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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X AS ÁRBITRAS DE FUTEBOL, O CORPO E A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ineildes Calheiro 1 Resumo: O presente trabalho tem como objetivo compreender como as mulheres que exercem o ofício de árbitras de futebol encaram as imposições de gênero e as influências da Educação Física, e remodelam seus corpos diante da imposição de regras de papéis sexuais diferenciados hierarquicamente. Na arbitragem, deparamo-nos com dois períodos distintos em relação à absorção das mulheres: 1) inserção e 2) vetos/exclusão. No primeiro momento houve um ingresso significativo de mulheres, enquanto no segundo assistimos paulatinamente o decréscimo da absorção destas mulheres. Sem considerar as imposições de gênero e a história da Educação física que apontam influências nas diferenças físicas entre os sexos, no campo futebolístico se requer a igualdade física para oportunizar as mulheres árbitras resultando em prejuízo ao sexo, conforme constata-se nos documentos de arbitragem analisados e, ao cotejarmos os depoimentos das árbitras vislumbramos como as mulheres deste seguimento vivenciam seu corpo e burlam as normas de gênero, além de refletirmos sobre as exclusões. Esse estudo pauta-se em resultados de pesquisa de mestrado. Palavras-chave: Árbitras de futebol. Gênero. Educação física. Corpo. Divisão sexual. No futebol brasileiro é inegável o crescimento da participação das mulheres como jogadoras, árbitras, torcedoras e, ainda que em números insignificantes e pouco oportunizadas há mulheres técnicas. As experiências esportivas do sexo também podem ser vistas como uma atuação feminista, como uma forma de reivindicar novos direitos (ALTMANN, 2015). Analisando o setor da arbitragem, percebe-se uma normatização se constituindo pela via do corpo físico ao notarmos que as avaliações físicas regulamentadas pela Fédération Internacionale de Football Association FIFA e utilizadas pela CBF Confederação Brasileira de Futebol tem resultado em prejuízos para as mulheres. Desta maneira, discutiremos sobre o enfrentamento das árbitras de futebol para exercer este ofício de forma equânime com o sexo oposto. Metodologicamente analisaremos documentos de arbitragem e cotejaremos depoimentos de árbitras (entrevistas realiza pela autora via pesquisa de mestrado), sobretudo para compreender como elas construíram os seus corpos modelados para estas práticas e borraram as imposições de gênero e, no entanto, para refletirmos também sobre as influências da Educação Física escolar relacionando com a construção social dos corpos. Além disso, insiro relato pessoal, com a pesquisadora dentro: Ex-atleta, professora de Educação física e com experiência de mais de 15 anos no campo de arbitragem, na função de assistente, tendo o próprio corpo e a experiência como elementos no fazer pesquisa, realizando, através de pesquisas, denúncias das violências de gênero no esporte. Com passagem pela Federação Baiana de Futebol e CBF, olhando e acompanhando de 1 Bolsista Financiada pela CAPES. Doutoranda do DMMDC - Programa Multi-institucional e multidisciplinar em Difusão do Conhecimento, em Rede, locado na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Ma. em Crítica Cultural. Licenciada em Educação Física. Ex-árbitra de futebol (FBF/CBF). Salvador-Ba/Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

AS ÁRBITRAS DE FUTEBOL, O CORPO E A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Ineildes Calheiro1

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo compreender como as mulheres que exercem o ofício de árbitras de

futebol encaram as imposições de gênero e as influências da Educação Física, e remodelam seus corpos diante da

imposição de regras de papéis sexuais diferenciados hierarquicamente. Na arbitragem, deparamo-nos com dois períodos

distintos em relação à absorção das mulheres: 1) inserção e 2) vetos/exclusão. No primeiro momento houve um ingresso

significativo de mulheres, enquanto no segundo assistimos paulatinamente o decréscimo da absorção destas mulheres.

Sem considerar as imposições de gênero e a história da Educação física que apontam influências nas diferenças físicas

entre os sexos, no campo futebolístico se requer a igualdade física para oportunizar as mulheres árbitras resultando em

prejuízo ao sexo, conforme constata-se nos documentos de arbitragem analisados e, ao cotejarmos os depoimentos das

árbitras vislumbramos como as mulheres deste seguimento vivenciam seu corpo e burlam as normas de gênero, além de

refletirmos sobre as exclusões. Esse estudo pauta-se em resultados de pesquisa de mestrado.

