através de um Escore Ecocardiográfico (E-Eco) Defeitos do...

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57 ISSN 0103-3395 Jorge Torreão 1 , Nila Costa 2 , Lúcia Duarte 3 , Eduardo Tadeu 4 , José Carlos Brito 5 , Antônio Carlos Nery 6 Artigo Original Resumo: Objetivo: Selecionar os pacientes com Defeitos do Septo Atrial (DSA) – Comunicação Interatrial (CIA) e Forâmen Oval Patente (FOP) -através de um Escore Ecocardiográfico Transesofágico (E-Eco) que se beneficiariam com o fechamento percutâneo utilizando a prótese de Amplazer. Métodos: A nossa experiência consiste em 62 pacientes em duas fases, a primeira entre abril/00 a dez/02 com 25 pacientes (pcts); a segunda entre dez/02 a fev/04 após a aplicação do E-Eco com 37 pcts. Neste último período foram encaminhados 90 pcts com suspeita diagnóstica de DSA;destes, foram selecionados 37 pcts (24 CIA e 13 FOP) com idade mediana de 39 anos. O escore foi estabelecido de acordo com a distância da borda muscular do septo atrial às seguintes estruturas: Veia Pulmonar Superior Direita (VPSD), Seio Coronariano (SC), Veia Cava Superior(VCS) e Valvas AV ( Mitral ou Tricúspide). Para uma distância < 5mm a pontuação é 0; 5mm = 1 ponto; entre 5-10mm = 2 pontos; >10mm = 3 pontos. Para qualquer pontuação 0 ou quando a CIA > 40 mm o pct é excluído. Resultados: Dos 37 pcts selecionados, 36 obtiveram sucesso (97,8%), sendo observado pequeno shunt residual imediato em 2 pcts (ambos com escore de 6 pontos). Conclusões: O E-Eco mostrou-se bastante eficaz na seleção destes pacientes. Antes da sua introdução houve 20%de insucesso (5 de 25 pcts) contra 3,2% (1 de 36 pts) após a sua utilização. Descritores: Ecocardiograma Transesofágico; Defeitos do Septo Atrial; Prótese Amplatzer Summary: Objective: Select the patients with Atrial Septal Defect (ASD) – Ostium Secundum Septal Defect (OSD) and Patent Oval Foramen (POF) using a Echocardiography Score (Echo-S) for percutaneous closure with Amplatzer Device. Methods: A total of 62 patients in two phases, the first between April/2000 to December/2002 with 25 patients; the second between December/2002 to February/2004 with 37 patients using Echo-S. In the last stage we studied 90 patients with possible diagnosis of ASD, of these we selected 37 patients ( 24 OSD and 13 POF ), age ranged from 10 to 74 years old ( median = 39 y ). The Echo-S was done according the distance from the ASD muscular rim to the following cardiac structures: Upper Right Pulmonary Vena, Coronary Sinus, Right Superior Vena Cava and Atrioventricular Valve ( Mitral or Tricuspid ). When the distance was less than 5 mm, punctuation was zero ( 0 ); for 5 mm distance = 1 point; between 5-10 mm = 2 points; and higher 10 mm = 3 points. For whatever punctuation zero or ASD larger than 40 mm, the patients was excluded. Results: Of these 37 patients underwent the procedure, 36 (97,8% ) was well succeeded. We observed immediate residual shunt in 2 patients with Echo-S = 6 points. Conclusion: The Echo-S showed to be a good quality approach to select the patients for percutaneous Amplatzer device. Before Echo-S there was 20% successful by the side of 2,2% after Echo-S. Descriptors: Echocardiography, Transesophageal; Heart Septal Defects, Atrial; Amplatzer, Prosthesis. 1,2,3,4 Cardiologista, Ecocardiografista, Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia 5 Cardiologista, Hemodinamicista, Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia 6 Diretor do Departamento de Cardiologia. Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia Serviço de Ecocardiografia / Serviço de hemodinâmica da Santa Casa de Misericórdia - Hospital Santa Isabel - Salvador - Bahia Correspondência: Jorge Torreão Av. Euclides da Cunha, 730/601 - Graça Salvador - Bahia CEP 40150-120 Recebido em:12/09/2004 - Aceito em 17/09/2004 Seleção de Pacientes para Fechamento Percutâneo dos Defeitos do Septo Interatrial com a Prótese de Amplatzer através de um Escore Ecocardiográfico (E-Eco) Selection Patients to Percutaneous Occluder Atrial Septal Defects with Amplatzer Device using a Echocardiography Score (Echo-S)

