estudos.

Apesar de os usuários não abstinentes e em abstinência precoce

desempenharem mais lentamente que os controles na execução da prancha 2 do teste

de Stroop, quando foram realizadas análises para verificar a associação entre o

desempenho nesta tarefa e a idade de início de uso diário, observou-se uma correlação

direta entre a idade de início de uso diário da maconha e o tempo gasto na execução

das pranchas 2 e 3 do teste, associações que parecem contra intuitivas e que também

podem ser explicadas, pelo menos em parte, por mecanismos compensatórios por

parte daqueles que iniciam o consumo de maconha mais cedo (Block et al,2002).

Os usuários em abstinência precoce apresentaram um pior

desempenho quando comparados aos controles no que se refere ao escore total da

FAB. Os sujeitos abstinentes há mais de uma semana apresentaram um pior

desempenho no subteste de programação motora da FAB, o qual exige organização

temporal e manutenção de ações sucessivas, aspectos intimamente ligados ao

funcionamento executivo. A FAB foi desenvolvida para facilitar a avaliação clínica das

funções frontais e diferenciar com precisão pacientes com lesão frontal de sujeitos

saudáveis (Dubois et al, 2000). Até então, não há na literatura estudos que utilizaram

tal instrumento para avaliar déficits no funcionamento executivo em usuários de

maconha. Este parece ser um instrumento mais sensível, o que pode explicar em parte

tais achados: (1) o pior resultado obtido pelo grupo em abstinência precoce, que

também pode ser em decorrência da retirada repentina da substância; (2) a dificuldade

de sujeitos abstinentes há mais de sete dias em organizar e manter uma seqüência de

passos, devido possivelmente a efeitos residuais da maconha no organismo.

Os resultados dos testes neuropsicológicos, quando da comparação

dos três grupos de usuários com o grupo controle, demonstraram que usuários

Page 61: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

51

crônicos de maconha parecem apresentar prejuízos no funcionamento executivo em

relação à capacidade de raciocínio abstrato, organização e flexibilidade mental e que

estes prejuízos estão presentes mesmo após um período médio 14 dias de abstinência,

ou seja, parecem representar efeitos residuais da maconha no cérebro. Porém, não se

pode afirmar que esses déficits são irreversíveis, pois não há evidências incontestes de

que permaneçam após um período mais prolongado de abstinência.

Quando o desempenho desses usuários foi analisado levando-se

em consideração a idade de início de uso da maconha, os sujeitos que começaram a

fazer uso da substância antes dos 17 anos apresentaram pior desempenho no WCST

(número de categorias e erros perseverativos) e na tarefa de programação motora da

FAB quando comparados com o grupo controle. Os sujeitos que iniciaram o uso após

os 17 anos apresentaram maior tempo de execução da prancha 2 do teste de Stroop e

menor número de categorias no WCST. Estes resultados indicam um

comprometimento de raciocínio abstrato, flexibilidade mental e organização por parte

daqueles usuários que começam a usar maconha antes dos 17 anos. Tal achado, no

entanto, deve ser interpretado com cautela, visto que a análise comparando

diretamente os dois subgrupos de pacientes não demonstrou diferenças significativas.

Apesar de uma possível influência da sintomatologia da síndrome de

abstinência nos presentes achados, foi encontrada correlação direta entre a idade em

que o indivíduo começou a fazer uso de maconha e o número de categorias

completadas e correlação inversa da idade de início de uso com a quantidade de erros

perseverativos no WCST, o que é consistente com estudos demonstrando um prejuízo

mais grave em sujeitos que iniciam o uso precocemente (Lane et al, 2006).

Os presentes achados sugerem que o sujeito que inicia o uso da

maconha ainda na adolescência apresenta maiores prejuízos no funcionamento

executivo, mais especificamente na formação de conceitos abstratos e flexibilidade

cognitiva. Estes resultados podem refletir uma maior vulnerabilidade para efeitos

neurotóxicos da maconha em uma fase mais precoce do neurodesenvolvimento, com a

hipótese de que a maconha é mais tóxica para o cérebro em desenvolvimento, como o

de adolescentes, do que para um cérebro já maduro.

Estudos com animais demonstraram efeitos aparentemente

irreversíveis no comportamento e na morfologia cerebral de animais expostos à

maconha quando ainda em desenvolvimento (Stiglick and Kalant,1985). Em um estudo

com humanos, envolvendo 29 sujeitos com início de uso de maconha antes dos

Page 62: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

52

dezessete anos e 28 sujeitos com início após os dezessete anos, conduzido por Wilson

et al (2000), imagens de ressonância magnética mostraram que aqueles que iniciam o

uso mais cedo têm menor porcentagem de substância cinzenta em relação ao volume

total do cérebro quando comparados com os sujeitos que são expostos à maconha

mais tardiamente.

Pope et al (2003), compararam o desempenho de dois grupos de

usuários abstinentes há 28 dias com controles. Os usuários de início de uso anterior

aos 17 anos apresentaram pior desempenho em relação aos controles, principalmente

em funções verbais, como em tarefa de QI verbal, memória (recordação após 30

minutos) e fluência verbal. Embora não tenham sido encontradas diferenças no

desempenho dos sujeitos no WCST, foram encontradas diferenças na tarefa de

fluência verbal que também contém um componente executivo, já requer a capacidade

de organização de estratégias cognitivas para a recuperação de memória semântica.

Em um estudo recente, conduzido por Medina et al (2007) foram

avaliados 65 adolescentes usuários de maconha em média há 2,9 (2,08) anos

semanalmente entre 16 e 18 anos, com no mínimo 23 dias de abstinência, comparados

com 34 controles. As funções executivas foram avaliadas por meio da Delis–Kaplan

Executive Function System (D-KEFS), bateria que avalia velocidade psicomotora,

fluência verbal, planejamento e resolução de problemas. Os adolescentes avaliados

obtiveram pior desempenho em tarefas de planejamento e manutenção de ações

sucessivas. O autor sugere que o uso da maconha na adolescência influencia

negativamente o amadurecimento neuronal e o desenvolvimento cognitivo desses

sujeitos.