Palavras-chave: Árbitras de futebol. Gênero. Educação física. Corpo. Divisão sexual.

No futebol brasileiro é inegável o crescimento da participação das mulheres como jogadoras,

árbitras, torcedoras e, ainda que em números insignificantes e pouco oportunizadas há mulheres

técnicas. As experiências esportivas do sexo também podem ser vistas como uma atuação feminista,

como uma forma de reivindicar novos direitos (ALTMANN, 2015).

Analisando o setor da arbitragem, percebe-se uma normatização se constituindo pela via do

corpo físico ao notarmos que as avaliações físicas regulamentadas pela Fédération Internacionale de

Football Association – FIFA e utilizadas pela CBF – Confederação Brasileira de Futebol tem

resultado em prejuízos para as mulheres. Desta maneira, discutiremos sobre o enfrentamento das

árbitras de futebol para exercer este ofício de forma equânime com o sexo oposto.

Metodologicamente analisaremos documentos de arbitragem e cotejaremos depoimentos de

árbitras (entrevistas realiza pela autora via pesquisa de mestrado), sobretudo para compreender

como elas construíram os seus corpos modelados para estas práticas e borraram as imposições de

gênero e, no entanto, para refletirmos também sobre as influências da Educação Física escolar

relacionando com a construção social dos corpos. Além disso, insiro relato pessoal, com a

pesquisadora dentro: Ex-atleta, professora de Educação física e com experiência de mais de 15 anos

no campo de arbitragem, na função de assistente, tendo o próprio corpo e a experiência como

elementos no fazer pesquisa, realizando, através de pesquisas, denúncias das violências de gênero

no esporte. Com passagem pela Federação Baiana de Futebol e CBF, olhando e acompanhando de

1 Bolsista Financiada pela CAPES. Doutoranda do DMMDC - Programa Multi-institucional e multidisciplinar em

Difusão do Conhecimento, em Rede, locado na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Ma. em Crítica Cultural.

Licenciada em Educação Física. Ex-árbitra de futebol (FBF/CBF). Salvador-Ba/Brasil.

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perto e de dentro o progresso dos homens e uma precária inserção feminina, sem consolidação,

ocorrendo retrocesso de gênero nos esportes.

Esse estudo é fruto da dissertação de mestrado intitulada “As mulheres árbitras de futebol:

um estudo sobre tecnologias de gênero e perspectivas da divisão sexual do trabalho”, defendida em

2016, UNEB - Universidade Estadual da Bahia, de autoria de quem vos escreve.

Breve histórico da inserção feminina nos esportes e a influência da Educação Física

O fenômeno do higienismo, discursos médicos e sua consolidação científica (FOUCAULT,

1999), no Brasil, influenciou a Educação Física (MATTOS, 2010; CASTELANI FILHO, 2004) e

no desenvolvimento de ações que fortaleceu a segregação dos sexos e contribuíram na naturalização

dos binarismos sexuais (SILVA; FONTOURA, 2011; GOELLNER, 2003.).

Apesar das proibições que ocorreram para as mulheres nos esportes (LESSA, 2005, p. 165),

também se deram os avanços de gênero: a inserção das mulheres nas práticas desportivas; a quebra

de tabus e as resistências. E, a partir da década de 70, as lutas feministas. Nota-se outro importante

fator destacado: “a fragilidade física caiu por terra quando a explosão das academias e dos

exercícios resistidos (musculação) entrou na ordem do dia [...]”. (p. 167).

Sobre a participação das mulheres nos esportes “[...] na primeira edição dos jogos Olímpicos

em 1896, em Atenas, na Grécia, as mulheres não participaram, segundo as ideias e os preceitos do

Barão Pierre de Coubertin, para quem as mulheres não teriam capacidade física para suportar as

provas” (LESSA; VOTRE, 2013, p. 266). E particularmente no Brasil, também ocorreram leis

proibitivas para as mulheres nos esportes. Aqui foi iniciada em 1941 e, entrou no “segundo tempo”

jogando com força. Com estratégias perversas, em 1964, com a ditadura militar, “dando início aos

anos de chumbo [...] o apito que ditou as novas regras sentenciou definitivamente: mulheres no

futebol, não!” (CEVA, 2014, p 21). A autora alerta que o futebol é dominado pelos homens.