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Jorge Torreão 1, Nila Costa 2, Lúcia Duarte 3, Eduardo Tadeu 4, José Carlos Brito 5, Antônio Carlos Nery 6

A r t i g o O r i g i n a l

Resumo: Objetivo: Selecionar os pacientes com Defeitos do Septo Atrial (DSA) – Comunicação Interatrial (CIA) e Forâmen Oval Patente (FOP) -através de um Escore Ecocardiográfico Transesofágico (E-Eco) que se beneficiariam com o fechamento percutâneo utilizando a prótese de Amplazer. Métodos: A nossa experiência consiste em 62 pacientes em duas fases, a primeira entre abril/00 a dez/02 com 25 pacientes (pcts); a segunda entre dez/02 a fev/04 após a aplicação do E-Eco com 37 pcts. Neste último período foram encaminhados 90 pcts com suspeita diagnóstica de DSA;destes, foram selecionados 37 pcts (24 CIA e 13 FOP) com idade mediana de 39 anos. O escore foi estabelecido de acordo com a distância da borda muscular do septo atrial às seguintes estruturas: Veia Pulmonar Superior Direita (VPSD), Seio Coronariano (SC), Veia Cava Superior(VCS) e Valvas AV ( Mitral ou Tricúspide). Para uma distância < 5mm a pontuação é 0; 5mm = 1 ponto; entre 5-10mm = 2 pontos; >10mm = 3 pontos. Para qualquer pontuação 0 ou quando a CIA > 40 mm o pct é excluído. Resultados: Dos 37 pcts selecionados, 36 obtiveram sucesso (97,8%), sendo observado pequeno shunt residual imediato em 2 pcts (ambos com escore de 6 pontos). Conclusões: O E-Eco mostrou-se bastante eficaz na seleção destes pacientes. Antes da sua introdução houve 20%de insucesso (5 de 25 pcts) contra 3,2% (1 de 36 pts) após a sua utilização.

Descritores: Ecocardiograma Transesofágico; Defeitos do Septo Atrial; Prótese Amplatzer

Summary: Objective: Select the patients with Atrial Septal Defect (ASD) – Ostium Secundum Septal Defect (OSD) and Patent Oval Foramen (POF) using a Echocardiography Score (Echo-S) for percutaneous closure with Amplatzer Device. Methods: A total of 62 patients in two phases, the first between April/2000 to December/2002 with 25 patients; the second between December/2002 to February/2004 with 37 patients using Echo-S. In the last stage we studied 90 patients with possible diagnosis of ASD, of these we selected 37 patients ( 24 OSD and 13 POF ), age ranged from 10 to 74 years old ( median = 39 y ). The Echo-S was done according the distance from the ASD muscular rim to the following cardiac structures: Upper Right Pulmonary Vena, Coronary Sinus, Right Superior Vena Cava and Atrioventricular Valve ( Mitral or Tricuspid ). When the distance was less than 5 mm, punctuation was zero ( 0 ); for 5 mm distance = 1 point; between 5-10 mm = 2 points; and higher 10 mm = 3 points. For whatever punctuation zero or ASD larger than 40 mm, the patients was excluded. Results: Of these 37 patients underwent the procedure, 36 (97,8% ) was well succeeded. We observed immediate residual shunt in 2 patients with Echo-S = 6 points. Conclusion: The Echo-S showed to be a good quality approach to select the patients for percutaneous Amplatzer device. Before Echo-S there was 20% successful by the side of 2,2% after Echo-S.

Descriptors: Echocardiography, Transesophageal; Heart Septal Defects, Atrial; Amplatzer, Prosthesis.

