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3 Temas de Redação AULA 1 Informações básicas 1) Número de linhas: Variável com a instituição (nosso padrão: 25 a 30). 2) Divisão de parágrafos: Obrigatória (entre 3 e 5) (nosso padrão: 4). 3) Título: Variável com a instituição (o padrão - o nosso, inclusive: pôr). 4) O peso da correção gramatical: Entre 20 e 50 por cento da nota (nosso padrão: 40%). 5) Tema e abordagem: Além do tema propriamente dito, a proposta de redação frequentemente oferece a abordagem, a estraté- gia, a forma de tratá-lo (padrões: causa e consequência e contraponto). 6) Focos social e psicológico: O social está centrado em grupos, classes sociais, etc.; o psicológico, no indivíduo (predomina, muito, o social). 7) Coesão textual: São os recursos de relacionamento e qualidade do texto (pode aparecer como “expressão”). 8) Originalidade/investimento autoral: É a avaliação da diferenciação do conteúdo(prevalece nos temas da UFRGS). 9) Proposta de intervenção: Expressão criada pelo tema de redação do ENEM e ainda obrigatória nas suas propostas, deve aparecer quando exigida, sendo opcional nas demais situações. 10) Periodicidade: Pelo menos uma redação semanal, entregue no dia da aula, para o monitor da sala . Tema de Redação Nova proposta da redação: felicidade A proposta desta semana foi tirada da prova de redação do vestibular 2014 da Pontifícia Universidade Cató- lica do Rio de Janeiro (Puc-Rio). Você deve criar um título e produzir um texto dissertativo/argumentativo com o mínimo de 20 e o máximo de 30 linhas sobre felicidade. Antes de desenvolver o tema, leia o fragmento abaixo. Ele pode despertar ideias para desenvolver o seu trabalho.

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Temas de Redação

AULA 1

Informações básicas

1) Número de linhas: Variável com a instituição (nosso padrão: 25 a 30).2) Divisão de parágrafos: Obrigatória (entre 3 e 5) (nosso padrão: 4).3) Título: Variável com a instituição (o padrão - o nosso, inclusive: pôr).4) O peso da correção gramatical: Entre 20 e 50 por cento da nota (nosso padrão: 40%).5) Tema e abordagem: Além do tema propriamente dito, a proposta de redação frequentemente oferece a abordagem, a estraté-gia, a forma de tratá-lo (padrões: causa e consequência e contraponto). 6) Focos social e psicológico: O social está centrado em grupos, classes sociais, etc.; o psicológico, no indivíduo (predomina, muito, o social).7) Coesão textual: São os recursos de relacionamento e qualidade do texto (pode aparecer como “expressão”).8) Originalidade/investimento autoral: É a avaliação da diferenciação do conteúdo(prevalece nos temas da UFRGS).9) Proposta de intervenção: Expressão criada pelo tema de redação do ENEM e ainda obrigatória nas suas propostas, deve aparecer quando exigida, sendo opcional nas demais situações.10) Periodicidade: Pelo menos uma redação semanal, entregue no dia da aula, para o monitor da sala .

Tema de Redação

Nova proposta da redação: felicidade

A proposta desta semana foi tirada da prova de redação do vestibular 2014 da Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio de Janeiro (Puc-Rio).Você deve criar um título e produzir um texto dissertativo/argumentativo com o mínimo de 20 e o máximo de 30 linhas sobre felicidade. Antes de desenvolver o tema, leia o fragmento abaixo. Ele pode despertar ideias para desenvolver o seu trabalho.

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Felicidade e alegriaContardo Calligaris

Quando eu era adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, res-peitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz. Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor. Por sorte, meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados. Graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a juventude era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas. Com isso, evitei uma depressão profunda, pois, uma vez que a adolescência, que eu estava vivendo, não era paraíso algum – nunca é –, qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção? Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: quando a gente é ado-lescente, a felicidade é algo que só será possível no futuro, na idade adulta; quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi – a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes. Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de outra época da vida – futura ou passada.