Patrícia Lessa (2005, p, 165) nos mostra como foi sendo quebradas as normas contra o sexo

no país, proibição instituída pelo decreto de lei 3.199. Aponta que em 1965 definiram-se regras

para a participação das mulheres nos esportes, não sendo permitida a prática do futebol, e somente

revoga-se as normas em 1979. Sobre o campo da arbitragem em futebol observemos:

Exclusivamente sobre a função de árbitra de futebol, Antônia Ceva (2014, p. 22) afirma que

a mineira Lea Campos abriu o campo sendo a primeira, surgindo em 1970 e reconhecida pela FIFA.

Reis e Arruda (2011) tornam visível a crescente busca de mulheres na arbitragem, porém, salientam

que, quando inclusas, poucas conseguem atingir o patamar mais elevado nessa profissão. Apesar

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disso, esses últimos destacam mulheres oportunizadas no comando de jogos profissionais

masculinos e, informam que as importantes oportunidades iniciaram no país no ano 2000.

Para ter noção do quantitativo de árbitros/as no Brasil, pela escassez de estudos, por não

encontrarmos documentados pelas instituições futebolísticas ao alcance público e nem fazem parte

dos órgãos do trabalho (DIESSE/OIT) incluímos a análise de documentos no estudo, selecionamos

Ofícios e relações de árbitros2, conforme Ineildes Calheiro; Suely Messeder (2016, p. 504).

Apresentamos em forma de tabela, ilustrando o quantitativo e percentuais dos árbitros/as no

Brasil, analisando o sexo e os períodos 2012 – 2014.

Tabela 1 – proporção de árbitros (nas variáveis sexo/ tempo).

Fonte: RENAF (2011/12; 2013/14) - quadro elaborado pela autora adaptado da pesquisa de mestrado3.

Constatasse uma queda de números de arbitragem no geral, apontada entre 2012 e 2014,

quando, de 524 cai para 477 o numero de oficiais de arbitragem. Porém, uma leitura de gênero

apresenta que a queda foi relevante para o sexo feminino: em 2012, o percentual apresentou 84,3%

homens, contra 15,6 % mulheres; dois anos depois, o sexo masculino aponta 86, 5% e as mulheres,

13,4%. E, comparando com os estudos de Igor Monteiro (2015), o autor aponta uma sub-

representação das árbitras brasileiras, sendo 15, 48% mulheres contra 84, 52% homens, num total

de 76 mulheres e 404 homens. Esse número igualmente foi levantado por Ludmila Mourão et al.

(2015). Essas constatações quase que se assemelham com nossos achados percentuais, constatado

2 São os documentos: Ofícios 022/CA-CBF/13; Oficio 047/CA-CBF/13 (tratam de distribuição de vagas); RENAF,

2011/12; 2013/14 (trata da Relação de árbitros da CBF). 3 Ineildes Calheiro dos Santos (2016, p.104). Dissertação: As mulheres árbitras de futebol: um estudo sobre tecnologias

de gênero e perspectivas da divisão sexual do trabalho.

Ano Mulheres Homens Total

2012

82

(15,6%)

442

(84,3%)

524

2014

64

(13,4%)

413

(86,5%)

477

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no primeiro período – em 2012, além de ambos os estudos também apontarem a desigualdade

alarmante entre os sexos.

As diferenças nos números desses estudos comparados ao nosso, e que não são grandes,

podem ser justificadas pelo período de análise. Em vista de que, em nossos achados, há um

problema de redução de mulheres a partir de 2014 (um total de 64 mulheres); neste mesmo período,

o número de árbitros total (ambos os sexos) reduziu, porém, continuando em alta o percentual de

homens em relação ás mulheres.

Conforme a dissertação de Ineildes Calheiro dos Santos (2016, p.104), uma pesquisa

extraída da internet,4 verificou uma redução gradativa de participações de mulheres árbitras no

Campeonato Brasileiro masculino a partir de 2013. O estudo não quantifica os números de árbitros

proporcionais entre os sexos, mas o número de vezes trabalhado e afirmam que, de 14 participações

femininas em 2013, cai para 5 em 2014 (foi avaliada até a 14ª rodada devido a competição estar em

andamento no período da pesquisa apontada). Por estas análises fica claro que a participação das

mulheres tem sido reduzida no campo de arbitragem, cujo sexo vem inserindo-se no início do

século.

