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Avaliação da exposição ocupacional a substâncias químicas em laboratórios de pesquisa e desenvolvi- mento na área petroquímica Evaluation of occupational exposure to chemicals in research and development laboratories in the petrochemical industry Evaluación de la exposición ocupacional a sustancias químicas en los laboratorios de investigación y desarrollo en la industria petroquímica Paulo Antonio de Paiva Rebelo Leonardo Borges Medina Coeli Henrique Vicente Della Rosa Elizabeth de Souza Nascimento Resumo Foi realizado estudo transversal relativo ao nível de exposição ocupacional em trabalhadores de 137 laboratórios, 30 uni- dades piloto e áreas de apoio, em um Centro de Pesquisas, tomando-se por base as medições ambientais do PPRA do ano de 2004. O objetivo era avaliar o risco de dano à saúde, decorrente da exposição ocupacional a agentes químicos. A etapa de reconhecimento foi desenvolvida a partir de entrevistas e dos dados secundários dos programas de segurança e saúde e abrangeu os riscos ambientais de todos os processos, instalações/equipamentos e atividades. Foram identificadas 2.738 situações de exposição a 484 substâncias químicas, sendo 246 agentes e produtos químicos e 238 misturas, com variação na pureza e concentração, encontradas em 243 postos de trabalho. A população-alvo era composta por 1.563 trabalhadores com exposição a agentes químicos, agrupados em 168 diferentes Grupos Homogêneos de Exposição (GHE) com média de 4,55 empregados por grupo. Em cada local de trabalho foram identificados, em média, 4,91 GHE e 3,73 substâncias químicas. Em relação às 2.738 situações de exposição a agentes químicos versus posto de trabalho, em 14% (382 situações) a exposição era diária; em 82,1% (2.249 situações) a frequência de utilização variava de duas a três vezes na semana e nas restantes 3,9% (107 situações) o uso era esporádico, cerca de uma vez por semana ou menos. Nove entre as dez substâncias mais frequentemente utilizadas eram hidrocarbonetos. Foram realizadas medições de 977 amostras sendo 485 amostras de substâncias químicas diversas e 492 amostras de benzeno. Do total de medições realizadas, 91,9% das avaliações e que correspondem a 92,5% dos trabalhadores que trabalham com substâncias químicas, apresentaram resultados das medições ambientais abaixo do nível de ação, configurando, portanto, exposição a baixas concentrações. A exposição à substância química é o tipo de exposição mais frequente e corresponde a 81% das situações de exposição ocupacional, nos laboratórios avaliados. Constatou-se a presença de substâncias químicas na maioria das áreas de trabalho, e a presença de uma mesma substância em vários locais, sendo comum encontrar mais de uma substância química, num mesmo local, com grande diversidade de agentes químicos e frequência de uso, pois em cada local de trabalho foram identificadas, em média, 3,73 substâncias químicas, variando de 1 a Boletim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1/3, p. 99-116, abr./ago./dez. 2009 n 99

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Avaliação da exposição ocupacional a substâncias químicas em laboratórios de pesquisa e desenvolvi-mento na área petroquímica

Evaluation of occupational exposure to chemicals in research and development laboratories in the petrochemical industry Evaluación de la exposición ocupacional a sustancias químicas en los laboratorios de investigación y desarrollo en la industria petroquímica

Paulo Antonio de Paiva RebeloLeonardo Borges Medina CoeliHenrique Vicente Della RosaElizabeth de Souza Nascimento

ResumoFoi realizado estudo transversal relativo ao nível de exposição ocupacional em trabalhadores de 137 laboratórios, 30 uni-

dades piloto e áreas de apoio, em um Centro de Pesquisas, tomando-se por base as medições ambientais do PPRA do ano de 2004. O objetivo era avaliar o risco de dano à saúde, decorrente da exposição ocupacional a agentes químicos. A etapa de reconhecimento foi desenvolvida a partir de entrevistas e dos dados secundários dos programas de segurança e saúde e abrangeu os riscos ambientais de todos os processos, instalações/equipamentos e atividades. Foram identificadas 2.738 situações de exposição a 484 substâncias químicas, sendo 246 agentes e produtos químicos e 238 misturas, com variação na pureza e concentração, encontradas em 243 postos de trabalho. A população-alvo era composta por 1.563 trabalhadores com exposição a agentes químicos, agrupados em 168 diferentes Grupos Homogêneos de Exposição (GHE) com média de 4,55 empregados por grupo. Em cada local de trabalho foram identificados, em média, 4,91 GHE e 3,73 substâncias químicas. Em relação às 2.738 situações de exposição a agentes químicos versus posto de trabalho, em 14% (382 situações) a exposição era diária; em 82,1% (2.249 situações) a frequência de utilização variava de duas a três vezes na semana e nas restantes 3,9% (107 situações) o uso era esporádico, cerca de uma vez por semana ou menos. Nove entre as dez substâncias mais frequentemente utilizadas eram hidrocarbonetos. Foram realizadas medições de 977 amostras sendo 485 amostras de substâncias químicas diversas e 492 amostras de benzeno. Do total de medições realizadas, 91,9% das avaliações e que correspondem a 92,5% dos trabalhadores que trabalham com substâncias químicas, apresentaram resultados das medições ambientais abaixo do nível de ação, configurando, portanto, exposição a baixas concentrações. A exposição à substância química é o tipo de exposição mais frequente e corresponde a 81% das situações de exposição ocupacional, nos laboratórios avaliados. Constatou-se a presença de substâncias químicas na maioria das áreas de trabalho, e a presença de uma mesma substância em vários locais, sendo comum encontrar mais de uma substância química, num mesmo local, com grande diversidade de agentes químicos e frequência de uso, pois em cada local de trabalho foram identificadas, em média, 3,73 substâncias químicas, variando de 1 a

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12 e em 96,1% das situações. A exposição a uma mesma substância ocorre com intervalo máximo de três dias, sendo diária em 14% das situações e 71,5% dos agentes químicos eram usados diariamente. No grupo estudado, 59% dos trabalhadores permanecem na atividade por mais de dez anos, configurando exposição por longo tempo (crônica).

palavras-chave: n exposição ocupacional n avaliação de risco n grupo homogêneo de exposição n laboratórios n saúde ocupacional n substâncias químicas

AbstractA sectional study was conducted on workers in 137 laboratories, 30 pilot units and support areas of a research center in

order to evaluate the level of occupational exposure based on environmental measurements from the 2004´s workplace envi-ronmental protection program with the aim of assessing the risk of health injury arising from occupational exposure to chemical agents. The recognition task was developed using interviews and secondary data from safety programs covering health and environmental risks of all procedures, facilities / equipment and activities. 2,738 cases of exposure were identified, involving exposure to 484 chemicals (with 246 agents and 238 chemicals mixtures), ranging in purity and concentration, found in 243 jobs. The target population comprised 1,563 workers exposed to chemical agents, subdivided into 168 different Homogeneous Group of Expose with an average of 4.55 employees per group. In each workplace were identified, on average, 4.91 HGE and, on average, 3.73 chemicals. Regarding the 2,738 cases of chemical agents versus activity, in 14% of the cases (382 cases) there was daily exposure, in 82.1% (2,249 cases) the frequency of use varied from two to three times a week and in the remaining 3.9% (107 cases) the use was sporadic, about once a week or less. Nine of the ten most frequently used substances were hydrocarbons. 977 samples (485 samples of chemicals and 492 samples of benzene) were measured. Out of the total number of measurements taken, 91.9% of the evaluations corresponding to 92.5% of workers who work with chemicals, presented environmental measurement results below the action level, demonstrating, therefore, exposure to low concentrations.Chemi-cal were found in most areas of work and accounts for 81% of occupational exposure in the evaluated laboratories. There is evidence of presence of one given substance in various locations, as well as of a great diversity of frequently used chemicals, since in every workplace 3.73 chemicals on average were identified, ranging from 1 to 12 and 96.1% of cases. Exposure to a given substance occurs at least every three days; in 14% of cases it happens on a daily basis, involving 71.5% of chemicals. In the study group, 59% of workers remain in business for over ten years, undergoing exposure for a long time (chronic).

