Artigo Valor - Semicondutores Mmr

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_>>> A8 | Valor | Terça-feira, 7 de janeiro de 2003 Enxerto Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 7/1/2003 (21:20) - Página 8- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Opinião Jornal econômico de circulação nacional, publicado desde 2 de maio de 2000 pela Valor Econômico S.A. Diretor de Redação: Celso Pinto Diretores Adjuntos de Redação: Carlos Eduardo Lins da Silva e Vera Brandimarte Conselho Editorial: Antonio Manuel Teixeira Mendes, Celso Pinto, Flávio Pestana, João Roberto Marinho, Luís Frias, Luiz Eduardo Vasconcelos, Merval Pereira, Otavio Frias Filho Cartas de Leitores Envie cartas para: av. Jaguaré, 1.485, CEP 05346-902 - SP - E-mail: [email protected]. As cartas e e-mails deverão conter nome, endereço e telefone. Os textos poderão ser editados por limitação de espaço. Autonomia controlada para o Banco Central A A idéia de impor limites para o Banco Central gerar despesas fiscais que pesam no resultado das contas públicas é um importante passo adiante no aperfeiçoamento das políticas públicas. Ela retira do BC o poder discricionário de — nas suas funções de prestação de socorro de liquidez e de intervenção no mercado de câmbio ou nas demais operações com impacto sobre as despesas públicas — gerar déficit enquanto todos os demais setores do governo se esforçam para equilibrar as contas. Trata-se, assim, de fixar um “ponto de controle”, um limite em percentual do Produto Interno Bruto (PIB), até o qual a autoridade monetária pode agir com autonomia. É bom que fique claro, isso não inclui a definição da política de juros. A partir do limite estabelecido, o BC terá que pedir autorização ao Conselho Monetário Nacional, presidido pelo ministro da Fazenda, que é o encarregado da arrecadação e da liberação dos recursos públicos. O CMN conta também com participação e voto do Ministro do Planejamento e Orçamento, responsável pela alocação do dinheiro. Caberia a essa instância, portanto, colocar freios nos gastos do BC. A proposta consta do projeto de autonomia operacional do Banco Central, cuja discussão e elaboração tomou pelo menos um par de anos da diretoria comandada por Armínio Fraga, e foi entregue ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, há cerca de dois meses. A iniciativa, que deve ser acatada por Palocci no âmbito do projeto de autonomia do BC, representa um compromisso a mais da autoridade monetária com a necessária transparência e com mecanismos de prestação de contas de seus atos. Com uma função muito clara e pré-definida — cuidar da estabilidade de preços e, portanto, do valor da moeda — e com os instrumentos de que dispõe para tal, que são a taxa de juros, os depósitos compulsórios e a regulação bancária, o Banco Central autônomo não será independente, não poderá fazer o que quiser e nem contrariar políticas de governo. Ao contrário, o projeto que deverá ser enviado ao Congresso Nacional tão logo seja aprovada a emenda ao artigo 192 da Constituição, melhora o arcabouço institucional sobre o qual está ancorado o regime de metas para a inflação, que o governo do PT já se comprometeu a manter. Regime que requer credibilidade do Banco Central para garantir aos agentes financeiros que o compromisso com determinado patamar de inflação futura é para valer. Agregar a esse arcabouço controles que, por inexistirem, já fizeram o BC cometer erros dramáticos na sua história recente — não necessariamente por má fé, mas por uma certa falta de compromisso com a face fiscal do programa de estabilidade da moeda —, exigirá da instituição maior responsabilidade. Ao se defrontar com limitações para criar despesa pública e, inclusive, para atuar no mercado de câmbio, o Banco Central teria de ser, provavelmente, mais parcimonioso na construção de programas de salvamento de instituições financeiras privadas (nos moldes do Proer, por exemplo), assim como na concessão