Os documentos de arbitragem e as (novas) leis proibitivas para o sexo no esporte: inclusão

versus exclusão de gênero no futebol

Com base no ofício Circular nº 1.013 da FIFA, em 2007, entram em vigor no Brasil, novos

modelos de avaliação física na arbitragem: Muda-se a prova de cooper para a de resistência e

velocidade (de maior intensidade) sendo uma questão criticada como um padrão não compatível

com o exercício da função5, inclusive, notamos, que tem resultado em consequências para os

árbitros do sexo masculino menos jovens, sendo maior a dificuldade para alcançar êxitos nestes

exames. No caso feminino não é diferente, conforme veremos, considerando que tais medidas

ocorreram para ambos os sexos.

Houve mudança no grupo feminino existente desde a década de 1990, e chamamos de

“marco de gênero”, tanto pelo incremento de mulheres quanto pela formação do quadro nacional

feminino - RENAF-FEMININO, por dar visibilidade ao sexo nas funções de comando no futebol –

a arbitragem, embora que o objetivo fosse segregar os sexos, desvinculando o grupo de mulheres do

quadro de árbitros masculinos. (CALHEIRO; MESSEDER, 2016, p.508).

4 <http://www.superesportes.com.br/app/19,89/2014/08/17/noticia_futebol_nacional,57365/mulheres-nao-apitam-serie-

a-desde-2005.shtml>. Consultado em: 07/2015. (Ver a Dissertação citada – Ineildes Calheiro dos Santos, 2016). 5 Esse tipo de avaliação física tem sido criticada, como pode ser verificado com Cerqueira; Silva e Marins (2011).

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No que denominamos de episódios de gênero nos deparamos com dois períodos distintos em

relação à absorção das mulheres como assistentes de arbitragem ou como árbitras centrais: 1) No

inicio (ano 2007), os novos testes seguiam levando em conta a diferença física entre homens e

mulheres, isto é, respeitando as normas científicas, como ocorre com diversas áreas que requerem a

comprovação de aptidão física (como a área militar, por exemplo). E, nos resultados o número de

aprovadas para o quadro feminino foi expressivo. Apontou-se em torno de mais de 80.

2) A partir do ano seguinte, em 2008, ocorreu nova exigência. Neste caso, exclusivamente

para as mulheres, conforme consta em documento destacado no oficio circular nº 033/08 da CBF,

item 6.1: “Em consonância com a circular 1104/FIFA/15.08.07, a árbitra e a árbitra assistente, para

atuar em competições masculinas deverão alcançar os índices estabelecidos, respectivamente, para

o quadro masculino”. Trata-se se índices físicos exigidos para o sexo masculino, que são mais

intensos do que os de índices físicos femininos. Os testes passaram a ser realizados sem levar em

consideração a diferença sexual entre os/as concorrentes.

Este processo para a execução das baterias de provas físicas iguais entre os sexos foi

efetivado no Brasil, e nos resultados ocorreu o contrário ao episódio anterior: expressiva

reprovação, conseguindo êxito apenas uma assistente (nenhuma central - quem apita). Constava

como única aprovada a árbitra assistente de Rondônia Marcia Caetano. Com a ressalva de que,

anos depois, mais aprovações ocorreram para esta função menor6 - Em torno de vinte (Ineildes

Calheiro e Suely Messeder, 2016, p. 508 e 509). Estas autoras lembram as determinações da ONU.

Vale citar a Convenção da ONU (1979) – Sobre a eliminação de todas as formas de

discriminação contra a mulher, na qual consta no art. 2º “adotar todas as medidas

adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos,

usos e práticas que constituam discriminação contra a mulher” (CALHEIRO; MESSEDER,

2016, p. 512).

Além do exposto pela Organização das Nações Unidas é importante observar que os corpos

são marcados pelas diferenças, apesar de não serem naturais. Teresa de Lauretis (1994) compreende

tais diferenças como decorrência das “tecnologias de gênero” e Guacira Louro (2007) entende que

os corpos são alterados pela cultura. Nesses entendimentos os corpos sexuados são socialmente

construídos e dessas novas interpretações sobre os corpos, se apropriou o setor futebolístico para

excluir as mulheres e manter o campo androcêntrico comandado pelos homens.

Desta forma, pode-se traduzir o poder da arbitragem androcêntrica, em uma frase: “Se as

mulheres são iguais aos homens, que corram iguais a eles!”. Ou, “se os corpos sexuados são

6 Igor Monteiro (2015) evidencia a função de maior poder à de arbitro/a central. A função de assistente (bandeirinha)

sendo um cargo intermediário, representando 80,2% a função que exerce a arbitragem feminina.