keywords: n occupational exposure n risk assessment n homogeneous group of expose n laboratories n occupational health n chemicals

ResumenUn estudio se realizó a trabajadores de 137 laboratorios, 30 plantas pilotos y áreas de apoyo de un centro de investigación

para evaluar el nivel de riesgo para la salud de la exposición a agentes químicos sobre la base de mediciones ambientales ob-tenidos con el programa de protección del medio ambiente de trabajo 2004. La tarea de reconocimiento se desarrolló a través de entrevistas y datos secundarios obtenidos de los programas de seguridad en materia de salud y riesgos ambientales de todos los procedimientos, instalaciones/equipamientos y actividades. Fueron identificados 2.738 casos de exposición, a 484 sustancias químicos siendo 246 agentes y productos químicos y 238 mezclas, con variaciones en la pureza y la concentración, que se encuentran en 243 puestos de trabajo. La población objetivo era de 1.563 trabajadores expuestos a agentes químicos, agrupados en 168 diferentes grupos homogéneos de exposición (GHE), con un promedio de 4,55 empleados por cada grupo.

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En cada lugar de trabajo, en promedio, 4.91 GHE y 3.73 productos químicos fueron identificados. En cuanto a los 2.738 casos de agentes químicos versus puestos de trabajo, en el 14% (382 casos) hubo una exposición diaria, en el 82,1% (2.249 casos) la frecuencia de manipulación variaron de dos a tres veces a la semana y en el 3,9% restante (107 casos) el uso era esporá-dico, una vez por semana o menos. Nueve de las diez sustancias de uso más frecuente fueron los hidrocarburos. Se midieron 977 muestras (485 muestras químicas y 492 muestras de benceno). Del total de las medidas, el 91,9% de las evaluaciones lo que corresponde al 92,5% de los trabajadores que trabajan con productos químicos, presentó los resultados ambientales de medición por debajo del nivel de acción, lo que demuestra, por lo tanto, la exposición a bajas concentraciones. La exposición a sustancias químicas es el tipo más común y representa el 81% de las situaciones de exposición ocupacional en los laboratorios evaluados. Se constató la presencia de sustancias químicas en la mayoría de los sectores de trabajo, y la presencia de una misma sustancia in varios lugares, comúnmente encontrando más de una sustancia química, en un mismo lugar, con una gran diversidad de productos químicos de uso frecuente. En cada lugar de trabajo fueron identificados en promedio 3,73 sustancias químicas, que van desde 1 a 12 en el 96,1% de los casos. La exposición a una específica sustancia ocurre en un intervalo má-ximo de tres días, en 14% de los casos sucede a diario, y 71,5% de los productos químicos eran utilizados diariamente. En el grupo de estudio, 59% de los trabajadores permanecen en la actividad hace más de diez años, sometiéndose a una exposición de largo plazo (crónico).

palabras-clave: n exposición ocupacional n evaluación de riesgos n grupos homogéneos de exposición n laboratorios n salud ocupacional n productos químicos

IntroduçãoTrabalhos científicos e medições ambientais ocupacio-

nais realizados nas últimas décadas têm evidenciado gradu-al declínio nas concentrações de agentes químicos dispersos nos ambientes de trabalho (Crump et al., 2003).

Em grande número de ambientes ocupacionais, as exposi-ções a agentes químicos estão sob controle, não havendo ex-posições rotineiras acima do nível de ação, condição que, de modo geral, foi obtida como resultado de ação reativa às exi-gências da legislação trabalhista e previdenciária, da mobiliza-ção de trabalhadores, da atuação responsável de profissionais de segurança e de saúde e das cobranças da sociedade.

Esta melhoria nos ambientes de trabalho tem levado à necessidade de realizar novos estudos sobre os efeitos das exposições em baixas concentrações no sentido de avaliar possíveis riscos aos trabalhadores (Iavicoli e Carelli, 2003), e ao mesmo tempo, aprofundar-se a discussão sobre o con-ceito de baixas concentrações o que anteriormente era pou-co valorizado, devido às exposições em altas concentrações (Apostoli e Manno, 2003).

Em geral, muitos laboratórios, o trabalho com substân-cias químicas apresenta como característica a exposição à grande diversidade de compostos, normalmente em baixas concentrações e baixa frequência, o que dificulta a avaliação das exposições e do risco associado a elas. Prevalecem, pelo menos no mercado formal, cenários de exposições por lon-go período (crônicas) em diversificados processos de traba-lho (Martins, 2002).

Em função do dinamismo das atividades realizadas nes-tes ambientes de trabalho, torna-se complexo desenvolver programas de avaliação de riscos. Como as atividades são realizadas utilizando pequenas quantidades de substâncias químicas, muitas vezes os riscos são desprezados pelos ges-tores e trabalhadores, merecendo atenção apenas aquelas questões referentes ao uso de substâncias perigosas, pela equivocada interpretação de que isoladamente, o perigo por si só é suficiente para constituir risco ocupacional.

Portanto, o conhecimento do padrão de exposição ocupa-cional de trabalhadores em laboratório é uma importante eta-pa na avaliação de risco, e os resultados das avaliações am-bientais devem ser utilizados para duas finalidades principais:

Rebelo et al.

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o programa de higiene ocupacional e o subsídio à elaboração de Laudos Técnicos de Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT) e do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que são exigidos pela legislação previdenciária (Brasil, 2006).

Embora ambos tenham por base o conhecimento técnico em toxicologia ocupacional, existem nuances em cada uma destas atividades que devem ser consideradas, em espe-cial a utilização dos Limites de Exposição Ocupacional – LEO1 (ACGIH, 2009) e as mudanças na legislação federal, que tor-nou mais complexa a análise, pois além dos critérios técni-cos, é necessário considerar períodos de tempo específicos.

MetodologiaFoi realizado estudo transversal relativo ao nível de ex-

posição ocupacional, em trabalhadores no Centro de Pes-quisas e Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello (Cenpes). A escolha deste centro de pesquisas, que é o coordenador institucional das tecnologias da Petrobras, de-veu-se a diversos fatores: suas atividades são preponde-rantemente realizadas em laboratórios; há um grande nú-mero destes, no local; há diversidade nos processos de trabalho e, também, um grande número de trabalhado-res envolvidos em atividades de laboratório. Além disso, o Cenpes oferece disponibilidade de informações sobre as avaliações ambientais realizadas.

Tomaram-se por base as medições ambientais do ano calendário de 2004 e a revisão de literatura, com o objetivo de avaliar o risco de dano à saúde, decorrente da exposição ocupacional a agentes químicos.

