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AS QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS
O processo de industrialização, iniciado com a Revolução Industrial no século XVIII, e o consequente
crescimento explosivo da população, fizeram aumentar de forma acentuada o consumo dos recursos do
nosso planeta, originando desequilíbrios bioclimáticos graves.
O crescimento económico ilimitado e da população determinaram níveis de consumo de recursos
insustentáveis:
- a agricultura intensiva e o aumento das áreas
cultivadas têm reflexos negativos no ambiente,
acelerando o esgotamento dos solos e a
desflorestação;
- a explosão demográfica e o crescimento
urbano que a acompanhou aumentaram ainda
mais o desenvolvimento das atividades
humanas, principais causas da degradação
ambiental.
Com as catástrofes locais de amplas
consequências (Chernobyl, a redução do mar de
Aral, o ar asfixiante de Atenas e da Cidade do México, a poluição do Reno...), percebemos que os
problemas ambientais ignoram as fronteiras nacionais, afetando vastas regiões do planeta. Assim sendo,
a consciencialização da globalização dos fenómenos ambientais é fundamental.
RESÍDUOS SÓLIDOS
Não basta viver, é preciso que a nossa vida seja a melhor possível e se desenvolva nas melhores
condições. De entre estas condições, as de natureza ambiental são muito importantes porque contribuem
para o nosso bem-estar físico,
psicológico e social. Todos nós
desejamos ter uma vida com boa
qualidade. Quer dizer, é importante
ter boa água, bom ar, bons produtos
para a nossa alimentação e vestuário;
que lugar onde vivemos seja
agradável; que os locais onde
habitamos estejam ordenados e
conservados, de modo a que nos
sintamos bem; que a fauna e a flora
possam viver juntamente connosco e
que os serviços de que necessitamos
(correios, finanças, escolas, bibliotecas, museus, hospitais, serviços de água, luz e outros) sejam eficazes e
estejam próximos de nós.
Gases com efeito de estufa
Disponível na Internet: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=633101
Resíduos sólidos urbanos Disponível na Internet:
http://www.ufrgs.br/vies/vies/do-lixo-tudo-brota/
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No sentido de desenvolvermos a nossa qualidade de vida, há um aspeto que é muito importante: a
preservação dos recursos naturais, apesar de termos que utilizá-los para fazer face às nossas
necessidades. Como sabemos, precisamos dos recursos naturais para viver, isto é, precisamos da água, do
ar, da terra, dos minerais (por ex.: petróleo), da fauna (os animais) e da flora (as plantas). No entanto,
devemos saber usá-los sem comprometer a continuidade da sua existência no tempo futuro.
Um dos aspetos que mais contribuem para a degradação do planeta é a existência dos resíduos
sólidos, vulgarmente conhecidos por "Iixo", que todos produzimos diariamente.
"Quantas coisas vamos deitar
fora hoje? A caixa de uma nova bis-
naga de pasta de dentes? A caixa
de cereais vazia ou o pacote do
leite? O bilhete do autocarro?
Talvez um pacote de batatas fritas
e uma lata de refrigerante vazia?
Elabo remos uma lista de coisas
que deitamos fora num dia e
ficaremos espantados com o seu
número.
“Atualmente, uma família média
portuguesa deita fora:
- papel velho que precisou de
seis árvores para ser
produzido;
- mais de 300 latas, das quais 100 são de comida para animais; - 47 kg de plástico;
- 32 kg de metais;
- 45 kg de comida;
-74 kg de vidro.
Isto significa que cada um de nós produz, por ano, quantidades de lixo que são dez vezes superiores ao
peso do nosso corpo.”
In Guia do Jovem Consumidor Ecológico - John Elkington e Jullia
No sentido de podermos viver melhor no presente e de permitir que as próximas gerações também o
possam fazer devemos poupar os recursos e deixar uma Terra mais limpa (desenvolvimento sustentável).
Devemos fazê-lo porque pensamos em nós e nas gerações que hão-de vir (vindouras). Que fazer, então,
para vivermos num mundo melhor, mais limpo e para deixarmos recursos para as gerações futuras?
De entre outros problemas ambientais, cuja resolução é importante tanto para o presente como para
o futuro, há o problema do chamado "Iixo". Este aparece-nos ligado a algo que não vale nada, que não
presta. Mas não é bem assim! ... Dado que, nele, podemos incluir materiais que podem voltar a ser
utilizados e aproveitados, é mais correto chamar-lhe resíduos sólidos. Papel velho não é lixo! Vidro velho
Resíduos elétricos e eletrónicos Disponível na Internet:
http://essetalmeioambiente.com/o-cenario-do-lixo-eletroeletronico-no-brasil/
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não é lixo! O mesmo se pode dizer das latas e dos restos de comida!... E tantas outras coisas que não são
lixo!... São resíduos sólidos que podem ser
aproveitados.
Podemos considerar que há vários tipos
de resíduos: resíduos domésticos, resíduos
sólidos urbanos (RSU), resíduos hospitalares,
resíduos sólidos industriais e resíduos tóxicos
ou perigosos (os pesticidas, os diluentes, os
decapantes e alguns produtos para a limpeza
doméstica). Iremos centrar mais a nossa
atenção nos resíduos domésticos e resíduos
sólidos urbanos porque é em relação a estes
que, mais diretamente, podemos, desde já,
enquanto cidadãos, tomar uma atitude,
assumir um gesto verde, como sugere o título
deste texto. Contudo os resíduos industriais não deixam de ser uma dos maiores problemas que afetam o
ambiente.
Para onde vão os resíduos sólidos?
1. Muitas vezes são colocados em depósitos, as chamadas "lixeiras", nas bermas das estradas, nas
margens dos rios. Esta forma de colocação é negativa porque se corre risco de incêndio, de
contaminação dos solos e da água, de mau cheiro e de degradação da paisagem.
2. Outras vezes são depositados em aterros autorizados, que, se forem bem geridos, serão mais seguros
que as "lixeiras", mas, mesmo assim, não estão isentos de riscos e, além disso, atingem a sua capacidade
máxima rapidamente.
3. Outras vezes são transportados para incineradoras onde se transformam em gases tóxicos, poeiras,
cinzas e escórias, que também têm que ser postas em algum lugar.
4. Nalguns casos são enviados para 0 fundo dos mares, o que contribui para os poluir e afetar a vida
marinha.
5. Na melhor das hipóteses, grande parte deles podem ser reaproveitados como matéria-prima em
indústrias de reciclagem.
In Sugestões para a Redução dos Lixos Domésticos - Instituto do Consumidor
Em conclusão: nenhuma das maneiras que temos para nos desembaraçarmos dos resíduos é
totalmente inofensiva. Eles têm que ser colocados em algum lado e causam sempre algum impacto
ambiental, isto é, causam alguma perturbação e sujam sempre o ambiente. Por isso, é indispensável
que 0 seu depósito seja pensado e planeado.
Mas melhor será, antes de mais, reduzir, isto é, todos fazermos um esforço no sentido de produzirmos
menos resíduos sólidos; reutilizar e reciclar os produtos que utilizamos.
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Política dos 3 R: Que atitudes tomar face aos resíduos?
A resposta a esta pergunta implica três palavras, todas elas começadas pela letra R. São elas: reduzir,
reutilizar e reciclar. Este princípio dos três R foi adotado pela União Europeia, na sequência da Confe-
rência do Rio de janeiro, em 1992. Havia já muito tempo que as pessoas que se preocupam com as
questões do ambiente, os ecologistas, vinham chamando a atenção para a importância do conteúdo
destas três palavras. Mais recentemente, outros conceitos têm sido integrados nesta abordagem dos R
como Restaurar, Recuperar, Repensar e Respeitar. Por uma questão metodologia apenas abordaremos os
conceitos associados aos 3 R.
Todos os cidadãos devem preocupar-se com estas três palavras que expressam ideias fundamentais
para a proteção do ambiente. Neste sentido, todos podemos fazer qualquer coisa, por pouco que seja,
para melhorar a qualidade de vida. Todos – os industriais, os
comerciantes, os políticos, os militares, os agricultores, os
engenheiros, todos os homens e todas as mulheres,
independentemente da sua idade ou profissão – podem fazer
qualquer coisa pelo ambiente, mesmo que pareça pouco. As páginas
que se seguem poderão ajudar a descobrir o pequeno contributo de
cada um, que por mais pequeno que seja, poderá ser muito
importante! Basta que façamos um pequeno esforço para adquirir ou reforçar alguns "gestos verdes", que
são pequenas atitudes que podemos tomar no nosso dia-a-dia, tais como reduzir o consumo, deitar' as
garrafas no vidrão, recolher o papel, as pilhas, as latas...
"É falso que pequenas iniciativas e esforços não pesem na mudança de atitudes: “gesto verde”' não é
aquele que se recomenda aos outros, mas que se pratica na escolha do tira-nódoas, na utilização do
detergente, no interesse em conhecer as economias de energia, em saber porque se rejeita uma pilha com
mercúrio, entre tantas outras atitudes.
Não se trata de comprar mais, mas de comprar diferente nos produtos de consumo corrente. Há até
'gestos verdes' que não exigem qualquer compra. São gestos que preservam fisicamente o nosso meio.
As embalagens de produtos alimentares e os sacos de plástico representam uma porção significativa
de resíduos difíceis de eliminar, o melhor é fugir deles: rejeitar produtos excessivamente embalados,
utilizar frequentemente o saco das compras em pano e aproveitar os sacos de plástico."
In Guia do Bom Cidadão Ecológico - Beja Santos
Todos, a começar por cada um de nós, somos responsáveis pelo destino a dar aos resíduos que
produzimos. Vejamos, agora, mais detalhadamente em que consistem os 3 (4) R. Na verdade
1. Reduzir Reduzir é uma ação muito importante, porque se atuarmos a este nível, haverá menos problemas
depois com os resíduos que resultam do nosso consumo.
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Se fizermos um esforço para consumir em menor quantidade alguns dos produtos que, bem vistas as
coisas, até podem ser dispensáveis, então estaremos a reduzir a
produção de resíduos. Por exemplo, evitar trazer demasiados
sacos do supermercado. Sacos de papel ou de plástico?
"Os sacos de plástico são, muitas vezes, mais cómodos do que
os de papel - só que não são biodegradáveis (mesmo os que são
biodegradáveis nunca desaparecem completamente - apenas se
desfazem em pedaços), além de que todo o plástico é feito a
partir do petróleo, um material não renovável. Os sacos de
plástico vão muitas vezes parar aos oceanos, matando animais
marinhos que neles ficam presos ou os engolem.
A tinta usada para impressão em sacos de plástico contém
cádmio, um metal pesado tóxico. Portanto, quando os sacos de
plástico são queimados, libertam metais pesados para a
atmosfera.
Os sacos de papel são recicláveis e biodegradáveis, mas,
por outro lado, não saem baratos. Os sacos dos supermercados, por exemplo, são sempre feitos com papel
virgem - nunca reciclado - porque, dizem os fabricantes, para fazer sacos que aguentem pesos grandes são
necessárias as fibras compridas de pasta de papel."
