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    Adriana L. Limaverde GomesAnna Costa Fernandes

    Cristina Abranches Mota BatistaDorivaldo Alves Salustiano

    Maria Teresa Eglr MantoanRita Vieira de Figueiredo

    Deficincia Mental

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    PresidenteLuiz Incio Lula da Silva

    Ministrio da Educao

    Fernando Haddad

    Secretrio de Educao a DistnciaRonaldo Mota

    Secretria de Educao EspecialCludia Pereira Dutra

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    SEESP / SEED / MEC

    Braslia/DF 2007

    Formao Continuada a Distncia

    de Professores para o

    Atendimento Educacional Especializado

    Deficincia Mental

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    Ficha Tcnica

    S

    ecretrio de Educao a Distncia

    Ronaldo Mota

    Diretor do Departamento de Polticas de Educao a DistnciaHelio Chaves Filho

    Coordenadora Geral de Avaliao e Normas em Educao aDistnciaMaria Suely de Carvalho Bento

    Coordenador Geral de Articulao Institucional em

    Educao a DistnciaWebster Spiguel Cassiano

    Secretria de Educao EspecialCludia Pereira Dutra

    Departamento de Polticas de Educao EspecialCludia Maffini Griboski

    Coordenao Geral de Articulao da Poltica de InclusoDenise de Oliveira Alves

    C

    oordenao do Projeto de Aperfeioamento deProfessores dos Municpios-Polo do ProgramaEducao Inclusiva; direito diversidade emAtendimento Educacional EspecializadoCristina Abranches Mota BatistaEdilene Aparecida RopoliMaria Teresa Eglr MantoanRita Vieira de Figueiredo

    Autores deste livro: Atendimento EducacionalEspecializado em Deficincia MentalAdriana L. Limaverde GomesAnna Costa FernandesCristina Abranches Mota BatistaDorivaldo Alves SalustianoMaria Teresa Eglr MantoanRita Vieira de Figueiredo

    Projeto GrficoCcero Monteferrante - [email protected]

    RevisoAdriana A. L. Scrok

    Impresso e AcabamentoGrfica e Editora Cromos - Curitiba - PR - 41 3021-5322

    IlustraesAlunos da APAE de Contagem - Minas GeraisAlef Aguiar Mendes (12 anos)Felipe Dutra dos Santos (14 anos)Marcela Cardoso Ferreira (13 anos)Rafael Felipe de Almeida (13 anos)Rafael Francisco de Carvalho (12 anos)

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    O Ministrio da Educao desenvolve a poltica de educao inclusiva que pressupe a

    transformao do Ensino Regular e da Educao Especial e, nesta perspectiva, so implementadas diretrizese aes que reorganizam os servios de Atendimento Educacional Especializado oferecidos aos alunos comdeficincia visando a complementao da sua formao e no mais a substituio do ensino regular.

    Com este objetivo a Secretaria de Educao Especial e a Secretaria de Educao a Distnciapromovem o curso de Aperfeioamento de Professores para o Atendimento Educacional Especializado,realizado em uma ao conjunta com a Universidade Federal do Cear, que efetiva um amplo projeto deformao continuada de professores por meio do programa Educao Inclusiva: direito diversidade.

    Incidindo na organizao dos sistemas de ensino o projeto orienta o Atendimento EducacionalEspecializado nas salas de recursos multifuncionais em turno oposto ao freqentado nas turmas comunse possibilita ao professor rever suas prticas luz dos novos referenciais pedaggicos da incluso.

    O curso desenvolvido na modalidade a distncia, com nfase nas reas da deficincia fsica,sensorial e mental, est estruturado para:

    - trazer o contexto escolar dos professores para o foco da discusso dos novos referenciais paraa incluso dos alunos;

    - introduzir conhecimentos que possam fundamentar os professores na reorientao das suasprticas de Atendimento Educacional Especializado;

    - desenvolver aprendizagem participativa e colaborativa necessria para que possam ocorrermudanas no Atendimento Educacional Especializado.

    Nesse sentido, o curso oferece fundamentos bsicos para os professores do Atendimento

    Educacional Especializado que atuam nas escolas pblicas e garante o apoio aos 144 municpios-plopara a implementao da educao inclusiva.

    CLAUDIA PEREIRA DUTRASecretria de Educao Especial

    o desenvolve a poltica de educao inclusiva que pressupe a

    a Educao Especial e, nesta perspectiva, so implementadas diretrizes

    PREFCIOPREFCIO

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    Para entender a deficincia mental, temos de puxar diferentes fios e cruz-los entre si,

    buscando respostas e esclarecimentos que permitam compreend-la.

    Os textos que aqui apresentamos

    abordam essa limitao humana

    nessa tessitura, com o cuidado

    de no reduzi-la em seu entendimento.

    Quanto ao Atendimento Educacional

    Especializado AEE para

    esses alunos, estamos trazendo

    experincias interessantes, que envolvem

    nveis os mais diferentes de comprometimento

    mental e atividades pedaggicas as maisvariadas, tecendo a teoria com a prtica.

    Coordenao do Projeto.

    deficincia mental temos de uxar diferentes fios e cruz-los entre si

    APRESENTAOAPRESENTAO

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    CAPTULO I

    ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO EM DEFICINCIA MENTAL ..................................... 131. A deficincia mental ................................................................................................................................................................ 132. A escola comum diante da deficincia mental .................................................................................................................. 163. O Atendimento Educacional Especializado para as pessoas com deficincia mental e a Educao Especial .... 20

    3.1. Atendimento Educacional Especializado para a deficincia mental O Conceito ...................................... 22

    3.2. Atendimento Educacional Especializado para a deficincia mental A Prtica ........................................... 244. Relato de uma experincia em Atendimento Educacional Especializado .................................................................. 29

    4.1. Experincia da APAE de Contagem ......................................................................................................................... 294.2. Produo de textos na SAT Livros e Filmes ............................................................................................................ 324.3. A produo de uma histria e de outras tantas... .................................................................................................. 334.4. Projetos na SATs Arte ................................................................................................................................................. 39

    CAPTULO II

    A EMERGNCIA DA LEITURA E DA ESCRITA EM ALUNOS COM DEFICINCIA MENTAL ............................... 45

    1. O que ler? ................................................................................................................................................................................ 452. A aprendizagem da leitura e da escrita por alunos com deficincia mental .............................................................. 47

    2.1. Letramento ..................................................................................................................................................................... 472.2. Dimenso desejante...................................................................................................................................................... 48

    2.3. Expectativas do entorno, ensino e interaes escolares ....................................................................................... 493. A avaliao da aprendizagem da leitura e da escrita ........................................................................................................ 51

    3.1. Relao entre desenho e texto .................................................................................................................................... 513.2. Estratgias de leitura .................................................................................................................................................... 57

    4. Produo escrita........................................................................................................................................................................ 60

    SUMRIOSUMRIO

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    CAPTULO III

    MEDIAES DA APRENDIZAGEM DA LNGUA ESCRITA POR

    ALUNOS COM DEFICINCIA MENTAL .......................................................................................................... 71

    1. Introduo ................................................................................................................................................................................. 71

    2. Conceituando mediao ......................................................................................................................................................... 723. Anlise de um evento de mediao ...................................................................................................................................... 74

    3.1. O episdio ...................................................................................................................................................................... 74

    3.2. Anlise do episdio ...................................................................................................................................................... 75

    4. Ampliando as concepes de mediao para alm do Modelo SSO ....................................................................... 77

    5. Consideraes finais ................................................................................................................................................................ 80

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    CaptuloI-

    AtendimentoE

    ducacionalEspecializadoemDeficincia

    Mental

    1. A deficincia mental1. A deficincia mental

    Na procura de uma compreenso maisglobal das deficincias em geral, em

    1980, a OMS2 props trs nveis para

    esclarecer todas as deficincias, a saber: deficincia,

    incapacidade e desvantagem social. Em 2001, essa

    proposta, revista e reeditada, introduziu o

    funcionamento global da pessoa com deficincia

    em relao aos fatores contextuais e do meio, re-situando-a entre as demais e rompendo o seu

    isolamento. Ela chegou a motivar a proposta de

    substituio da terminologia pessoa deficiente

    por pessoa em situao de deficincia. (Assante,

    20003), para destacar os efeitos do meio sobre a

    autonomia da pessoa com deficincia. Assim, uma

    1 Este Captulo I e o Captulo II foram baseados no livro EducaoInclusiva - Atendimento Educacional Especializado para a DeficinciaMental, das mesmas autoras e editado pela Secretaria de EducaoEspecial do MEC, em 2005.

    2 Organizao Mundial de Sade.

    3 Extrado do documento do grupo de estudos sobre a lei de Orientaoem favor das pessoas com deficincia - Frana..

    pessoa pode sentir-se discriminada em um ambiente

    que lhe impe barreiras e que s destaca a sua

    deficincia ou, ao contrrio, ser acolhida, graas s

    transformaes deste ambiente para atender s suasnecessidades.

    Atendimento Educacional EspecializadoAtendimento Educacional Especializadoem Deficincia Mentalem Deficincia Mental11Cristina Abranches Mota Batista

    Maria Teresa Eglr Mantoan

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    1414AtendimentoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    A Conveno da Guatemala, internalizada

    Constituio Brasileira pelo Decreto n

    3.956/2001, no seu artigo 1 define deficincia

    como [...] uma restrio fsica, mental ou

    sensorial, de natureza permanente ou transitria,que limita a capacidade de exercer uma ou mais

    atividades essenciais da vida diria, causada ou

    agravada pelo ambiente econmico e social. Essa

    definio ratifica a deficincia como uma

    situao.

    A deficincia mental constitui um

    impasse para o ensino na escola comum e para a

    definio do Atendimento Educacional

    Especializado, pela complexidade do seu conceito

    e pela grande quantidade e variedades de

    abordagens do mesmo.