O Cenpes está localizado no campus da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), ocupava uma área construída de 45.000 m2 (ampliada para 122.000 m2 e que agora está sen-do acrescida de mais 183.000 m2, tornando-se um dos maio-res complexos de pesquisa aplicada no mundo). Sua estrutura organizacional é composta por uma Gerência Executiva e pe-las Gerências Gerais das áreas de exploração, produção, distri-buição, transporte, produtos, gás, refino, petroquímica, ener-gia e gestão ambiental, nas quais os profissionais do Cenpes

desenvolviam pesquisas para todas as áreas de negócio da Pe-trobras em 137 laboratórios e 30 unidades piloto, por meio de 12 programas tecnológicos, 900 projetos de pesquisa e desen-volvimento e 48 projetos de engenharia básica.

A população-alvo, em 2004, era composta por aproxima-damente 3.100 pessoas (empregados próprios ou contrata-dos) que trabalhavam no Cenpes.

O número de empregados próprios era de 1.560 empre-gados, sendo 44% de nível médio e 56% de nível superior (41% graduados; 44% mestres e 15% doutores). A popula-ção masculina era de 71%, o que resulta em índice de mas-culinidade de 2,4. A distribuição por faixas etárias mostra que 60% da população estudada têm 41 anos ou mais, sen-do 13% acima dos 51 anos de idade e apenas 18% com ida-de de até 30 anos, com cerca de metade dos empregados (47%) na faixa de 41 aos 50 anos. Este conjunto de empre-gados possui experiência profissional, o que pode ser inferido a partir da categorização profissional, na qual 30% dos profis-sionais de nível superior compõem a categoria sênior, 57%, a categoria pleno e apenas 13% a categoria de juniores. A eles se juntam, para compor a força de trabalho, números aproxi-madamente iguais de contratados, cujas atividades estavam predominantemente associadas às atividades operacionais.

A etapa de reconhecimento foi desenvolvida a partir de entrevistas com a força de trabalho (trabalhadores próprios e contratados), para a identificação de exposição a agentes químicos potencialmente tóxicos. Foram levantadas informa-ções sobre:

•as substâncias utilizadas; •a dinâmica operacional; •a frequência e duração da exposição; •o tipo de contato; •a utilização de equipamentos de proteção coletiva e

individual; •o número de pessoas expostas; •a jornada de trabalho; •os ciclos/ritmos de trabalho; •as informações disponíveis acerca da toxicidade das

1. Os Limites de Exposição Ocupacional – LEO são propostos pela ACGIH - USA (American Conference of Governamental Industrial Hygienist) e referem-se às concentrações das substâncias dispersas na atmosfera que representam as condições sob as quais se acredita, que quase todos os trabalhadores possam estar expostos continua e dia-riamente, sem apresentar efeitos adversos à saúde.

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substâncias químicas presentes; e • as medidas de controle empregadas.

A etapa de reconhecimento abrange e detalha os riscos ambientais e foi realizada em todos os processos, instala-ções/equipamentos e atividades, no âmbito do Cenpes. O ris-co foi estimado em função da combinação das estimativas da probabilidade de ocorrência e da gravidade dos danos po-tenciais, e classificado em quatro categorias:

•riscos irrelevantes; •riscos que demandam atenção; •riscos críticos; e •riscos não toleráveis.

Definiram-se, como fontes de informação, os dados se-cundários sobre exposição ocupacional aos agentes quími-cos e as informações provenientes das etapas de reconhe-cimento, avaliação e controle do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA2 (Brasil, 1994b) do ano calendário de 2004, tendo sido resgatadas as informações relativas a:

• local de trabalho; • agentes químicos avaliados na fase de reconhecimento; • agentes químicos selecionados para medição; • resultado das medições; e • os Grupos Homogêneos de Exposição (GHE) que foram

identificados seguindo a metodologia preconizada pe-las boas práticas de higiene ocupacional; pelas deman-das dos requisitos legais da legislação trabalhista brasi-leira; por meio das Normas Regulamentadoras 9 (NR-9)

(Brasil, 1994b) e 15 (NR-15) (Brasil, 1995a), do Minis-tério do Trabalho pelo National Institute for Occupa-tional Safety and Health (NIOSH) (Leidel et al., 1977); pela American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH, 2009) e pelas Diretrizes Corporati-vas de Higiene Ocupacional da Petrobras.

Estes GHE foram criados para fins de avaliação e monito-ração, por meio de subdivisões da força de trabalho em blo-cos de análise, em função das características dos processos, das atividades realizadas, das áreas físicas e dos trabalhado-

res envolvidos. Desta forma, foram reunidos, em um mes-mo bloco, trabalhadores em atividades semelhantes ou afins, que impliquem em riscos potenciais à saúde de mesma natu-reza ou semelhança. Por sua vez, quando necessário, os blo-cos foram subdivididos em blocos menores, de modo a aten-der aos critérios acima especificados.

Foram selecionados 1.679 trabalhadores (próprios ou contratados) que exerciam suas atividades em laboratórios ou respectivas áreas de apoio, nos quais eram manusea-das substâncias químicas, tendo por base o mapeamento de toda a força de trabalho.

Este conjunto de trabalhadores foi considerado para com-posição dos GHE, sendo agrupados em um mesmo GHE aque-les trabalhadores considerados como expostos às mesmas condições ambientais, por atuarem na mesma área, exer- cendo as mesmas atividades e expostos ao(s) mesmo(s) agente(s), com base nas informações dos próprios trabalha-dores (operacionais e administrativos), dos supervisores, dos gerentes e na observação direta dos locais de trabalho pela equipe técnica da gerência de segurança, meio-ambiente e saúde (SMS), assim como a descrição das dinâmicas opera-cionais e o conhecimento dos processos de trabalho.

Para um mesmo agente químico pode haver um ou mais GHE, que, por sua vez, podem ser compostos por um ou mais trabalhadores.

Para a fase de medição, da etapa de avaliação, as informa-ções coletadas no reconhecimento foram validadas e tratadas, a partir de filtros de significância, quando, então, foram defini-das as áreas que seriam submetidas a amostragem. Estabele-ceu-se a estratégia de amostragem, considerando:

•a forma de manuseio;•a possibilidade e a duração da exposição;•as características de toxicidade;•as informações existentes na literatura, •a disponibilidade de método de medição; e •as técnicas de coleta, transporte e análise

das amostras.

2. Estabelecido pela NR-9, o PPRA, visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente con-trole da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.

Rebelo et al.

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A adoção de critérios para estimar e julgar a tolerabilida-de dos riscos teve como finalidade a priorização de ações de controle para a redução das exposições ao mínimo possível, considerando as viabilidades técnicas e econômicas.

Os registros dos levantamentos dos processos de traba-lho foram lançados em planilhas específicas, identificados segundo a localização física, contendo os processos de tra-balho, os riscos ocupacionais (a eles associados), a fonte das exposições e a frequência de uso da substância química e o número de pessoas expostas, como pode ser visto nos mo-delos apresentados nos quadros 1 e 2.

Concomitantemente, foi realizado levantamento das in-formações toxicológicas dos agentes identificados e dos pro-cessos de trabalho nos quais estavam presentes.

Processo/Local Risco Pessoas

Função do Trabalhador:Nome e matricula do trabalhador:Local de trabalho e descrição das atividades realizadas:

Tema Sala/Lab Denominação Substância química Fonte Frequência

Quadro 1 – Planilha de reconhecimento de substâncias químicas.

Table 1 – Spreadsheet of chemical substances recognition.

Cuadro 1 – Planilla de reconocimiento de las sustancias químicas.

Quadro 3 – Descrição das atividades do trabalhador.

Table 3 – Description of the worker’s activities.

Cuadro 3 – Descripción de las actividades del trabajador.

Quadro 2 – Levanta-mento preliminar de processo de trabalho, riscos gerados e número de pessoas envolvidas.