de seguros para inadimplências nas operações de comércio exterior com países vizinhos (como o foi durante muitos anos no gerenciamento dos Convênios de Crédito Recíproco) ou ainda na assistência de liquidez a bancos em apuros . As mudanças que o governo do ex- presidente Fernando Henrique pensou mas não fez nessa área — que significam, a rigor criar uma Lei de Responsabilidade Monetária — estão sendo endossadas pelo novo comando da política econômica e só fazem bem à democracia. Assim como o foi a Lei de Responsabilidade Fiscal, cujo primeiro teste será agora e mostrará, na prestação de contas de 2002, quais os governadores cumpriram e quais fizeram vistas grossas às determinações da lei, que prega o bom uso do dinheiro público. Ainda há, porém, uma tarefa delicada para o ministro Palocci: convencer parte da bancada parlamentar do PT de que o projeto de autonomia do BC não é uma concessão às demandas liberais, mas um avanço na forma de funcionamento do Estado. Possibilidades brasileiras no ramo das tecnologias digitais “Devemos entender as especificidades da indústria de semicondutores.” Por Marcelo de Matos Ramos Uma entrada no mercado das “fabless” é mais factível inicialmente, por ser um investimento em recursos humanos U m espectro ronda o mundo moderno, e é o espectro das tecnolo- gias digitais. Estima-se que as vendas mundiais de apa- relhos DVD superaram os VHS em 2001/2002; que as linhas de telefonia móvel terão superado as fixas em 2003, e que em algum momento em 2004 as vendas de câmaras fotográficas e filmado- ras digitais superarão as suas congêneres analógicas. Enquan- to isso, as empresas exercitam a lógica das fusões e aquisições em nível global, digladiando-se pela definição dos novos padrões tec- nológicos que dominarão o mundo da convergência digital, tais como os da televisão digital e videogames (que já movimenta tanto dinheiro quanto Hollywo- od), buscando assegurar para si uma larga parcela do provimen- to de uma imensidão de novos produtos e serviços. Em tal quadro o país não deve permanecer passivo, tanto pelo custo dessa passividade quanto pelos dividendos que uma postura ativa pode fornecer, já que indús- trias dinâmicas em geral geram oportunidades de entrada para players empreendedores. Os cus- tos da postura passiva se refletem em nossa balança comercial: na área dos bens eletroeletrônicos, o país produz produtos acabados a partir de componentes importa- dos e, como a maioria dos produ- tos acabados são consumidos in- ternamente, gera-se intenso défi- cit comercial — um saldo negativo de 5,8 bilhões de dólares na balan- ça comercial do complexo eletrô- nico em 2001, com o setor de com- ponentes colaborando com cerca de 2,5 bilhões deste total (dados Secex/MDIC). Feito o diagnóstico, diverge-se quanto ao remédio a ser adminis- trado ao paciente. Alguns defen- dem a atração de grandes produ- tores estrangeiros que se interes- sem em produzir semicondutores e outros componentes no Brasil a partir de um pacote de incentivos. Outros preferem uma alternativa nacional, pela escolha de uma em- presa brasileira à qual caberia, a partir de incentivos governamen- tais, construir capacidade tecnoló- gica e industrial para a produção de componentes, tais como chips semicondutores. Convém, talvez, lançar um olhar mais cuidadoso às especifi- cidades da indústria de semicon- dutores. Como outras indústrias, a indústria de semicondutores experimentou, nos últimos anos, uma tendência à especialização vertical, com a desintegração das cadeias produtivas e a emergên- cia de players altamente especia- lizados. Trata-se de uma indústria de produtos altamente segmen- tados, cujo processo produtivo, porém, é basicamente parecido, desde a fase de projeto dos chips até o complexo processo de pro- dução dos wafers e impressão dos circuitos, seguido, finalmente, pelo encapsulamento do chip em material isolante e sua transfor- mação em componente eletroe- letrônico. Tais componentes