As Representações Sociais Da Informática Na Realidade Escolar

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SBS - XII Congresso Brasileiro de Sociologia GT 19 Sociedade de Informação Escola.com.br As representações sociais da informática na realidade escolar Regiane Aparecida Atisano MAIO - 2005

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Sociedade e informática

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SBS - XII Congresso Brasileiro de Sociologia

GT 19 – Sociedade de Informação

Escola.com.br – As representações sociais da informática na realidade escolar

Regiane Aparecida Atisano

MAIO - 2005

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SBS - XII Congresso Brasileiro de Sociologia

GT 19 – Sociedade de Informação

Escola.com.br – As representações sociais da informática na realidade escolar

Regiane Aparecida Atisano

Resumo apresentado no XII Congresso de

Sociologia promovido pela Sociedade

Brasileira de Sociologia, Belo Horizonte/MG.

MAIO - 2005

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ÍNDICE

Introdução .................................................................................................................... 03

Desenvolvimento ......................................................................................................... 04

Conclusão .................................................................................................................... 12

Referências Bibliográficas .......................................................................................... 14

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1. INTRODUÇÃO

A sociedade atual está cada vez mais utilizando tecnologias da informação. Sendo o

computador e a internet algumas destas tecnologias em expansão nas mais diferentes áreas,

pesquisar o uso delas na escola parece absolutamente relevante, considerando a sua função

sócio-cultural. A escola apresenta-se preocupada com os avanços tecnológicos e com seus

alunos, procurando caminhar com as novidades informacionais, a fim de tornar o processo

pedagógico mais eficiente e apto a adaptar os alunos a uma tecnologia cada vez mais presente.

Partindo deste pressuposto, analisamos algumas teorias sobre tecnologia, educação e

representações sociais com o intuito de contextualizar e fundamentar o uso do computador e

da internet na escola. Realizamos também uma pesquisa de campo por onde obtivemos alguns

dados comprobatórios sobre a importância destas tecnologias no meio escolar. Trata-se de

uma escola particular de Curitiba com alunos de 5ª a 8ª séries.

Para tanto, nos baseamos na hipótese de que se existe uma representação social da

modernidade tecnológica, então a representação social da escola está mudando e criando

conflitos com as funções tradicionais da mesma, devido precisamente ao uso destas

tecnologias inovadoras. Desta forma, o problema que a pesquisa aborda é: O uso do

computador e da internet por estudantes estaria modificando as representações sociais da

escola? Estaria ela deixando de ser o único ou o mais importante local de aprendizagem, uma

vez que o computador e a internet podem ser acessados em diversos locais?

Portanto, estabelecemos alguns objetivos para responder a problemática deste

trabalho: a) averiguar a relação que os alunos de 5ª a 8ª séries mantêm com o computador e a

internet dentro da escola; b) verificar como esta relação modifica a representação que eles

fazem da escola; c) verificar o que os alunos pensam ser a escola.

Fundamentados por estas prerrogativas, apresentamos neste artigo os dados mais

importantes da pesquisa, fazendo uma reflexão sobre o conjunto de idéias e dados

desenvolvidos, a fim de demonstrar o que o esforço despendido nestas páginas significa

enquanto contribuição sociológica à compreensão da escola na sociedade da informação.

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2. DESENVOLVIMENTO

Para que possamos ter uma compreensão total do assunto é necessário passarmos

pelas três teorias básicas deste trabalho: tecnologias da informação, escola e representações

sociais.

A primeira delas pode ser entendida como um dos meios mais eficazes e populares

na sociedade do século XXI. A sociedade da informação tem como característica principal a

aplicação constante de conhecimentos e informações sobre a produção de mais conhecimentos

e informações, formando um processo cumulativo (CASTELLS, 1999, p. 50). Além desta

característica, há também segundo Castells, “... três estágios da inovação em três principais

campos da tecnologia [...] microeletrônica, computadores e telecomunicações”.(CASTELLS,

1999, p. 58). Estas são as mudanças trazidas pela sociedade tecnológica.