Table 2 – Preliminary survey of the work process, risks generated and number of people involved.

Cuadro 2 – Estudio preliminar del proceso de trabajo, riesgos generados y el número de personas implicadas.

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Estes dados foram complementados com a descrição, de modo resumido, das atividades desenvolvidas por cada trabalhador da área avaliada, que também foram coletadas em acordo com um modelo pré-definido. Estas informações também são utilizadas para fins previdenciários e atualizadas em cada reconhecimento (quadro 3).

O passo seguinte foi identificar e associar, para cada tra-balhador, em cada um dos processos de trabalho existentes, a provável exposição e a quais riscos, a frequência da expo-sição e o tempo estimado (quadro 4).

Os dados obtidos na fase preliminar de reconhecimen-to foram submetidos a processo de validação confirmados com cada trabalhador, seus supervisores e com os geren-tes das respectivas áreas avaliadas. Foram, finalmente, vali-

dados pela equipe de higiene ocupacional do Cenpes, que os considerou liberados, para efeito de estabelecimento da es-tratégia de medições, e também serviram de subsídio para a seleção dos Grupos Homogêneos de Exposição ao risco e, quando pertinente, para identificar a indicação da monitora-ção ambiental e os respectivos trabalhadores expostos, que seriam monitorados em cada GHE.

As medições foram realizadas por pessoal capacitado, de modo a:

•dimensionar a exposição dos trabalhadores; •subsidiar a indicação de medidas de controle; •atender requisito legal; •comprovar o controle da exposição ou a inexistência

dos riscos identificados na etapa de reconhecimento; e •caracterização dos mesmos.

A periodicidade de monitoramento de riscos ambientais está definida por critérios legais e orientações corporativas,

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até que a exposição ao agente ambiental seja considerada tolerável.

Os critérios de avaliação seguiram as estratégias apre-sentadas no fluxograma da figura 1, tendo por base as infor-mações oriundas da etapa de reconhecimento.

Quando os agentes ambientais possuíam estratégia de amostragem e periodicidade de monitoramento definidas em legislação específica, estas foram seguidas, a exemplo do anexo 13-A da NR-15, para o benzeno (Brasil, 1995b).

As análises toxicológicas ambientais quantitativas foram realizadas obedecendo aos critérios de avaliação acima apre-sentados, seguindo procedimentos previamente definidos para coleta, armazenamento, transporte e método de análise.

O Inventário de Riscos à Saúde no PPRA subsidiou a ela-boração do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupa-cional (PCMSO)3, em particular na identificação de indivíduos a serem avaliados e acompanhados, e na especificação dos

exames complementares necessários. Estes, por sua vez rea-limentaram o processo de avaliação de riscos e auxiliaram na comprovação da eficácia das medidas de controle implanta-das no ambiente e nos processo de trabalho (Brasil, 1994a).

As áreas físicas e os trabalhadores que seriam objeto da amostragem foram definidos com base nos critérios do Ma-nual de Métodos Analíticos do NIOSH (NMAM®)4 e dos pro-tocolos do Manual de Estratégias de Amostragem da Exposi-ção Ocupacional do NIOSH5.

Elaborou-se, então, o cronograma com agendamento da coleta de amostras, buscando representar todos os horários nos quais eram realizadas as atividades dos trabalhadores que compõem os grupos homogêneos, seguindo as orienta-ções referentes ao número e à especificação de equipamen-tos e de pessoal técnico a ser mobilizado, estipulados em função dos agentes a serem monitorados.

A técnica utilizada para coleta de amostra no ambiente de trabalho foi a de amostragem pessoal de toda jornada de

Grupos Homogêneos de Exposição

Processo/Atividade/local Risco gerado GHE Trabalhadores

3. A NR-7, obriga a elaboração e implementação do programa, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos trabalhadores da empresa, dando os pa-râmetros mínimos e as diretrizes gerais a serem observados na sua execução.4. NIOSH Manual of Analytical Methods (NMAM®), 4th ed. DHHS (NIOSH) Publication 94-113 (August, 1994), Schlecht, P.C. & O’Connor, P.F.Eds.5. Occupational Exposure Sampling Strategy Manual – DHEW (NIOSH) Publication Nº 77-173. Podem ser obtidos em www.cdc.gov/niosh

Quadro 5 – Grupos Homogêneos de Exposição (GHE). Table 5 – Homogeneous Groups of Exposure (HGE). Cuadro 5 – Grupos Homogéneos de Exposición (GHE).

ExecutantesOperação

com provável exposiçãoAgente Frequência

Duração da exposição(minutos/período)

Quadro 4 – Planilha de levantamento de campo. Table 4 – Spreadsheet of field survey. Cuadro 4 – Planilla de reconocimiento de campo.

Rebelo et al.

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RECONHECIMENTO

Medição(Monitoração Ambiental)

Caracterização da presença

SIMNÃO NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

SIM

SIM

SIM

SIM

SIM

ExistE mEdição rEcEntE?

PodE Provocar dano à saúdE?

ExistE ExPosição ocuPacional?

ExistE lEo E método analítico?

a ExPosição é significativa?

ExPosição

altErou?

Figura 1 – Fluxograma de avaliação de substâncias químicas.

Figure 1 – Chemical substances evaluation flowchart. Figura 1 – Diagrama de flujo para la evaluación de sustancias químicas.

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trabalho. Análises de períodos inferiores ao tempo total de exposição só foram admitidas, como representativas deste total, se aceito o pressuposto de que a exposição não amos-trada que ocorreu durante parte do turno de trabalho seme-lhante àquela ocorrida durante a parte medida. Foram reali-zadas, no mínimo, três medições por composto, para cada grupo homogêneo de exposição.

As avaliações levaram em consideração o tempo total de exposição e foram ponderadas pelo tempo, considerando também o valor teto6 e os limites de digressões7, sendo re-presentados os limites dos intervalos de confiança para cada lado da exposição média estimada, no nível de confiança se-lecionado de 95%.

O equipamento de coleta era colocado diretamente no trabalhador – para permitir a avaliação de seus deslocamen-tos – e o amostrador fixado na gola de seu jaleco, para ser mantido no nível da zona respiratória, continuamente, duran-te o período de amostragem. A bomba de coleta era po-sicionada na cintura do trabalhador. A cada montagem do aparato, o trabalhador foi informado a respeito do propósito da amostragem, sendo inquirido se as condições de trabalho daquele dia retratavam as condições habituais de trabalho e quanto às condições de conforto e liberdade de movimentos portando o equipamento. Após sua concordância, o equipa-mento foi acionado e a medição iniciada.

Antes de iniciar a amostragem, foram realizadas as se-guintes etapas:

•testes nos equipamentos e baterias que seriam utilizados; • identificação do tipo de amostrador e da vazão

da bomba;•estabelecimento dos cuidados a serem obedecidos na

identificação, acondicionamento e transporte das amostras; • calibração e montagem dos equipamentos de medição; •realização da coleta de amostra.

Finalmente, as amostras foram enviadas para análises la-boratoriais, utilizando técnica previamente definida e seguin-do os padrões de qualidade pré-estabelecidos.

As análises foram realizadas em laboratórios credencia-dos e certificados, que emitiram os laudos analíticos acom-panhados de relatório.

Como parâmetros de referência para os resultados das medições ambientais foram utilizados os Limites de Tolerân-cia (LT) da NR-15 e os limites de exposição ocupacional da ACGIH (TLV-TWA8 , e valor teto), devido à falta de atualização sistemática da lista de agentes químicos da NR-15, e pelo fato de ser a ACGIH a referência estrangeira à qual se reme-te a legislação brasileira, em casos omissos.

