Atividade 2

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Ano letivo 2014 / 15 Página 1 CP4 Processos identitários Atividade 2 Estereótipos, preconceitos e representações sociais Tertúlia de café na primeira metade do séc. XX A realidade social, como aliás, a realidade em geral, é apercebida ("conhecida") por parte dos sujeitos através de "representações"; quer dizer, através de "prismas" que decorrem de contextos socioculturais complexos. As noções que temos acerca do "mundo" ou seja, da realidade a que é dado sentido, só o fazem porque a linguagem e o pensamento lho atribuem. Assim, quando cada um de nós chegou ao "mundo", este já se encontrava constituído e a nossa "socialização"consistiu (e consiste) numa adaptação progressiva e seletiva a esse "mundo" que continua a estruturar- se durante a nossa existência e para além dela. Para que tudo faça sentido, tenha significado e nos possibilite orientarmo-nos, precisamos de referências que nos permitam nomear a realidade e agir dentro dela; a essas referências podemos chamar "conceitos", ou seja, "ideias" que permitem representar seres, objetos ou ações e lidar com eles. Muitas dessas noções são de origem social e constituem o chamado " senso comum" que tem por função tornar possível a comunicação indispensável ao quotidiano; se entrar num café e pedir uma "bica", sei que me fornecerão uma pequena chávena de uma bebida de café e água obtida através de uma máquina de pressão e temperatura elevadas, técnica e comercialmente designada por "expresso".

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Ano letivo 2014 / 15 Página 1

CP4 – Processos identitários

Atividade 2

Estereótipos, preconceitos e representações sociais

Tertúlia de café na primeira metade do séc. XX

A realidade social, como aliás, a realidade em geral, é apercebida ("conhecida") por parte

dos sujeitos através de "representações"; quer dizer, através de "prismas" que decorrem de

contextos socioculturais complexos.

As noções que temos acerca do "mundo" ou seja, da realidade a que é dado sentido, só o

fazem porque a linguagem e o pensamento lho atribuem. Assim, quando cada um de nós

chegou ao "mundo", este já se encontrava constituído e a nossa "socialização"consistiu (e

consiste) numa adaptação progressiva e seletiva a esse "mundo" que continua a estruturar-

se durante a nossa existência e para além dela.

Para que tudo faça sentido, tenha significado e nos possibilite orientarmo-nos, precisamos

de referências que nos permitam nomear a realidade e agir dentro dela; a essas referências

podemos chamar "conceitos", ou seja, "ideias" que permitem representar seres, objetos ou

ações e lidar com eles.

Muitas dessas noções são de origem social e constituem o chamado " senso comum" que

tem por função tornar possível a comunicação indispensável ao quotidiano; se entrar num

café e pedir uma "bica", sei que me fornecerão uma pequena chávena de uma bebida de café

e água obtida através de uma máquina de pressão e temperatura elevadas, técnica e

comercialmente designada por "expresso".

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Pedir uma "bica" dispensa-nos de pormenores técnicos e científicos e facilita-nos a ingestão

tranquila do nosso "café" ou seja, bebida de café, geralmente consumida ao balcão de um

estabelecimento também designado por "Café" (modernamente, o mais "abrasucado"-

"Cafetaria").

Ora, quando eu era jovem, dizia-se que fazer "vida de café" era não trabalhar ou trabalhar

pouco, não estudar ou estudar pouco e sobretudo "dar muito à língua" e "mexericar". Hoje a

maior parte das pessoas já não tem tempo para fazer "vida de café", a vida está demasiado

rápida e sufocante e os Cafés, ou se tranformaram em agências bancárias ou praticamente

eliminaram as mesas e deram lugar aos grandes balcões do "come-em-pé" onde as "bicas"

entram a escaldar pela goela abaixo e conversa é reduzida ao mínimo do "olá, tudo bem" ?

Assim fazer "vida de café" constituía um "estilo" de vida, um "tipo" de ocupação cuja

especialidade era ou parecia ser, a de estar permanentemente desocupado, essa expressão

correspondia e de certo modo, ainda corresponde, a um "estereótipo", que designava um

tipo de indivíduos que geralmente eram considerados como os que "não faziam nenhum" e

claro, que em relação a eles havia preconceitos, os que passavam a "vida nos cafés" ou

andavam a "polir esquinas" ou eram "madraços" profissionais ou "chulos" ou coisa assim ,

boa coisa é que de certeza, não eram.