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construídos, que as mulheres construam os seus conforme a exigência dos homens do poder!”.

Portanto, há um grande equivoco no entendimento dos comandantes do esporte, os quais pensam

como igualdade dois grandes fenômenos: de um lado, a igualdade física, e de outro, fazer com que

as mulheres tenham os mesmos deveres que os homens. Logo, equidade de gênero para eles, se dá

a partir do corpo dos homens7, se perpetuando as desigualdades sociais de gênero, e pior, havendo

retrocesso.

Diante das imposições de gênero que constroem os corpos sexuados diferentes, torna-se

importante saber, como, as árbitras de futebol conseguiram ultrapassar as fronteiras das relações de

gênero/sexo e invadiram esse campo, modelando seus corpos diferenciados dos padrões.

Vivências infanto-juvenis das árbitras: da construção dos corpos ás exclusões

Nesta parte compreenderemos como se deu (ou se dá) os corpos mais preparados e

desconecto do modelo de feminilidade e de fragilidade física das mulheres, relacionando com o

papel da Educação Física escolar. Apreciemos depoimentos das árbitras.8.

Brinquei muito, era a famosa moleque-macho, aquela menininha que sempre tava

no meio dos meninos. (sobre as brincadeiras ela diz) Matança, que você chama aqui de

baleô, jogar futebol, que eu jogava muito ruim, mas tinha que tá lá no meio dos meninos.

Casinha era uma coisa que eu gostava de brincar, por mais incrível que pareça. E coisas

mesmo na rua assim. Eu gostava muito de pé no chão e vamos correr, vamos subir em

árvore. Eu ficava muito na casa da minha vó e lá tinha tipo um terreno baldio na frente,

que a gente brincava muito. Tinha muitas árvores. Na adolescência, eu era rebelde sem

causas. Era o apelido que me deram. (RÔXA, 22 anos. Árbitra assistente).

Nessa época, a gente brincava muito de baleado, entendeu, jogava gude, brincava

de puxar carrinho de latinha, de latinha de sardinha [...] mas eu gostava mais de brincar

com os meninos, que os meninos aguentava porrada e eu brincava pesado, de bater

mesmo, brincava de empurrão, de tapa, de bola mesmo, sempre gostei de jogar bola. E as

meninas, às vezes, não aguentava, né? Eu brincava mais com os meninos [...]. Boneca, eu

brincava. Eu tinha, assim, algumas bonecas que eu tinha de estimação. Eu não levava

muito elas pra brincar, não, brincava mais em casa, quando eu dormia. (GUILHERMINA,

37 anos. Árbitra assistente).

7 Vale considerar que nesse esporte só há lugar para homens heterossexuais e de masculinidade hegemônica, não

cabendo, se quer, discutir sobre a participação dos homossexuais, os trans homens e outras sexualidades. As mulheres

masculinizadas que são mais frequentes nesse espaço futebolístico como jogadoras, são punidas com o não

reconhecimento na categoria profissional, sem os mesmos direitos que os homens legítimos. Pensar nesse debate torna-

se relevante para compreender onde está a infrigibilidade masculina – nos esportes masculinizados. Mas, que vem

sendo enfraquecida em diversos seguimentos com o crescimento da participação de mulheres, porém, escassa inserção

nas funções de poder: treinadoras (comissão técnica), gestoras e árbitras. 8 Esses depoimentos são decorrentes de entrevistas realizadas entre 2014 e 2015 pela autora Ineildes Calheiro, por

intermédio da pesquisa de mestrado, considerando a ética da pesquisa, defendida no ano de 2016, este estudo é parte da

macro pesquisa “Mulheres Masculinizadas” sob a coordenação da orientadora, Dra. Suely Messeder. Os nomes dados

às interlocutoras são fictícios.

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As árbitras revelam a infância brincando na rua, cujas brincadeiras eram destinadas para os

meninos, destacando como preferência brincar com este sexo. Essas vivências são quebras de

regras. Rôxa, quando revela ter sido considerada adolescente rebelde, nos conduz a refletir que a

menina rebelde é a que não concorda com as formações das feminilidades, questão que se inicia na

infância. E, no segundo depoimento (Guilhermina) a boneca lhe é estranha, parecendo ter vergonha

de brincar de boneca e quase não a expunha, ficando restrita para a hora de dormir.