Quando os usuários do presente estudo foram divididos de acordo

com o número de baseados fumados na vida, tanto os usuários que fumaram menos

que 5000 vezes (grupo 1) quanto os que fumaram mais que 5000 vezes (grupo 2)

apresentaram pior desempenho em relação ao número de categorias completadas e

erros perseverativos no WCST. Os usuários do grupo 2 também mostraram déficit na

atenção seletiva, aspecto avaliado pela prancha 2 do teste de Stroop. Estes achados

sugerem que, além da disfunção executiva, sujeitos que fazem uso pesado e por

períodos mais longos apresentam prejuízos nas funções atencionais.

O limiar de 5000 vezes na vida foi utilizado por corresponder ao uso

uma vez por dia, durante 13 anos (Pope et al,2001). Solowij et al (2002), também

encontraram déficits na atenção ao avaliar o desempenho de usuários com 17 horas de

Page 63: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

53

abstinência de acordo com o tempo de uso. Os usuários de longo prazo apresentaram

maior dificuldade na manutenção da série durante a realização do WCST.

O tamanho do efeito para as medidas que apresentaram diferenças

significativas no estudo variou entre médio e grande. Os resultados não indicam

prejuízos incapacitantes, entretanto podem ter relevância clínica e impacto na vida

diária desses sujeitos, tanto no aspecto sócio-ocupacional quanto na maneira como o

indivíduo lida com a questão do uso de substâncias. Diferentes estudos têm mostrado

que o funcionamento executivo exerce um papel fundamental no processo de

dependência e na dificuldade para a interrupção do uso de substâncias. Os sujeitos

tendem a ignorar as conseqüências futuras e advindas do seu comportamento de

compulsão em relação à droga em detrimento da recompensa imediata ligada aos seus

efeitos psicotrópicos (Volkow e Fowler, 2000). Desta maneira, problemas no

funcionamento neuropsicológico, especialmente das funções executivas, mediadas

pelas regiões pré-frontais do cérebro, podem influenciar negativamente a motivação

para o tratamento e adesão a programas de recuperação, aumentando as chances de

recaída.

Assim, os déficits executivos encontrados podem explicar a

dificuldade desses sujeitos em ficar em abstinência e em engajar-se no tratamento.

Nos estudos em que os sujeitos ficam 28 dias em abstinência, eles encontram-se

internados em unidades de saúde e monitorados continuamente. Sob este ponto de

vista, o perfil dos usuários do presente estudo aproxima-se mais do ‘mundo real’, já que

os sujeitos avaliados estão em tratamento ambulatorial e fazem parte da comunidade

atendida pelo serviço. Além disso, até onde sabemos, não existem estudos

ambulatoriais avaliando os efeitos residuais da maconha no funcionamento executivo

comparando sujeitos em abstinência precoce e com mais de uma semana abstinência.

O presente estudo apresenta algumas limitações metodológicas que

devem ser consideradas quando da interpretação dos seus resultados. Em primeiro

lugar, está tipo o de desenho do estudo. Um estudo de corte transversal não permite a

formulação de conclusões definitivas acerca da persistência de prejuízos cognitivos

após um período de sete dias de abstinência de maconha, visto que a própria

disfunção executiva pode ‘selecionar’ os sujeitos que ficarão ou não por mais tempo em

abstinência. Para responder a este tipo de questão, o ideal seria um estudo de

seguimento, onde os sujeitos seriam avaliados quando da entrada do estudo e depois

de um período de abstinência.

Page 64: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

54

Em segundo lugar, quantificar o padrão de uso dos usuários é de

extrema importância para a maior parte das análises. Porém, esta medida foi feita

tomando-se por base apenas o relato dos indivíduos, estando, portanto, sujeita a

vieses de memória e honestidade do relato dos mesmos. Além disso, os testes de

detecção de THC utilizados no presente estudo apenas indicam a presença ou

ausência de canabinóides na urina, não fornecendo uma medida quantitativa da

concentração de THC. Isto impediu a investigação de relações potencialmente

importantes entre a concentração de THC no organismo e prejuízos neuropsicológicos.

Outra limitação refere-se ao recrutamento da amostra, já que os

usuários avaliados participaram de um ensaio clínico avaliando a eficácia do

tratamento psicoterápico breve para dependência de maconha, o que pode

caracterizar um viés de seleção a partir da hipótese de que esses sujeitos podem ter

procurado tratamento por já não estarem desempenhando bem suas funções

cognitivas e sócio-ocupacionais; a falta de motivação para procura de tratamento

ambulatorial pelos pacientes mais graves também pode ter representado um viés

relevante no presente estudo. Viés de ordem semelhante pode ter ocorrido quando

do recrutamento dos controles, os quais, ao participar da pesquisa, teriam acesso

aos resultados da avaliação neuropsicológica, situação que pode ter motivado

pessoas que já apresentavam algum tipo de déficit cognitivo a procurarem a

avaliação especializada.

Finalmente, a generalização dos presentes achados é comprometida

em decorrência dos critérios restritos de seleção dos pacientes. Comorbidades

psiquiátricas e uso concomitante de outras substâncias, tais como o álcool e outras

drogas ilícitas, são comuns em usuários de maconha. Entretanto, optou-se por este

critério mais restritivo no presente estudo em uma tentativa de limitar o número de

variáveis confundidoras.

Existem ainda muitas questões não respondidas a respeito dos

efeitos do uso crônico da maconha e da reversibilidade ou não dos déficits associados.