1,2,3,4 Cardiologista, Ecocardiografista, Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia

5 Cardiologista, Hemodinamicista, Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia

6 Diretor do Departamento de Cardiologia. Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia - Salvador - Bahia

Serviço de Ecocardiografia / Serviço de hemodinâmica da Santa Casa de Misericórdia - Hospital Santa Isabel - Salvador - Bahia

Correspondência:Jorge TorreãoAv. Euclides da Cunha, 730/601 - GraçaSalvador - BahiaCEP 40150-120

Recebido em:12/09/2004 - Aceito em 17/09/2004

Seleção de Pacientes para Fechamento Percutâneo dos Defeitos do Septo Interatrial com a Prótese de Amplatzer

através de um Escore Ecocardiográfico (E-Eco)Selection Patients to Percutaneous Occluder Atrial Septal Defects with Amplatzer Device using a Echocardiography Score (Echo-S)

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Revista Brasileira de Ecocardiografia 17(4):57-68,2004 Torreão et al. Seleção de pacientes para fechamento percutâneo dos defeitos do septo inter atrial com a prótese de amplatzer através de um escore ecocardiográfico (E-Eco).

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Revista Brasileira de Ecocardiografia 17(4):57-68,2004 Torreão et al. Seleção de pacientes para fechamento percutâneo dos defeitos do septo inter atrial com a prótese de amplatzer através de um escore ecocardiográfico (E-Eco).

INTRODUÇÃOOs defeitos do septo atrial (DAS) não são mais considerados entidades nosológicas isentas de morbidade. Na comunicação Interatrial (CIA) moderada a importante, a sobrecarga volumétrica crônica no ventrículo direito (VD) acrescida à um aumento da pressão pulmonar e fibrilação atrial (FA) futura são condições mórbidas a serem evitadas1. Segundo Campbell em estudo mais recente sobre história natural da CIA importante em pacientes sintomáticos, após os 60 anos, a sobrevida é de 15% quando comparada com a população geral que é de 85%2. O forâmen oval patente (FOP), primeiro descrito por Leonardo da Vinci: “Eu encontrei de a ventrículo esquerdo (aurícula esquerda) para b ventrículo direito (aurícula direita) um canal perfurado de a para b que eu anotei aqui para ver se isto ocorre em outras aurículas de outros corações”(Figura 1)3. Leonardo da Vinci, algumas vezes, chamava os átrios de ventrículos superiores do coração, em outros instantes simplesmente de ventrículos. O FOP que na vida intra-uterina é indispensável à sobrevida do feto, a literatura tem mostrado fortes evidências da sua participação na embolia paradoxal quando persiste após o nascimento (em torno de 25% da população adulta)4-6.

A primeira tentativa para fechamento percutâneo foi feita por King e Mills em 1976 através de um par de umbrellas revestido de dacron. Os autores publicaram sua experiência em 1976 com 10 casos, e 50% de sucesso7. Rashkind, em

1987 publicou uma série de 20 pacientes utili-zando uma prótese auto-expansiva numa única umbrella com braços de aço inoxidável recoberto por poliuretano, em cujas extremidades existia um “gancho” de fixação para penetrar nas bordas da CIA, ancorando a prótese no lado esquerdo (AE). Nesta série, obteve 65% (13 ptcs) de sucesso 8.A avaliação ecocardiográfica esofágica é indis-pensável em todo paciente potencialmente candidato à esta técnica, uma vez que a avaliação precisa da anatomia do defeito deve ser realizada antes do seu encaminhamento para a sala de hemodinâmica. O presente estudo tem como objetivo estabelecer critérios ecocardiográficos que permitam estratificar de forma qualitativa e quantitativa tais pacientes.O Septo Interatrial normal é constituído na sua maior parte por um flap valvar da fossa ovalis oriunda do septum primum embrionário e apenas uma circunferência em torno desta é formada por tecido muscular, sendo a única estrutura muscular do SIA 9,10. (Figuras 2 e 3). Esta porção muscular encontra-se relacionada e não eqüidistante de estruturas nobres do coração tais como: válvulas átrio-ventriculares (VAV) - mitral e tricúspide, seio coronariano (SC), veia cava superior (VCS), aorta (Ao) e veia pulmonar superior direita (VPSD). A

porção muscular do SIA é formada pelo septum secundum que relaciona-se com a VCS e VPSD, e pelo septo átrio-ventri-culares que relaciona-se com as VAV, SC e Ao. (Figuras 4 a 7). É nesta porção muscular que os “discos” da prótese devem ser “ancorados”, e devem permanecer à uma distância segura das estruturas nobres 11-13.