No entanto homens como Fernando Pessoa "passaram a vida no café" e hoje ninguém

poderá dizer que Pessoa "não fez nenhum", sendo até celebrado como um herói ,

infelizmente e como de costume, póstumo, da nossa e para utilizar uma expressão sua,

"Pátria/Língua"!

Por este e por muitos mais exemplos, se pode verificar que estereótipos e preconceitos se

implicam mutuamente, decorrem uns dos outros e alimentam-se em reciprocidade e são

enganadoras e abusivas formas de percepção da realidade, que do ponto de vista da vida em

sociedade não costumam trazer nada de positivo, antes pelo contrário: constituindo, em

regra, mecanismos de exclusão ou discriminação negativa.

Só um posicionamento reflexivo e crítico nos permite evitar esclarecidamente as

"armadilhas" e os "alçapões" de uma linguagem estereotipada e de um pensamento

preconceituoso que constituem obstáculos sérios à coesão social, absolutamente necessária

para a construção da vida em comunidade.

ATIVIDADES

1 - Caraterize, a partir dos três primeiros parágrafos do texto, o conceito de "representação

social".

2 - Explicite, apoiando-se, se necessário, no texto a função social "facilitadora" de uma certa

estereotipia.

3 - Identifique no texto um estereótipo e um preconceito.

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4 - Justifique a escolha anterior.

5 - Relacione "estereótipos" e "preconceitos" com a verdade que deve constituir uma

avaliação justa da realidade.

6 - Fundamente a necessidade do desenvolvimento de um espírito reflexivo e crítico que

possibilite essa avaliação.

Empatia, Compaixão e Solidariedade

A identidade estabelece-se através de um conjunto de vínculos que permitem, a cada um

de nós, reconhecer-se e ser reconhecido. Um nome próprio e um nome de família que nos

identificam enquanto indivíduos pertencentes a um primeiro grupo, naturais de uma

determinada freguesia, munícipes de um

determinado concelho, cidadãos de um país e do

mundo.

Nesse mundo, nesse país, nesse concelho, nessa

freguesia e até, nessa família, há, certamente, outros

indivíduos que constituem, face a um sujeito, os

referentes daquilo a que se pode chamar a

alteridade.

A alteridade é tudo aquilo que é da ordem do exterior

a nós, o que é próprio do "Outro" ( alter). A relação que se estabelece entre o mesmo e o

outro, entre o idêntico e o diferente, é a relação que permite aceder ao mundo. O autismo,

por exemplo, significa a ausência da ponte entre o mesmo e o outro e, assim, o

mundo permanecerá sempre desconhecido; ora, o que permanece desconhecido, permanece

inexplorado, inacessível e significa uma espécie de "condenação" a viver na

incomunicabilidade. Só a saída da sua própria esfera permite o acesso à realidade, na sua

plenitude e diversidade.

Falamos da realidade existencial mas também da realidade social que é uma das dimensões

da existência; e nessa dualidade, entre o ser que se situa num contexto circunstanciado por

Tudo o que lhe é outro, é essencial o estabelecimento de pontes entre o sujeito e os grupos

de pertença em que este está inserido como elemento autónomo, mas em relação.

As palavras chave dessa relação são a empatia, a relação compassiva e a

solidariedade.

A empatia significa a participação afetiva e emotiva numa realidade que lhe é, em princípio,

alheia; esta capacidade de estar em sintonia e de reconhecer identidade, ou seja, de

reconhecer o que nos é próprio, mesmo naquilo que está fora de nós, aproxima os seres

humanos. Muitas vezes, essa empatia é mesmo inconsciente: sente-se, antes de se querer.

Mas a vontade pode também ser um fator propiciatório ao estabelecimento da empatia. A

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palavra " empatia" é próxima da simpatia e tem com esta, um radical comum: pathos, ou "

paixão" que, com o logos e o ethos, configura o triângulo que nos torna humanos.

Enquanto o pathos remete para a afecção, o logos remete para a razão e o ethos para o

dever.

A empatia liga-se à reação compassiva face ao outro e ao seu sofrimento; compassiva,

significa que manifesta compaixão e compaixão decompõe-se em "com + pathos" - que

quer dizer, capacidade de sofrer com - de sentir e partilhar o pathos do outro e, assim,

ser capaz de assumir o descentramento de si próprio e a abertura necessária ao acto

solidário. Temos assim, ligados, três pilares fundamentais da relação EU - OUTRO : a

empatia, a reacção compassiva e a solidariedade que, para se efectivar, se traduz

necessariamente, em acções solidárias.