As dificuldades para responder a estas perguntas estão relacionadas à escassez de

estudos examinando tais aspectos, sobretudo a respeito do funcionamento executivo

dessa de população, e às inúmeras diferenças entre os estudos existentes no que

concerne ao tamanho da amostra examinada, intensidade e duração do uso da

substância, testes neuropsicológicos utilizados e período de abstinência.

Page 65: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

55

Apesar dos inquestionáveis avanços, são necessárias mais

pesquisas utilizando desenhos de estudos mais apropriados, testes neuropsicológicos

mais sensíveis, assim como o uso concomitante de técnicas de neuroimagem estrutural

e funcional, que possam, através de uma convergência de achados, auxiliar na melhor

compreensão das conseqüências deletérias do uso crônico da maconha e suas

repercussões no tratamento.

Page 66: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

56

6 CONCLUSÕES

Levando-se em consideração as diferentes limitações discutidas acima, os

resultados do presente estudo permitem concluir que:

1. Usuários crônicos de maconha apresentam prejuízos no funcionamento

executivo em relação à capacidade de raciocínio abstrato e flexibilidade mental

decorrentes de efeitos residuais da maconha, ou seja, estes prejuízos estão

presentes em sujeitos após um período de pelo menos sete dias de abstinência.

2. Os sujeitos que iniciam o uso regular da maconha ainda na adolescência

apresentam dificuldades adicionais na formação de conceitos abstratos e

inflexibilidade cognitiva.

3. Além da disfunção executiva, sujeitos que fazem uso pesado da maconha

apresentam prejuízos nas funções atencionais.

4 . Os prejuízos no funcionamento executivo correlacionam-se positivamente com o

tempo, quantidade e freqüência de uso e inversamente com a idade de início de

uso regular de maconha.

Page 67: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

57

7 ANEXOS Anexo 1

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

Page 68: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha
Page 69: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

58

Anexo 2

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Page 70: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Avaliação das Funções Executivas em Usuários Crônicos de Maconha O objetivo deste estudo é avaliar o funcionamento neuropsicológico de usuários de maconha: a) definindo seu perfil em relação à população normal; b) de acordo com a intensidade de consumo na vida; c) depois de um período de abstinência; d) durante diferentes fases de tratamento na UNIAD (Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas). Para tanto avaliaremos todos sujeitos que estejam participando, na UNIAD, do “Estudo de efetividade do tratamento breve para usuários de maconha”. A avaliação da performance cognitiva consistirá na aplicação de uma bateria de testes neuropsicológicos no momento de entrada para o tratamento a fim de descrever o perfil epidemiológico da amostra e comparar os resultados com a população de acordo com a faixa etária e escolaridade. Uma segunda avaliação neuropsicológica será realizada para documentar a performance cognitiva após o término do tratamento na UNIAD, comparando os resultados com a avaliação inicial. A bateria de avaliação neuropsicológica é composta por 12 testes que avaliarão principalmente a atenção, memória, aprendizado de curto prazo, capacidade de decisão e solução de problemas, funções executivas e contará com uma estimativa de QI. Será garantida a todos os participantes esclarecimentos sobre a metodologia antes e durante o curso da pesquisa. É garantido a todos os sujeitos a liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado. É garantido também o sigilo que assegura a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. Você terá direito de confidencialidade, isto é, as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente; Você terá o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores; As despesas feitas em decorrência do estudo, serão ressarcidas por nós. Caso ocorra algum dano pessoal decorrente do estudo, a instituição se responsabiliza pelos cuidados necessários. Todos os dados coletados serão utilizados somente para esta pesquisa. Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Os principais investigadores são Dr. Ronaldo Laranjeira e Maria Alice Novaes, que podem ser encontrados no endereço: Rua Botucatu 394, telefone(s) 55751708. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua Botucatu, 572 – 1º andar – cj 14, 5571-1062, FAX: 5539-7162; Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “ Performance cognitiva de usuários de maconha: estudo de follow up” Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço. ------------------------------------------------- Assinatura do paciente/representante legal Data / / ------------------------------------------------------------------------- Assinatura da testemunha Data / / (Somente para o responsável do projeto) Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. ------------------------------------------------------------------------- Assinatura do responsável pelo estudo Data / /

Page 71: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – controles saudáveis

Avaliação das Funções Executivas em Usuários Crônicos de Maconha O objetivo deste estudo é investigar a presença de problemas cognitivos (ex: memória, atenção, solução de problemas) nos usuários crônicos de maconha antes e depois de um período de abstinência. Para tanto avaliaremos dois grupos de sujeitos: 1) aqueles que estejam participando, na UNIAD, do “Estudo de efetividade do tratamento breve para usuários de maconha” e, 2) voluntários sadios, não usuários de drogas, indicados por variadas fontes. A avaliação da performance cognitiva consistirá na aplicação de uma bateria de 12 testes neuropsicológicos a fim e comparar os resultados dos usuários com a os de não usuários de maconha. Uma segunda avaliação neuropsicológica será realizada para documentar a performance cognitiva após quatro meses, comparando os resultados com a avaliação inicial. Será realizado também um teste de urina para a detecção de resíduos de maconha no organismo. Será garantida a todos os participantes esclarecimentos sobre os procedimentos antes e durante o curso da pesquisa. Além dos esclarecimentos, você poderá perguntar sobre detalhes dos procedimentos sempre que achar necessário. É garantido a todos os sujeitos a liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado. É garantido também o sigilo que assegura a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. Você terá direito de confidencialidade, isto é, as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente. Você terá o direito e acesso aos resultados de seus testes neuropsicológicos logo depois da segunda avaliação, a ser realizada quatro meses depois da primeira. As despesas feitas em decorrência do estudo, serão ressarcidas por nós. Caso ocorra algum dano pessoal decorrente do estudo, a instituição se responsabiliza pelos cuidados necessários. Todos os dados coletados serão utilizados somente para esta pesquisa. Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Os principais investigadores são Maria Alice Novaes e Dr. Ronaldo Laranjeira, que podem ser encontrados no endereço: Rua Botucatu 394, telefone(s) 55751708. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua Botucatu, 572 – 1º andar – cj 14, 5571-1062, FAX: 5539-7162. Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Performance cognitiva de usuários de maconha: estudo de follow up”. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido. ------------------------------------------------- Assinatura do paciente/representante legal Data / / ------------------------------------------------------------------------- Assinatura da testemunha Data / / Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. ------------------------------------------------------------------------- Assinatura do responsável pelo estudo Data / /

Page 72: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

59

Anexo 3.