ESCORE ECOCARDIOGRÁFICO (E-ECO)O E-Eco baseou-se na distância das bordas musculares às estruturas nobres

em um sistema de pontuação que obedece aos seguintes critérios: Quando a borda da porção muscular encontra-se a menos de 5mm de uma das estruturas nobres o valor é zero (0); para 5 mm de distância o valor é um (1); para uma

Figura 1. Um desenho dos átrios esquerdo e direito comunicando-se através de um canal perfurado na visão de Leonardo da Vinci, possi-velmente feito entre 1480 a 1507, período em que ele se dedicou a anatomia humana. Canal este que viria a ser chamado de forâmen oval patente.

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distância entre 5 – 10 mm obtemos 2 pontos; para uma distância > 10mm , 3 pontos. As estruturas envolvidas no escore são: SC, VPSD, VCS, VAV (valva mitral para CIA e válvula tricúspide para FOP). O disco da prótese para CIA é maior no lado esquerdo, e para FOP, no lado direito. A aorta não participa do escore uma vez que, estabelecida a distância da VAV, a distância da Ao jamais terá menor valor do que aquela, bem como os discos da prótese não ofereceriam maiores riscos à parede da Ao como ao funcionamento das valvas AV, ou obstrução ao SC, VPSD ou VCS. (Tabela 1).

O maior valor obtido que corresponde ao escore máximo é de 12 pontos. Para uma pontuação zero (0) em qualquer das estruturas incluídas no escore, um E-Eco inferor a 4, bem como uma CIA > 40 mm, o paciente é excluído.

MÉTODOIniciamos o fechamento dos DSA via percutânea no nosso serviço em abril de 2000. Os primeiros 25 pacientes realizaram o procedimento sem a utilização do escore, (abril/00 a dez/02). Entre dezembro/2002 a fevereiro/2004 foram encami-

Figura 2. A visibilização anatômica do septo atrial pelo átrio direito - a porção muscular em preto contornando a fossa ovalis. A CIA pode se encontrar em qualquer posição dentro da fossa ovalis.

Figura 3. Corte ecocardiográfico a 114º onde podemos observar a porção muscular e a lâmina da fossa oval.

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Figura 4a,b. Corte ecocardiográfico a 102º para medir a distância da borda muscular do septo atrial à VCS.

Figura 5a,b. Corte ecocardiográfico a 140º para medir a distância da borda muscular do septo atrial ao SC.

Figura 6a,b. Corte ecocardiográfico a 0º para medir a distância da borda muscular do septo atrial às valvas AV.

B

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nhados 90 pacientes com suspeita diagnóstica de DSA. Todos foram submetidos a Ecocardiograma Transesofágico (ETE). Houveram 31 exclusões (34%): 3 (3,3%) com diagnóstico negativo (ausência de DSA), 3 (3,3%) com CIA > 40mm, 4 (4,4%) possuíam lesões associadas, 6 (6,6%) com E-Eco < 4, e 15 (16,7%) foram encaminhados a cirurgia. Vinte e dois pacientes (24%) aguardam liberação. O fechamento foi realizado em 37 pacientes selecionados com o E-Eco, (24 CIA e 13 FOP) 27 sexo feminino e 10 sexo masculinho, com idade entre 10 e 74 anos – mediana de 39 anos. (Gráficos 1 e 2 e Tabela 2).O procedimento é realizado sob monitorização ecocardiográfica. Após a insuflação do balão, era realizada uma nova medição do defeito tanto pelo ETE como pela hemodinâmica, que, em todos os casos obtiveram resultados bastante semelhantes com uma variação máxima de 10% (Figura 8a,b). A escolha da prótese era realizada em comum acordo com o hemodinamicista, que somente liberava o dispositivo da prótese após anuência do

ecocardiografista. Shunt residual era sistematica-mente pesquisado, devendo ser prospectivamente

“rastreado” com ecocardiogramas periódiocos em caso positivo. (Figura 9a,b). Aos nossos pacientes recomendamos profixia para endocardite, uso de antiagregante plaquetário por seis mês, e retorno ao serviço para um novo ETE após um ano do procedimento.