No filme de Arnaldo Jabor, “A Suprema Felicidade” (2010), o avô (Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre. Concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria? Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto […] Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível, sobretudo, no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mes-mos. Para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime – “descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso”. Para justificar a vida, bastam as experiências – agradáveis ou não – que a vida nos proporciona, à condição de que a gente se autorize a vivê-las plenamente. Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordiná-rio na vida de cada dia, como ela é. Para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais, de feitos sublimes. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo. (Texto adaptado de artigo publicado na Folha de S. Paulo (18/11/2010).13 (1): 11-16, jan./abr. 2000; p. 11)

INSTRUÇÕES:

• Redija seu texto de acordo com a norma culta escrita da língua. Dê um título.• A redação deve ter entre 7 e 25 linhas.• Não copie trechos da proposta.Você pode enviar seu texto até segunda-feira, dia 19 de maio, para o e-mail: [email protected]. Seu texto pode ser enviado em um anexo ou no corpo na mensagem.Coloque seu nome completo, idade e cidade. Ele poderá ser avaliado e publicado aqui no blog.Importante: apenas uma redação será corrigida, mas não fique chateado. Lembre-se de que a melhor for-ma de se preparar para a prova de redação é treinando, certo?

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1) Modelo Gênero Textuais

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Aula 1 2020CONTARDO CALLIGARIS

Felicidade e alegria

QUANDO EU era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias,decepções e duro labor.Por sorte, 1) meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes oupedagogos desavisados; 2) graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; 3) com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: 1) quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; 2) quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: alembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes.Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida -que ainda não chegou ou que já passou.No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", que está em cartaz atualmente, o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre.Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?

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Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso.Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor.Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso quecada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso).Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é.É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord" (1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" (2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo.

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Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo.Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.

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2) Análise do modelo de Gêneros Textuais

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SEMANA 1 – 2020 – ANÁLISE DE CRÔNICA

FELICIDADE E ALEGRIA, CONTARDO CALLIGARIS

1) CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO:

O texto em questão é uma crônica, no limite das suas características: preponderam o emprego da primeira pessoa do

singular (EU, MEU) e, consequentemente, a visão subjetiva (pessoal) do autor, além de abordar um assunto em evidência do

cotidiano, o conceito de “felicidade”.

2) LINGUAGEM:

Embora seja uma crônica, poucos são (devido à ênfase dissertativa do texto) os exemplos de coloquialidades presentes,

como “dono do meu nariz”, “brincalhão”, etc.

3) FUNÇÕES DA LINGUAGEM:

A função mais evidente é a emotiva, dado o caráter pessoal, peculiar, das ideias do autor, porém, justamente por tratar-se

de uma discussão de “ideias”, conceitos, também está presente a função apelativa.

3) ESTRUTURA:

O autor lança mão da técnica do contraponto. Começa comentando conceitos de felicidade ligados ao senso comum, para

depois questioná-los, mostrando o seu caráter paradoxal, e substituí-los pela ideia de alegria.

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Aula 1 2020

SEMANA 1 – 2020 – ANÁLISE DE CRÔNICA

4) CAMPO SEMÂNTICO:

A felicidade está associada à expressão “quimera”, ou seja, sonho, utopia, a uma realidade inalcançável, definida por

diferentes gerações – crianças, adolescentes e adultos. Existe no universo do discurso (“dizer”); já a alegria pode ocorrer a

qualquer momento, é uma atitude que podemos escolher quando quisermos (“ser alegre é gostar de viver mesmo quando

as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga”). Isto é, pertence ao universo da prática (“ser”, “viver”, “sentir”).

5) ANÁLISE:

Como leitores, somos levados a refletir sobre a escolha proposta pelo autor. O melhor é esperar pela “quimera” da felicidade

(limitada a um conceito imposto) ou escolher a alegria (definida pelos nossos gostos pessoais e relacionamentos)? A alegria

parece bem mais tentadora, na medida em que pode ser alcançada a qualquer momento, depende exclusivamente da nossa

atitude e da nossa capacidade de praticar a empatia. Apesar de não ser um estado permanente, é justamente a alegria que

constrói a coerência da nossa história pessoal, ordena nossa memória afetiva, nos permite experimentar e criar os

momentos marcantes que nos fazem únicos.