As imposições de gênero começam na infância, afeta o corpo, comportamento,

subjetividade, posicionamento e o destino dos sexos. Para a autora Nigeriana, Chimamanda Adichie

(2017, p. 23-4) o mundo começa a inventar papéis de gênero desde cedo. A mesma conta-nos que

foi numa loja infantil e comprou uma roupa azul para sua filha. “A moça do caixa me disse que era

o presente ideal para um garotinho. Falei que era para uma menininha. Ela fez uma cara

horrorizada: ‘Azul para uma menina?”.

Sobre a imposição de gênero a partir dos brinquedos e brincadeiras, chama a atenção o

porquê, Rôxa (depoimento I citado) achava estranho, ela brincar de casinha, apesar de gostar. Seria,

porque, ela se acostumou, junto com os meninos, com outros tipos de brincadeiras ativas?

Sendo parte do método da pesquisa, como pesquisadora partícipe, igualmente árbitra de

futebol e pertencente ao grupo, insiro a minha experiência infantil (a autora que vos escreve),

subsidiando a compreender a questão.

__ Eu brinquei de cuidadora do lar, muito pequena. Foi uma experiência

interessante: nós, o pai e a mãe, dormíamos debaixo da cama. Nessa hora, nos beijávamos

e comecei a ver como pênis vira pica – eu o pegava, e, ele também na minha boceta, até

quando fomos flagrados pela sua mãe, que passou a me sacanear sempre que me via: “vai

casar com o meu filho, né?”. Eu morria de vergonha e fugindo dela.(Ineildes Calheiro).

Entendendo que brinquedos e brincadeiras entram no mundo real, aqui revelo como a

sexualidade é parte da relação desde a infância, muitas vezes ignorada pela família, mas que, nós,

quando crianças, descobrimos segredos dos nossos sexos brincando de casinha.

__ Mas, logo rompi com a casinha e a boneca. Esta, contrário à realidade, era de

corpo duro e olhos azuis, os quais eu ficava fitando-os e tive medo. Lancei-a no fogo do

terreno baldio ao lado de minha casa. Daí tudo mudou. Já brincava em casa com os meus

irmãos do sexo masculino, de bola, gude e arraia (pipa), me juntei com os moleques da rua

também: descia de carrinho de patinete na ladeira, ou mesmo com papelão, jogava futebol

de gozinho e, quando necessário, me atracava na briga corporal. Também batia na boceta:

“toma aqui você!”, devolvendo a mesma agressão, quando eles batiam no pênis: “aqui pra

você!”. Isso mudou quando fiquei adolescente e mudei o gesto, agora dando o dedo médio

que virou o meu pênis.(Ineildes Calheiro)

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É nítida a igualdade sexual na infância exclusivamente para as crianças, até que as

imposições de gênero passam a fazer parte das relações. O que é de menino e o de menina – a

norma. Chimamanda Adichie (2017, p. 24-5) ao observar a seção dos brinquedos, diz que era

organizada por gênero: do tipo ativo para os meninos (trens, carrinhos), e para as meninas eram do

tipo passivo, a maioria boneca. Nesse relato mostro como rompi com o gênero. Foi cedo. Ao

mesmo tempo e obrigatoriamente, rompo com a relação com os meninos na adolescência.

Adichie (2017, p.54-5) adepta do esporte, com passagem pelo futebol na infância-

adolescência, afirma que o esporte é uma porta para o empoderamento de muitas mulheres que

resistem as normas, aos padrões de gênero e tornam-se às vezes, declaradas feministas. Mas

reconhece que as meninas geralmente param de praticar esportes ao chegar á puberdade. O

desenvolvimento dos seios e a percepção de si mesma influenciam na decisão delas, conforme

expõe: “__ Eu parei de jogar futebol quando meus seios começaram a crescer, pois tudo o que eu

queria era esconder a existência deles, e correr e colidir não ajudava” (p.55).

