As potencialidades da implementação de atividades práticas de caráter investigativo e...

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O estudo analisa o contributo das atividades de investigação em ciências e da interdisciplinaridade napromoção das aprendizagens dos alunos. Trata-se de uma investigação na própria prática em contexto deestágio, realizado numa escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Santarém. Utilizaram-se comotécnicas de recolha de dados a observação participante e a análise documental. Os resultados demonstraram inúmeras potencialidades da implementação de atividades práticas de caráter investigativo e interdisciplinar nas aprendizagens dos alunos. Para além disso, evidenciaram o desenvolvimento dos conhecimentos didáticos da futura professora e alterações na forma como conceptualiza os papéis em sala de aula.

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    AS POTENCIALIDADES

    DA IMPLEMENTAO DE ATIVIDADES

    PRTICAS DE CARTER

    INVESTIGATIVO E INTERDISCIPLINAR EM CINCIAS NO 1.

    CICLODiana Dias

    [email protected] Correia

    Escola Superior de Educao de [email protected]

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    ResumoO estudo analisa o contributo das atividades de in-vestigao em cincias e da interdisciplinaridade na promoo das aprendizagens dos alunos. Trata-se de uma investigao na prpria prtica em contexto de estgio, realizado numa escola do 1. Ciclo do Ensino Bsico do Concelho de Santarm. Utilizaram-se como tcnicas de recolha de dados a observao participante e a anlise documental. Os resultados demonstraram inmeras potencialidades da implementao de ativi-dades prticas de carter investigativo e interdiscipli-nar nas aprendizagens dos alunos. Para alm disso, evidenciaram o desenvolvimento dos conhecimentos didticos da futura professora e alteraes na forma como conceptualiza os papis em sala de aula.

    Palavras-chave: Atividades de investigao; ensino de cincias; interdisciplinaridade; 1. Ciclo do Ensino Bsico.

    AbstractThe study analyzes the contribution of science in-quiry and interdisciplinarity in promoting student learning. It is an investigation in own practice in the context of traineeship, held in a primary school of the municipality of Santarm. The data collection techni-ques used include participant observation and docu-ment analysis. The results showed great potential of the implementation inquiry and interdisciplinary ac-tivities in student learning. Furthermore, the results showed that the future teacher developed didactic knowledge and changed the way she conceptualizes the roles in the classroom.

    Keywords: inquiry; science teaching; interdisciplinar-ity; primary education.

    RsumLtude analyse la contribution de lenseignement des sciences par la recherche et linterdisciplinarit dans la promotion de lapprentissage des lves. Il est une enqute sur la scne de la pratique de leur contexte, tenue dans une cole du 1er cycle de lenseignement de base de la municipalit de Santarm. Ils ont t uti-liss comme lobservation des techniques de collecte de donnes sur les participants et lanalyse de docu-ments. Les rsultats ont montr un grand potentiel de la mise en uvre des travauz scientifiques exprimen-taux bas sur linvestigation et de linterdisciplinarit dans lapprentissage des lves. En outre, a montr le dveloppement de la connaissance didactique des futurs enseignants et des changements dans la faon dont conceptualise les rles dans la salle de classe.

    Mots-cls: enseignement des sciences bas sur linves-tigation; interdisciplinarit; lenseignement primaire.

    ResumenEl estudio analiza la contribucin de la educacin cientfica a travs de la investigacin y la interdisci-plinariedad en la promocin del aprendizaje de los estudiantes. Es una investigacin sobre la prctica de un futuro maestro, en una escuela primaria en el mu-nicipio de Santarm. Fueron utilizados como tcnicas de recoleccin de datos la observacin participante y anlisis de documentos. Los resultados mostraron un gran potencial de la aplicacin de actividades experi-mentales mediante la investigacin y la interdiscipli-nariedad en el aprendizaje del estudiante. Adems, mostr el desarrollo del conocimiento didctico de los futuros profesores y los cambios en la forma en que conceptualiza los roles en el aula.

    Palabras clave: actividades de investigacin; enseanza de las ciencias; interdisciplinariedad; educacion primaria.

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    1. IntroduoO ensino experimental das cincias desde os primeiros anos de escolaridade promove a interao direta e ati-va das crianas com o mundo que as rodeia, como de-fendido por Piaget (NRC, 1997), no entanto, as crianas tm que ser desafiadas a realizar mais do que simples atividades de observao, de manipulao dos objetos ou de utilizao de instrumentos. As atividades prti-cas devem ser contextualizadas de acordo com temas sociais e culturais relevantes (Martins, 2006) e envolver competncias investigativas, nomeadamente, prever, observar, medir, identificar e manipular variveis, re-conhecer padres nos dados, usar conceitos cientficos para formular hipteses, descrever, recolher, e usar lin-guagem cientfica apropriada na discusso e apresenta-o de resultados (Harlen, 1998). Uma importante vantagem da realizao de atividades de investigao em cincias no 1. Ciclo do Ensino Bsico (CEB) prende-se com o facto de estimularem a aprendiza-gem noutras reas curriculares (NRC, 1997). O que vai ao encontro daquilo que Valente (1993) considera ser uma verdadeira educao cientfica no 1. CEB, aquela que impregna todas as atividades: a leitura, a expresso arts-tica, a matemtica, a msica, a educao fsica, a educa-o cvica e moral e que no pode, como tal, ser entendi-da como um desperdcio do tempo letivo, relativamente a outras prioridades (Valente, 1993, p. 7). Considerando que um dos aspetos essenciais do 1. CEB a abordagem integrada do conhecimento (Roldo, 2001), em particular a rea de estudo do meio, este nvel de ensino assume-se como o contexto privilegiado para a concretizao da in-terdisciplinaridade, uma estratgia que Pacheco (2001) de-fende favorecer a aprendizagem dos alunos.De acordo com Correia (2014), as investigaes em cin-cia so atividades complexas, que exigem um papel re-novado do professor, como um orientador e facilitador da aprendizagem. Contudo, segundo diversos autores, tal mudana tem enfrentado alguns entraves da parte dos professores, uns porque receiam perder o controlo da sala de aula (Kim & Tan, 2011) e outros porque conside-ram que os alunos no so capazes de realizar atividades de investigao (Keys & Bryan, 2001). Os obstculos ao ensino por investigao acentuam-se no 1. CEB porque frequentemente estes professores possuem um conheci-mento dbil dos contedos (Harlen & Holroyd, 1997) e a ideia de que o ensino de cincias pouco relevante neste nvel de ensino (Abell & McDonald, 2006). A realizao de exames no 1. CEB centrados unicamente nos contedos da matemtica e da literacia tem tambm

    contribudo para reforar a ideia errada de que as cin-cias no so to importantes quanto os outros contedos e consequentemente, os professores reduzem o tempo le-tivo dedicado s cincias (Kim & Tan, 2011). O ensino por investigao em cincias no 1. CEB no retira tempo s outras reas de contedo, muito pelo contrrio, promove a interdisciplinaridade (Abell & McDonald, 2006). Assim, de acordo com Crawford (2007), necessrio criar oportuni-dades aos futuros professores de desenvolverem conheci-mentos cientficos e didticos sobre a utilizao das inves-tigaes em sala de aula, e de repensarem a forma como conceptualizam o papel do aluno e do professor. Pelas razes elencadas, o estudo aqui apresentado foi de-senvolvido em contexto de estgio e procurou analisar o contributo das atividades de investigao em cincias e da interdisciplinaridade na promoo das aprendiza-gens dos alunos. Este estudo decorre de um problema identificado em contexto de estgio, no mbito de um curso de mestrado em ensino do 1. CEB, ao qual se pro-curou dar resposta desenvolvendo um processo contnuo de anlise, avaliao e reformulao da prtica profis-sional, visando a compreenso dos modos de pensar e das dificuldades dos alunos (Ponte, 2002). A finalidade do estudo no classificar o contributo das atividades de investigao e da interdisciplinaridade na promoo das aprendizagens no 1. CEB, mas desenvolver uma anli-se reflexiva sobre a implementao destas em determi-nado contexto, a fim de compreender o modo como as crianas envolvidas no estudo se apropriaram de signi-ficados, bem como as suas dificuldades, identificando--as e refletindo sobre elas. Tendo em conta o problema enunciado, foram definidos os seguintes objetivos do estudo: produzir conhecimento sobre como planificar e implementar as atividades prticas de carter investiga-tivo e interdisciplinar de forma a superar as dificuldades encontradas; e investigar as potencialidades deste tipo de abordagem no 1. CEB.

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    2. MetodologiaOptou-se por uma investigao qualitativa que envolve uma abordagem naturalista e interpretativa (Denzin & Lincoln, 2011), na medida em que se pretendeu interpretar e explicar determinado fenmeno (Miles & Huberman, 1994, p. 23), a fonte direta dos dados o contexto natural dos alunos e o in-vestigador constitui o principal instrumento de recolha de da-dos (Bogdan & Biklen, 1994).Os participantes neste estudo so alunos de 1. CEB perten-centes a uma escola do Concelho de Santarm onde a inves-tigadora realizou o seu estgio. A turma era constituda por 26 alunos: 16 do sexo masculino e 10 do sexo feminino; com idades compreendidas entre os 9 anos e os 11 anos. Existia um aluno do sexo feminino com necessidades educativas especiais e trs que dispunham de apoio educativo, incluindo o primeiro, trs dias por semana. Privilegiaram-se tcnicas de recolha de dados de natureza qualitativa, nomeadamente a obser-vao e a anlise documental. Pela natureza do estudo recorreu-se observao participante e naturalista (Flick, 2005; Lessard-Hbert, Goyet-te & Boutin, 2005). Esta estratgia ainda com-plementada pela anlise de artefactos escritos (Lessard-Hbert et al., 2005), incluindo dirios de bordo elaborados pela futura professora e as produes dos alunos. Os instrumentos utilizados serviram as-sim dois propsitos, a avaliao das aprendizagens dos alunos e a reflexo da futura professora sobre a prpria prtica. No Quadro 1 apresentada a lista de instrumentos concebidos pela ordem com que foram aplicados no estudo.

    Quadro 1. Instrumentos de recolha de dados

    A anlise de dados seguiu o modelo proposto por Miles e Huberman (1994), que consiste em trs fases: a redu-o de dados, representao e organizao de dados, e a interpretao dos dados. Considerou-se como ponto de partida a anlise do grau de abertura das atividades implementadas, tendo por base as ideias de Lock (1990) (Quadro 2). As atividades do tipo 1 e 2 so atividades de demonstrao e de verificao so atividades centradas no professor. A partir do tipo 3 as atividades podem ser consideradas de natureza investigativa, no entanto, a atividade do tipo 5 distingue-se pelo papel mais ativo do aluno. Para o autor apenas as atividades em que o aluno responsvel por todos os elementos ou quase todos, ex-ceto a rea de interesse, se podem considerar verdadei-ras investigaes (tipo 6 e 7).

    Quadro 2. Classificao das atividades prticas (adaptado de Lock, 1990)

    Em seguida, realizou-se a anlise do carter interdisci-plinar das atividades propostas, de acordo com o quadro

    terico definido. Por ltimo, procedeu-se anlise das respostas dos alunos nas diversas tarefas realizadas, no mbito de trs temti-cas, e confrontou-se com as evidncias reco-lhidas durante a observao.

    Temas InsTrumenTos

    Aspetos Fsicos do Meio Local (Ciclo

    da gua)

    Notcia: Inundao em SantarmGuio da Atividade PrticaFicha de Problemas MatemticosNotcias produzidas pelos alunosFicha de autoavaliaoLista de verificao

    Eletricidade (Circuitos eltricos)

    Ficha de Problemas Matemticos (inicial)Guio da Atividade PrticaNotcias produzidas pelos alunosFicha de Problemas Matemticos (final)Ficha de autoavaliaoLista de verificao

    Comportamento da luz

    Guio da Atividade Prtica 1Guio da Atividade Prtica 2Guio da Atividade Prtica 3Ficha de Problemas MatemticosFicha de autoavaliaoLista de verificao

    Elementos Envolvidos no Trabalho Prtico

    Tipos de atividades em funo do controlo do professor (P)/ alunos (A) sobre os elementos envolvidos

    1 2 3 4 5 6 7rea de interesse P P P P P P A

    Definio do Problema P P P P P A APlanificao P P A A A A A

    Determinao da estratgia P P P A A A ARealizao Experimental P/A A A A A A A

    Recolha de Dados P A A A A A AAvaliao/

    Interpretao dos Resultados P P P P A A A

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    2.1 Descrio e contexto de implementao das atividadesAs atividades implementadas tinham como inteno dar resposta a uma questo-problema e foram estrutu-radas de acordo com o modelo proposto por Martins et al. (2006) para o trabalho prtico investigativo, que en-volve os seguintes passos: seleo de um domnio para definio de um problema para estudo; clarificao da questo-problema; planificao dos procedimentos; execuo da experincia; registo de dados e obteno dos resultados; concluso (resposta questo e identificao dos limites da sua validade); elaborao de novas ques-tes; comunicao dos resultados e da concluso. No que respeita escolha dos temas a desenvolver nas atividades de investigao, teve-se em considerao dois critrios: procurou-se selecionar contedos que constas-sem no plano curricular de turma e que ainda no tinham sido abordados, e tambm articul-los com o contexto das crianas. O quadro 3 apresenta os temas e objetivos das ati-vidades construdas pela futura professora.

    Quadro 3. Atividades prtico-investigativas implementadas

    Uma vez que o estudo se apresenta como investigao na ao, as estratgias referentes estruturao das ati-vidades no foram estanques, sendo adaptadas medi-

    da que era concretizada a reflexo sobre as experincias vividas ao longo das vrias atividades. A primeira ativi-dade foi proposta para um dia, devido s restantes ati-vidades que foram marcadas para essa semana, de fim do 1. Perodo. Constatou-se, entretanto, que tal opo no foi a melhor, e que houve inmeros aspetos que de-veriam ser melhorados. Estes, por sua vez, foram tidos em conta na segunda atividade, que foi desenvolvida ao longo de uma semana. Embora o perodo de estgio j tivesse terminado, a futura professora implementou, ainda, outras trs atividades de investigao. Mas para no comprometer o percurso normal das aulas, estrutu-rou a turma de forma diferente e conseguiu desenvolver num nico dia as trs atividades. Estas ltimas ativida-des foram realizadas de forma alternada, por exemplo, enquanto uns realizavam a atividade da propagao da luz, outros realizavam a atividade dos objetos no escuro e, outros, a atividade sobre os materiais que se deixam, ou no, atravessar pela luz.Nas primeiras duas atividades, constatou-se que na par-

    te do procedimento os alunos tiveram dificuldade a identi-ficar todos os passos, repetin-do-se ou at mesmo faltando algumas ideias-chave. Ento optou-se nas ltimas ativida-des por apresentar afirmaes desordenadas para os alunos organizarem e assim estrutura-rem o seu pensamento face ao procedimento a implementar.Na primeira atividade parti-ciparam todos os alunos da turma, na segunda atividade participaram 25 alunos e nas ltimas atividades participa-ram apenas 23 alunos. No que respeita estruturao das equipas, procurou-se consti-tuir grupos heterogneos e com o mximo de cinco elementos, para que todos pudessem par-ticipar ativamente nas ativida-des. Esta opo estratgica ado-tada foi sempre semelhante, no se identificando motivos

    para alterar, exceto no ltimo tema, em que, para que todos pudessem realizar todas as atividades, reparti-ram-se os elementos da turma por trs grupos.

    Temas Atividades ObjetivosAspetos Fsicos do Meio Local (Ciclo da gua)

    De onde vem e para onde vai a gua da chuva?

    reconhecer e observar fenmenos de condensao, solidificao, precipitao;

    realizar experincias que representem fenmenos de evaporao, condensao, solidificao, precipitao;

    compreender que a gua das chuvas se infiltra no solo, dando origem a lenis de gua;

    reconhecer nascentes e recursos de gua.

    Eletricidade (Circuitos eltricos)

    Por que razo se apagou

    mais do que uma lmpada

    do Pinheiro de Natal do Salvador?

    realizar experincias com a eletricidade; produzir eletricidade por frico entre objetos;

    realizar experincias simples com pilhas, lmpadas, fios e outros materiais condutores e no condutores, construir circuitos eltricos simples (alimentados por pilhas).

    Comportamento da luz

    Porque no vemos os objetos

    no escuro? realizar experincias com luz;

    Identificar fontes luminosas.Como de propaga

    a luz? verificar que a luz se propaga em

    linha reta.Ser que todos

    os materiais se deixam

    atravessar pela luz?

    observar a passagem da luz atravs de objetos transparentes;

    observar a interseo da luz pelos objetos opacos.

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    2.2 Articulao das atividades de cincias com outras reas de contedoPara as sesses procurou-se que a rea das cincias fosse a central, embora, a par disto, tivesse havido a preocu-pao de as articular com outras reas de contedo, de modo a que umas enriquecessem e fomentassem o de-senvolvimento do conhecimento e, consequentemente, a aprendizagem de outras, minimizando a fronteira que geralmente existe entre si. Tendo sido detetado que as dificuldades dos alunos se situavam sobretudo na rea do Portugus e da Matemtica, ao longo da observao de estgio e de conversas com a professora cooperante, foi decidido que seriam estas as reas prioritrias de ar-ticulao. Para o efeito, selecionaram-se contedos que favorecessem a interdisciplinaridade e que j tivessem sido abordados.Na primeira atividade, o Portugus surgiu como motor para o desenvolvimento da questo-problema, em par-ticular a tipologia textual notcia, que est prevista nas metas do 1. CEB para o 4. ano de escolaridade. Como esta tinha vindo a ser explorada, a futura professora partiu de uma notcia sobre uma inundao ocorrida no ano anterior, no distrito onde se situa a escola, para ini-ciar o tema Ciclo da gua. Esta articulao teve como propsito no s a promoo de aprendizagens, nomea-damente, aprender a identificar as principais caracte-rsticas de uma notcia, mas tambm despertar o inte-resse dos alunos com a apresentao de uma temtica que lhes prxima. No final estava, ainda, prevista a redao de uma notcia breve sobre as concluses a que chegaram com a atividade prtica, todavia, por limita-es de tempo esta tarefa no foi concretizada. No mbito da Matemtica, a articulao foi promovida criando um enunciado sobre os fenmenos que ocorrem com a gua, para trabalhar a resoluo de problemas de vrios passos, envolvendo nmeros racionais em dife-rentes representaes, trabalhando as quatro operaes e as aproximaes de nmeros racionais. A segunda atividade articulou os circuitos eltricos com a poca festiva da altura, mais propriamente o dia de Reis, dia em que geralmente se desfaz a rvore de Na-tal. A questo de investigao foi introduzida com o se-guinte enunciado: Na altura de enrolar as luzes para as arrumar na caixa, o menino pisou sem querer uma das lmpadas e reparou que embora s tivesse estragado 1 lmpada vrias outras tantas se apagaram. Contou-as e concluiu que apenas 150 lmpadas permaneceram ace-sas. A partir daqui os alunos teriam que calcular a por-o de lmpadas apagadas. No final da semana, ainda no domnio da matemtica, props-se aos alunos que re-solvessem, novamente, alguns problemas de vrios pas-

    sos, utilizando as quatro operaes e realizando aproxi-maes de nmeros racionais com uma variante: em alguns enunciados estavam implcitas algumas infor-maes que poderiam ajudar na resoluo do problema, caso os alunos tivessem compreendido os fenmenos estudados ao longo da semana e tivessem interpretado o que leram no enunciado. Em relao ao domnio da leitura e da escrita, props--se aos alunos que escrevessem um texto instrucional onde deveriam indicar os materiais que iriam utilizar e como iriam proceder para testarem as suas ideias. Por se tratar de uma tipologia textual a abordar no 4. ano, articularam-se os objetivos estabelecidos para este con-tedo com o contedo contemplado nas etapas de uma investigao, que a planificao. Posteriormente, as crianas analisaram as suas produes e construram uma notcia, segundo as indicaes dadas no guio e, com o apoio da professora, identificaram os erros orto-grficos e ao nvel do contedo da notcia. Por ltimo, dirigiram-se at sala de computadores para passarem a notcia para Word, de modo a que esta integrasse o jor-nal da semana no mbito da expresso plstica.Para a explorao do ltimo tema, O Comportamento da Luz, o trabalho prtico foi subdividido em trs ques-tes-problema, ou seja, trs investigaes. Procurou-se dar continuidade ao tema dos circuitos eltricos e man-ter o esprito investigativo criado ao longo da atividade sobre as luzes de Natal. Por limitaes de tempo, nes-tas atividades a articulao com a rea do Portugus foi reduzida, contudo, manteve-se o trabalho no domnio da oralidade, e da leitura e escrita, nomeadamente aquando da: discusso e levantamento das principais ideias dos alunos sobre a questo-problema; colocao de hipteses para dar resposta questo-problema; pla-neamento dos procedimentos; registo dos resultados; elaborao e comunicao das concluses. Quanto rea da Matemtica, novamente foi proposto aos alunos a realizao de uma ficha de trabalho sobre problemas com nmeros fracionrios no negativos, cujo contedo estava relacionado com os contedos de cincias abordados nestas atividades de investigao.

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    3. Resultados e Discusso3.1 Grau de abertura das atividades prticasO quadro 4 sintetiza a anlise efetuada s atividades concebidas e implementadas pela professora estagiria e que permitiu classifica-las quanto ao grau de abertura, de acordo com Lock (1990).

    Quadro 4. Caracterizao do grau de abertura das atividades implementadas

    Na primeira atividade prtica implementada a professora controlou a maioria das tarefas conferindo pouco espao para que os alunos pudessem intervir ativamente, fican-do-lhes apenas reservada a recolha de dados e a interpreta-o dos resultados. Seria exagerado classificar a atividade como sendo uma demonstrao prtica, pois os alunos participaram em mais tarefas do que os definidos por Lock (1990), por isso, atribuiu-se a classificao de verificao prtica. J na segunda atividade, os alunos desempenha-ram um papel mais ativo, considerando-se por isso uma atividade de carter investigativo, pois estes assumiram a responsabilidade de quase todas as tarefas, exceo da definio da rea de interesse e do problema. As trs ativi-dades realizadas sobre o tema da luz foram exploradas no mesmo dia, em simultneo, rodando pelos grupos medi-da que iam terminando as tarefas. Tambm estas ativida-

    des apresentam um grau de abertura superior e, como tal, considerou-se que apresentam um carter investigativo.

    3.2 Carter interdisciplinar das atividades prticasNa primeira atividade, a tipologia textual escolhida foi a notcia porque era familiar turma e o local tratado era o mesmo onde as crianas viviam, o que lhes des-pertou desde logo muito interesse sobre o tema. No que respeita articulao entre as reas de contedo, pode--se afirmar que a notcia possibilitou a abordagem do

    ciclo da gua. Ao nvel dos contedos, as carac-tersticas da estrutura da notcia no se rela-cionaram diretamente com o ciclo da gua, mas estavam implcitos alguns conceitos, como precipitao, infiltra-o e evaporao. Na segunda atividade, o enredo criado sobre as luzes de Natal permitiu que os alunos se interes-sassem facilmente pelo tema. No se pode afir-mar que houve juno entre os contedos da Matemtica e do Estudo do Meio, mas sim que houve articulao entre

    as disciplinas quanto forma como as atividades foram apresentadas. No final, houve, sim, articulao entre con-tedos, pois foi necessrio que os alunos se apropriassem das aprendizagens adquiridas para interpretar e resolver os problemas matemticos propostos, como se poder ver no seguinte excerto das produes dos alunos.

    Elementos Envolvidos no

    Trabalho Prtico

    Tipos de atividades em funo do controlo do professor (P)/ alunos (A) sobre os elementos envolvidos

    De onde vem e para onde

    vai a gua da Chuva?

    Por que razo se apagou

    mais do que uma lmpada

    do Pinheiro de Natal do

    Salvador?

    Porque no vemos os

    objetos no escuro?

    Como de propaga a

    luz?

    Ser que todos os

    materiais se deixam atravessar pela luz?

    rea de interesse P P P P PDefinio do

    Problema P P P P PPlanificao P A A A A

    Determinao da estratgia P/A A P/A A ARealizao

    Experimental P A A A ARecolha de Dados A A A A A

    Avaliao/Interpretao dos

    ResultadosP/A A A A A

    Caracterizao das atividades 2/3 5 4/5 5 5

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    Figura 1.Resposta de um aluno a um problema matemtico apresentado no guio da segunda atividade.

    Ainda em relao articulao realizada com o contexto vivido pelos alunos, esta tambm se revelou na conversa sobre o que uma investigao, apresentando, os alu-nos, ideias sobre o que investigar, como se investiga, o que pode acontecer numa investigao, ao comparar a investigao que estavam prestes a realizar com as in-vestigaes policiais, dando exemplos de sries televisi-vas, o que permitiu desbloquear receios e dvidas relati-vas ao ato de investigar.A rea do Portugus foi envolvida na atividade sobretudo atravs da oralidade, com o levantamento das ideias dos alunos sobre o que teria acontecido s luzes de Natal do pinheiro do Salvador e da discusso sobre as concluses a que chegaram. Aqui tambm se pode afirmar que hou-ve intercmbio entre os contedos, porque os objetivos propostos para a oralidade fundiram-se com alguns dos objetivos das atividades prticas de cincias as previ-ses. de realar ainda que a articulao com a rea das expresses, inicialmente prevista, no foi possvel con-cretizar devido a constrangimentos de tempo. possvel afirmar, contudo, que o carter interdisciplinar decresceu, nas ltimas atividades, em comparao com as anteriores, devido ao pouco tempo e ao nmero de ativida-des. Por exemplo, ao contrrio das primeiras estas ativida-des no envolveram a construo e/ou anlise de notcias.

    3.3 Aprendizagens desenvolvidas pelos alunos Relativamente primeira atividade, a maior parte dos alunos possua algumas concees sobre o tema que no tero sofrido alteraes expressivas, pois no se ve-rificou uma evoluo significativa das previses para a resposta questo-problema. Aps a anlise das respos-tas dadas s questes do guio verificou-se que todos se

    aperceberam que para alm dos fenme-nos da evaporao e da precipitao outros esto associados, embora a maioria no tivesse compreendido inteiramente de que modo esta relao se estabelecia. Esta situao poder estar relacionada com as dificuldades demonstradas pelos alunos a compreender o mecanismo de formao das nuvens. Com a colocao de gelo em cima da maquete (como forma de provocar a condensao do vapor de gua no interior da maquete), os alunos associaram a for-mao das nuvens apenas evaporao e no entenderam que o fenmeno da con-densao estava relacionado com o facto de as nuvens serem formadas por micro-got-

    culas de gua. Apesar de terem visualizado as gotculas de gua, no as associaram s nuvens e, sim, precipi-tao, como evidenciam as respostas no guio da ativi-dade. A explicao terica apressada da professora sobre a formao das nuvens e a abordagem pouco refletida com e pelos alunos sobre os fenmenos atmosfricos, devido ao pouco tempo disponibilizado para a atividade, fez com que, no final, houvesse muitos alunos a respon-der de forma incompleta e insatisfatria questo-pro-blema. Outro aspeto que poder ter contribudo para tal foi o facto da estagiria, devido s atividades de Natal da escola, ter optado por preparar sozinha a maquete, para que desse tempo de todos os alunos realizarem as observaes, impossibilitando-os, por isso, de participa-rem ativamente e alterando o carcter investigativo da atividade, previsto inicialmente. Os problemas matemticos propostos revelaram-se de-masiado complexos para o grupo de crianas, que na generalidade no os conseguiu resolver corretamente. Esta situao demonstra claramente a dificuldade da futura professora, ainda numa fase inicial do perodo de estgio, na aferio do nvel de apropriao dos conte-dos dos seus alunos.Na segunda atividade verificou-se que nenhum aluno conseguiu responder acertadamente questo-proble-ma antes da experimentao, no entanto, obtiveram-se respostas diversificadas e bastante bem fundamenta-das. Bem ao contrrio do sucedido durante a primeira atividade de investigao, em que os alunos tenderam a apropriar-se das ideias dos colegas, pois tinham medo de errar as respostas, estas respostas refletiam aquilo cada aluno pensava sobre o tema. Revelaram, ainda, que a conversa inicial com os alunos sobre o que investigar foi produtiva e que compreenderam que o mais impor-tante no era que acertassem as respostas mas que de-

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    senvolvessem a sua investigao. A professora-estagi-ria assumiu o papel de moderadora, fomentando vrios momentos de conversa em grande grupo, para que todos tivessem noo das ideias que iam surgindo e houvesse oportunidade para partilhar ideias, hipteses e conclu-ses e, assim, evoluir. No geral, os alunos entenderam a noo de circuito aberto e circuito fechado. Ao mesmo tempo que exploraram outras noes, como por exem-plo materiais bons e maus condutores eltricos.Em relao ao texto instrucional produzido pelos alu-nos, os resultados foram muito diversificados: dois alu-nos esqueceram-se de listar os materiais e outros dois no mencionaram todos; quinze alunos no escreveram as suas previses, mas ilustraram o que esperavam que acontecesse e os restantes escreveram e ilustraram. Trs crianas denominaram o procedimento de modo de pre-parao e uma referiu-se a ingredientes, demonstrando aqui a associao a receitas. Foi compreensvel, por um lado, esta tendncia, porque no momento da atividade, como ainda no se tinha explorado bem esta tipologia textual, exps-se uma receita no quadro, como exemplo de um texto com instrues, embora se tivesse referido que no era para se basearem literalmente na sua estru-tura, porque algumas caractersticas no eram iguais. Interessante, no que respeita tipologia textual pedida, ter-se verificado que alguns alunos no conseguiram distanciar-se das caractersticas do texto narrativo, o que poder indicar um excessivo uso deste tipo de texto nas aulas. Estes resultados vo ao encontro dos consta-tados no domnio da Matemtica na atividade anterior, identificando-se novamente a falta de antecipao das dificuldades dos alunos relativamente a contedos ain-da pouco explorados.A maioria dos alunos planeou a realizao de um circui-to em srie. Esta associao era, realmente, a esperada. No entanto, outros planearam um circuito mais com-plexo, em paralelo, talvez pelo facto de a professora-es-tagiria ter fornecido materiais a mais. Nesta situao, o papel de moderador foi crucial pois no caso desta mi-noria que idealizou logo um circuito em paralelo, e nos outros casos, a estagiria teve de questionar os alunos e desafi-los a encontrar outros tipos de circuito, at che-garem aos circuitos em srie. Os alunos tiveram alguma dificuldade em chegar a outro circuito, no entanto, ob-servou-se que mesmo perante as dvidas e os obstculos encontrados, porque estavam envolvidos e a sua equipa trabalhou devidamente no desistiram de encontrar uma soluo, verificando-se a partilha de ideias, a boa disposio e a cumplicidade entre todos.Em relao resoluo dos problemas matemticos, a maioria dos alunos conseguiu envolver-se. Esta tarefa

    foi desenvolvida de diversas formas: primeiramente foi realizada individualmente e, depois, discutida entre a turma, mas no de uma forma montona e expositiva. As crianas demonstraram estar atentas, motivadas, envolvidas, mesmo aquelas com mais dvidas. As res-postas dadas, por exemplo, nas tarefas para apresen-tarem as lmpadas acesas e/ou apagadas utilizando fraes equivalentes permitiram concluir que os alunos no esperaram uns pelos outros para verificar se as suas respostas estavam corretas. Arriscaram e, na sua maio-ria, acertaram um exerccio onde, muitas vezes, at en-to, apresentavam insegurana.Finalmente, quanto s notcias elaboradas em grupo, o seu resultado foi bastante bom: os alunos aplicaram os conhecimentos adquiridos sobre este gnero textual, nomeadamente a sua estrutura, e no contedo da mes-ma demonstraram ter entendido a diferena entre cir-cuito em srie e circuito em paralelo, bem como as suas vantagens e desvantagens, refletidas, anteriormente, em grande grupo. Para alm disso, desenvolveram eta-pas como: planificao do texto, correo e reformula-o do mesmo. Todas as notcias foram corrigidas ao p das crianas de cada equipa pela professora-estagiria, que as interpelou sempre que havia algo a melhorar, le-vando, desta forma, muitos grupos a melhorar as suas notcias, sem lhes dizer explicitamente o que melhorar.Durante a realizao da primeira investigao, subor-dinada ao tema da Luz, constatou-se na fase de previ-ses que a maioria dos alunos associou corretamente que o motivo de no ver os objetos no escuro se prendia com a ausncia de luz. Em relao ao procedimento, somente dois alunos erraram a ordenao das afirma-es, o que demonstra que a alterao metodolgica realizada ao nvel dos procedimentos no guio desta atividade contribuiu para uma maior taxa de sucesso nesta tarefa investigativa. No registo das observaes no houve uma grande discrepncia, a no ser numa das situaes observadas, onde quatro alunos regista-ram que viram o objeto e dezoito registaram que no viram. No fim da investigao permaneceu a ideia que os objetos no se veem no escuro pela falta ou au-sncia de luz. Apenas trs alunos incluram nas suas respostas os conceitos luminoso, no luminoso e iluminado, mas quase todos associaram as respos-tas s palavras-chave corretamente.Na segunda investigao, as representaes elaboradas pelos alunos nas previses revelaram que as suas ideias no variaram muito, isto , todas as representaes demonstraram que a luz se propaga em linha reta. No final da atividade, as respostas questo-problema de alguns alunos demonstraram algumas disparidades em

