Avaliação biomecânica de atletas paraolímpicos brasileiros

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Artigo Original de Sílvio Soares dos Santos e Fernando José de Sá Pereira Guimarães, publicado em Rev Bras Med Esporte _ Vol. 8, Nº 3 – Mai/Jun, 2002.

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  • 92 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 8, N 3 Mai/Jun, 2002

    ARTIGOORIGINAL

    Avaliao biomecnica de atletas paraolmpicos brasileiros

    Slvio Soares dos Santos1 e Fernando Jos de S Pereira Guimares2

    1. Professor Adjunto II Faculdade de Educao Fsica, Universidade Fe-deral de Uberlndia (UFU).

    2. Professor da Universidade de Pernambuco (UFPE).Submetido em: 4/4/02Verso revisada recebida em: 1/5/02Aceito em: 19/5/02

    Endereo para correspondncia:Rua Benjamin Constant, 1.28638400-678 Uberlndia, MGE-mail: [email protected]

    movements and can be divided into performance biome-chanics, anthropometric biomechanics, and preventive bio-mechanics 4. Performance biomechanics is directly relatedto the analysis of the technique of the movements in orderto identify and evaluate the main variables involved, andto allow individual diagnosis related to important flaws(technique versus motor control) registered in the move-ment2. According to Winter3 and Baumann4, the usual meth-ods to measure biomechanic quantitative parameters arebased on kinemetry, electromyography, dynamometry andthe anthropometrics. The aim of this work was to performquantitative and qualitative evaluations of biomechanic pa-rameters related to swimming and athletics, based on ki-nemetry. The results showed a number of imperfections forcorrectly executing the technique related to a movement(this was most pronounced for throwing and swimming).These data can now be used by coaches looking for newmeans of adjusting their techniques in order to correctpossible imperfections.Key words: Biomechanics. Paralympic sports. Kinemetry. Qualita-

    tive analysis. Quantitative analysis.

    INTRODUOA biomecnica do esporte uma disciplina cientfica da

    qual os movimentos desportivos so descritos e explicados luz de conceitos e mtodos mecnicos. De acordo com area de aplicao a biomecnica pode ser subdividida em:biomecnica do rendimento se ocupa das variveis bio-mecnicas que determinam o resultado do movimento emqualquer nvel de rendimento; biomecnica antropomtri-ca se relaciona com o diagnstico e prognstico do ren-dimento relativamente s medidas antropomtricas e bio-mecnica preventiva se relaciona com a identificao decargas e os possveis desgastes ocasionados ao aparelho demovimento oriundos da aplicao dessas cargas.

    A biomecnica do rendimento est diretamente relacio-nada anlise da tcnica do movimento, cujas funes soa identificao de suas variveis de influncia, a avaliaodessas variveis e por fim o diagnstico individual em re-lao s falhas tcnico-motoras registradas no movimen-to2.

    RESUMOA biomecnica do esporte uma disciplina cientfica da

    qual os movimentos desportivos so descritos e explicados luz de conceitos e mtodos mecnicos1. De acordo com area de aplicao a biomecnica pode ser subdividida embiomecnica do rendimento, biomecnica antropomtricae biomecnica preventiva. A biomecnica do rendimentoest diretamente relacionada anlise da tcnica do movi-mento, cujas funes so a identificao e avaliao dasvariveis de influncia e o diagnstico individual em rela-o s falhas tcnico-motoras registradas no movimento2.A biomecnica utiliza como mtodos de medio de seusparmetros quantitativos a cinemetria, a eletromiografia, adinamometria e a antropometria3,4. O objetivo desse traba-lho foi fazer anlises quantitativa e qualitativa de parme-tros biomecnicos de provas de atletismo e natao, utili-zando a cinemetria. Os resultados mostraram imperfeiesna conduo da tcnica dos movimentos, em especial, dasdisciplinas de arremessos no atletismo e na natao. Taisresultados serviram como subsdios para os treinadoresadaptarem e modificarem seus treinamentos no sentido decorrigir tais imperfeies.Palavras-chave: Biomecnica. Esporte paraolmpico. Cinemtica.

    Anlise qualitativa. Anlise quantitativa.