A sociedade da informação possibilita “interatividade” aos indivíduos. Com este

conceito a sociedade torna-se globalizada, transmitindo aos indivíduos exigências

diferenciadas. Este “novo receptor” (SILVA, 2000, p. 13) não aceita mais aquela

programação rígida, ele procura flexibilizar esta estrutura através dos seus gostos,

participando. Este comportamento provém do uso do controle remoto das televisões, vídeos-

cassete, “micro-systems” e do “joystick”. É claro que não há uma ação direta no

funcionamento de um programa. Porém, aqueles telespectadores que adotam a dinâmica de

intervenção, mesmo nos programas pré-programados, estão tornando-se mais exigentes no

fato de atuar.

A manipulação do controle remoto e do “joystick” propicia a sensação do poder. O

indivíduo que se encontra com a pré-definição de programações ou, até mesmo, de ações (no

caso do videogame) já está vivenciando uma outra prática. Ele se distancia do comportamento

passivo e aproxima-se do ativo.

Na escola, os alunos que antes percebiam os professores como os donos da verdade e

os únicos orientadores, agora encontram outras fontes que podem trazer informações

diferentes ou sob outras perspectivas das que os professores fornecem em sala de aula. O

aluno também adquire o sentimento de alcançar as informações das mesmas fontes que o

professor, através da experiência virtual. O aluno obtém os assuntos e os trata da maneira que

desejar – arquivando-os ou deletando-os.

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Segundo Castells a sociedade está sofrendo mudanças que alteram o sistema de

comunicação no mundo, principalmente com a nova idéia de que todos nós estamos aptos a

nos comunicar mutuamente a partir de uma sociedade global. “Afirmo que por meio da

poderosa influência do novo sistema de comunicação, mediado por interesses sociais,

políticas governamentais e estratégias de negócios, está surgindo uma nova cultura: a cultura

da virtualidade real...” (CASTELLS, 1999, p. 355 – grifo do autor).

É desta forma, que a segunda teoria do nosso trabalho, a escola, precisa entender as

mudanças da sociedade para que encontre formas eficazes de melhorar o processo de ensino-

aprendizagem. A escola é uma instituição socialmente construída (BERGER &

LUCKMANN, 1976), com o objetivo de educar e formar os indivíduos que a freqüentam

(DURKHEIM, 1995). Tanto para constituir-se como um ser social quanto para adquirir

conhecimentos socialmente reconhecidos, o indivíduo necessita da escola. Ela é uma

instituição “autorizada” pela sociedade para fornecer os parâmetros primordiais à formação

social, profissional e pessoal do indivíduo (BOURDIEU, 1977).

Em cada período histórico ela adaptou-se às influências contextuais.

Acompanhando as mudanças acentuadas ao longo dos séculos, observamos que a escola se modifica:

no século XVIII, encontra-se sedimentada na idéia de uma lógica universal, absoluta, onde tudo

obedecia a uma razão cega e determinada; no século XIX, dirige-se à energia, como conceito de

base, apoiada na possibilidade da sua conservação e degradação, em todas as estruturas. O século

XX, sacudido pelos avanços da física, da biologia, da matemática, provoca turbulências na certeza,

na ordem, na determinação, que atingem, certamente, a concepção de escola. (EIZIRIK, 1999, p.

116).

Durkheim (1978) escreve sobre a produção da sociedade através da escola e

Bourdieu (1992) afirma existir a reprodução da sociedade. Ambos reconhecem a função da

escola como mantenedora do status quo. Contudo, a escola não é o único local para socializar

e/ou adquirir conhecimentos.

A escola utiliza tecnologias, entretanto tecnologias educacionais entendidas como

“forma sistemática de planejar, implementar e avaliar o processo global da aprendizagem e da

instrução em termos específicos, baseada nas pesquisas de aprendizagem e comunicação

humanas e que se utiliza uma combinação de recursos e materiais – com o propósito de obter

uma instrução mais efetiva”.(OLIVEIRA, 1977, p. 5). Já o mundo moderno possui uma

dinâmica que inculca nos indivíduos a prática acelerada de informações, solicitando

mudanças rápidas, produtividade alta, variação de produtos, resultados imediatos, etc.

Fazendo esta relação dos tipos de tecnologias aplicadas na escola e encontradas na

sociedade, é possível vincular a construção das representações sociais dos indivíduos à prática

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escolar. A escola se apropria de acontecimentos sociais para contextualizar muitos dos seus

conteúdos. Desta forma, muito dos fatos corriqueiros da sociedade são “produzidos” ou

“reproduzidos” na escola. As representações sociais fazem parte do cotidiano das pessoas.

