Atibaia/SP

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ATIBAIA Entre as serras, um canto cheio de tradições e muito amor à terra História | Arte | Meio Ambiente | Arquitetura | Folclore | Turismo EDIÇÃO 01 www.cidadeecultura.com.br EDIÇÃO 01 Nº09 - R$ 10,00 - Brasil De rara beleza, a Amarilis-vermelha reina na Pedra Grande

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ATIBAIAEntre as serras, um canto cheio de tradições e muito amor à terra

História | Arte | Meio Ambiente | Arquitetura | Folclore | Turismo

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EDIçãO 01

Nº09 - R$ 10,00 - Brasil

De rara beleza, a Amarilis-vermelha reina na Pedra Grande

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LINHA DO TEMPOAs datas históricas que marcaram Atibaia

FOLCLOREA tradição que resiste à modernidade

TURISMO RURALA natureza que envolve e descansa nossa mente

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HISTÓRICODos Bandeirantes à biotecnologia

ARQUITETURAO colonial preservado nas ruas centrais

FESTA DAS FLORES O charme e a beleza aliados às gostosuras do morango

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CARNAVALÔ abre alas!

ARTESANATO Fios que tecem a sabedoria transmitida por gerações

GASTRONOMIAVariedade e o bem receber

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RELIGIOSIDADEUma fé que deixou suas marcas

TAPETES ARRAIOLOUm pedaço da beleza lusitana

ESPORTESMuitas modalidades de aventura, um verdadeiro complexo esportivo

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COLÔNIA JAPONESAImigrantes cheios de esperança e com espírito empreendedor

ARTESExpressões diversas em todos os cantos

NÃO DEIXE DE VISITARSe está aqui, vale a pena conhecer

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LENDAS O perfume histórico de uma nada pacata cidade

MEIO AMBIENTEEntre serras, muita diversidade que colorem nossos olhos

DADOS ESTATíSTICOSVisão geral dos números da cidade

GENTE DA TERRA Oportunidades para os que precisam

ATIBAIANOO tempo a favor da vida

Índice

6 Cidade&Cultura

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PARA ANUNCIAR: (11) 3021-8810CONHEÇA OS NOSSOS SITES www.cidadeecultura.com.brwww.abcdcultural.com.br

CIDADE & CULTURA é uma publicação anual da ABCD Cultural.Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não representando neces sariamente a opinião da revista. Todos os direitos reser vados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas.

EDITORIACOnsELhO ExECUTIvO: Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Márcio Alves, Roberto Debouch e Leila M. MachadoEDITORA: Renata Weber NeivaREpORTAgEm: Andrea Silva Nilsson, Jean de Castro e Nathália Weber AssIsTEnTE DE pRODUçãO: Evellyn AlvespRODUçãO gRáfICA: Purim Comunicação Visual (www.purimvisual.com.br)pRODUçãO DIgITAL: OnePixel (www.onepixel.com.br)pRODUçãO AUDIOvIsUAL: Leo LongofOTOgRAfIAs: Marcio Masula, Beto Maitino e Thiago AndradefOTO CApA: Marcio MasulaImpREssãO: Gráfica Silvamarts

EditorialSempre dizemos: como é bom conhecer para apreciar melhor

os lugares que visitamos. Atibaia é um exemplo disto. A cidade é recortada por duas Rodovias de monta, Fernão Dias e Dom Pedro, formando uma cruz praticamente no centro, que divide a cidade e formam-se muitos cantos. Suas estradas de terra, entradas e saídas, fazem daqui um pedaço de aconchego. Terra muito bem escolhida por bandeirantes, palco de muitas lutas ár-duas para o desenvolvimento do interior paulista e dona de um meio ambiente exuberante aliado à tecnologia de ponta. Atibaia é um lugar cheio de antagonismos. Próxima à capital do Estado de São Paulo, consegue manter os ares e a qualidade de vida do campo. E é nesse ambiente que vamos “viajar” por essas páginas e poder conhecer melhor os encantos deixados pelos que aqui lutaram para fazer a vida mais bela e feliz.

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1665

Linha do tempo

1928 1943

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1908

1864

24 de junho de

Fundação de Atibaia

Vinda dos japoneses ao Brasil

Construção da Represa Usina de Atibaia

Inauguração do Hotel Campestre Estância Lynce

Atibaia torna-se município São João de Atibaia

Torna-se Freguesia sob o nome de Distrito São João de Tybhaia

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2014

1890 1905

1965 1978 1978

1905

Primeira Festa das Flores

Atibaia é a capital paulista da prática do Voo Livre

Atibaia torna-se Estância Climática

34ª Festa das Flores e Morango Atibaia

Inauguração do “Grupo Escolar José Alvim”

Nome oficialda cidade: Atibaia

Fundação do primeiro jornal: “O Itapetinga”

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Histórico

uma na çãoEstabelecer e conquistar para construir

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uma na ção

Para podermos entender o contexto das cidades que surgiram no interior do Estado de São Paulo, é necessário compreender uma das figuras mais emble-máticas de nossa colonização do século XVI, que é o Bandeirante. Curioso hoje em dia analisar os nomes dados a nossas rodovias paulistas, pois a maioria de-las homenageiam esses desbravadores que abriram caminhos muito perigosos no “sertão” de nosso es-tado, como Fernão Dias, Anhanguera, Bandeirantes, Raposo Tavares, Tamoios etc. Os Bandeirantes são retratados, na maioria dos livros e mesmo estátuas, vestidos de com uma pomposa roupa, demonstran-do força e poder com suas botas de cano alto, mos-quetes belíssimos e chapéus de fino acabamento. A eles atribuem-se porções enormes de terras conquis-tadas, verdadeiros latifúndios, propriedades gigan-tescas que cobriam vales e montanhas ao mesmo tempo. Poderíamos levar até um dia inteiro para per-corremos ao lombo de uma mula, em sentido reto, uma propriedade e, talvez, não chegássemos ao fim. Porém, a realidade não é bem essa. José de Alcânta-ra Machado (1875-1941), em seu livro “Vida e morte do Bandeirante”, consegue abrir nossas mentes para o período seiscentista mostrando-nos, por meio dos inventários feitos dos bandeirantes, a realidade nua e crua do estado. O que para nós, conquistarmos hoje um espaço ao sol, comprar uma casa ou um sítio é quase insano devido o valor, naquela época, a ter-ra era o que menos valia. Não possuíamos produtos manufaturados, então um vestido de veludo ou uma peça de louça eram centenas de vezes mais valiosos que um território inteiro! Lei da oferta e da procura. Os Bandeirantes tinham que buscar recursos e estes não estavam mais no litoral, precisavam de nativos para trabalhar na lavoura e do ouro. Embrenhavam-se mata adentro a caça de índios ou mesmo travavam sangrentas lutas com estes. Lutavam também com as diversas doenças, muitas mortes nas caravanas e a maioria não conseguia voltar para suas casas. Uma vida de pobreza, esquecidos além da muralha (Serra do Mar), onde Deus poderia ser a única forma de con-solo desse estilo de vida.

Estabelecer e conquistar para construir

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caçador de índios, desbravador do sertão, figura enigmática, polí-tico, fiscal e juiz ordinário de São Paulo. Foi casado com Ana de cerqueira, com quem teve cinco filhas: Maria Pires de camargo, Ana Maria de camargo, Leonor Domingues de camargo, Filipa Vaz e Isabel de Ribeira. Faleceu em Jundiaí, em 1707.

Jerônimo de Camargo

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Histórico

Pelas idas e vindas dos Bandei-rantes na busca do metal precioso e de mão de obra escrava, muito locais de parada foram surgindo ao longo do caminho, locais estes que possuíam atrativos propícios aos viajantes e aos que se fixavam para então poder montar seus pe-quenos e rudes negócios. Estes locais, ao longo do tempo, foram transformando-se em pequenas vilas, freguesias e enfim, cidades. E Atibaia, teve seu início dentro deste contexto. Uma parada com muitas possibilidades de fixação de uma população, para auxiliar os que viajavam. Aconteceu com o Bandeirante Jerônimo de ca-margo que construiu sua fazenda de gado São João Batista e, no cimo de uma colina regada por um rio, erigiu a primeira capela de mesmo nome, em 24 de junho de 1665. Esta data marca o aniver-sário da cidade.

Mas o povoado começou a sur-

gir com a vinda do padre Mateus Nunes de Siqueira e os índios gua-rus, já catequizados, a pedido da câmara Municipal de São Paulo. Padre Mateus instalou-se ao lado da Fazenda São João Batista e, ali, como parada obrigatória dos via-jantes, o povoado começou a se desenvolver.

“avia descido do sertão canti-dade de gentio, goarulho o coalpor desijar de se chegar ao gremio da santa madre igreja, vinha reseber a agoa do santo bautismo; he que o dito reverendo padre avia fei-to algum gasto para o deser; he trazer a povoado; somente com o selo da salvação do dito gentio; no que avia trabalhado; ansiozamen-te; sem genero de interes; mais que o seo fervor cristão; o coal gentio ja estava en povoado he ter-mo desta vila; na paragen chama-da Atubaia; e que o dito reverendo pe. entregava; o dito gentio a elles ditos ofisiais para que formasen

aldeia...” (em 3 de julho de 1665 - atas da câmara de São Paulo - vol., anexo ao vol. VI pág. 428 – extraído do livro História de Atibaia Volume I – João Batista conti)

Estabelecida no mapa paulista, Atibaia recebeu muitos dos mais ferrenhos sertanistas que passa-ram por aqui, como Fernão Dias e Dom Rodrigo castel Blanco.

Praça Claudino Alves - Hotel Municipal e Casarão Ferraz

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Histórico

Os sócios Major Juvenal Alvim, Benedito de Almeida Bueno, Fran-cisco Aguiar Peçanha, Francisco Pires de Camargo e Olegário Bar-reto fundaram a Fábrica de Teci-dos São João e depois chamada de Cia. Têxtil Brasileira em 1911. Com 80% de maquinário inglês, 240 teares, 650 trabalhadores e uma produção de 11.000 metros de tecido por dia, produzia brim, xadrez e artefatos de algodão. Sua produção era vendida para todo o país. O relacionamento patrão-empregado era bom, pois a fábrica dava aos seus funcio-nários atendimento médico local, medicamentos, excelente restau-rante, cooperativa de alimentos e muitas outras regalias raras na-queles tempos, quando normal-mente funcionários eram tratados quase como escravos. Na metade do século passado, infelizmente a fábrica fechou suas portas, dei-xando uma grande lacuna de for-ça de trabalho na cidade.

Atibaia

Companhia Têxtil Brasileira

Difícil é saber realmente a origem do nome de Atibaia. Sabe-se que é em tupi, porém pode haver muitas variações como Tybaia, Thibaya, Atubaia, que podem significar rio da feitoria, rio alagado, morro depen-durado, água saudável, trançada, revolta ou confusa.

Situada bem no centro das maiores cidades já fundadas do Estado, Atibaia sempre participou das grandes decisões políticas nacionais, com integrantes de várias tendências partidárias. Em todas as mu-danças do cenário brasileiro, os atibaianos travaram fervorosamente debates ideológicos, demonstrando assim, um alto sentimento pela liberdade de opinião entre os mais esclarecidos da cidade. Exemplos não faltam das acaloradas discussões na câmara: “Afastada a causa que me obriga a um silêncio bem à contra gosto, isto é, não sendo mais governador d’este estado, o meu velho amigo e companheiro de luctas, Dr. Prudente de Moraes, passo hoje comodamente a declarar que desde o dia 15 de Abril, as cousas políticas n’esta localidade cor-rem sem responsabilidade alguma, nem sugestões de minha pessôa. A permanência daquele distincto cidadão, na culminancia governamen-tal em se achava, a necessidade de unificação dos animos para uma eleição pacifica, a primeira do nosso regime e organizadora da Consti-tuinte, deixam de actuar, como fica dito, e eu como outr’ora permaneço na mesma trajectoria em que me encontrou a República proclamada como instituição pátria. Si não exaltei-me com o seu advento, não pos-so curvar-me aos vencidos hoje vencedores: effeitos de temperamen-to ou orgulho de quem se conhece digno, ou ambas as cousas, deixe-me com ellas no meu isolamento de ebyonita, lembrando-se de que eu não os procurei, e sim fui arrancado de minha obscuridade, para ensinar-lhes a dignidade civica que não consegui.” 31 de outubro de 1890Olímpio da PaixãoFonte: livro “História de Atibaia – volume I – João Batista Conti Assim como os bandeirantes abriram caminhos para o desconhecido, os atibaianos abriram caminhos para a democracia.

Olímpio da Paixão no Primeiro Congresso Republicano

Obra Itajahy - acervo Museu Municipal João Bastista Conti

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Entre os anos de 1894 e 1930, o presidente da Re-pública foi eleito pelos paulistas barões do café num mandato, e no outro pelos pecuaristas mineiros. Era a chamada política do café com leite, viabilizada pela hegemonia da oligarquia cafeeira paulista na época e que garantiu a formação de uma economia agrícola praticamente monoexportadora no país.

Em 1929, a quebra nos mercados acionários do mundo provocou uma forte queda nos preços inter-nacionais das commodities. “O Brasil era fortemente dependente das exportações de café, e tinha uma enorme dívida externa, que precisava ser financiada com essas vendas”, afirma o professor de História Econômica da FEA-USP, Renato Colistete.

Além da queda nos preços, a crise provocou uma diminuição na renda e no consumo no mundo todo, prejudicando ainda mais as vendas de café. As expor-tações do produto, que chegaram a US$ 445 milhões em 1929, caíram para US$ 180 milhões em 1930. A cotação da saca no mercado internacional, caiu qua-se 90% em um ano.

Com o monopólio inglês da Ferrovia São Pau-lo Railway Company sobre o escoamento de café que ia de Jundiaí até o porto de Santos, muitos cafeicultores do início do século XX decidiram cap-tar recursos para construção de trechos de ferro-vias que ligassem seus domínios a esse ramal. A produção de café no interior de São Paulo era crí-tica, pois o produto era carregado pelos tropeiros, carros de boi e outros meios rudimentares até a ponta da SPR, o que levava muito tempo e elevava também o custo. A união de produtores começou a vislumbrar outra etapa importante de desenvolvi-mento da história do Estado de São Paulo e, com isso, suas cidades. Esse é o começo da Estrada de Ferro Bragantina, em 1872, que tinha início em Campo Limpo Paulista e seguia até Bragança Paulista, finalmente terminada em 1884 à base de pás e picaretas. Em 1903, os ingleses compraram a Bragantina para evitar que a Estrada de Ferro Mogiana abrisse um trecho em Amparo que escoaria o café até o porto da cidade de São Sebastião. Para esse intento, o novo trecho teria que passar obrigatoriamente em Atibaia, esbarrando na Bragantina. Então, para manter o monopólio do transporte do café, a SPR adquiriu a Bragantina e estendeu-a até Vargem. Também construiu um tronco no Bairro Caetetu-ba de Atibaia até Piracaia. Com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, quando a maioria dos cafeicultores faliu, o sentido da Ferrovia Bragantina foi perdido.

Crise de 1929

Estrada de Ferro Bragantina

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FogueiraNa tentativa de conter a queda, o governo federal

comprou grande parte dos estoques dos produto-res, e queimou 80 milhões de sacas do produto. “A ideia era queimar para diminuir a oferta e aumentar o preço internacional, porque o Brasil era o maior país exportador”, segundo Marcos Fernandes, co-ordenador do Centro de Estudos dos Processos de Decisão da FGV-SP.

“A crise arruinou a oligarquia cafeeira, que já sofria pressões e contestações dos diferentes grupos urba-nos e das oligarquias dissidentes de outros Estados, que almejavam o controle político do Brasil”, explica Wagner Pinheiro Pereira, doutor em História pela USP e autor do livro “24 de Outubro de 1929: A Quebra da Bolsa de Nova York e a Grande Depressão”.Fonte: www1.folha.uol.com.br – Giuliana Vallone

Então, o ponto central das atividades econômicas vol-tou-se para as indústrias. E foi deste ponto que ocorreu o êxodo rural, aumentando demograficamente centros urbanos e esvaziando o rural. Rodovias foram abertas e, em 1950, a Ferrovia Bragantina foi fechada.

Locomotiva

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Museu Municipal João Batista ContiTombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1956, o antigo prédio da Cadeia e Câmara pas-sou a ser, em 1960, o Museu Municipal João Batista Conti. Essa edificação, de taipa embaixo e pau-a-pique no andar de cima, foi construída em 1836 pela pre-feitura, com o auxílio financeiro do Governo Provincial, e passou por algumas reformas nos anos de 1856, 1870, 1888 e 1959. Em seu acervo, podemos encon-trar decretos do Brasil Colônia e Império, numismáti-ca, fotografias antigas da cidade e de patriarcas, um

Um jogador de primeira e muito influente nas altas rodas paulistanas, César Memolo, sempre que podia, fazia torneios em sua própria casa. Porém havia o problema de como acomodar todos os hóspedes. Então, César teve a gran-de iniciativa de construir o primeiro hotel campestre do país, com capacidade suficiente para hospedar tanto seus amigos, assim como outros turistas. Foi em 1943, que surgiu o Hotel Campestre Estância Lynce. Seus hóspedes foram um dos que mais fizeram propaganda das terras maravilhosas de Atibaia, pois eram recebidos como se estivessem em suas próprias casas. Assim descreve Memolo o seu hotel: “Relegai ao esquecimento o luxo e a ostentação supérflua e imitai, em simplicidade, lhaneza e camaradagem a natureza que vos cerca, e tereis aqui o prolongamento do vosso lar”. Hoje o hotel recebe o nome de Gran Roca e continua a ser um dos locais mais charmosos para uma estada na cidade. Com grande infraestrutura e uma preocupação de sempre estar trazendo aos clientes oportunidade de conhecer melhor a história de Atibaia.

Hotel Campestre Estância Lynce

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Histórico

enorme acervo folclórico entre outras raridades, não só do município, mas também de outras regiões do Brasil. Seu organizador foi João Batista Conti, que em sua homenagem, nomeou o Museu. “Atibaiano João Batista Conti, intelectual brilhante, iniciou a preser-vação da memória atibaiense colecionando peças e

documentos importantes que permitiram a fundação do Museu Municipal de Atibaia que leva seu nome... Fluente em idiomas como francês, inglês, espanhol, italiano e latim, auto-educou-se (sic) em diversas áreas, dentre elas o direito, profissão que exerceu na comarca de Atibaia inscrito sob o número 1099 da OAB. A pesquisa do fol-clore atibaiense lhe valeu medalha Silvio Romero, concedida pelo Governo do Distrito Federal, durante o 1º Congresso Brasileiro de Folclore... Nessa área forneceu subsídios para diversos folcloristas e escritores, den-tre eles Mário de Andrade e Rossini Tavares de Lima.” Fonte: “História de Atibaia” – volume I – João Batista Conti

Peça de Yolando Mallozzi - Meditação

Peça de Yolando

Mallozzi - A Família

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A primeira fornecedora de luz elétrica para a cida-de de Atibaia foi a Empresa Bragantina de Força. O contrato com a empresa expiraria em pouco tempo e uma renovação faria com que os valores cobrados pela força fossem exorbitantes. Então, o Major Juve-nal Alvim, em 1925, conseguiu a doação de terras da família Pires de Camargo para que no rio Atibaia, na altura do Salto, a mesma fosse construída. Com o represamento da água, ficaram imersos 60 alqueires de terra. Depois de várias intempéries, a Usina foi inaugurada em 1928. Ela chegou a fornecer energia

Usina Hidrelétrica de Atibaia

Histórico

Com o ideal de seu pai, Capitão José Alvim de Campos Bueno, de construir uma escola pública, o então presidente da Câmara, Major Juvenal Alvim, a

todo o custo (que era alto, em torno de 34 mil contos de réis), doou o terreno e aprovou a “Lei dos Fogões”, uma espécie de IPTU, para todas as famílias, que, em sua maioria, não gostou. E, em 1905, Atibaia tornou-se uma das primeiras cidades do país a ter ensino público obrigatório. Verificamos que muitos dos nossos entrevistados estudaram no José Alvim e falaram com muito carinho e amor dos tempos de criança vividos com intensidade.

Escola José AlvimFO

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rua José Alvim

para as cidades de Jarinu, Bragança Pau-lista e Bom Jesus dos Perdões. Em 1970, já sob o controle da CESP, deixou de fun-cionar. Nos arredores da usina, abrigou vários agricultores, principalmente os plan-tadores de pessegueiros, e tornou-se um bairro, o Bairro da Usina, nome conserva-do até hoje. Hoje a represa é um excelente ponto turístico, com muitos esportes náuti-cos. Futuramente, os prédios que abrigam o complexo da Usina formarão um museu e também será reativada.

escoadouro comportas

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Ferrovia Bragantna - Locomotiva

Caminhão de Carnes

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Memórias de um passado glorioso

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Ferrovia Bragantina - Estação atibaia

Local da Estância Lynce

antiga Casa de Câmara e Cadeia - atual Museu Municipal João Batista Conti

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CarnavalEscola de Samba da Vila - 1973

Família Saláfia - 1920

AcErVo FAmíliA ArAcEliS StAmAtiu

Uma deliciosa viagem ao tempo é o livro do autor Jamil Scatena, “Atibaia Samba Escola de Samba”, onde faz uma revigorante pesquisa da história do carnaval no Brasil e em Atibaia. Gostaríamos de colocar aqui todas as passagens desse enredo, que vem desde o entrudo, até as Escolas de Sambas organizadas, porém, faltam páginas. Então, co-locaremos as que achamos mais importantes.