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    comparao com as respostas iniciais. Com efeito, dois alunos no responderam, um deu uma resposta sem sentido, A luz propaga-se lentamente!, e dois respon-deram que a luz propaga-se a todos os lados. No fica, por isso, claro se os alunos mantiveram as suas ideias, ainda que tivessem elaborado uma representao inicial correta, ou se compreenderam a questo-problema que lhes foi apresentada. Finalmente, na ltima investigao realizada regista-ram-se, tambm, muitas respostas iniciais distintas e incompletas. Quanto ao procedimento, elevou-se o nvel de dificuldade ao ser proposta a elaborao de um texto e, mais uma vez, se verificaram respostas incompletas. Na resposta final questo-problema, a maioria dos alunos deu uma resposta idntica inicial, dois alunos deram uma resposta final melhorada e trs alunos deram uma resposta mais incompleta que a inicial. Estes resultados evidenciam que os alunos j dominavam estes contedos, antes mesmo da experimentao. No final do dia, os alu-nos responderam s perguntas de uma ficha de exerccios e a anlise das respostas permite concluir que a maioria compreendeu as ideias principais abordadas. Na resoluo de problemas matemticos, no geral, re-gistou-se uma melhoria na autonomia e na qualidade das respostas. Todavia, numa das questes todos erra-ram e uma minoria dos alunos, ou no respondeu a al-gumas perguntas ou respondeu de forma inconclusiva.Em sntese, a segunda atividade foi a mais marcante, do ponto de vista investigativo, porque os alunos tiveram a oportunidade de a desenvolver com calma ao longo de uma semana, e tambm ao nvel da interdisciplinarida-de, pois foi possvel fazer uma maior articulao entre reas, o que se refletiu positivamente nas aprendiza-gens desenvolvidas pelos alunos. A terceira atividade, apesar de ter sido desenvolvida num s dia como a pri-meira, foi bem-sucedida dada a maior familiarizao dos alunos com o processo investigativo e pelo facto de j terem ultrapassado o receio inicial de errar.

    Consideraes FinaisO Estudo do Meio est na interseo de todas as reas do programa do 1. CEB, como tal, propicia a articulao com outras reas curriculares, como o Portugus e a Ma-temtica, em que os alunos sentem mais dificuldades de aprendizagem. As atividades prticas de cincias per-mitem, assim, com uma contextualizao bem funda-mentada e articulada com os interesses e contextos das crianas, fomentar o seu envolvimento durante as ati-vidades e a aprendizagem dos contedos. Os resultados reforam esta ideia ao apontarem, de uma forma geral, para uma melhoria no preenchimento e uso correto dos guies de registo das atividades prticas, na realizao das tarefas que compreendem uma investigao, e na aprendizagem e consolidao dos contedos. Todavia, a realizao de atividades de cariz investigativo afigu-ra-se com uma abordagem desafiante para o professor, em particular quando ainda se encontra em processo de formao, e envolve tarefas de maior complexidade para os alunos. Importa, por isso, refletir sobre alguns fatores que determinam o seu sucesso e permitiram futura professora evoluir nos seus conhecimentos sobre como planificar atividades prticas de cariz investigati-vo e interdisciplinar. Por exemplo, a necessidade de afe-rir o nvel de preparao dos alunos, de forma a adequar corretamente a complexidade das tarefas propostas. A definio do grau de abertura das atividades, tendo em conta o tempo disponvel e a organizao curricular das diferentes reas de contedos constitui tambm um ele-mento essencial para a maximizar as potencialidades da interdisciplinaridade e contrariar a ideia que prevalece nos professores que as atividades de investigao em cincias retiram tempo a outras reas de contedo.

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