Cada atitude, por mais costumeira que seja, tem um fundamento representativo. Este

fundamento parte do grupo em que o indivíduo vive, pois é pelo “modo como o grupo se

pensa em suas relações com os objetos que o afetam” (DURKHEIM, 1995, p. XXII) que ele

constrói suas representações sociais.

Aqui vemos a importância da terceira teoria. Serge Moscovici, psicólogo social

francês, define representações sociais como “um conjunto de conceitos, afirmações e

explicações originadas no cotidiano, no decurso de comunicações interindividuais. Elas são

equivalentes, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença nas sociedades tradicionais;

elas podem até mesmo ser vistas como uma versão contemporânea do senso comum.”

(MOSCOVICI, 1985, p. 1). Para ele, o estudo das representações sociais focaliza o cotidiano

do indivíduo a partir de sua compreensão dos fatos que o circundam, inclusive da influência

que cada um sofre dos pensamentos alheios.

Entendemos que “... as representações (ou os campos simbólicos) seriam micro-

fenômenos...” (OLIVEIRA, 1998/99, p. 182), pois não procuram ater-se em significados

universais, mas compreender aqueles significados que um grupo específico estabelece para

um fato. Através do estudo de micro-fenômenos é possível verificar como a construção do

pensamento de um grupo social é influenciada pelas modificações sociais, ambientais,

culturais e econômicas ocorridas em seu meio, desde que se estabeleçam relações com o

contexto geral.

Pesquisar a forma de pensamento de um grupo social nos permite uma compreensão

específica e ao mesmo tempo geral sobre a comunidade. Um exemplo disto são as categorias

de representações adquiridas em uma pesquisa, que indicam visões particulares de indivíduos,

mas que ao final da análise obtém-se a percepção total do grupo. A representação é utilizada a

fim de desvendar o simbolismo existente na vida cotidiana dos indivíduos sociais. Seja

através de símbolos, práticas sociais ou ideologias, a representação pretende “a abordagem

das relações e das transformações sociais.” (OLIVEIRA, 1998/99, p. 186).

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2.1. A Pesquisa

Nesta pesquisa trabalhamos com alunos de 11 a 14 anos (83,10%), que estavam

cursando o período de 5ª à 8ª séries. A escolaridade dos pais (84,51%) e das mães (88,74%)

compreende o universitário incompleto até pós-graduação.

2.1.1. Posse e Uso do Computador e da Internet:

O número de alunos que têm internet em casa (87,32%) é quase tão grande quanto os

dos que possuem computador (95,78%). O motivo do uso do computador e da Internet está

vinculado ao fator financeiro, pois o uso do computador a qualquer horário do dia (80,88%) é

maior que o uso da internet (50%). O uso da internet pode resultar em gastos diferentes

dependendo do horário, devido aos valores dos pulsos telefônicos aplicados pelas agências de

telefonia.

Mesmo assim, 50% dos alunos utilizam a internet independente do horário: isto não

deixa de ser um dado significante. Verificamos que muitos dos alunos permanecem sozinhos

em casa, podendo realizar as suas atividades livremente, sem supervisão de qualquer

responsável.

2.1.2. Freqüência de uso do Computador e da Internet em Casa e na Escola:

Em casa os alunos utilizam muito mais o computador e a internet. A maior

freqüência de uso do computador em casa mantém-se entre três a cinco vezes na semana

(76,46%). A internet mantém-se igualmente de três a cinco vezes na semana (70,97%).

Conforme estes dados, podemos fazer a seguinte relação: se estes alunos têm 5 horas de aula

no período da manhã e destinam mais umas duas horas à tarde, eles têm uma grade horária de

35 horas de estudo por semana. Ficam, em média, 4 horas na internet por semana. Podemos

concluir que há um percentual de 11,43% das horas da semana para a internet. Podemos dizer

que é o mesmo tempo destinado às demais atividades fora da escola, como esportes, inglês,

passeios, etc.

O uso do computador (76,05%) e da internet (69,01%) na escola acontece uma vez

na semana, devido à aula de informática ocorrer nesta freqüência, ou seja: fora as aulas de

informática, dificilmente o aluno utiliza o computador da e na escola.

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2.1.4. Representação Social da Escola, do Computador e da Internet:

Conforme o questionamento feito aos alunos, as respostas foram dadas

ordenadamente: o que vem à sua cabeça em primeiro, em segundo e em terceiro lugar.