6) LIGAÇÕES:

Aristóteles (“fazer coisas com as quais a vida se define de maneira excelente”) e Bauman (liquidez)

7) CITAÇÃO:

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, Caetano Veloso

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Aula 1 2020

3) Aula de redação 1

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Aula 1 2020O que torna a Dinamarca o país mais feliz do mundoConfiança nas pessoas e nas instituições do país pode explicar elevado índice de satisfação e felicidade, de acordo com especialista dinamarquês

O que faz a Dinamarca feliz? De acordo com o ranking de felicidade da Organização das Nações Unidas (ONU), os dinamarqueses são a população mais feliz do mundo.Para chegar ao ranking, a ONU fez perguntas diretas ao povo a respeito de sua felicidade e otimismono momento, além de perspectivas de vida. Depois, a pesquisa levou em conta o PIB per capita da população, expectativa de vida saudável, percepção de corrupção no país e liberdade, por exemplo.Com elevados índices de educação, saúde e renda (veja abaixo), a Dinamarca saiu na frente. Mas o que, realmente torno os dinarmaqueses felizes é “o extremo grau de confiança que as pessoas têm umas nas outras”, segundo o professor de Economia Christian Bjornskov, que tem um PhD no tema “felicidade e economia” pela Aarhus Business School.“Nós perguntamos para as pessoas se elas acham que desconhecidos são dignos de confiança. Cerca de 70%, na Dinamarca, diz que sim. No Brasil, esse índice é de apenas 7%”, compara o professor. Mas por que isso torna as pessoas mais felizes? Segundo ele, melhora as relações sociais e “as pessoas ficam felizes em saber que não precisam ter pequenas preocupações”, diz. Perder a carteira ou tentar encontrar um endereço na rua deixam de ser pequenas preocupações cotidianas, então, segundo ele.A confiança que os dinamarqueses têm nas instituições do seu país – especialmente políticos e polícia, também os torna um povo mais feliz. “As pessoas se acostumam com bens materiais, não é isso que as faz felizes, mas se você realmente combater corrução, elas confiam no país e isso ajuda na felicidade”, afirma Bjornskov.Para um brasileiro, confiar em políticos pode parecer estranho, mas a Dinamarca conta com um sistema judiciário que aparentemente não deixa corrupção impune. Até 1840, explica Bjornskov, quem fosse pego em esquema de corrupção passaria o resto da vida na cadeia.

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O professor acredita que essas políticas rigorosas tenham tido como resultado a honestidade atual na política: “Você vai rir,mas o último grande escândalo político que tivemos por aqui foi quando um ex-primeiro ministro não conseguia justificar todas suas despesas”. Quanto dinheiro foi gasto sem explicação? “Cerca de 145 dólares. Aquilo foi um escândalo”. O professor se refere a Lars Lokke Rasmussen, que foi primeiro-ministro entre 2009 e 2011.Um outro motivo da felicidade dos dinamarqueses é uma característica deles compartilhada com os latino-americanos, de acordo com o especialista: a crença de que o próprio indivíduo pode melhorar a sua vida. “Quando perguntamos na Dinamarca se as pessoas acreditam que podem mudar de vida, 94% dizem que sim”, diz. “Este número é muito menor na França e elevado na América Latina, por exemplo”. Os franceses estão na 25ª posição do ranking e os brasileiros na 24ª.Nota (quase) dezNão é só no ranking de felicidade que a Dinamarca aparece entre as primeiras posições.O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um dos principais medidores de qualidade de vida, do país é de 0.901. O IDH usa critérios de educação, economia e saúde para dar notas de 0 a 1 aos países. Quanto mais perto do 1, melhor.Na Dinamarca, a expectativa de vida também está entre as mais elevadas do mundo. Em média, um dinarmaquês vive até os 79 anos, cinco a menos que o Japão, primeiro colocado no ranking de expectativa de vida, onde espera-se que as pessoas vivam 83,6 anos.No país, gasta-se mais de 5.600 dólares anualmente com saúde por pessoa, o que dá um total de 11,2% do PIB. O resultado do investimento aparece nos números: mais de 90% das crianças receberam as principais vacinas necessárias no primeiro ano de vida e 98,5% dos partos são assistidos por profissionais capacitados.O país também tem notas altas quando o quesito é educação. Segundo o Index de Educação, publicado pela ONU, a Dinamarca tem 0.993 quando se trata de sistema educacional, empatado em primeiro lugar com Austrália, Finlândia e Nova Zelândia. Por lá, cerca de 99% dos homens e mulheres são alfabetizados.