“Semba ou Umbigada (na língua quimbundo), batuque, era assim que os escravos se manifestavam. Dançando em círculo e marcando o tempo com a palma da mão, entre ganzás, cuícas, atabaques. Liberados pelos feitores para que realizassem em certas ocasiões seus ritos, fa-ziam suas danças e aí o couro comia com o lundu, o jongo, e por aí a fora. É na palma da mão é na sola do pé.”

...Os escravos também eram liberados para a festa fei-ta em homenagem à colheita. Fantasiavam-se colocando suas máscaras e enchiam a cara, num carnaval desorga-nizado e sem ritmo.

...1904, a fusão da Sociedade Carlos Gomes e o Recre-ativo, organizam o “baile à phantasia”. ...O bacharel Au-gusto Monteiro de Abreu, Dr. Delegado de Polícia, baixou o centralismo, publicando que para sair fantasiado tem que

ter autorização. Não tem, vai em cana. Tem mais, o entru-do fica proibido e serão recolhidos os objetos para tal fim, tipo laranjinha – bola de plástico, com líquido dentro (dá pra imagina que tipo de líquido?) – bisnagas e quetais.

...Em 1929 serviu para lavar as mágoas dos brinca-lhões atibaienses. Tivemos o animado Zé-pereira e, nos carros alegóricos, senhorinhas e rapazes fantasiados para o corso. Conforme o prometido por Leão Propheta, presi-dente da Associação Recreativa Comerciários, o baile à fantasia foi o máximo, não só lá. No Recreativo Atibaiano foram duas noites no embalo do sucesso Dorinha Meu Amor, música de José Francisco de Freitas, o Freitinhas (1897/1956).

...No Rio de Janeiro, 1935, é criado o primeiro desfile oficial. Agora o samba tem nota: originalidade, harmonia, ba-teria. Foi uma maneira de se tentar botar ordem na casa.

...Garotas de Atibaia, marchinha de Pedro Cerbino em parceria com Lucas Bernardes, serviu para esquentar aquele carnaval de 1936, que, na interpretação de Os Ba-tutas de Ouro, veio mostrar que esse maestro gostava do carnaval de rua. Os cordões iam se firmando e surgiam as rivalidades. A Associação Atlética do Comércio não gos-

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Enredo: Velha Guarda/1956

Ritmo Clube 1958

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tou nada do nome que deram para o tema do seu enredo Quem é Bom Não se Mistura, e saiu chutando o pau da barraca. Fez anunciar “Ordem do Dia” na qual esclarece que não autorizava ninguém a dar nome ao seu cordão e que essa iniciativa partiu unicamente de determinados sócios, sem a menor interferência oficial da diretoria. O cordão do São João estava em franca rivalidade com o Ce-tebê que, para engrossar o caldo se juntou com os Batutas de Ouro. A prefeitura, pela primeira vez, libera uma grana para montagem e decoração de um “artístico” coreto na José Alvim, bem defronte à Pharmácia Popular, onde se apresentaram as bandas 1° de Março e 24 de Outubro. Os clubes travavam uma verdadeira batalha e anunciavam, tanto o Recreativo como o São João, bailes colossais com muita animação. Os Batutas de Ouro, sempre com a ideia de inovar, alugaram o Trianon-Cinema que ficava na Rua José Pires e avisaram a moçada “Venham dispostos, pois vamos ticar até o dia amanhecer”.

...Bloco da Natália. Falam, também, Samba da Natá-lia, que surgiu inicialmente junto com o Fausto Akoury, mas depois seguiu sozinha. Isso lá pelos anos de 1949-50. Várias pessoas com que conversei falaram dela, mesmo sem eu perguntar; papo vai papo vem e pimba; Bloco da Natália. O bloco durou até o início dos anos de

1960 e o Dr. Renato Zanoni descrevendo a formação desse bloco diz que só não tinha sopros, eram as cordas, os couros e a frigideira.

Em 1955 surge o Ritmo Clube....A presença de confete, serpentina e

lança-perfume era inevitável. Esses três elementos, intro-duzidos no Brasil no começo do século XX, substituindo o entrudo, aquela guerra maluca de água e outras coi-sas, animavam as festas de salão e de rua.

...Para cobrir a ausência da rádio, existia na Praça da Matriz um par de alto-falantes que tocavam músicas o dia inteiro e, fazendo o papel do rádio, anunciavam os seus “reclames”, divulgando as ofertas das lojas e informando os horários dos ônibus que partiam da rodoviária. Foi então que em 1955 surge a primeira estação de rádio de Atibaia, com o nome de Rádio Téc-nica de Atibaia-ZYR-95.

...Associação dos Boêmios e Biriteiros de Atibaia (A.B.B.A.) nasceu, num bate-papo no bar do Marrom Glacê que ficava na praça da Matriz. Esse bar era o ponto da época. O nome nasceu inspirado na Abebei – Associação dos Boêmios e Biriteiros de Itaparica. Contato com o autor: [email protected]

Dedicatória Dona Zica - esposa de Cartola - 1949

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Carnaval

“A VOLTA DOS BONECOS GIGANTES – UMA EXPERIÊNCIA DE ARTE EM EDUCAÇÃO”No mês de fevereiro de 1903, confetes e serpentinas espalhados e mariolas (leia-se rapazes “sem vergonha”) de máscaras perambulando pelas ruas do centro, perguntando aos transeuntes: “ Você me conhece? ... Você me conhece?...” Era o início, embora acanhado, do zé-pereira. “A origem do bloco zé-pereira em Atibaia remonta da época dos escravos, quando da construção da Igreja do Rosário (século XVII). Aos domingos esses escravos trabalhavam até a hora do almoço, depois se reuniam próximo à obra da igreja e no lundu cantavam acompanhados de cavaquinho, reco-reco”. Renato Zanoni.Uma tradição que vem alegrar a todos os foliões e espectadores do carnaval de Atibaia que começou em 1917: os Bonecões Gigantes, que hoje conta com o incentivo da manutenção dessa pitoresca apresenta-ção por meio do professor Edson Antônio Gonçalves, mais conhecido como professor Beleza, que resga-tou essa arte e trouxe, a partir do ano de 2000, os bonecões de volta ao palco das ruas. Três anos de-pois, Beleza já contava com 13 bonecos dançando ao som das marchinhas carnavalescas. O sucesso foi tão grande que hoje, a maior festa popular do mundo, conta com 100 bonecos e mais de 10 mil pessoas seguindo-os, pulando e dançando. Foi uma busca no passado, empreitada por Edson com pes-quisas, muito suor e também um trabalho social em conjunto com alunos que colocaram as mãos na massa de papel machê e muito arame.

ABBA – Associação dos Bonecões de Atibaia

Primera foto do Bonecão - 1917

Ala dos Tamborins 1988 - Bloco ABBA

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Religiosidade

persistem em vencer

Igreja da Matriz

Em Atibaia, no centro ou nos bairros periféricos, sempre nos deparamos com alguma expressão espiritual. Além das igrejas Matriz e a do Rosá-rio, vemos ermidas salpicadas pelas estradas de terra, guardando suas histórias, suas crenças e suas tradições. Um povo movido pela fé, que demonstra seus sofrimentos e suas gratidões. Um local que define suas heranças e seus desafios em construções sólidas.

Construída por Jerônimo de Ca-margo, em 1665, e ampliada em 1865 por José Lucas, tem em seu interior ícones espanhóis trazidos

O bem mais valioso dos que

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pelos padres agostinianos de Cas-tela, que aqui permaneceram por 24 anos, no início do século XX. A pintura original do altar-mor era a do Crucificado e depois foi substi-tuída pelo grande painel “Batismo de Jesus”, pintado por Benedito

Altar-morIgreja Matriz São João Batista

Fachada Igreja Matriz São João Batista

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santo padroeiro de Atibaia, nasci-do em Aim Karim, aldeia próxima a Jerusalém. Judeu ativo, é consi-derado o homem que “chamou” o povo judeu à vinda do Messias (Jesus). Ele foi a ligação entre o Velho e o Novo Testamento. De hábitos mudados, voltado ape-nas à conduta cristã, Batista foi o precursor do batismo, batizan-do o próprio Cristo. As atitudes de João provocaram a ira de He-rodes Antipas, que achava suas práticas uma insinuação para rebeliões e, consequentemente, mandou degolar sua cabeça.

exéquias na matriz

São João Batista

“Em 1749, nossa cidade se chamava Freguesia de são João Batista e tinha como vigário da Matriz o padre salvador Cardoso. Nessa épo-ca, as irmandades eram poderosas nas igrejas. A Matriz de são João Batista estava composta de três Irmandades: do santíssimo (a mais rica); das Almas e a de Nossa senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na Freguesia estavam edificadas 472 casas. De acordo com o Clero de são Paulo, a Matriz podia cobrar as sepulturas de quem quisesse a graça de ter ali no solo da Igreja o seu jazigo. O preço variava conforme o privilégio do lugar. Em frente do altar-mor (o transepto), até a grade de comunhão eram cobrados 10 cruzados; no corpo da igreja (a nave) até a portada 2 cruzados; e apenas meia pataca, no adro fronteiro. A igreja tinha o piso atijolado até o ano 1798. Nesse ano, o vigário Frutu-oso José Furquim, primeiro Padre da terra, colocou soalho de tábuas e mandou gravar os epitáfios nas sepulturas. As igrejas do Brasil cheira-vam mal, por causa desse costume, havia sempre uma emanação de carniça no ambiente. Tal costume foi sendo abandonado e no decorrer dos anos 1800 organizaram-se cemitérios públicos nas cidades. Daí, o costume do uso da essa nas missas de réquiem. Aquele impres-sionante estrado com caixão vazio e coberto de preto. Os quatro can-delabros acesos completavam a cena elegante. só em 1902 que o Coronel João Pires de Camargo e seus filhos, por iniciativa própria, renovaram o piso da Matriz. Pagaram canteiros a trabalhar na serra e lavrar lajes de pedra. As belas peças de cantaria foram colocadas com grande perícia e a Igreja ficou fresca e salubre. Essas pedras, décadas depois, foram retiradas para receber o piso de ladrilhos. Conservou-se o primeiro degrau do frontispício, para dar o testemunho do zelo dos Pires de Camargo. Ainda podemos encontrar calçadas com essas bo-nitas pedras, aproveitadas pela Prefeitura, quando foram descartadas da Matriz. Morreu o chefe da família. Luto fechado por um ano, até as mocinhas só se vestiam de roupa preta. Um ano sem dar gargalhadas. Antes da missa de sétimo dia a casa virava uma oficina, costuravam roupa preta, dia e noite. seis meses luto fechado. sétimo mês, aliviar o luto, fazer vestidos pretos com estampados brancos.”Texto de Renato Zanoni

O bem mais valioso dos que

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Calixto, em 1911, como pagamen-to do tratamento de sua filha que foi acometida pela tuberculose. Marco Zero da cidade, ponto aglu-tinador de ideias, ideais, políticos, partidos, comemorações religio-sas, ponto de paquera da juven-tude, proclamações oficiais, palco de toda a história da cidade.

Quadro de São João Batista degolado

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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de AtibaiaA Igreja do Rosário está localizada na Praça Guilher-me Gonçalves e os registros dizem que ela ficou pronta na segunda metade do século XVIII (1763) e surgiu como protetora das classes humildes, vis-to que os escravos não tinham permissão de rezar na Igreja Matriz de São João Batista – a Igreja dos brancos. É nela que acontecem as Festividades do Ciclo Natalino, como o Levantamento dos Mastros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, no dia 25 de dezembro; a benção da Cavalhada, no dia 26 e os cortejos, missas, procissões e reinado nos dias 27 e 28 de Dezembro, comemorando o dia de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. No dia 06 de janeiro, ou no domingo próximo a este dia, acontece o Descimento dos Mastros, encerrando o Ciclo Natalino. Todas estas cerimônias são tradicio-nais dos cinco grupos de Congadas da cidade, com mais de 260 anos de existência. A Igreja sofreu alguns períodos de abandono, mas a comunidade católica e os Padres conseguiram, através de fes-tas, rifas, quermesses e doações, realizar várias re-formas, como a de 1914, quando só havia uma torre e estava ameaçada de ruir. Em 1954, a Igreja do Rosário foi restaurada. Uma Comissão de Senhores incentivados pelo Padre Feliciano Grande não medi-ram esforços para tal empreitada. Em 2002, o Padre

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Religiosidade

Eugênio Luiz Berti conseguiu, por meio dos órgãos públicos e doações da comunidade, recursos para as obras na estrutura, telhado, paredes, altares e decoração interna. A calçada da frente da Igreja foi ampliada para uma melhor circulação dos grupos de congadas defronte a Igreja. Foi também criado o Museu do Escravo. LILIAN VOGELGerente de Folclore e Cultura Popular da Prefeitura de AtibaiaCoordenadora do Núcleo Pé da Serra – Comissão Paulista de FolclorePara saber mais sobre a história da Igreja do Rosário e do Ciclo Natalino no livro: “Viva São Benedito! Viva a Mãe do Rosário” de Lilian Vogel

Estão presentes em Atibaia cinco comunidades religiosas: o Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, a Congregação das Irmãs da Provi-dência, a Congregação Religiosa das Filhas de São Camilo, as Irmãs Carmelitas de São José e os Ir-mãos Eremitas da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Atuando nos segmentos da filantropia e prestação de serviços na área da educação, saúde e assistên-cia social, as comunidades cuidam de espaços sa-grados e exercem o testemunho da fé com proprie-dade e muita dedicação. Ativas na vida da cidade, as religiosas promovem eventos beneficentes, en-contros culturais e vivências dentro da fé católica.

Altar-mor Igreja Nossa Senhora do Rosário

Fachada da Igreja Nossa Senhora do Rosário

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Se você necessita de uma pausa, um descanso mental, um tempo para pensar em sua vida, é aqui que deve parar. O Santuário de Schoenstatt é um local de peregrinação de milhares de devotos a Nossa Senhora. Fundado em 1972 pela Comunidade das Irmãs de Maria de Schoenstatt, atualmente está entre os 150 maiores santuários do mundo. Essa comunidade teve seu início com o Padre José Kentenick, em 1885, na cidade de Vallendar, Alemanha, na localidade de Schoenstatt. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, 1914, Kentenick era o dirigente de um seminário. Com os obstáculo incalculáveis da guerra, os encontros com os seminaristas tornaram-se difíceis, então pas-saram a se encontrar em uma capela abandonada. Juntos, padre e seus alunos rogam a Maria Santíssima ajuda e em troca tornariam aquele local em um lugar sagrado a Ela. E assim aconteceu, porém, em 1941, Padre José passaria por uma provação; foi preso pela Gestapo e levado para o Campo de Concentração de Dachau e somente foi liberto em 1945. Depois de solto, foi para os Estados Unidos e só retornou ao Santuário em 1965, dando seu testemunho de fé superior nos tempo difíceis que passou e se emocionou com o desenvolvimento da sagração a Nossa Senhora de Schoenstatt pelo mundo. Kentenik faleceu aos 83 anos, em 1968. Seu movimento de fé está em 82 países e mais de 180 santuários.Onde: Rodovia Dom Pedro I, Km 78

Com sede em Sorocaba, as Irmãs da Providên-cia têm sua origem no norte da Itália, em 1837, e estão presentes em 10 países. Vieram para o Brasil em 1927, onde atuam em várias regiões. Praticam o testemunho da caridade vivido por São Luís Scrosoppi, padre fundador da Ordem. Estão em Atibaia desde junho de 1955. Em 1956, as irmãs fundaram a escola Externato São José, ins-tituição particular mais antiga da cidade. A escola oferece ensino tradicional da Educação Infantil ao Ensino Médio. A filosofia de ensino do Externato leva os alunos a uma vivência espiritual que dá sentido à vida humana.

Nas instalações da escola, encontra-se a Ca-pela de Nossa Senhora de Fátima, com entrada aberta a toda comunidade e calendário fixo das missas na cidade. A construção de 1963 tem vi-

trais coloridos que iluminam seu interior com as imagens dos santos de devoção de São Luís Scrosoppi. As imagens de São Francisco Xavier, Santa Teresinha, Nossa Senhora da Rosa Mística, Santa Catarina de Siena, São Pio X e São Luís Gonzaga dão beleza ao interior da capela acolhedora, juntamente com o vitral de São Caetano Thiene, que é o protetor das Irmãs da Providência. Um vitral da padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Aparecida, também está na capela. O vitral do Espírito Santo representa a inspiração que São Luís tinha para conduzir suas ações de caridade, em prol dos menos favorecidos.

O Santuário de Schoenstatt

as irmãs da providência

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Capela Nossa Senhora de Schoenstatt

Externato Vitrais Capela Nossa Senhora de Fátima

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Religiosidade

Com sede em Roma, a Congregação fundada por Giuseppina Van-nini e pelo padre camiliano Luigi Tezza, em 1892, está presente em diversos países da Europa, África e América Latina, atuando em vários estados do Brasil.

Inspiradas no exemplo de São Camilo, a congregação vive o carisma da caridade para com os enfermos. O trabalho das Irmãs Camelianas é conhecido em hospitais, ambulatórios, casa para idosos, instituições para portadores de HIV, crianças doentes e especiais, pessoas com deficiências físicas e mentais e portadores de hanseníase. A atuação Cameliana estende-se também à assistência a domicílio e prestação de serviço a comunidades carentes e missões, bem como educação e escolas profissionalizantes na área da saúde.

No Brasil, as Irmãs atuam em vários estados. Em 1997, o Institu-to Brasileiro Filhas de São Camilo veio para Atibaia, onde construiu o “Pensionato Maria Imaculada”, em um terreno doado por uma se-nhora simples e piedosa, que mora na cidade. No mesmo prédio, funciona também a Casa de Retiros Espirituais para as Religiosas Filhas de São Camilo da Província e a sede do noviciado da Província Brasileira, estabelecido desde o ano 2000, no espaço conhecido por “Vila Imaculada”.

A capela do local é pequena e aconchegante. De construção moderna e traços simples, encanta os fiéis pelo acolhimento iluminado por vitrais em tons de azul. São realizadas missas diárias na capela e o espaço é aberto ao público. Conta com participação exclusiva de mulheres, acima de 14 anos. As jovens do Brasil e de outros 14 países movimentaram a cidade na expressão moderna da devoção.

as irmãs Camelianas

capela das camelianas

Igreja menor cristo Rei

Padre José Kentenick

Paróquia São Pedro Apóstolo Bairro do Portão

capela Rosa Mística

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Colônia Japonesa

Ditado japonês

Como é interessante conhecer pessoas de culturas diferentes. Mais interessante ainda é a consa-gração da cultura. Com todo esse aldeamento global, muitas vezes perdemos nossa identidade como país e cidadãos, mas em Atibaia, a cultura japonesa é preservada de maneira íntegra. Quando visitamos a ACENBRA, Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Atibaia, tivemos a oportunidade de verificar a organização nipônica. Fazem do trabalho uma arte. Sorriso sempre na face e a solicitude à frente de

Após a década de 1950, as rela-ções entre Brasil e Japão voltaram à normalidade e o fluxo entre brasilei-ros e japoneses regularizou.

Com a imigração japonesa, nós nos beneficiamos principalmente de seus conhecimentos agrícolas, os quais introduziram ou incrementaram as produções de algodão, arroz, milho, juta, pimenta-do-reino, mamão havaí, melão, mangostão, rambutão, durião,

“Ao erguemos a vista

não vemos fronteira”

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tudo. Dá para entender como essa nação sobreviveu e ressurgiu das cinzas no pós-guerra. Eles são tão simples e ao mesmo tempo tão metódicos que tudo é o exemplo da perfeição. Valores que muitos deixaram para trás como se fossem obsoletos, para esse povo, são a pedra fundamental de uma existên-cia. O Brasil tem muito a agradecer aos imigrantes que chegaram aqui em 1908 pelo navio Kasato Maru. Trouxeram técnicas agrícolas, arte, esportes, religião, gastronomia, tec-nologia e o culto ao belo. O silêncio

é a marca de quem adentra em uma casa de japoneses, o sorriso e o convite para um chá.