Os resultados foram lançados em planilhas, associados aos locais de trabalho, aos GHE e comparados aos respecti-vos Limites de Exposição Ocupacional - LEO para estabelecer o nível da exposição (quadro 6).

6. Concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada em momento algum durante a jornada de trabalho. Normalmente é indicado para substâncias de alta toxi-cidade e baixo limite de exposição.7. O termo digressão refere-se à variação das concentrações das exposições do trabalhador acima do limite de tolerância (TLV – TWA) que podem exceder até 3 vezes este valor por um período total máximo de 30 minutos durante toda a jornada de trabalho diária, porém, que não ultrapasse o valor teto. Esta abordagem é uma simplificação con-siderável da idéia da distribuição lognormal da concentração. Se as digressões da exposição forem mantidas dentro destes limites recomendados, o desvio padrão geométri-co das concentrações avaliadas estará perto de 2,0.8. TLV – TWA (Time Weight Average) – É a concentração média ponderada pelo tempo de exposição para a jornada de 8h/dia, 40h/semana, à qual praticamente todos os tra-balhadores podem se expor, repetidamente, sem apresentar efeitos nocivos.9. Considera-se nível de ação o valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposição. Para agentes químicos, corresponde a metade dos limites de exposição ocupacional.

Rebelo et al.

Local Agente Código de grupo homogêneo Número de pessoas do GHE Nível

Nota: Nível: ND = Não detectado; NA = Nível de ação9 ; LT = Limite de tolerância.

Quadro 6 – Resultado das avaliações ambientais. Table 6 – Results of Environmental Assessments. Cuadro 6 – Resultados de las Evaluaciones Ambientales.

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Devido ao grande número de informações provenientes das etapas de reconhecimento e avaliação quantitativas, e também da necessidade de estabelecer filtros, de conver-ter unidades de medidas (de mg/m3 para ppm e vice-versa) e de cotejar os resultados com os Limites de Tolerância (LT) e os LEO, ficou evidente a necessidade de contar com supor-te de informática para armazenamento e resgate das infor-mações, uma vez que as planilhas eletrônicas estavam sen-do deficientes para esta finalidade.

Foi desenvolvido um programa de computador em parce-ria com a equipe de informática do próprio Cenpes, cuja pa-tente está registrada no Instituto Nacional da Propriedade In-dustrial (INPI), sob o número de depósito 00067283, para o qual foram migrados os dados que estavam em planilhas, para que pudessem ser avaliados por diferentes critérios e filtros, com emissão de relatórios parametrizados.

O programa também permite a consulta a um banco de da-dos construído no próprio Centro de Pesquisas e administrado pela Gerência de SMS, com informações toxicológicas de to-das as substâncias químicas utilizadas no Cenpes, sejam como insumos, aditivos, substâncias, subprodutos ou descarte.

Os resultados das medições foram inseridos no programa informatizado de suporte ao PPRA, para o cotejamento com os valores de referência (os limites de tolerância da legisla-ção trabalhista brasileira e os limites de exposição ocupacio-nal da ACGIH - tendo sido adotado como parâmetro aquele que fosse mais restritivo), proporcionando melhor e mais ágil análise dos resultados das medições.

Foram identificadas as medições cujos resultados esta-vam acima do nível de ação (50% do LEO) e automaticamen-te emitida notificação ao coordenador do PPRA, do PCMSO, ao gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) e ao gerente da área avaliada.

As ações de controle sobre riscos ambientais ocorreram em qualquer etapa do processo do PPRA (antecipação, re-conhecimento e avaliação). Tiveram sua prioridade definida com base em categorias identificadas de acordo com a ma-triz de risco. Foi prevista a adoção das medidas de controle necessárias e suficientes para a eliminação ou a minimiza-ção dos riscos, sempre que identificados e caracterizados, na

fase de reconhecimento, os riscos evidentes à saúde. Estes foram definidos desta forma quando os resultados das ava-liações quantitativas da exposição dos trabalhadores exce-deram os valores de limites de exposição ocupacional ado-tados, tanto na NR-15 quanto na ACGIH; ou caso a área de saúde caracterizasse nexo causal entre danos observados à saúde dos trabalhadores e a exposição ocupacional.

As informações a respeito dos agentes ambientais foram também fornecidas às empresas contratadas, para servirem de subsídios à elaboração dos seus documentos-base, con-forme previsto no item 9.6.1 da NR-9.

Foi definida, em acordo com a legislação aplicável, a ma-nutenção dos registros do PPRA por período mínimo de 20 anos, cumulativa, não se descartando nenhum dado anterior. Todos os novos dados ambientais serão agregados ao histó-rico pré-existente. A documentação técnica (relatórios, ava-liações, projetos de controle e recomendações de melhorias) atualiza a anterior, que também é mantida, explicitando-se a data e vigência das novas condições. Todas as avaliações re-alizadas são acompanhadas de um dossiê, onde constam as seguintes informações:

•padrões de higiene ocupacional utilizados; •estratégias de amostragem e metodologias analíticas; •resultados de avaliações de risco e monitoramento

ambiental; •indicação de medidas de controle necessárias; e •medidas de controle existentes.

Resultados das avaliações ambientais de exposição ocupacional

Das sete Gerências Gerais, em apenas duas (Gestão Tec-nológica e Engenharia Básica), não foram identificados em-pregados expostos a agentes químicos, devido às caracterís-ticas do trabalho que realizam.

Na etapa de reconhecimento do PPRA, vinte Gerências Setoriais declararam que tinham atividades e processos nos quais eram utilizados, de modo sistemático, agentes químicos,

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físicos e biológicos. Elas ocupavam sete radiais do prédio prin-cipal e nove prédios anexos (nas quais estavam instalados 98 laboratórios), o parque de tanques, depósito, área de descar-te de produtos químicos e o separador de água e óleo, com di-versidade de processos de trabalho e operações (quadro 7).

O levantamento, a partir das informações fornecidas pe-las gerências, mapeou 3.329 combinações de exposições ocupacionais versus locais. Todavia, ainda na etapa de reco-nhecimento, quando da confirmação das informações, não foi possível caracterizar exposições específicas em 179 situ-ações e outras 412 situações também foram excluídas - as exposições a agentes físicos, biológicos ou domissanitários - que não são objeto desse estudo.

Restaram 484 substâncias químicas encontradas em 243 postos de trabalho, resultando em 2.738 situações de expo-

sição a agentes químicos versus posto de trabalho, o que corresponde à 86,6% das situações de exposição ocupacio-nal, nos laboratórios avaliados.

Muitas das substâncias químicas identificadas nos pro-cessos de trabalho estavam presentes em vários locais. Em um mesmo local existiam exposições a uma ou mais subs-tâncias, ou exposição concomitante a agentes químicos, físi-cos e biológicos, em função da atividade desenvolvida.

Em cada local de trabalho foram identificadas, em média, 3,73 substâncias químicas, variando de 1 a 12 com mediana de 4 e moda de 1 (com 25 ocorrências).

Identificou-se 1.563 trabalhadores (o que representa me-tade da força de trabalho), com exposição a agentes quími-cos, sendo: 616 empregados e 947 contratados que, agrupa-dos, formaram 168 diferentes GHE. A composição dos GHE variou de 1 a 44 trabalhadores, o que corresponde à média de 4,55 empregados por grupo, mediana de 3 e moda de 1, equivalendo a 26 ocorrências. Em cada local de trabalho fo-ram identificados, em média, 4,91 GHE com variação de 1 a 19, com mediana de 3 e moda de 1 correspondendo a 22 ocorrências.