Códigos Institucionais e Comunitários

Immanuel Kant (1724-1804) é um dos maiores vultos do pensamento em geral e do

pensamento ético e deontológico em especial. A sua Ética funda-se na noção do Dever

como, e numa linguagem muito simplificada, instância de compatibilização entre meios e

fins.

Assim o procedimento moral é apenas o que fôr universalizável e esta noção é o principal

pilar de todos os códigos deontológicos.

Para o entendermos nada como ler as palavras do próprio Kant: "No reino dos fins tudo tem

um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela

qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e

portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade". (FMC, II)

TAREFA:

Comente este excerto tendo em conta a necessidade de proceder deontologicamente.

Proposta de trabalho:

O psicólogo norte-americano Bogardus construiu uma Escala de distância social,

através da qual nos é permitido descobrir se somos ou não preconceituosos

relativamente a outras pessoas, grupos, etnias e/ou culturas.

Tendo em consideração que os maiores preconceitos sociais, raciais e culturais da

sociedade portuguesa atual estão dirigidos aos pobres, negros, homossexuais, idosos,

doentes mentais, alentejanos, loiras, ciganos, imigrantes de leste, judeus, chineses,

negros, árabes e comunistas…, identifique e reflicta sobre a (i)legitimidade dos seus

preconceitos a partir das seguintes questões, que, de alguma forma, poderiam

cristalizar a referida Escala de distância social:

1. Casaria com um membro deste grupo?

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2. Aceitá-lo-ia como "amigo íntimo", "colega de escritório" ou "vizinho do

lado"?

3. Aceitá-lo-ia como turista no país?

4. Ou exclui-lo-ia do país?

Como tópico para a desconstrução dos seus preconceitos, não se esqueça que, segundo a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, os princípios da igualdade e da dignidade

humana são extensíveis a todos os homens independentemente do grupo, comunidade,

cultura e religião a que pertençam.

Preconceitos

O tema “Preconceito” é diverso e contraditório, e prejudica a sociedade em geral.

Preconceito (“Pré” + “Conceito”) – as pessoas julgam e conceituam algo ou alguém antes de

conhecer.

Existe também a discriminação (imposição de uma condição de caráter antes de conhecer alguém).

Os tipos mais comuns de preconceito e discriminação são:

Discriminação social – relacionada com a condição de uma parcela da sociedade;

Preconceito religioso – devido a uma religião;

Preconceito racial – devido a uma etnia;

Preconceito intelectual – devido a um pensamento político ou simplesmente um

pensamento diferente.

Preconceito social

Um dos mais comuns preconceitos, num país onde a desigualdade se torna visível, é o social.

Preconceito religioso

Como o preconceito racial o preconceito religioso é algo de hereditário, passado e transportado pelo

ódio de uma região que tem um certo segmento, uma certa tradição. Estas tradições que são passadas

muitas vezes são colocadas pela religião.

O preconceito religioso está firmemente instalado em várias partes do mundo, é mais antigo do que

o racismo, detalhado já na era de Cristo, há dois mil anos atrás.

Preconceito racial

Nem sempre está associado a pretos e brancos, mas sim a uma diferença de cultura, etnia ou outras

coisas que diferenciem raças dentro de uma mesma composição global.

O preconceito racial começou com o ideal de que um ser ou uma raça era superior a outro. E por

isso, tinha o direito a usar o mais fraco para trabalhos como servos e escravos.

Preconceito Intelectual

Porquê o nome preconceito intelectual? - Preconceito intelectual ou discriminação de pensamento e

escolhas, tem origem no mesmo conceito, de não se poder imaginar ou supor, querer ou desejar,

abertamente, algo ou alguém.

Vemos o preconceito intelectual presente na opção sexual de alguém, a homossexualidade, seja ela

assumida ou não, é uma escolha de cidadão para cidadão, como a cor do carro ou a roupa a vestir.

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Obviamente o preconceito tem que ser reprimido quando passa ao constrangimento de terceiros,

porque como se trata de um pensamento não se pode obrigar a estes a aceitação dessa mentalidade.

O mínimo e justo que pode ser aplicado, como forma de combater este tipo de preconceito, é o

respeito pela opinião.