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Vamos contar rapidamente sobre a motivação desse povo a vir aportar em terras brasileiras. A era Meiji – 1868 a 1912, do Imperador Meiji Tenno, pôs fim ao feuda-lismo japonês. Considerado “O Iluminado”, abriu universidades, incen-tivou a tecnologia, aumentou a produtividade industrial, abriu o país para o mercado mundial. Mas tudo isso teve um custo que prejudicou os agricultores. Os antigos senhores feudais armaram uma revolução e, com os gastos para conter a rebelião, desestabilizou severamente a economia. Com isso, houve forte campanha para a emigração japone-sa, com a Campanha Imperial de Emigração que já vinha pesquisando outros locais para estabelecer colônias. Primeiramente, foram para os Estados Unidos, Canadá e Austrália, mas esse incentivo acabou quando da chegada da Primeira Guerra Mundial. Com a escassez de mão de obra no Brasil, principalmente no oeste paulista, o Presidente Floriano Peixoto promulgou, em 1892, a lei que permitia a entrada de pessoas oriundas do continente asiático no país e, em 1895, firmou-se o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Japão Brasil. Então, em 1908, chegou ao Porto de Santos o primeiro navio de imigrantes japoneses, o Kasatu Maru, trazendo consigo 165 famílias. Mas nem tudo foram flores, muito pelo contrário, as dificuldades das diferenças culturais unidas ao trabalho quase escravo, fizeram com que muitos fugissem das fazendas cafeeiras e se estabelecessem ao longo das pa-radas das estradas de ferro. Talvez o período mais precário aos imigran-tes tenha sido a Segunda Guerra Mundial, com Vargas no poder. Com seu nacionalismo, proibiu qualquer comunicação em língua estrangeira, caçou os direitos políticos dos mesmos, escolas de idiomas foram fe-chadas e os que moravam no litoral tiveram que abandonar tudo o que tinham e foram levados ao interior para trabalhar nas lavouras.

acerola, cupuaçu, açaí e maracujá. Outro ponto para o crescimento dos produtos agrícolas foi a implantação de cooperativas, ideia japonesa com resultado em todo o país.

E Atibaia tem em seu território muito dessa cultura. Instalados aqui desde a década de 1920, eles formaram uma verdadeira rede de solidariedade para com os seus e estão sempre prosperando com dig-nidade e ética. Em uma expedição formada por Riuzo Aoki (cônsul do Japão), Harukiti Yamanaka e Kenkiti Shinomoto (fundadores da Coopera-tiva Agrícola de Cotia) saíram com o objetivo de buscar terras para novos cultivos. Foi quando Harukiti Yamanaka acabou fixando-se aqui arrendando enorme quantidade

flor de cerejeira

Morangos

Pêssego -um cultivo importante da colônia Japonesa

de terras para a plantação de ba-tatas. Com sucesso em seu novo empreendimento, muitos familiares e amigos também vieram para cá. Assim formou-se o Ciclo Batateiro de Atibaia. Com o fim desse ciclo, mui-tos permaneceram e trabalharam em outros produtos, desenvolvendo e importando tecnologia, em que o morango teve destaque. Também fo-ram pioneiros na cidade em outros negócios, como o primeiro armazém que vendia produtos japoneses e peixe fresco, o primeiro supermerca-do (chamado de supermercado Gar-ça, hoje BIG), o primeiro hospital par-ticular (Hospital Novo Atibaia), que começou com a necessidade de se ter médicos japoneses que podiam comunicar-se com os camponeses fO

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Colônia Japonesa

que ainda não falavam o português. Uma curiosidade era o bar de Toshio Matuoka, fundado em 1964, apelida-do de “Consulado Japonês”. O piso superior do local era o ponto de en-contro dos japoneses, sede da ACA – Associação Cultural de Atibaia, e também uma escola de língua japo-nesa. Neste bar, muitos agricultores mantinham suas caixas postais.

O que não podemos esquecer, que

é fundamental para os olhos e para a alegria de viver, é a floricultura. Atibaia chegou a fornecer 50% das flores do Brasil. Essa cultura começou nos anos de 1950, quando as primeiras flores a serem cultivadas foram os cra-vos e as gipsófilas e depois as rosas. Obviamente, a coisa não parou por aí, e esse segmento se esparramou por várias trilhas de inúmeras variedades e espécies, como a gypsophila.

Issei – imigrante japonêsNissei - filho de japonesesSansei - neto de japonesesYonsei - bisnetos de japonesesNikkei - descendente de japoneses nascidos fora do Japão

Classificação

Fujinkai Associação das SenhorasAs senhoras se reúnem principalmente para manter a cultura japonesa viva. Participam dos Eventos da ACENBRA, adquirem novos conheci-mentos, fazem cursos e palestras. Tudo começou em 1960, com Akimi Nishimura, inicialmente com 31 associadas. Uma das atividades que marcaram foi a introdução da gastronomia japonesa na cidade que, em 1978, vendeu mais de mil refeições típicas em apenas 8 dias.

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“A ikebana é originária da Índia, onde os arranjos eram destinados a Buda, e se personalizou na cultura nipôni-ca, que a tornou mais conhecida. Em contraste com a forma decorativa de arranjos florais que prevalece nos países ocidentais, o arranjo floral japonês cria uma har-monia de construção linear, ritmo e cor. Enquanto que os ocidentais tendem a pôr ênfase na quantidade e no colo-rido das cores, dedicando a maior parte da sua atenção à beleza das corolas, os japoneses enfatizam os aspectos lineares do arranjo. A arte foi desenvolvida de modo a incluir o vaso, caules, folhas e ramos, além das flores. A estrutura de um arranjo floral japonês está baseada em três pontos principais que simbolizam o céu, a terra e a humanidade, embora outras estruturas sejam adaptadas em função do estilo e da escola. Dentre os mais diversos estilos de ikebana, destaca-se a Academia de Ikebana Sanguetsu. Esse estilo busca representar uma forma de se chegar ao equilíbrio, à simplicidade e à beleza. O san-guetsu, que tem, como princípio básico, o sentimento de respeito à natureza que norteou a vida de Mokiti Okada, cria composições capazes de refletir a beleza natural das flores em sua forma mais pura, levando alegria e paz às pessoas que apreciam os arranjos.”Fonte: wikipedia.org

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Undokai

Bon Odori

O Undokai é uma gincana que reúne toda a família, paren-te e amigos para realizar atividades e brincadeiras diver-sas e teve sua primeira edição em 1953.

Uma celebração milenar às almas dos antepassados, que acontece sempre depois do pôr-do-sol, com músicas tradi-cionais e alegres. Em Atibaia, acontece apresentações em festividades, utilizando dois tambores grandes (oodaiko), dois pequenos (kodaiko), três flautas e um cantor.

“A sua origem data de vinte mil anos e sempre este-ve ligado a situações especiais de festas e guerras. O Taikô (tambor) nos seus mais variados formatos e no-mes, tem como resultado um som único, que evoca sen-timentos de ânimo, força, alegria e coragem e alcança longa distância o que lhe conferia, primitivamente, o pa-pel de meio de comunicação e incentivador de guerrei-ros nas batalhas. Nas cerimônias religiosas, assumiam um caráter místico, soando para elevar o espírito.” Fonte: livro “Seiryu, nossa terra” – Araceles Stamatiu e Neusa Matuoka

Em 2002, foi fundado por Akimasa Aoyama e Nelson Takao Yoshida o primeiro grupo de Taikô, com 53 mem-bros e o estilo kawasuji da província de Fukuoka.

Taikô

Pinheiro com mais de 70 anos Jabuticabeira

Originária da China, essa arte foi para o Japão com a seita Zen e os primeiros registros das árvores em miniatura datam de 1192. Bonsai significa planta na bandeja e o ,que antes era uma arte da nobreza, logo se popularizou. Atualmente, em Atibaia, temos um dos últimos mestres de Bonsai, Mestre Osamu Hidaka, que tem mais de 5 mil plantas, as quais cultivou com muita técnica e amor.

Bonsai

“Apresentação que envolve a todos”

www.atibaiataiko.com.br

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O legado ao povo brasileiro

Softbol

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Talvez seja o esporte mais simbólico para a colônia japonesa em Atibaia, pois foi o aglu-tinador de ideias e necessidades. Tivemos o prazer de assistir a um jogo e foi surpreen-dente ver a participação dos espectadores. Nos anos de 1988 e 1989, o time conquis-tou o título de Campeão Brasileiro. Em 2006 e 2007, Vice Campeão. Em 2012, Campeão Brasileiro Interclubes. Seus frutos são inegá-veis para a cidade assim como para o país, pois André Rienzo tornou-se estrela interna-cional como arremessador do Chicago Withe-Sox da Liga Norte-americana de Beisebol. O atual coordenador do Beisebol é o Sr. Shuhei Tsuji, envolvido no esporte há 45 anos.

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Beisebol

Colônia Japonesa

Além dos inúmeros avanços tecnológicos que os japoneses trouxeram para Atibaia, outros fatores que formam sua cultura devem ser relatados.

“Assim como no beisebol, o softbol é dividido em innin-gs, que são um conjunto de uma defesa e um ataque de um determinado time. Porém, em vez de nove innings, como no beisebol, um jogo de Softbol tem apenas sete. Outra característica marcante do softbol é o arremesso de bola. Neste esporte, ao contrário do beisebol, a ar-remessadora deve fazer o movimento com o braço de baixo para cima, obrigatoriamente com o punho e coto-velo alinhados verticalmente. A bola utilizada e o cam-po de jogo do softbol também têm suas diferenças em relação ao beisebol. A bola é maior e mais leve (30,4 cm de circunferência e 165,5 gramas), e o campo tem dimensões menores (60,96 metros de raio). No softbol, a corredora não pode sair correndo da base a qualquer momento, como no beisebol. Ela deve esperar até que a arremessadora solte a bola para iniciar a corrida para outra base, que é dupla, uma para a jogadora de defesa

e outra para a jogadora de ataque. Não existe empate em uma partida de softbol. Caso o placar permaneça igual ao final dos sete innings, serão disputados mais três. Se a igualdade persistir, será realizado o desempa-te, no qual cada equipe inicia o ataque com uma corre-dora na segunda base.” Fonte: http://esporte.hsw.uol.com.br

Em Atibaia, no Elefantão, a equipe campeã nacional por 7 vezes se reúne para treinar. Um destaque para Cecília Mika Someya que, em 2001, foi convidada para fazer parte da equipe DENSO-JAPÃO, em 2004, participou da seleção japonesa sub 23, em 2005, na seleção principal e, em 2008, nas Olimpíadas de Pequim conquistou medalha de ouro. O atual técnico do time, Mário Katsumi Jisaka, afirma que as atletas persistem no esporte graças ao empenho das famílias, que se esforçam para manter o Softbol vivo e atuante nos campeonatos. Prestes a completar 20 anos, o time de Atibaia mantém os treinamentos e participa dos torneios entre os melhores do Brasil.

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O legado ao povo brasileiro

Kendo“É a arte japonesa do manejo da espada. A sua origem re-monta há mais de 657 anos AC. O Kendo não se limitava só à defesa pessoal, ou à sua utilização em guerras, mas continha um outro objetivo, que era adquirir um espírito. Uma vez que a prática com espadas de combate em aço ou madeira maciça, provocava vítimas desnecessárias, por volta de 1710 passou a ser praticado com espada de bambu “shinai”, menos perigosa, usada ainda hoje.”Fonte: livro “Seiryu, nossa terra” – Araceles Stamatiu e Neusa Matuoka.

Em Atibaia, o precursor foi o Sr. Yoshida, Engenheiro agrônomo, nascido no Japão, chegou ao Brasil na dé-cada de 60 e fixou-se em Atibaia quando se aposentou e passou a ensinar a arte do Kendo para disciplinar ca-ráter humano pelos fundamentos do princípio do Doo no Shissoo – caminho e busca. A vestimenta é linda e cheia de simbolismos que é formada por uma saia pregueada, hakama, formada por sete dobras: Yuuki – valor; Jin – benevolência; Gi – justiça; Rei – corte-sia; Makoto – sinceridade; Chuugi – fidelidade e Meiyo – dignidade. E o bogu, que é uma armadura. Assim, temos um samurai.

“Criado em 1947 no Japão, logo após a II Guerra Mundial, por Eiji Suzuki, residente em Asahikawa, província de Hokkaido. Vendo o país abalado pela derrota na guerra, o fundador quis propiciar às crianças uma brincadeira divertida. A partir do crí-quete (esporte muito popular na Inglaterra), Suzuki idealizou o gateball, que não necessitava de muito equipamento e nem de grande área, ideal para o Ja-pão que possui pouca área e grande população. A princípio o esporte foi pensado para crianças, mas, com o tempo começou a ter grande aceitação entre os idosos. Nos fins dos anos 80, o gateball come-çou a “estourar” em Kyushu, e num piscar de olhos espalhou por todo Japão. O fundador Eiji Suzuki fa-leceu em 1983, aos 65 anos. Estava se dedicando para unificação das regras do jogo.”Fonte: http://www.gateballrengo.org.br/historia.php

Já aqui na cidade, o grande incentivador desse es-porte foi Hisaichi Takebayashi, na década de 1980. A cidade tem dois times: Estância e o da ACENBRA, com vários campeonatos ganhos.

Criado em 1882, no Japão por Jigoro Kano e trazido ao Brasil por Mitsuyo Maeda. Já em Atibaia, o Judô foi intro-duzido por Tadao Sunaga.

Proveniente da província de Hokkaido, no Japão, o Park Golfe foi criado em 1983. Muito semelhante ao golfe tradicional, diferencia-se pelas bolas, que são maiores e coloridas. O pessoal da terceira idade adotou-o como esporte e é praticado no antigo campo de beisebol do Bairro do Tanque aos finais de semana. E, mais uma vez, a equipe já trouxe várias taças para casa.

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Mestre Yoshida: paramento de treinamento

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MIUKIFundada em 1981, a Associação de Produtores de Flo-res e Plantas Ornamentais de Atibaia hoje conta com 103 associados e tem uma forte ligação com troca de tecnologia com a Japan International Cooperation Agency - JICA, na qual “são realizados projetos de co-operação técnica com orientações técnicas de peritos, treinamentos no Japão ou a combinação de ambos, objetivando a formação de pessoal, a criação de orga-nizações / sistemas, o desenvolvimento de pesquisas ou a difusão técnica. Além disso, com o objetivo de dar continuidade e ampliar os resultados, são realiza-das também cooperações de follow-up com relação a cooperações passadas” (fonte: www.jica.go.jp). Com esse incentivo, a cidade tem vários laboratórios de bio-tecnologia. Hoje, Atibaia exporta flores para Portugal, Espanha, Holanda e Estados Unidos.

Pró-flor

Plantação de Crisântemo

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Colônia Japonesa

Dorothy Ameko Jones da Silva, como pode-se notar ao ler seu nome, é a verdadeira união de nacionalidades, o que ocorre frequentemente nos países americanos. É o exemplo de integração de usos e costumes diferentes. Quando nos recebeu em sua casa com seu marido, Pau-lo Alves da Silva, foi nítida essa integração. Ela retida, postura ereta. Ele tranquilo, conversador e ambos muito receptivos. Com o orgulho de contar as façanhas, os so-frimentos e as alegrias de sua família, Dorothy já estava com uma série de reportagens, fotografias e lembranças para mostrar a saga da imigração japonesa no Brasil e suas consequências. Seu avô, Shiguemassa Hashigu-chi e sua avó, Tani, que estava grávida, um filho e um cunhado, chegaram ao Brasil no navio Kasato Maru, em 1908, no Porto de Santos. Como todos, a família foi

Primeira nissei

enviada para o trabalho da lavoura em uma fazenda de café, na cidade de Pirajú, inte-rior de São Paulo. Com trabalho duro, foram para outra fazenda, porém de arroz, no in-terior do Rio de Janeiro. Após dois anos, Shiguemassa morreu de malária. Um triste fim para quem buscava um futuro melhor para a família. Então, Tani foi trabalhar como doméstica na casa dos Rodavalho e depois casou-se com o jornalista Rocro Kowyama. Com os acontecimentos da I Guerra Mundial, o casal e seus filhos mudaram para o interior de São Paulo e Kowyama, fundou o Jornal “Seminário de São Paulo”, que mais tarde passou a se chamar “Diário de São Paulo”. Rocro Ko-wyama foi o primeiro a fazer o dicioná-rio tupy-português-japonês, pois achou muitas similaridades entre as palavras tupi-guarani e as palavras japonesas. Voltando à gravidez de Tani, foi um perí-odo extremamente complicado, pois já na viagem ela sofreu demais com en-joos e até com fome. Ao chegar aqui, encontrou outro obstáculo, que era a comida, totalmente diferentes de seus costumes. Teve um parto pre-

maturo dando à luz Rosa, no dia 15 de outubro de 1908. Como qualquer criança prematura de sete meses, o bebê era muito pequeno e os outros trabalhadores acharam isso impressionante e comenta-vam o fato a todos, daí a fama dos japoneses nascerem muito nanicos. Mas Rosa Yoshi Hashiguchi nasceu para abalar as estruturas da época; além de ser a primeira

Família Jones

Rosa e Percy Jones

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nissei do Brasil, também foi a primeira a casar-se, 1930, com alguém que não pertencia à sua colônia. Em Bauru, conheceu o inglês Percy William Jones, funcionário da Light. Essa união causou tanto reboliço, que Rosa, no dia do casamento, levou vinhos e doces tradicionais ao consulado para receber seu castigo e depois foi embora com o marido. A Sra. Tani não se conformava com isso, chorava copiosamente, mas não adiantou nada, Rosa estava decidida. Com o tempo, Jones tornou-se o genro preferido de Tani, pois gostava de medicina e sempre tinha uma boa indicação de remédio para a sogra. Mas as agruras de uma vida naqueles tempos não eram um conto de fadas. Rosa e Jones trabalharam por 18 anos na Fazenda dos Ingleses, em Caraguata-tuba, onde geraram seus três filhos e depois se mudaram para a cidade de São Paulo. Rosa foi professora de In-glês por muitos anos, e também traba-lhou como secretária de um advogado.

Quando se aposentaram, fixaram-se em Atibaia, cidade escolhida por amor e admiração.

Hoje, Dorothy, neta de Tani, mora em Atibaia. Com o fruto do trabalho de seus pais, apo-sentou-se como secretária executiva bilíngue da Copebras, indústria petroquímica, e está casada há mais de 40 anos com seu marido descendente de português, Paulo.

Tani Doroth

Lembrança do navio Kasato Maru dada aos passageiros

Primeiro Dicionário Português-Japonês

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A Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Atibaia surgiu de forma espontânea no período da en-tressafra do cultivo das batatas quando os jovens se reuniam para a prática do Beisebol. Dentro do contex-to político, ainda na década de 1940, não podemos nos esquecer que os japoneses, aqui no Brasil, ainda eram vistos como inimigos. Certamente, o isolamento da comunidade era uma prática até de defesa. Com o tempo, familiares e amigos dos jogadores fizeram do beisebol um lazer e as reuniões em torno do “cam-po” foram crescendo. Os irmãos Matsuoka doaram um terreno para o Beisebol. Em 1952, foi formada a ACA – Associação Cultural de Atibaia, com os ob-jetivos iniciais de socialização, troca de informações técnicas de agricultura, formação cultural e moral dos jovens, apoio ao desenvolvimento da cidade, entre outros. Na época, não eram permitidas associações cujos membros fossem estrangeiros, portanto, foram registrados os filhos da primeira geração. A sede era conhecida como “seinen kaikan” (sede dos jovens), mas, com o decorrer do tempo, transformou-se em “bunkyo kaikan” (sede da associação). A vida da As-

ACENBRA

“Com o final da guerra, apareceu no Brasil a organização secreta Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos), fun-dada pelo coronel aposentado Junji Kikawa, que não aceitava as notícias de derrota do Japão na Segunda Guerra, atribuindo-as a uma invenção americana para enfraquecer o Imperador. Os japoneses radicados no Brasil dividiram-se entre os derrotistas (makegumi) e vitoristas (kachigumi). O Shindo Renmei perseguiu os japoneses que acredi-taram na derrota do Japão, até ser sufocado por uma ação do Presidente Dutra, no final de 1947, que condenou à expulsão 155 membros do movimento. Apesar do fato não se consumar o movimento perdeu a força.”Fonte: Livro “Seiryu, nossa terra” – Araceles Stamatiu e Neusa Matuoka

Liga do Caminho dos Súditos

HOSPITAL

sociação não foi fácil, porque mesmo sendo formada por integrantes da mesma comunidade, a japonesa, a imigração teve dois períodos distintos: a primeira migração em 1908 e o pós-guerra. Se formos ana-lisar, foram muitos anos de aculturação da primei-ra geração, o que causou um choque para os que vieram depois. Foram muitas lutas para chegarem onde estão. Mas o maior desafio é dar aos jovens a continuidade dos usos e costumes de seus as-cendentes. Atualmente, a ACENBRA está em uma lindíssima sede na R. Dr. Eurico de Souza Pereira, 142, no Bairro Alvinópolis, e conta com diversos de-partamentos como: beisebol, coral, dança de salão, gatebol, karaokê, majan, park golf, shodo, softbol, taiko e a escola de idioma japonês.

Comunidade Japonesa

placa comemorativa

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A Noiva da Serra

Lendas

Uma das mais importantes e charmosas histó-rias de assombração de Atibaia é a da Noiva da Serra. Remonta ao século XVIII esse “causo”, tem-po da Freguesia de São João Batista de Atibaia. No contraforte da Serra Itapetinga, havia um fazendei-ro que tinha uma filha bonita e educada. Numa tarde apareceu na Fazenda um tropeiro que vendia panelas. O Tropeiro desarreou as mulas e foi ex-pondo as panelas no terreiro. A filha do Fazendeiro que se chamava Rosa veio também escolher uma panela e perguntou ao Tropeiro: “O que trás na-quela mala no lombo do cavalo branco?” – “São santos-de-barro.”– respondeu o moço. Retirada a mala de couro ele mostrou várias imagens. Num

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Podemos chamar de lendas, mitos ou causos, mas que aconteceu, aconteceu!Esse menino, no alto dos seus mais de 80 anos, nos brinda com histórias compiladas através dos tempos imemori-áveis da cidade. Advogado, agrimensor, pintor, profundo conhecedor da arte barroca e colunista do Jornal Atibaiense, Renato Zanoni nos brinda com curiosos fatos ocorridos que nos dá uma ideia do pensamento de uma época que o tempo levou para nunca mais voltar.

canto da mala tinha um saquinho de seda verme-lha e Rosa quis saber o que continha. – “É um Santo Antônio. Meu Santo de devoção e eu não o vendo. Ganhei de uma velha africana. Tem pode-res, essa imagem.” Rosa riu, tomou a imagem na mão e desafiou o Tropeiro, dizendo: “Que milagre ela faz?” – o Tropeiro respondeu:

“Não é milagre, é um feitiço. Esse santo emana uma fascinação. Eu não o vendo e para a moça que eu o der, ficará apaixonada.” “Então ele será meu” – Rosa tomou o santo e o levou para o seu oratório. Desde esse dia o Tropeiro não conseguiu prosse-guir viagem. Ele atravessava o Rio Atibaia e perce-bia que tinha esquecido alguma coisa na Fazenda e voltava. Rosa ficou perdidamente apaixonada pelo Tropeiro e o pai proibiu-a de ver o moço. Toda madrugada ele arriava os burros e partia e lá pelo meio-dia estava de volta. O Fazendeiro quis acabar com o encanto e moeu a imagem no terreiro. O Tro-peiro partiu e nunca mais voltou. Rosa adoeceu e morreu. Desde o dia do seu enterro, escutaram na madrugada, tropel de cascos e relinchos de cava-lo em volta da casa. O pai um dia teve coragem de olhar: – Era Rosa, vestida de noiva num cava-lo branco. Mas, tinha os pés de pato. Depois que escutei essa lenda, contada por Zezico Peçanha, lembrei dos conselhos de minha avó, Nhá Milinda: “menino não seja curioso, curiosidade mata.”

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Instauração da VilaNo dia de Todos os Santos, no início da tarde quen-

te, o céu carregado de nuvens prometia chuva. Apesar da instauração da Vila por mãos dos Pires, Lucas es-tava feliz. Todo o cerimonial do feito seria liderado por ele. Lucas hospedaria a Comitiva do Ouvidor. No fim da tarde, Lucas foi avisado que a Comitiva já atravessara o Ribeirão dos Porcos, e era vista no alto do campo. Acompanhado dos varões mais importantes da Fregue-sia montados em cavalos escovados, de crinas trança-das com fitas e ajaezados com os melhores arreios, desceram o Morrão, ao encontro da Comitiva que trazia o Ouvidor Dr. João Pereira da Silva e seu secretário Dr. Bustamante. Frutuoso Furquim vinha com a comitiva, muito imponente com dois pajens. Sorrindo por mo-mentos e esquecendo as quizilas, chegaram ao Largo da Matriz. O Largo e a Rua Direita estavam enfeitados com varetas de bambu e bandeirolas. Seguiram para o Solar de Lucas, para um breve descanso. Servido o jan-tar com assados e doces, os hóspedes se recolheram para o descanso da viagem. No dia 4 houve o Te-Deum e nos dias seguintes cumpriu-se o programado. No dia

Capitão do MatoAos juízes de Vintena, a Câmara de São Paulo atribuía

autoridade. O Juiz de Vintena, Inácio de Lima Prado, rece-bendo ordem expressa, suspende do trabalho o Capitão do Mato, por viver embriagado e não cumprir seu traba-lho. O rapaz era acusado nesta Freguesia, de rompância e abuso de poder no cargo, e já tinha os efeitos camoéca, tipo de delírium-tremens. Na Freguesia sabiam curar o mal-da-bebida, com chás amargos e benzimentos, mas o capi-tão-do-mato que se chamava Leandro Lopes de Camargo, caíra em desgraça com Frutuoso Furquim, em negligenciar sair à caça de um escravo fugido do fazendeiro. Sua besta arreada, ficava em porta de botequim. O pretendente ao cargo era sempre um homem truculento, de maus bofes e cruel. Se assim não fosse, não de adaptaria às tarefas de sua obrigação. Para os moradores da Freguesia e das fazendas, ele representava o mal necessário. Careciam dele e o desprezavam. Figura incomoda para se encon-trar num botequim ou numa estrada. Feitor de escravos e

5, depois da reunião da lavratura da instalação da Vila, os membros da Comitiva se recolheram na casa de Lu-cas. Havia na Vila aquela noite, uma alegria contagiante e nem mesmo o sinistro toque de recolher foi lembra-do. Ouvia-se o som na mãe-África com os românticos lundus. Mais ao longe, as cantigas dos congos com a dolente batida das zabumbas. Nos botequins, com bebida farta e estrondosas gargalhadas, o povo feste-java. Atibaia chegava à categoria de Vila. Correrias de cavaleiros pelas ruas espantando cães vadios. Porem, o Pelourinho não fora benzido, o Padre não estava na Vila. Algum tempo depois acreditavam que as Almas dos escravos ali supliciados reclamavam e a lenda do Pelourinho se perpetuaria por séculos. Causo contado por Nhá Olímpia, velha senhora de descendência afra, parteira da pobreza e benzedeira, que morava num cor-tiço da Rua Coronel João Pires. “No tempo de dante, fizero o Pelorinho pa castiga os escravo, no Beco do Gonzaga. O Padre num quis benzê, ficano o Pelorinho “sem-ficá-bento”. Começô então a aparecê “as Coisa”. Uma Mula-sem-cabeça, que corria por ali em sexta-fera, levano na garupa um Vurto Horroroso de feio, na garu-pa dos arrêo, virado pra tráis”.

capitão-do-mato eram considerados cartas do mesmo nai-pe. Cínicas criaturas do labor cruel. A necessidade dessas duas profissões a servirem pessoas religiosas, nos pare-ce hoje, paradoxal. A Câmara possuía escravos, e a Igreja também. A figura do Capitão do Mato amedrontava. Negro ou branco, seria homem livre. Montava uma mula bem ar-reada, na garupa trazia um laço de couro. Pelo arreio iam penduradas as peias e as correntes a tilintar. A garrucha na cintura e um rebenque trançado. Seus ajudantes, em número de três, eram escravos da Câmara, na ajuda da caça dos seus irmãos de infortúnio. Se fosse numa cida-de, os ajudantes seguiam montados, num pobre Arraial, eles iam correndo acompanhando a montaria do Capitão. A volta de uma caça bem sucedida, com a presa algemada e arrastada pelo burro eram cenas terríveis. Não se per-doava a fuga, o infeliz trazido já em mísero estado, ficava amarrado no Pelourinho até a chegada dos seus senhores, para serem castigados. Vez que, o Capitão do Mato e seus ajudantes ganhavam como prêmio, uma garrafa de cacha-ça e algumas patacas. Felizes os fugitivos que logravam chegar num quilombo.

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Expressão máxima da cultura popular, o folclore exprime a miscigenação de nosso povo. Ele é uma forma clara da importância, em todos os senti-dos, dos primeiros grupos que habitavam o Brasil. A mistura do branco, do negro e do índio fica clara nessas manifestações. A sincronia é tão grande nessa mistura que a religião e até o preconceito se perdem em meio a tanta beleza demonstrada em cada ritmo, em cada batida de mão ou de pé.

Folclore

Quem somos nós

Congada Azul de Atibaia Todos os seus 30 membros moram no bairro Morro Grande da Boa Vista e é um dos mais atuantes. Um dos versos da Congada Azul:

“Foi, foi, foi, foiFoi a rainha do marFoi meu São BeneditoQue me ensinou a dançar

O canarinho canta, o periquito choraAdeus, adeus, farda azul já vai emboraMeu São Benedito eu vou embora,O meu peito sente, o meu olho chora”

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Congada Rosa de Atibaia A Congada Rosa de Atibaia possui 50 membros espalhados pelos bairros de Jardim dos Pinheiros, Alvinópolis, Caetetuba, Vila São José e Jardim Imperial. “O grupo ainda conserva as espadas da época do império e da república, usadas nas danças.”

CongadaDiretamente do Congo, país africano, essa expressão cultural signi-fica a luta do Bem contra o Mal. Vários são seus simbolismos. Em sua origem, é uma luta entre o Rei e seu filho revoltoso. Já no Brasil, temos a versão da luta dos escravos contra seus senhores. Mas o que importa mesmo é o espetáculo e a emoção de poder participar de uma volta ao passado.

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Congada Verde de Atibaia

Congada Branca de Atibaia

Congada Vermelha de Atibaia

Com 46 componentes, “este grupo é responsável pela reza no Santo Cruzeiro, as Ladainhas nas manhãs, logo após as Alvoradas. Neste terno, também encontramos as espadas da época do império e da república”.

Do bairro do Portão e com 45 componentes, já tiveram por duas vezes Reis e Rainhas Congos do Estado de São Paulo coroados no “Revelando São Paulo”.

“Radicados na Chácara Regina, onde existe uma capelinha em homena-gem à Nossa Senhora Aparecida, o grupo tem hoje 15 componentes, que se encontram periodicamente para os ensaios”.

Reza das 100 Ave Marias

Domingas ou Domingueiras de Atibaia

Acontece no Bairro do Portão todo dia 25 de março, data esta em que o Anjo Gabriel anunciou a Maria que estava grávida de Jesus. Nesse dia, são rezadas 100 Ave Marias, intercaladas com outras orações.

Também pode ser chamada de Rezas de Capelão e “aconte-cem na serra do Itapetinga, na igrejinha de Santo Antônio, no terceiro domingo do mês. Co-meçam com a reza do terço, a ladainha de Santo Antônio (cantada ou não), em portu-guês – antigamente eram em latim, e o oferecimento da reza – pedindo saúde, prosperidade, proteção e paz para os faleci-dos.” A família do Sr. Antônio Bino aprendeu a rezar com seu avô: Benedito Pereira Bueno, o Zé Bino. Em cada Domingueira, uma pessoa fica responsável pelo lanche oferecido a todos e os outros levam prendas para a realização de um leilão. Já no mês de julho, na Festa de Santo Antônio, acontece a procissão que percorre o meio da mata com o andor do Santo e depois uma grande festa é feita com muita comida prepa-rada em fogão à lenha.

Congada Verde

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Malhação de Judas “No Brasil, sabe-se da malhação de Judas desde o século XVIII, quan-do, no Rio de Janeiro, os bonecos traziam fogos de artifício presos no ventre e que eram acesos nos sábados de Aleluia. No folclore, a figu-ra do Judas Iscariotes, o traidor de Jesus, foi substituída por críticas à situação do momento (políticos e governantes são os mais estere-otipados).” Atualmente em Atibaia, o boneco é colocado em frente à Matriz e dentro dele 5 quilos de doces e moedas, onde as crianças malham com paus e vassouras.

Fonte: “As Festas de Fé da Religião Entre Serras” - Lilian Vogel

Recomenda de Almas A Recomenda de Almas, como o nome já diz, é encomendar os mortos, típico dos moradores da área rural, onde era grande a dificuldade de se ter um sacerdote. Na época da Quaresma até a Semana Santa, em dias alternados, os “encomendadores” vão vestidos com um manto nas cabeças à porta dos devotos e cemitérios cantando os “Benditos” e rezando o Pai Nosso e a Ave Maria.

Romarias“Em Atibaia, o primeiro organizador de romarias foi o Sr. Benedito Prado, mais conhecido como Dito Prado, que perdeu sua única con-dução, uma égua que o ajudava principalmente a vir para a cida-de quando morava na Fazenda Pararanga, no bairro dos Pires. Ele conta que ainda não havia pago todas as prestações do animal. Sentou perto da capela da fazenda – projeto e pinturas de Victor Brecheret – e rezou. Prometeu ir a Bom Jesus de Pirapora a cavalo se conseguisse aumentar seus animais. Dois anos depois eram oitos os seus animais na romaria.”

Festa de São João Batista Como São João Batista é o padroeiro da cidade, todo o dia 24 de junho é feriado em Atibaia. “O dia começa com a Alvorada realizada pelos ternos de congo que cantam e dançam defronte à Igreja. Há queima de fogos e repicar dos sinos. Às 9h começa o desfile cívico e às 17h a Missa Solene, seguida da procissão em louvor a São João Batista... A Igreja também realiza novenas e são erguidos os mastros para São João Batista, Santo Antônio e o Divino Espírito Santos. Com a partici-pação da quadrilha da terceira idade.”

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Corpus Christi De origem Belga, representa o único dia do ano em que o San-tíssimo Sacramento sai pelas ruas em procissão. Não é uma celebração festiva, pois reme-mora a Morte de Cristo. As prin-cipais ruas do centro da cidade ficam decoradas com tapetes de diversos motivos feitos com serragem, pó de café e todos os elementos que possam mol-dar as formas desejadas pelos cristãos. As ruas centrais entre a Igreja Matriz e a do Rosário ficam cobertas por estes tape-tes maravilhosos.

Folcloresh

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Folia de Reis “A Folia de Reis é um festejo de origem portuguesa ligado às co-memorações do Natal. A tradição refere-se à passagem bíblica em que Jesus foi visitado pelos reis magos: Belchior, Baltazar e Gaspar. As Folias, também chamadas de Ternos ou Companhias, são grupos de pessoas que se deslocam de casa em casa, cantando e tocando (geralmente sanfona, pandeiro, vio-la, bumbo e até rabeca), antes do Natal e até o dia 6 de janeiro. Cum-prem geralmente alguns rituais de

Catira “A catira é uma dança típica brasileira e segundo algumas pesquisas, tem origem indígena. Não é uma dança devocional, mas sim uma recreação, geralmente só dançada por homens. A dança consiste num ritmo de bate-pés e palmeado, intercalados ou não, acompanhados de moda de viola (geralmente dois violeiros), tratando de assuntos variados. Os grupos possuem de 8 a 12 pesso-as.” Na cidade, dois são os professores desta manifestação: Sr. Antônio Estrada e Sr. Antônio Reis, que foram ensinados pelo avô e pai, respectivamente.

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Folclore

chegada e despedida, visitando amigos, realizando pedidos e pro-messas. Há sempre a figura de palhaços, com máscaras confec-cionadas de diversos materiais como pele de animais, papelão ou tecidos e roupas coloridas, dando saltos e divertindo a todos com sua cantoria e versos decorados. A figura dos palhaços representa os soldados do rei Herodes, em Jerusalém. Levam sempre a ban-deira, colorida, cheia de fitas e que é entregue ao chefe da famí-lia e depois fica ao lado do pre-sépio durante a visita do grupo. O dono da casa também tem por

hábito alimentar a companhia... Em Atibaia os foliões começam as peregrinações nas casas no mês de outubro e só terminam no dia 6 com uma grande festa para mais de mil pessoas; com almo-ço, missa à tarde, passagem da bandeira para os novos festeiros e um grande churrasco.”

Fonte: “As Festas de Fé da Região Entre Serras” – Lilian Vogel

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Arquitetura

paredes e fachadasHistória guardada em

O estilo arquitetônico das cida-des erguidas no Brasil no período entre o descobrimento do país pe-los portugueses e a independên-cia, em 1822, é chamado de Co-lonial, devido ao contexto político de nosso país. Como em Portugal, este estilo foi adaptado aos ma-teriais disponíveis nos locais de ocupação. Nas várias cidades em que estão preservadas as cons-FO

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Museu Municipal João Batista conti

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“Técnica construtiva de origem árabe utilizada na fatura de paredes e muros e que consiste no forte apiloamento de terra úmida entre dois pranchões de madeira removíveis que, no taipal, se mantém de pé e afastadas entre si graças a travessas ou escoras. A taipa de pilão caracterizou todas as construções paulistas dos séculos XVI, XVII, XVIII e primeira metade do XIX, numa persistência cultural decorrente, sobretudo, do isolamento causado pela dificuldade de transposição da Serra do Mar.”Existem diversas edificações de vulto feitas de taipa que datam mais de 300 anos.Fonte: www.museudacidade.sp.gov.br

Taipa de pilão

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truções e suas ruas, podemos ve-rificar que as casas não possuem recuo frontal, são geminadas (ca-sas em correnteza), uniformes e a disposição dos cômodos é igual. Os que eram comuns a toda a família e também possíveis lojas da edificação tinham suas frentes voltadas para a rua, já os quar-tos (alcovas) e cozinha, ficavam na parte de trás. Interessante verificar que muitos quartos não possuíam janelas. A área de cir-culação, ou seja, o corredor que

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Arquitetura

dá acesso aos ambientes, ficava, nas casas maiores, na parte cen-tral e nas casas mais comuns, na lateral. As casas de classe social média eram feitas de taipa, ado-be ou pau-a-pique e as mais ri-cas, de tijolo ou pedra. No centro de Atibaia, as ruas José Lucas

Solar do Coronel Manoel Jorge FerrazTombado pelo CONDEPHAAT em 1975 como Patrimônio Histórico de Atibaia, o Solar é uma repre-sentação clássica do estilo co-lonial do fim do século XVIII. No térreo, temos a taipa de pilão e o pavimento superior é feito com taipa de mão. Interessante ob-servar que o pavimento desses casarões, quando não utilizado para lojas, abrigava os escravos e os animais.Onde: Rua José Lucas nº 11

Como nas casas não havia en-canamento, não havia água. As pessoas comuns e os escra-vos buscavam água nos rios para beber e lavar louça. Os homens tomavam banho nos rios e as mulheres dentro de casa com jarros. Mas, o que não podia deixar de fazer era lavar os pés nos famosos lava-pés, para evitar o bicho-de-pé. Já as necessidades básicas eram restritas aos urinóis, que depois eram despejados nos rios. Os escravos que tinham a ingrata tarefa de levar os dejetos para os rios tinham a alcunha de tigreiros.

Banheiro ou a ausência deste

e José Alvim demonstram com clareza a disposição das casas coloniais em conformidade com a realidade histórica colonial. Ruas estreitas chamadas de rua corredor eram demarcadas com cordas e faziam o limite da área urbana com a rural.

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Tão belo, que até o Sol

é fonte de inspiração

Artesanato

Se você procura variedade em artesanato, está no lugar certo. De uma organização invejável, os artesãos de Atibaia formaram uma associação (APA – Associação dos Artesãos e Artistas Plásticos da Região de Atibaia), na qual o con-sumidor tem a oportunidade de desfrutar de praticamente todas as técnicas artesanais do Brasil. Cada um com sua experiência e delicade-za expostas em uma infinidade de prateleiras. Vale a pena perder uma hora para observar tanta diversida-de. Os trabalhos vão desde os tra-dicionais nacionais até o artesana-

to oriental. Também encontramos uma gama de utensílios feitos com o carinho e o amor que todo artista coloca em seus trabalhos.

A APA foi criada na década de 1980, com os pioneiros que saíam pelos sítios da cidade em busca de artesãos com potencial para aderirem à proposta da associa-ção. No começo, eram 17 artistas. Hoje são 150. Como podemos perceber, os objetivos de unifica-ção em um lugar para exposição tomou vulto e frutificou.Onde – Parque Edmundo Zanoni – Av. Horácio Netto, 1030

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ONG Difusão Cultural de Atibaia

APA - Associação dosArtesãos e Artistas Pláticos da Região de Atibaia

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em tupi, nhanduti significa ren-da em forma de teia de ara-nha. Originário dos países lati-nos de colonização espanhola, esse trabalho chegou ao Brasil por meio dos paraguaios. Tam-bém chamada de renda do sol, ganhou esta fama pelo seu for-mato e também pela lenda de sua criação. “A origem do nhan-duti, diz a lenda, está ligada a uma inconsolável indígena cujo amado desapareceu no dia do casamento. Ao achá-lo morto na selva fechada, ela se abra-çou ao seu corpo, velando-o toda a noite. Ao amanhecer, a luz do sol mostrou que o guer-reiro morto estava coberto por um belo manto de teias tecido pelas aranhas. A noiva buscou fios e agulhas e, copiando o tra-balho das aranhas, teceu para o amado uma deslumbrante mortalha, criando a primeira peça de nhanduti.”Fonte: diariodofigurino.blogspot.com.brl

As primeiras peças em frivoli-té foram encontradas em duas cadeiras de 1750, cujos espal-dares eram feitos desse tipo de ponto. Porém, há historiadores que dizem que os antigos egíp-cios já possuíam essa técnica devido aos desenhos de agulhas encontrados em hieróglifos.

Técnica oriunda do egito Antigo, onde foram encontrados teares, em escavações recentes. essa técnica é a mais pura arte de tecer. Além de uma excelente terapia, produzem-se peças únicas, pois depende somente das mãos e inspiração do artesão. O valor intrínseco em cada unidade está na sua originalidade.

Nhanduti

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ONG Difusão cultural de atibaia

ONG Difusão cultural de atibaia

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Tradição secular, símbolo da nossa colonização

Tapetes Arraiolo

Vila do Distrito de Évora, Portugal, Arraoilos deixou sua marca no Brasil com sua principal arte: os tapetes arraiolos. Uma das indicações mais antigas da existência dos tapetes está no inventário de Catarina Rodri-gues, em 1598, no qual é descrita a existência de “hum tapete da terra novo avaliado em dous mil Reis”.

De ponto cruzado oblíquo, estes tapetes apresentam extremo capri-cho em sua confecção, o que pode ser verificado do lado avesso, que não possui se quer um arremate à mostra. Os temas de cada tapete são únicos e variados, são verdadei-ras histórias contadas em cada pon-to. Com a invasão moura na Penín-

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sula Ibérica, os tapetes adquiriram novas características, como o uso da lã como matéria-prima. São diversas as influências, desde o ponto eslavo ao cruzado hispânico com particulari-dades mulçumanas. Historicamente, a cidade de Arraiolos foi asilo de mui-tas famílias mouriscas, expulsas por D. Manuel I em 1496.

A técnica da confecção e a quali-dade dos tapetes tornaram-se mun-dialmente famosos. Não são ape-nas tapetes, também são utilizados como painéis de paredes, centros de mesa etc. Outro ponto a ser observa-do é a qualidade da lã a ser usada, pois seu tingimento é especial por ser natural e também há a preocu-

Caçada Mongol

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“O tapete de Arraiolos, quando comparado com outros tipos de tape-tes (por exemplo, os tapetes persa e turco), transmite semelhanças. Contudo, uma diferença fundamental é a própria feitura dos tapetes. Enquanto os tapetes persa e turco são feitos em tear e com o uso de nós (assimétrico e simétrico, respectivamente), o tapete de Arraiolos é bordado a ponto cruzado oblíquo (ponto de Arraiolos) sobre um te-cido base forte. Supõe-se que este ponto terá sido adaptado em vez do nó tradicional devido à sua fácil execução... De um modo geral, a policromia dos tapetes de Arraiolos tem como base cinco corantes – o índigo, o pau-brasil, a garança, o lírio e o trovisco –, tendo sido também utilizada a cor da própria lã – branca e/ou negra. As cores que podiam ser obtidas dos processos de tingimentos com estes corantes seriam: o azul (índigo), com diversas gradações; o encarnado (pau-brasil ou ga-rança), com diversas gradações, produzindo-se também o cor-de-rosa e a cor de carne (corante mais diluído); o amarelo (lírio), produzindo-se também o amarelo-torrado (lírio e encarnado); o vermelho (trovisco e pau-brasil); o verde (lã azul e amarelo); o roxo (encarnado em decoada quente); e a cor de pulga, castanho (lã preta lavada e tinta de vermelho). D. Sebastião Pessanha conta 18 cores e tons que, primitivamente, foram empregues – azul escuro, azul claro, azul pombinho, encarnado, cor-de-rosa, cor de carne, vermelho, roxo, cor-de-laranja, verde escuro, verde médio, verde claro, amarelo, amarelo-torrado, cor de palha, cor de pulga e branco. Estas são as cores base que sempre se mantiveram, apesar de, com a evolução da indústria, terem sido criados mais alguns tons intermédios”.

Fonte: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa – Rita Carvalho Teixeira de Oliveira Marques

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pação de preservar a cor por muitos anos. A técnica da tinturaria remonta ao século XVII.

Em Atibaia, no Bairro do Portão, podemos encontrar uma verdadeira gama de tapetes arraiolos na ARPA – Artesãos do Portão Associados, forma uma associação com mais de 1600 membros, os quais passam a técnica aprendida de geração para geração. Com a mesma atenção à qualidade, a lã aqui utilizada vem do Rio Grande do Sul e é tingida nos verdadeiros moldes arraiolos. O que vemos na ARPA é de arrepiar, pois encontramos tapetes com 500 mil pontos, sim, isso mesmo, 500 mil pontos. Os valores variam de R$50,00 a R$ 13.000,00. O mais interessante de tudo é que todo o tapete tem um registro com a quanti-dade de pontos.

Fachada da arPa Tapetes arraiolos

Tapete azulejo Português Tapete costas de um Baralho

Influência Asteca Tapete azulejo Português

Influência Árabe

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Tantas técnicas, tantas inspirações...Parece que Atibaia é realmente uma fonte de inspiração às pessoas que lá nasceram ou escolheram a cidade como seu lar. Nos arredores da cidade, nos bairros mais distantes, você encontra Arte. Infinitas são as possibilidades de expressão de cada autor, de cada criador. São inúmeros ateliers e inúmeros os segmentos artísticos. Aprendemos cada vez mais que a criatividade humana é infinita e dela podemos aproveitar o belo e a pureza da alma.

Artes

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Aquarela Gersey Pinheiro

Gersey Pinheiro CruzConversar com Gersey é simplesmente ouvir uma bela canção. Sua voz é de uma delicadeza indescritível, as-sim como seu trabalho. Nascida e criada na fazenda em Atibaia, desde pequena participou das festas religiosas feitas em casa. E foi nesse meio de cultura tradicional que o veio artístico de Gersey surgiu. Na realidade, ela nem sabe quando, pois a vida inteira viveu arte. São inúmeros materiais e técnicas utilizados em seus traba-lhos, desde óleo, acrílico, argila, bronze a tudo o mais o que se possa imaginar. Seus trabalhos demonstram le-veza e principalmente ritmo, pois um de seus temas é a representação da congada. Também é uma entusiasta da Arte Contemporânea. Participa das convocatórias de “Arte Postal”, que permite um contato com artistas do mundo todo. Os prêmios são muitos e as exposições incontáveis. Para ela, a arte tem que levar às pessoas alegria, a energia das cores. Se você quer aprender so-bre inovações dentro da arte, ela é a pessoa que vai ter a paciência em explicar tudo.

Escultura em bronze Congada

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Difusão CulturalPor meio da ONG Difusão Cultural de Atibaia, Ingrid Bergman, Nicole Kubli e Vinícius Souza, conseguiram reali-zar muitos projetos ligados às artes visuais e artesanato. Ingrid com a fo-tografia, realizou um vídeo, premiado no Festival de Curtas de Atibaia “Ca-tarse”. Nicole, desde 1990 desenvol-ve um trabalho artesanal em Atibaia, hoje com o projeto Raízes oferece oportunidade de renda nas comuni-dades, é Diretora Geral do Festival de Atibaia Internacional do Audio-visual e especializou-se em gestão sociocultural. O Vinícius Souza, mais conhecido como Vini especializou-se em cinema e, através das câmeras, “videografou” vários personagens de grande significado para a cidade de Atibaia, como o famoso Ceramista Izumi além de outros quatro projetos aprovados no edital Lab Cultura Viva, é coordenador do cineclube ( Difusão Cineclube). Com o excelente traba-lho, levaram um pouco de nossa cul-tura também para a Europa, nos Fes-tivais parceiros na França e Portugal. “Somos um time que juntos trabalha-mos para o desenvolvimento turístico/cultural de Atibaia”. Nicole Kubli

Pintor, gravador e escultor, Breseghello é de um charme a toda prova. Em uma casa pra lá de gostosa e ampla, nos deixou muito a vontade com sua simplicidade refinada de cunho artístico. Muitas frases soltas, assim como é solta a sua obra.

Sua definição de arte: “Arte é o que te faz enxergar, não o que você está vendo, uma coisa que toca diretamente”.

Começou aos 6 anos de idade com óleo sobre telacom motivo figu-rativo, nem sabia o que era expressionismo ainda, mas já sentia a arte vertendo pelos poros. Oriundo de avós italianos e espanhóis que traba-lhavam com venda de alimentos, sua avó engomava os sacos brancos e ao lado tinha uma litográfica que fazia rótulos de garrafas, ou seja, tinha nas mãos a tela e a tinta. Foi aluno de Dinorah do Vale que montou uma-escola experimental de arte para crianças, ao lado do teatro municipal, que empregava desenho, pintura, dança, música, tudo o que envolve arte, e os professores observavam o talento de cada um e os guiavam. Muitos bons nomes surgiram nessa escola.

Tem obras na Europa inteira, América e Japão. Cubos, quadrados e círculos, geométricas são as formas da maioria dos seus trabalhos. Utili-za em suas esculturas o aço, que pode ser corten, carbono e inox. A finalização é feita em pintura automotiva, sempre utilizando os melhores pigmentos já comprovados, como Maseratti, Merce-des, Ferrari e por aí a fora.

Cada peça é única.Sua obra é total-mente estudada, construída e monta-da. Trabalha um pouco com a física e a matemática. Suas esculturas represen-tam o que estava tudo certo e empilha-do metodicamente e, de repente, em um milésimo de segundo tudo caiu, e nesse exato momento, o tempo parou!

Carlos Breseghello

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Venda dos trabalhos das Oficinas

Oficina Costura no Bairro do Tanque

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Com uma simplicidade a toda prova, Inácio nos rece-beu em seu atelier com a alegria de um adolescente para nos prestigiar com sua magnífica obra. Nascido no Ceará em 1946 e residente em Atibaia há mais de 20 anos, entre tintas, papéis, quadros enormes, pin-céis e um amontoado de todo material de arte pos-sível, encantou-nos com sua voz calma falando sobre seu trabalho desde os anos 1960, quando retratava a figura humana em grades, durante suas viagens pela

Inácio Rodrigues

Flávio PileggiCom o incentivo do amigo Ernesto Vencovisck, Flávio começou na arte da fotografia sempre em busca de novas imagens. Com uma Minolta X 700, gostava de fotografar cenas de natureza, festas populares, temas ligados à arquitetura e patrimônio histórico. Seu trabalho mais significa-tivo e importante foi a foto do menino Jonathan, da Congada de Fitas de Olímpia, que foi tema do Revelando São Paulo, publicado em folhetos e no cartaz principal do evento. Junto a sete amigos, há 20 anos, fundou o Clube Atibaiense de Fotografia. Uma comunhão de pessoas que gostam de fotografar, realizar cursos, viajar, divulgar a arte fotográfica e incentivar a entrada de novos membros. Integrante da Confederação Brasileira de Fotografia são inúmeras as premiações que o Clube já conquistou e hoje conta com 60 sócios. Nestes 20 anos de atividades, mais de 200 pesso-as já passaram por aqui.

Artes

América Latina. Nos anos de 1970 e 1980, entrou na fase “onírica espermonauta: analogia da tecnologia espacial”. Após esse período, suas obras entram na fase “paisagístico-ecológica”. Pintor e gravurista, desde muito jovem já percorria o grande circuito das artes do país, expondo na Galeria do Giro, Galeria Goeldi, no Sa-lão de Arte Moderna, com recompensas como o Prêmio de Viagem ao País; de Aquisição no II Salão Nacional de Arte Contemporânea em Belo Horizonte; em Madri como gravurista trabalhando com Fayga Ostrower, Reni-na Katz, Scliar e Burle Max entre tantas outras consa-grações. Contemporâneo e aluno ouvinte da Escola de Belas Artes RJ desde os 12 anos de idade, já mostrava sua veia artística pintando os muros de seus familiares, com os barcos que eram a paisagem de sua infância em Espraiado. Na companhia do tio, viajou muito. Suas primeiras obras foram vendidas em uma feira de artes no Suriname. Extremamente vivido, pois até em circo trabalhou, hoje seus trabalhos refletem toda a essên-cia dos temas por onde se infiltrou com uma magnitude única. Obras no MAM – RJ, Museu Belas Artes, MAM – SP, Espanha, Cuba, Inglaterra.

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Fase onírica espermonauta

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A FAMA - Fanfarra Municipal de Atibaia, foi fundada em dezembro de 1990 e tem hoje mais de 130 integrantes. Como parte do Projeto Educando com Música e Cidadania, a Fanfarra de Atibaia é um estímulo aos jovens da cidade a estudar música, pois oferece aos seus participantes incitação à cultura musical e ao civismo. Toda a estrutura da Fanfarra, bem como das fanfarras mirins das escolas municipais, é mantida pela Prefeitura da Estância de Atibaia atarvés da Secretaria de Turismo, Cultura e Eventos e conta com o apoio da Associação de Pais e Amigos da Fanfarra Municipal de Atibaia. Após a conquista de muitos títulos regionais, estaduais, in-terestaduais e nacionais, a Fanfarra de Atibaia, em 2005, consagrou-se Campeã Mundial pela WAMSB – World Association of Marching Show Bands. O título conquistado colocou a FAMA, e o Brasil, no hall das melhores bandas do mundo. Em 2006, após a conquista de mais um Campeonato Brasileiro, a FAMA foi convidada para representar o Brasil no 13º Festival Internacional de Bandas e Fanfarras, na cidade de Milipilla no Chile. Essa foi a primeira viagem internacional da Fanfarra Municipal de Atibaia.Já no ano de 2009, a FAMA foi convidada para participar do WMC – Word Music Contest, na cidade de Kerkrade, sul da Holanda. Os jovens músicos de Atibaia partiram rumo ao velho mundo e trouxeram uma medalha de ouro inédita para o Brasil, mantendo – se entre as 10 melhores bandas do mundo.Em 2010, participou na Alemanha do Campeonato Mundial, ficando classificada em 3º lugar entre as três melhores bandas mundiais.Hoje, a Fama é a única banda brasileira a ter um título mundial e a conquistar prêmios no exterior. Para seus integrantes, poder fazer parte desta “familia” é poder sonhar com um futuro melhor e ter a certeza de poder alcança–lo.Coordenação do Projeto: Eliana Zimbres Silva | Regência: Felipe Ibraim Ferreira e Luis Henrique ChinagliaCoreógrafos: Leandro Eduardo de Souza e Ederson Bruno dos Santos Machado.Projeto: Educando com música e cidadania | End: Av. Joviano Alvim, 1322 – Atibaia Jardim – Atibaia - SPTel: 11 – 44111741 | e-mail: [email protected]

Fanfarra Municipal de Atibaia - FAMA

Durval Mantovanini

Entrou em contato com as artes cênicas aos 15 anos, em sua escola Major Juvenal Alvim e se profissionalizou a partir daí. Durval resolveu seguir carreira com a inten-

ção de formar um público local em sua cidade natal, Atibaia, por achar que os grandes eixos estavam satura-dos. Hoje está focado em dirigir peças. Fundou o Grupo Arcênicos, onde trabalha como ator e diretor e que hoje ensaiam a peça infanto-juvenil “Uma história de muitas histórias” em formato de rua, e é diretor convidado do grupo FORADECENA, no qual dirige a peça “Menino Luz” que trata sobre esquizofre-nia e abandono. Esta última peça se apresentou na cida-de de Beynes - França, por meio de um edital do Consu-lado Geral do Brasil sediado na capital francesa.

Peça Uma Estória de Muitas Estórias

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Raízes de Atibaia é o grupo originado do projeto “Núcleo de Estudo da Viola Caipira de Atibaia”, que nasceu em 04 de outubro de 2011, através da Se-cretaria de Cultura e Eventos da Prefeitura. A cidade carecia de um projeto direcionado à pesquisa, pre-servação, fomento e divulgação da música caipira de raiz, especialmente a produzida em nosso município. O grupo se destaca por empunhar esta bandeira de forma contundente, colocando-se de forma diferen-ciada na defesa de nossa identidade cultural. Hoje, a iniciativa faz parte do projeto “Música e Cidadania”, da mesma Secretaria de Cultura e Eventos. Na pri-meira turma, eram oito integrantes e atualmente são 23, com violões, violas, vozes e sanfona, divididos em três turmas (iniciante, intermediário e avançado). São ensinadas técnicas dos instrumentos e teoria musical, que dão aos alunos o embasamento para o aprendizado. O projeto está focado nos integrantes das Congadas de Atibaia e a todo munícipe que pre-tende se iniciar ou aprimorar os seus conhecimentos

Raízes de Atibaia

Rafael IzumiCom a mesma matéria-prima nas mãos, Rafael, filho do Mestre Izumi, possui uma notável habilidade ar-tística para esculpir rostos humanos que como ele mesmo diz: “Caretas e egos são características fa-ciais que mascaram seus reais conflitos e o fato do querer ser tudo ao mesmo tempo.” Em seu trabalho, baseou-se nas máscaras da representação do Tea-tro – a Tragédia e a Comédia – colocando que não há apenas essas possibilidades de sentimentos huma-nos, mas sim a dúvida, o pânico, o cinismo, a alegria e assim por diante.caretas

Ensaio

revelando São Paulo em atibaia

nesta arte voltada à música raiz. As aulas e ensaios são feitos na Av. Joviano Alvim, 1350. O grupo já participou de algumas edições do Revelando São Paulo e se apresentou no “Santuário Schoenstatt”, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude 2013 RJ para aproximadamente 1.000 jovens, vindos de todas as partes do mundo. Estes jovens, segura-mente, levaram um pouquinho de Atibaia em seus corações, tamanho o sucesso que foi este evento. No que tange à pesquisa, divulgação e fomento des-sa arte, até a criação deste projeto, não havia ainda registros de grupos criados especialmente a estas iniciativas, através da música composta pelos filhos de Atibaia. “O principal objetivo é manifestar pela música, os saberes de nossa gente e mostrar ao mundo e a nós mesmos a nossa riquíssima identi-dade cultural.”. Ruth Rubbo

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Professora de Música, sempre gostou de trabalhar com as crianças, por serem abertas a todo tipo de vivência. Na música corporal, as crianças são as primeiras a se aproximarem dessa linguagem, pois brincar, correr, pular e experimentar é natural na in-fância e, quando tal atitude é estimulada, tornam-se adultos comunicativos, criativos, capazes de resol-ver problemas. Em Atibaia, Roberta desenvolve vá-rios trabalhos em vertentes diferentes: “contação” de estória, direcionada à semana do meio ambien-te; Projeto Curumim em percussão corporal; Grupo de Teatro Municipal de Atibaia, orientação musical e Trupe Caravan Maschera. Desenvolve também, desde 2009, em parceria com o Instituto de Arte e Cultura Garatuja o projeto Garatujas e Cambalhotas que culminou em vários espetáculos: Parolas (dan-ça e música), “A Viajem de um Barquinho” e o Coral Garatujas e Cambalhotas. Aos poucos, o trabalho foi ganhando corpo e se tornando independente da dança. Músicas foram compostas para o grupo e registradas no CD Criandanças.

Roberta Forte

Projeto GuriNo período de contraturno escolar, desde 1995, a Secretaria de Cultu-ra do Estado de São Paulo implan-tou o “Projeto Guri”. O programa, considerado o maior programa so-ciocultural brasileiro, realiza cursos gratuitos de iniciação musical, coral, instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, sopro, teclado e percussão para crianças e adoles-centes de 6 a 18 anos. Atualmente

possui 410 polos em 320 municí-pios de São Paulo. Em Atibaia, as atividades começaram em 2003, pela necessidade de complementar o trabalho da Fanfarra Municipal da cidade, com cursos de cordas fric-cionadas e dedilhadas. O projeto tem o objetivo de estimular a educa-ção por meio da música e também fazer o acompanhamento do desen-volvimento dos alunos em todas as esferas. O Polo Atibaia possui 90 vagas e aulas. Os ensaios aconte-cem no Espaço FAMA.

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Estória da História do Lagedo Branco

Estória da História do Lagedo Branco

Coral Garatujas e Cambalhotas

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“Toda criança desenha, a diferença é que eu, de tei-moso, nunca parei (risos).” Foi assim que o Professor descreveu sua carreira de artista. Gosta de todos os materiais tradicionais de desenho e pintura e usa princi-palmente canetas e lápis, por serem mais práticos. Sem-pre tem um bloquinho de papel à mão para desenhar nos momentos de lazer, ou nos que precisa ouvir alguém e prestar atenção, uma palestra por exemplo. Se não desenha não presta atenção. “Enquanto o lado esquer-do do cérebro se liga na fala do palestrante, o direito se solta”. Esses desenhos viram pinturas, esculturas, gravuras. Também usa recursos digitais como o compu-tador. Quando criança, seus desenhos não agradavam as pessoas que gostavam das coisas “certinhas”. Aos doze anos, viu pela primeira vez uma revista do Henfil e achou que era muito parecido com o que ele fazia. Teve a honra de ser seu aluno (nos anos 80), oportuni-dade rara, pois, na única vez que o Henfil foi professor, conseguiu ser aprovado para ser seu discípulo. Nunca seguiu a carreira de cartunista, quis o destino que fosse professor e está nessa área há 30 anos e se orgulha muito. Para ele, era difícil ensinar Arte sem produzir Arte, então, na escola ensina, pratica e aprende muito com seus alunos. As caricaturas, o humor e o cotidiano são fontes de inspiração, tornou-se seu modo de expressão, consequentemente seu estilo.