Afirmamos que uma categoria citada três vezes demonstra estar muita mais presente entre os

alunos do que uma categoria destacada apenas uma vez com um percentual razoável.

GRÁFICO 1 – REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA

FONTE: Pesquisa de Campo – JUL/2001

Os autores da representação social citados anteriormente afirmam que a convivência

em grupo permite a construção de categorias que apresentam um significado comum ao

grupo. Desta forma, verificamos através da pesquisa que a escola é percebida pela maioria dos

alunos como um local em que se estuda e aprende (69,02%). A representação de que a escola

é um local específico para aprender foi apresentado nas teorias escolares. Verificamos que os

alunos não pensam diferente da sociedade. Até mesmo porque, como enfatiza Bourdieu, o

conhecimento escolarizado só é reconhecido desde que se fundamente em uma instituição

legalizada socialmente para tal função.

11,28%0

11,27%0

8,45%

15,50%

14,10%2,82%

4,22%0

36,62%

25,35%

8,46%0

2,82%9,86%

9,86%

69,02%

lugar

lugar

lugar

Estudar / aprender

Amigos / amizade

Chato / chatice

Professores

Material escolar

Alegria / diversão

Outros

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GRÁFICO 2 – REPRESENTAÇÃO DO COMPUTADOR

FONTE: Pesquisa de Campo – JUL/2001

GRÁFICO 3 – REPRESENTAÇÃO DA INTERNET

FONTE: Pesquisa de Campo – JUL/2001

7,05%2,82%

4,22%21,13%

5,63%0

9,86%0

14,10%0

4,22%

22,53%11,27%

5,64%16,90%

14,09%

5,64%

2,82%

5,64%7,04%

29,58%

49,29%

lug

ar

lug

ar

lug

ar

Internet

Brincar / diversão / jogos

Tecnologia / informática

Bate papo / e-mail

Fazer trabalho / pesquisar

Softwares

Facilidade / praticidade

Outros

2,82%

4,22%00

7,05%

2,82%8,45%

11,27%

4,23%

7,04%00

16,90%7,05%

21,13%

19,71%

5,64%0

4,22%

4,23%

5,64%14,08%

19,72%

46,48%

lugar

lugar

lugar

Bate papo / e-mail

Pesquisa / trabalhos

Portal amplo / novidades /informações / encontra-semuitas coisas

Diversão / jogos

Tecnologia / informática

Drogas / besteira

Sites

Outros

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Entendendo a biblioteca (também obtivemos informações sobre a representação

social da biblioteca. Os alunos a relacionam com os livros e as atividades de estudo,

aprendizado e pesquisa – 67,61% em primeiro lugar; 56,34% em segundo) como um local

com materiais complementares à atividade escolar, o computador e a internet na escola

incluem-se na mesma categorização. O computador e a internet na escola são utilizados pelos

professores como instrumentos que auxiliam nos trabalhos escolares. Entretanto, ao pedirmos

aos alunos uma palavra que significasse o computador, a primeira a aparecer foi internet

(49,29%) e as em segundo lugar foram brincadeiras, diversão e jogos (29,58%).

Estamos dizendo que o computador, mesmo tendo uma representação social voltada

para o entretenimento, na escola não é utilizado com este fim. Os professores o utilizam como

mais um meio de estudar e os próprios alunos fizeram esta relação.

A internet foi categorizada pelos alunos como um meio de interação através do bate-

papo e e-mail (46,48%), sem desmerecer o percentual que a significa como útil para pesquisas

e trabalhos (19,72%). Salientamos que a teoria das representações sociais afirma ser

necessário ater-nos àquelas palavras que os indivíduos expressam espontaneamente, pois

podem conter aspectos do núcleo central (SÁ, 1996). Já as palavras faladas num segundo

momento representam partes presentes no sistema periférico, sistema este que auxilia na

constituição da representação social. Observamos que as primeiras palavras que os alunos

citavam eram imediatas e sem muita elaboração, enquanto que as palavras seguintes eram

muito mais racionalizadas do que as primeiras.