Contudo, apesar de não ter experienciado a relação igualitária com o sexo oposto na escola,

nos esportes, a experiência com a rua e com os meninos, brincadeiras e brinquedos ativos e, às

vezes arriscados, me levaram a superar o lugar instituído para as mulheres e influenciaram nas

realizações dos meus desejos e nas escolhas profissionais, conforme podem ver no relato pessoal:

__ Na minha infância-adolescência só faltou a bicicleta, que devido à pobreza,

nunca tive por ser de família extensa e negra, a qual, não acessou mudanças de classe via

as exclusões conhecidas no país. E os meninos da minha rua também não tinham. Apesar

de romper com os meninos na adolescência, uma fase triste, com essa experiência passei a

não compreender como as meninas ficavam na rotina passiva de brincar de cuidadoras do

lar. Rompendo com os meninos e não tendo livros nem como possuí-los, passei a escrever –

mas tudo foi perdido com o tempo. A outra parte da vida era preenchida na escola, apesar

de nada de futebol para as meninas, somente muito baleado. Eu não tinha medo das

boladas fortes e aprendi a dominá-la com as mãos. Talvez, por isso, fui escolhida para ser

goleira no futebol quando atleta aproximadamente aos 19 anos; desejei a formação em

educação física e tornei-me árbitra em futebol (Ineildes Calheiro).

Neste relato mostro duas questões sociais: a classe e a raça, pois, trata-se de uma menina

negra e pobre, oriunda da periferia. Além disso, tive a vivência similar à das interlocutoras

influenciando na modelagem do corpo, no destino e nas escolhas profissionais não condizentes com

o sexo – arbitrar futebol. Assim, faz-se relevante saber a influência da Educação Física escolar na

vida das árbitras. E falando sobre essas práticas na infância/adolescência a interlocutora expressa:

Educação física ... antes, a gente tinha uma área, os professores faziam aula mais

de baleado. Na verdade, era mais baleado, tinha algumas atividades na quadra, de futebol,

mas não era bem específico igual hoje, né. Mas era isso mesmo, baleado, que eu

participava, e futebol também. (Guilhermina, 37 anos. Árbitra assistente).

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O baleado (matança), jogo destinado para as meninas é considerado uma prática tradicional

da Educação Física escolar em benefício do sexo: contribui no seu envolvimento em jogos ativos e

de competição e no desenvolvimento físico (corre, pula, salta, lança a bola com força), mas o

problema está na segregação. Priscila Dornelles (2007) aponta que ainda ocorrem aulas separadas

entre os sexos na Educação física e atenta para a questão curricular-pedagógica, entretanto, as

árbitras burlaram as normas, conforme mostra a assistente em seguida, com sua infância-

adolescência em práticas esportivas consideradas masculinizados, como os de luta e futebol.

Eu lembro que eu sempre fui muito arteira, né, nunca gostei de brincar de boneca,

essas coisas. Era brincadeira de luta... Minha família sempre esteve do meu lado, meu pai

sempre me apoiou em questão de esporte. Futsal, já andei de skate, já andei de patins,

joguei vôlei, já fui da seleção de vôlei. Já competi várias vezes, já fui campeã de Karatê.

Então, eu sempre tive muito amizade com menino, quase com menina nenhuma [...]Então,

tinha muita boneca, mas eu nunca brincava com as bonecas. Ou arrancava a cabeça das

bonecas... Mas era sempre brincar de carrinhos, bicicleta, de tranca, de bola, dessas

coisas. (CONGA, 21 anos. Árbitra assistente).

Devido à histórica segregação dos esportes, as meninas que os praticam são transgressoras

de normas de gênero, bem como as brincadeiras de menino e o apoio dos pais foi imprescindível

para que Conga se inserisse nos esportes masculinizados. Pensando em subjetividade, ela mostra

como brinquedos impostos para as meninas lhe irritavam, ao afirmar que arrancava a cabeça das

bonecas. Nesse sentido, há subversão e quebra de normas nos brinquedos e escolha dos esportes,

resultando não tão somente nas formações dos corpos, mas também, no comportamento,

subjetividade e escolha da profissão. Vale notar que muitas meninas, fora da escola, praticam

esportes masculinizados e as mesmas brincadeiras que os meninos (HELENA ALTMANN, 2015).

Porem, quando é da ordem do trabalho, na igualdade com os homens há um impacto de gênero.

Desta forma, neste estudo nota-se a influência do corpo no trabalho.

A exclusão das árbitras

A árbitra a seguir testemunha sobre as exclusões das mulheres nesta função sendo uma

questão de ordem de corpo, com o teste da força. O teste físico exigido de forma igual entre os

sexos.