O preconceito intelectual não se trata somente da homossexualidade, logicamente, diversifica-se

porque os pensamentos num ser são infinitos.

Enfim, o preconceito só existe porque não se pratica o respeito pelo próximo.

A convivência, através de uma atitude comunitária é, talvez, a forma mais adequada de se reduzir o

preconceito.

Assim, como as atitudes em geral, o preconceito tem três componentes: crenças, sentimentos e

tendências comportamentais. Crenças preconceituosas são sempre estereótipos negativos.

Segundo Allport (1954), o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que em

determinadas circunstâncias podem-se transformar em raiva e hostilidade. O resultado é o

preconceito e a discriminação.

Já Adorno (1950) diz que a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou intolerante.

Pessoas autoritárias tendem a ser rigidamente convencionais. Partidárias do seguimento às normas e

do respeito à tradição, são hostis com aqueles que desafiam as regras sociais. Respeitam a autoridade

e submetem-se a ela, bem como se preocupam com o poder da resistência. Ao olhar para o mundo

através de uma lente de categorias rígidas, não acreditam na natureza humana, temendo e rejeitando

todos os grupos sociais aos quais não pertencem. O preconceito é uma manifestação da sua

desconfiança e suspeita.

Há também fontes cognitivas de preconceito. Os seres humanos são “avarentos cognitivos” que

tentam simplificar e organizar o seu pensamento social, o máximo possível. A simplificação

exagerada leva a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceituosos e discriminatórios.

O movimento Cidadania em Rede visa sensibilizar e educar os cidadãos para a importância de

ultrapassar e abolir os estereótipos e preconceitos, através da informação e de um trabalho conjunto,

de todos os que procuram uma sociedade de equilíbrio e igualdade.

Um pequeno passo para cada um, um grande passo para a rede!

Estereótipo preconceito e discriminação Como pudemos compreender, o filme “Colisão” (analisado na aula) retrata três importantes

conceitos – Estereótipo, Preconceito e Discriminação – bem presentes nas diversas sociedades e

culturas de todo o mundo. No desenrolar da ação vão-nos sendo apresentados vários casos e o

modo como cada personagem é afetada por eles. Paralelos uns aos outros, os acontecimentos

começam a ganhar forma e a sua influência ultrapassa o contexto de vida de cada família; ela

invade outras vidas, outras pessoas. É a partir da história dos vários protagonistas que irei então

desenvolver uma tese sobre os tópicos acima referidos. Como se formam? Quais as razões que as

explicam? Qual a sua importância? São algumas das perguntas às quais tentarei responder de

uma forma consistente e esclarecedora.

As situações seguintes são as que, segundo a minha perspetiva, constituem melhores exemplos de

conflitos entre grupos ao longo do filme: Exemplo 1: Ocorre um acidente entre uma mulher branca e uma asiática. No meio da confusão e do nervosismo a segunda mulher culpa a primeira. Esta não admite que a culpem e a discussão instala-se. As duas agridem-se verbalmente, tecendo comentários racistas e xenófobos.

Exemplo 2: Dois amigos negros conversam na rua sobre a discriminação e nesse momento um

casal branco aproxima-se. A mulher, ao ver os dois sujeitos, teme pelo que possa acontecer

quando se cruzarem, agarrando o braço do marido. Um dos negros repara e as suas convicções

tornam-se mais evidentes, dizendo ao seu amigo que a mulher é racista dado que tem medo de

passar perto deles. Furiosos decidem assaltar o casal quando estes estavam a entrar no seu carro,

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ameaçando-os com armas de fogo. Em pânico, o casal não oferece resistência.

Exemplo 3: Um polícia americano manda encostar um veículo que circulava, porque o condutor e a esposa eram negros. Sem qualquer razão ordena-os para saírem do carro, tratando-os como se fossem criminosos. Humilhados vêm-se ainda obrigados a pedir desculpa e só depois regressam a casa. Exemplo 4: Um dos negros que tinha assaltado o casal branco arrepende-se do que fez, pois começa a compreendê-los. Fugindo da polícia pede boleia durante a noite. Um rapaz branco (que era polícia) pára e pede-lhe que entre. Depois de começarem a conversar, o branco sente-se ofendido pois o negro diz que gosta de música country e de hóquei no gelo, algo que não faz parte da cultura negra. Considera, portanto, que o negro está a ser irónico. A tensão aumenta e o negro continua a rir-se, remexendo no bolso. O rapaz branco pensa que é um revolver e, sem lhe dar tempo, dispara sobre o outro, quando descobre que ele tinha na mão a imagem de um santo.