    ABSTRACT

    Biomechanic evaluation of Brazilian paralympic athletesSports biomechanics is a scientific discipline that uses

    mechanical methods and concepts to study sports-related

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    A biomecnica utiliza como mtodos de medio de seusparmetros quantitativos a cinemetria, a eletromiografia, adinamometria e a antropometria3,4.

    A cinemetria um mtodo de medio cinemtica quebusca a partir da aquisio de imagens da execuo domovimento, observar o comportamento de variveis depen-dentes, tais como: velocidade, deslocamento, posio eorientao do corpo e de suas partes5.

    A dinamometria engloba todos os tipos de medidas defora de forma a poder interpretar as respostas de compor-tamentos dinmicos do movimento humano.

    A eletromiografia o mtodo que registra a atividadeeltrica do msculo quando esse realiza contrao.

    A antropometria procura determinar caractersticas epropriedades do aparelho locomotor como as dimensesdas formas geomtricas de segmentos corporais, distribui-o de massa, braos de alavanca, posies articulares etc.,definindo um modelo antropomtrico a partir das medidascorporais5.

    METODOLOGIA

    Para a avaliao biomecnica dos atletas de corrida noatletismo foi utilizado o mtodo cinemtrico. Os atletasforam filmados durante a execuo de suas provas espec-ficas e avaliados os seguintes parmetros: velocidade m-dia parcial, velocidade mdia total, comprimento mdioda passada e freqncia mdia da passada. As filmagensforam feitas perpendicularmente ao desenvolvimento dascorridas. A filmadora foi fixada no ponto mdio da corridae colocados pontos de referncia ao fundo, eqidistantesentre si, cujas distancias eram conhecidas. Os testes foramrealizados na cidade de So Paulo numa pista sinttica ofi-cial.

    Foi desenvolvida uma lista de checagem para a anlisequalitativa de cada uma das diferentes provas de atletismo,divididas em provas de corridas e de arremessos. As pro-vas de arremessos foram ainda subdivididas em arremes-sos de peso, de disco e de dardo. Foram utilizadas duasfilmadoras para a captura de imagens dos arremessos. Es-sas filmadoras foram colocadas frente dos arremessado-res (aproximadamente 15m) e com 90 graus de afastamen-to entre si.

    Na disciplina natao foram feitas filmagens subaquti-cas nos planos transverso e sagital em uma piscina de 25mx 12,5m. Foram analisadas as sadas, as viradas e a tcnicade nado desenvolvida. Foram feitas ainda filmagens forada gua para a anlise das sadas (fase area) e a tcnica denado.

    A filmadora foi fixada abaixo do nvel da gua (aproxi-madamente 20cm de profundidade) a 1,5m da borda de

    fundo da piscina para a observao das viradas. Para a ob-servao das sadas a filmadora foi fixada a aproximada-mente 3m da borda de fundo. Para as filmagens dos nadosno plano sagital a filmadora foi fixada a 12,5m da borda defundo e distante dos nadadores cerca de 8m. As filmagensno plano transverso foram feitas com a filmadora colocadana posio 25m na mesma direo de desenvolvimento donado. Puderam ser observados cerca de 6 ciclos completosde braada para cada nadador nos vrios planos.

    RESULTADOS

    Os resultados das anlises biomecnicas sero apresen-tados na seguinte ordem: 1) atletismo corridas; 2) atletis-mo arremessos e 3) natao.

    1) AtletismoDentro dessa disciplina foram analisadas principalmen-

    te as provas curtas de pista (corridas de 100m, 200m e400m) e as provas longas de 10000m e maratona.

    Dentro das provas de campo foram analisadas as provasde arremessos de peso, dardo e disco.

    CorridasA tabela 1 mostra os resultados dos atletas para o teste

    de 100 metros rasos. So descritas as velocidades mdias(m/s) a cada 25 metros.