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A renda anual dos dinamarqueses é de 33.518 dólares anuais. Para se ter ideia, um brasileiro ganha em média 10.152 dólares por ano. Em alguns países, como nos Estados Unidos, a renda pode ser bem maior (os norte-americanos capitalizam mais de 43 mil dólares anuais), mas na Dinamarca os gastos com serviços privados (seguro de saúde, por exemplo), são menores.Mesmo em outros rankings que levam em consideração critérios gerais, a Dinamarca se sai bem. Segundo a Instituição Legatum, o país foi o segundo mais próspero no ano passado. Nos critérios para compor o ranking, os dinarmaqueses ficaram em primeiro lugar em empreendedorismo e oportunidades.

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Sorria, você está no ButãoO país mais isolado do mundo rasga dinheiro em nome do bem-estar social e institui um novo elemento na economia, a Felicidade Interna Bruta

Você decide: prefere ser chefe de multinacional, com uma conta bancária que não sai dos 6 dígitos e vários carros na garagem, ou… ser feliz? Bom, perguntar isso para alguém é ingênuo. Um sujeito pode muito bem viver de sorriso estampado na cara sem nunca ter saído do cheque especial. Já se você faz uma pergunta equivalente não a uma pessoa, mas a um país, a história é outra. Do ponto de vista de uma nação – ou seja, do de quem administra uma – a idéia de que a felicidade vem antes da riqueza simplesmente não faz sentido. Quer dizer: não fazia.Existe, sim, um lugar onde a idéia da busca pela “alegria do povo” é uma prioridade maior do que o crescimento econômico. Uma prioridade oficial, diga-se. Esse lugar é um país quase anônimo, pouco maior que o estado do Rio de Janeiro, aninhado nas montanhas do Himalaia. Bem- vindo ao reino do Butão.Foi lá que, em 1972, um reizinho de 17 anos que acabava de assumir o trono cravou: “Ei, o Produto Interno Bruto não é mais importante que a ‘felicidade interna bruta’”. Era Sua Majestade Jigme Singye Wangchuck, que, apesar de adolescente, não estava para brincadeira e pôs seus assessores para bolar uma política inédita no mundo, uma economia de cabeça pra baixo.Ou muito pelo contrário: “O Butão devolve ao chão os pés da lógica ponta-cabeça do desenvolvimento”, diz o economista alemão Johannes Hirata, da Universidade de Gallen, na Suíça, estudioso do papel da felicidade em políticas públicas. De trocadilho hippie, “felicidade interna bruta” virou um parâmetro de verdade, com direito a sigla (FIB) e tudo. “A filosofia da FIB é a convicção de que o objetivo da vida não pode ser limitado a produção e consumo seguidos de mais produção e mais consumo, de que as necessidades humanas são mais do que materiais”, diz Thakur S. Powdyel, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Educacional da Universidade Real do Butão.