    A dificuldade de diagnosticar a deficincia

    mental tem levado a uma srie de revises do seuconceito. A medida do coeficiente de inteligncia

    (QI), por exemplo, foi utilizada durante muitos

    anos como parmetro de definio dos casos. O

    prprio CID 10 (Cdigo Internacional de Doenas,

    desenvolvido pela Organizao Mundial de

    Sade), ao especificar o Retardo Mental (F70-79),

    prope uma definio ainda baseada no coeficientede inteligncia, classificando-o entre leve,

    moderado e profundo, conforme o

    comprometimento. Tambm inclui vrios outros

    sintomas de manifestaes dessa deficincia,

    como: a [...] dificuldade do aprendizado e

    comprometimento do comportamento, o que

    coincide com outros diagnsticos de reas

    diferentes.

    O diagnstico da deficincia mental nose esclarece por supostas categorias e tipos de

    inteligncia. Teorias psicolgicas desenvolvi-

    mentistas, como as de carter sociolgico,

    antropolgico tm posies assumidas diante da

    deficincia mental, mas ainda assim no se

    conseguiu fechar um conceito nico que d conta

    dessa intrincada condio.

    A Psicanlise, por exemplo, traz tona a

    dimenso do inconsciente, uma importante

    contribuio que introduz os processos psquicos

    na determinao de diversas patologias, entre as

    quais a deficincia mental. A inibio, desenvolvida

    por Freud, pode ser definida pela limitao dedeterminadas atividades, causada por um bloqueio

    de algumas funes, como o pensamento, por

    exemplo. A debilidade, para Lacan, define uma

    maneira particular de o sujeito lidar com o saber,

    podendo ser natural ao sujeito, por caracterizar

    um mal-estar fundamental em relao ao saber, ou

    seja, todos ns temos algo que no conseguimosou no queremos saber. Mas tambm define a

    debilidade como uma patologia, quando o sujeito

    se fixa numa posio dbil, de total recusa de

    apropriao do saber.

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    CaptuloI-

    AtendimentoE

    ducacionalEspecializadoemDeficincia

    Mental

    Alm de todos esses conceitos, que em

    muitos casos so antagnicos, existe a dificuldade

    de se estabelecer um diagnstico diferencial

    entre o que seja doena mental(que engloba

    diagnsticos de psicose e psicose precoce) edeficincia mental, principalmente no caso de

    crianas pequenas em idade escolar.

    Por todos esses motivos, faz-se necessrio

    reunir posicionamentos de diferentes reas do

    conhecimento, para conseguirmos entender

    mais amplamente o fenmeno mental.

    A deficincia mental no se esgota na

    sua condio orgnica e/ou intelectual e nem

    pode ser definida por um nico saber. Ela

    uma interrogao e objeto de investigao de

    inmeras reas do conhecimento.

    A grande dificuldade de conceituar essa

    deficincia trouxe conseqncias indelveis namaneira de lidarmos com ela e com quem a possui.

    O medo da diferena e do desconhecido responsvel,

    em grande parte, pela discriminao sofrida pelas

    pessoas com deficincia, mas principalmente por

    aquelas com deficincia mental.

    O socilogo Erving Goffmandesenvolveu uma estrutura conceitual a

    estigmatizao, para definir essa reao diante

    daquele que diferente e que acarreta um certo

    descrdito e desaprovao das demais pessoas.

    Freud, em seu trabalho sobre o Estranho,

    tambm demonstrou como o sujeito evita aquilo

    que lhe parece estranho e diferente e que no

    fundo remete a questes pessoais e mais ntimas

    dele prprio.

    Presa ao conservadorismo e estruturade gesto dos servios pblicos educacionais, a

    escola, como instituio, continua norteada

    por mecanismos elitistas de promoo dos

    melhores alunos em todos os seus nveis de

    ensino e contribui para aumentar e/ou manter

    o preconceito e discriminao em relao aos

    alunos com deficincia mental.

    H que se considerar tambm as

    resistncias de profissionais da rea, que criam

    ainda mais obstculos para se definir o

    atendimento a pessoas com deficincia mental.

    Por todas essas razes, o Atendimento

    Educacional Especializado para alunos comdeficincia mental necessita ser urgentemente

    reinterpretado e reestruturado.

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    2. A escola comum diante da2. A escola comum diante dadeficincia mentaldeficincia mental A deficincia mental desafia a escola

    comum no seu objetivo de ensinar, de levar o alunoa aprender o contedo curricular, construindo oconhecimento. O aluno com essa deficincia temuma maneira prpria de lidar com o saber, que nocorresponde ao que a escola preconiza. Na verdade,no corresponder ao esperado pela escola pode

    acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunoscom deficincia mental denunciam a impossibilidadede a escola atingir esse objetivo, de forma tcita.Eles no permitem que a escola dissimule essaverdade. As outras deficincias no abalam tanto aescola comum, pois no tocam no cerne e nomotivo da sua urgente transformao: considerar a

    aprendizagem e a construo do conhecimentoacadmico como uma conquista individual eintransfervel do aprendiz, que no cabe em padrese modelos idealizados.

    O aluno com deficincia mental temdificuldade de construir conhecimento como osdemais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,

    principalmente nas escolas que mantm um modeloconservador de ensino e uma gesto autoritria ecentralizadora. Essas escolas apenas acentuam adeficincia, aumentam a inibio, reforam ossintomas existentes e agravam as dificuldades doaluno com deficincia mental. Tal situao ilustra o

    que a definio da Organizao Mundial de Sade- OMS de 2001 e a Conveno da Guatemala acusamcomo agravante da situao de deficincia.

    O carter meritocrtico, homogeneizador

    e competitivo das escolas tradicionais oprimem oprofessor, reduzindo-o a uma situao de isolamentoe impotncia, principalmente frente aos seus alunoscom deficincia mental, pois so aqueles que maisentravam o desenvolvimento do processo escolar,em todos os seus nveis e sries. Diante da situao,a sada encontrada pela maioria dos professores

    desvencilhar-se desses alunos que no acompanhamas turmas, encaminhando-os para qualquer outrolugar que supostamente saiba como ensin-los.

    O nmero de alunos categorizados comodeficientes mentais foi ampliado enormemente,abrangendo todos aqueles que no demonstrambom aproveitamento escolar e com dificuldades de

    seguir as normas disciplinares da escola. Oaparecimento de novas terminologias, como asnecessidades educacionais especiais, aumentarama confuso entre casos de deficincia mental eoutros que apenas apresentam problemas naaprendizagem, por motivos que muitas vezes sodevidos s prprias prticas escolares.

    Se as escolas no se reorganizarem paraatender a todos os alunos, indistintamente, aexcluso generalizada tender a aumentar,provocando cada vez mais queixas vazias e maiordistanciamento da escola comum dos alunos que

    supostamente no aprendem.

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    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficincia

    Mental

    A necessidade de encontrar soluesimediatas para resolver a premncia da observnciado direito de todos educao fez com que algumasescolas procurassem sadas paliativas, envolvendotodo tipo de adaptao: de currculos, de atividades,de avaliao, de atendimento em sala de aula que sedestinam unicamente aos alunos com deficincia.Essas solues continuam reforando o cartersubstitutivo da Educao Especial, especialmentequando se trata de alunos com deficincia mental.

    Tais prticas adaptativas funcionam como

    um regulador externo da aprendizagem e estobaseadas nos propsitos e procedimentos de ensino

    que decidem o que falta ao aluno de uma turma de

    escola comum. Em outras palavras, ao adaptar

    currculos, selecionar atividades e formular provas

    diferentes para alunos com deficincia e/ou

    dificuldade de aprender, o professor interfere de

    fora, submetendo os alunos ao que supe que elessejam capazes de aprender.

    Na concepo inclusiva, a adaptao ao

    contedo escolar realizada pelo prprio aluno e

    testemunha a sua emancipao intelectual. Essa

    emancipao conseqncia do processo de auto-

    regulao da aprendizagem, em que o aluno assimilao novo conhecimento, de acordo com suas

    possibilidades de incorpor-lo ao que j conhece.

    Entender este sentido emancipador da

    adaptao intelectual sumamente importante para o

    professor comum e especializado.

    Aprender uma ao humana criativa,

    individual, heterognea e regulada pelo sujeito da

    aprendizagem, independentemente de sua condio

    intelectual ser mais ou ser menos privilegiada. So

    as diferentes idias, opinies, nveis de compreensoque enriquecem o processo escolar e clareiam o

    entendimento dos alunos e professores. Essa

    diversidade deriva das formas singulares de nos

    adaptarmos cognitivamente a um dado contedo e

    da possibilidade de nos expressarmos abertamente

    sobre ele.

    Ensinar um ato coletivo, no qual oprofessor disponibiliza a todos alunos, sem exceo,

    um mesmo conhecimento.

    Ao invs de adaptar e individualizar/

    diferenciar o ensino para alguns, a escola comum

    precisa recriar suas prticas, mudar suas concepes,

    rever seu papel, sempre reconhecendo e valorizando

    as diferenas.

    As prticas escolares que permitem ao

    aluno aprender e ter reconhecidos e valorizados os

    conhecimentos que capaz de produzir, segundo

    suas possibilidades, so prprias de um ensino

    escolar que se distingue pela diversificao de

    atividades. O professor, na perspectiva da educaoinclusiva, no ministra um ensino diversificado e

    para alguns. Ele prepara atividades diversas para

    seus alunos (com e sem deficincia mental) ao

    trabalhar um mesmo contedo curricular. Essas

    atividades no so graduadas para atender a nveis

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    diferentes de compreenso e esto disponveis na

    sala de aula para que os alunos as escolham

    livremente, de acordo com seus interesses.

    Para exemplificar esta prtica, consi-

    deremos o ensino dos planetas do sistema solarpara uma turma de alunos com e sem deficincias.

    As atividades podem variar de propostas de

    elaborao de textos, a construo de maquetes do

    sistema planetrio, realizao de pesquisas em

    livros, revistas, jornais, internet, confeco de

    cartazes, leituras interpretativas de textos literrios

    e poesias, apresentao de seminrios sobre o tema,entre outras. O aluno com deficincia mental,

    assim como os demais colegas, escolhe a atividade

    que mais lhe interessar e a executa. Essa escolha e

    a capacidade de desempenhar a tarefa no

    predefinida pelo professor. Tal prtica distinta

    daquelas que habitualmente encontramos nas salas

    de aula, nas quais o professor escolhe e determinauma tarefa para todos os alunos realizarem

    individualmente e uniformemente, sendo que para

    os alunos com deficincia mental ele oferece uma

    outra atividade facilitada sobre o mesmo assunto

    ou at mesmo sobre outro completamente

    diferente. Contraditoriamente, esta tem sido a

    soluo adotada pelos professores para impedir aexcluso na incluso. Utilizando como exemplo

    esse mesmo contedo - o ensino dos planetas do

    sistema solar - comum o professor selecionar

    uma atividade de leitura e interpretao de textos

    para todos os alunos, cabendo quele com

    deficincia mental apenas colorir um dos planetas

    em folha mimeografado.