Professor Beleza

Edson Beleza

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Visitar o atelier de Izumi foi um dos momentos mais mágicos de nossa equipe. Sentimo-nos em uma ver-dadeira casa japonesa, não no sentido arquitetônico, mas sim na delicadeza da recepção, no falar baixo, quase inaudível, no chá servido nas canecas produzi-das no local e até em exercícios físicos que tivemos que fazer a mando do Mestre Izumi. Com uma sincro-nia de texturas e cores variadas, as peças produzidas por suas mãos mágicas, rápidas e objetivas carregam segredos de uma boa matéria-prima e a experiência trazida no sangue e acumulada ao longo de anos. Suas peças são funcionais, mas cheias de truques, como a garrafa Izumi, que transforma o paladar de bebidas alcoólicas de baixa qualidade em um sabor

Shugo Izumi

muito mais agradável. Lógico que isso é um segre-do. Ou uma pequena molheira em forma de bule que retrai o líquido para dentro antes de voltar à posi-ção vertical e assim não deixando respingar o molho em toalhas. Muito prático, porém outro mistério. Por nós, ficaríamos muitas, mas muitas horas mesmo na companhia extremamente agradável de Izumi, que a cada foto tirada nos agradecia com um cumprimen-to típico. Foi uma grande experiência não só do co-nhecimento de sua arte, que já está consagrada há muito, mas também pela lição de como recepcionar e acolher pessoas. Agora somos nós que te agrade-cemos: Obrigado, Izumi!“Na infinita paisagem brasileira...Debaixo do imenso azul do céu...Vivo com a terra,a argila, faço-a,moldo-a,amo-a...E da lenha o fogo surge.Para a forma concretizar...Está pronta a minha vida,a minha felicidade.”Shugo Izumi

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Neta de José Contreras, líder anarquista espanhol, Beth trazia em seu sangue a liderança e a necessidade de transformações sociais embasadas por meio da cul-tura. Foi assim que, em Atibaia, coordenou por muitos anos a ONG Difusão Cultural, a qual tivemos o privilégio de conhecer. Com elementos simples de inclusão social e também de geração de renda, o espaço proporciona muitas alternativas culturais para os participantes do projeto. São Festivais de cinema, teatro, oficinas, eco-logia, artesanato, espaços ecológicos etc. Mas a figura de Beth transcendeu a filantropia; seu lado intuitivo é mostrado através de sua arte, em verdadeiras obras que estão descritas tão maravilhosamente abaixo:“O trabalho com tecidos de Beth Verdegay é uma con-sequência de sua atração pelas tramas, texturas, fios e estampas. A artista trabalha de maneira sugestiva com a nossa percepção do mundo. Suas estruturas,

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suas cores, formas e ilusões são uma recriação de seu próprio universo. Universo repleto em toda memória co-letiva, pois a natureza e o ser humano são fonte inesgo-tável em sua pesquisa, proporcionando momentos de puro deleite. Beth realiza um difícil percurso, porém mui-to equilibrado, entre a representação da cultura popular, o lúdico, a emoção e a beleza. O resultado é o prazer de proporcionar prazer”. Vitor Carvalho, Diretor Cultural da APAP – Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo

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Água boa que brota da

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Atibaia está localizada em uma área de remanescente da Mata Atlântica, com nascentes

que irrigam a cidade com “água boa”. É fácil observar a presença da água na cidade, nos lagos

do perímetro urbano e na represa do Bairro da Usina, já na zona rural. O Rio Atibaia é alimentado

pelas nascentes das serras e abastece também outras cidades da região, como Jundiaí e Campinas.

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A altitude da cidade, que está acima dos 800 metros do nível do mar, que chega a 1.450m na Pedra Grande contribui para condições climáti-cas agradáveis, conferindo à cidade o título de Estância Climática. O clima tropical de altitude oferece inverno relativamente frio e seco e verão quente e chuvoso, características que predomi-nam na serra.

A Fauna e a Flora registradas em Atibaia são ricas e com peculiaridades. A ligação entre a Ser-ra do Itapetinga com outros fragmentos de rema-nescentes da Mata Atlântica, como a Serra da Cantareira e a Serra de Itaberaba, forma uma co-

nectividade que contribui com a relação entre as espécies e deve ser protegida e fiscalizada para garantir a sobrevivência desse bioma ameaçado que é a Mata Atlântica.

A maior vocação de Atibaia é a natureza. A ci-dade concentra áreas especialmente protegidas como o Parque Estadual do Itapetinga, Monumento Estadual da Pedra Grande, APA da Usina, APA da Várzea de Atibaia entre outros. Essas áreas, como o Parque Municipal da Grota Funda, por exemplo, são muito importantes, pois, se bem preservadas, garantirão a manutenção de um “banco genético” para preservação das espécies ameaçadas.

O Monumento Natural Estadual da Pedra Grande é uma unidade de conservação e o cartão postal mais popular de Atibaia. No topo da Serra do Itapetinga, o maciço rochoso se espalha majestoso em uma área de 13.000 hectares que oferece opções variadas para esportes como o Voo Livre, escaladas, rapel ou simplesmente meditação com a vista privilegiada.

O tombamento em 1983 pelo Condephaat foi uma conquista a para cidade, preocupados com a vulnerabilidade da natureza no local. A Pedra Gran-de é sem dúvida o local mais visitado pelos turistas que procuram Atibaia.

Além de abrigar a Pedra Grande, a Serra do Ita-petinga abriga o Parque Municipal da Grota Funda, que abriga vários estudos ambientais. Na região do bairro do Itapetinga, à margem da serra, fica o Rádio-Observatório de Itapetinga.

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Meio Ambiente

A Pedra Grande

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Pelo acesso da saída do km 50, na Rodovia Fer-não Dias, entrada do Bairro do Portão, de Atibaia, pode-se chegar ao Parque Ecológico conhecido por Reserva do Vuna. A área de mais de 300 hectares está em um remanescente de Mata Atlântica, com uma variedade de orquídeas, samambaias, bromé-lias e espécies de árvores e animais. Pequenas cascatas na serra, lajes de pedra, grutas, lagos e riachos também compõe o cenário, que convida ao contato com a natureza.

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Extremamente importante e fascinante poder ob-servar e aprender um pouco mais sobre a vida animal e seu habitat. No Museu de História Natural, temos a oportunidade de conhecer principalmente as aves, além de uma grande gama de nossos animais. São mais de mil vertebrados, conchas variadas e outras tantas curiosidades taxidermizadas, onde todos nós ficamos boquiabertos com o que vimos. Seu fundador, Antônio Pérgula, em 1989, decidiu expor seus tesou-ros garimpados ao longo de sua vida com o objetivo de conscientização ambiental. Das regiões representa-das, as que mais têm destaque são a fauna da Centro-oeste e Norte. Também podemos encontrar animais de Portugal, Japão, Itália, República Tcheca e Alemanha. É um lugar no mínimo interessante e vale a visita, princi-palmente para as crianças. Onde - Parque Edmundo Zanoni - Av. Horácio Neto, 1030

Museu de História Natural de Atibaia

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FloraEm Atibaia, encontramos um dos remanescentes flo-

restais de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, a Serra do Itapetinga, que tem 13.000 hectares (130 milhões de m²). Em suas matas, já foram encontradas cerca de 130 espécies de árvores de um total de 415 espécies da flora. Algumas árvores são muito vistosas, como é o caso do Ipê-amarelo que chama a atenção pelas suas flores, outras se mostram como gigantes da Serra, como o Pau-jacaré, Paineira, Copaíba, Angico, Cedro entre outros.

Algumas espécies ameaçadas, como a Araucária, ainda sobrevivem na serra e são fonte de alimento para a fauna local. Há também espécies endêmicas de flores que dão um colorido especial à estrutura rochosa do local.

No complexo de lajeados da Pedra Grande existem umas 105 espécies de plantas. As espécies mais belas da flora são encontradas nos afloramentos rochosos. São orquídeas, bromélias, musgos, entre outros, dos quais cerca de 60 tipos são capazes de se estabele-cer diretamente sobre a rocha. Nesse grupo, a espécie que chama mais atenção é a Amarílis. Quando ocor-re a florada, desponta na rocha a Amarílis-vermelha, considerada um símbolo de Atibaia por ser a variação dessa flor encontrada na Pedra Grande. É importante controlar a ação humana que já ameaça essa espécie, tão abundante no passado que, segundo relatos, era

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A região de Atibaia é montanhosa, de terreno acidentado, com a característica peculiar de ter uma formação rochosa única no estado de São Paulo, com estrutura semelhante às rochas do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar. As monta-nhas de Atibaia abrigam várias nascentes, o que dá a qualidade e a pureza da água na cidade.

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possível enxergar da cidade o tom avermelhado na Pe-dra Grande, na época da florada.

Outras Amarílis são encontradas da Serra do Itapetin-ga, como a Amarílis-branca, que gosta de locais sombre-ados. A Tillandsia é outro gênero encontrado nos aflora-mentos da Serra do Itapetinga. São pequenas plantas de aparência rupestre que se afixam diretamente na rocha ajudando para a formação de novas “ilhas de solo”.

Outro endemismo marcante na Serra é a cactácea Rypsalis spinescens, citada pelo pesquisador Sérgio T. Meirelles em 1996. Tipicamente presente no afloramen-to da Pedra Grande, sua aparência discreta e afixação em pontos mais afastados dos locais tradicionais de visi-tação fazem com que a população passe despercebida, porém o mau uso da área poderá causar sua extinção.

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Meio Ambiente

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São encontradas cinco espécies de felinos, ameaça-dos, na área da cidade. A Onça-parda é o maior de to-dos. Há registros de indivíduos que circulam próximos de casas da área rural. Pesquisadores estimam que pelo menos 5 indivíduos diferentes circulam pela Serra do Ita-petinga. Deve-se desmistificar a índole deste felino so-litário, que ocorre em todas as Américas: a Onça-parda não é agressiva e não ataca o homem, ela se aproxima das fazendas e sítios com a intenção de buscar alimento, que muitas vezes está escasso na floresta por conta da caça ilegal de suas presas naturais, por isso as criações acabam sendo o único alimento que ficou disponível.

Dos felinos pintados que ocorrem em Atibaia, o maior deles é a Jaguatirica, que pesa de 8 a 18 kg. Solitá-ria e como a Onça-parda, destaca-se no topo da cadeia alimentar. São realizados trabalhos de pesquisa com a espécie na região, um esforço de entender mais sobre sua dinâmica de vida, que traz informações relevantes para a sua conservação.

Há em Atibaia mais dois tipos de felinos pintados que são confundidos, assim como a jaguatirica, com fi-lhotes de onça pintada (essa onça não existe na região). São eles o Gato-do-mato-pequeno e o Gato-maracujá. Esses felinos têm hábitos noturnos e gostam de subir

Mamíferos - felinos

em árvores, procurando por pássaros ou pombas. Já o Gato-morisco, ou Jaguarandí, como é mais conheci-do, é um felino de cor parda, sem pintas, e de hábitos diurnos. É ágil e arisco. Às vezes o Jaguarandí pode ser visto caminhando pela montanha da Pedra Grande.

O Lobo-guará é outro carnívoro ameaçado de extinção com registros constantes em Atibaia. Não existem po-pulações estabelecidas na região, pois aqui não é seu local natural de vida, alguns indivíduos acabam apare-cendo por aqui, fugindo do desenvolvimento das regi-ões onde moram, em busca de um local para viver. Já o Cachorro-do-mato é uma espécie bem acomodada no município. Aparecem na área urbana e convivem pacifi-camente. Não são animais agressivos e muitas vezes são chamados de Raposas.

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Jaguatirica

Gato Mourisco

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Em Atibaia, ocorrem três espécies nativas de primatas. O Bugio é a maior, alguns ma-chos chegam a pesar 12kg, os machos são de cor alaranjada e as fêmeas mais discre-tas e com tons marrons, emitem um som rouco e forte. O Sauá, um pouco menor e com o rabo mais com-prido e peludo, também vocalizam pelas matas de Atibaia. O Sagui-da-serra-escuro é um pe-queno primata que vive em bandos nas áreas florestadas da região.

Primatas

Os Morcegos são certamente os mais silenciosos de todos os animais presentes em Atibaia. Com hábitos noturnos, das cerca de 172 espécies existentes no Brasil, 20 ocorrem em Atibaia. A maioria dos morcegos é fitófa-ga, que se alimenta de produtos vegetais, principalmente frutos, incluindo pólen, néctar e folhas. Alguns estudos demonstram que eles disper-sam as sementes de mais de 500 espécies de árvores pelas áreas por onde voam e ainda polinizam cerca de 1.000 espécies de plantas na região Neotropical.

MorcegosAnfíbiosConhecidos por serem ótimos bioindicadores da qua-lidade da água, a Rã-grande-das-corredeiras é uma es-pécie endêmica de um rio que nasce dentro do Parque Municipal da Grota Funda. Foi descoberta em 1994 pe-los pesquisadores Ariovaldo Giaretta e Odair Aguiar Jr. Na época ganhou destaque na mídia e foi apelidada de Sapo Ari, em homenagem a um de seus descobridores. Seu status é desconhecido atualmente, podendo estar extinta. Espécies menos sensíveis são encontradas pulando pela floresta da Serra do Itapetinga. O Sapo-de-chifres vive no chão da floresta e tenta se mimetizar com a paisagem, para se esconder dos predadores.

As serpentes venenosas são sempre um caso de as-sombro e de eminente perigo, ninguém quer uma ser-pente venenosa perto de sua residência. Vale lembrar que elas só se aproximam do homem para se alimentar ou se esconder. Locais limpos e organizados ajudam a prevenir o contato com serpentes. Quando encontra-das, devem ser removidas e levadas de volta a flores-ta, onde é o seu local natural. Podem ser encontradas na região a Jararaca, a Cascavel, a Coral-verdadeira, a Coral-falsa e inúmeras cobras não venenosas como a Jiboia, a Cainana e a Cobra-cipó.

Serpentes

Sagui-da-serra-escuro

Sapo-de-chifres

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Sauá

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Nas matas, campos e lagos da cidade, são encon-tradas cerca de 280 espécies de aves. Muitas são de fácil observação, como é o caso do Tucano, Saíra, Garça e os encantadores pássaros canoros, como o Canário-da-terra, Trinca-ferro, Sabiás entre outros.

Os bandos de Tucano-toco são comuns na região. Seu primo florestal, o Tucano-do-bico-verde, com um bico um pouco menor, é um importante dispersor de

Aves

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Tucano-do-bico-verde

Beija-flor-de-fronte-violeta

canário-da-terra

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A prática da observação de aves tem crescido expressivamente na região, onde não faltam locais apropriados para a atividade. Acessível a todos, por dispensar altos investimentos, a prática é muito pra-zerosa e tem função fundamental para a conservação da fauna e da flora. É preciso conhecer para proteger e, quando entramos em contato direto com a obser-vação da fauna, aprendemos de forma participativa

observação de passáros (bird watching)

sobre a realidade da mesma e sua função ecológica para todo o Meio Ambiente.

Em Atibaia, os melhores locais para observar pás-saros são o Parque Municipal da Grota Funda e o Par-que Edmundo Zanoni. Roupas leves e confortáveis, um bom binóculo, calçados apropriados ao terreno e às condições climáticas e uma mochila com material de apoio devem estar no kit básico do observador.

sementes no interior da floresta, realizando um tra-balho essencial para a manutenção da diversidade da flora. Outro dispersor consagrado e comum em Atibaia é o Jacupemba, já classificado como “quase ameaçado” de extinção.

Os irrequietos Beija-flores encantam com sua ca-pacidade de “parar no ar”. São joias da natureza com cores iridescentes, encontradas facilmente nos jardins das casas e nos parques urbanos. A prática popular entre moradores de disponibilizarem “garra-finhas de água com açúcar” para atrair as aves é aceitável, mas com certa restrição. Ambientalistas alertam para o cuidado diário de esterilização e lim-peza diária das garrafinhas, evitando assim o desen-volvimento e proliferação de bactérias, que possam ser nocivos aos Beija-flores.

Curicaca

Jacupemba

Parque Municipal da Grota Funda

Pedra Grande

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Discreta, a Irara ou Papa-mel movimenta-se graciosamente pelas trilhas da Floresta e adora derrubar casas de abelhas para se alimentar, daí seu nome popular. Já o Mão-pelada é uma espécie noturna que anda pela mata a procura de alimento.

Nas áreas alagadas e rios da região podemos encontrar algumas espécies bem características, como a Capivara, que é o maior roedor do Brasil. Chega a pesar 65kg e vive em bandos de 3 a 40 indivíduos. Próximas à água, a população está distribuída pelas margens do Rio Atibaia e seus afluentes. Adoram descansar nos lagos da região, mesmo os que se encontram em altitudes maiores dentro da Serra.

O Veado-mateiro, um cervo de tamanho médio, alimen-ta-se preferencialmente de frutos e sementes, mas nas épocas de secas ingerem folhas. Vive em média 8 anos na natureza e são uma importante presa para carnívoros de grande porte como a Onça-parda. A po-pulação de Atibaia é grande, presente em praticamen-te toda a área rural do município.

Capivaras

Veado-mateiro

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Veado-mateiro

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Alguns répteis de médio e pequeno porte andam despreocupadamente pela floresta, controlando a população de insetos e alguns alimentando-se de carcaças e pequenos fru-tos. O Camaleãozinho é encontrado frequen-temente nos galhos do sub-bosque da flo-resta. O Teiú, um dos maiores lagartos do Brasil, aproxima-se regularmente das casas dos moradores da área rural. Pode parecer assustador a um observador desavisado, mas quando descoberto, opta pela fuga para um local seguro.

Répteis

Outros mamíferos

camaleãozinho

Teiú

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Turismo Rural

É só desfrutarEita coisa boa, sô!

Nada como começar um dia, ensolarado ou não, com um café da manhã repleto de delícias da comida típica rural. A vida nas fazendas sempre foi de muita la-buta, trabalho duro, e o café da manhã sempre foi uma das prin-cipais refeições do dia. O roçado, a enxada, o arado exigiam uma força descomunal de quem os empunhavam. Por isso essa tradi-

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ção de uma mesa boa, com bolos, tortas, geleias, compotas, pudins, pães de todos os tipos e um bom café para despertar os mais desa-nimados. E o almoço? Repleto de pratos fartos, com bastante feijão, linguiças, farofas, carnes, saladas variadas etc. Tudo arrumado com a simplicidade e a qualidade dos alimentos frescos. Mas a vida no campo requer isso mesmo, pois

precisamos de muita energia para poder aguentar as caminhadas, as visitas aos currais, os longos pas-seios... E aqui em Atibaia o que não falta é lugar para podermos sentir e desfrutar dias típicos da roça e do calor interiorano.

Os costumes preservados Para quem quer mais, nada

como passar o dia em uma típi-

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Vista do alambique Fazenda Paraíso

Vista panorâmica da Fazenda Paraíso

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ca fazenda que está ativa desde 1860, um exemplar perfeito da vida rural que ainda conserva os hábitos de uma época histórica do Brasil. Totalmente preservada, proporciona ao visitante o prazer de desfrutar das atividades com o charme e a tranquilidade do cam-po. A sede da Fazenda Paraíso é uma construção típica dos primei-ros exemplares arquitetônicos da era pós-cabralina, com paredes de taipa, telhado com telhas fei-tas sobre as coxas dos escravos, terreiro para secagem do café e senzala. Tudo muito detalhado historicamente pelos funcioná-

rios do local. Para os visitantes, é uma verdadeira volta ao passa-do, mas com muita elegância. Um dos pontos altos do passeio é o Alambique de cobre, que produz artesanalmente as cachaças D. Pedrito e Maracanã, funcionando desde 1910. Seus tonéis para envelhecimento são feitos de car-valho, jequitibá rosa e amendoim. Gostoso também é participar da Oficina da Cachaça, na qual pode-mos aprender, desde a moagem da cana até o engarrafamento, to-dos os processos dessa atividade secular de nosso país, que faz par-te de uma das tradições mais ar-

raigadas dos produtos nacionais, principalmente de exportação, conhecidos e valorizados mundial-mente. Obviamente, depois desse tour pelo passado, a fome aperta, então, para repor nossas energias, nada como uma excelente comida típica da fazenda, a feijoada, que é servida aos sábados. Também vale degustar a costelinha na ca-chaça ou mesmo o frango tostado na panela de ferro e, se puder, a Rabada com Aipim Cremoso. Ago-ra, se você for uma pessoa matu-tina, vale mesmo um belo café da manhã ao estilo rural... Delícia! Onde: Rodovia Fernão Dias, km 52.

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O doce da vidaMuitas famílias carregam a tradi-ção, como é o caso dos Rodrigues que residem na cidade há mais de 150 anos e que participaram do desenvolvimento local. Com a cria-ção de abelhas, surgiu o Apiário Santo Antônio. No início, eram ape-nas 100 caixas de abelhas e atual-mente contam com mais de 1000, resultado obtido pela qualidade do mel que produz. São manufatura-dos vários tipos de mel: laranjeira, silvestre, eucalipto, cipó-uva, assa-peixe, própolis e favo de mel. Onde: Rodovia Fernão Dias km 50 – Bairro do Portão.