    TABELA 1Velocidades parciais dos atletas parao teste de 100 metros rasos em m/s

    V(0-25) V(25-50) V(50-75) V(75-100) Vmedia

    A.S. 7,06 7,14 08,71 8,39 7,76M.J. 6,41 7,35 08,22 7,58 7,33A.L. 7,14 9,16 10,96 8,65 8,77A.D. 7,35 8,99 09,62 9,54 8,77S. 6,98 8,45 10,59 7,91 8,29

    A figura 1 mostra os resultados das atletas da tabela 1em forma de grfico de coluna. As atletas avaliadas mos-tram essencialmente a mesma estrutura. A atleta M.J. mos-tra de maneira mais bem definida um aumento progressivoda velocidade at os 75 metros. Ambas as atletas mostra-ram uma queda proporcional nos ltimos 25 metros. Asseqncias de 1 a 4 na figura abaixo representam as dis-tancias de 0-25m, 25-50m, 50-75m e 75-100m respectiva-mente.

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    A figura 2 mostra os resultados dos atletas na prova de100 metros rasos cujos resultados encontram-se na tabela1. A estrutura desses grficos basicamente a mesma in-clusive em comparao figura das atletas mostradas nafigura 1, ou seja, aumento progressivo da velocidade at os75 metros e uma queda da mesma entre os 75 e 100 me-tros. O atleta A.D. mostra um grfico um pouco diferen-ciado com pequena queda da velocidade entre os 75 e 100metros. Observando-se a figura 2 pode-se ver que, aparen-temente, o atleta A. mostra melhor performance que seucolega D., devido aos altos picos de velocidade atingidospelo primeiro. No entanto, a observao da tabela 1 mostraque ambos apresentaram a mesma velocidade mdia. Tal-vez seja uma boa estratgia controlar a velocidade durantetoda a prova no sentido de no sofrer uma grande queda namesma no ltimo quarto da prova e distribuindo melhor,dessa forma, o gasto energtico durante a mesma.

    A tabela 3 mostra os parmetros velocidade mdia, fre-qncia e comprimento mdio de passadas dos atletas noteste de 400m rasos. Em relao atleta A.S. pode-se notarque houve uma manuteno do comprimento de passadasporm a reduo da velocidade, em relao ao teste dos100m rasos, deveu-se principalmente reduo da freqn-cia mdia das passadas durante esse segundo teste. O mes-mo fenmeno pode ser observado com os atletas A. D. e S.

    Velocidade nos 100m

    0,002,004,006,008,00

    10,00

    dria Maria JoseAtletas

    Velo

    cida

    de(m

    /s) Seqncia1Seqncia2Seqncia3Seqncia4

    Fig. 1 Grfico de velocidades parciais no teste de 100m rasos dasatletas de atletismo

    Velocidade nos 100m

    0,002,004,006,008,00

    10,0012,00

    Andr Luiz Antonio Delf. SandroAtletas

    Velo

    cida

    de(m

    /s) Seqncia1Seqncia2Seqncia3Seqncia4

    Fig. 2 Grfico de velocidades parciais no teste de 100m rasos dosatletas de atletismo

    TABELA 2Velocidade mdia, freqncia e comprimento

    de passadas dos atletas no teste de 100m rasos

    Vmdia Freq. mdia Comp. mdio100m (m/s) (ciclos/s) (m/ciclo)

    A.S. 7,76 2,06 3,77M.J. 7,33 1,98 3,70A.L. 8,77 2,15 4,08A.D. 8,77 2,15 4,08S. 8,29 1,74 4,76

    TABELA 3Velocidade mdia, comprimento e freqnciamdia das passadas no teste de 400m rasos

    Vmdia Freq. mdia Comp. mdio400m (m/s) (ciclos/s) (m/ciclo)

    A.S. 6,34 1,68 3,77A.D. 7,27 1,79 4,06S. 7,47 1,57 4,76

    A tabela 2 mostra a velocidade mdia apresentada pelosatletas assim como a freqncia mdia de passada e o com-primento mdio da passada no teste dos 100m rasos. Des-taca-se nessa tabela o comprimento mdio de passada doatleta S. (4,76m/ciclo), que bastante alto, em contraparti-da a freqncia de suas passadas (1,74 ciclos/seg) que extremamente baixo. O aumento de 5% na freqncia daspassadas no atleta S. com a manuteno do seu compri-mento provocaria uma reduo do tempo de percurso naprova de 12,06seg para 11,49seg.