In 50 Coisas Simples que Você Pode Fazer para Salvar a Terra - The Earth, Works Group
Pelo que acima fica dito, devemos pensar duas vezes antes de trazer o saco do supermercado, quer
seja de plástico, quer seja de papel. Quando formos às compras, sempre que possível, levemos o nosso
próprio saco que poderá ser de pano ou de outro material durável.
Há atitudes que podem contribuir para reduzir o consumo e o desperdício, tais como: escrever nas
duas faces das folhas de papel, evitar a utilização abusiva do automóvel e evitar consumir bebidas
enlatadas porque assim se reduz o "Iixo". E se consumirmos produtos concentrados, reduziremos
também o número de embalagens. Do mesmo modo, devemos evitar o uso de produtos em forma de
spray, porque contribuem para a destruição da camada de ozono e
muitas outras coisas.
...Muitos fazem a mudança!
O "Ponto Verde" indica que a empresa fabricante do produto
assinalado, participa num programa de recolha de embalagens para
posterior reciclagem ou valorização. Desta forma, deveremos passar a
preferir este tipo de embalagens quando escolhemos um produto.
Se fizermos um esforço para reduzir o consumo de bens indispen-
sáveis, então também estaremos a reduzir os desperdícios. Ex.:
consumir menos água a regar, a tomar banho, a lavar automóveis, consumir menos papel, porque se
poupa a floresta, a água, o ar e a energia necessários para o fabricar.
Disponível na Internet:
http://www.atitudessustentaveis.com.br/artigos/sustentabilidade-reaproveitamento-de-
residuos-solidos/
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Para reduzir também é importante preferir produtos que sejam amigos do ambiente, isto é, que sejam
biodegradáveis - que se reintegram na Natureza - ou que sejam menos poluentes e menos tóxicos. Para
obteres esta informação, nada melhor do que ler a rotulagem e preferir produtos que sejam amigos do
ambiente, se possível reciclados e que possam ser recicláveis.
A propósito de produtos amigos do ambiente, vamos falar um pouco dos detergentes e de alguns
cuidados a ter no que respeita à escolha destes produtos.
" A maioria dos detergentes contém fosfatos e outros componentes químicos ricos em fósforo. Os
fabricantes utilizam-nos porque amaciam a água e evitam que as partículas de sujidade voltem a aderir à
roupa.
(...) [os fosfatos] produzem muitos efeitos secundários graves no ambiente: quando são arrastados
para os rios e os lagos, os fosfatos servem de "alimento" às plantas aquáticas - isto é, fertilizam-nas de tal
modo que se dá uma proliferação de plantas, em especial de algas, dando origem às chamadas "marés
vermelhas". Quando as algas morrem, seguindo 0 seu ciclo natural, as bactérias que fazem a sua decom-
posição - um processo que precisa de grandes quantidades de oxigénio – consomem o oxigénio de que
outras plantas e animais necessitavam para sobreviver. Resultado: os rios e os lagos podem morrer."
50 Coisas Simples que Você Pode
Fazer para Salvar a Terra - The Earth,
Works Group
Em casa tentemos esclarecer os
elementos da família acerca destes
problemas. Comecemos por
observar a embalagem do
detergente que é usado. Nela está
registada a quantidade de fósforo
que o detergente possui e aparece
normalmente sob a designação de “fosfatos” Multipliquemos o número que consta na embalagem por 3 e
obteremos assim o teor de fosfato. Assim, se o detergente contém 8% de fósforo multipliquemos por 3 e
obteremos 24% de fosfato que é um valor alto, porque, há detergentes que existem no mercado com
apenas 0,5% de fosfatos.
Exemplo:
O TIDE máquina contém entre outros ingredientes:
- <5% de Policarboxilatos, tensoativos não iónicos, tensioativos catiónicos, branqueadores à base de
oxigénio, Zeolitos.
- 5% -15% Tensoativos aniónicos.
- 15% - 30% Fosfatos.
- Enzimas.
Relativamente à escolha dos detergentes, que poderemos fazer de modo a evitar a morte de rios e
lagos?
Disponível na Internet:
http://intervirnoambiente.blogspot.pt/
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Usar menos detergente; escolher um detergente com menos fosfatos (os detergentes líquidos
normalmente não contêm fosfatos) ou usar sabão em pó, se a água não for muito calcária.
Em conclusão: reduzir o consumo de produtos e bens é uma forma de ser amigo do ambiente e da
Natureza. Este é um gesto simples e que está ao teu alcance.
2. Reutilizar Reutilizar quer dizer voltar a
utilizar, ou seja, usar de novo os
mesmos produtos. Há toda uma
série de produtos que podemos
voltar a utilizar. Às vezes,
pensamos que "o usar e deitar
fora" é o melhor, mas não é bem
assim para todos os casos. Por
exemplo, talvez seja melhor
preferir o vasilhame de vidro com
retorno, que é aquele que tu
podes devolver para voltar a ser utilizado. Usar uma garrafa de vidro uma só vez é pouco aconselhável
para o ambiente. O melhor seria utilizá-la mais que uma vez. Mas, no caso de tal não ser possível, então o
melhor será pô-la no vidrão para a reciclagem, como haveremos de ver!
Reutilizar também é uma atitude importante para preservar o ambiente. Exemplos de reutilização:
fazer um esforço para voltar a utilizar os sacos para as compras, para o pão, preferir o vasilhame com
retorno, os sacos de pano, os guardanapos de pano de entre outros casos.
No sentido de melhor reutilizar, há outras atitudes que também são muito importantes, como sejam:
reparar e manter os bens duráveis, não se desfazer de certos objetos de uma forma leviana (um bom
exemplo é o caso dos eletrodomésticos).
Na mesma ordem de ideias, outra atitude muito importante será emprestar ou partilhar bens que
são utilizados raramente.
Em vez de deitar fora o que não precisamos, podemos dar ou vender esses bens para que não
aumentem mais os resíduos e, entretanto, outras pessoas poderão beneficiar deles.
3. Reciclar
Reciclar consiste em recolher e transformar um resíduo de modo a que este possa ser novamente utili-
zado para o mesmo fim ou para outro diferente do que estava inicialmente previsto.
Como poderemos contribuir para facilitar a reciclagem?
Em primeiro lugar, escolher produtos e embalagens recicláveis e quando não precisarmos deles,
colocá-los em locais apropriados, tais como o recipiente do papel, das pilhas, dos metais, do vidro, do
plástico e outros.
Em segundo lugar, poderemos optar por produtos feitos de materiais recicláveis.
Imagem disponível na Internet:
http://contrarioaoesperto.blogspot.pt/
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Em terceiro lugar, no caso de termos o nosso próprio quintal ou jardim, fazermos nós próprios a
compostagem de resíduos de jardim e dos alimentos. Quer dizer, em vez de deitarmos fora estes resíduos
(restos de comida, de aparas do jardim, de plantas e de sebes), poderemos nós mesmos reciclá-los
porque deles resulta matéria orgânica, que
é um ótimo adubo biológico a usar para
enriquecer a terra. Assim, em vez de
utilizarmos adubo químico, procedamos à
sua substituição por adubo biológico que é
mais saudável, não polui o solo nem as
águas, e evitamos com esta medida
sobrecarregar ainda mais os locais onde se
depositam os resíduos sólidos. Há, deste
modo, várias vantagens na transformação,
por compostagem, dos resíduos biológicos
em matéria orgânica.
Em Portugal, aos poucos, vão-se
adquirindo hábitos de colocação dos vários resíduos nos locais apropriados e indicados para o vidro, o
papel, o plástico e as pilhas. Há países onde cada um, logo em sua casa, separa a matéria biológica - restos
de comida e de aparas - que coloca num recipiente adequado para o efeito; noutro recipiente coloca o
vidro, noutro as pilhas, noutro as latas e noutro os plásticos. Em Portugal também estamos no bom
caminho! E, se todos aderirmos, o resultado será ainda melhor e mais rápido.
Reciclagem do vidro
“O vidro é feito a partir de areias siliciosas, carbonato de sódio e cal, que são submetidos a várias
transformações. Fundido em fornos a altas temperaturas, vertido para os moldes que lhe hão-de dar a
forma, rapidamente arrefecido, o vidro transforma-se em objetos e recipientes. A produção do vidro
evoluiu ao longo dos tempos. Hoje, a
quantidade de matérias-primas e de
energia que é necessária à sua produção
diminuiu. A recolha e o aproveitamento
do vidro velho muito contribuíram para
essa redução.
Desde que esteja separado de outros
produtos, o vidro é um material
reciclável. Separá-lo dos outros resíduos
é uma forma de contribuir para um
melhor ambiente porque a sua presença
no conjunto dos resíduos, o "lixo", é muito agressiva. Aproveitando o vidro, também estaremos a
contribuir para não extrair abusivamente areia, uma vez que ela é necessária para produção do vidro. Por
Processo de preparação de garrafas de vidro para reciclagem Imagem disponível na Internet:
http://www.setorreciclagem.com.br/reciclagem-de-vidro/como-montar-uma-empresa-de-reciclagem-de-vidro/
Latas prensadas para reciclagem. Imagem disponível na Internet:
http://www.florestalrecicla.com/2011/05/brasil-perde-r-8-bilhoes-anualmente-por.html
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cada tonelada de vidro velho que se recolhe, poupam-se 400 kg de areia. Também se poupa energia e
água.”
Guia do Bom Cidadão Ecológico (adaptado) - Câmara Municipal de Lisboa
Reciclagem do papel
“Se pensarmos bem, o papel é um produto que nos acompanha no nosso dia-a-dia. A sua presença é
constante na nossa vida diária, em casa (guardanapos, lenços, copos, pratos, toalhas, jornais, revistas, cai-
xas, embalagens e outros), na escola e nos locais de trabalho (para fotocópias, para o computador...) É
agradável tê-lo na carteira sob a forma de papel-
moeda.
Procuremos um pouco a história do papel. O papel foi inventado na China, no início da era cristã.
Chegou à Europa pela mão dos árabes no séc. XII.
Vulgarizou-se devido à imprensa de Gutenberg (no
séc. XV), ao desenvolvimento das comunicações (nos
sécs. XIX e XX) e aos processos de fabrico. Para a sua
fabricação é necessária a celulose, extraída das fibras
vegetais das árvores, grandes quantidades de água e
muitos produtos químicos. A fabricação da pasta de
papel exige assim muitos recursos naturais e provoca
muito impacte ambiental: a desflorestação implica a
diminuição da biodiversidade - porque a pasta de
papel deriva, em geral, da monocultura do eucalipto -,
a erosão dos solos, a poluição das águas provocada
pela utilização dos produtos químicos.”
Guia do Bom Cidadão Ecológico (adaptado) - Câmara Municipal de Lisboa
Pelas razões acima referidas, nos nossos dias a reciclagem do papel é muito importante. Para isso, é
necessário que as pessoas, em vez de deitarem o papel para o "lixo", o depositem nos locais apropriados.
Depois, vai ser recolhido e utilizado para fabricar novamente papel. Assim, produz-se papel, poupa-se
água, energia, madeira proveniente das árvores e o solo na sua riqueza.