Manual para aplicação e correção dos Testes Neuropsicológicos

Page 73: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Avaliação Executiva de Usuários Crônicos de Maconha

Padronização na aplicação de Testes

1) Teste de Stroop - Material: 3 cartões, sendo 1 contendo quadrados coloridos e 2 contendo nomes

coloridos e a folha de resposta.

- Aplicação: Explicar ao sujeito que será mostrado o primeiro cartão com vários

quadrados coloridos e que ele deverá dizer as cores da esquerda para a direita, o

mais rápido que puder. (O aplicador deverá anotar na folha de respostas

simultaneamente).

No término do primeiro cartão, deverá ser apresentado o 2º cartão e solicitar ao

sujeito que diga a cor que a palavra está escrita, desprezando a palavra.

No término do 2º cartão, deverá ser mostrado o 3º cartão, solicitando ao sujeito

que especifique a cor, desprezando a palavra.

- Nota: Não aplicar o teste se o sujeito for daltônico. Quando o sujeito corrige, não

é considerado erro.

- Término: Quando completar o último cartão.

- Tempo: livre, mas deverá ser marcado no término de cada cartão.

- Correção: Marcar o tempo e o número de erros. Não considerar erro quando o

sujeito em seguida corrigir.

2) Wisconsin Card Sorting Test- (WCST)

- Material: 68 cartões com figuras e folha de resposta.

- Aplicação: Colocar as cartas modelo enfileiradas viradas para o sujeito. Ele

deverá ser instruído a colocar as cartas respostas, em uma pilha logo abaixo as

cartas modelo, conforme tiver vontade. O examinador dará as cartas, uma por

uma, ao sujeito. O examinador irá informar apenas se a escolha está “certa” ou

“errada”. O sujeito deverá prestar atenção nesta informação e tentar fazer o

Page 74: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

máximo de cartas “certas” possível. Nenhuma outra dica deverá ser dada. Não é

permitido mudar a carta de pilha depois de uma resposta errada. Esta deverá

permanecer na pilha primariamente escolhida e uma nova carta ser jogada.

O sujeito deverá combinar as cartas primeiramente de acordo com a COR e todas

as outras respostas serão consideradas “erradas”. Depois de 10 respostas

consecutivas certas pela COR, se atingida, a categoria escolhida muda, sem

nenhum tipo de aviso ou dica, para FORMA e todas as respostas COR serão

consideradas “erradas”. Depois de 10 respostas corretas consecutivas de

FORMA, a categoria muda para NÚMERO retornando para COR novamente.

- Nota: Se o sujeito for daltônico, não aplicar o teste. Se o sujeito fizer perguntas

como: “Está certo, ou, é desta forma?” Não se deve responder.

- Anotação: Devem ser anotadas todas as tentativas feitas pelo sujeito na folha de

resposta, até mesmo as respostas ambíguas.

Deve-se marcar a ordem de acerto e quando ele errar a seqüência antes de

completar as 10, iniciar novamente a mesma categoria anterior, numerando de 1 a

10.

- Término: Quando acabarem as cartas

- Tempo: Livre

- Correção: Anotar o número de respostas corretas; erros; respostas

perseverativas; erros não perseverativos; erros perseverativos; categorias e das

perdas do set.

3) FAB – Frontal Assessment Battery - Material: 1 folha contendo 6 testes e a correção dos mesmos.

- Aplicação: auto explicativo

- Correção: Somar a pontuação de cada teste.

Page 75: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

4) Vocabulário (Wais-R) - Material: 1 folha contendo 35 palavras.

- Aplicação: O aplicador deverá falar a primeira palavra e solicitar ao sujeito que

explique o seu significado. Seguir para a 2ª palavra e assim por diante.

“Eu vou falar algumas palavras e você deverá me explicar o significado de cada

palavra”.

- Término: Após 5 erros consecutivos.

- Tempo: Livre

- Correção: 2 pontos para resposta certa, 1 ponto para resposta incompleta e 0

ponto para resposta errada ou não realizada.

5) Cubos (Wais-R) - Material: 9 cubos, bloco de aplicação e folha de resposta.

- Aplicação: Desenho 1: Pegue 4 blocos e diga:

“Você vê estes blocos? São todos iguais. Tem lados vermelhos, lados brancos e

lados metade vermelho e metade branco”.

Vire os blocos para mostrar lados diferentes. Então diga:

“Vou juntá-los de um jeito que forma 1 desenho. Olhe”.

Coloque lentamente os 4 blocos seguindo o desenho do cartão 1.

“Agora faça um igual a este”.

- Tempo: Comece a marcar o tempo assim que o sujeito iniciar a tarefa,

permitindo 60 segundos. Se o sujeito conseguir dentro do limite de tempo, passe

para o desenho 2.

Se o sujeito errar, diga:

“Observe de novo”. Demonstre uma segunda vez, depois misture os blocos, mas

deixe intacto o modelo do examinador. Diga: “Agora, inicie novamente, tentando

fazer igual ao meu”.

Comece a marcar o tempo novamente, permitindo 60 segundos. Tanto o sujeito

acertando ou errando nesta 2ª tentativa, passe para o segundo desenho.

Page 76: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Aponte para o próximo cartão e diga:

“Agora olhe para este desenho e faça um igual com estes blocos. Avise-me

quando tiver terminado”.