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Para suprir essas “necessidades não materiais”, o conceito da FIB prega 4 diretrizes: desenvolvimento econômico sustentável, preservação da cultura, conservação do meio ambiente e “boa governança”. Não é nada diferente das coisas que você ouve nos horários políticos da vida, certo? Sim, mas no Butão o buraco é mais embaixo. Para o bem e para o mal.Dinheiro? Tô foraA Felicidade Interna Bruta não é uma lei escrita, mas um ideal que vem norteando as decisões do governo nos últimos 30 anos. Por exemplo: a exportação de madeira poderia encher os cofres públicos, mas, à luz da FIB, ficou estipulado que 60% do território permaneça coberto por florestas originais. De onde tirar dinheiro, então? De uma carta na manga, ou melhor, do Himalaia. “O Butão é favorecido por rios que nascem nas montanhas. A geração de energia hidrelétrica se tornou um poderoso engenho de crescimento econômico, e sem desalojar pessoas nem danificar o ambiente”, diz Powdyel.Ambiente que faz do Butão um dos países mais bonitos do mundo. Com rios de água cristalina, florestas coloridas e fauna com direito a tigres, elefantes, rinocerontes e pandas, o país é chamado de “último éden” ou “Shangri-lá da vida real”, numa referência ao paraíso inventado pelo romancista inglês James Hilton em seu livro Horizonte Perdido (1933). Um paraíso que, como o Butão, fica no Himalaia.Com tantas credenciais, o país poderia virar um dos maiores pólos turísticos do mundo. Mas não. O turismo é limitado para não prejudicar a cultura nem o meio ambiente. “Existe uma espécie de consumação mínima, que inclui hospedagem, alimentação, guia e transporte. Sai uns 300 dólares por dia”, diz Paulo Lima, editor da revista Trip, que foi um dos poucos turistas que já ganharam autorização para visitar o país. Em 2005, foram 13 mil. Para comparar: Porto Seguro, na Bahia, recebeu cerca de 1 milhão.Outra medida que feriu os cofres públicos em nome da FIB veio em 2004. Foi quando o Butão ganhou os jornais do mundo inteiro ao se tornar o primeiro país a banir o cigarro. Banir mesmo: a venda de tabaco virou crime. Tudo para “proteger as gerações presentes e futuras de seu efeito devastador”. Está certo que daí nasceu um mercado negro, mas o governo acredita que, restringindo a oferta, ajuda as pessoas a parar de fumar. E, com isso, o país abriu mão de uma fonte de receitagarantida. “Os cigarros fazem parte do setor de demanda inelástica, aquele em que a procura não cai com o aumento do

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preço. Se você tributa o tabaco, o preço aumenta, mas as pessoas não deixam de fumar”, diz o economista Siegfried Bender, da USP. Ou seha, vender cigarro é um ótimo negócio. Mas, reza a FIB, o “bem-estar” vem antes do dinheiro.E antes do poder até. É que o rei Jigme Singye, educado na Inglaterra, tomou uma decisão nada típica entre monarcas e ditadores: abriu mão do poder absoluto, delegando poderes executivos ao seu Conselho de Ministros. Mais: o parlamento butanês ganhou o direito de pedir a cabeça do rei – não no sentido literal – caso essa seja a vontade de pelo menos dois terços dos membros.E agora ele está prestes a lançar uma Constituição no país, a primeira de sua história. Um esboço dela está pronto desde o ano passado. Mas, pela Felicidade Interna Bruta da nação, a Carta Magna só começa a valer se for aprovada num referendo popular, marcado para 2008. Até lá, Jigme quer que o povo leia o tal esboço e dê seus pitacos. O princípe herdeiro está incumbido de ir de província em província ouvir a opinião dos moradores. Por essas, o monarca é uma estrela. “O rei é adorado, o homem mais sábio e bonitão. Todos têm confiança absoluta de que tudo o que ele faz é pela felicidade do povo”, diz o apresentador Zeca Camargo, que foi ao país em 2005.Algo de podre no paraísoQuem vai para Shangri-lá não tem a opção de ir embora. A descoberta faz os personagens do livro de Hamilton desconfiar de que nem tudo são flores por lá. A “Shangri-lá da vida real” também não é tão florida quanto parece.Para muitos, decisões como essa do antitabagismo não servem para nada, a não ser tirar da população o direito de escolha. “Isso é uma invasão enorme da liberdade. Felicidade é algo individual. Um governo interferir na busca por ela é acreditar queo cidadão não tem capacidade de tomar decisões para seu próprio bem”, diz a economista Patrícia Carlos de Andrade, diretora do Instituto Millenium, centro de pesquisa de economia liberal em São Paulo.De fato, exemplos de restrições à liberdade não faltam. Os trabalhadores, por exemplo, não podem formar sindicatos. O governo argumenta que, como há pouca industrialização no país, não há “necessidade” de uniões trabalhistas.Mais: para seguir a diretriz da “preservação da cultura”, a população é obrigada a usar as roupas tradicionais da maioria budista. E ai de quem queira praticar outra religião. Que o digam os mais de 100 mil descendentes de nepaleses hindus que

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viviam no Butão e foram obrigados a sair do país a partir dos anos 80 por conta da perseguição do governo. Essa etnia, que ainda compõe 35% da população, tinha chegado à região havia séculos, mas seu crescimento deixou o governo temeroso, já que a língua e a religião dela ameaçavam a unidade cultural budista.A preocupação em ter uma sociedade homogênea deu margem a um caso de violação dos direitos humanos denunciado pela Anistia Internacional. Em 1985, além de exigir que os nepaleses adotassem o modo de vida budista, o governo criou uma lei de cidadania estipulando que, entre os que não fossem filhos de butaneses, só seria cidadão quem provasse ter vivido no Butão antes de 1958. Pediam documentos de uma época em que o país tinha quase 100% da população analfabeta. Isso tornou imigrantes ilegais milhares de pessoas nascidas no Butão quase 30 anos antes de inventarem a lei.Qualquer argumento serviu para tirar cidadanias. Isso podia acontecer com quem mostrasse “por ato ou discurso, ser desleal ao rei, ao país e ao povo” e também para quem saísse do território para ajudar ex-cidadãos refugiados em outros países. De lá para cá tornou-se comum oficiais coagirem os habitantes de etnia nepalesa a vender suas terras e sumir do mapa. Até hoje, 90% dos emigrantes vivem no Nepal, em campos de refugiados da ONU.O Butão mesmo precisa de uma força das Nações Unidas. A ONU mais o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Asiático e, principalmente, a Índia financiaram mais de 90% dos projetos de desenvolvimento do país. O vizinho mais rico, aliás, bancou a maior fonte de renda do Butão, a hidrelétrica Chhukha Hydel. E hoje compra energia que sai de lá. A dependência econômica em relação à Índia é tão forte que a moeda butanesa, o ngultrum, nem tem câmbio próprio: segue a cotação da rupia indiana.Onde Judas perdeu as meiasFundado por monges tibetanos há 4 séculos, o Butão é o país mais isolado do mundo. A escravidão sobreviveu oficialmente por ali até meados do século 20. Até a década de 1960 não havia estradas. Viagens que hoje duram 6 horas se extendiam por 6 dias, em lombo de mula. O rádio só chegou depois que os Beatles já tinham se dissolvido. E a televisão… Bom, se a primeira impressão é a que fica, pobre do nosso futebol: a primeira transmissão televisiva no país foi a final da Copa de 1998. O governo instalou um telão numa praça da capital, Thimphu, e milhares de butaneses puderam testemunhar a derrota de 3 a

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0 do Brasil para a França. No ano seguinte, a transmissão chegou às casas, com 4 horas diárias de programação do BhutanBroadcasting Service (BBS). Só depois vieram as CNNs e MTVs da vida. Agora o governo quer estimular a rede nacional para reduzir o impacto de programas estrangeiros na cultura.E que impacto: “Por décadas, usamos maconha para criar gado – a erva abre o apetite, deixa a cria bem gorda. Mas agora os jovens começaram a fumá-la, e têm passado o dia inteiro nas nuvens”, lamentou recentemente um butanês ao jornal espanhol El Mundo. O governo, assustado com o comportamento juvenil, baniu a MTV.Seja como for, existe um esforço real para tirar o atraso do Butão. E ele vai bem além da TV. Por exemplo: o país ainda tem 63% de analfabetos. Para tratar a ferida, o governo fez com que as escolas primárias chegassem a 70% das crianças. E em 2003 surgiu a primeira, e única, universidade do país, com cerca de 3 mil alunos.Mudanças desse tipo são bem recebidas pelos butaneses, claro. Mas, para alguns, vieram antes da hora. Como resumiu um habitante para o Bhutan Times, jornal local: “Estou preocupado. Somos fazendeiros, podemos não estar aptos a expectativas tão altas. Começo a entender por que os países vizinhos têm problemas”.O Bhutan Times fala sobre aquele que talvez seja o maior desses problemas: “O rei notou que houve mudanças no pensamento, com egoísmo levando a práticas de corrupção tanto no governo quanto no setor privado.” “Corrupção”, diz o jornal, “não é mais uma palavra nova. Temos de aceitar essa dolorosa realidade”. Para evitar o mensalão himalaio, Jigmeestipulou a criação de uma comissão de ética e o financiamento governamental de campanhas. Mas nada pode frear os paradoxos. “Com a informação chegando, vêm as necessidades de consumo. Quem era feliz num mundo isolado não será feliz ao querer algo que antes não sabia que existia. Quando a economia se abre, acaba o sonho de felicidade”, afirma o economista Siegfried Bender, da USP. Powdyel, da Universidade do Butão, não concorda. E vê uma saída mais harmônica: “Nosso objetivo é chegar a uma situação em que um monge esteja lendo escrituras enquanto sua comida é cozida com feixes de laser”.

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Quanto vale a felicidadeMas como saber se o monge a laser, e o resto da população, vai ser feliz mesmo? “Hoje o Butão está diante do maior desafio da política do FIB, que é medir a felicidade”, afirmou recentemente outro jornal local, o Kuensel. Os 4 pilares da Felicidade Interna Bruta foram desmembrados em 9 áreas (veja o quadro lá em cima), num processo ainda embrionário, mas que pode revelar se a política está na direção certa.O Centro de Estudos do Butão, organização ligada ao governo e responsável pela criação desses indicadores, usa estudos internacionais sobre bem-estar de populações como base. Parte dos indicadores vem de iniciativas como a do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), da ONU – no qual o Butão aparece em 134º lugar, na frente apenas dos vizinhos Nepal e Paquistão e de nações paupérrimas da África.“O que o centro faz é adaptar índices para medir a felicidade geral que já existem em outros países, como Canadá e Reino Unido, para a realidade do Butão”, diz o historiador Mark Mancall, da Universidade Stanford, que todo ano passa alguns meses trabalhando junto ao governo do reino himalaio.Esses índices, por sinal, confirmam teoricamente a visão dos líderes butaneses. Os estudos da organização holandesa World Database of Happiness (banco de dados mundial da felicidade), por exemplo, dizem que, apesar de países ricos costumarem ter uma população mais feliz, isso não é regra. Tanto que a Colômbia fica à frente da Inglaterra e dos EUA, e junto à Suíça e à Dinamarca, entre os países mais contentes.O Butão, inacessível que só ele, não entrou na pesquisa. Agora cabe ao futuro dizer se a política da Felicidade Interna Bruta, com suas contradições nada suaves, está ajudando o país a virar gente grande. Ou se está cada vez mais isolando o Butão no silêncio do Himalaia.

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Quase inacessível, país da felicidade se esconde no HimalaiaNome oficiaL: Druk-yul.Forma de governo: Monarquia “boa-praça”, prestes a ganhar sua primeira Constituição.Religiões: Budismo (oficial) e hinduísmo nepalês.Idiomas: Dzongkha (oficial), mais dialetos tibetanos e nepaleses.População: 2,2 milhões.PIB: 2,9 bilhões de dólares (o do Brasil, de 1,5 trilhão de dólares, é 500 vezes maior).Desafio: Descontar séculos de atraso sem perder o charme do isolamento.QUE REI U EU?Adorado pela população, o rei Jigme Singye Wangchuck, 51 anos de vida e 33 de majestade, leva uma vida simples: trabalha em uma cabana de madeira, enquanto seu palácio é usado por suas 4 mulheres – todas irmãs, o que lhe garantiu uma sogra só.ESCRITO NAS ESTRELASA primeira Constituição butanesa deveria ter passado por um referendo popular no final de 2005. Mas não rolou. Os astrólogos do rei disseram que o zodíaco só mandaria bons fluidos ao país se o referendo ficasse para 2008.BARRADOS NO BUTÃOTem que ser selado, registrado, avaliado e rotulado, se quiser voar. No Butão é assim mesmo. Para visitá-lo, só com uma das poucas autorizações do governo, em pacotes pré-pagos e pré-programados.DEVAGAR…1952Abolição da escravatura, durante o reinado de Jigme Dorji, pai do rei atual e que começou a tirar o país do limbo.

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1962A primeira estrada asfaltada: ligando a capital, Thimphu, à Índia.1973O rádio chega ao país, com um programa semanal de meia hora.1974Estréia a moeda nacional, o ngultrum. Antes, os butaneses se viaravam com a rupia indiana.…E SEMPRE1998Primeira transmissão de TV – telão na praça para ver a final da copa.1999Estréia o canal Bhutan Broadcasting Service (BBS), e os aparelhos de TV chegam às casas.1999Estréia a internet discada (sem tanto atraso assim).2006O governo negocia a implantação da internet de banda larga . Se tudo der certo, chega até o fim do ano – e os sites butaneses param de travar.A fórmula da felicidade butanesaO Centro de Estudos do Butão, organização ligada ao governo, estipulou 9 áreas para medir a felicidade do povo. O Estado acredita que, ao transformar essas informações em números, possa melhorar a margem de acerto de suas decisões.Padrão de vidaFaz parte dos critérios usados para medir o bem-estar social em qualquer país do mundo: indica a renda per capita e a qualidade dos bens e serviços disponíveis à população.

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Aula 1 2020Boa governançaA idéia aqui é avaliar como a população enxerga o governo; ver se ele passa a imagem de que respeita características como transparência, responsabilidade, e se sabe prestar contas à sociedade.Vitalidade da comunidadeO nível de confiança em quem mora na casa ao lado é essencial para a felicidade, acreditam os butaneses. Informações assim ajudam a construir um índice que mostre o grau de identidade entre os habitantes.Uso e equilíbrio do tempoO que está em jogo aqui é a possibilidade que cada um tem de escolher como aproveitar seus dias. Os indicadores devem mostrar o tempo que a população dedica ao trabalho, à família e à cultura.Saúde da populaçãoA relação entre saúde e bem-estar é auto-explicativa. O objetivo desse indicador é mostrar os resultados das políticas de saúde. Critérios como expectativa de vida também entram na conta.Vitalidade e diversidade da culturaAvalia a dedicação a crenças e costumes. Tem relação direta com a qualidade de vida e serve para dizer o quanto os habitantes se identificam com o lugar onde moram.Vitalidade e diversidade do ecossistemaMedem a qualidade da água, do ar e do solo e a biodiversidade. Como a natureza foi generosa com o Butão, que tem de picos nevados a densos vales florestais, esse item não é problema.EducaçãoO país acelerou o passo do ensino público como parte do projeto para reduzir seu isolamento cultural. Essa categoria, então, indica o ritmo de crescimento das taxas de alfabetização e do acesso às escolas e faculdades.Bem-estar emocionalÉ o mais pessoal e profundo dos índices: tenta mostrar o grau de satisfação, de otimismo, que cada habitante tem em relação à sua própria vida.