Plásticos
O plástico é um produto muito utilizado por todos nós no dia-a-dia e é uma componente forte nos
nossos resíduos. Os plásticos vão-se acumulando nas "lixeiras" e praticamente não se decompõem. Há
uns anos atrás, procedia-se à sua incineração, mas esta é uma solução com consequências indesejáveis
porque lança para a atmosfera agentes tóxicos e cinzas que contribuem para as chuvas ácidas a para a
destruição da camada de ozono.
Processo de preparação de papel para reciclagem Imagem disponível na Internet:
http://naturlink.sapo.pt/Intervir/Artigos-Praticos/content/Reciclagem-do-papel-como-e-
feita-e-qual-a-sua-importancia?bl=1&viewall=true
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É difícil, pelo menos por enquanto, dispensar o plástico do nosso quotidiano. Então, qual a solução?
Reciclagem. Para isso, coloca os plásticos no
plasticão.
Só assim, será possível a recolha seletiva de
plásticos para posteriormente reciclagem.
Óleos
"Um único litro de óleo para automóvel pode
poluir 950 millitros de água potável.
E meio litro de óleo usado pode originar uma
mancha venenosa com cerca de meio hectare de
diâmetro."
50 Coisas Símples que Você Pode Fazer para Salvar a Terra - The Earth, Works Group
É pois enorme o impacto que os óleos podem causar no ambiente. O que acontece ao óleo do carro
quando vamos à oficina fazer a revisão? E que destino é dado ao óleo usado nas máquinas das fábricas
onde trabalhamos?
Pilhas
“É muito importante que as pilhas não sejam lançadas no conjunto dos resíduos, porque contaminam
o solo e as águas, devido ao facto de conterem elementos
altamente poluentes, tais como o mercúrio, o cádmio e o
níquel.
Por isso, não devemos deitar as pilhas nos conjuntos dos
resíduos sólidos, mas guardá-las e entregá-las na Autarquia ou
num recipiente próprio para evitar que sejam abandonadas e
vão contaminar o solo e a água.
A propósito do mercúrio, vale a pena ler o texto que se
segue.
"No séc. XVII, os chapeleiros, que usavam mercúrio no trata-
mento do feltro e das peles, começaram a ter um
comportamento estranho. Como ninguém sabia que se tratava, afinal, de intoxicação pelo mercúrio,
partiam do princípio de que os chapeleiros estavam todos loucos. É daí que vem a expressão "louco como
um chapeleiro" e até o Chapeleiro Maluco, personagem de “Alice no País das Maravilhas."
50 Coisas Simples que Você Pode Fazer para Salvar o Ambiente, The Earth, Works Group
Processo de preparação de garrafas de plástico para reciclagem Imagem disponível na Internet: http://naturlink.sapo.pt/Intervir/Artigos-
Praticos/content/Reciclagem-do-papel-como-e-feita-e-qual-a-sua-importancia?bl=1&viewall=true
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Lembremo-nos que uma única pilha contamina o solo durante 50 anos. Prefira pilhas recarregáveis
porque, ainda que também contenham mercúrio, duram mais tempo. Escolha também as pilhas que
contenham menor teor de mercúrio.
Resíduos industriais “Os resíduos industriais gerados em processos produtivos, bem como os que resultam das atividades de
produção e distribuição de eletricidade, gás e
água são uma forma de poluição que suscita
uma crescente preocupação, tanto para as
empresas como para toda a Sociedade. Além
dos diversos impactes ambientais implícitos,
causadores de desequilíbrios graves nos
ecossistemas e na saúde humana, existe
também o custo económico associado à
produção de resíduos industriais. "Gerar cada
vez menos resíduos industriais", através da
implementação de estratégias de prevenção,
passa pela racionalização do consumo de
matérias-primas e energia, melhorando os
índices de produtividade, pela aplicação de
tecnologias mais limpas ou das melhores tecnologias disponíveis aos processos produtivos e de suporte e,
particularmente, passa pelo cumprimento dos planos nacionais de prevenção e gestão de resíduos
industriais publicados nos vários diplomas
legais existentes nesta matéria. A legislação é
indispensável, enquanto forma de enquadrar
normas, objetivos, planos e prazos, para que
essa mudança se concretize e funciona também
como um instrumento para a punição de
agentes prevaricadores. Existem razões de
diferente natureza que inadequadamente,
ainda são atualmente utilizadas como
argumento para justificar situações de más
práticas na gestão de resíduos industriais,
nomeadamente o desconhecimento da
legislação aplicável nesta matéria, o
desconhecimento de outras soluções técnicas
mais eficientes e dos benefícios daí resultantes,
a desvalorização que é dada ao impacte ambiental da atividade industrial, entre outras. Torna-se por isso
fundamental um esforço acrescido de informação, formação e sensibilização sobretudo aos Industriais
(incluindo as Administrações e todas as Partes Envolvidas numa Organização), que deverão encarar a
Resíduos industriais perigosos Imagem disponível na Internet:
http://quimicadjg.blogspot.pt/2013/06/como-deve-ser-feito-o-descarte-dos.html
Resíduos industriais perigosos Imagem disponível na Internet:
http://meioambiente.culturamix.com/recursos-naturais/opersan-residuos-industriais
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gestão adequada dos seus resíduos, não somente como uma obrigação ambiental para com a Sociedade,
mas também, como uma estratégia de negócio, em que a aplicação de técnicas/tecnologias de prevenção,
minimização, valorização e gestão apropriada dos resíduos produzidos, significa um melhor
aproveitamento dos recursos materiais e energéticos, com benefícios financeiros quantificáveis e como um
fator de "Competitividade Responsável" em mercados globais.”
In Vieira, Conceição et al. Manual de Gestão de Resíduos Industriais (2011) Associação Empresarial de Portugal
Do velho se faz novo e bonito Depois de falarmos de redução,
reutilização e reciclagem, e poderemos
ainda, com alguma imaginação, fazer
objetos artísticos a partir do que é
considerado velho e sem interesse.
Podem construir-se bonecos de pano,
espantalhos e outros objetos com coi-
sas velhas.
Um dia, o famoso pintor Picasso
criou uma bela escultura, chamada
"Cabeça de Touro", com um guiador e
um selim de uma velha bicicleta que
foram apanhados no lixo. Quer dizer,
com muita imaginação, aproveitou o
que outros deitaram fora e construiu
uma escultura. Mas Picasso foi apenas
um dos muitos artistas que procuraram
aproveitar o “lixo” para produzir obras
artísticas, para passaram mensagens
ambientais e estéticas.
Na parte final deste documento poderá encontrar textos que abordam a relação entre o ambiente e
a cultura.
Este texto sobre resíduos foi essencialmente retirado de com adaptações: Moura, Carminda; Teixeira, V.
Isabel. Eu e os outros (sd) Porto: Porto Editora
Observação: São inúmeras as fontes disponíveis para abordar a temática dos resíduos. Deixamos aqui
dois documentos disponíveis na Internet, que abordam globalmente o tema:
- Guia do professor para educar para o ambiente (sd) Associação de Municípios de S. Miguel
- Manual de Gestão de Resíduos Industriais (2011) Associação Empresarial de Portugal
Vaso decorativo feito de jornais e revistas
Imagem disponível na Internet: http://planetapegadaverde.blogspot.pt/2011/04/o-velho-vira-
novo.html
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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
“As alterações climáticas são já uma realidade: as temperaturas estão a aumentar, os padrões da
precipitação estão a mudar, os glaciares e a neve estão a derreter e o nível médio das águas do mar
está a subir. É de esperar que estas alterações prossigam e que se tornem mais frequentes e intensos os
fenómenos climáticos extremos que acarretam perigos como inundações e secas. Na Europa, os
impactos e as vulnerabilidades no que respeita à natureza, à economia e à nossa saúde diferem entre
regiões, territórios e setores económicos.
É muito provável que a maior parte do aquecimento observado desde meados do século XX se deva ao
aumento das concentrações de gases com efeito de estufa (GEE), resultantes das emissões provocadas
pela atividade humana. A temperatura global subiu cerca de 0,8 ºC nos últimos 150 anos e prevê-se que
continue a aumentar.
Um aumento superior a 2 °C das temperaturas registadas na época pré-industrial aumenta o risco de
ocorrência de alterações perigosas para os sistemas humano e natural à escala global. A Convenção-
Quadro das Nações Unidas relativa às Alterações Climáticas consagra como objetivo limitar o aumento da
temperatura média global registado desde a era pré-industrial a um valor inferior a 2 °C.
Como atingir este objetivo? É preciso que as emissões mundiais de GEE estabilizem na presente
década e que, até 2050, se registe uma diminuição de 50% relativamente aos níveis de 1990. Tendo em
conta os esforços necessários por parte dos países em desenvolvimento, a UE apoia o objetivo de reduzir
as suas emissões de GEE em 80% a 95% até 2050 (face aos valores de 1990).
Ainda que as políticas e esforços destinados a reduzir as emissões se venham a revelar eficazes,
algumas alterações climáticas serão inevitáveis, pelo que serão igualmente necessárias estratégias e
medidas de adaptação ao seu impacto.
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Impactos e vulnerabilidades das alterações climáticas
Na Europa, os maiores aumentos da temperatura verificam-se no sul do continente e na região do
Ártico. As quedas mais acentuadas da precipitação são registadas no sul, enquanto no norte e noroeste se
registam aumentos. Os aumentos previstos da intensidade e frequência das vagas de calor e das
inundações, assim como as alterações da distribuição de algumas doenças infetocontagiosas e dos
pólenes têm efeitos adversos para a saúde humana.
As alterações climáticas constituem uma pressão suplementar para os ecossistemas, levando várias
plantas e espécies animais a deslocarem-se para norte e para terrenos de maior altitude. Esta situação
afeta negativamente a agricultura, a silvicultura, a produção de energia, o turismo e as infraestruturas em
geral.
Entre as regiões europeias particularmente vulneráveis às alterações climáticas contam-se:
o sul da Europa e a bacia do Mediterrâneo, onde Portugal se integra (devido ao aumento das
vagas de calor e da seca);
as zonas de montanha (devido ao aumento do degelo);
as zonas costeiras, deltas e planícies aluviais (devido à subida do nível médio das águas do mar e
ao aumento das chuvas intensas, inundações e tempestades);
o extremo norte da Europa e o Ártico (devido ao aumento das temperaturas e ao degelo).
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Causas das alterações climáticas induzidas pelo Homem
Os GEE são emitidos, quer através de processos naturais, quer através de atividades humanas, sendo
que o GEE natural mais importante
presente na atmosfera é o vapor de água.
As atividades humanas libertam grandes
quantidades de outros GEE na atmosfera, o
que aumenta as concentrações
atmosféricas desses gases e,
consequentemente, o efeito de estufa,
contribuindo para o aquecimento do clima.
As principais fontes de GEE de origem
humana são:
a queima de combustíveis fósseis
(carvão, petróleo e gás) na produção
de eletricidade, nos transportes, na
indústria e em utilizações
domésticas (CO2);
a agricultura (CH4) e as alterações da utilização dos solos, tal como a desflorestação (CO2));
os aterros sanitários (CH4);
a utilização de gases industriais fluorados.