Nestas áreas, foram encontrados 246 agentes e produ-tos químicos e 238 misturas, com variação na pureza e con-centração, totalizando, assim, as 484 substâncias químicas identificadas. Foram realizadas medições de 977 amostras sendo 485 amostras de substâncias químicas diversas e 492 amostras de benzeno. Ressalte-se que vinte e nove destas substâncias não possuem limite de exposição definidos na legislação brasileira (NR-15) ou pela ACGIH.

Para estabelecer a prioridade de medição, os agentes químicos e produtos mapeados na fase de reconhecimen-to foram classificados em função da frequência de utilização e valores dos LEO.

Das substâncias utilizadas, 71,5% foram identificadas como de uso diário em pelo menos um local de trabalho; 26,1% eram utilizadas com frequência que variava de duas a três vezes por semana; 0,8% eram usadas esporadicamen-te – assim consideradas aquelas usadas no máximo uma vez por semana.

Área física Instalações

Radial 02 7 laboratórios

Radial 03 5 laboratórios

Radial 04 12 laboratórios

Radial 05 9 laboratórios

Radial 06 9 laboratórios

Radial 07 3 laboratórios

Radial 08 4 laboratórios

Prédio 10 3 laboratórios

Prédio 12 6 laboratórios

Prédio 12-A 2 laboratórios

Prédio 15 2 laboratórios

Prédio 16 2 laboratórios

Prédio 20-B 34 laboratórios

TOTAL 98 laboratóriosNota: Radial = Anexos ao prédio central que tem forma de circular.

Quadro 7 – Distribui-ção dos laboratórios, por edificação.

Table 7 – Distribution of laboratories by building.

Cuadro 7 – Distribución de los laboratorios por edificación.

Rebelo et al.

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E 1,6% das substâncias foram excluídas da prioridade de medição ambiental por não disporem de LEO.

Em relação às 2.738 situações de exposição a agentes químicos versus posto de trabalho, em 14% (382 situações) a exposição era diária; em 82,1% (2.249 situações) a fre-quência de utilização variava de duas a três vezes na semana e nas restantes 3,9% (107 situações) o uso era esporádico, cerca de uma vez por semana ou menos (tabela 1).

Como pode ser notado, a exposição aos agentes quími-cos é repetitiva e, em 96,1% a frequência das exposições ocorriacom intervalo máximo de três dias.

Apenas em relação aos empregados foi possível avaliar o tempo de trabalho na companhia, evidenciando que predomi-nantemente a atividade vem sendo exercida por longo tempo, pois 58,9% dos empregados têm mais de dez anos de contrato com a empresa e 41,1% mais de vinte anos (Tabela 2).

Dentre as dez substâncias mais frequentemente utiliza-das, nove são hidrocarbonetos, o que se justifica pelo ramo de atividade, com utilização intensa de petróleo e seus de-rivados. O etanol foi a substância química mais encontrada, estando presente em 5,2% dos locais de trabalho (tabela 3).

Em média, foram efetuadas 3,25 avaliações por cada GHE, perfazendo o total de 546 avaliações.

As medições referentes a 271 avaliações ambientais (que correspondem a 49,6% das avaliações) tiveram como resultados valores não detectados pelo método de avalia-ção. A estes grupos pertenciam 49,9% dos trabalhadores ex-postos a substâncias químicas (838). Valores inferiores ao ní-vel de ação foram encontrados em 231 avaliações (42,3%) que correspondem a 715 (42,6%) dos trabalhadores expos-tos. Para os demais avaliados (8,1% das avaliações e 7,5% dos trabalhadores), as concentrações estavam em nível igual ou acima do nível de ação. Portanto, do total de medições re-alizadas, 91,9% das avaliações e que correspondem a 92,5% dos trabalhadores que trabalham com substâncias químicas, apresentaram resultados das medições ambientais abaixo do nível de ação, configurando, portanto, exposição a baixas concentrações (tabela 4).

Em 27 postos de trabalho, foram evidenciadas situações com exposição acima do nível de ação. Foram elaborados planos de ação para análise da situação atual e implantação de medidas de controle com mecanismos que permitem, de forma sistemática, identificar e avaliar a frequência e as con-sequências de eventos indesejáveis, visando à prevenção e/

Periodicidade Frequência Percentual (%)

Diária 382 14,0

Duas a três vezes por semana 2.249 82,1

Uma vez por semana ou menos 107 3,9

TOTAL 2.738 100

Tempo de trabalho Percentual (%) Percentual acumulado (%)

Mais de 30 anos 4,3 4,3

21 a 30 anos 36,8 41,1

11 a 20 anos 17,8 58,9

06 a 10 anos 5,2 64,1

Até 5 anos 35,9 100,0

Tabela 1 – Distribuição das situações de exposição a substâncias químicas, segundo a frequência de uso.

Table 1 – Distribution of cases of chemical exposure, according to frequency of use.

Tabla 1 – Distribución de los casos de exposición a sustancias químicas, de acuerdo a la frecuencia de uso.

Tabela 2 – Distribuição dos empregados, segundo o tempo de trabalho.

Table 2 – Distribution of employees according to length of service.

Tabla 2 – Distribución de los empleados de acuerdo al tiempo de trabajo.

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ou à máxima redução de efeitos, bem como a documenta-ção, a comunicação e o acompanhamento das medidas ado-tadas para controlá-los.

Todos os trabalhadores destes locais (tabela 5), foram sub-metidos à avaliação biológica de efeito ou de exposição, com utilização de indicadores biológicos quando existentes, não

tendo sido evidenciados valores acima do Índices Biológicos de Exposição, nem sinais clínicos de intoxicação ou dano.

Depois de implantadas as medidas de controle propostas nos planos de ação, os ambientes foram reavaliados para ve-rificação da sua eficácia. As medições ambientais subsequen-

Agente Frequência Percentual (%)

Álcool etílico (etanol) 142 5,19

Acetona 117 4,27

Benzeno 102 3,72

Tolueno 99 3,62

Querosene 77 2,81

Hexano 64 2,34

Xileno 59 2,15

Nafta VM & P 55 2,01

Petróleo 51 1,86

Ácido clorídrico 48 1,75

Outros 1.924 70,28

TOTAL 2.738 100,00

Resultado obtidoAvaliações realizadas Total de expostosavaliados

Frequência Percentual % Frequência Percentual %

Não detectável pelo método de avaliação 271 49,6 838 49,9

Menor que o Nível de Ação 231 42,3 715 42,6

Igual ou acima do Nível de Ação 44 8,1 126 7,5

TOTAL 546 100,0 1.679 100,0

AgenteNúmero de

GHENúmero de pessoas

Benzeno 1 2

Clorofórmio 10 35

Diclorometano 2 5

Gasolina 5 22

MTBE 1 3

Nafta VM & P 4 7

N-Heptano 1 4

N-Hexano 2 2

Querosene 17 42

Xileno 1 4

TOTAL 44 126

Tabela 3 – Substâncias químicas presentes com maior frequência nos ambientes de trabalho do Cenpes – 2004 – Rio de Janeiro.

Table 3 – More frequently present chemicals in the work-place at Cenpes - 2004 - Rio de Janeiro.

Tabla 3 – Sustancias químicas presentes con mayor frecuencia en los ambientes de trabajo del Cenpes - 2004 - Río de Janeiro.

Tabela 5 – Distribuição dos trabalhadores expostos a risco químico acima do nível de ação, segundo a substância química.