Desenho 7:

“Agora faça como este usando 9 blocos. Avise-me quando tiver terminado”.

- Anotação: Marcar o tempo utilizado para cada tarefa.

- Término: 3 erros consecutivos

- Correção: Somar aos pontos de cada tarefa realizada.

Page 77: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

60

Anexo 4.

Folha de resposta dos Subtestes Vocabulário e Cubos (WAIS-R)

Page 78: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

V. VOCABULÁRIO (5) 2 - 1 - 0

1. Cama

2. Reunir

3. Terminar

4. Navio

5. Tranqüilo

6. Consertar

7. Inverno

8. Doméstico

9. Cruzeiro

10. Merenda

11. Enorme

12. Compaixão

13. Remorso

14. Tecido

15. Regularizar

16. Incomparável

17. Obstruir

18. Gerar

19. Esconder

20. Consumir

21. Coragem

22. Santuário

23. Sentença

24. Designar

25. Ponderar

26. Audacioso

27. Plagiar

28. Presságio

29. Tangível

30. Perímetro

31. Relutante

32. Nefasto

33. Tenacidade

34. Evasivo

35. Embargar Nota: Para sujeitos com pobre habilidade verbal, comece pelo item 1. Para os demais, comece pelo item 4 e, caso dê resposta zero nos itens 4 – 8, aplique imediatamente os itens 1 – 3 antes de prosseguir. Caso não seja necessário retroceder, certifique-se de haver incluído as pontuações para os itens 1 – 3 no Total. (máx. 70)

TOTAL

Page 79: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

•Desenho 1: faça o desenho com os blocos sem mostrar o cartão ao sujeito e peça para que ele faça seguindo sua construção com blocos. •Desenho 2: faça o desenho com os blocos mostrando o cartão como modelo; peça para que ele faça seguindo o cartão. •Desenhos 3 a 9: peça para o sujeito copiar o desenho do cartão, sem demonstração prévia.

VI. CUBOS (3)

Item Tempo

Máximo Tempo Erro ou Acerto

Pontos (Circule a pontuação apropriada para cada item)

1. 2 1. 60" 2. 0 1 1. 2 2. 60" 2. 0 1

3. 60" 0 4 (16-60") 5 (11-15") 6 (1-10") 4. 60" 0 4 (16-60") 5 (11-15") 6 (1-10") 5. 60" 0 4 (21-60") 5 (16-20") 6 (11-15") 7 (1-10") 6. 120" 0 4 (36-120") 5 (26-35") 6 (21-25") 7 (1-20") 7. 120" 0 4 (61-120") 5 (46-60") 6 (31-45") 7 (1-30") 8. 120" 0 4 (76-120") 5 (56-75") 6 (41-55") 7 (1-40") 9. 120" 0 4 (76-120") 5 (56-75") 6 (41-55") 7 (1-40")

Nota: (máx. 51) TOTAL

Page 80: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

61

Anexo 5.

Folha de resposta do teste de Stroop

Page 81: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha
Page 82: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

62

Anexo 6.

Folha de resposta do WCST

Page 83: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

APLICAÇÃO WISCONSIN Nome: Horário de Início: Término : Data: Aplicador: CATEGORIAS CONCLUIDAS: C F N C F N

1 C F N O 33 C F N O 1 C F N O 33 C F N O 2 C F N O 34 C F N O 2 C F N O 34 C F N O 3 C F N O 35 C F N O 3 C F N O 35 C F N O 4 C F N O 36 C F N O 4 C F N O 36 C F N O 5 C F N O 37 C F N O 5 C F N O 37 C F N O 6 C F N O 38 C F N O 6 C F N O 38 C F N O 7 C F N O 39 C F N O 7 C F N O 39 C F N O 8 C F N O 40 C F N O 8 C F N O 40 C F N O 9 C F N O 41 C F N O 9 C F N O 41 C F N O

10 C F N O 42 C F N O 10 C F N O 42 C F N O 11 C F N O 43 C F N O 11 C F N O 43 C F N O 12 C F N O 44 C F N O 12 C F N O 44 C F N O 13 C F N O 45 C F N O 13 C F N O 45 C F N O 14 C F N O 46 C F N O 14 C F N O 46 C F N O 15 C F N O 47 C F N O 15 C F N O 47 C F N O 16 C F N O 48 C F N O 16 C F N O 48 C F N O 17 C F N O 49 C F N O 17 C F N O 49 C F N O 18 C F N O 50 C F N O 18 C F N O 50 C F N O 19 C F N O 51 C F N O 19 C F N O 51 C F N O 20 C F N O 52 C F N O 20 C F N O 52 C F N O 21 C F N O 53 C F N O 21 C F N O 53 C F N O 22 C F N O 54 C F N O 22 C F N O 54 C F N O 23 C F N O 55 C F N O 23 C F N O 55 C F N O 24 C F N O 56 C F N O 24 C F N O 56 C F N O 25 C F N O 57 C F N O 25 C F N O 57 C F N O 26 C F N O 58 C F N O 26 C F N O 58 C F N O 27 C F N O 59 C F N O 27 C F N O 59 C F N O 28 C F N O 60 C F N O 28 C F N O 60 C F N O 29 C F N O 61 C F N O 29 C F N O 61 C F N O 30 C F N O 62 C F N O 30 C F N O 62 C F N O 31 C F N O 63 C F N O 31 C F N O 63 C F N O 32 C F N O 64 C F N O 32 C F N O 64 C F N O

Page 84: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

63

Anexo 7.

Folha de aplicação e correção da FAB

Page 85: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha
Page 86: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

64

Anexo 8.