O aquecimento global pode ser explicado pelo efeito de estufa, produzido pela libertação de gases,
como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), hidrofluorocarbonetos (HFC), hidrocarbonetos
Mecanismo do efeito de estufa Disponível na Internet:
http://site.noticiaproibida.org/fotos/Image/atuais/esquema_do_efeito_estufa_reduzido.jpg
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perfluorados (PFC), hexafluoreto de enxofre (SF6) e óxido nitroso (N2O), que aumentam a capacidade de a
atmosfera absorver a radiação infravermelha, favorecendo a retenção de calor. “
In Alterações Climáticas, Agência Europeia do Ambiente. Disponível na Internet:
http://www.eea.europa.eu/pt/themes/climate/intro, adaptado
Políticas e instrumentos de combate às alterações climáticas “A Cimeira do Rio, com o título oficial de Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e
Desenvolvimento, teve lugar em 1992 e culminou anos de preparação de diferentes tratados e
documentos na área do Ambiente.
Estes tratados ambientais eram a resposta da
comunidade internacional ao crescendo de
preocupações sobre tendências alarmantes no
ecossistema global. A própria noção de questão
ambiental global era então recente e questionava a
comunidade internacional sobre os conceitos e as
instituições necessárias.
A evidência científica acumulava-se: os primeiros
relatórios do Painel Intergovernamental sobre
Alterações Climáticas apontavam para a possível
existência de interferência humana no clima global; as
estimativas sobre a perda de biodiversidade genética
eram progressivamente mais alarmantes; a
desertificação crescente e a sobreexploração dos oceanos eram crescentemente documentadas em
múltiplos relatórios do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Foi neste ambiente que no Rio são assinados vários documentos, entre os quais predominam três
Tratados:
1- A Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas
(UNFCC), pedra basilar do regime jurídico internacional sobre clima.
2- A Convenção sobre Diversidade Biológica, ou Convenção da Biodiversidade
(UNCDB);
3- A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas
A Convenção-Quadro das Nações Unidas relativa às Alterações Climáticas (CQNUAC) tem como
objetivo de longo prazo a estabilização das concentrações de gases com efeito de estufa (GEE) na
atmosfera a um nível que evite uma interferência antropogénica perigosa no sistema climático. Para
Conferência das Nações Unidas para o Clima e o Desenvolvimento – Eco 92, Rio de Janeiro
Disponível na Internet: http://www.meioambiente.coppe.ufrj.br/eco-
92-e-rio20/
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atingir esse objetivo, a temperatura global anual média da superfície terrestre não deverá ultrapassar 2 °C
em relação aos níveis pré-industriais.
A emissão de gases com efeito de estufa é um fenómeno comum a vários setores de atividade,
justificando, por isso, o caráter transversal das políticas de mitigação das Alterações Climáticas e de
adaptação aos seus efeitos.
Efetivamente, para fazer face ao problema das Alterações Climáticas existem essencialmente, duas
linhas de atuação – mitigação e adaptação.
Enquanto a mitigação é o processo que visa reduzir
a emissão de GEE para a atmosfera, a adaptação é o
processo que procura minimizar os efeitos negativos
dos impactes das alterações climáticas nos sistemas
biofísicos e socioeconómicos. (…)
Uma vez que as Alterações Climáticas
constituem um problema global, as decisões no que respeita quer à mitigação quer à adaptação
envolvem ações ou opções a todos os níveis da tomada de decisão, desde o nível mais local e da
comunidade ao nível internacional, envolvendo todos os governos nacionais. A resposta política a este
problema requer uma ação concertada e assertiva, traduzida na tomada de medidas que minimizem as
causas antropogénicas e que preparem a sociedade para lidar com os seus impactes biofísicos e
socioeconómicos.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, ou Convenção da Biodiversidade
A Convenção sobre a Diversidade Biológica tem como objetivos: "a conservação da diversidade
biológica, a utilização sustentável dos seus componentes e a partilha justa e equitativa dos benefícios
provenientes da utilização dos recursos genéticos".
A Convenção é o primeiro acordo que engloba todos os aspetos da diversidade biológica: genomas e
genes; espécies e comunidades; habitats e ecossistemas.
Com a Convenção, a conservação da
diversidade biológica deixou de ser encarada
apenas em termos de proteção das espécies
ou dos ecossistemas ameaçados ao
introduzir uma nova forma de abordagem,
ao reconciliar a necessidade de conservação
com a preocupação do desenvolvimento, baseada em considerações de igualdade e partilha de
responsabilidades. Reconhece-se assim que a conservação da diversidade biológica é uma preocupação
comum da Humanidade e parte integrante do processo do desenvolvimento económico e social.
A Convenção sobre a Diversidade Biológica é pois um dos mais recentes e significativos instrumentos
do direito internacional e das relações internacionais no âmbito do ambiente e desenvolvimento.
A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
Com o aumento das preocupações ambientais ao nível da Desertificação, foi aprovada a Convenção
sobre Combate à Desertificação, tendo como objectivo o combate contra o fenómeno numa escala
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internacional, reconhecendo que o problema da seca prolongada não tem soluções simples e de curto
prazo. Todas as resoluções, decisões e programas trabalhadas na Convenção direccionavam-se
inicialmente para os países Africanos, devido ao seu carácter único em termos económicos, sociais e
ambientais. Mas à medida que a perceção da globalidade do problema foi aumentando, outros países
passaram a ter Parte na Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, de modo a
serem atingidos os objectivos da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e a
Convenção sobre a Diversidade Biológica.
Protocolo de Quioto
O Protocolo de Quioto foi o primeiro (e até à data, o único) tratado jurídico internacional que
explicitamente pretende limitar as emissões quantificadas de gases com efeito de estufa dos países
desenvolvidos. Como Protocolo à Convenção-Quadro de Alterações
Climáticas, herda daquela os princípios fundamentais do regime
climático, em particular o princípio das responsabilidades comuns, mas
diferenciadas. É esse princípio que explica o facto de no Protocolo de
Quioto aparecer replicada a divisão mundial em:
Países desenvolvidos (Anexo I). De entre estes países, o Protocolo
distingue ainda um subconjunto: o Anexo B do Protocolo lista
aqueles países que têm limites quantificados às suas emissões. De
fora ficam países como a Turquia.
Países em vias de desenvolvimento (conhecidos como os "não-
Anexo I). Estes países não têm metas quantificadas de redução de
emissões.
Tal como a Convenção, também o Protocolo estabelece órgãos
próprios. À semelhança da Convenção, as Partes do Protocolo
encontram-se uma vez por ano ao mais alto nível, na chamada Reunião
das Partes (MOP
- Meeting of the Parties) e semestralmente nos
Órgãos subsidiários. Por razões logísticas, as
reuniões das Partes à Convenção e Protocolo
coincidem no tempo.
Uma das características do Protocolo de Quioto
é o da introdução de diferenciação entre metas de
redução entre diferentes países. Esse conceito,
introduzido na negociação pelos Estados Unidos,
permitia diferentes tipos de argumentos que
pudessem justificar circunstâncias especiais na
consideração de metas para cada Parte. No final, o
conjunto de reduções e limitações acordadas (nem
todos as Partes se comprometeram a reduzir, algumas Partes, como a Austrália, têm um compromisso de
limitar o crescimento) resultam na redução estimada global das emissões destes países em cerca de 5%.
Protocolo de Quioto
O Protocolo de Quioto foi
discutido e negociado
em Quioto no Japão em 1997.
Foi aberto para assinaturas
em 1997 e ratificado em 15 de
março de 1999. Para entrar
em vigor precisou da
assinatura de 55 países, que
juntos eram responsáveis pela
emissão de 55% das emissões.
Tal só veio a acontecer em
2005, depois da Rússia o ter
ratificado em Novembro
de 2004.
Imagem da Conferência que aprovou o Protocolo de Quioto, Japão,1997
Disponível na Internet:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1361640-5603,00-
MAIS+UMA+CONFERENCIA+SOBRE+CLIMA+E+ACORDO+AMBICIOSO+AINDA
+E+MIRAGEM.html
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Infelizmente a não-ratificação pelos Estados Unidos limitou severamente a eficácia ambiental do
Protocolo.
Cada uma das metas inscritas no Anexo B como uma percentagem do ano-base é convertida num
volume de direitos de emissão, i.e. toneladas de CO2-equvalente. Esse volume, a que é dado o nome de
Quantidade Atribuída corresponde ao máximo de emissões que devem ser emitidas pela Parte ao longo do
período de Quioto. A título de exemplo, a Quantidade Atribuída do Japão é de 1,261,441,934.08 toneladas
de CO2eq (dados de emissões em 1990) × 0.94 (6% de redução) × 5 (os anos do período de Quioto) =
5,928,777,090.16 [tCO2 eq]. Ou seja, o Japão está limitado a emitir, no período de Janeiro de 2008 a
Dezembro de 2012, aproximadamente 6 biliões de tCO2eq. Caso emita mais do que este valor, deverá ter
adquirido, através dos mecanismos de flexibilidade, outras unidades de cumprimento.
O Protocolo de Quioto é particularmente inovador, enquanto tratado internacional de ambiente, por
ter sido o primeiro acordo internacional a reconhecer o potencial de utilização da economia de mercado
como instrumento para ajudar à concretização das metas acordadas. Os mecanismos de flexibilidade
inscritos no Protocolo de Quioto permitem às Partes com metas (Anexo B do Protocolo) adquirir direitos de
emissão adicionais, permitindo a essas Partes uma forma potencialmente mais eficiente de atingir o seu
objectivo global.
São três os mecanismos de mercado do Protocolo de Quioto:
Os mecanismos do desenvolvimento limpo;
O mecanismo de implementação conjunta;
O mecanismo do comércio internacional de emissões.”
As políticas da União Europeia
Tendo em conta as convenções e protocolos assinados no âmbito das Nações Unidas relativas às
questões das alterações climáticas, a União Europeia desenvolveu, entre outras, as seguintes medidas:
a ratificação do Protocolo de Quioto, que instava os 15 Estados-Membros (UE-15) a reduzirem as
suas emissões coletivas, durante o período de 2008-2012, em 8% relativamente aos níveis
registados em 1990;
a melhoria contínua da eficiência energética de uma vasta gama de equipamentos e
eletrodomésticos;
a imposição do
aumento da
utilização de fontes
de energia
renováveis, tais como
a eólica, a solar, a
hídrica e a biomassa,
bem como de
combustíveis
renováveis, como os
biocombustíveis, nos
transportes;
o apoio ao
Disponível na Internet: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/relatorio-confirma-culpa-humana-nas-
alteracoes-climaticas-recentes-1607259
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desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), a fim de
capturar e armazenar o CO2 emitido por centrais elétricas e outras instalações de grande escala;
a implementação do Regime Europeu do Comércio de Licenças de Emissão (RCLE-UE, um
instrumento fundamental da UE para reduzir as emissões de GEE provenientes da indústria.”