A cidade participa até do Circuito Turístico das Frutas, que surgiu da união dos pro-dutores rurais, com o estilo da roça, com as cidades de Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Lou-veira, Morungaba, Valinhos e Vinhedo, possibilitando a todos o conhecimento das atrações turísticas, riquezas e valores do interior paulista, com seus talentos locais.

E, se na volta ainda quiser mais, dê uma passada no Doce Roça e, preste atenção na lista: café, bolos, mel, queijo, doces caseiros, chá e sorvete, tudo feito com produtos naturais e da região. Está bom, ou quer mais? Onde: Al. Prof. Lucas Nogueira Garcez, 7568 - Ribeirão dos Porcos

Circuito Turístico das Frutas

Uma paradinha no meio do passeio

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Para colocar a mão na mas-sa, você não pode deixar de co-nhecer, na entrada da Reserva Ecológica do Vuna, a pousada “Águas do Vale”, que tem tudo para proporcionar um dia, ou vá-rios, com o que a vida do campo tem de melhor. Parte da pousada está na Fazenda Nossa Senhora do Vale Encantado, que, desde a aquisição do terreno de 524 hectares, em 1955, já havia o direcionamento da área para pre-servação ambiental. Região de desmatamento devido à venda de madeira para carvoarias, as encostas de montanha do Vuna foram encontradas praticamente sem vegetação. Com a motiva-ção de achar um lugar com clima ameno e natureza farta, os do-nos das terras logo impediram a continuidade do desmatamento. O terreno, que era passagem de bandeiras no século XVII, tinha uma casa sede, quase abando-nada, com grossas paredes, por-tas e batentes de madeira nobre.

Mãos à obra

A casa foi reformada e hoje é a sede social da pousada. O reflo-restamento dos morros foi feito com ajuda de profissionais espe-cializados e hoje o resultado vi-sual é uma mata quase primária. Nos morros e trilhas ao redor da pousada, encontram-se grandes lajes de pedra, características dessa região. Grandes pedras tomam forma de mirante e casas de pedra, um divertimento à par-te para crianças e adultos. E, se na correria do dia a dia você está estressado, que tal uma pesca-ria? Outra boa atração para re-laxar e deixar o tempo passar.

A principal atividade da Fazenda Vale Encantado é o turismo eco-lógico e rural, hospedando tanto em seus apartamentos confortá-veis, quanto recebendo grupos para conhecer a reserva. A fazen-da também cria gado de leite, de onde sai a produção artesanal de queijos brancos, cremosos, curados e doces de leite. Um dia repleto de atividades físicas e de grande aprendizado regado com café da manhã, almoço, lanche e jantar, todos típicos da culinária caseira local. Onde: Rodovia Fernão Dias, km 50, Estrada do Clube da Montanha. th

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bezerra com dois dias de vida

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Cores que voamO colorido deslumbra nossos olhos ao entrarmos neste local, que é um verdadeiro paraíso de aves exóticas nacionais e importa-das. São tantas espécies que fica extremamente difícil saber qual é a mais bela. Além do visual, você tem assessoria na construção e manutenção de viveiros e lagos, compra dos animais e todos os acessórios para sua ave. Onde: Rodovia Fernão Dias, km 49,6

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Pomba Capuchinho

Faisão Lady Chrisolophus Amherstiae

Pavão Arlequim Pavo Cristatus

Galinha Polonesa

Peru Selvagem

Marreco Mandarim Aix Galericulata

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Lembrar é sempre bomE, logicamente, não poderíamos de deixar de mencionar o ar-tesanato local. As peças típicas de decoração ou mesmo de uma lembrança dos dias gostosos que passamos no lugar. Po-demos encontrar isso tudo na loja Arte com as Mãos, com a riqueza dos trabalhos manuais brasileiros. De extremo bom gosto, não há como deixar de levar alguma lembrança. Onde: Rodovia Fernão Dias, km 49,6

Aconchego naturalOutro ponto alto para podermos saborear a comida típica caipira e um café da manhã de extremo capricho temos que ir ao Restau-rante Recanto das Pedras. Aqui o lema é: “Nossa família serve sua família”. O mais gostoso desse paraíso culinário é que, após uma farta refeição, as pessoas podem descansar em redes e só esperar o tempo passar... Onde: Rodovia Fernão Dias, km 50

Com 200 mil m² de área e um enorme acervo de equipamentos ferroviários datados do século XIX, como a Maria fumaça, vagões de passageiros, va-gões de correio, vagão dormitório, balança, um bon-de, carrinhos e uma estação ferroviária verdadeira, a Estação Atibaia é um dos locais para eventos mais inusitados e bonitos do país, com uma estrutura de 1.500 m² para todos os tipos de cerimônias e eventos, até festivais musicais. Vale a pena conferir, pois este tipo de cenário para uma festa é único.

Estação Atibaia

Locomotiva 1893

Vagão Passageiro

Fachada Arte com as Mãos

Interior

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Orquidário TakebayashiSe você quer abrir os olhos para

a representação clássica da beleza, é aqui, em um orquidário, que você terá imagens fantásticas dessas flores que, desde a antiguidade, deixam as pessoas tão magnetizadas por elas que seu cultivo se tornou um hobby.

Desde 1994, o Orquidário Take-bayashi e seu laboratório (Plantech) que tem como principal produto a produção de mudas de orquídeas “in vitro”, através de semeadura e meris-tema. Segundo Sandra Takebayashi, a propagação por meristema é um processo de clonagem de uma plan-ta matriz, quando se quer reproduzir uma planta com as mesmas caracte-rísticas da planta mãe, principalmen-te de plantas híbridas.

Trabalham principalmente com as Cattleyas e as híbridas de Cattleyas. Nesse universo de possibilidades de cores e formatos, as variações são tantas que é difícil para um lei-go entender, mas assim que você recebe algumas informações bási-cas, parece que você se impregna de curiosidade e, porque não dizer, de uma vontade de brincar de Deus, pois com conhecimento de causa pode-se produzir infinitas plantas novas. Dá até para cruzar quatro gê-neros diferentes de orquídeas.

As orquídeas ocupam a faixa dos trópicos, onde há a maior ocorrên-cia de espécies, e elas aparecem até no cerrado, onde os bulbos são mais grossos para retenção de água. São plantas epífitas, ou seja, plantas que se fixam no tronco das árvores e que se alimentam de luz, matéria orgânica das folhas que caem e umidade ambiente. Portan-

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Um sorriso, um encanto...

to, elas não debilitam em nada as outras plantas. É importante ressal-tar que as orquídeas não são para-sitas. Em geral, demoram de 3 a 4 anos para florir.

As mudas, quando saem do labo-ratório, vão para os potes coletivos, mais tarde para os copinhos e de-pois para os vasos.

Agora, foi desenvolvido em Cam-pinas, pelo Dr. Darly Machado de Campos, dentista aposentado e au-tor de diversos livros sobre cultivo de orquídeas, um adubo orgânico que não queima a planta, cuja res-posta ao crescimento e ao vigor é

notável. Esse adubo é composto de farelos e micorriza.

Interessante é que o Orquidário proporciona um curso com dois mó-dulos: cultivo e reprodução.

Seus maiores clientes são pro-dutores e colecionadores principal-mente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Normalmente quem pede o sistema de meristema são grandes produtores. Já os colecio-nadores fazem os cruzamentos e enviam a semente.Onde – Estrada Hisaishi Takebayashi, 1675 – Bairro Caetetuba

Cymbidium Dendrobium thyrsiflorum ‘Musume’

Epicattleya René Marques

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“a cultura de meristemas é um tipo de clonagem feita a partir de gemas presentes no broto novo, enquanto este ainda se encontra em seus estágios ini-ciais de crescimento. as mudas obtidas a partir desse proces-so de Clonagem apresentam as mesmas características da planta matriz. Na cultura de meristemas, independente-mente dos cuidados tomados em laboratório, há riscos de oxidação e perda do meriste-ma. além disso, a taxa de mul-tiplicação é bastante variável de matriz para matriz, ou entre meristemas da mesma matriz. Por isso o número de mudas obtido pode não corresponder às expectativas em alguns ca-sos. É essencial que a planta a ser multiplicada esteja sadia e bem desenvolvida.”

Fonte: http://plantechnet.com.br/meris tema.htm

Meristemas

História da descoberta da germinação das orquídeas “até o fim do século XIX, a germinação das sementes das orquíde-as era um mistério. Em 1899, um biólogo francês, de nome Noël Bernard, examinando umas plântulas no microscópio, percebeu, com surpresa, a presença de filamentos envolvendo suas raízes: um fungo, identificado mais tarde, como Rhizoctonia. a partir de suas observações publicou diversos estudos descrevendo a natu-reza e o papel desempenhado pela associação orquídea-fungo na germinação das sementes. Seu trabalho, resultado de 10 anos de pesquisa, foi publicado em 1909 e explicava a associação entre as orquídeas e o fungo (micorriza). Foi uma grande revolução na cultura das orquídeas e seu trabalho abriu caminhos para novos estudos. O alemão Hans Burgell prosseguiu com os estudos e elaborou outro método também utilizando a cultura de fungo para fazer germinar as sementes. Mas em 1922, a fórmula de Lewis Knudson (cientista americano) suplantou todas as outras. Utili-zando uma gelatina estéril contendo sais minerais e açúcares, podia-se reproduzir em laboratório os mesmos efeitos do tal fun-go, possibilitando a germinação . Outras soluções foram desen-volvidas, algumas bastante eficazes mas a maior parte é baseada no método de Knudson.”Fonte: http://www.delfinadearaujo.com/historia/origem

Híbrido de Cattleya

Phalaenopsis Potinara

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Perfume das flores e

Festa de Flores e Morangos

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Encanto das cores

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O amor às flores pela comunidade nikkey de Ati-baia, chega ao seu apogeu com a Festa de Flores e Morangos que ocorre sempre no mês de setembro no Parque Edmundo Zanoni. A cada ano a Festa apre-senta o seu melhor em qualidade e diversidade de variedades de flores que são cultivadas com muita dedicação e tecnologia. “Em 1965, Atibaia comemo-rou seu 300º aniversário e a comunidade japonesa decidiu homenagear a cidade com uma exposição de flores: foi o início da Festa de Flores.

O local da exposição foi um depósito da Prefeitura onde mais de mil colaboradores trabalharam em três dias da preparação da festa, que atraiu mais de cem mil visitantes, resultando num lucro considerável. Em 24 e 25 de outubro de 1970, o evento foi reali-zado na feira permanente de Atibaia. A partir desta data, com o predomínio das flores, agregou-se tam-bém hortifrutigranjeiros, enriquecendo o espetáculo de produtos agrícolas e atraindo um grande número de pessoas.

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Festa de Flores e Morangos

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Realizada nos dias 26 e 27 de fevereiro de 1977, no Parque Edmundo Zanoni, o evento foi um suces-so e logrou incluir outros produtos além das rosas: havia crisântemos, cactos, cravos, orquídeas, hortifru-tigranjeiros etc. Com o sucesso da festa, a prefeitura decidiu incluí-la no seu calendário de eventos anuais.

Na época, com a produção de flores predominan-do no município, decidiu-se pela realização da festa anualmente, com o apoio da Prefeitura e a organiza-ção da ACA (Associação Cultural de Atibaia), Asso-ciação Pró-flor e Sindicato Rural. A Pró-flor, voluntária na decoração da festa, adquiriu o direito de comer-cializar produtos.

A Festa passou a ser consecutiva em 1982 e em 1985 adquire maturidade porque o morango ganha destaque como importante produto agrícola.

Outra revolução natural que veio em consequên-cia do crescimento da Festa de Flores e Morangos foi o surgimento da Associação Hortolândia de Ati-baia, que passou a ser responsável pelo evento.

Os resultados foram tão positivos, também para o turismo de Atibaia e o sucesso do morango foi tão salutar que, após a introdução dos hortifrutigranjei-ros na festa, eles também viraram atração.

Ao término da Segunda Guerra Mundial, a comuni-dade japonesa de Atibaia tinha como atividade princi-pal a cultura da batata, verduras e hortaliças e moran-go. A variedade de morango predominante na época era Honda. Gunpei Kikutei se transferiu de Jundiaí para Atibaia e assim teve o início dessa cultura. Após seis anos, conseguiu classificar a variedade que me-lhor se adaptava ao local; em 1955, arrendou parte das terras de T. Nakasu e iniciou o plantio do morango em Atibaia, optando por uma variedade americana.

Vizinhos como Eiji Sato e Kazuo Miyajima ade-riram à cultura do morango. Dizia-se na época que 500 pés de pêssego eram suficientes para uma fa-mília sobreviver com nível relativamente bom, o que levou muitas famílias a cultivarem morango e pês-sego ao mesmo tempo: o morango representava o giro diário de dinheiro e o pêssego, o investimento em longo prazo. Atibaia era a terra do morango e do pêssego. Passado dois a três anos, a região de Ati-baia já contava com 30 produtores. Em 1988, o Mi-nistério de Agricultura indicava que Atibaia produzia 2.580.000 caixas da fruta, com 10.000.000 de pés, representando 30% da produção nacional.Fonte: Livro ACENBRA Atibaia – 1952 a 2002

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Gastronomia

Simples, escolha uma das opções abaixo e delicie-se com tanta diversidade de origens gastronômicas. De restaurantes chiques a simples barracas de feira, você terá a oportunidade ímpar de uma excelente gastronomia à sua disposição.

Tradição portuguesa da região de Trás-os-Montes, desde 1973, vem deliciando a todos os brasileiros, que por aqui passam, com sua culinária especialíssima lusitana. Para quem gosta de bacalhau, melhor opção não há, pois o legítimo bacalhau Porto-Ghadus Mohua Imperial, é o ator principal de receitas de sabor intraduzível do Restaurante Ultramarino, intitulado o Rei do Bacalhau. Regado com muito azeite, não podemos esquecer dos famosos Bolinhos de Bacalhau e também das Alheiras à Mirandela, um embutido recheado de carne de aves e suína, miolo de pão, alho e temperos, é reconhecido como uma das 7 maravilhas da gastronomia de Portugal.Onde: Rodovia Fernão Dias, Km 41,5

“Quid emere optas?”

O que você quer comer?

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O Bacalhau não poderia faltar

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restaurante ultramarino

Bacalhau Transmontana

restaurante ultramarino alheira

Denomina-se “virado”, o cozido com caldo, no qual acrescenta-se a farinha, que pode ser de mandioca, de milho branco ou de milho ama-relo – e que é servido quente. Este cozido pode ser de feijão ou de ervilha, acrescido de linguiça, bacon e temperos, que variam conforme a região. Sabendo da existência deste prato, pelo Sr. Toninho Macedo – Presidente da Comissão Paulista de Folclore – que pesquisou nos-sas congadas na década de 70 e experimentou esta comida no bairro do portão. A receita que estamos divulgando foi ensinada pela Sra. Terezinha Aguiar Aires, que aprendeu com sua mãe, Benedita Rocha Aguiar, filha da Sra. Rosina Leite Aguiar, residente na Fazenda Santa Olímpia, no bairro do Itapetinga.

Fonte: Lilian Vogel

receita Virado de ErvilhaIngredientes:500 g de ervilhas frescas; 1 cebola média picada; 1/4 de xícara de chá de óleo; 2 xícaras de farinha de milho branca; sal; 300 g de lingui-ça calabresa em rodelas; 2 dentes de alho;Modo de fazer:Cozinhe as ervilhas em água e sal e reserve, cuidando para não cozi-nhar demais. Em outra panela, frite a cebola e o alho no óleo, acres-centando a ervilha com um pouco da água em que foi cozida. Expe-rimente o sal. Coloque a farinha de milho branca e desligue o fogo. Decore e sirva o prato acompanhado com a linguiça frita.Variações: se preferir, acrescente bacon e lingüiça frita picada junto à ervilha já cozida e adicione a farinha. Sirva o prato acompanhado de salada verde, ovo frito ou bisteca de porco. O prato também pode ser feito sem as carnes, apenas com os temperos.

A tradição - Virado de Ervilhas

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Gastronomia

Mais conhecido como o Bar do Julião, desde 1972, está a pleno vapor e vendendo uma média de 2000 sanduíches por mês, que são acompanhados por uma enorme variedade de cervejas de todos os tipos. Não vá se espantar com cardápio, cujos lanches tem o nome dos clientes que montaram a seu próprio gosto. Veja isto: Cheese Burger do Jivago, Cheese Salada do Nau, Cheese Vinagrete do Sérgio Glória e Cheese Filet do Murilo, entre outros. Estar no Bar é viver momentos de pura alegria. Um dos lemas da casa: “Bar é Cultura”. Eles tem razão. Ali você encontra todas as pessoas interessantes da cidade em uma mescla de vivência com a sabedoria do bem receber.Onde: Rua José Alvim, 345

Refrescando a todos desde 1935 com seus maravilhosos sorvetes artesanais, a Sorveteria Valentim sempre inovou. Foi o primeiro local a servir o café de coador na região, uma novida-de que encantou a cidade. Valentim Zago e sua esposa, Hercília Legé Zago, moravam e tinham seu comércio nesse local, porém, em 1922, um terremoto de grau 5 na Escala Ritcher rachou uma das paredes o que fez o S. Valentim de mudar. Mas o comércio continuou aberto, no mesmo local. Tudo voltou ao normal e quem hoje está à frente dos negócios é o simpático Sr. José Luiz Passador, casado com Dona Diva Zago Passador, filha de Valentim, que manteve a tradição do sorvete artesanal livre de gorduras e conservantes e feitos com frutas frescas. Onde: Praça Claudino Alves, 88 - Centro

O lanche que tem nome e sobrenome

O sabor refrescante das tardes atibaienses

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Gastronomia

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O italiano Giacomo Nardini chegou em Atibaia em 1891, comprou um bom punhado de terras e fez dele seu ganha-pão. Com todos da famí-lia colocando literalmente as mãos e os pés na massa, construíram uma vinicultura que até hoje perdura. Conversamos com seu neto, Adol-fo Nardini, que nasceu em 1925, que no disse que todos nasceram com uvas nas mãos e que a arte de confeccionar um vinho está nas veias deles. Quando seu avô veio para o Brasil, veio para fazer o vinho. Aqui em Atibaia, as terras são excelentes, porém o problema atual é que não existe mais mão-de-obra para trabalhar na lavou-ra, então eles compram as uvas do Rio Grande do Sul e fabricam o vinho aqui. Seu Adolfo cres-ceu no meio da plantação e fala que a cidade era só mato, não tinha casas, só cemitério, e que ia para a escola José Alvim, fizesse frio ou calor, só de calça curta e descalço, em um percurso de 1 hora a pé. Não havia dinheiro, sapato era coisa de luxo. Nasceu trabalhando e jamais pensou em se aposentar. “Antigamente, comparada à vida de hoje, hoje é branco, antigamente era preto”. Apreciador de vinhos desde a infância, recomen-da que o melhor vinho é o tinto seco, para beber dois copos no almoço e dois no jantar. Onde: R. Amador Peçanha Franco, 635 Bairro da Ressaca

Ir a Atibaia e não comer um autêntico doce português é uma falha sem precedentes. Se você quiser conhe-cer realmente essas iguarias lusitanas tem que ir ao Doces Portugueses Ricócó. De cara você vai ficar na dúvida com tantas coisas gostosas como: pastel de Santa Clara, ninho de ovos, torta de ricota, torta de nozes, quindim, torta de morango, pastel de amêndo-as, queijadinha de Abrantes, pastel de Tentúgal, tor-ta de maçã, torta de damasco, bomba de chocolate, pastel de nata, pingo de tocha, pastel de anjo, pastel de Coimbra, ovos moles de Aveiro. Todos esses do-ces são feitos artesanalmente com o uso semanal de 1500 ovos. Todas as receitas foram devidamente estudadas na terra natal e, até hoje, o preparo é feito com toda legitimidade de sua origem. Quer mais? Só na terra de Cabral.Onde: Av. Dona Gertrudes, 485

A cultura italiana da lavoura às mesas brasileiras

As sobremesas da colonização portuguesa

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Queijadinha de Abrantes

Pastel de Santa clara

AdegaAdolfo Nardini

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Comer pastel de feira é o máximo, ainda mais o da Agena, premiado como o melhor pastel da cidade de São Paulo em 2010. Nobuo Agena, imigrante japonês do pós-guerra, montou uma barraca na feira livre de produtos hortifrutigranjeiros e de-pois uma de pastéis em 1970. Com massa feita em casa, seus pasteis já agradavam os paladares dos que por ali passavam. Com muito amor e dedicação, a família acordava às duas horas da madrugada para fa-zer os recheios dos pastéis, pois não havia freezer na época para conservá-los. Sua filha, Helena No-dori Agena, aos sete anos já traba-lhava e hoje, seu filho Willian, segue

Pastel de feira é uma delícia

Com um cheiro de dar água na boca, Jorge Maeda, sushiman, brindou-nos com uma lin-da história de dedicação e amor à arte de comer bem. Tudo começa com seus tios, Mazushi Uehara e Aiko Uehara, que, vindos do Japão durante a Segunda Guerra, come-çaram a trabalhar na lavoura de café. Com seus ganhos, arrendaram terras e cultivaram pêssegos, milho e feijão. Anos mais tarde, estudaram muito sobre como fazer lanches ao gosto brasileiro e montaram uma lanchonete. Seus filhos e sobrinhos os ajudavam, pois de dia trabalhavam na terra e a noite na lanchonete. Com o sucesso de seus sanduíches com hambúrgueres de fabricação própria, aos pouco introduzi-ram tempurá, yakissoba, frango xadrez, teppan e o sushi. Assim surgiu o Restaurante Aiko. Jorge, gostou tanto da gastronomia japonesa e, sabendo que o sabor e a apresentação dos pratos viraria uma febre no Brasil, foi para o Japão e se especializou nessa arte. Começou como lavador de pratos, passou a fazer os pratos quentes e só depois de muitos anos é que pôde manusear o peixe cru. Ele explica a importância desse manuseio, como exem-

plo a temperatura das mãos do sushiman, pois a mesma não pode passar determinado calor à carne do pescado para não oxidá-lo (como dizem, “ma-tar o peixe”). E complementa dizendo que “quem prepara o prato tem que estar bem para passar uma boa energia para o alimento e sempre agradecer pela mesa farta”. Com orgulho, Maeda nos mostra seu diploma de sushiman assinado pelo Governador da Província, Sr. Osaka Sakae Kishi, em 2005. Onde: Rua Presidente Dutra, 215

os passos do avô, Nobuo. Atual-mente trabalham em Atibaia e em São Paulo em várias feiras da Vila Olímpia, Pacaembu e Vila Cisper – São Paulo, e Mercadão e Alvinópolis – Atibaia. O pastel mais vendido é o de carne e não podemos deixar de mencionar o Molho de Pimenta Agena, de fabricação própria.