Classificação sócio-econômica - ABIPEME

Page 87: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

Entrevista Sócio- econômica Nome: Data da aplicação:

NÃO CLASSE ECONÔMICA:

TEM 1 2 3 4 ou + TELEVISÃO EM CORES 0 2 3 4 5 VIDEOCASSETE 0 2 2 2 2 RÁDIO 0 1 2 3 4 BANHEIRO 0 2 3 4 4 AUTOMÓVEL 0 2 4 5 5 EMPREGADA MENSALISTA 0 2 4 4 4 ASPIRADOR DE PÓ 0 1 1 1 1 MÁQUINA DE LAVAR 0 1 1 1 1 GELADEIRA 0 2 2 2 2 FREEZER ( APARELHO INDEPENDENTE OU PARTE GELADEIRA DUPLEX )

0 1 1 1 1

Toatal Fonte: ABIPEME/ CEBRID

Pontuação: (A1) 30 à34 (A2) 25 à 29 (B1) 21 à 24 (B2) 17 à 20 (C) 11 à 16 (D) 06 à 10 ( E) 00 à 05

Page 88: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

65

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Adams, KM, Gilman S, Koeppe T, Kluin L et al. Correlation of neuropsychological

function with cerebral metabolic rate in subdivisions of the frontal lobes of older

alcoholic patients measured with [ 18 F] Fluorodeoxiglucose and positron emission

tomography. Neuropsychology. 1995; 9: 275-280.

ABIPEME- Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado. Proposição

para um novo critério de classificação sócio- econômica. Mímeo. 1978; p. 15.

American Psychological Association. Publications and communications board: Consort (

Consolidated Standards of Reporting Trials). www.consort.statement.org.

Barrash J, Tranel D, Anderson SW. Acquired personality disturbances associated with

bilateral damage to the ventromedial prefrontal region. Dev Neuropsychol.

2000;18(3):355-81.

Bechara A, Damasio AR, Damasio H, Anderson SW. Insensitivity to future

consequences following damage to human prefrontal cortex. Cognition. 1994 Apr-Jun;

50(1-3):7-15.

Block RI, O'Leary DS, Ehrhardt JC, et al : Effects of frequent marijuana use on brain

tissue volume and composition. Neuroreport. 2000; 11:491-6.

Block RI, Ghoneim MM. Effects of chronic marijuana use on human cognition.

Psychopharmacology (Berl). 1993;110(1-2):219-28.

Bolla KI, Eldreth DA, Matochik JA, Cadet JL.Neural substrates of faulty decision-making

in abstinent marijuana users. Neuroimage. 2005 Jun;26(2):480-92. Epub 2005 Mar 23.

Bolla KI, Brown MPH, Eldreth D, Tate K, Cadet, JL. Dose-related Neurocognitive

Effects of Marijuana Use.Neurology.2002; 59:1337-1343.

Page 89: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

66

Budney AJ, Moore BA, Vandrey RG, Hughes JR. The time course and significance of

cannabis withdrawal. J Abnorm Psychol. 2003;112:393–402.

Carlini, E.A. [et al.] I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas no Brasil. São

Paulo. CEBRID. UNIFESP, 2002.

Campbell AM, Evans M, Thomson JL, Williams MJ: Cerebral atrophy in young cannabis

smokers. Lancet.1971; 2:1219-24.

Chang L, Yakupov R, Cloak C, Ernst T. Marijuana use is associated with a reorganized

visual-attention network and cerebellar hypoactivation. Brain. 2006 May;129(Pt 5):1096-

112. Epub 2006 Apr 3.

Cohen MJ, Rickles WH Jr. Performance on a verbal learning task by subjects of heavy

past marijuana usage. Psychopharmacologia. 1974;37(4):323-30.

Dubois B, Slachevsky A, Litvan I, Pillon B. The FAB: a Frontal Assessment Battery at

bedside.Neurology. 2000 Dec 12;55(11):1621-6.

Ehrenreich H, Rinn T, Kunert HJ, Moeller MR, Poser W, Schilling L, Gigerenzer G,

Hoehe MR. Specific attentional dysfunction in adults following early start of cannabis

use. Psychopharmacology (Berl). 1999 Mar; 142(3):295-301.

Eldreth DA, Matochik JA, Cadet JL, Bolla KI. Abnormal brain activity in prefrontal brain

regions in abstinent marijuana users. Neuroimage. 2004 Nov; 23(3):914-20.

Ellis GM Jr, Mann MA, Judson BA, Schramm NT, Tashchian A. Excretion patterns of

cannabinoid metabolites after last use in a group of chronic users. Clin Pharmacol Ther.

1985 Nov;38(5):572-8.

Fletcher JM, Page JB, Francis DJ, Copeland K, Naus MJ, Davis CM, Morris R,

Krauskopf D, Satz P. Cognitive correlates of long-term cannabis use in Costa Rican

men.Arch Gen Psychiatry. 1996 Nov; 53(11):1051-7.

Page 90: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

67

Fuster, JM. The prefrontal cortex: anatomy, physiology and neuropsychology of the

frontal lobe. 3º edition. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1997.

GALDURÓZ, J. C. F. ; NOTO, A R ; NAPPO, S A ; CARLINI, E A . Trends in drug use

among students in Brazil: analysis of foru surveys in 1987, 1989, 1993 and 1997.

Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Brasil, v. 37, p. 523-531, 2004.

Gessa GL, Melis M, Muntoni AL, Diana M: Cannabinoids activate mesolimbic dopamine

neurons by an action on cannabinoid CB1 receptors. Eur J Pharmacol.1998; 341:39-44.

Goldberg E. O cérebro executivo. Rio de Janeiro: Ed. Imago; 2002.

Goldman-Rakic PS. The cortical dopamine system: role in memory and cognition.

Adv Pharmacol. 1998; 42:707-11. Review.

Grant I, Gonzalez R, Carey CL, Natarajan L, Wolfson T. Non-acute (residual)

neurocognitive effects of cannabis use: a meta-analytic study. J Int Neuropsychological

Soc. 2003, 9: 679-89.

Grotenhermen F. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of cannabinoids.

Clin Pharmacokinet. 2003; 42(4):327-60. Review.