In Alterações Climáticas, Agência Portuguesa do Ambiente, Disponível na Internet: http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=81, Adaptado
Em resumo:
As atividades humanas estão a provocar alterações na atmosfera a um ritmo sem precedentes, como
consequência do aumento da poluição: as emissões de gases perturbadores do efeito de estufa (gás
carbónico, metano, óxido de azoto) continuam a aumentar, contribuindo para a alteração do equilíbrio
térmico do planeta, cuja principal consequência será o aumento médio da temperatura do planeta entre
1,4°C e 5,8 °C até ao ano 2100.
O ritmo de concentração de gases de efeito de estufa é superior à capacidade humana para impor
restrições às suas atividades. Como resultado dessas concentrações, destacam-se:
- o aumento do nível médio das águas do mar, em resultado da expansão térmica dos oceanos e da
fusão dos glaciares e das calotas de gelo polares;
- a desertificação de vastas áreas, sobretudo em
regiões intertropicais, ampliada pela agricultura
intensiva, desflorestação, queimadas, etc.;
- as alterações do ciclo hidrológico, com profundas
consequências nos ecossistemas naturais e na
agricultura, devido às mudanças na distribuição e
frequência das precipitações a nível mundial;
- a diminuição drástica da calota polar ártica.
Para estabilizar imediatamente a concentração
destes gases aos níveis atuais, o que não impedirá
uma alteração do clima da Terra, seria necessário
reduzir sem demora as emissões mundiais em 50 a
70%,o que não está a acontecer.
As perspetivas futuras são pouco animadoras, se atendermos aos seguintes aspetos:
- a população mundial continua a crescer;
- a expansão industrial recente em muitos países, de que são exemplo os BRICS;
- a reduzida capacidade dos oceanos e das plantas para absorver a grande quantidade de C02 lançado
para a atmosfera;
- a contribuição cada vez mais intensa por parte dos países em desenvolvimento para a poluição, em
particular, atendendo a que a incapacidade financeira e tecnológica não permitirá controlar, num futuro
próximo, o lançamento de gases resultantes do consumo de energia, da desflorestação e até da queima
de gás natural excedentário.
Para saber mais sob alterações climáticas, consultar Alterações climáticas, publicação editado pela
Comissão Europeia e visualizar o documentário “Uma Verdade Inconveniente” realizado por AL Gore.
Consequências das alterações climáticas
Disponível na Internet: http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/alteracoes-climaticas-
vao-limitar-barragens-e-regadio-no-sul-1630359
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A redução da camada de ozono
A camada de ozono estratosférico constitui um filtro frágil, com espessura reduzida, mas vital à vida
no nosso planeta, pois impede que as radiações ultravioletas a atinjam a superfície terrestre.
As investigações levadas a cabo têm mostrado a relação existente entre a redução da camada de
ozono, o aparecimento de “buracos” e o aumento da concentração atmosférica de compostos de cloro e
flúor artificiais, constituintes de um produto químico conhecido por clorofluorcarboneto (CFC).
A redução da camada de ozono tem sido particularmente importante nas latitudes médias do
hemisfério Norte (200 N e 600 N de latitude), onde vivem 75% dos seres humanos, e em todas as regiões
a sul do paralelo 60° S.
Além de contribuírem para a perturbação do efeito de estufa, os CFC, ao provocarem a diminuição da
camada de ozono, estão a aumentar a possibilidade de os raios ultravioleta do sol chegarem à
superfície terrestre.
O aumento da incidência deste tipo de radiações provocará num período de tempo não muito
dilatado:
- o aumento do cancro de pele;
- o aumento dos problemas oftalmológicos, com particular incidência no número de casos de
cataratas;
- a destruição do plâncton dos oceanos;
- a rutura de cadeias
alimentares.
A consciencialização da gravidade
dos efeitos ambientais decorrentes
da constante utilização de CFC levou
a comunidade internacional a reagir
de forma rápida e decisiva no sentido
de reduzir drasticamente a sua
produção.
Em 1987, foi assinado o protocolo
de Montreal, posteriormente
renegociado em Londres, em 1990.
Em consequência, grande número de países signatários comprometeu-se a diminuir a emissão de CFC e
de outros gases poluentes até final do século XX.
A resposta internacional, apesar de digna, não resolveu todos os problemas associados à destruição da
camada de ozono. A grande estabilidade química dos CFC permite que este composto, depois de lançado
na atmosfera, possa manter-se ativo por um período superior a 50 anos.
As chuvas ácidas
A chuva ácida é a deposição húmida e seca de poluentes atmosféricos, em especial derivados do
dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NO2), que se dissolvem nas nuvens e gotas de chuva,
formando ácido sulfúrico (H2S04) e ácido nítrico (HNO3).
Buraco na camada do ozono sobre os pólos: recuperação prevista até meados do século
Disponível na Internet: http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/buraco-na-camada-de-ozono-esta-a-fechar-e-o-co2-pode-dar-uma-ajuda-1669322
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As regiões urbano-industriais são as principais responsáveis pela emissão dos gases referidos. No
entanto, mesmo em áreas virtualmente
“desindustrializadas” como os trópicos, a chuva ácida
ocorre principalmente em função da queima de florestas e
do transporte do ar poluído pelo vento.
Os efeitos das chuvas ácidas fazem-se sentir um pouco
por todo o globo, com particular intensidade: nas florestas,
nos solos, na agricultura, nos ecossistemas aquáticos, nos
edifícios e monumentos.
A redução das emissões dos compostos responsáveis
pelo aumento das chuvas ácidas insere-se num conjunto
mais vasto de ações e protocolos cujo principal objetivo é
reduzir outros impactes da poluição atmosférica,
particularmente no efeito de estufa e na camada de ozono.
O smog ou nevoeiro fotoquímico
O smog ou nevoeiro fotoquímico é um fenómeno que resulta da poluição do ar que ocorre em
algumas das grandes cidades mundiais como resultado da combinação de poluentes atmosféricos e de
determinadas condições meteorológicas.
Cidades como Beijing (Pequim) ou Paris enfrentam ciclicamente este problema que tem como
consequências, por exemplo, o agravamento das doenças respiratórias e alteração do sistema imunitário.
Diminuição da biodiversidade
As previsões apontam para uma perda de biodiversidade de entre 2 a 7% das espécies mundiais nos
próximos 20 anos, ao ritmo de 20 a 75 espécies por dia (atendendo apenas às espécies identificadas).
As causas da degradação incessante dos ecossistemas naturais do planeta que atentam contra a
biodiversidade são:
- a desflorestação da floresta tropical, onde vivem 2/3 das espécies
da fauna e da flora do mundo;
- a pressão agrícola, com a criação de ecossistemas artificiais
protegidos dos seres indesejáveis;
- a caça e a pesca não regulamentadas, que têm dizimado espécies;
- a poluição da água, do ar e dos solos.
Os ecossistemas funcionam e têm vitalidade com base numa
cadeia de interações que, se forem interrompidas, põem em causa
o seu equilíbrio. Se juntarmos a menor diversidade biológica às
rápidas mudanças climáticas em curso, a capacidade de adaptação
será menor, comprometendo a evolução da vida no planeta e a
Apesar de estrem a diminuir as chuvas ácidas em algumas regiões do planeta, os
seus efeitos persistem
Disponível na Internet: http://www.negociofechadousa.com/noticias_view.ph
p?noticia=cresce-acides-em-rios-dos-eua-devido-chuva-cida
Poluição ameaça a biodiversidade
Disponível na Internet: http://knowledge.allianz.com/environment/climate_change/?663/how-biodiversity-protects-against-climate-change-gallery
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sobrevivência dos seres humanos.
Promoção do desenvolvimento sustentável
As desigualdades de desenvolvimento, a consciência das limitações dos recursos naturais e a
degradação ambiental do nosso planeta puseram em evidência a necessidade de promover o
desenvolvimento sustentável.
A noção de desenvolvimento sustentável tem implícito um compromisso de solidariedade com as
gerações do futuro, no sentido de
assegurar a transmissão do
“património” capaz de satisfazer as
suas necessidades. Implica a
integração equilibrada dos sistemas
económicos, sociocultural e
ambiental.
Subjacente ao desenvolvimento
sustentável deve estar a resiliência
que consiste em assegurar o
desenvolvimento das capacidades de
indivíduos, organizações e governos
de forma a preparar a sociedade para
enfrentar as crises e recuperar das
mesmas.
A consciência dos perigos que
corremos multiplicou o número de organizações e programas cujo grande objetivo é alterar o nosso
sistema de valores, os nossos estilos de vida, introduzindo a componente ecológica.
Surgiram um pouco por todo o mundo associações e partidos ecologistas; Ministérios do Ambiente
foram criados em mais de 70 países; organizaram-se conferências internacionais; foram criados o PNUA e
outros programas de pesquisa e ação.
As medidas a adotar para proporcionar o equilíbrio
entre o homem e ambiente passam por diferentes
níveis, por exemplo:
- abandono das políticas exclusivamente baseadas no
crescimento económico; a cooperação internacional: é
essencial para permitir a mitigação e adaptação aos
problemas ambientais, mas também para promover o
desenvolvimento sustentável e evitar retrocessos graves
no desenvolvimento humano;
- intensificação da cooperação entre os países
mais desenvolvidos e os países menos desenvolvidos,
dado que estes últimos são os mais vulneráveis aos pro-
blemas ambientais e não possuem recursos económicos
A sustentabilidade ambiental tornou-se uma das preocupações das sociedades atuais
Disponível na Internet: http://www.ids.pt/desenvolvimento.html
Disponível na Internet: http://www.petshopmagazine.com.br/2012-04-cfmv-e-o-desenvolvimento-sustentavel-16449
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que lhes permitam reagir e adaptar-se, por exemplo, às consequências das alterações climáticas;
- investimento em atividades industriais que reduzam a produção de resíduos e desenvolvam
processos de reciclagem e reutilização de materiais; participação ativa da sociedade civil ao nível
da denúncia e da ajuda à superação dos problemas;
- melhorar a informação (mais e melhor informação sobre as condições sociais ambientais e
económicas das populações, incluindo os custos reais da utilização do ambiente - exemplo da
pegada ecológica);
- minimizar a utilização dos recursos não renováveis e prevenir a erosão dos recursos renováveis;
- utilizar todos os recursos com a máxima eficiência;
- Abrandar o elevado crescimento da população e regular de forma eficaz a ocupação do espaço
pelas atividades humanas;
- cumprimento dos acordos internacionais e a integração das questões ambientais nos debates no
seio da OMC.
Promover estas alterações no rumo ao desenvolvimento revela-se fundamental, sem esquecer que a
aplicação de estratégias de
desenvolvimento ecologica-
mente corretas depende:
- da ação individual e
coletiva de cada
indivíduo, do papel do
Estado e das políticas do
ambiente;
- do papel das empresas e
de todos os agentes
económicos;
- do respeito pelos
tratados e acordos
internacionais e do cum-
primento dos caminhos
traçados desde as
Conferências de Es-
tocolmo, em 1972;
- da ação das organizações
nacionais e
internacionais.
Finalmente, é preciso
reafirmar a incapacidade dos atuais modelos de desenvolvimento para resolver o problema da pobreza,
do desemprego e da insatisfação das necessidades não materiais.
