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A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS-LIBRAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E SUA APROPRIAÇÃO PELO SURDO Prof. Dra. Maria da Glória Martins Messias (GAPE – DEPED Unicentro), e-mail: [email protected] Prof. Dra. Regina Célia Habib Wipieski Padilha (GAPE – DEPED Unicentro), e-mail: [email protected] Prof. Dr. Paulo Guilhermeti (GAPE – DEPED Unicentro), e- mail: [email protected] Palavras-chave: Libras, Comunicação, Surdo. Resumo: Este trabalho foi produzido a partir de um recorte analítico realizado numa investigação mais ampla intitulada “Apropriação das culturas escolares pelo surdo e os processos de mediação”, portanto neste espaço abordaremos a importância da língua brasileira de sinais – Libras no processo de comunicação e sua apropriação pelo surdo. Os resultados apresentados foram produzidos a partir de uma investigação realizada durante dois anos, de acordo com a abordagem qualitativa etnográfica. Com nossas reflexões esperamos contribuir para a inclusão social do surdo. Introdução: A História do Surdo é marcada por lutas e conquistas de espaços. O descaso e a marginalização datam do final da Idade Média. Segundo, Sacks citado por Silva, os primeiros educadores de Surdos no Ocidente surgem a partir do século XVI, e o período de maiores conquistas foi o século XVIII. Durante a trajetória histórica, várias foram as filosofias adotadas na Educação do Surdo. A filosofia Oralista que predominou até a década de 60. Em 1968, Roy Holcan dá origem ao método de Comunicação total e a partir da década de 80 a filosofia do Bilingüismo começa a ganhar força. É possível constatar historicamente que houve uma diminuição da importância dada anteriormente à “normalização do surdo”, o qual atualmente vem sendo visto “[...] como alguém com identidade e características próprias, e em alguns casos, o que é mais importante, distintas das do ouvinte”. (SACKS, apud SILVA, 2002, p. 20). Cabe ressaltar,

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A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS-LIBRAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E SUA APROPRIAÇÃO PELO SURDO

Prof. Dra. Maria da Glória Martins Messias (GAPE – DEPED Unicentro), e-mail: [email protected]

Prof. Dra. Regina Célia Habib Wipieski Padilha (GAPE – DEPED Unicentro), e-mail: [email protected]

Prof. Dr. Paulo Guilhermeti (GAPE – DEPED Unicentro), e-mail: [email protected]

Palavras-chave: Libras, Comunicação, Surdo.

Resumo:Este trabalho foi produzido a partir de um recorte analítico realizado numa investigação mais ampla intitulada “Apropriação das culturas escolares pelo surdo e os processos de mediação”, portanto neste espaço abordaremos a importância da língua brasileira de sinais – Libras no processo de comunicação e sua apropriação pelo surdo. Os resultados apresentados foram produzidos a partir de uma investigação realizada durante dois anos, de acordo com a abordagem qualitativa etnográfica. Com nossas reflexões esperamos contribuir para a inclusão social do surdo.

Introdução:A História do Surdo é marcada por lutas e conquistas de espaços. O descaso e a marginalização datam do final da Idade Média. Segundo, Sacks citado por Silva, os primeiros educadores de Surdos no Ocidente surgem a partir do século XVI, e o período de maiores conquistas foi o século XVIII. Durante a trajetória histórica, várias foram as filosofias adotadas na Educação do Surdo. A filosofia Oralista que predominou até a década de 60. Em 1968, Roy Holcan dá origem ao método de Comunicação total e a partir da década de 80 a filosofia do Bilingüismo começa a ganhar força. É possível constatar historicamente que houve uma diminuição da importância dada anteriormente à “normalização do surdo”, o qual atualmente vem sendo visto “[...] como alguém com identidade e características próprias, e em alguns casos, o que é mais importante, distintas das do ouvinte”. (SACKS, apud SILVA, 2002, p. 20). Cabe ressaltar, que não existe um consenso sobre qual das abordagens filosóficas seria a melhor. Segundo Goldfeld, “[...] a maioria dos países convive com estas diferentes visões sobre o surdo e sua educação, acreditando que a verdade única não existe e, portanto, todas as abordagens devem ter espaço”. (apud SILVA, p. 22). Para atender essa necessidade, portanto, a escola necessita de um processo de mediação, como um espaço destinado a apropriação do conhecimento historicamente construído pela humanidade, ou seja, espaço de rituais escolares, relações sociais, de poder, um espaço privilegiado, construtor da nossa “novela de formação”. (LARROSA, 1999).

Materiais e Métodos:A coleta de dados da pesquisa ocorreu de fevereiro de 2005 a novembro de 2006 na Escola São José com as turmas da manhã e da tarde, nas classes especiais de surdos, sendo 5 turmas da manhã com 21 surdos e 6 turmas com

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30 surdos desde a Educação Infantil até a 4ª Série. Observamos várias atividades relacionadas ao processo ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, da Matemática, da História, da Geografia, das Ciências e das Libras. Enfim observamos a metodologia de ensino que as professoras utilizaram e como ocorria a apropriação do conhecimento pelas crianças surdas. Além dessas atividades observamos as crianças no horário da disciplina de Recreação, procurando investigar o brincar das crianças surdas e como o mesmo ocorre. Ainda observamos o apoio pedagógico que as crianças recebem seus comportamentos no pátio, antes da aula e durante o recreio.