    A figura 3 mostra o comportamento da velocidade dosatletas a cada 100 metros no teste dos 400 metros rasos. Oatleta S. mostra uma alta velocidade nos primeiros 200metros experimentando nos 200 metros finais uma subs-tancial reduo na mesma. Talvez seja uma estratgia inte-ressante dosar um pouco melhor a velocidade durante todaa prova no sentido de economizar energia para o final da

    Velocidade nos 400m

    0,002,004,006,008,00

    10,00

    dria Antonio Delf SandroAtletas

    Velo

    cida

    de (m

    /s) Seqncia1Seqncia2Seqncia3Seqncia4

    Fig. 3 Velocidade parciais nos 400 metros rasos

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    mesma. Com essa estratgia seria possvel manter umamelhor velocidade mdia durante toda a prova. Alm doaspecto energtico cabe aqui a meno de outro, qual seja,a manuteno da concentrao durante toda a prova. Omesmo fenmeno ocorreu com a A.S. porm em nveis bemmenores. O atleta A.D. mostrou um aumento da velocida-de durante as duas primeiras partes da prova, uma reduona terceira e um discreto aumento na sua parte final.

    Os resultados do teste de 200 metros rasos aparecem natabela 4 e na figura 4. As velocidades parciais da atletaM.J. mostram um aumento at os 100 metros ocorrendouma leve queda entre os 100 e 150 metros e uma estabili-zao nos 50 metros restantes.

    A.L. mostrou um aumento progressivo no valor das ve-locidades durante toda a prova.

    trou uma reduo no comprimento das passadas de aproxi-madamente 4% e um aumento no seu comprimento em tor-no de 5% quando comparado com a prova dos 100 rasos.

    A tabela 6 mostra as velocidades parciais a cada 400mdo atleta corredor de fundo, no teste dos 1600 metros. Oatleta demonstra uma grande capacidade de manutenoda sua velocidade com a mesma oscilando entre seus limi-tes superior e inferior em apenas 2%.

    TABELA 6Velocidades parciais a cada 400m no teste de 1.600 metros

    V(0-400) V(400-800) V(800-1.200) V(1.200-1.600)m/s m/s m/s m/s

    A 5,35 5,23 5,24 5,33

    TABELA 7Valores de velocidade mdia, freqncia e

    comprimento de passadas no teste de 1.600m

    Vmdia Freq. mdia Comp. mdio(m/s) (ciclo/s) (m/ciclo)

    A 5,29 1,43 3,70

    TABELA 4Velocidades parciais no teste dos 200m rasos em m/s

    V(0-50) V(50-100) V(100-150) V(150-200)

    M.J. 6,96 7,74 7,49 7,50A.L. 7,81 9,03 9,28 9,45

    Velocidade nos 200m

    0,002,004,006,008,00

    10,00

    Maria Jose Andre LuizAtletas

    Velo

    cida

    de (m

    /s) Seqncia1Seqncia2Seqncia3Seqncia4

    Fig. 4 Velocidades parciais nos 200 metros rasos

    TABELA 5Velocidade mdia, freqncia e comprimento

    mdio das passadas nos 200m rasos

    Vmdia Freq. mdia Comp. mdio(m/s) (ciclo/s) (m/ciclo)

    M.J. 7,39 2,07 3,57A.L. 8,84 2,06 4,30

    Velocidade nos 1.600m

    5,15

    5,20

    5,25

    5,30

    5,35

    5,40

    AurelioAtleta

    Velo

    cid

    ade

    (m/s

    )

    Seqncia1Seqncia2Seqncia3Seqncia4

    Fig. 5 Velocidades parciais a cada 400m no teste de 1.600 metros doatleta fundista paraolmpico A

    A tabela 5 mostra os valores obtidos para a velocidademdia, comprimento e freqncia de passadas no teste de200 metros rasos. A freqncia mdia das passadas foi au-mentada em relao prova dos 100m em cerca de 4%,ocorrendo tambm uma reduo de quase 4% no compri-mento das passadas para a atleta M.J. O atleta A.L. mos-

    Os nveis de velocidade alcanados no teste de 1.600metros mostrados na tabela 7, mostram a possibilidade dese correr a maratona, caso seja mantida a velocidade m-dia de 5,29 m/s, em aproximadamente 2 horas e 20 minu-tos.

    Foi observado na atleta A.S. um problema de carter tc-nico que pode ter sua origem em uma leso que a atletaapresentou h anos atrs no joelho esquerdo. Ao compa-rarmos o padro de flexo do joelho direito (fig. 6 seqn-cia B) com o joelho esquerdo para a mesma fase do movi-mento (fig. 6 seqncias D e E), fica notrio a diferenaentre ambos no aspecto da quantidade de flexo observada

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    para a mesma fase de movimento. Enquanto na seqnciaB o calcanhar toca nas ndegas, que o padro desejvelpara corridas de velocidade, nas seqncias D e E o joelhoflexiona-se pouco mais que 90 no permitindo desta for-ma que o calcanhar toque as ndegas. Com isso a inrciadesse membro aumenta, acarretando uma sobrecarga paraa musculatura impulsora do balanceamento da coxa (fle-xores dos quadris), alm de alterar o ritmo das passadas.

    Esse padro de movimento foi observado em todas astrs corridas (100m, 200m e 400m). Durante a corrida de100 metros pode ser detectado atravs da filmagem da pro-va, no plano frontal, uma ligeira inclinao da atleta para oseu lado esquerdo (H 6), o que provoca ao longo da cor-rida, um desvio lateral em relao sua trajetria ideal,aumentando dessa forma o espao percorrido pela atleta econseqentemente um incremento do tempo total da corri-da.

    2) ArremessosOs arremessos sero analisados de maneira genrica sob

    o ponto de vista da tcnica e de acordo com o implementolanado. Sero estudados os arremessos de peso (3 atle-tas), dardo (2 atletas) e disco (2 atletas). Os testes foramrealizados na Universidade Estadual de Pernambuco nacidade do Recife.

    Arremessos de peso. Foram executados por trs atletasdo sexo feminino que apresentavam amputao de um dosmembros inferiores, uma com dupla amputao e uma ter-ceira com AVC (acidente vascular cerebral).

    A atleta que apresentava dupla amputao dos membrosinferiores apresentou uma boa tcnica de arremesso noentanto com alguma deficincia na fase de preparao compouca rotao e flexo lateral da coluna. Na fase principaldo exerccio apresentou ainda um rebaixamento do coto-velo do brao de arremesso que prejudicava a potncia fi-nal imprimida ao aparelho.

    A atleta com amputao de um dos membros apresentauma boa tcnica de arremesso podendo no entanto ampliarsua rotao e flexo lateral do tronco.

    A terceira atleta apresenta alguns problemas coordena-tivos, devido sobretudo sua deficincia, mas que podemser minimizados com alguns procedimentos. Foi sugeridoa ela que intensificasse o trabalho de flexibilidade, sobre-tudo do tronco.

    Arremesso de dardo. Foi executado pela atleta com am-putao de um dos membros e aquela com AVC.

    A primeira apresentou uma boa tcnica carecendo noentanto de uma melhor preparao do ponto de vista fsico(melhoria da amplitude dos movimentos do tronco).

    Foi sugerido a essa atleta que comeasse a treinar essetipo de prova sem o auxilio da cadeira de apoio. Dessaforma, com a introduo do deslocamento horizontal aomovimento as chances de uma melhor performance seriamenormemente ampliadas, devido possibilidade de aplica-o do princpio da transmisso do impulso a esse movi-mento. Os problemas de desequilbrio gerados pela utili-zao de apenas uma das pernas poder ser perfeitamenteminimizado e superado ao longo do perodo de treinamen-to e adaptao essa nova tcnica.

    A segunda atleta apresentou os mesmos problemas nes-sa modalidade que aqueles apresentados no arremesso depeso. Foi sugerido a ela que fizesse um treinamento de ar-remesso esttico, o que demandaria menor processamentode informao e provavelmente um melhor nvel da per-formance. O arremesso com deslocamento apresentou umafase de descoordenao entre as passadas de aproximao,a preparao, o bloqueio e o arremesso propriamente dito,o que prejudicou bastante a performance do movimento.Foi tentado ento uma execuo sem deslocamento. Exe-cutando o exerccio sem deslocamento foi possvel obser-var-se uma melhoria da fase principal devido a uma me-

    Fig. 6 Seqncia de passadas da atleta A.S.

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    lhor preparao da fase precedente, o que no pode serobservado na execuo com deslocamento.

    Arremesso de disco. Foi executado pelas duas atletascom amputao dos membros inferiores e pelo nico atle-ta arremessador.

    A atleta com dupla amputao apresentou os mesmosproblemas observados nos arremessos anteriores, ou seja,pouca amplitude dos movimentos no tronco, devido prin-cipalmente ao excessivo acmulo de tecido adiposo nessaregio, verificvel na tabela 5.

    A outra atleta mostrou uma tcnica de arremesso muitoboa. Sua principal limitao encontra-se no fato de a mes-ma arremessar apoiada sobre uma cadeira, o que lhe impe-de de movimentar-se linearmente. Foi sugerido a ela quetentasse adaptar uma tcnica de arremesso em movimentocom o intuito de maximizar a sua performance.

    O atleta apresenta boa tcnica de arremesso, sem gran-des problemas do ponto de vista tcnico. Ele apresenta algu-ma inconstncia durante os arremessos, que pode significar:

    a) que o padro de movimentos ainda no se encontrabem fixado ou,

    b) baixos nveis de concentrao durante os arremessos.Deve-se ressaltar aqui que as condies encontradas para

    se executar todos os arremessos no eram ideais, compro-metendo dessa forma, a performance dos atletas.

    3) NataoNa natao os atletas foram avaliados, na medida do

    possvel, dentro das modalidades que iriam disputar. Ostestes foram realizados na piscina da Universidade Esta-dual de Pernambuco na cidade do Recife.

    A anlise da performance dos atletas paraolmpicos denatao uma tarefa muito complexa. A complexidadeadvm da grande gama de deficincias apresentadas pelosnadadores. Entenda-se aqui no deficincia tcnica, masfsica. Os parmetros de comparao do desenvolvimentotcnico apresentado por esses atletas ainda continua sendoaqueles descritos na literatura, ou seja, os parmetros doscompetidores olmpicos. Sob esse prisma o atual desen-volvimento tcnico da equipe de natao paraolmpica bra-sileira deixa um pouco a desejar. A ausncia de parmetrosrelativos de comparao uma deficincia que devemossuperar, a fim de que as anlises sejam melhor conduzidas.

    Nesse trabalho usamos como parmetros de compara-o a tcnica olmpica de performance, no nos esquecen-do contudo de considerar as limitaes apresentadas pelosatletas.

    As filmagens puderam mostrar, de maneira geral, o esta-do atual de desenvolvimento dos atletas brasileiros, o quepasso agora a relatar, sem contudo relacionar observaescom observados.

    As sadasAs sadas foram executadas das mais diferentes formas:

    do bloco de sada com ajuda e sem ajuda, da gua com esem ajuda. Aqueles que no tm movimentos dos mem-bros inferiores e saem de cima (do bloco), apenas caem nagua, o mesmo ocorrendo com aqueles que com problemasemelhante saem de dentro da gua.

    Aqueles que apresentam controle dos movimentos nosmembros inferiores fazem sadas relativamente boas, po-rm com deficincias na fase area e conseqentemente napenetrao na gua. Os erros aparecem de maneira geralna entrada na gua, com todo o corpo tocando ao mesmotempo ou quase ao mesmo tempo na gua.

    A fase de deslize algumas vezes vem sendo prejudicadapelo incio prematuro das batidas de pernas e rotao debraos.

    Movimentos indesejveis na fase area (extenso dosombros) e movimentos desejveis e necessrios que por-ventura no so executados nessa fase (flexo de joelhose/ou quadris), assim como posturas inadequadas (flexodorsal dos tornozelos, cabea fora de alinhamento, mem-bros superiores afastados etc.) e incio prematuro dos mo-vimentos de pernas e braos durante o deslize so plena-mente, nesses casos, passveis de correo.

    As viradasPara aqueles atletas que no tm controle sobre os mem-

    bros inferiores as viradas se constituem numa etapa crticada prova. Para esses atletas a melhoria da velocidade deaproximao deve ser enfatizada para que a reao sobre aborda possa ser bem aproveitada.

    So fatores determinantes da performance e no obser-vados na maioria dos atletas:

    1) alinhamento do corpo aps o abandono da parede;2) rotao rpida do corpo com flexo nos quadris e joe-

    lhos;3) preparao do posicionamento do corpo para tocar a

    borda.

    Os nadosPara a atleta deficiente visual seria importante ressaltar

    o treinamento de alinhamento para que no haja oscilaolateral (de uma raia outra), aumentando dessa forma opercurso da prova e desacelerando a cada toque na raia.Esse tipo de comportamento pode estar sendo gerado porum erro tcnico, ou seja, ultrapassagem da linha mdia docorpo pelo brao durante a entrada do mesmo na gua.

    Foram observados diversos comportamentos inadequa-dos que eram gerados por deficincia tcnica ou pela pr-pria deficincia apresentada por cada um.

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    Muitos atletas mostraram uma quebra no ritmo das bra-adas, rotao demasiada de um dos ombros no nado cos-tas, cruzamento da linha mdia do corpo durante a fasearea no nado costas, rotao demasiada de todo o corpono nado costas, trao deficiente na fase principal tanto donado livre quanto do nado costas. A deficincia na traodos nados aparece sob vrias formas, dentre elas: falta demanuteno da posio adequada das mos na fase suba-qutica; membros superiores estendidos na maior parte datrao; no nado peito foi observada a abertura lateral exa-gerada dos membros superiores; recolhimento precoce doscotovelos no final da fase de trao.

    A baixa de velocidade observada durante a fase suba-qutica pode ser explicada no por alguma falha tcnica,mas sobretudo pelos comprometimentos fsicos apresenta-dos por cada um dos atletas.

    As oscilaes laterais do corpo foram observados emtodos aqueles atletas que no apresentavam controle sobreas partes baixas do corpo (abdmen e membros inferiores)e que foram algumas vezes potencializados por deficin-cias na tcnica de trao (nado costas e crawl).

    As batidas de pernas apresentaram algumas pequenasdeficincias, quais sejam: flexo excessiva dos joelhos napernada de borboleta e sada da perna da gua no nadocrawl.

    CONCLUSOA anlise tcnica das performances no atletismo e na

    natao mostraram que:1) os atletas apresentam enorme potencial de progresso

    tcnico em especial os atletas de atletismo;

    2) alguns atletas de natao devido aos comprometimen-tos oriundos da prpria deficincia no apresentam, apa-rentemente, potencial de melhoria tcnica, porm h enor-me potencial de crescimento no ponto de vista atltico(melhoria de parmetros fisiolgicos);

    3) os atletas precisam passar por uma avaliao tcnicabianual;

    4) mtodos e processos de controle de treinamento (par-te tcnica) precisam ser desenvolvidos para os atletas demodalidades paraolmpicas;

    5) padres de movimento precisam ser descritos e ava-liados para cada tipo de deficincia, a fim de que se tenhaum padro de normalidade para futuras comparaes.

    AGRADECIMENTOS

    Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB) Secretaria Nacional de Esportes Rede Cenesp/Unifesp Associao Fundo de Incentivo Psicofarmacologia (Afip) Universidade Federal de Uberlndia (UFU)

    REFERNCIAS1. Ballreich R. Grundlagen der biomechanik des sports. Stuttgart: Ferdi-

    nand Enke, 1996.2. Menzel HJ. Conceito de pesquisa e do ensino da biomecnica no esporte.

    Revista brasileira de cincia e movimento 1997;8:52-8.3. Winter DA. Biomechanics of human movement. Ontrio: John Wiley &

    sons, 1979.4. Baumann W. Mtodos de medio e campos de aplicao da biomecni-

    ca: estado da arte e perspectivas. VI Congresso Brasileiro de Biomecni-ca. Braslia, Conferncia, 1995.

    5. Amadio AC. Fundamentos biomecnicos para a anlise do movimentohumano. So Paulo, EEFUSP,1996.