Destacamos que a partir dos resultados da representação do computador e da internet,

podemos estabelecer duas grandes categorias de análise. Tanto o computador quanto a

internet foram percebidos como instrumentos para a comunicação (bate-papo, e-mail,

diversão) e como um portal de busca (pesquisas para trabalhos, jogos, informação, novidades,

informática). Os dados nos permitem chegar a estas categorias porque os alunos mencionaram

enfaticamente as relações sociais que estes meios possibilitam através do e-mail ou sites de

bate-papo, bem como a possibilidade de acessar qualquer informação. A internet, da maneira

que foi construída, pode ser percebida como um “portal aberto e sem fim”, onde todos os

tipos de informações são incluídos ou excluídos rapidamente.

Quando os alunos referiram-se à internet como um meio de interação, é possível

confirmar a teoria sobre interatividade de Marco Silva (2000). Pois os alunos se relacionam

com amigos e até com estranhos, constituindo uma atualização das formas de se relacionar

socialmente. A interatividade que Silva descreve consiste tanto neste círculo de amizades

como na comunicação global que o aluno tem com o mundo através dos diferentes sites e das

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diversas informações que se encontram à disposição na rede mundial de comunicação – a

internet. Este dado demonstra que a tecnologia não muda o ponto básico da sociedade, ou

seja, as relações sociais; ao contrário, as tecnologias estão favorecendo o relacionamento entre

os indivíduos, além de reforçar os fundamentos da sociologia.

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3. CONCLUSÃO

A atual geração escolar nasceu e vive na era da informática, interpretando o mundo

de acordo com os instrumentos simbólicos que ela adquiriu do contexto social, diferentemente

dos professores, socializados numa outra realidade.

Pensando na escola como um local para processar conhecimentos através de uma

orientação linear, mas continuamente em contato com as mudanças sociais, os alunos a

consideram uma instituição necessária e importante. A palavra “estudo”, apresentada na

pesquisa de campo, mantém um grande vínculo com a escola. Portanto, os alunos

compreendem a escola como uma instituição própria para a aprendizagem e, também, para a

socialização.

A representação social da escola teria sido destituída caso não tivesse acompanhado

as novas tecnologias, inserindo-as em seus currículos. Os alunos pesquisados apresentaram

uma nova representação social no sentido do como aprender, mas não desvinculam isto da

função da escola. A escola é a instituição indicada socialmente para educar os indivíduos,

porém sua forma de ensinar e aprender poderá ser alterada conforme os recursos que a

sociedade cria.

A escola não está destituída do seu papel. A partir do momento que a internet e o

computador começam a participar do processo educacional, eles incluem formas diferentes de

processar o conhecimento. Consideramos que a diferença não está nos instrumentos, mas na

forma de usá-los. As novas teorias educacionais frisam a necessidade de se trabalhar com a

linguagem do aluno, para que ele associe a aprendizagem à realidade (FREIRE, 1996). O

computador e a internet, nos dias de hoje, fazem parte desta linguagem. Eles estão incluídos

no grupo de amigos, nas atividades fora da escola e no ambiente doméstico dos alunos.

Os resultados deste trabalho trazem subsídios para os professores entenderem onde

está a deficiência de algumas aulas. É possível verificar o que o aluno espera de um professor

e de sua disciplina, podendo anexar às suas aulas dinâmicas semelhantes ao do computador e

da internet, que propõem uma interatividade com o aluno. No computador e na internet o

aluno sente-se o construtor do conhecimento, pelo fato de estar comandando e definindo

parâmetros para o seu trabalho.

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Este estudo contribui também para as escolas que se sentem perdidas em relação ao

seu papel educacional versus o potencial educativo representado pelas novas tecnologias. O

investimento em equipamentos não significa necessariamente que a escola saiba direcionar o

ensino da melhor forma possível. Sabendo como os alunos interpretam a relação com o

computador e a internet, será mais fácil as escolas encontrarem pontos frágeis de suas aulas e

aperfeiçoar o sistema de ensino, vinculando-o às formas consideradas atrativas pelos alunos.

Sendo assim, este estudo demonstra o quanto a educação é um fator imprescindível

para a sociedade, desde que sempre em contato com as grandes informações e novidades,

procurando preparar os alunos a interpretar o desenvolvimento e as demandas sociais. É assim

que a escola assume sua identidade, não como transmissora de conhecimento, mas como uma

instituição que propicia reflexão e análise crítica sobre os diversos acontecimentos e práticas

da sociedade e sobre o próprio conhecimento que vem pela rede comunicacional (LIBÂNEO,

2000, p. 71).

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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