Figura 7a,b. Corte ecocardiográfico a 0º para medir a distância da borda muscular do septo atrial à VPSD.

Figura 7c. Corte a 140º da borda muscular do septo atrial à VPSD.

Distância

Estrutura< 5mm 5mm 5 a 10mm > 10mm

VAV 0 1 2 3

SC 0 1 2 3

VCS 0 1 2 3

VPSD 0 1 2 3Tabela 1. Eco-Escore

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2 a 11 m62 pacientes

abril/00 - dez/0225 pcts

dez/02 - fev/0437 pcts

20 sucesso(80%)

5 insucesso(20%)

36 sucesso(97,8%)

1 insucesso(2,7%)

GRÁFICO 1

GRÁFICO 2dez/02 - fev/04

90 pts ETE(CIA/FOP)

37 selecionados(41%)

22 aguardam(24%)

31 excluídos(34%)

3 diag (-)(3,3%)

3 CIA > 40mm(3,3%)

4 lesões associadas(4,4%)

6 escore < 4(6,6%)

15 cirurgia(16,7%)

DAVP IM PCA EPV

TABELA2Escore

Patologia12 11 10 9 8 6

CIA 12 5 3 1 1 2

FOP 9 4 - - - -

TOTAL 21 9 3 1 1 2

SHUNT RESIDUAL IMEDIATO 0 0 0 0 * 2

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Insucesso foi definido como impossibilidade na realização do procedimento por quaisquer motivos (dificuldade técnica, excessiva insuflação do balão com rompimento do septo membranoso, não “ancoramento” adequado da prótese, shunt significativo persistente após a completa insuflação do balão).

RESULTADOSDezenove pacientes obtiveram escore de 12 pontos (5 FOP e 14 CIA), 10 pcts ( 8 CIA e 2 FOP) com escore de 11 pontos, 4 pcts (4 CIA) com escore de 10 pontos , 1 pct com escore de 9 pontos e 2 pcts (2 CIA) com escore de 6 pontos obtiveram sucesso no procedimento (98,3%). Um paciente (CIA) com escore de 8 pontos foi

excluído na sala de hemodinâmica por extensão do seu defeito após insuflação excessiva do balão. Dois pacientes com escore de 6 pontos apresentaram shunt residual imediato, sendo que em um houve desaparecimento do shunt ao ETE de controle após 6 meses. (Gráfico 3). Não foram registradas complicações nos 62 pacientes que foram submetidos ao procedimento.

CONCLUSÃOO E-Eco mostrou-se significativo na seleção dos pacientes para fechamento percutâneo dos DSA. Apenas 1 pct (2,2%) com insucesso no procedimento versus 5 pcts (20%) quando não foi utilizado o escore.

Figura 8a. A visão da insuflação do balão à escopia.

Figura 9a. Corte ecocardiográfico a 0º da prótese de Amplatzer com shunt residual, momento antes da libe-ração da prótese.

B

Figura 8b. Corte ecocardiográfico 40º do balão insuflado, momento em que é escolhido o tamanho da prótese.

Figura 9b. Corte ecocardiográfico 40º de uma prótese de Amplatzer bem posicionada.

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LIMITAÇÃOA limitação do nosso estudo recai principalmente no número de pacientes (62 pcts), tanto na primeira etapa com 25 pcts utilizando como critério CIA menor que 40mm e uma distância ≥ 5mm dasestruturas nobres, como na segunda etapa com os 37 pcts selecionados, mesmo baseado nas evidências anatômicas, consideramos um número ainda reduzido. Contudo, trata-se de um estudo em andamento, tendo sido relatado aqui apenas os resultados iniciais.