Table 5 – Distribution of employees exposed to chemical risk above the action level, by chemical.

Tabla 3 – Distribución de los empleados expuestos a riesgos químicos por encima del nivel de acción, de acuerdo a la sustancia química.

Tabela 4 – Distribuição das avaliações realizadas e dos expostos, segundo os resultados obtidos nas avaliações ambientais.

Table 4 – Distribution of evaluations and exposed people, according to the results of the environmental assessments.

Tabla 4 – Distribución de las evaluaciones realizadas y las personas expuestas, de acuerdo con los resultados de las evaluaciones ambientales.

Rebelo et al.

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tes demonstraram que as medidas adotadas foram efetivas, pois todas as medições estavam com valores abaixo do ní-vel de ação, inclusive naqueles oito locais que anteriormente apresentaram resultados iguais ou superiores aos LEO e que correspondiam a 28 trabalhadores, dentre os 1.679 avaliados.

Como política de Segurança, Meio-ambiente e Saúde da empresa, processos de avaliação de risco foram incorpora-dos a todas as fases do trabalho, incluindo os relacionados à proteção da força de trabalho, comunidades vizinhas ou con-sumidor final.

Nesse sentido, é indicada a realização de avaliações de risco periódicas, ou à medida que se identifiquem mudanças nos processos, com gestão de riscos de acordo com sua na-tureza e magnitude, nos diversos níveis administrativos.

DiscussãoO avanço científico e tecnológico tem sido feito de modo

desequilibrado, com capacidade quase ilimitada de criar no-vos processos de trabalho e produtos, sem a corresponden-te geração de conhecimento para avaliação, gerenciamento e proteção dos riscos deles decorrentes.

Substâncias químicas são amplamente utilizadas em dife-rentes processos produtivos ou atividades de trabalho, como matérias-primas, insumos, aditivos, produtos intermediários, produtos finais, subprodutos ou resíduos para descarte, en-quanto trabalhadores podem estar expostos em graus dife-renciados de intensidade, duração, proteção e nível de in-formações, relativos aos riscos aos quais estão submetidos.

A necessidade de dispor de informações para avaliação e gerenciamento da exposição ocupacional de trabalhadores em laboratório encontra um desafio adicional, qual seja, o de planejar, acompanhar e manter atualizadas as informações referentes a substâncias e processos utilizados por cada tra-balhador, em função do caráter dinâmico da atividade.

Um programa de higiene ocupacional tem como objetivo a eliminação de toda exposição a agente químico com poten-cial para causar efeito adverso ao organismo. Contudo, limi-tações tecnológicas, materiais ou financeiras podem impedir

ou retardar sua consecução, mesmo que haja decisão políti-ca e gerencial de fazê-lo.

Contudo, em algumas áreas ainda é pequeno o número de trabalhos científicos publicados. Com referência específi-ca à exposição química em laboratórios, com exposição múl-tipla e em baixas concentrações, é reduzido, e em grande parte, relacionado à área biomédica.

No Cenpes – maior centro de pesquisas da América Latina – em função do grande número de laboratórios (137 laborató-rios e 30 unidades piloto) e de trabalhadores (3.100 pessoas, dos quais 1.563 estavam expostos a agentes químicos), houve a necessidade de criação de infraestrutura de apoio, capacita-ção de pessoal e alocação de recursos financeiros.

Constatou-se a presença de substâncias químicas na maioria das áreas de trabalho. Verificou-se também que uma mesma substância química era encontrada em vários locais e que era comum encontrar mais de uma substância quími-ca, num mesmo local.

Nas diversificadas áreas de trabalho, as peculiaridades fo-ram consideradas, o que se reflete na multiplicidade de pro-cessos e rotinas de trabalho, sendo comuns mudanças em de-corrência dos diferentes estágios dos projetos e pesquisas.

Utilizou-se o estado da arte na avaliação dos ambientes de trabalho, seguindo a metodologia de higiene ocupacio-nal, desenvolvida nas etapas de reconhecimento, avaliação e controle dos fatores ambientais potenciais de causar dano à saúde dos trabalhadores.

Outro fator importante para o sucesso do programa de avaliação ambiental foi a valiosa integração com os traba-lhadores, que foram chamados a participar de todas as eta-pas, desde o reconhecimento até a implantação de medidas de controle, pois são eles que dominam os processos opera-cionais e conhecem a dinâmica do trabalho. O comprometi-mento e o comportamento destes trabalhadores, nos postos de trabalho, fazem grande diferença na criação e manuten-ção de um ambiente salubre.

No estudo realizado por Deolinda Martins em um Instituto de Pesquisas em São Paulo, foram avaliados 23 trabalhadores

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distribuídos em cinco laboratórios, que estavam expostos, em média, a cinco solventes por amostra coletada, tendo encon-trado três amostras, de um total de 61 amostras (4,9%), com valores acima do limite de exposição ocupacional. No presen-te estudo, as avaliações efetuadas demonstraram que existem em média 4 substâncias químicas por posto de trabalho e que 28 trabalhadores (1,7%), dentre os 1.679 avaliados, estavam expostos a um dos agentes químicos em concentrações iguais ou acima do limite de tolerância, situações que foram integral-mente corrigidas pela adoção de medidas de controle, reduzin-do as concentrações ambientais para patamares inferiores ao nível de ação (Martins, 2002).

Chama a atenção que, para 92,5% dos trabalhadores, os valores encontrados nas avaliações ambientais estavam si-tuados abaixo do nível de ação. Estes ambientes atendem ao Critério de Tolerabilidade no Curto Prazo do Manual de Higie-ne Ocupacional da Petrobras, que está alinhado ao Occupa-tional Exposure Sampling Strategy do NIOSH e ao A Strategy for Assessing and Managing Occupational Exposure da AIHA, que recomenda:

“Até que as estatísticas da exposição média de longo prazo sejam disponíveis, será tolerável, no curto prazo, que a média geométrica seja igual ou inferior ao nível de ação e o desvio-padrão geométrico dessa distribuição ajustado aos dados das exposições seja igual ou inferior a 1,5”.

A conduta recomendada quando se obtém uma exposição de um GHE acima do Nível de Ação é a realização de nova co-leta e dosagem de três a cinco amostras aleatórias em duas semanas. No Cenpes, adotou-se a realização de mais três ava-liações para cada situação acima do nível de ação.

Metade das medições realizadas, tendo por base as in-formações recolhidas na etapa de reconhecimento, eviden-ciou concentração ambiental inferior ao nível de detecção do método analítico. Pode ter havido falha na estimativa da ex-posição, evidenciando a necessidade de reavaliar o treina-mento das pessoas envolvidas na etapa de reconhecimento e esclarecimento aos trabalhadores.

Os trabalhadores permanecem na atividade por longo pe-ríodo, devendo ser consideradas as exposições cumulativas e repetidas ao longo do tempo, pois apenas um em cada três

empregados tem menos de cinco anos de trabalho, enquan-to no outro extremo, 41% dos empregados têm mais de 20 anos de atividade, demonstrando que a exposição aos agen-tes químicos ocorre ao longo de anos. Em parte, isto se deve à política de Recursos Humanos da empresa, que entre 1995 e 2001 restringiu a admissão de novos empregados.

Como o estudo foi transversal e não foi avaliado o tempo total de exposição a agentes químicos, pode-se inferir a partir das informações disponíveis (tempo de contrato de trabalho, baixo índice de renovação, idade dos empregados, experiência profissional e frequência na utilização de substâncias quími-cas), que os empregados permanecem na atividade de labora-tório por longos períodos de tempo. O que tem sido constata-do por ocasião da emissão dos LTCAT e dos PPP para subsidiar processos de aposentadoria por tempo de serviço.