    Modificar essas prticas discriminatrias

    um verdadeiro desafio, que implica em inovaesna forma de o professor e o aluno avaliarem o

    processo de ensino e de aprendizagem. Elas exigem

    a negao do carter padronizador da aprendizagem

    e eliminam todas as demais caractersticas

    excludentes das escolas comuns, que adotam

    propostas pedaggicas conservadoras. A prtica

    escolar inclusiva provoca necessariamente acooperao entre todos os alunos e o reconhecimento

    de que ensinar uma turma , na verdade, trabalhar

    com um grande grupo e com todas as possibilidades

    de subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivises de

    uma turma, os alunos com deficincia mental

    podem aderir a qualquer grupo de colegas, sem

    formar um grupo parte, constitudo apenas dealunos com deficincia e/ou problemas na

    aprendizagem.

    Para conseguir trabalhar dentro de uma

    proposta educacional inclusiva, o professor comum

    precisa contar com o respaldo de uma direo

    escolar e de especialistas (orientadores, supervisoreseducacionais e outros), que adotam um modo de

    gesto escolar, verdadeiramente participativa e

    descentralizada. Muitas vezes o professor tem idias

    novas para colocar em ao em sua sala de aula,

    mas no bem recebido pelos colegas e pelos demais

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    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficincia

    Mental

    membros da escola, devido ao descompasso entre o

    que est propondo e o que a escola tem o hbito de

    fazer para o mesmo fim.

    A receptividade inovao anima a escola

    a criar e a ter liberdade para experimentar alternativasde ensino. Sua autonomia para criar e experimentar

    coisas novas se estender aos alunos com ou sem

    deficincia e assim os alunos com deficincia mental

    sero naturalmente valorizados e reconhecidos por

    suas capacidades e respeitados em suas limitaes.

    A liberdade do professor e dos alunos, de

    criarem as melhores condies de ensino e de

    aprendizagem, no dispensa um bom planejamento

    de trabalho, seja ele anual, mensal, quinzenal ou

    mesmo dirio. Ser livre para aprender e ensinar no

    implica em uma falta de limites e regras ou, ainda,

    em cair num espontaneismo de atuao. O ano

    letivo, assim como a rotina diria de uma turma,

    devem contemplar um tempo para planejar, outro

    para executar, outro para avaliar e socializar os

    conhecimentos aprendidos. Todo esse processo

    realizado coletivamente e individualmente. Um

    exemplo de rotina de sala de aula seria desenvolver,

    em um primeiro momento, o planejamento coletivo,

    que compreende uma conversao livre entre oprofessor e seus alunos a respeito do emprego do

    tempo naquela jornada. Esse momento permite ao

    aluno expressar-se livremente a respeito do que

    pretende fazer/aprender nesse dia e professora

    colocar suas intenes no mesmo sentido. No

    planejamento todo o grupo pode tomar decises

    com relao s atividades e aos grupos a serem

    formados para realiz-las. Num segundo momento,

    as atividades so realizadas conforme o plano

    estabelecido. Finalmente a jornada de trabalho reconstituda na ltima parte dessa rotina, com a

    participao de todos os alunos. Eles ento

    socializam o que aprenderam e avaliam a produo

    realizada no dia. O aluno com deficincia mental,

    como os demais, participa igualmente de todos

    esses momentos: planejamento, execuo, avaliao

    e socializao dos conhecimentos produzidos. A avaliao dos alunos com deficincia

    mental visa ao conhecimento de seus avanos no

    entendimento dos contedos curriculares durante o

    ano letivo de trabalho, seja ele organizado por srie

    ou ciclos. O mesmo vale para os outros alunos da

    sua turma, para que no sejam feridos os princpios

    da incluso escolar. A promoo automtica,quando exclusiva para alunos com deficincia

    mental, constitui uma diferenciao pela deficincia,

    o que caracteriza discriminao. Em ambos os casos,

    o que interessa para que um novo ano letivo se

    inicie o quanto o aluno, com ou sem deficincia,

    aprendeu no ano anterior, pois nenhum

    conhecimento aprendido sem base no que seconheceu antes.

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    2020Atendim

    entoEducacionalEspecializadoparaAlu

    noscomDeficinciaMental

    3. O Atendimento Educacional3. O Atendimento EducacionalEspecializado para as pessoasEspecializado para as pessoascom deficincia mental e acom deficincia mental e aEducao EspecialEducao EspecialA impreciso do conceito de deficincia

    mental trouxe conseqncias para se esclarecer essetipo de Atendimento, nas escolas comuns eespeciais. A proposta constitucional de prescrever

    o Atendimento Educacional Especializado paraalunos com deficincia apontou a necessidade de

    se distinguir o que prprio de uma intervenoespecfica para a deficincia mental, complementar

    escola comum, daquela que substitutiva emeramente compensatria, visando aquisio

    paralela do saber escolar.

    A partir de 1996, a LDBEN classificou aEducao Especial como uma modalidade deensino. Com isso a Educao Especial perdeu a

    funo de substituio dos nveis de ensino. Noentanto, essa mesma lei, ao dedicar um de seuscaptulos Educao Especial, possibilita interpre-

    taes enganosas que a mantm como um subsistema

    paralelo de ensino escolar.Alm disso, o Atendimento Educacional

    Especializado tambm no foi amplamente

    esclarecido quanto sua natureza educacional porter sido criado legalmente sem ter suas aes

    descritas. Talvez por esse motivo, ele continue sendo

    confundido com o reforo escolar, e/ou com o que prprio do atendimento clnico, aceitando e se

    submetendo a todo e qualquer outro conhecimentode reas afins que tratam da deficincia mental.

    A Educao Especial para alunos comdeficincia mental, durante dcadas, manteve as

    mesmas caractersticas do ensino regulardesenvolvido nas escolas tradicionais e sempre

    adotando prticas escolares adaptativas. Numprimeiro momento, para fundamentar/organizar

    o trabalho educacional especializado, as escolaslimitaram-se unicamente a treinar seus alunos,subdivididos nas categorias educacionais: treinveis

    e educveis; limtrofes e dependentes. Essetreinamento era desenvolvido visando insero

    familiar e social. Muitas vezes, o treino se resumia atividades de vida diria estereotipadas, repetitivas

    e descontextualizadas.O movimento de Integrao escolar

    manteve as prticas adaptativas, com o objetivo depropiciar a insero e/ou a re-insero de alunos

    com deficincia na escola comum, pelo treino dosmesmos contedos e programas do ensino regular.

    O aspecto agravante dessa prticaadaptativa/integrativa est no fato de se insistir para

    que o treino se realize a partir do que concreto, ouseja, palpvel, tangvel, insistentemente reproduzido,

    de forma alienante, supondo que os alunos comdeficincia mental s aprendem no concreto!.

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    2121

    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficincia

    Mental

    A idia contida nesse tipo de treino

    equivocada, pois o concreto no d conta do queum objeto em toda a sua extenso e dos significados

    que cada pessoa pode atribuir a esse objeto, emfuno de sua vivncia e referncias anteriores. Para

    muitos aprendizes, contar palitos de fsforo no uma atividade de aprendizagem dos numerais enem mesmo uma oportunidade de construir a idia

    de nmero. O aluno pode estar apenas manuseandoesse material para entender o modo de sua me

    acender o fogo, por exemplo...

    Por mais que se pretenda construir umconhecimento a partir do concreto, ele no seesgotar na sua dimenso fsica. A compreenso

    total do real algo que jamais alcanaremos, mesmono mais avanado estado intelectual. Por outro

    lado, a repetio de uma ao sobre um objeto, semque o sujeito lhe atribua um significado prprio,

    vazia, sem nenhuma repercusso intelectual e estril,pois nada produz de novo e apenas coloca as pessoas

    com deficincia mental em uma posio inferior,enfraquecida e debilitada diante do conhecimento.

    O grande equvoco de uma prtica deensino que se baseia nessa lgica do concreto a

    repetio alienante, que nega o acesso da pessoa

    com deficincia mental ao plano abstrato esimblico da compreenso, ou seja, nega a sua

    capacidade de estabelecer uma interao simblicacom o meio. O perigo desse equvoco empobrecer

    cada vez mais a condio de as pessoas com

    deficincia mental lidarem com o pensamento,

    raciocinarem, utilizarem a capacidade de descobriro que visvel e preverem o invisvel, criarem e

    inovarem, enfim, terem acesso a tudo o que prprio da ao de conhecer. Para exemplificar essa

    lgica, podemos citar atividades como: decorarfamlias silbicas; aprender a multiplicar, dividir ou

    somar a partir de inmeras contas envolvendo amesma operao aritmtica; repetir o cabealhotodos os dias por vrias vezes; responder copiando

    do livro; colorir desenhos reproduzidos emimeografados pela professora para treino motor

    com cores predefinidas, alm de outras tarefas depura memorizao, que sustentam o ensino de m

    qualidade em geral.

    O papel da educao especializada tem

    sido o de tentar adaptaros alunos com deficinciamental s exigncias da escola comum tradicional.

    Assim, durante anos e mesmo at hoje, h os queacreditam que a incluso s possvel em alguns

    casos, apenas para os alunos adaptveis aomodelo excludente dessa escola. Alegam que aincluso total irresponsvel! Os que assim

    pensam e agem esto provocando a segregaodentro da prpria Escola Especial, ou seja, uma

    espcie de excluso da excluso, em que osalunos so subdivididos entre aqueles que tm

    condies de ser encaminhados para a escolacomum e aqueles que, por serem considerados

    casos graves, jamais podero ser includos nela.