Hall W, Solowij N : Adverse effects of cannabis. Lancet. 1998; 352:1611-6.

Hart CL, van Gorp W, Haney M, Foltin RW, Fischman MW. Effects of acute smoked

marijuana on complex cognitive performance. Neuropsychopharmacology. 2001 Nov;

25(5):757-65.

Heaton, RK. A manual for the Wisconsin Card Sorting Test. Psychological Assessment

Inc; 1981.

Howieson & Lezak. A avaliação neuropsicológica. In Yudofsky. Compêndio de

Neuropsiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 1992.

Page 91: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

68

Iversen L .Cannabis and the brain. Brain. 2003; 126:1252-70.

Iversen L. Neurotransmitter transporters: fruitful targets for CNS drug discovery.

Mol Psychiatry. 2000 Jul; 5(4):357-62. Review.

Jones RT. Cannabis tolerance and dependence. in Cannabis and health hazards.

Toronto: Addiction Research Foundation;1983.

Jungerman FS.A efetividade de um tratamento breve para usuários de maconha. [tese].

São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2005.

Kanayama G, Rogowska J, Pope HG, Gruber SA, Yurgelun-Todd DA.

Spatial working memory in heavy cannabis users: a functional magnetic resonance

imaging study.Psychopharmacology (Berl). 2004 Nov;176(3-4):239-47.

Kaplan H I, Saddock B J, Grebb J A. Compêndio de Psiquiatria Clínica. 7º edição, Porto

Alegre; Ed. Artes Médicas: 1997.

Kouri EM, Pope HG. Abstinence symptoms during withdrawal from chronic marijuana

use. Exp Clin Psychopharmacol. 2000;8:483–492.

Lane, S.D., Cherek, D.R., Tcheremissine, O.V., Steinberg, J.L., & Sharon, J.L. (2006).

Response perseveration and adaptation in heavy marijuana-smoking adolescents.

Addictive Behaviors, 32, 977–990.

Lezak, M.D. Neuropsychological Assessment. 3º edição. New York: Oxford University

Press; 1995.

Lyons MJ, Bar JL, Panizzon MS, Toomey R, Eisen S, Xian H, Tsuang MT.

Neuropsychological consequences of regular marijuana use: a twin study.

Psychol Med. 2004 Oct;34(7):1239-50.

Mahurin RK. Executive functioning in neuropsychiatric disorders: an overview. Seminars

in clinical neuropsychiatry. 1999; 4:2-4.

Page 92: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

69

Matsuda LA, Lolait SJ, Brownstein MJ, Young AC, Bonner TI: Structure of a

cannabinoid receptor and functional expression of the cloned cDNA. Nature. 1990;

346:561-4.

Maykut MO. Health consequences of acute and chronic marihuana use.

Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 1985;9(3):209-38. Review.

McCann UD, Mertl M, Eligulashvili V, Ricaurte GA. Cognitive performance in (+/-) 3,4-

methylenedioxymethamphetamine (MDMA, "ecstasy") users: a controlled study.

Psychopharmacology (Berl). 1999 Apr;143(4):417-25.

McDonald J, Schleifer L, Richards JB, de Wit H. Effects of THC on behavioral

measures of impulsivity in humans. Neuropsychopharmacology. 2003; Jul;28(7):1356-

65. Epub 2003 Apr 30.

McLellan AT, Kushner H, Metzger D, Peters R, Smith I et al. The fifth edition of the

Addiction Severity Index. Journal of Substance Abuse Treatment. 1992; (9): 199-213.

Medina KL, Hanson KL, Schweinsburg AD, Cohen-Zion M, Nagel BJ, Tapert SF.

Neuropsychological functioning in adolescent marijuana users: subtle deficits detectable

after a month of abstinence. J Int Neuropsychol Soc. 2007 Sep;13(5):807-20.

Page JB, Fletcher J, True WR. Psychosociocultural perspectives on chronic cannabis

use: the Costa Rican follow-up. J Psychoactive Drugs. 1988 Jan-Mar;20(1):57-65.

Pau CW, Lee TM, Chan SF. The impact of heroin on frontal executive functions.

Arch Clin Neuropsychol. 2002 Oct;17(7):663-70.

Ponto LL. Challenges of marijuana research. Brain. 2006 May;129(Pt 5):1081-3.

Pope HG, Jr., Gruber AJ, Yurgelun-Todd D (1995): The residual neuropsychological

effects of cannabis: the current status of research. Drug Alcohol Depend 38:25-34

Page 93: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

70

Pope HG Jr, Yurgelun-Todd D. The residual cognitive effects of heavy marijuana use in

college students. JAMA. 1996 Feb 21;275(7):521-7.

Pope HG, Jr., Gruber AJ, Hudson JI, Huestis MA, Yurgelun-Todd D:

Neuropsychological performance in long-term cannabis users. Arch Gen Psychiatry.

2001;58:909-15

Pope HG, Jr.: Cannabis, cognition, and residual confounding. Jama. 2002; 287:1172-4.

Pope HG Jr, Gruber AJ, Hudson JI, Cohane G, Huestis MA, Yurgelun-Todd D. Early-

onset cannabis use and cognitive deficits: what is the nature of the association? Drug

Alcohol Depend. 2003 Apr 1;69(3):303-10.

Powell DH, Kaplan EF, Whitla D, Catlin R, Funkenstein HH. MicroCog : assessment of

cognitive functioning. San Antonio: The Psychological Corporation; 1993.

Ramaekers JG, Kauert G, van Ruitenbeek P, Theunissen EL, Schneider E, Moeller MR.

High-potency marijuana impairs executive function and inhibitory motor control.

Neuropsychopharmacology. 2006 Oct;31(10):2296-303. Epub 2006 Mar 29.

Rogers RD, Robbins TW. Investigating the neurocognitive deficits associated with

chronic drug misuse.Curr Opin Neurobiol. 2001 Apr;11(2):250-7. Review.