Antes de começar a relacionar os exemplos com os temas a abordar gostaria de, primeiramente, dar uma pequena noção sobre cada um.

Estereótipo é um conjunto de crenças, de ideias “feitas”, que transmitem uma imagem simplista de

um objecto ou pessoas. Generalizam todos os elementos de um grupo a partir do comportamento

de alguns deles. Há, portanto, uma categorização, uma classificação positiva ou negativa em

relação ao outro, que surge das interações sociais.

O preconceito é também uma atitude e tem como base o estereótipo. Através da informação do

estereótipo faz uma avaliação, um pré-juízo em relação aos outros indivíduos e aos grupos que os

constituem.

Por sua vez, a discriminação são os comportamentos que derivam dos estereótipos e dos

preconceitos. Geralmente são negativos e podem acentuar-se em situações de crise (política,

económica, social...), variando entre o afastamento à violência e agressão.

Através dos exemplos mencionados podemos estabelecer uma relação com estes temas. De facto,

nas várias situações descritas o motivo do conflito era a cor da pele, o país, a cultura a que

pertenciam. Isto é, aos grupos sociais a que pertenciam. As ideias erradas acerca dos brancos, dos

negros, dos árabes, dos chineses (entre outros) estavam tão difundidas, tão enraizadas que se

transformavam em verdadeiros estereótipos, em preconceitos, conduzindo, por fim, às

discriminações. Em vez de tentarem resolver os seus assuntos civilizadamente, os indivíduos

procuravam culpar-se mutuamente porque acreditavam que o outro conservava características

negativas, características típicas de criminosos, de ignorantes, de avarentos, de preguiçosos.

Assim, o seu comportamento era definido por um conjunto de valores que já estavam predefinidos

e estipulados. No filme a mulher asiática culpou a mulher branca de causar o acidente, porque

pensava que a branca tinha feito uma condução perigosa, visto que, de acordo com a sua visão os

brancos pensam que o mundo é todo deles e não respeitam nada nem ninguém. O polícia matou o

negro porque muitos deles são criminosos e violentos e, como tal, o branco pensou tratar-se de

mais um. Categorizou-o, generalizou-o por causa de outros negros que contribuíram para a

construção desse preconceito.

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Com ou sem intenção acabámos por discriminar os outros graças a casos particulares. “Paga o

justo pelo pecador”.

Porém, é importante referir que tanto os estereótipos como os preconceitos se podem alterar,

fazendo com que o ato discriminatório deixe de existir. Perante acontecimentos extraordinários

onde vários elementos ou vários grupos sejam obrigados a conhecerem-se melhor, constatar-se-á

que, muito provavelmente, esses indivíduos não possuem as características negativas que se

julgavam ter.

Mas porque razão ou razões existem os estereótipos, os preconceitos e as discriminações?

À semelhança do que já foi dito, os estereótipos permitem-nos simplificar a realidade social,

definindo-se o que está certo e o que está errado. Deste modo, possibilitam-nos uma maior

adaptação ao meio que nos envolve – função sociocognitiva. Além disso, através deles

reconhecemo-nos num determinado grupo (endogrupo), distinguindo-o de todos os outros

(exogrupo). Somos o que somos porque pertencemos a um conjunto específico de elementos,

desenvolvendo-se os sentimentos de “nós” e de “eles”, bem como os sentimentos de protecção em

relação aos indivíduos com quem nos identificamos e de hostilidade em relação aos indivíduos

diferentes de nós.

Relativamente aos preconceitos existe também uma função socioafectiva que explica a sua

existência. Tal como acontece com os estereótipos, estes visam a protecção e a coesão do grupo,

em detrimento dos restantes.

Por fim, a discriminação é fruto dos dois fatores anteriores. Perante a cultura, a época, e as formas

de cada um pensar em particular existem diferentes formas de discriminação e diferentes grupos

vítimas de discriminação. Varia consoante os valores considerados mais ou menos importantes

para seres humanos diferentes.

Fonte: MONTEIRO, Manuela Matos, FERREIRA, P. T. (2007), Ser Humano, Psicologia B, Porto Editora.

O formador:

António Costa