DISCUSSÃO E COMENTÁRIOSApós a introdução da ETE na prática clínica, os DSA incluindo o aneurisma do septo atrial, foram cada vez mais diagnosticados. Concomitantemente, o fechamento percutâneo apresentou progressiva evolução com suas próteses. Surgiu então uma pergunta: todo defeito do septo atrial diagnos-ticado pelo ETE deve ser corrigido? O tratamento cirúrgico sempre foi a opção nos casos de CIA moderada a importante, pois as repercussões anatômicas e hemodinâmicas eram facilmente vistas a um conjunto de abordagem diagnóstica (exame físico, raio X, ECG e cateterismo); as complicações são em torno de 1% lideradas pelo derrame pericárdico , e a mortalidade é em torno de 0,1% na maioria dos grandes serviços. Podemos listar as alterações clínico-hemodinâmicas que os DSA podem causar nos pacientes: 1) Sobrecarga volumétrica nas câmaras direitas 2) Aumento da

pressão pulmonar 3) Fibrilação atrial 4) Embolia paradoxal (Figura 10a,b,c). Os três primeiros itens são responsabilidade exclusiva da CIA moderada a importante 1.Embora a embolia paradoxal tenha sido inicialmente descrita como uma complicação futura da CIA importante por inversão do shunt

Gráfico 3

Figura 10a,b,c. A Embolia Paradoxl aqui documentada por um grande trombo atravessado no FOP, situação esta que vem sendo cada vez mais diagnosticada através do ETE. Três pacientes com o mesmo achado.

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para D-E, hoje sabemos que esta situação na CIA só é possível em associação com doença obstrutiva vascular pulmonar primária, pois na CIA isolada há apenas transmissão de fluxo, o gradiente entre os átrios é muito pequeno havendo ainda duas valvas (tricúspide e pulmonar) protegendo o pulmão 14-8. As pressões nos átrios se alternam durante o ciclo cardíaco e manobras de Vasalva (Figura 11a,b); na maior parte do ciclo o AE mantém pressões um pouco mais elevadas; em algum momento em que o AD assuma a maior pressão, algum êmbolo, com “ajuda” da válvula de Eustáquio poderá alcançar o AE, porém o mesmo seria imediatamente “varrido” de volta para o AD pelo fluxo predominante E-D 19. No FOP, quando o AE reassume a maior pressão, o êmbolo encontrará a “porta fechada” que é a lâmina do septo primum ocluindo a fossa ovalis, sendo o único caminho possível a valva mitral e circulação sistêmica; por este motivo acreditamos cada vez mais que o FOP seja o responsável por casos de embolia paradoxal com ou sem CIA co-existente (Figura 12a,b,c,d,e).

O ETE após um ano tem demonstrado uma perfeita adaptação da prótese à estrutura anatômica (Figura 13a,b,c,d,e); A prótese de Amplatzer é constituída por nitinol, liga metálica formada por 65% de níquel, material já utilizado em ortopedia e ortodontia, entretanto a sua biocompatibilidade ainda é controversa. Ries and Meyer acompa-nharam 67 pcts após implante da prótese de Amplatzer, observaram que os níveis séricos de níquel elevaram-se significantemente após 24 horas do procedimento , de 0,47 ng/ml para 1,27 ng/ml, a um máximo de 1,50 ng/ml – valores <2ng/ml são considerados não tóxicos- após um mês. Estes níveis decresceram progressivamente após 12 meses 20.Com este material podemos sugerir que um maior escore se correlacione com um melhor resultado.O nosso pensamento é que este E-Eco deverá sofrer futuras modificações de acordo com a evolução das próteses.

Figura 11a,b. Com esta disposição do septo atrial, visto pelo ETE, podemos afirmar que as pressões no AE e AD se alternam durante ciclo cardíaco.

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Figura 12c. CIA com fluxo E-D

A B

C D

Figura 12a,b. O FOP em duas situações: A com a lâmina da fossa oval aberto com o fluxo D-E, quando a maior pressão é no AD, e B o FOP ocluído pelo septo primum quando a pressão é maior no AE.

Figura 12d,e. O Fluxo vindo da VCI Inferior, sendo direcionado pela Válvula de Eustáquio para o foramen oval, função esta exercida por esta Válvula na vida Intra Uterina.

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Figura 13c,d. Evolução de 12 meses de uma prótese de Amplatzer nº 25 para fechamento de FOP. Em ambos os casos podemos notar a adaptação da Prótese na estrutura anatômica.

Figura 13a,b. Evolução de 6 meses de uma prótese de Amplatzer nº 26, para fechamento de CIA.

A B

C D

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS