Aula AINES
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Fármacos anti-inflamatórios não esteroidais
Hugo Verli
Grupo de Bioinformática EstruturalCentro de Biotecnologia/Faculdade de Farmácia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
1. Introdução
� Vendas do celecoxib em 2002: US$ 3,1 bilhões;
1. Introdução
� Locais de ação de fármacos:
� Proteínas
� Lipídeos� Ácidos nucléicos
Enzimas
• Solúveis
• Ligadas à membrana
Receptores
Canais iônicos
Receptores
acoplados
à proteína G
Receptores
intracelulares
2. AINEs: cascata do ácido araquidônico
� Eicosanóides:� Prostaglandinas (PGs)� Tromboxanas� Prostaciclina� Leucotrienos
� Constituem uma classe de moduladores fisiológicos originados de ácidosgraxos de membrana, destacadamente o ácido araquidônico (C20);
� As PGs são classificadas por letras maiúsculas, i.e. A, B, C, D, E, F, G, He I, dependendo do tipo e da estereoquímica dos substituintes. Têm comoestrutura geral:
2. AINEs: cascata do ácido araquidônico
� Produção de prostaglandinas:
2. AINEs: cascata do ácido araquidônico
� Efeitos fisiológicos de algumas PGs:� Contração endometrial (uso como abortivo);� Contração da musculatura lisa do TGI;� Aumento da temperatura corpórea;� Vasodilatador ou vasoconstritor, dependendo do tecido;� Dor, quando administrados via intradérmica;� Relaxamento ou contração da musculatura lisa de brônquios e traquéia,
dependendo da PG;� Inibição da secreção gástrica ácida;� Efeito citoprotetor sobre a mucosa gástrica, induzindo secreção de muco
alcalino e bicarbonato e aumentando o fluxo sanguíneo na mucosa gástrica;� Indução de agregação plaquetária;
� Diversos receptores de PGs:� Receptores acoplados à proteína G, modulanto tanto adenilato ciclase quanto
fosfolipase C.
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Aspirina®
3. AINEs: mecanismo de ação 3. AINEs: mecanismo de ação
� O conhecimento não é algo estático, mas um processo em constanteconstrução e aperfeiçoamento;
� Evolução do conhecimento acerca do mecanismo de ação da aspirina:� 1965: desacoplamento de fosforilação oxidativa e desidrogenases
� Necessidade de concentrações muito maiores que as terapêuticas;� Ausência de correlação entre estas atividades enzimáticas e o processo
inflamatório.� 1970: praticamente desconhecido
� Aspirina versus esteróides;� Aspirina versus opióides.
� 1971: modulação da síntese de prostaglandinas� PGs: responsáveis, ao menos em parte, pela gênese da inflamação e/ou
febre;� Concentrações plasmáticas suficientes para inibir a síntese de PGs.
3. AINEs: mecanismo de ação
� Evolução do conhecimento acerca do mecanismo de ação da aspirina:� 1975: ciclooxigenase é acetilada pela aspirina, seletivamente na Ser530
� Inibição irreversível da enzima (turnover);
� Acetilação impede a ligação do ácido araquidônico.� 1991: identificação do gene da COX-2
� Atividade induzida no processo inflamatório;� COX-1: atividade constitutiva, e.g. proteção da mucosa gástrica,
agregação plaquetária e função renal.� 1998: inibição da atividade NF-κB
� Indução da expressão de genes regulatórios da resposta inflamatória;� Mecanismo compartilhado pelo ácido salicílico e sulindaco.
� 2002: identificação da COX-3 (COX-1b)� Possível papel na ação de agentes antipiréticos/analgésicos;� Um dos prováveis alvos de derivados pirazolônicos como a dipirona.
3. AINEs: mecanismo de ação
� COXs ou PGHSs:� Homodiméricas� Localizadas na membrana do retículo endoplasmático
3. AINEs: mecanismo de ação
� Inibição da síntese de prostaglandinas:� SNC
� Febre, dor� Tecidos periféricos
� Inflamação
� AINES:� Analgésicos antipiréticos;� Salicilatos;� Ácidos arilalcanóicos;� Ácidos arilantranílicos;� Oxicams;� Inibidores seletivos COX-2
4. AINEs: salicilatos
� Além das ações antipirética, analgésica e antiinflamatória os salicilatospossuem outras propriedades terapêuticas:� Inibição da agregação plaquetária (infarto):
� Inibição da atividade COX-1 emplaquetas;� Inibição da formação de TXA2, um potente indutor da agregação
plaquetária.� Prevenção do câncer de cólon.
� Efeitos colaterais no TGI:� Dispepsia� Sangramento gastroduodenal� Ulcerações gástricas� Gastrite
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4. AINEs: salicilatos
� Origem da gastrotoxicidade:
4. AINEs: salicilatos
� Mecanismos de ação já propostos para a aspirina:� Desacoplamento de fosforilação oxidativa;� Inibição de desidrogenases;� Inibição da biossíntese de histamina;� Antagonismo de cininas;� Inibição da biossíntese de mucopolissacarídeos;� Inibição da liberação de enzimas lisossomais;� Inibição da acumulação de leucócitos.
� Mecanismo atualmente aceito:� Inibição da produção de prostaglandinas através da inibição da COX;� A aspirina é o único AINE que é capaz de modular covalentemente a COX,
acetilando o resíduo Ser530 da COX-1 e Ser516 da COX-2;� De 10 a 100 vezes mais potente para a COX-1 em relação à COX-2.
“Prostaglandins, aspirin-like drugs and the oedema of inflammation”Moncada, Ferreira & Vane
Nature, 1973, 246, 217-218.
4. AINEs: salicilatos 4. AINEs: salicilatos
� Altamente ligados à albumina;� Metabolismo de salicilatos:
4. AINEs: salicilatos
� Toxicidade gastrointestinal:� Acidez no TGI (??);� Dano na mucosa gástrica;� Inibição da síntese de PGs (via COX-1);� Inibição da agregação plaquetária.
� Salicilamida:� É tão antipirética e analgésica quanto a aspirina;� Contudo, é praticamente desprovida de atividade antiinflamatória.
4. AINEs: salicilatos
� Relação estrutura-atividade:� Grupo carboxilato:
� Grupamento farmacofórico;� Modulação da acidez (substituição bioisostérica amida, gerando a
salicilamida) mantém a atividade analgésica mas reduz as propriedadesantiinflamatórias;
� Orto-hidroxila:� Essencial para a atividade, uma vez que o ácido benzóico não possui
atividade;� Substituição para as posições meta e para abole a atividade;
� Anel aromático:� Adição de halogênios aumenta tanto a potência quanto a toxicidade;� Substituições na posição 5 aumentam a atividade antiinflamatória
(diflunisal).
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5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Constitui-se no maior grupo de agentes antiinflamatórios não-esteroidais:� 1960: indometacina, Merck� 1970: ibuprofeno, Upjohn� 1980: zomepirac, cetoprofeno, flurbiprofeno, suprofeno e diclofenaco
� 1983: remoção do zomepirac do mercado (reações anafiláticas)� 1985: remoção do suprofeno do mercado (falência renal)
� 1990: cetorolac, etodolac, nabumetona� Ligeiramente COX-2 seletivos
� Estes compostos modulam a biossíntese de prostaglandinas através dainibição das enzimas COX-1 e COX-2, em níveis variados de seletividade;
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Relação estrutura-atividade:
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Relação estrutura-atividade:� Grupo carboxilato:
� Equivalência ao carboxilato do ácido araquidônico;� A atividade de derivados ésteres e amidas é geralmente associada aos
seus produtos de hidrólise;� Anéis aromáticos:
� Sistema correspondente aproximadamente às ligações duplas do ácidoaraquidônico;
� Espaçador:� Normalmente um átomo de carbono que separa os anéis do grupo
carboxilato;� Aumento desta distância abole a atividade;� Ramificação até metila tende a aumentar a atividade antiinflamatória;� Ramificação maior do que metila tende a reduzir a atividade;
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Relação estrutura-atividade:� Grupo carboxilato:
� Acidez diretamente relacionada àatividade;
� Amidas são inativas;� Anéis aromáticos:
� Substituição por grupos alifáticosreduz a atividade;
� Grupos F, Cl, CF3, SCH3 aumentama atividade;
� Anel indólico:� Substituição flexível, aumenta a
atividade – volume e polaridadevariável;
� Átomo de nitrogênio não é essencialà atividade.
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Relação estrutura-atividade:� Indometacina e sulindaco:
- efeitos colaterais SNC e TGI e - hidrosolubilidade
+ atividade
+ atividade analgésica
isômero-(Z) >> isômero-(E)
+ hidrosolubilidade
� Metabolismo da indometacina:
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
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� Metabolismo do sulindaco:
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
� Metabolismo do diclofenaco:
5. AINEs: ácidos arilalcanóicos
6. AINEs: ácidos heteropropiônicos
� Relação estrutura-atividade:
6. AINEs: ácidos heteropropiônicos
� Relação estrutura-atividade:
6. AINEs: ácidos heteropropiônicos
� Relação estrutura-atividade:� Espaçador:
� Grupo metila aumenta a atividadeantiinflamatória e reduz efeitoscolaterais;
� Embora sejam comercializados na formade racemato, o isômero S é mais ativo invitro que o R;
� In vivo o isômero R é bioconvertido aoisômero S.
� Metabolismo do ibuprofeno:� Interconversão de quiralidade de R para S;
6. AINEs: ácidos heteropropiônicos
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� Metabolismo do flurbiprofeno:
6. AINEs: ácidos heteropropiônicos
� São derivados isostéricos nitrogenados do ácido salicílico;� Foram desenvolvidos pela Parke-Davis no início da década de 1960;
� Possuem poucas vantagens como agentes antiinflamatórios em relaçãoaos salicilatos;� O ácido mefenâmico foi introduzido nos EUA em 1967 como agente
analgésico, e permanece sendo prescrito como tal até hoje.
� Relação estrutura-atividade:
7. AINES: ácidos N-aril-antranílicos
� Metabolismo do ácido mefenâmico:
7. AINES: ácidos N-aril-antranílicos 8. AINES: SAR geral
4. AINES: SAR geral 5. Novos alvos terapêuticos
� Novas estratégias terapêuticas para o tratamento da inflamação:� Modulação da fosfatidilinositol 3-cinase(Rückle et al., Nat, Rev. Drug Disc., 2006, 5, 903-918)� Bloqueio da sinalização por TNF-α(McCulloch et al., Nat, Rev. Drug Disc., 2006, 5, 864-876)� Bloqueio da sinalização por IL-1(McCulloch et al., Nat, Rev. Drug Disc., 2006, 5, 864-876)