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    2222Atendim

    entoEducacionalEspecializadoparaAlu

    noscomDeficinciaMental

    3.1. Atendimento Educacional3.1. Atendimento EducacionalEspecializado para a deficincia mentalEspecializado para a deficincia mental O Conceito O Conceito

    O Atendimento Educacional Especializado

    decorre de uma nova concepo da Educao

    Especial, sustentada legalmente, e uma das condies

    para o sucesso da incluso escolar dos alunos com

    deficincia. Esse atendimento existe para que os

    alunos possam aprender o que diferente dos

    contedos curriculares do ensino comum e que necessrio para que possam ultrapassar as barreiras

    impostas pela deficincia.

    As barreiras da deficincia mental diferemdas barreiras encontradas nas demais deficincias.Trata-se de barreiras referentes maneira de lidarcom o saber em geral, fato que reflete

    preponderantemente na construo do conhecimentoescolar. A educao especializada tradicional,realizada nos moldes do treinamento e da adaptao,refora a deficincia desse aluno. Essas formas deinterveno mantm o aluno em um nvel decompreenso que muito primitivo e que a pessoacom deficincia mental tem dificuldade de ultrapassar

    - o nvel das chamadas regulaes automticas,descritas por Piaget. necessrio que se estimule oaluno com deficincia mental a avanar na suacompreenso, criando-lhe conflitos cognitivos, oumelhor, desafiando-o a enfrent-los.

    O Atendimento Educacional Especializado

    deve propiciar aos alunos com deficincia mental

    condies de passar de um tipo de ao automtica

    e mecnica diante de uma situao de aprendizado/

    experincia regulaes automticas para umoutro tipo, que lhe possibilite selecionar e optar

    pelos meios que julguem mais convenientes para

    agir intelectualmente regulaes ativas, tambm

    descritas por Piaget.

    O Atendimento Educacional Especializado

    para tais alunos deve, portanto, privilegiar o

    desenvolvimento e a superao de seus limites

    intelectuais, exatamente como acontece com as

    demais deficincias, como exemplo: para o cego, a

    possibilidade de ler pelo braile; para o surdo, a forma

    mais conveniente de se comunicar e para a pessoa

    com deficincia fsica, o modo mais adequado de se

    orientar e se locomover.Para a pessoa com deficincia mental, a

    acessibilidade no depende de suportes externos ao

    sujeito, mas tem a ver com a sada de uma posio

    passiva e automatizada diante da aprendizagem

    para o acesso e apropriao ativa do prprio saber.

    De fato, a pessoa com deficincia mentalencontra inmeras barreiras nas interaes com o

    meio para assimilar as propriedades fsicas do objeto

    de conhecimento, como por exemplo: cor, forma,

    textura, tamanho e outras caractersticas retiradas

    diretamente desse objeto. Isso ocorre porque so

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    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    pessoas que apresentam prejuzos no funcionamento,

    na estruturao e na construo do conhecimento.

    Por esse motivo, no adianta propor-lhes atividades

    que insistem na repetio pura e simples de noes

    de cor, forma etc. para que, a partir desse supostoaprendizado, o aluno consiga entender essas e as

    demais propriedades fsicas dos objetos, e ainda

    possa transp-las para outros contextos de

    aprendizagem. A criana sem deficincia mental

    consegue espontaneamente retirar informaes do

    objeto e construir conceitos, progressivamente. J a

    criana com deficincia mental precisa exercitar suaatividade cognitiva, de modo que consiga o mesmo,

    ou uma aproximao do mesmo avano.

    Esse exerccio intelectual implica em

    trabalhar a abstrao, atravs da projeo das aes

    prticas em pensamento. A projeo e a coordenao

    das aes prticas em pensamento so partes de umprocesso cognitivo que natural nas pessoas que

    no tm deficincia mental. Para aquelas que tm

    uma deficincia mental, essa passagem deve ser

    estimulada e provocada, para que consigam

    interiorizar o conhecimento e fazer uso dele,

    oportunamente.

    O Atendimento Educacional Especializado

    para as pessoas com deficincia mental est centrado

    na dimenso subjetiva do processo de conhecimento.

    O conhecimento acadmico refere-se aprendizagem

    do contedo curricular; o Atendimento Educacional

    Especializado, por sua vez, refere-se forma pela

    qual o aluno trata todo e qualquer contedo que

    lhe apresentado e como consegue signific-lo, ou

    seja, compreend-lo.

    importante insistir que o AtendimentoEducacional Especializado no ensino particular,nem reforo escolar. Ele pode ser realizado emgrupos, porm preciso estar atento para as formasespecficas de cada aluno se relacionar com o saber.No indicado realiz-lo em grupos formados poralunos com o mesmo tipo de problema (patologias)

    e/ou desenvolvimento. Pelo contrrio, esses gruposdevem ser constitudos de alunos da mesma faixaetria e em vrios nveis do processo de conhecimento. Alunos com sndrome de Down, por exemplo,podero compartilhar esse atendimento com colegas,com outras sndromes, seqelas de paralisia cerebrale ainda outros com ou sem uma causa orgnica

    esclarecida de sua deficincia e com diferentespossibilidades de acesso ao conhecimento.

    O Atendimento Educacional Especializado

    para o aluno com deficincia mental deve permitir

    que esse aluno saia de uma posio de no saber,

    ou de recusa de saber para se apropriar de um

    saber que lhe prprio, ou melhor, que ele tem

    conscincia de que o construiu.

    A inibio, definida na teoria freudiana,ou a posio dbil enunciada por Lacan provocamatitudes particulares diante do saber, influenciandoa pessoa na aquisio do conhecimento acadmico.

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    entoEducacionalEspecializadoparaAlu

    noscomDeficinciaMental

    Estamos nos referindo aqui ao saber da Psicanlise,ao saber inconsciente, relativo verdade dosujeito. Em outras palavras, trata-se de um processoinconsciente em que o sujeito se recusa saber sobrea prpria incompletude, tanto dele, quanto dooutro. O aluno com deficincia mental, nessaposio de recusa e de negao do saber fica passivoe dependente do outro (do seu professor, porexemplo), ao qual outorga o poder de todo o saber.Se o professor assume o lugar daquele que sabe tudoe oferece todas as respostas para seus alunos, o que muito comum nas escolas e principalmente na

    prtica da Educao Especial, ele refora essaposio dbil e de inibio, no permitindo que oaluno se mobilize para adquirir/construir qualquertipo de conhecimento.

    Quando o Atendimento Educacional

    Especializado permite que o aluno traga a sua

    vivncia e que se posicione de forma autnoma ecriativa diante do conhecimento, o professor sai do

    lugar de todo o saber e, assim, o aluno pode

    questionar e modificar sua atitude de recusa do

    saber e sair da posio de no saber. Ao tomar

    conscincia de que no sabe que o aluno pode se

    mobilizar e buscar o saber. A liberdade de criao e

    o posicionamento autnomo do aluno diante dosaber permitem que sua verdade seja colocada, o

    que fundamental para os alunos com deficincia

    mental. Ele deixa de ser o eco do outro e se torna

    um ser pensante e desejante de saber.

    Mas o Atendimento Educacional

    Especializado no deve funcionar como uma

    anlise interpretativa, prpria das sesses

    psicanalticas, e nem como uma interveno

    psicopedaggica, tradicionalmente praticada. EsseAtendimento deve permitir ao aluno elaborar suas

    questes, suas idias, de forma ativa e no

    corroborar para sua alienao diante de todo e

    qualquer saber, como demonstramos a seguir.

    3.2. Atendimento Educacional3.2. Atendimento EducacionalEspecializado para a deficincia mental Especializado para a deficincia mental A PrticaA Prtica

    A escola (especial e comum) ao

    desenvolver o Atendimento Educacional

    Especializado deve oferecer todas as oportunidades

    possveis para que nos espaos educacionais em

    que ele acontece, o aluno seja incentivado a se

    expressar, pesquisar, inventar hipteses e

    reinventar o conhecimento livremente. Assim,

    ele pode trazer para os atendimentos os contedosadvindos da sua prpria experincia, segundo

    seus desejos, necessidades e capacidades. O

    exerccio da atividade cognitiva ocorrer a partir

    desses contedos.

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    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    Devem ser oferecidas situaes,envolvendo aes em que o prprio aluno teveparticipao ativa na sua execuo e/ou faamparte da experincia de vida dele. Essa prticadifere de todo modelo de atuao privilegiado at

    ento pela Educao Especial. Trabalhar aampliao da capacidade de abstrao no significaapenas desenvolver a memria, a ateno, as noesde espao, tempo, causalidade, raciocnio lgicoem si mesmas. Nem to pouco tem a ver com adesvalorizao da ao direta sobre os objetos deconhecimento, pois a ao o primeiro nvel de

    toda a construo mental.

    O objetivo do Atendimento EducacionalEspecializado propiciar condies e liberdade paraque o aluno com deficincia mental possa construira sua inteligncia, dentro do quadro de recursosintelectuais que lhe disponvel, tornando-se agente

    capaz de produzir significado/conhecimento.O contato direto com os objetos a serem

    conhecidos, ou seja, com a sua concretudenopode ser descartada, mas o importante intervirno sentido de fazer com que esses alunos percebama capacidade que tm de pensar, de realizar aesem pensamento, de tomar conscincia de que so

    capazes de usar a inteligncia de que dispem e deampli-la, pelo seu esforo de compreenso, aoresolver uma situao problema qualquer. Massempre agindo com autonomia para escolher ocaminho da soluo e a sua maneira de atuarinteligentemente.

    O aluno com deficincia mental, como

    qualquer outro aluno, precisa desenvolver a sua

    criatividade, a capacidade de conhecer o mundo e

    a si mesmo, no apenas superficialmente ou por

    meio do que o outro pensa. O nosso maior engano generalizar a dotao mental das pessoas com

    deficincia mental em um nvel sempre muito

    baixo, carregado de preconceitos sobre a capacidade

    de, como alunos, progredirem na escola,

    acompanhando os demais colegas. Desse engano

    derivam todas as aes educativas que desconsideram

    o fato de que cada pessoa uma pessoa, que temantecedentes diferentes de formao, experincias

    de vida e que sempre capaz de aprender e de

    exprimir um conhecimento.