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Gastronomia

A beleza e a técnica da culinária japonesa

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Sushi, sashimi e teishoku

Willian e Helena agena

Pastel de vento com calda de chocolate

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Movimento pela terra, água e ar

EsportesJa

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Por Andrea Silva Nilsson

Atibaia está localizada em uma região privilegiada. O relevo da cidade pro-porciona condições ideais para corridas de montanha, provas de mountain bike, escaladas e caminhadas, entre outras opções. O ar puro fornece a ener-gia ideal para abastecer os adeptos de esportes radicais e aventureiros em busca do movimento preferido para fazer a adrenalina correr solta.

A Pedra Grande, principal cartão postal da cidade, figura entre as maiores rampas naturais do mundo e oferece condições perfeitas para a prática do voo livre, em suas diferentes modalidades. Uma ampla área de pouso, locali-zada dentro da cidade, proporciona conforto aos atletas e um palco perfeito para quem gosta de observar os praticantes de voo livre regressando à terra firme, ao mesmo tempo em que a magia do por do sol acontece. A área do pouso serve também de ponto de partida para outra atração aérea: o balonis-mo. O colorido no céu veste a cidade no movimento que hipnotiza e torna o sonho de voar uma realidade para quem não arrisca o salto livre.

Pela água, a opção é a tranquilidade da canoagem. Atibaia é muito co-nhecida pela qualidade de sua água, proveniente das inúmeras nascentes, que brotam nas serras da região montanhosa. Desfrutar dos passeios de caiaque pelo rio da cidade ou na represa do Bairro da Usina renova as energias e abastece a alma. Engolidos pelo verde exuberante da paisagem, convidamos o estresse a sair de cena e nos reconectamos com a melhor rede que existe: a natureza.

Para os esportistas iniciantes, com pouco condicionamento físico, ou quem é avesso às aventuras radicais, fica a sugestão de um passeio de bicicleta pelas ruas da cidade, sem compromisso, bem pertinho de tudo. Mas se o caso é preguiça mesmo, há opções até para o grupo dos sedentários, que não conseguem aderir a uma boa dieta e à prática regular de exercícios: que tal uma esticadinha até a cidade, para caminhar até a sorveteria e se refres-car com um picolé, caminhando pelo calçadão?

Não tem desculpa! Só fica parado em Atibaia quem quer. Opções não fal-tam. A paisagem que envolve a cidade, o clima pitoresco do Centro Histórico e as opções de lazer e passeios são um convite irresistível para o esporte.

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Voo Livre

Esportes

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A prática do Voo Livre em Atibaia começou na década de 70. Seguindo a tendência que vinha do Rio de Janeiro, onde a modalidade já era muito popular, o esporte foi to-mando corpo e ganhando novos adeptos. A localização de Atibaia, com fácil acesso pelo entroncamento das rodovias em que se encontra, contribuiu para que a cidade fosse procurada pelos amantes do esporte. Somado a isso, condições climáticas e térmicas ideais, relevo que oferece áreas para aprendizado e treinamento, e a maior rampa natural do mundo, a cidade desenvolveu a equação perfei-ta para que o Voo Livre fosse o grande destaque local.

O Clube Atibaiense de Voo Livre, fundado no final da década de 70 é um dos mais antigos do Brasil. Com mais de 200 associados, o Clube organizou o esporte e trabalha para que a gestão burocrática, envolvendo não somente a legislação de licenças para voos, mas também a questão ambiental, estejam de acordo com as exigências vigentes.

A cidade se consolidou no cenário nacional e mundial do Voo Livre. Amantes do esporte que estão na Grande São Paulo, na Região Bragantina, nos arredores de Cam-pinas ou no Vale do Paraíba podem chegar aqui e voar, de segunda a segunda, o ano todo.

É o que pode ser observado por quem está atento aos céus. Mesmo durante a semana, moradores acom-panham o movimento na Pedra Grande, maior mirante da cidade. A montanha que abriga uma das maiores rampas naturais do mundo é o ponto de partida para quem dese-ja alçar voo. Isso mesmo, enquanto muitos estão na sua rotina de trabalho, na correria das tarefas inacabáveis do dia a dia, outros, mais privilegiados, podem desfrutar de um momento único em contato com a natureza.

O avanço tecnológico dos equipamentos para Voo Li-vre tornou o Parapente ou Paraglider (pode ser só glider também) a versão mais praticada no esporte. A pratici-dade do transporte, quando comparado à Asa Delta, faz do Voo glider o mais comum. A visão de quem assiste de longe também agrada, e o público que se reúne no cam-po do pouso, que fica dentro da cidade, anima a descida dos voadores.

Desde década de 70, quando tudo começou, até os dias de hoje, o Voo Livre continua libertando, dando asas aos mais ousados e trazendo para Atibaia um público cativo. Muitos voadores de renome no Brasil e no exterior passaram e continuam passando pela cidade. A imensi-dão territorial da Pedra Grande facilitou a realização de Ja

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vários campeonatos e torneios, comportando um público grande e fazendo a vida do esporte rodar.

Um fator interessante do Voo Livre é que o esporte atrai não somente o voador, mas também os especta-dores. É preciso companhia para voar, pelo menos uma alma caridosa que possa fazer o “resgate”. Pode ser um grupo de apoio, geralmente familiares e amigos, que, de-pois do resgate, seguirão juntos, em terra firme, para um “happy hour” na cidade.

Segundo um dos primeiros voadores da cidade, o ad-vogado Álvaro Vulcano Jr., além de receber muitos atletas de renome nacional, Atibaia também formou muita gente boa, da própria cidade. Muitos atuam como instrutores até hoje e já estão em ação há mais de 20 anos. Alguns exemplos de voadores atibaianos são Fernando Musa, Roosevelt Brisante, Ica, Alê Geragi, entre outros. Além disso, há todo o corpo diretivo do CAVL (Clube Atibaiense de Voo Livre), que pode oferecer mais dados e outros exemplos sobre os atletas em ação. O site do Clube dis-ponibiliza informações e contatos para quem se interes-sa pelo esporte.

A vocação para voar é confirmada a cada ano em Ati-baia. Mesmo com o desenvolvimento da cidade na esfera corporativa, o Voo Livre ainda lidera o motivo pelo qual mais de mil visitantes por mês buscam Atibaia como des-tino. É, sem dúvida, um esporte que promove o lazer, o convívio social e que ajuda a divulgar a mensagem da preservação, já que cada voador é, em essência, cons-ciente da questão ambiental, afinal, a maior motivação para voar é poder observar belas paisagens, e não chão concretado e arranha-céus.

“Na década de 70, quando o Voo Livre começou a to-mar corpo em Atibaia, tive o prazer de estar entre os pri-meiros a voar no Brasil e ser o primeiro atibano a praticar esse esporte. Fui instrutor por mais de 20 anos e pude conviver com pilotos de todo país, e de fora. São tantas

histórias e lembranças dessa época. Lembro quando rea-lizamos o primeiro campeonato em Atibaia. Foi um grande evento e havia poucos praticantes do esporte no Brasil. Lembro-me que tinha até um helicóptero da FAB no pou-so, fez umas evoluções na festa enquanto nos prepará-vamos para subir de caminhão com as asas até a Pedra Grande e acontecer o torneio programado. Havia muitas pessoas no pouso. Os competidores fizeram um briefing para determinar a prova. Como eram poucos, sentimos que faltava o Eliélsio Natal, piloto de Atibaia. Nada de chegar. Todo mundo pensando “será que ele não virá, jus-to hoje!”. Passado um tempo, ele chega, na última hora, coloca a asa no caminhão, e eu lhe perguntei: O que aconteceu? Ele esbaforido respondeu: “Desculpa gente, atrasei um pouco porque estava casando, mas tudo bem, cheguei, vamos voar!” Álvaro Vulcano Jr., advogado, um dos pioneiros do Voo Livre em Atibaia

“O Voo Livre é um esporte cativante, quem começa a praticar não sai mais. É muito interessante observar a paisagem, de um outro ponto de vista. Nesses 20 anos no esporte, sobrevoando Atibaia, pude acompa-nhar o desenvolvimento da cidade. As mudanças, o cres-cimento, tudo visto de cima. É uma experiência única, um registro na memória visual que fica pra sempre.” Dário Régoli, Secretário geral do CAVL (Clube Atibaiense de Voo Livre)

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Desde 2011, Atibaia conta com a opera-ção de passeios de balão, oferecidos pelo próprio fabricante do equipamento, um di-ferencial na cidade. Isso proporciona aos usuários um passeio com segurança e qua-lidade. A vista aérea da cidade é a atração mais cobiçada por todos que procuram essa aventura diferente. Totalmente regularizada, a atividade está à disposição para os amantes de esportes alternativos.

Atibaia tem características interessantes para a prática do balonismo. A geografia da re-gião é semelhante às europeias. O clima, o relevo e a vegetação atraem o público interessado em ver “do alto” a movimentação das atividades da agropecuária local e também da produção agríco-la. As condições do voo de balão permitem que os “passageiros” acompanhem os movimentos das fazendas, por um ângulo privilegiado. Uma experiência marcante, com a paisagem variada, do alto da montanha ao leito do rio.

balonismo

Tudo começou com o “Padre Voador”

Esportes

A História do Balonismo no Brasil tem suas raízes no século XVIII, confirmando a vocação do país no “pioneirismo pelos ares”. O Padre Bartolomeu de Gusmão, nascido em Santos, está entre os precursores da ideia do ar quente para o voo, com sua criação conhecida por Passarola. Mas a prática e popularidade do esporte no Brasil tomou corpo somente a partir de 1970, através do trabalho do Comendador Victorio Truffi. Pioneiro a realizar um voo de balão na América do Sul e um dos fundadores do Clube Paulista de Balonismo, o Comendador formou os primeiros 20 pilotos brasileiros. De lá pra cá, o Brasil se profissionalizou e a demanda pelo esporte espalhou o balonismo pelos diversos polos da região Sul e Sudeste. A Confederação Brasileira de Balonismo (CBB) reúne as Federações estaduais dos sete estados ativos no esporte. No site da CBB é possível conferir o calendário de competições e encontros pelo país.

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Desde 2009, Atibaia sedia um evento de pro-porção nacional, que invade as ruas da cidade e movimenta cerca de 4.500 atletas com um público cativo de mais de 30 mil pessoas. O Festival de Esportes Radicais de Atibaia acontece anualmente, geralmente no segundo semestre do ano. São três dias de evento, reunindo etapas de campeonatos regionais e nacionais de esportes radicais de A-Z. O evento é o maior do Brasil no gênero e põe à pro-va o fôlego do público, que precisa suar a camisa para dar conta de acompanhar tanto movimento, tanta variedade de atrações. Mountain bike, dow-nhill bike, corrida de aventura, mergulho, mon-tanhismo (escalada), off-road, paraquedismo, canoagem (caiaque), trekking, vela, tirolesa, ar-vorismo, paraglider, paramotor, asa delta, trake, freestyle, quadriciclo, balonismo, moto cross, a lista vai longe.

Quem não aguenta o tranco, fica na base do espaço do Balneário, no Lago do Major. Estruturas especiais proporcionam diversão e entretenimento

Festival Radical

PaintballQuem gosta de reunir amigos e seguir para uma ati-

vidade diferente, que combina diversão e movimento, deve visitar o Paintball de Atibaia. Em uma área repleta de equipamentos e com o cenário ideal para muita brin-cadeira, os participantes encontram as condições ide-ais para quebrar a rotina num espaço preparado para abrigar até 80 jogadores.

para quem veio só para assistir, mas é surpreen-dido por um convite à aventura. De tudo um pou-co, há escolhas para todos os gostos e idades. Atividades de lazer, como brinquedos infláveis, cama elástica, water orbit ball, parede de escala-da, caiaques e jogos eletrônicos se misturam as opções mais ousadas como bungee jump, tirolesa e paintball. Quem tem coragem vai, quem não tem, registra o momento, clicando a foto que serve de troféu para quem venceu o medo. E como ninguém é de ferro, há também shows com atrações de destaque na música nacional e ainda uma expo-sição que conta a história das Forças Armadas. Exército, Aeronáutica e Marinha aproveitam o mo-mento para se aproximar do público heterogêneo e proporcionar a todos, contato com equipamentos e curiosidades que geralmente estão distantes da rotina e figuram como algo solene e intocável.

Quem não consegue assistir porque tem uma agenda muito ocupada tem que achar um tempi-nho e conferir tudo na cobertura da mídia, nas re-des sociais e nos compartilhamentos por aí afora, porque o evento corre solto e vira assunto pelos quatro cantos.

Os jogos e o ambiente desafiador inspiram em-presas e outras instituições a promoverem dinâmi-cas para interação, usando o esporte que estimula o combate para treinamentos profissionais, com foco em liderança e trabalho em equipe. Famílias também podem se divertir, o grande “ibope” fica por conta dos embates entre casais. Contate o Ati-baia Paintball Club e faça um agendamento. Onde: Rodovia Dom Pedro I, km 84

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Atibaia é cercada por haras e espaços hípicos diver-sos. Opções para cursos regulares e também aulas em modalidade avulsa, passeios mediante agendamento com as empresas de turismo receptivo e cavalgadas em grupos garantem o contato com esse esporte que atual-mente tem sido muito usado em terapias que utilizam o contato com os cavalos como forma de tratamento.

Após a natação, a equitação ocupa ao lado do remo, o segundo lugar de esporte mais completo para o organis-mo, sendo sua melhor contribuição o impacto no equilíbrio emocional. Muitos atletas treinam na cidade, que tem um número expressivo de participantes em torneios e compe-tições profissionais. Um exemplo é o William Antonio Medeiros Júnior. Montando cavalos desde os 4 anos, William compete desde os 6 anos e hoje o esporte é sua vida. Com títulos diversos na carreira es-portiva, William é o atleta de Atibaia que se destaca na modalidade de 3 tambores e 6 balizas.

Todo ano, acontece em Atibaia uma etapa do RPV (Rally Paulista de Velocidade). Há oito anos, a cidade entrou na programação do evento. Em 2012, foi disputada na cidade uma etapa do Cam-peonato Brasileiro, pela primeira vez, confirmando o potencial que Atibaia tem de atrair eventos es-portivos. São vários caminhos percorridos pelos pilotos, mas o ponto alto da prova é disputado na estrada do Guaxinduva, considerada pelos com-petidores como uma das melhores do Brasil, pela alta exigência técnica da estrada. Geralmente o RPV é disputado por um grupo de 20 pilotos que correm em carros com padrão similar aos carros utilizados nas provas da Stock Car.

Rally

CavalgadasPassando pela Fernão Dias, já é possível avis-tar a pista do Kartódromo de Atibaia, que fica logo após o Posto da Polícia Rodoviária, na saída do km 47, no Bairro do Rosário. Etapas de campeonatos paulistas são disputadas na pista oficial, que tem trechos “travados” para desafiar pilotos e mecânicos. A pista está ativa na cidade há mais de 10 anos e já é conhecida dos amantes da velocidade. Aberto de terça a domingo das 8h às 23h.

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Pedalinho do Parque Edmundo Zanoni Nada como toda a família pedalar na água contemplando as belezas naturais deste parque

Belo lugar para passar o dia com a família e curtir o que a natureza tem de melhor

Clube da Montanha

não deixe de visitar

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Observatório de Radioastronomia e Astrofísica de Itapetingamais conhecido como Observatório do mackenzie. Foi fundado em 1969, com objetivo de permitir a obtenção de espectros e de imagens produzidas pelas ondas de rádio emitidas pelos objetos celestes. Visitas com agendamento prévio de segunda a sexta-feira

Um lugar para se exercitar ou uma parada para ler um bom livro

Lago do Major

todos os tipos de produtos para uma culinária variada

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CharretesGostoso e tradicional, um passeio de 1 a 3 horas de duração que percorre locais beminteressantes de se conhecer

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Via Sacra do Escadão Nada como um sacrifício para ver a paisagem da cidade

Pelourinhomarco histórico literalmente encravado no coração da cidade

Uma pescaria é sempre um momento de descontração para deixar os problemas de lado

Pesqueiro

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TeleféricoUm gostoso passeio com vista privilegiada

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não deixe de visitar

desde 1974 – Praça Nove de Julho, s/nº

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Dados estatísticos

Data de Fundação 24 de junho de 1665

Gentílico Atibaiano

Localização Geográfica Macro Metropolitano PaulistaLatitude: 23° 07’ 01” SLongitude: 46° 33’ 00” OAltitude: 803 metros

Cidades Limites Bragança Paulista, Piracaia, Nazaré Paulista, Bom Jesus dos Perdões, Mairiporã, Franco da Rocha, Francisco Morato, Campo Limpo Paulista e Jarinu.

Área Total478,517 km²

Pessoas Residentes126.603 – Censo 2010

Número deEmpresas Atuantes5.851 Unidades

ClimaTropical de Altitude

Rodovias de AcessoRodovia Fernão Dias (BR 381)Rodovia Dom Pedro I (SP 65)

Densidade Demográfica(habitantes/Km²)264,61 hab./km²

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Gente da Terra

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Revista Cidade & Cultura

Que coisa boa essa terra

Atibaia é uma cidade acolhedora, que reco-nhece o valor das pessoas e a importância de quem aqui mora ou visita. Assim como tantos outros, fui acolhido por Atibaia e hoje me sin-to honrado por fazer parte da sua história. Foi aqui que meus pais criaram raízes, onde cresci e construí a minha vida. Foi em Atibaia que eu formei minha família, conheci minha esposa Si-mone e também onde o meu maior presente de Deus, minha filha Maria Vitória, veio ao mundo.

Atibaia é cidade de muitas belezas, belas pai-sagens e gente prazenteira. Foi-se o tempo em que era conhecida apenas por suas qualidades turísticas. Hoje, com um perfil moderno e desen-volvimentista, a cidade atrai investidores e toda gama de empresas de alta tecnologia. É uma cidade que está em franco crescimento, sendo modelo de desenvolvimento para outros municí-pios, em todos os sentidos.

Falar de Atibaia em poucas linhas é tarefa di-fícil. Os esforços, por maiores que sejam, são insuficientes para retribuir tudo o que ela ofere-ce, diariamente, a todos nós. Mas essa busca é o que alimenta nossa vontade de trabalhar pela cidade, na esperança de preservá-la bela e vigo-rosa e construir um futuro cada vez melhor para as próximas gerações.

Saulo Pedroso Prefeito de Atibaia

Sentar à noite nas ruas do centro só para ver o tempo passar é uma atividade que todos deveriam fazer. Pro-sear é outra. Jogar conversa fora, rir de absolutamente nada e deixar a vida fluir como as águas de um rio. Acredito que esse foi o principal aprendizado em Ati-baia. Existe o “agito” do dia a dia, sem dúvida muito trabalho, mas a calma, a valorização do tempo em coi-sas que realmente valem a pena é o que mais nos im-pressionou. Encontramos historiadores e contadores de história, artistas que se tornaram amigos, floricul-tores, lavradores, uma gama tão grande de trabalhos tão enobrecedores ao nosso espírito que só temos que agradecer a essa terra que, entre as serras, é o reflexo de uma verdadeira estância de bons fluidos.

Renata Weber Neiva

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ATIBAIAEntre as serras, um canto cheio de tradições e muito amor à terra

História | Arte | Meio Ambiente | Arquitetura | Folclore | Turismo

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EDIçãO 01

www.cidadeecultura.com.br

EDIçãO 01

Nº09 - R$ 10,00 - Brasil

De rara beleza, a Amarilis-vermelha reina na Pedra Grande