Em relação aos contratados, esta informação não estava disponível, contudo, historicamente devido ao conhecimen-to das atividades realizadas, é comum permanecerem na ati-vidade, mesmo após o final do contrato da empresa presta-dora de serviços, sendo absorvidos pela empresa sucessora, que prefere contratar a mão de obra já treinada e com expe-riência. Porém, este perfil pode não se reproduzir em outros locais, empresas ou ramos de atividade.

Manter um sistema de avaliação do conjunto de trabalha-dores, mesmo que em concentrações muito baixas, é com-plexo, dispendioso e poderá colocar esforço desnecessário sobre exposições cujo LEO poderá nunca ser atingido ou até mesmo venha a ser revisto e seu valor ampliado, no sentido de se tornar mais tolerante. Portanto, a estratégia de abor-dagem das exposições a baixas concentrações deve ser alvo de discussão no contexto do gerenciamento de risco, apoia-da por um sistema de informações e vigilância que possa no-tificar dados relevantes ou a necessidade de revisar condu-tas na proteção da saúde dos trabalhadores, tendo por base o conhecimento científico, a legislação vigente e a ética. Para tal, é fundamental a integração do PPRA com o PCMSO e com os sistemas de gestão e de informação.

Dois recursos poderão ser também utilizados no acompa-nhamento de trabalhadores expostos a baixas concentrações: os grupos sentinela, compostos por indivíduos mais susceptí-veis; e a avaliação do exposto de maior risco ou de indivíduo

Rebelo et al.

Boletim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1/3, p. 99-116, abr./ago./dez. 2009 n 113

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representativo do GHE, cuja avaliação mesmo com resultados abaixo do nível de ação pode vir a ser valiosa nos casos de re-dução do LEO, para que se possa estimar a exposição pretéri-ta. O segundo recurso é a avaliação pontual da situação mais crítica do processo de trabalho, útil para definir se o valor teto foi ultrapassado, avaliar a digressão dos valores de medições em relação ao Time Weight Average - TLV-TWA, estabelecer a necessidade de acompanhamento tendo por parâmetro o Short Term Exposure Limit - STEL; identificar a necessidade de interposições de barreiras (EPI e EPC) e mudanças no proces-so; ou ainda evitar a realização de amostragem contínua ao longo de toda a jornada de trabalho. Estas informações tam-bém serão utilizadas para fins previdenciários.

Conclusões

A exposição à substância química é o tipo de exposição mais freqüente e corresponde a 81% das situações de expo-sição ocupacional, nos laboratórios avaliados.

Existe grande diversidade de agentes químicos, tendo sido identificados, 484 substâncias químicas (246 agentes e produtos e 238 misturas).

O resultado das avaliações ambientais evidenciou que 91,9% das avaliações, que correspondem a 92,5% dos tra-balhadores expostos a substâncias químicas, apresentaram resultados abaixo do nível de ação.

A exposição a agentes químicos é repetitiva, pois em 96,1% das situações, ocorre com intervalo máximo de três dias, sendo diária em 14% das situações.

Dentre as dez substâncias mais frequentemente utiliza-das, nove eram hidrocarbonetos. O etanol foi a substância química mais encontrada, estando presente em 6% dos lo-cais de trabalho.

O trabalho e a exposição a substâncias químicas são di-versificados, tendo sido necessário constituir 168 diferentes GHE (média de 4,55 empregados por grupo).

Em cada local de trabalho foram identificados, em média, 4,91 GHE (variando de 1 a 19).

Em cada local de trabalho foram identificadas, em média, 3,73 substâncias químicas, variando de 1 a 12.

Em relação à frequência de utilização, 71,5% dos agentes químicos eram usados diariamente.

No grupo estudado, 59% dos trabalhadores permanecem na atividade por mais de dez anos, configurando exposição por longo tempo (crônica).

n n n

Referências Bibliográficas

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Avaliação da exposição ocupacional a substâncias químicas em laboratórios de pesquisa...

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Rebelo et al.

Boletim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1/3, p. 99-116, abr./ago./dez. 2009 n 115

Leonardo Borges Medina Coeli é graduado em Engenharia Quí-mica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em 1995. Nesta mesma instituição, cursou a especialização em Engenha-ria de Segurança do Trabalho, em 1999. Em 2005, especializou-se em Higiene Ocupacional pela Universidade de São Paulo (USP). É qualificado em Supervisão de Radioproteção na área de Medi-dores Nudeares Fixos pela Comissão Nacional de Energia Nucle-ar (CNEN) e possui Certificação em Higiene Ocupacional pela As-sociação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. Atualmente, é Engenheiro de Segurança Pleno da Unidade Operacional Rio, na área de Exploração e Produção da Petrobras. Tem experiência na área de gestão de Higiene Ocupacional, com ênfase em seguran-ça do trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: saú-de ocupacional, radioproteção e sistemas de informações.

Leonardo Borges Medina Coeli

Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Rio de Janeiro (UN-RIO)Gerência de Segurançae-mail: [email protected]

Autores

Paulo Antonio de Paiva Rebelo ingressou na Petrobras em 1983, tendo atuado como médico e coordenador de saúde do Cenpes até 2007. Atualmente é Consultor Técnico da Gerência Corporativa de Saúde da Petrobrás, membro da Comissão Inter-na de Biossegurança do Cenpes e representante da Petrobras no Comitê de Saúde da IPIECA. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1979). Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina de Reabili-tação. Doutor em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela USP (2007). MBA em Gestão de Saúde (2002) pela FGV. Especializa-ção em Medicina do Trabalho (1980) e em Administração e Or-ganização Hospitalar (1981) pela UERJ. Autor dos Livros Quali-dade em Saúde (1995) e A Pessoa com Deficiência e o Trabalho (2008) publicados pela Qualitymark Editora.

Paulo Antonio de Paiva Rebelo

Segurança, Meio Ambiente, Eficiência Energética e Saúde (SMES)Gerência de Saúdee-mail: [email protected]

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Elizabeth de Souza Nascimento possui graduação em Farmácia e Bioquímica. Doutorado em Ciência dos Alimentos pela Univer-sidade de São Paulo em 1991. Atualmente é Professora Doutora da Universidade de São Paulo, Consultora do Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qualidade Industrial, Consultora - International Life Sciences Institute. Publicou 30 artigos em peri-ódicos especializados e trabalhos em anais de eventos, além de possuir capítulos de livros publicados. Atua na área de Toxico-logia, com ênfase em Toxicologia de Alimentos e Ocupacional.

Henrique Vicente Della Rosa possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo (1978), mestrado em Análises Toxicológicas pela Universidade de São Paulo (1979) e doutorado em Toxicologia pela Universidade de São Paulo (1985). Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo e só-cio - Toxikón Assessoria Toxicológica e Toxikón Higiene Industrial. Tem experiência na área de Farmácia, com ênfase em Toxicologia Ocupacional, atuando principalmente em aspectos toxicológicos da exposição ocupacional a agrotóxicos, metais, solventes, moni-toramento biológico da exposição ocupacional.

Elizabeth de Souza Nascimento

Universidade de São Paulo (USP)Faculdade de Ciências Farmacêuticase-mail: [email protected]

Henrique Vicente Della Rosa

Universidade de São Paulo (USP)Faculdade de Ciências Farmacêuticase-mail: [email protected]

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116 n Boletim Técnico da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1/3, p. 99-116, abr./ago./dez. 2009