    Uma atividade muito utilizada pelos

    professores de alunos com deficincia mental

    fazer bolinhas de papel para serem coladas sobreuma figura traada pelo professor em uma folha

    mimeografada. Essa atividade pode ser explorada

    de duas maneiras, com objetivos distintos. Uma

    delas desenvolv-la de forma alienante, limitada,

    repetitiva, reduzindo-se a um mero exerccio de

    coordenao motora fina, realizada durante horas

    e sem o menor sentido para o aluno. A mesmaatividade pode explorar a inteligncia desse aluno

    se fizer parte de um plano e for uma escolha do

    aluno para reproduzir o miolo de uma flor, por

    exemplo. A colagem seria, nesse caso, uma estratgia

    que ele mesmo selecionou para demonstrar o seu

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    2626Atendim

    entoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    conhecimento das partes de um vegetal e no

    unicamente para preencher o espao de uma folha

    que lhe foi entregue. No estudo das partes de um

    vegetal, essa atividade uma entre vrias que os

    alunos escolheram e recriaram, fazendo parte detodo um conjunto de trabalho, em que a flor

    parte de outras noes pertinentes ou no ao

    plano. O que mais importa que ele permita que

    os alunos tenham condies de enfrentar a

    atividade e que tomem conscincia do que sabem,

    do que no sabem e do que querem saber a respeito

    do que est sendo estudado. Essa conscinciapermite que os alunos expressem seus

    questionamentos e conhecimentos a respeito de

    tudo o que um objeto possa suscitar com liberdade

    e utilizando a sua criatividade.

    visvel o efeito desses dois tipos de

    produo. Na sala onde ela realizada de formamecnica, o mural reproduzir um modo seriado,

    estereotipado de agir; que reflete o desenho do

    professor. Na outra, o mesmo mural revelar as

    infinitas possibilidades da criao, ou seja, do

    trabalho cognitivo dos alunos, ao aprender e da

    professora, ao ensinar.

    O Atendimento Educacional Especializado

    no deve ser uma atividade que tenha como

    objetivo o ensino escolar especial adaptado para

    desenvolver contedos acadmicos, tais como a

    Lngua Portuguesa, a Matemtica, entre outros.

    Com relao a Lngua Portuguesa e a Matemtica, o

    Atendimento Educacional Especializado buscar o

    conhecimento que permite ao aluno a leitura, a escrita

    e a quantificao, sem o compromisso de sistematizar

    essas noes como o objetivo da escola.Para possibilitar a produo do saber e

    preservar sua condio de complemento do

    ensino regular, o Atendimento Educacional

    Especializado tem de estar desvinculado da

    necessidade tpica da produo acadmica. A

    aprendizagem do contedo acadmico limita as

    aes do professor especializado, principalmente

    quanto ao permitir a liberdade de tempo e de

    criao que o aluno com deficincia mental

    precisa ter para organizar-se diante do desafio

    do processo de construo do conhecimento.

    Esse processo de conhecimento, ao contrrio do

    que ocorre na escola comum, no determinadopor metas a serem atingidas em uma determinada

    srie, ou ciclo, ou mesmo etapas de nveis de

    ensino ou de desenvolvimento.

    O processo de construo do

    conhecimento, no Atendimento Educacional

    Especializado, no ordenado de fora, e no

    possvel ser planejado sistematicamente,

    obedecendo a uma seqncia rgida e predefinida

    de contedos a serem assimilados. E assim

    sendo, no persegue a promoo escolar, mesmo

    porque esse aluno j est includo.

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    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinci

    aMental

    Na escola comum, o aluno constri um

    conhecimento necessrio e exigido socialmente

    e que depende de uma aprovao e

    reconhecimento da aquisio desse conhecimento

    por um outro, seja ele o professor, pais,

    autoridades escolares, exames e avaliaes

    institucionais.

    No Atendimento Educacional

    Especializado, o aluno constri conhecimento

    para si mesmo, o que fundamental para que

    consiga alcanar o conhecimento acadmico.

    Aqui, ele no depende de uma avaliao externa,

    calcada na evoluo do conhecimento acadmico,

    mas de novos parmetros relativos as suas

    conquistas diante do desafio da construo do

    conhecimento.

    Portanto, os dois: escola comum e

    Atendimento Educacional Especializado,precisam acontecer concomitantemente, pois

    um beneficia o desenvolvimento do outro e

    jamais esse benefcio dever caminhar linear e

    seqencialmente, como se acreditava antes.

    Por maior que seja a limitao do aluno

    com deficincia mental, ir escola comum paraaprender contedos acadmicos e participar do

    grupo social mais amplo favorece o seu

    aproveitamento no Atendimento Educacional

    Especializado e vice-versa. O Atendimento

    Educacional Especializado , de fato, muito

    importante para o progresso escolar do aluno

    com deficincia mental.

    Aqui importante salientar que a

    socializao justificada, como nico objetivo

    da entrada desses alunos na escola comum,especialmente para os casos mais graves, no

    permite essa complementao e muito menos

    significa que est havendo uma incluso escolar.

    A verdadeira socializao, em todos os seus

    nveis, exige construes cognitivas e compreenso

    da relao com o outro. O que tem acontecido,

    em nome dessa suposta socializao, uma

    espcie de tolerncia da presena do aluno em

    sala de aula e o que decorre dessa situao a

    perpetuao da segregao, mesmo que o aluno

    esteja freqentando um ambiente escolar

    comum.

    O arranjo fsico do espao reservado aoatendimento precisa coincidir com o seu objetivo

    de enriquecer o processo de desenvolvimento

    cognitivo do aluno com deficincia mental e de

    oferecer-lhe o maior nmero possvel de

    alternativas de envolvimento e interao com o

    que compe esse espao. Portanto, no pode

    reproduzir uma sala de aula comum e tradicional.

    O espao fsico para o Atendimento Educacional

    Especializado deve ser preservado, tanto na escola

    especial como na escola comum, ou seja, deve ser

    criado e utilizado unicamente para esse fim.

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    2828Atendim

    entoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    O tempo reservado para esse atendimento

    ser definido conforme a necessidade de cada

    aluno e as sesses acontecero sempre no horrio

    oposto ao das aulas do ensino regular.

    As escolas especiais, diante dessa

    proposta, tornam-se espaos de Atendimento

    Educacional Especializado nas diferentes

    deficincias para as quais foram criadas e devem

    guardar suas especificidades. Elas no podem

    justificar a manuteno da estrutura e modelo

    da escola comum, recebendo alunos semdeficincia a chamada incluso ao contrrio

    e nem mesmo atender a todo o tipo de deficincia

    em um mesmo espao especializado.

    As instituies especializadas devem

    fazer o mesmo com suas escolas especiais e

    tambm conservar o atendimento clnicoespecializado.

    A avaliao do Atendimento Educacional

    Especializado, seja a inicial como a final, tm o

    objetivo de conhecer o ponto de partida e o de

    chegada do aluno, no processo de conhecimento.

    Para que se possa montar um plano de trabalhopara esse atendimento, no to importante

    para o professor saber o que o aluno no sabe,

    quanto saber o que ele j conhece de um dado

    assunto.

    A terminalidade desse atendimento deve

    ocorrer independentemente do desempenho

    escolar desses alunos na escola comum, porque

    o que se pretende com essa complementao no

    se reduz ao que prprio da escola comum.

    A interface entre o Atendimento

    Educacional Especializado e a escola comum

    acontecer conforme a necessidade de cada caso,

    sem a inteno primeira de apenas garantir o

    bom desempenho escolar do aluno com

    deficincia mental, mas muito mais para queambos os professores se empenhem em entender

    a maneira desse aluno lidar com o conhecimento

    no seu processo construtivo. Esse esforo de

    entendimento conjunto no caracteriza uma

    forma de orientao pedaggica do professor

    especializado para o professor comum e vice-

    versa, mas a busca de solues que venham a

    beneficiar o aluno de todas as maneiras possveis

    e no apenas para avanar no contedo escolar.

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    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    4. Relato de uma Experincia em4. Relato de uma Experincia emAtendimento EducacionalAtendimento EducacionalEspecializadoEspecializado4.1. Experincia da APAE de Contagem4.1. Experincia da APAE de Contagem

    A APAE de Contagem uma instituio

    sem fins lucrativos que atende s pessoas com

    deficincia mental nas reas clnicas e pedaggicas,

    contemplando tambm a educao profissional.Essa instituio vem desenvolvendo um trabalho

    em parceria com as escolas comuns desde o ano de

    1994, promovendo estudos e pesquisas a partir das

    trocas de experincias entre os professores das

    escolas comuns e da APAE de Contagem. Essa

    forma de parceria e de dilogo fez com que a

    instituio refletisse sobre sua prpria atuao erompesse com a prtica adotada at ento que

    mantinha caractersticas semelhantes prtica

    tradicional de uma escola especial. O questionamento

    e conseqente rompimento de prticas passadas

    acarretaram na construo gradativa de uma prtica

    inovadora da educao especial e condizente com

    os princpios da incluso. Como resultado desse

    processo, em 2003 foi implantado o Atendimento

    Educacional Especializado com o propsito de

    promover o atendimento complementar escola

    comum e a incluso efetiva de seus alunos.

    Mudando a concepo de ensino, criando

    uma prtica pautada no saber particular do aluno

    diferente do saber acadmico e no substitutivo

    deste, percebeu-se que tambm precisaria mudar a

    estrutura fsica da sala de aula e no mais repetir a

    estrutura tradicional de uma sala de aula de ensino

    regular. Ficou claro no decorrer dos anos que

    mantendo o mesmo arranjo fsico tornava-se difcil

    delimitar as diferenas entre os dois trabalhos, ou

    seja, o que era responsabilidade da escola comum

    daquele do Atendimento Educacional Especializado.

    Percebeu-se tambm que esse arranjo tradicional deambiente mantinha os professores numa posio

    que os distanciava dos alunos, limitando suas aes,

    com pouca liberdade de criao e o mesmo acontecia

    com os alunos o que no favorecia a construo de

    conhecimento e nem to pouco o desenvolvimento

    de um trabalho complementar.

    A sada encontrada para solucionar esse

    problema, foi transformar as salas de aula em Salas

    Ambientes Temticas (SATs), que fossem mais

    abertas na sua estrutura e mais estimulantes, de

    forma que esses ambientes possibilitassem maior

    liberdade de experimentaes pelos alunos e

    professores e favorecessem as trocas de experinciasentre os alunos, entre alunos e professores e entre

    os professores da instituio.

    O espao das Salas Ambientes marcado

    pela cooperao e pela interao, sempre trabalhando

  • 8/7/2019 atendimento educacional especializado - def mental

    30/83

    3030Atendim

    entoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    com grupo heterogneo e a partir do saber do aluno,

    encorajando o aluno a propor temas de estudos,

    explorar possibilidades, levantar hipteses, justificar

    seu raciocnio e validar suas prprias concluses.

    Nesta proposta, os erros fazem parte do processo de

    aprendizagem, sendo explorados e utilizados de

    maneira a gerar novos conhecimentos, novas

    questes e investigaes, num processo de trocas e

    produo do saber. O conhecimento produzido

    nessas Salas Ambientes pode ser registrado de

    diferentes formas e linguagens estimulando a

    construo do conhecimento.Essas SATs so definidas e organizadas

    anualmente para procurar atender s necessidades

    dos alunos que esto na instituio naquele ano nas

    diversas reas de conhecimento. Os professores

    escolhem as SATs que iro conduzir no decorrer

    do ano letivo conforme seu interesse, habilidade e

    capacidade. O espao fsico da APAE comporta 5

    salas diferentes, portanto cada uma delas planejada

    pelo professor responsvel.

    Os alunos so agrupados conforme a

    idade, mas podem escolher e participar do grupo

    que queiram, como tambm selecionam e

    programam com o professor o plano das SATs quefreqentaro durante o ano letivo. Algumas salas

    exigem do aluno passagem semanal para atender s

    suas necessidades.

    Cada aluno tem tambm a oportunidade

    de planejar suas atividades anuais nessas salas. Esse

    planejamento se faz a partir da explorao de todas

    as salas, no primeiro ms letivo, ou no momento

    em que o aluno admitido no Atendimento

    Educacional Especializado.

    Dessa forma, os alunos tm um calendrio

    de atividades anual, passando por vrias Salas

    Ambientes durante a semana, conforme um plano

    de trabalho, montado segundo seus interesses e

    necessidades. No entanto, este plano no engessa o

    Atendimento Educacional Especializado, podendo

    ser avaliado e revisto, quando necessrio.

    O professor desenvolve um tema e uma

    programao pedaggica definida em conjunto

    com seus alunos, utilizando da metodologia de

    projetos de trabalho, versando sobre os mais

    diferentes assuntos. Essa programao termina

    quando se atinge o objetivo proposto, ou quando seesgota o assunto ou o interesse dos alunos pelo

    tema em estudo. O importante que essa atividade

    seja flexvel para que esteja a todo instante

    estimulando o aluno, encorajando a construo do

    saber e principalmente pautada nos seus interesses.

    Essa prtica tem trazido resultados

    promissores, propiciando aos alunos avanos

    significativos no processo de aprendizagem e em

    todos os demais atendimentos oferecidos pela

    instituio, inclusive na rea clnica. Para os

    professores, as SATs lhes possibilitaram um maior

    h i d l li d i l i b

  • 8/7/2019 atendimento educacional especializado - def mental

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    3131

    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    conhecimento dos alunos e a realizao de um

    verdadeiro atendimento educacional, que na

    concepo da palavra envolve o acolhimento do

    aluno na sua maneira prpria de lidar com o saber.

    Essa organizao do trabalho pedaggico,passando por mais de uma SAT no limita o

    professor ao atendimento especializado de um

    nico grupo de alunos durante o ano letivo. Isso

    importante, pois, evita uma relao excessivamente

    coladado professor com o aluno e vice-versa, o

    que funciona como mais um impedimento de

    relaes de super-proteo pelo professor e de um vnculo adesivo do aluno. Essa rotatividade e a

    necessidade de o aluno estar com mais de um

    professor foi uma importante descoberta da

    dinmica realizada por esta instituio que permite

    a troca entre os professores para encontrar solues

    e descobrir as vrias formas de linguagens utilizadas

    por seus alunos.

    Nessa proposta a avaliao faz parte do

    processo de ensino e de aprendizagem, de forma

    contnua. Procura-se conhecer no apenas os

    progressos, mas tambm as estratgias de trabalho

    utilizadas pelos alunos. Utilizam-se diferentes

    instrumentos de avaliao, como relatrios semestraiscom observaes individuais e coletivas, alm dos

    portflios onde esto contidas todas as observaes e

    construes dos alunos durante a execuo das

    atividades. O portflio um instrumento que permite

    posteriormente, ao aluno e a seus pais, perceberem

    como se iniciou o trabalho programado e como ele

    se desenvolveu. Ele revela para o aluno e para o

    professor; quais foram as questes iniciais e as finais

    levantadas pelo aluno e, conseqentemente, as suas

    aquisies, predefinindo futuros trabalhos, conforme

    os focos de interesse que surgirem, no decorrer das

    atividades e da avaliao.

    O portflio e sua apresentao um

    importante instrumento utilizado pelos professores

    para fazer intervenes e nas reunies com os pais

    eles testemunham as capacidades dos alunos e quemuitas vezes ainda no foram reconhecidas ou

    foram negadas de forma inconsciente pelos pais. Os

    alunos se auto-avaliam e podem assim perceber o

    quanto avanaram em relao a um tema de estudo,

    refletindo sobre suas produes.

    Um aluno conduz a me para apreciar seus trabalhos.

    T d ti id d d l id id d d d dif t

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    3232AtendimentoEducacionalEspecializadoparaAlun

    oscomDeficinciaMental

    Todas as atividades desenvolvidas nessassalas fazem parte de um contexto e de umaprogramao coletiva que muitas vezes envolvevrias SATs. Os alunos no s escolhem os temasque iro trabalhar nas SATs, mas muitas vezes so

    eles que provocam a interao entre as atividadesprevistas pelas salas, extrapolando os limites de cadauma. Portanto, as salas fazem parte de um contextoamplo, que os alunos podem explorar livremente,dando significado ao seu processo de construo deconhecimento e dele participando ativamente.

    O efeito produzido pelas salas tambmamplo, global e horizontal. Percebe-se que o mesmoefeito no era alcanado anteriormente, quandoo atendimento era desenvolvido em salas de aulatradicionais, pois, por mais que se tentasse desenvolveruma maior articulao entre elas, o trabalho j erafragmentado na sua organizao espacial.

    Para exemplificar esta prtica vamos relataralguns projetos desenvolvidos em duas das SalasAmbientes Temticas.

    4.2. Produo de textos na SAT Livros e4.2. Produo de textos na SAT Livros eFilmesFilmes

    Essa sala propicia a explorao dalinguagem oral e/ou escrita em diferentessituaes comunicativas. Nela so desenvolvidasatividades que levam o aluno a se expressaroralmente e por escrito, bem como a sua

    capacidade de compreenso de diferentesgneros textuais.

    Ao construir e reproduzir textos comliberdade de expresso, invariavelmente o aluno

    participa intensamente das atividades. Percebe-seque as produes textuais dos alunos representamuma construo de sua histria subjetiva. A valorizao e a explorao da capacidade decriao e de produo de textos permitem aoaluno desenvolver aes prticas e ao mesmotempo a interao com um nvel de compreensomais elaborado com trocas simblicas entre oaluno, o texto e o possvel leitor.

    importante esclarecer que nessasala no se tem a inteno de alfabetizar essesalunos e nem mesmo dar um suporte para essaaprendizagem.

    A SAT Livros e Filmes possui os

    seguintes objetivos:

    Ouvir o outro: diz respeito capacidadede compreender o que os colegas e oprofessor transmitem oralmente, aolerem ou contarem uma histria, um

    acontecimento, um filme... O alunoopera com conhecimentos discursivos,semnticos e gramaticais presentes naconstruo da significao dos textos.Tambm se procura desenvolver acapacidade do aluno de reconhecer

    o significado complementar dos 4 3 A Produo de uma histria e de

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    3333

    CaptuloI-

    Atendimento

    EducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    o significado complementar doselementos no lingsticos.

    Falar: o aluno utiliza seus recursos decomunicao oral, para exprimir sua

    compreenso, interesse, desejos, idias eestabelecer trocas com o outro (colegase professores).

    Ler: o aluno interpreta textos de todosos gneros, de acordo com sua viso demundo. O leitor, mediado pelo texto,o reconstri na sua leitura, atribuindo-

    lhe outra significao (a sua prpria).

    Escrever: o aluno descobre as funese o uso da lngua escrita nos atos deregistrar, informar, comunicar, instruire divertir.

    Favorecer a livre expresso: ler, escrever,

    falar, comunicar, de forma que o alunose expresse mediante a produo orale escrita (mesmo quando o professoratua como redator).

    Compartilhar prticas: explorar aconstruo coletiva e cooperativa naleitura, escrita.

    Vamos relatar, a seguir, atividadesdesenvolvidas nessa sala.

    4.3. A Produo de uma histria e de4.3. A Produo de uma histria e deoutras tantas...outras tantas...

    Esse projeto iniciou-se em 2004, com

    uma turma formada por 13 alunos em idadede 9 a 14 anos, que freqentavam essa sala duas

    vezes na semana durante duas horas.

    Em um primeiro momento do projeto

    foi realizada uma sondagem do nvel de

    conhecimento dos alunos com relao leitura

    e escrita, atravs de escrita espontnea, leitura

    de histrias e interpretao oral e registro atravs

    de desenho. A solicitao do registro escrito ou

    atravs de desenhos das histrias foi utilizada

    para que se pudesse saber o que o aluno estava

    entendendo do que foi contado, unicamente. O

    objetivo desse primeiro registro no era o que

    estava escrito convencionalmente, mas o quedava para ser lido pelo aluno. Portanto, muitos

    registros foram feitos de forma particular sem

    se considerar o que estava certo ou errado, mas

    o que o aluno lia do texto dado.

    Em um segundo momento, foram

    selecionados e apresentados vrios textos pela

    professora: livros de histria, anncio derevista, letra de msica, poema e histria em

    quadrinhos. Esses textos foram analisados, para

    que os alunos pudessem estabelecer as diferenas

    e semelhanas entre eles.