Rogers RD, Everitt BJ, Baldacchino A, Blackshaw AJ, et al. Dissociable deficits in the

decision-making cognition of chronic amphetamine abusers, opiate abusers, patients

with focal damage to prefrontal cortex, and tryptophan-depleted normal volunteers:

evidence for monoaminergic mechanisms. Neuropsychopharmacology. 1999 Apr;

20(4):322-39.

Saboya E, Franco C A, Mattos P. Relationship among cognitive processes in executive

functions. J Bras Psiquiatr. 2002; 51 (2): 91-100.

Page 94: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

71

Sakurai-Yamashita Y, Kataoka Y, Fujiwara M, Mine K, Ueki S: Delta 9-

tetrahydrocannabinol facilitates striatal dopaminergic transmission. Pharmacol Biochem

Behav. 1989; 33:397-400.

Schwartz RH, Gruenewald PJ, Klitzner M, Fedio P. Short-term memory impairment in

cannabis-dependent adolescents. Am J Dis Child. 1989 Oct;143(10):1214-9.

Sobel LC and Sobel MB. Time line follow back: a technique for assessing self-reported

alcohol comsuption: psychosocial and biochemical methods. Totawa, NJ: Human

Press;1992: 41-72.

Solowij N, Stephens RS, Roffman RA, et al: Cognitive functioning of long-term heavy

cannabis users seeking treatment. Jama. 2002; 287:1123-31.

Solowij, N. Cannabis and cognitive functioning, Cambridge University press, 1998

Spreen O, Strauss E A. Compedium of Neuropsychoilogical Tests: Administration,

Norms and Commentary. New York: Oxford University press; 1998.

Stein MA, Sandoval R, Szumowski E, Roizen N et al. Psychometric characteristics of

the Wender Utah Rating Scale: reliability and factor structure for men and women.

Psychopharmacology Bulletim. 1995: (31) : 425-33.

Toomey R, Lyons MJ, Eisen SA, Xian H, Chantarujikapong S, Seidman LJ, Faraone

SV, Tsuang MT. A twin study of the neuropsychological consequences of stimulant

abuse. Arch Gen Psychiatry. 2003 Mar;60(3):303-10.

Varma VK, Malhotra AK, Dang R, Das K, Nehra R. Cannabis and cognitive functions: a

prospective study. Drug Alcohol Depend. 1988 May;21(2):147-52.

Vendetti, J., McRee, B., Miller, M., Christiansen, K., Herrell, J. Correlates of pre-

treatment drop-out among persons with marijuana dependence. Addiction, 2002. 97

(Suppl. 1): 125-34.

Page 95: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

72

Verdejo-Garcia A, Lopez-Torrecillas F, Gimenez CO, Perez-Garcia M. Clinical

implications and methodological challenges in the study of the neuropsychological

correlates of cannabis, stimulant, and opioid abuse. Neuropsychol Rev. 2004

Mar;14(1):1-41. Review.

Verdejo-Garcia AJ, Lopez-Torrecillas F, Aguilar de Arcos F, Perez-Garcia M. Differential

effects of MDMA, cocaine, and cannabis use severity on distinctive components of the

executive functions in polysubstance users: a multiple regression analysis. Addict

Behav. 2005 Jan;30(1):89-101.

Verdejo-Garcia A, Rivas-Perez C, Lopez-Torrecillas F, Perez-Garcia M. Dfferential

impact of severity of drug use on frontal behavioral symptoms. Addict Behav. 2006

Aug;31(8):1373-82. Epub 2005 Dec 2.

Volkow ND, Fowler JS, Wang GJ : The addicted human brain viewed in the light of

imaging studies: brain circuits and treatment strategies. Neuropharmacology. 2004; 47

Suppl 1:3-13.

Wechsler, D. Wais R: Wechsler intelligence scale – revised. New York: Oxford

University; 1981.

Wilson W, Mathew R, Turkington T, Hawk T, Coleman RE, Provenzale J: Brain

morphological changes and early marijuana use: a magnetic resonance and positron

emission tomography study. J Addict Dis. 2000; 19:1-22.

World Health Organization: The Composite International Diagnostic Interview (CIDI),

version 2.1; Geneva; 1997. Translated to portuguese by Quintana, MI.2005.

Page 96: Avaliacao Das Funcoes Do Usuarios Cronicos Da Maconha

73

Abstract

Purpose: To evaluate executive functioning in chronic cannabis users compared with

normal controls, matched for sex, age and years of education. Methods: 128 cannabis

abuse/dependents according DSM-IV/CID-10 and 32 controls were evaluated in a

Cross-sectional study in the Alcohol and Drugs Research Unit, Psychiatry Department

of the São Paulo Federal University. The cannabis group was divided in: (0), acute

users/not abstinent; group (1), abstinents between one and seven days; (2) abstinent

for more than seven days. Three neuropsychological tests to evaluate executive

functioning were administered to all cannabis users and controls: Stroop test, Wisconsin

Card Sorting Test (WCST) and Frontal Assessment Battery (FAB). IQ were estimated

by Vocabulary and Block Design WAIS-R subtests. Results: The groups had no

difference in age, sex and years of education. The acute users / not abstinent

performed worse than controls in the WCST and were slower in Stroop test plate 2.

Group 1 – abstinents between one and seven days, besides same deficits from group 0,

had worse performance in the FAB compared to controls. Those abstinent users for

more than seven days performed worse than controls in the WCST and the Motor

Programming subtest of the FAB. Conclusions: The results suggest that cannabis

chronic users seem to present deficits in the executive functioning, specially associated

to abstraction reasoning, organization and mental flexibility. These impairments are

detectable after a mean of 14 days of abstinence; it seems to represent residual effects

of cannabis in the brain. However, in this study it is unclear whether these impairments

are reversible, after a longer abstinence period.