Eu encerrei por causa disso. Eu não passei no teste e eles me telefonaram e

disseram, se eu não passasse no teste... Porque, assim, tudo que eu queria é que eles me

dessem mais tempo pra eu treinar. Porque eu, treinada, eu passaria. É porque eu não

conclui a questão do teste. (Nice, 47 anos. Árbitra Central).

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Nice, ex-árbitra central, muitos anos pertencente à CBF, e, em torno de vinte anos na

função, foi excluída do campo devido às diferenças físicas entre os sexos, após as exigências das

novas leis. A partir daí, pergunto se houve outras exclusões de gênero por conta da norma da

igualdade física entre os sexos, ela responde:

Sim, todas, praticamente. Com esse advento desse teste aí, o teste da FIFA, tirou

todas as mulheres que entraram [...] e as que ficaram são só assistentes e muito novas. As

assistentes mais antigas também não conseguiram (NICE, 47anos, árbitra central).

Ela se refere às árbitras centrais, cujos testes para essa função são mais intensos do que para

a função de assistente, prejudicando até mesmo os homens, pois há comprovações de homens

reprovados, e isso não implica em queda do androcentrismo (INEILDES CALHEIRO, 2016 -

Dissertação). Claramente, nota-se nestes testes uma estratégia que visa dificultar a permanência das

mulheres na arbitragem profissional, evidenciando que a exigência da igualdade física comprova

que há prejuízo ás mulheres.

Visto que algumas mulheres, ainda que em números insignificantes, igualaram os seus

corpos com os homens árbitros fisicamente treinados, apesar de que, não são oportunizadas

igualmente ao sexo oposto. Assim sendo, para a participação igualitária com os homens muda-se a

norma: nas funções de liderança, comando e poder em geral não cabem mulheres, ainda há escassez

feminina em diversos setores que não precisa correr: gestoras, treinadoras e demais funções na

comissão técnica (preparadora física, médica, treinadora de goleiro, auxiliar técnica etc.).

Entretanto é importante refletir que essas mulheres (esportistas) representam a

desnaturalização da força masculina versus fragilidade feminina como processo inato, e ao mesmo

tempo se responsabilizaram pela formação de seus corpos fortes pouco fomentando pela Educação

Física escolar. No entanto, deve-se considerar que as diferenças físicas dos corpos sexuados é uma

realidade construída, utilizada contra as mulheres no setor do trabalho esportivo, e contraditório,

mantendo-se fortemente as práticas e discursos para a ordem binária. Nesses termos não difere da

biologia, impedindo o progresso de gênero nos esportes, igualmente implicando em divisão sexual

e perpetuação da submissão feminina e superioridade masculina.

Em suma, ao notarmos que os regulamentos de arbitragem requerem a exigência física igual

entre os sexos para exercer a função de árbitra, percebemos que estamos diante de uma suposta

igualdade de gênero. Mas, quando jogamos os holofotes nos resultados, notamos a desigualdade

camuflada. Seria um retorno, ou novas leis proibitivas para as mulheres no futebol? Assim,

constata-se uma política de gênero no esporte.

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Diante do exposto, desejamos esclarecer o equivoco no entendimento da igualdade de

gênero como igualdade física: nós feministas (e também as descrições da ONU), entendemos como

igualdade entre os sexos a igualdade social, e que, se requer para as mulheres os mesmo direitos e

oportunidades que os homens. Igualdade de gênero não é sinônimo de igualdade física, mas de

igualdade social entre os sexos.

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Bottman. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

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The soccer referees, the body and the influence of physical education

Abstract: The objective of this study is to understand how women who practice football refereeing

face gender impositions and physical education influences and reshape their bodies in the face of

the rules for hierarchically differentiated sexual roles. In arbitration, we find two distinct periods in

relation to the absorption of women: 1) insertion and 2) vetoes/exclusion. In the first moment there

was a significant admission of women, while in the second we saw the decrease in the absorption of

these women. Without considering the gender impositions and the history of Physical Education

that indicate influences on the physical differences between the sexes, when physical equality with

the men is required to equally opportune the women referees results in prejudice to the sex, as it is

verified in the documents of Refereed referees and the referees' testimonies, looking at how these

women experience their body and break the gender norms, besides reflecting on the exclusions in

this field. This study is based on master's research results, analyzing documents and testimonies of

professional soccer referees.

Keywords: Soccer referees; gender; physical education; body; sex division.