A solução passará, com certeza, pela redistribuição mais equilibrada dos custos/benefícios e pelo
modo como as populações acedem aos recursos.
A sustentabilidade ambiental tornou-se uma das preocupações das sociedades atuais
Disponível na Internet: http://www.jrrio.com.br/construcao-sustentavel/sustentabilidade.html
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RELAÇÃO ENTRE A ARTE E O AMBIENTE
Arte e Ambiente: que conceitos, atitudes e ações estão por detrás desta dicotomia? Ao longo da
história do Homem e dos objetos têm sido atribuídos diferentes sentidos e significados ao conceito de
Arte e ao conceito de Ambiente. Desde os primeiros vestígios da pré-história, a arte passou a ser parte
integrante da cultura do homem, tornando-se, para muitos, uma necessidade e um modo de expressão
perante o mundo que os rodeia. A arte veio também enriquecer, embelezar e melhorar a qualidade de
vida do homem, completando-a.
Com o desenvolvimento das diversas culturas e sociedades, o ser humano criou diversos artefactos,
aproveitando e adequando matérias-primas encontradas na natureza, dando-lhes formas úteis, funcionais
e belas à medida e à vontade do homem, as quais proporcionaram satisfação ao fruidor, refletindo o
modo de pensar e os valores de cada cultura e de cada sociedade.
Hoje em dia, numa sociedade que integra no seu seio uma cultura materialista que cultiva o
consumismo, instalando a moda do “usar e deitar fora”, grande parte dos recursos materiais e
energéticos necessários para esta produção
desenfreada ainda é considerada como inesgotável e a
natureza é entendida como tendo capacidade infinita
para suportar quaisquer agressões. Além disso, está à
nossa disposição uma enorme variedade e oferta de
objetos e, desde que lhes seja dada oportunidade, as
pessoas gostam de adquirir coisas.
No entanto, nos últimos anos apareceram
diferentes atores no campo artístico, com diferentes
manifestações, hoje designados por artistas, artesãos
e designers que face aos grandes problemas
ambientais, criaram uma nova relação com a
Sociedade e com a Natureza.
Um dos inúmeros problemas ambientais tem a ver com a poluição, que é uma palavra muito comum
nos dias de hoje. O seu significado é muito claro e visível pelos resíduos deixados na Natureza. A gestão
dos resíduos está a tornar-se um problema complexo que requer a participação de todos. Torna-se
necessário aumentar a consciência global das pessoas relativamente às questões relacionadas com o
ambiente e tentar dar um novo sentido à responsabilidade individual.
Segundo o filósofo e educador J. Krisnamurti, “Qualquer viagem começa sempre com o primeiro
passo”. Todos os esforços para salvar o planeta devem começar em casa de cada um, a um nível pessoal
e em cada escolha que fazemos. Cada um de nós pode fazer a diferença. É necessária uma nova
consciência de que a nossa relação com o ambiente é uma questão de moralidade social, e é
responsabilidade de cada geração deixar aos seus sucessores um mundo melhor.
Para salvar o planeta e os seus hóspedes é necessária a construção de sociedades do conhecimento
baseadas na educação para a sustentabilidade e na educação para o futuro, que tenham um papel
importante na transformação da sociedade, que assente na mudança de valores e atitudes.
Cada dia aparecem mais projetos e iniciativas que aproveitam os resíduos, transformando-os em
recursos: energia, compostagem, matérias-primas e também em arte. Neste campo são inúmeras as
publicações, exposições, documentários e eventos que mostram esta nova tendência a uma audiência
internacional. Mostram o poder transformador individual e coletivo de artistas, artesãos e designers
que aproveitam o lixo que todos deitamos fora todos os dias para o transformarem em matéria-prima
Artur Bordalo, um jovem lisboeta de 26 anos, que
estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes, dedica-
se a transformar lixo em animais, em Lisboa.
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útil para os seus projetos sustentáveis e de baixo impacto ambiental. São experiências que têm a ver
com o dia-a-dia, divertidas, criativas, funcionais,
estéticas, úteis, de “fazer algo a partir do nada” e,
acima de tudo, amigas do ambiente. (...)
Temos que contribuir para uma Cultura Material
mais sustentável. É possível reutilizar criativamente
materiais de fácil acesso e consumo, na conceção de
artefactos, integrando-os na nossa vida quotidiana. (...)
Cada um de nós poderá encontrar função e beleza nos
objetos construídos a partir de materiais onde os outros
apenas o veem como lixo.
Será possível comprar e consumir menos, e criar
mais? Este é o grande desafio com o qual todos temos
de nos confrontar. “ Desenvolver a capacidade criativa
e a consciência cultural para o século XXI é uma tarefa
simultaneamente difícil e essencial. É necessário que todas as forças da sociedade se empenhem na
tentativa de assegurar que as novas gerações deste século adquiram os conhecimentos e capacidades e,
o que é porventura ainda mais importante, os valores e atitudes, os princípios éticos e as normas
morais necessárias para serem cidadãos responsáveis do mundo e garantes de um futuro sustentável”.
Galante, Manuela (2009) Arte e Ambiente – Que conceitos, atitudes e acções estão por detrás desta dicotomia? Roteiro para a Educação Artística, Aspea – Associação Portuguesa de Educação Ambiental. Disponível na Internet em: http://www.aspea.org/XVIJ_Oficina%20Arte%20Ambiente%20Manuela%20Galante.pdf, data de consulta a 22-04-2015, adaptado.
A REUTILIZAÇÃO AO SERVIÇO DA CRIAÇÃO ARTISTICA
"Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma",
Antoine Laurent de Lavoisier (1743 - 1794)
A célebre frase de Lavoisier “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” foi utilizada
como ideia basilar para a redação deste artigo. (...)
Importa antes de mais clarificar os conceitos de
reutilização e de lixo: reutilização significa pegar numa
preexistência e dar-lhe uma nova função; lixo é todo o
material sólido sem utilidade.
Recuperar e reutilizar lixo transformando-o em obras de
arte foi uma prática que atravessou o século XX e que
ganhou mais força nos últimos anos. Artistas como Picasso,
Tatlin e Marinetti, Mimmo Rotella, Louise Nevelson, Marcel
Duchamp, Kurt Schwitters, Chirstian Boltanski e
Rauschenberg são alguns dos artistas que se interessaram
pelos materiais considerados lixo, descartáveis e que os
usaram como “matéria-prima” para as suas criações artísticas.
O artista mexicano Alejandro Duran, utiliza resíduos
plásticos, e não só, que dão à costa no México, para
realizar as suas coloridas criações artísticas.
Nature morte à la chaise canée, 1912. Óleo e
aplicações na tela com corda ao redor, Pablo
Picasso. Imagem retirada de VERGINE, Lea 2007.
p.129.
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Na verdade os artistas da vanguarda do início do século XX utilizaram “lixo” nas suas obras. O Futurismo,
o Cubismo e o Dadaísmo foram os
movimentos que mais se destacaram
neste contexto de arte, apenas mais tarde
considerado como tal. A intenção destes
artistas era deixar claro que utilizando,
papel de rascunho, cordas, cordéis, lixo,
bilhetes de navios e de comboio, ou seja,
material que foi considerado de baixo
valor, era possível fazerem-se criações
artísticas, idênticas àquelas que recorrem
a materiais tradicionais.
O dadaísta Marcel Duchamp, um dos
autores que mais fronteiras abriu para
uma nova forma de pensar a arte,
retirava peças do seu contexto original
inserindo-as num contexto de difusão de
arte, questionando profundamente o
valor implícito de arte moderna. As diversas formas de interpretação de peças, já existentes com uma
determinada função, obrigam a um processo complexo, mas claro
e objectivo – de tentar fazer entender o visitante como se
pretende que o objeto seja compreendido. (...) Duchamp atribuiu
novos significados a objetos que desempenhavam uma
determinada função quotidiana, pertencendo a uma nova
definição de significado, abrindo e expandindo o campo daquilo
que poderia ser considerado arte e sua definição.
Entre 1960 e 1970 o uso de “lixo” expandiu-se para quase
todos os trabalhos artísticos
como forma de denúncia do
consumismo excessivo e de
crítica social destas épocas,
considerando as teorizações
dos grupos Fluxus, Poesia
Visiva, Nouveau Réalisme e
Pop Art. No entanto, os anos
1980 e 1990 foram de
extrema exploração poética.
Os pós-modernistas continuaram a partir de objetos usados, objetos
desatualizados ou simplesmente de lixo, continuaram a produzir
objetos de arte.
O conceito de reutilização acabou por migrar para o designe e
hoje há imensos criadores que recorrem à reutilização para
produzirem os seus objetos.
Carreto, Filipe Cardoso; Carreto, Albuquerque Ferreira (sd) In Convergência 12: Revista de Investigação e Ensino das Artes. Disponível na Internet em: http://convergencias.esart.ipcb.pt/artigo.php?id=104, data de consulta a 22/05/2015, adaptado
Roda de bicicleta, ready-made,
1913. Marcel Duchamp,
Imagem retirada de Web Site:
http://fakeline.wordpress.com/2009
/10/, data de acesso 26 de Maio
Com Barulho Secreto, 1916. Reay-made: novelo de
cordel entre duas chapas de latão ligadas por quatro
parafusos. Se deslocar o ready-made ouve-se um barulho.
[Marcel Duchamp, Imagem retirada de Web Site:
picasaweb.google.com/fotosaula/Dadaismo#, data de acesso
24 de Março de 2010].
A Vitória, 1920, montagem,
colagem e óleo sobre cartão,
104.5 x 79 cm. [Kurt Schwitters,
Imagem retirada de Web Site:
http://mediaspin.com/blog/?p=4
45, data de acesso 26 de Maio
de 2010].
Robert Rauschenberg, "Mercado
Negro", 1961.
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LIXO QUE DÁ À COSTA TRANSFORMADO EM ARTE CONTRA O DESPERDÍCIO
O lixo de uns é a arte de outros. No caso de Alejandro Duran, para além de arte, o lixo dos outros é
também o seu manifesto.
O artista mexicano utiliza resíduos plásticos, e não só, que dão à
costa no México para as suas coloridas criações artísticas que se
misturam e evidenciam no espaço em que se encontram.
É um alerta para os efeitos da sociedade de consumo que afeta
também os locais mais remotos:
“Eu trabalho o tema do modo
como os resíduos viajam pelo do
oceano até às costas de Sian Ka’na, a maior reserva governamental
do México”, refere. Este local, “património mundial da Unesco, é
também habitat de uma vasta panóplia de fauna e flora e a segunda
maior barreira de coral do mundo. Infelizmente, (…) é também
repositório para o lixo do mundo.”
Washed Up é mais do que arte, é um alerta. Apesar dos
resultados visualmente aprazíveis, o objeto artístico fala sobretudo das nossas preocupações ambientais e
na forma como lidamos com o desperdício.
In Lixo que dá à costa transformado em arte contra o desperdício [Consultado em 2015-03-17 22:09:00] Disponível na Internet em: http://charivari.pt/2015/04/19/lixo-que-da-a-costa-transformado-em-arte-contra-o-desperdicio/, adaptado
VIK MUNIZ: O HOMEM QUE TRANSFORMOU LIXO E A VIDA DOS CATADORES EM ARTE
Vik Muniz é um dos grandes nomes da arte contemporânea mundial sendo o artista brasileiro que
mais obras vende no estrangeiro. Radicado em Nova Iorque, tem
obtido grande sucesso junto da crítica e do público devido aos
trabalhos e às obras de arte que tem produzido com recurso a
materiais abandonados pela sociedade.
Nascido numa família pobre, Vik resolveu fazer alguma coisa para
retribuir à sociedade tudo o que ganhou. Foi daí que surgiu a ideia de
transformar lixo em arte. No seu documentário “Lixo
Extraordinário”, de 2010, premiado nos importantes festivais de
Berlim e de Sundance, o artista plástico revela o seu processo
criativo, desde a seleção do lixo que vai utilizar até à exposição das
peças em museus e mostras.
O documentário revela o outro lado dos resíduos descartados
pela sociedade, através da exposição do dia-a-dia de sete catadores
de material reciclável do aterro do Jardim Gramacho, um dos
maiores aterros controlados de todo o planeta.
Auto-retrato de Vik Muniz à base de
lixo lixo
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Vik passou dois anos na maior lixeira do mundo a trabalhar com os apanhadores, transformando os
seus retratos em obras gigantescas compostas por materiais abandonados. O dinheiro arrecadado com a
venda das obras foi doado à associação de
catadores local e a vida das pessoas que
ajudaram Vik mudou para sempre.
O documentário “Lixo Extraordinário”
(Waste Land no original) foi nomeado para
um Oscar, sendo uma bela reflexão sobre
felicidade, consumismo, pobreza e
solidariedade. Vik mostra os catadores como
os seres humanos que são (com sonhos,
falhas e alegrias) e devolve dignidade a
esses homens e mulheres invisíveis que
prestam um grande serviço ao país.
Obviamente que não precisamos ir tão
longe na realização de arte com o lixo. Nós
mesmos podemos reutilizar muitas coisas
com os resíduos que temos em casa. Para
além da beleza e sustentabilidade, a
reutilização de materiais pode ser de facto bastante interessante e divertida, uma vez que envolve a
criatividade na criação das peças. Garrafas PET, jornais, caixas de papelão, revistas velhas, enfim, quase
tudo que descartamos diariamente, se usado com
criatividade e com bom gosto, pode tornar-se numa
peça de decorativa ou mesmo numa obra de arte.
Os artigos eletrónicos também são bastante úteis
para a criação de peças decorativas. Após a remoção e a
correta separação dos componentes tóxicos (como as
baterias, por exemplo). O material plástico pode ser
utilizado na composição de muitas peças. Porta-joias,
porta-retratos, vasos, entre muitas outras coisas, podem
ser criados apenas com algumas partes desses de
aparelhos.
Aqueles que querem aventurar-se no mundo
artístico de forma sustentável, devem preocupar-se em
selecionar apenas materiais ecologicamente corretos
para a realização das peças, priorizando tintas e
solventes à base de água, por exemplo, livrando-se
corretamente de todos os materiais, componentes ou
partes de objetos que não forem utilizados na criação
das peças, de acordo com as boas práticas da
separação de resíduos.
In Gluck Project (2014). vik muniz: o homem que transformou lixo e a vida dos catadores em arte [Consultado em 2015-04-20 21:25:00] Disponível na Internet em: http://www.gluckproject.com.br/o-homem-que-transformou-lixo-e-a-vida-dos-catadores-em-arte/, adaptado e In Arte com lixo: uma bela atitude sustentável (2008) [Consultado em 2015-04-20 21:20:00] Disponível na Internet em : http://www.fragmaq.com.br/blog/arte-com-lixo-uma-bela-atitude-sustentavel/, adaptado
Uma das obras de Vik Muniz feita à base de lixo
Disponível na Internet: http://www.gluckproject.com.br/o-homem-que-
transformou-lixo-e-a-vida-dos-catadores-em-arte/
Uma das obras de Vik Muniz realizada com recurso a lixo
Disponível na Internet: http://www.gluckproject.com.br/o-homem-que-
transformou-lixo-e-a-vida-dos-catadores-em-arte/
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ARTE SUSTENTÁVEL: 10 ARTISTAS INCRÍVEIS QUE TRANSFORMAM LIXO COMUM EM ARTE
Muitos artistas conseguem transformar lixo de todo o tipo – colheres velas, cabides usados,
pedaços de madeira encontrados na rua – em arte maravilhosa. Conheça dez exemplos de artistas que
fazem arte sustentável.
Para do brasileiro Vik Muniz, existem muitos outros artistas pelo mundo fora que fazem excelente uso
do lixo, transformando objetos fora de uso em obras de arte expressivas. O mais interessante é que a
maioria apropria-se da condição de lixo desses materiais, seja como memória do que foram um dia, ou
pelo facto de terem sido abandonados, e, portanto, libertados da sua condição anterior.
Sayatka kajita – A artista japonesa Sayaka Kajita cria figuras
dinâmicas e cheias de poesia usando peças de plástico
descartáveis, como colheres e copos. O mais impressionante é a
sensação de movimento que emana das suas esculturas, assim
como a natureza das formas que se situam no limiar entre o
orgânico e o artificial.
Ann P. Smith – A americana Ann P. Smith dedica-se a fazer
esculturas de peças de eletrodomésticos e equipamentos
eletrónicas abandonadas. Ela desmonta cada uma das máquinas e
reutiliza-as para criar as suas esculturas-robôs, em forma de
animais. Além de criar as peças, Ann ainda grava pequenos clipes
de stop-motion com robôs, numa alusão ao ciclo natural de todos
os materiais da terra.
Haroshi – O artista japonês Haroshi empilha antigos skates para criar
esculturas tridimensionais, nas quais é possível notar as camadas
coloridas, a que dá ênfase. Às vezes, altera a forma de empilhar as
pranchas, criando novos padrões coloridos.
Jaime Prades – Nas suas obras o artista brasileiro Jaime
Prades usa pedaços de madeira recolhidos das ruas, deles
fazendo árvores que evocam a memória e o nascimento. A
árvore que foi transformada em móvel, que se tornou lixo,
que voltou a ser árvore...
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Wim Delvoye – O belga Wim Delvoy trabalha uma ideia pouco usual:
esculpir pneus, criando belas figuras inesperadas. Ele esculpe à mão
delicados padrões florais, tornando um objeto descartado num objeto
decorativo. Wim trabalha com outros objetos reutilizados como botijas
de gás, que acabam parecendo porcelana pintada.
Jane Perkins – A britânica Jane Perkins usa todo o tipo de quinquilharia (de
pedaços de bijuteria quebrada, botões, brinquedos de plástico, grampos
de cabelo velho) para criar retratos de pessoas famosas. Ela usa esses
pequenos objetos como reminiscências: as pessoas como retratos, são
feitos de fragmentos de memórias.
Paul Villinski – Paul Villinsky, de Nova Iorque, usa materiais
descartados para criar figuras que evocam a liberdade. Com
pares de luvas usadas, cria belas asas, e com o que sobra das
latas de cerveja, faz borboletas. Segundo ele, a transformação
do lixo em arte é uma forma própria de meditação.
David Mach – David Mach usa materiais inusitados nas suas gigantescas esculturas
(cabides velhos, fósforos ou qualquer outro material usado) que as outras pessoas
poderiam considerar lixo.
Erika Iris Simmons – A norte-americana Erika Iris Simmons
utiliza fitas de cassete, símbolo do obsoleto, para construir
uma interessante metáfora de como elas ajudaram a
imortalizar o espírito dos ícones da música.
Robert Bradford – O artista Robert Bradford usa pequenos
brinquedos velhos ou estragados do filho para criar obras,
explicando que o que mais gosta no trabalho que faz é notar
que cada pequena parte que constituiu o todo tem uma
história, um passado.
In Arte sustentável: 10 artistas incríveis que transformam lixo comum em arte (sd), in Fala Cultura. [Consultado em 2015-03-23 15:10:00] Disponível na Internet em: http://falacultura.com/10-arte-lixo/, adaptado
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A REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS COMO UMA PRÁTICA CRIATIVA
O que pode ser feito, por exemplo, com um velho regador ou com uma cadeira de madeira que se
partiu? As casas e as gavetas dos nossos avós enchiam-se de objetos que já não estavam em condições
de serem usados nas funções para que haviam sido criados, mas, na hora certa, eles sabiam que destinos
lhes dar, faziam aquilo a que nós hoje chamamos
reutilização.
Faziam isso porque viviam em tempos difíceis.
Não era fácil criar coisas novas e, por isso, cada
objeto era tratado com cuidado e moderação, de
modo a durar o mais tempo possível. Quando
deixava de ser usado na sua primeira função, havia
sempre um novo destino para lhes dar.
Hoje estamos dar novos usos às coisas, a
reutilizá-las por razões exatamente opostas às dos
nossos avós: temos uma grande oferta de novos objetos,
de uso singular e de baixo custo, que se não as
reutilizarmos, acabaremos por ficar rodeados de lixo.
A situação de emergência em que nos encontramos,
coloca-nos perante a necessidade de mudança radical
de perspetiva. É aqui que entra o eco-design, assente
em princípios de sustentabilidade, que olha para os
resíduos como recurso e não apenas como um
problema. O eco-design procura pensar a nossa relação com as coisas, dando nova vida aos objetos
quando eles deixam a sua utilização "oficial”.
In DIDATTICARTEBLOG-ensinar e aprender arte e criatividade (30 de junho, 2013) [Consultado em 2015-04-23
23:12:00] Disponível na Internet em: http://www.didatticarte.it/Blog/?p=693&lang=pt, adaptado
ECOD BÁSICO: ECODESIGN E DESIGN SUSTENTÁVEL
A vertente preza pelo design aliado à sustentabilidade/Foto: Luce Beaulieu
Uma nova filosofia de responsabilidade socioambiental está a mudar o conceito de design em todo o
mundo. Os profissionais e estudiosos mais atentos já
estão a aderir ao eco-design e ao design
sustentável para acelerar a mudança nos processos de
produção e consumo e ajudar a criar alternativas
sustentáveis para o desenvolvimento.
Diferente do design convencional, que procura
agregar valor a um produto apenas para alavancar o
seu potencial económico, o ecodesign e o design
sustentável procuram projetar soluções para o
consumidor sem abrir mão do respeito pelo meio ambiente e pela sociedade. Para isso, são utilizadas
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técnicas específicas, tecnologias limpas, materiais apropriados e estimuladas atitudes social e
ecologicamente corretas.
Para entendermos melhor como isso funciona, é preciso diferenciar ecodesign de design sustentável. O
primeiro termo começou a ser discutido na década de
80, com o aparecimento das primeiras discussões sobre
desenvolvimento sustentável. O seu objetivo era
preservar ao máximo o meio ambiente por meio de
técnicas de design e assegurar que as gerações futuras
tenham direito a usufruir dos recursos naturais, como
nós o fazemos hoje.