    A anlise do texto foi feita oralmente e o trabalho era avaliado diariamente para que

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    oscomDeficinciaMental

    A anlise do texto foi feita oralmente

    e por escrito. Todos os alunos participaram

    da atividade a seu modo, seja opinando ou

    respondendo s perguntas, observando e/

    ou registrando atravs da cpia, de formaorganizada ou no.

    No decorrer do projeto, a professora

    props ao grupo produzir alguns textos

    coletivos. Nessas produes as intervenes da

    professora foram as mais diversas, respeitando

    toda forma de participao dos alunos. Ora o

    registro dessas produes de texto era feito pela

    professora, que atuava como escriba, quando

    o aluno no conseguia registrar por si mesmo.

    Ora ela escrevia no quadro o qu os alunos

    falavam e depois, por meio de perguntas, eles

    faziam juntos as correes e organizavam o

    texto atravs da leitura e da grafia das palavras.

    Neste momento, os alunos entravam em

    contato com a leitura e a escrita por meio dos

    seus prprios textos e no apenas pelos textos

    apresentados pela professora. Dessa maneira a

    tarefa ganha significado para os alunos e eles

    conseguem reconhecer nela o seu trabalho.Vrios foram os registros apresentados, mesmo

    depois da autocorreo dos alunos. O respeito

    ao tempo e ao nvel de conhecimento, em relao

    base alfabtica de cada um, foram preservados

    e o trabalho era avaliado diariamente para que

    os alunos pudessem perceber a evoluo das

    produes escritas.

    Em seguida, a professora convidou

    os alunos a produzir um texto coletivo comtodo o grupo em um gnero escolhido por

    eles. A proposta foi recebida com entusiasmo

    e escolheram escrever histrias. Uma das

    histrias foi utilizada como roteiro de um

    desenho animado, o que propiciou a articulao

    com as SATs de Artes. Segue abaixo a histriaconstruda para o desenho animado:

    UMA HISTRIA DE TERROR

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    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficinc

    iaMental

    EM UMA MONTANHA PERTO

    DA CIDADE, HAVIA UM CASTELO

    ASSOMBRADO. NELE MORAVA UM

    HOMEM QUE TINHA O ROSTO

    MARCADO POR CICATRIZES, TRS

    OLHOS, UM RABO DE MACACO. ELE

    NO TINHA NOME, MAS TODOS NACIDADE O CHAMAVAM BIRUTO DA

    MEIA-NOITE POR CAUSA DO BARULHO

    QUE ELE FAZIA MEIA-NOITE. TODOS

    OS DIAS ELE UIVAVA DE NOITE PARA

    ASSUSTAR AS PESSOAS E AFAST-LAS

    DO SEU CASTELO.1 ALI PERTO TINHA UMA

    FAZENDINHA MUITO POBRE. MORAVA

    NELA, UMA ME, QUE ERA MUITO

    VELHA COM DOIS FILHOS ADOTADOS:

    TITICO E LILITA.

    TITICO ERA UM ADOLESCENTE

    MUITO LEVADO, CAADOR DE BRIGASE AMIGO DO MONSTRO BIRUTO DA

    MEIA-NOITE.

    DE MANH ELE LEVANTA PULA A

    1 O texto est reproduzido como foi registrado pelos alunos.

    JANELA E VAI PARA O CASTELO BRINCAR

    E CONVERSAR COM O MONSTRO.

    SUA IRM FICA EM CASA

    BRINCANDO COM OS ANIMAIS. ELA

    MUITO MEDROSA E MORRE DE MEDO

    DE SAIR DE CASA.

    UM DIA O MONSTRO FOI NA

    FAZENDA CONHECER A MENINA E

    A ME. ELE FOI DE NOITE. A ME

    ESTAVA FAZENDO CROCH, O TITICO

    A MONTANHA PERTO

    UMA HISTRIA DE TERRORUMA HISTRIA DE TERROR

    Biruto da Meia-Noite

    ACORDADO SENTADO NA ESCADA DA MEDO E TREMENDO. LILITA GRITOU

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    3636AtendimentoEducacionalEspecializadoparaAlun

    oscomDeficinciaMental

    CO O S N O N SC

    SALA LENDO UM LIVRO DE KARAT, E

    LILITA ESTAVA DORMINDO NO QUARTO.

    DE REPENTE OUVIRAM UM BARULHO

    ARRANHANDO A PORTA, A ME CORREU

    PARA O QUARTO DA LILITA.

    TITICO MUITO CURIOSO FOI

    ABRIR A PORTA E DEIXOU O MONSTRO

    ENTRAR E DEPOIS O CONVIDOU PARA

    IREM PARA O CASTELO. QUANDO A ME

    ABRIU A PORTA DO QUARTO E PROCUROU

    O FILHO E NO ENCONTROU, CHOROUELA E A MENINA.

    ELA E A MENINA PROCURARAM

    TITICO A NOITE INTEIRA NO MATO E

    FORAM PICADAS POR UMA COBRA.

    ESTAVA PASSANDO POR ALI,

    O JUCA, CAADOR DE COBRAS, QUE VENDIA O VENENO PRO MONSTRO.

    ELE VIU AS DUAS CADAS E AJUDOU

    PEGANDO E COLOCANDO-AS NA SUA

    CARROA.

    ELE AS LEVOU PARA CASA. QUANDO

    ELES CHEGARAM ENCONTRARAM O

    BIRUTO DA MEIA-NOITE E O TITICO LENDO

    REVISTA DE KARAT.

    A ME E A FILHA FORAMCOLOCADAS NO SOF RASGADO PARAREPOUSAR MUITO NERVOSAS, COM

    NDE MEDO QUANDO O MONSTROLEVANTOU E SAIU CORRENDO COMDIO, PORQUE ELAS FICARAM COMMEDO DELE.

    TITICO CORREU ATRS, MAS ELENO DEU NENHUMA IDIA E COMEOU

    A RASGAR A ROUPA, MANDOU TITICOEMBORA PARA CASA, MAS ELE NOOBEDECEU E CONTINUOU ATRSDELE. ENTO O MONSTRO O FERIUCOM AS UNHAS.

    O JUCA QUE ESTAVA INDOPARA O CASTELO PEGAR UM REMDIOPARA A ME E A LILITA, JOGOU UMREMDIO LQUIDO NOS OLHOS DELE,E O MONSTRO FICOU CEGO AT O

    AMANHECER.

    JUCA E TITICO VOLTARAM PARA A FAZENDA LEVANDO O REMDIO

    PARA A ME E A LILITA.

    QUANDO AMANHECEU, O

    MONSTRO FOI AT A FAZENDA, POIS O

    LQUIDO QUE O DEIXOU CEGO TINHA

    ACABADO O EFEITO, BATEU NA PORTA

    E LILITA ATENDEU AINDA MANCANDO

    POR CAUSA DA PICADA DE COBRA,

    FICOU ASSUSTADA E COMEOU A

    GRITAR PELA ME, PELO TITICO E O

    JUCA QUE ESTAVAM DORMINDO.

    APARECEU A ME E O acadmico ou com o processo e a produo

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    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficinc

    iaMental

    MONSTRO PEDIU DESCULPAS E

    OS CONVIDOU PARA IREM AO

    CASTELO. ELES SE TORNARAM

    AMIGOS.

    JUCA DEU A IDIA DE FAZER

    UMA FESTA PARA AS PESSOAS

    CONHECEREM O BIRUTO DA MEIA-

    NOITE. A FESTA FOI DE FANTASIA

    E TEVE A PRESENA DE TODOS

    DA CIDADE E DA FAZENDA E O

    MONSTRO FICOU MUITO FELIZ.

    AUUUUUUUUUU...

    O interessante que a histria aquiapresentada tem caractersticas e personagens

    prximos da realidade dos alunos: a me

    pobre, os filhos adotados, o pai ausente, o

    menino levado e o personagem principal com

    o nome significativo de Biruto, incorporando

    todo o estigma vivido por essas crianas.

    Essa produo de texto demonstra o quanto importante um espao pedaggico que

    possa auxiliar esses alunos a simbolizar suas

    histrias, dar sentido sua experincia de

    vida, sem a preocupao com o desempenho

    p p

    almejada pela escola. Aqui, de fato, o desejo

    inconsciente est presente e essas construes

    pedaggicas significativas diminuem a

    oscilao presente quando as produes so

    realizadas sem sentido para o aluno e apenas

    para atender ao desejo da professora ou da

    escola.

    medida que as histrias foram

    sendo produzidas coletivamente, o interesse

    pela produo individual foi crescendo. A

    escolha e o estilo da produo em outrosgneros textuais tambm surgiram, o que foi

    expresso por alguns alunos: Eu agora quero

    escrever a minha histria sozinha, ou Eu

    no quero escrever poemas, eu gosto de

    escrever histrias, Eu agora sou escricista e

    sou o melhor. Atravs dos gneros, o prazerem registrar suas idias e a sua histria era

    cada vez maior, era a realidade virando

    fico (professora Jnia Almeida).

    Esse outro poema foi construdo em

    2005 por um jovem que costumava fugir da

    escola e da famlia para passar o dia em uma

    fazenda prxima, na qual trabalhava como

    ajudante. Ele se recusava a ir escola, em um

    quadro de profunda inibio e total recusa

    diante do saber acadmico, sendo considerado

    analfabeto pela escola comum.

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    ntoEducacionalEspecializadoparaAlun

    oscomDeficinciaMental

    Esse mais um relato, no qual a produo est mais consciente e confiante do seu trabalho e

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    CaptuloI-

    AtendimentoEducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    livre e espontnea permite que o aluno se inscreva

    no fazer pedaggico e produza conhecimentos e

    textos significativos, dando um real sentido para a

    leitura e escrita. Depois de um ano no AEE, essealuno pde se interessar pela escola e pelo

    aprendizado implcito nela, apesar de ainda

    questionar a leitura sem sentido apresentada a

    partir de textos ou fragmentos de textos

    descontextualizados e que no tm nenhum

    significado para ele. No entanto, depois do

    lanamento do livro Chuvas de Poesia ele tem

    demandado a produo de outro livro.