Resultados e discussões:A aquisição de uma língua para uma criança é de suma importância porque a partir desse momento ela passa a construir sua objetividade, poderá se comunicar com seus pares, trocar idéias, sentimentos, compreender o que ocorre no seu meio, construir uma visão de mundo. Como a maioria das crianças surdas tem pais ouvintes, não têm o processo natural de aquisição de uma língua como ocorre com as crianças ouvintes que desde a mais tenra idade recebem estímulos auditivos, assim surge a necessidade de colocar a criança surda em contato com outras crianças surdas e principalmente, ter contato com um adulto surdo fluente em Libras, que será para a criança um modelo e lhe ensinará a língua de sinais, tornando-a apta a aprender uma segunda língua, tornando-a bilíngüe. A história da educação de surdos é uma história repleta de controvérsias e descontinuidades. Como qualquer outro grupo minoritário, os surdos constituíram-se objeto de discriminação em relação à maioria ouvinte. Mas a língua de sinais persistiu e hoje podemos afirmar que é a língua oficial da comunidade surda, por ser sua língua natural, importante para o desenvolvimento cognitivo, social, cultural do surdo e acima de tudo o meio de se comunicar e exprimir os seus sentimentos, pensamentos, reafirmando e conquistando os seus direitos. Segundo Sacks (1990, p. 24) citado por Stock (2006, p. 40):

[...] ser deficiente na linguagem, para um ser humano, é uma das mais desesperadas calamidades, pois é somente através da linguagem que ingressamos plenamente em nossa condição e cultura humana, comunicamos com nossos semelhantes, adquirimos e partilhamos informações. Se não pudermos fazer isso, estaremos bizarramente incapacitados e isolados quaisquer que sejam os nossos desejos, esforços e capacidades naturais. E, na verdade, podemos ser tão pouco capazes de realizar nosso potencial intelectual a ponto de parecermos mentalmente deficientes.

Essa questão foi uma das que observamos na Escola que pesquisamos as crianças surdas que ingressaram na escola com menos idade, freqüentaram a Educação Infantil, tiveram um desenvolvimento cognitivo quase ou coerente com sua idade cronológica, enquanto que as crianças que ingressaram mais tarde na escola apresentaram uma defasagem em seu desenvolvimento cognitivo, tinham dificuldades de apropriação da Língua Portuguesa e essas dificuldades se refletiram: nos problemas e conceitos matemáticos, na aquisição de conceitos de História e Geografia dentre outras. Contudo um fator importante que é usado na Escola é o uso de Libras pelas professoras regentes de classe e por meio dessa língua muitas dificuldades paulatinamente vão sendo superadas, mas é um processo lento que requer paciência, pois

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essas crianças antes de se apropriarem dos conteúdos essenciais do currículo precisam adquirir a Libras que é o seu meio de comunicação com o mundo que a cerca. Na escola as crianças surdas, desde a Educação Infantil, têm aulas de Libras com dois professores surdos e fluentes em Libras. A sala de aula também é constituída por elementos da cultura surda, dias, mês, ano, relógio e outros elementos, todos em Libras e isso é importante para o desenvolvimento dos surdos.

Conclusões:O processo de comunicação e apropriação da Libras é essencial para o surdo porque só sendo bilíngüe poderá integrar-se na sociedade. Se o surdo só for oralizado, terá dificuldades de conversar com surdos sinalizados e não será aceito na comunidade surda. Se o surdo só souber a língua de sinais, terá muitas barreiras de comunicação tanto com os ouvintes, como no trabalho, pois sempre necessitará de um intérprete, também terá dificuldades de comunicar com surdos oralizados e terá dificuldades de entrar numa Faculdade. Sendo bilíngüe, tendo se apropriado da Língua Portuguesa na sua forma escrita e da Língua de Sinais que ocupará o lugar da Língua Portuguesa falada, assim o surdo terá dois canais de comunicação, a escrita e “as mãos que falam”, quebrará muitas barreiras de comunicação e se integrará na sociedade ouvinte, com o devido respeito em relação as suas especificidades. “Não é a surdez que define o destino das pessoas, mas o resultado do olhar da sociedade sobre a surdez” (VYGOTSKI, http://ufsm.br/ce/revista/ceesp/2005/02/a13.htm).

Referências:FELIPE, T. A. Libras em contexto: curso básico, livro do estudante cursista. Brasília: Programa Nacional de apoio à Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001.Ministério da Educação: Estratégias e orientações pedagógicas para a educação de crianças com necessidades educacionais especiais: dificuldades de comunicação e sinalização: surdez./ Secretária da Educação Especial. – Brasília: MEC; SEESP, 2002. (Educação Infantil, 7)SILVA, A. P. F. S. Bilingüismo e surdez: Guarapuava: 2002, 64 p. Monografia (Curso de Pedagogia). Departamento de educação, Universidade estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.STOCK, Irene. O universo do surdo: sucessos e fracassos. Guarapuava, 2006, (Curso de Pedagogia). Departamento de Pedagogia, Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.LARROSA, J. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Porto Alegre: Contrabando, 1998.SACKS, O. Vendo Vozes. Rio de Janeiro: Imago, 1990, apud SILVA, A. P. F. S. Bilingüismo e surdez: Guarapuava: 2002, 64 p. Monografia (Curso de Pedagogia). Departamento de educação, Universidade estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.

Referências eletrônicas:VYGOTSKY <http://www.sfsm.br/ce/revista/ceesp/2005/02/a13.htm>.