O design sustentável vai um pouco além. Engloba as
vertentes ambiental, social e económica ligadas ao
desenvolvimento e à utilização de um produto. Para
isso, durante o processo de planeamento e
desenvolvimento do material, o profissional do design
sustentável estuda todo ciclo de vida do produto em
causa, desde a matéria-prima utilizada até ao seu
abandono, e fica atento a uma série de fatores que podem influenciar a forma como aquele produto irá
ter impacte no ambiente.
O conceito de design sustentável pode ser aplicado de diversas formas, como:
Por meio da recuperação de material. Os materiais utilizados devem estar o mais próximos
possível de seu estado natural para que sejam facilmente recuperados. Materiais compostos são de
difícil recuperação e reciclagem, pois muitas vezes não é possível a segregação dos componentes
originais.
Desenvolvendo projetos “simples”. Os produtos desenvolvido de formas simples – sem descuidar
do fator estético – geralmente têm custo de produção menor, pois utilizam menos materiais e
permitem maior facilidade de montagem e desmontagem.
Reduzindo as matérias-primas na fonte. Esta atitude visa reduzir o consumo de materiais ao longo
do ciclo de vida do produto, o que reduz também a quantidade de resíduos gerados no final do
ciclo de vida.
Recuperando e reutilizando os resíduos. É um engano pensar que resíduos só são gerados na
altura de nos livramos dos objetos. Essa é apenas uma fração de tudo o que é deitado fora durante
todo o processo, o que inclui o fabrico e o uso de um produto. Por isso, é importante adotar
tecnologias que recuperem os resíduos, aproveitando ao máximo a matéria-prima e obtendo
ganhos económicos e ambientais.
Utilizando formas de energia renováveis. Esse é um dos pressupostos do desenvolvimento
sustentável, porém é preciso ficar atento ao ciclo de vida dos equipamentos que utilizam energias
renováveis para se determinar a viabilidade, tanto ambiental quanto económica, desses
equipamentos. Pode ocorrer que para o fabrico de um coletor solar, por exemplo, seja consumida
uma grande quantidade de recursos não renováveis e seja gerada uma grande quantidade de
resíduos perigosos.
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Utilizando materiais eco-friendly. Os designers sustentáveis, sempre que possível, optam por
utilizar matérias-primas renováveis substituindo as não-renováveis. São materiais como o bambu,
as tintas de origem vegetal (substituindo as químicas), as madeiras de reflorestamento, os plásticos
reciclados, etc..
Optando por produtos com maior durabilidade. A extensão da vida útil de um produto contribui
significativamente para a ecoeficiência, já que um produto durável evita a necessidade de
fabricação de um substituto.
Recuperando as embalagens. A aplicação desta prática prevê que as embalagens possam ser
reaproveitadas, seja na reutilização ou na reciclagem. Para isso, é importante que os fabricantes
assumam a responsabilidade pelas suas embalagens e desenvolvam sistemas de recolha que
facilitem a reutilização ou a reciclagem.
In EcoD. N. Ecodesign e design sustentável (2015) [Consultado em 2015-04-23 00:15:00] Disponível na Internet em: http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/profissionais-unem-design-e-sustentabilidade-numa#ixzz3cmyiUDSi, adaptado
MEIO AMBIENTE E LITERATURA
“A literatura, através da sua força simbólica, revela a visão do mundo do homem em cada época. (...)
Dessa forma, o autor traz à luz, através do texto, todas as situações vividas em determinadas épocas em
vários sentidos: ético, político, social, ambiental, sentimental, religioso, psicológico, mitológico, geográfico
e histórico. A criação literária, portanto, transfigura a realidade já que nela se veem refletidos todos os
enigmas bem como todos os fenómenos ligados à vida humana. (...)
Pode-se dizer que literatura e natureza caminham juntas desde que o
homem tentou traduzir o mundo de alguma forma, como se pode ver nas
escritas rupestres. Observando a mitologia, vê-se que sempre houve uma
tentativa de explicar o universo e todos os
seus fenómenos. Assim, o meio ambiente,
que ora parece tão distante da arte literária,
na verdade, sempre a acompanhou e
alimentou servindo de inspiração os seus
criadores. (...)
A natureza sempre fez parte da
literatura, porém nem sempre foi abordada
sob uma mesma perspetiva, ou seja, a forma de concebê-la no período
medieval não tem o mesmo interesse da clássico-renascentista, assim
como o olhar romântico sobre a natureza não é o mesmo que hoje se
tem sobre o meio ambiente. (...)
Locais onde a natureza, considerada como processo em que as transformações induzidas pela ação
humana tiveram, em princípio, pouca relevância, vão sendo transformados pelo trabalho humano,
deixando marcas sociais cujas consequências dependem da profundidade e da intensidade dos processos
desencadeados. Nesse contexto, é interessante notar como a literatura, em seu sentido mais amplo,
reflete esses estágios de transformação. Romances como os Bichos, de Miguel Torga, a Cidade e as
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Serras , de Eça de Queirós, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Os Sertões, de Euclides da Cunha e Grande
Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, As Cidades Invisíveis, de Italo
Calvino, entre muitas outras, nos seus contextos de época, são
bons exemplos dessa realidade.
A história de um povo numa determinada região vai sendo
contada pelo trabalho literário. Funciona à semelhança de uma
trama narrada através de um enredo de conquistas, de avanços e
de retrocessos no qual as transformações ambientais vão sendo
reveladas e de certa forma reconstituídas no ambiente local dessas
transformações.
É através da estética utilizada por cada autor na sua época que a
ação, muitas vezes desmesurada do homem sobre o meio
ambiente, vai sendo revelada pela literatura regional. Por isso, é
possível dizer que os componentes “naturais” e humanos,
examinados pela lente literária, são de grande importância para
compreender o sentido que o
homem quis dar ao que ele chama de “evolução”, mas que, muitas
vezes, pode se considerar como uma involução, na medida em que não
se consegue efeitos generalizáveis em termos da melhoria da
qualidade de vida dos homens. Essa realidade é particularmente
preocupante no contexto atual da globalização, em que os processos
de transformação ambiental tendem para o uso indiscriminado dos
stocks de recursos naturais ao ponto do comprometimento da própria
qualidade de existência e de sobrevivência humana. É nesse ambiente,
portanto, que a literatura se apresenta com sua força significativa, com
a sua capacidade de descodificação da complexa relação dos homens
com o seu meio. (...)
A literatura, esteticamente, mostra o
indivíduo representado pelas relações homem-natureza, ou seja, a
literatura, esteticamente, mostra o mundo e o homem, tanto na perspetiva
ecológica quanto social. A palavra ecologia nunca teve tanta importância,
em virtude do contexto vivido hoje, pela humanidade, numa ameaça
contínua de destruição do seu habitat. O vocábulo Ecologia é um termo
criado por Ernest Haeckel, a partir da palavra grega iokos (casa), para
denominar uma disciplina da área da Biologia que teria como função
estudar as relações entre as espécies animais e seu ambiente orgânico e
inorgânico. (...) O homem é um ser que vive em constante transformação
tanto na perspetiva socioeconómica como na intelectual e espiritual. Está
sempre em conflito com a sua posição no mundo, porque ao tentar
traduzir-se, sempre se depara com os paradoxos do próprio ser e a dualidade que lhe é inerente. A
literatura, ao longo das épocas reflete isso mesmo, evidenciando quão ténue é, por vezes, a fronteira que
separa o racional do irracional, o homem do bicho e vice-versa.”
In Almeida, Maria do Socorro Pereira. Literatura e meio ambiente : Vidas Secas, de Graciliano Ramos e Bichos, de Miguel
Torga numa perspetiva ecocrítica. (2008) Campina Grande. [Consultado em 2015-04-20 21:07:00] Disponível na Internet em: http://pos-graduacao.uepb.edu.br/ppgli/download/dissertacoes/Dissertacoes2008/Maria-Socorro_Dissert.pdf, adaptado
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LITERATURA E MEIO AMBIENTE
(...) O tema da consciência ambiental, nas últimas décadas, tem recebido crescente adesão não apenas
de ambientalistas, mas também de intelectuais, políticos, escritores. A atenção dada ao tema da
degradação ambiental, funcionando como alerta implícito sobre as precárias condições de vida futura no
nosso planeta demonstra que estamos perante um dos problemas mais sérios da vida contemporânea.
(...)
Governos e organizações nacionais e supranacionais, como ONU e UNESCO, têm investido
sistematicamente em pesquisas, debates e até acordos relativos ao controle do aquecimento global, à
distribuição mais equitativa dos rendimentos nos países em desenvolvimento ou na preservação de
recursos naturais. Este é, pois, um tema nuclear para questões relativas à preservação, subsistência
e sustentabilidade dos espaços habitáveis. (...) Assim sendo, a degradação ambiental, as condições
precárias de saúde, as condições de vida futura no nosso planeta, o relacionamento e a sobrevivência do
homem na Terra e, mais recentemente, a sustentabilidade são apenas alguns dos muitos problemas que
desafiam as pesquisas e as artes contemporâneas e que, de algum
modo, têm sido objeto de abordagem pela literatura. Isso explica-se,
sobretudo, pelo facto de a literatura permitir um olhar múltiplo,
mostrando-se capaz, a partir de sua perspetiva diferencial, percecionar
a complexidade das visões necessárias para se ler a diversidade e a
mutabilidade do mundo. Ela se dota-se, nesse sentido, da potência
oracular de antecipar imaginários e transformações negativas, como
degradações, desastres, guerras, dominações, hecatombes, mudanças
climáticas relevantes, que poderiam, caso ela fosse ouvida (ou lida),
ser evitadas.
Importa obviamente salientar a propriedade positiva que possui a
literatura de prever riquezas, novas formas de alimentos,
sustentabilidade, saúde, a serem potencializadas em benefício do
homem, do meio ambiente, da vida. Grande parte dos fenómenos que
regulam ou desregulam o meio ambiente são-nos muitas vezes
impercetíveis. Isso porque não nos é dado ver ou assimilar certas ocorrências
que ao fugirem de sua ordem habitual, causam-nos mal-estar ou mesmo
inquietação. (...)
Ao longo da história da humanidade, a literatura tem-se muitas vezes
mostrado, mais do que outras formas de conhecimento, capaz de
representar o irrepresentável ou o indizível. Ou seja: dota-se da potência de
traduzir aquilo que outras linguagens não são capazes de expressar. Assim
sendo, graças às virtualidades imagéticas da criação literária, torna-se-lhe
possível dar materialidade e visibilidade àqueles elementos que, doutra
forma, seriam intraduzíveis e impercetíveis a olho nu. (...) Ao abordar
questões relativas a espaço e meio ambiente, a literatura faz a integração ou
o desajustamento entre homem e natureza. De certa forma, ao preocupar-se com problemas de
preservação e sustentabilidade de nosso planeta, ela não deixa de equacionar em que medida cada um
desses elementos se vê limitado ou potencializado pelo outro.
In Aletria Fantini Scarpelli, Marli. Revista de Estudos de Literatura (2007) Literatura e Meio Ambiente. [Consultado em 2015-04-17 22:09:00] Disponível na Internet em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1396/1494, adaptado