    Os textos produzidos pelos alunos so

    compartilhados, expostos em saraus, em

    programaes da instituio com presena dos pais

    e da comunidade, publicados no Boletim da APAE

    de Contagem, apresentados em filmes, livros etirinhas ou classificados nos portflios dos alunos.

    A partir dessa prtica, as produes como

    as aqui citadas tm surgido de forma espontnea e

    crescente. Os alunos se sentem com maior

    autonomia e encorajados a produzir qualquer tipo

    de texto, seja oral, escrito ou desenho. Eles verbalizam oralmente, dizendo estar mais

    preparados e confiantes em si mesmos para

    enfrentar a escola comum, com todas as suas

    dificuldades. A prpria professora percebe que

    o seu depoimento demonstra como essa prtica

    modificou sua concepo de ensino. Partindo do

    pressuposto de que somente uma parte do que ns

    sabemos nos realmente ensinado, no faz sentidocontinuar com uma postura de dona do saber,

    que vem instituio com o objetivo de repassar

    conhecimentos a algum que no sabe, mas de

    algum que vem com objetivos explcitos de

    realizar trocas e de fazer parte da construo do

    conhecimento, que pode ser tanto meu quanto do

    meu aluno (Professora Jnia Almeida).

    4.4. Projetos na SATs Arte4.4. Projetos na SATs Arte

    Esta sala possibilita investigar e conhecer

    movimentos, obras, grandes artistas de todos ostempos, assim como a Histria da Arte. Ao

    mesmo tempo, permite que os alunos usufruam

    da Arte como observadores e criadores,

    contemplando, com isso, o fazer, a apreciao e

    a reflexo artstica.

    Quando o aluno cria com liberdade,

    fazendo seus desenhos e produes, ele levantahipteses e imprime sua marca na construo

    simblica de sua histria, o que fundamental

    para o Atendimento Educacional Especializado.

    O respeito s peculiaridades e ao Objetivos:Objetivos:

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    4040Atendime

    ntoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    conhecimento refere-se sensibilidade, imaginao,

    percepo, intuio e possibilidade de projeo

    da ao prtica para a ao simblica.

    Essa primeira projeo o ponto departida que estrutura o desenvolvimento esttico,

    artstico e intelectual. O progresso do desenho

    demonstra mudanas significativas ficando mais

    ordenadas, fruto de assimilaes cada vez mais

    avanadas na linguagem do artstico,

    possibilitando novas projees mais elaboradas. A arte uma forma de expresso,

    principalmente quando a deficincia mental afeta

    a utilizao de alguns recursos que possibilitam

    ao aluno exprimir-se oralmente ou pela linguagem

    escrita. A produo nessa SAT muito significativa

    por demonstrar capacidades muitas vezes ocultase desacreditadas desses alunos.

    Explorar toda a capacidade que a pessoa

    com deficincia mental tenha, significa no

    limitar suas criaes em produes acadmicas

    ou por padres estticos, principalmente se esses

    padres so definidos por um outro, no casopelo professor.

    Permitir e incentivar a livre expresso e a troca

    com o outro por meio da criao artstica.

    Possibilitar a criao artstica em todas as suas

    dimenses.

    Produzir trabalhos de arte, por meio da

    linguagem do desenho, da pintura, da

    modelagem, da colagem, da escultura e outras.

    Aprender a pesquisar e utilizar diversosmateriais grficos e plsticos sobre diferentes

    superfcies, para ampliar as possibilidades de

    expresso e comunicao.

    Apreciar as produes prprias e dos outros

    colegas e artistas, por meio da observao e da

    leitura de obras de arte em exposies,catlogos, livros etc.

    Ampliar o conhecimento: conhecer a Histria

    da Arte e seus personagens, elementos da cultura

    regional e brasileira e suas produes artsticas.

    A proposta da produo de um desenho

    animado foi apresentada e desenvolvida por umgrupo de alunos com idade acima de 14 anos e

    teve incio no segundo semestre de 2004.

    Considerando que os alunos produziram em determinados momentos do processo. O

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    CaptuloI-

    Atendiment

    oEducacionalEspecializadoemDeficinciaMental

    suas prprias histrias na SAT Livros e Filmes,

    idealizou-se que poderiam tambm reproduzi-

    las por meio do desenho animado, j que

    tambm eram excelentes desenhistas. A percepo

    da criao e da capacidade desses alunos para

    desenhar e pintar surgiu aps a permisso de

    uma produo espontnea, sem a interveno

    direta da professora na procura de uma esttica

    convencional e padronizada.

    A proposta do desenho animado foi

    desafiadora e inovadora, uma vez que a prpria

    professora no conhecia essa tcnica e assim

    possibilitaria descobrir e conhecer os processos

    e as tcnicas de animao de desenho, de

    construo de personagens, de fotografia,

    filmagem, edio e a pesquisa de materiais junto

    com seus alunos.

    O primeiro passo foi realizar uma

    reunio com todos os professores envolvidos,

    pois essa proposta se realizaria de maneira

    articulada entre outras SATs, com um

    profissional de comunicao visual convidado,

    que ofereceu a produo e edio do desenhoanimado e o grupo de alunos interessados.

    Esse grupo foi composto por nove

    alunos, sendo aberto participao de outros

    objetivo no se restringia a apenas transformar

    o registro escrito em um desenho animado, mas

    em construir novos saberes durante a experincia

    do fazer.

    A escolha das histrias foi feita mediante

    votao. Haviam trs histrias construdas por

    eles: Um Natal Diferente, Uma Histria de

    Terror e O Rei e o Prncipe e a Histria de

    Terrorfoi a escolhida.

    Na segunda etapa, a histria foi lidapor todos, ressaltando-se os elementos que

    seriam fundamentais para o desenho. Os alunos

    participaram de todo o processo de construo

    do desenho, que foi norteado por atitudes de

    cooperao, troca de idias, descoberta de

    solues e compromisso de concluir o projeto.

    Cada aluno se localizava no trabalho, fazendo

    suas escolhas, decidindo pelo personagem que

    representaria, como o representaria, pelo cenrio

    do desenho animado tanto pela forma de o

    representar como as cores, as tcnicas e o

    material grfico a ser utilizado. Participaram

    tambm da sonoplastia para o desenho naprodutora que editou e finalizou o filme.

    Abaixo alguns desenhos realizados para

    o filme.

    Como resultado, o desenho animado

    d id fl id d

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    4242AtendimentoEducacionalEspecializadoparaAlunoscomDeficinciaMental

    Biruto da Meia-Noite

    A cobra

    A casa de Titico

    produzido reflete a espontaneidade e a

    liberdade de criao dos alunos. Esse projeto foi

    desenvolvido na SAT de Artes pela professora

    Telma Isabel Vieira Martins de 2004 a 2006.

    O desenho animado est em vdeo e o filme

    tambm relata momentos desse projeto.

    Para saber mais...Para saber mais...FREUD, Sigmund. Inibio, Sintoma e

    Ansiedade, in: Obras Psicolgicas Completas de

    Sigmund Freud. Vol. XX. (1926 d [1925]). Traduo

    de Jayme Salomo. Rio de Janeiro, Imago.

    GOFFMAN, Erving. (1988). Estigma: notas sobre a

    manipulao da identidade deteriorada. Traduode Mrcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4

    edio, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.

    LACAN, Jacques. (1985). O Seminrio: livro 11,

    Os quatro conceitos fundamentais da psicanlise

    (1964). Traduo de M. D. Magno. 2a. edio,

    Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

    PIAGET, Jean. (1976). A Equilibrao das

    Estruturas Cognitivas problema central do

    desenvolvimento (1975).Traduo: Marion M. dos

    Santos Penna. Rio de Janeiro, Zahar Editores.

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    A emergncia da leitura e da escrita em alunos comA emergncia da leitura e da escrita em alunos com

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    CaptuloII-

    Aemergnciadaleituraedaescritaemalunoscomdeficinciamental

    4545O

    presente texto analisa o processo de

    aquisio da leitura em alunos com

    deficincia mental.

    A aquisio da linguagem escrita

    compreendida como uma evoluo conceitual

    da criana e no como decorrncia de aptides

    perceptuais, viso-motoras e de memria.Inicialmente sero apresentadas neste texto

    algumas concepes sobre a linguagem escrita,

    em seguida, focaliza-se a aprendizagem da leitura

    dos alunos com deficincia mental, destacando

    os aspectos que interferem nesse processo. Por

    fim, aborda-se a avaliao de alunos em processo

    de aprendizagem da linguagem escrita.

    1. O que ler?1. O que ler?Mudanas filosficas no campo da leitura

    e da escrita vm permitindo significativa evoluo

    no que se refere ao entendimento do processo de

    alfabetizao. Os resultados dos estudos realizados

    por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky deram

    origem a uma reviso radical no modo de

    compreender como a criana aprende a lnguaescrita, e, conseqentemente, mudaram tambm a

    concepo de como ensinar a ler e a escrever. O

    entendimento atual desse processo se fundamenta

    em um sujeito que aprende agindo com e sobre a

    lngua escrita. Esse modo de aprendizagem exige

    busca incessante na tentativa de compreender o

    sistema alfabtico, nesse processo de aprendizagem,o aluno levanta hipteses e testa provveis

    regularidades da lngua escrita.

    A aprendizagem da leitura no um ato

    simples de decodificao do sistema alfabtico, vai

    deficincia mentaldeficincia mentalRita Vieira de Figueiredo

    Adriana L. Limaverde Gomes

    para alm disso. Ler compreender o sentido do

    texto entendendo-o na sua relao dialtica com os

    A outra concepo, entendida como

    interacionista preconiza a leitura como produto de

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    AtendimentoEducacionalEspecializadoparaAluno

    scomDeficinciaMental

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    texto, entendendo o na sua relao dialtica com os

    diferentes contextos, implica em dialogar com o

    autor ausente, lendo as palavras e lendo o mundo.

    No decorrer do processo de construo daescrita, as crianas descobrem as propriedades do

    sistema alfabtico e, a partir da compreenso de

    como funcionam os signos lingsticos, elas

    aprendem a ler.

    A aprendizagem da leitura ocorre de forma