são em geral usados como bens inter- mediários para a produção de vá- rios sistemas eletroeletrônicos. Estruturalmente, a indústria evoluiu dos grandes produtores integrados das décadas de 50 a 70, que projetavam e produziam os chips e os bens de capital que permitiam produzi-los, bem co- mo os bens eletroeletrônicos fi- nais que os utilizavam, até o mo- delo de negócios “fabless/foun- dry” das décadas 80 e 90, onde empresas dedicadas exclusiva- mente ao projeto de chips (as “fa- bless”) oferecem no mercado projetos inovadores (chamados, no jargão da indústria, de “IP blo- cks” ou “design cores”) para as “foundries”, que são empresas es- pecializadas na produção de se- micondutores, isto é, são opera- ções industriais. Paralelamente, continuam existindo grandes fa- bricantes com design próprio, como a Intel, por exemplo. Estes segmentos oferecem dife- rentes perspectivas para um even- tual entrante. Uma entrada no mercado de “foundries” exigiria enormes investimentos, pois é uma indústria que opera em larga escala e consome bilhões de dóla- res por planta industrial (basica- mente devido à complexidade tec- nológica dos bens de capital utili- zados). Por serem ativos específi- cos sem possibilidade de conver- são para outro uso, tais custos são irreversíveis. Uma empresa nacio- nal, sem tradição no mercado, te- ria que construir relações de con- fiança para tornar-se um fornece- dor dos grandes produtores mun- diais de sistemas eletroeletrônicos, arriscando-se, dada a magnitude dos custos irreversíveis aplicados, a tornar-se refém dos seus even- tuais clientes. A alternativa seria então verticalizar para a frente, produzindo os produtos finais, o que envolveria toda uma outra concepção de business, com resul- tados duvidosos. Uma entrada no mercado das “fabless” parece mais factível co- mo estratégia inicial, por tratar- se a princípio de um investimen- to em recursos humanos, reque- rendo a constituição de centros de excelência no setor, o que não é impossível havendo determi- nação, como o atestam os setores de exploração de petróleo em águas profundas, aeronáutico e de biotecnologia, entre outros. Assim, um esforço de formação de recursos humanos a partir de agentes do sistema brasileiro de inovação, aliado a um programa como o das incubadoras de em- presas de base tecnológica, teria provavelmente mais êxito, com a vantagem de embutir também uma trajetória virtuosa de apren- dizado tecnológico que poderia até mesmo viabilizar vôos mais altos como a constituição de uma “foundry”. Por outro lado esta estratégia poderia ser inte- ressante também se associada ao projeto alternativo de atrair uma empresa estrangeira do mercado de “foundries”, possibilitando novas oportunidades de alianças estratégicas e outras sinergias ainda não antevistas. Trata-se, enfim, de uma decisão de alocação de recursos escassos que, face aos imperativos de com- bate à nossa profunda dívida so- cial, exige uma reflexão aprofun- dada do novo governo de forma a evitarmos o desperdício de recur- sos e a reedição de erros ainda re- centes na condução da política in- dustrial do país, mas ainda assim propicie nossa entrada no “milê- nio digital” que se inicia. Marcelo de Matos Ramos é engenheiro de produção, membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento. Artigo de Delben Leite “Muito bom o artigo ‘A tec- nologia na sombra da ciência’, de Luiz Carlos Delben Leite, publicado no Valor de 6/1 à pág. 2003. A adoção do proce- dimento mencionado pelo au- tor, no entanto, implica em planejamento e na adoção de políticas pró-ativas por parte do governo e da iniciativa pri- vada. O PIB da Coréia e de Taiwan quadruplicaram num período onde o PIB do Brasil cresceu 50%. É vergonhoso! Não podemos esquecer, tam- bém, da área agrícola. Não é possível continuarmos na de- pendência de empresas estran- geiras para o fornecimento de sementes e beneficiamento da produção agrícola.” MANOEL TEIXEIRA [email protected] Venezuela “Para termos uma idéia do que se passa na Venezuela: in- flação 30,7% em novembro, de- semprego 16,2 em junho, PIB - 5,5 3 no trimestre. Ou seja, os venezuelanos estão a sofrer au- mentos dos preços três vezes superiores aos nossos; estão com o dobro de desemprega- dos do que os existente em nosso país: estão com cresci- mento econômico muitas ve- zes inferior ao de Pindorama. Apesar de ser o país mais ri- co da América do Sul por causa de sua abundância de petró- leo, a Venezuela de Hugo Cha- vez está intoleravelmente mais pobre e miserável do que nun- ca. E ainda tem gente que não sabe por que os venezuelanos querem mudar de presidente.” MARX GOLGHER Belo Horizonte, MG Desafio para Lula “A posse do presidente Lula da Silva foi celebrada pela popu- lação com esperança. Mas além desta, outro ingrediente fez par- te da posse: a expectativa. Não só em virtude da demorada cami- nhada que levou o líder sindical ao Planalto, mas do sentimento de mudança que tomou conta especialmente dos brasileiros que acompanharam seus dis- cursos no Congresso Nacional e no Parlatório. Agora começa a fase mais difícil, o trabalho no governo de um partido com ca- coetes de oposição. A monta- gem da equipe já foi um grande exercício de acomodação políti- ca, contudo, não será nada ten- do em vista a caminhada que se tem pela frente. A difícil trajetó- ria começa no Congresso. Lá, a bancada governista é composta por cerca de 240 deputados e 43 senadores. Pode ser um número razoável para governar, porém não é um número confortável para mudar. O grupo que assumiu o poder o fez movido pelos ventos de sentimento de mudança acu- mulados pelo povo. Começará o difícil jogo da articulação políti- ca no parlamento. Quanto a sua equipe, o presidente dividiu a seu ministério em blocos. O pri- meiro foi exclusivamente blin- dado por Lula para evitar pro- blemas na área econômica. O se- gundo bloco é formado pelos partidos aliados na eleição. Ou- tro bloco é formado pela copa e cozinha de Lula, ou seja, o grupo palaciano. O último é formado pelos integrantes do PT, conci- liando as diversas tendências do partido. A montagem do governo e as eleições deixaram um vácuo de expressivas lideranças petistas no Congresso Nacional, como Dirceu e Genoíno, que podem fazem fazer falta no jogo políti- co, especialmente na Câmara dos Deputados, onde o quadro mais preparado pode assumir a Presidência. A mudança será de- senvolvida dentro deste com- plexo e demorado jogo político, enquanto a expectativa do povo terá que ser domada.” MÁRCIO CHALEGRE COIMBRA Brasília, DF O Valor agradece e retribui os vo- tos de boas festas de: Amcham-SP - Daniel Castro; Franceschini e Miranda Advogados; Prefeitura do Rio de Ja- neiro; Telefônica - Junia Nogueira de Sá; Orteng Equipamentos e Sistemas Ltda; Coca-Cola Indústrias Ltda - Eduardo Simbalista; RGE Rio Grande Energia; Unicid - Prof. Paulo Eduardo S.O.Naddeo e Sandoval Nassa.

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artigo no jornal valor econômico sobre política industrial para semicondutores

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A8 | Valor | Terça-feira, 7 de janeiro de 2003

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 7/1/2003 (21:20) - Página 8- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Opinião

Jornal econômico de circulação nacional, publicado desde 2 de maio de 2000 pela Valor Econômico S.A.

Diretor de Redação: Celso PintoDiretores Adjuntos de Redação: Carlos Eduardo Lins da Silva e Vera BrandimarteConselho Editorial: Antonio Manuel Teixeira Mendes, Celso Pinto, Flávio Pestana,João Roberto Marinho, Luís Frias, Luiz Eduardo Vasconcelos, Merval Pereira, Otavio Frias Filho

Cartas de LeitoresEnvie cartas para: av. Jaguaré, 1.485, CEP 05346-902 - SP - E-mail: [email protected]. As cartase e-mails deverão conter nome, endereço e telefone. Os textos poderão ser editados por limitação de espaço.

Autonomia controladapara o Banco Central

AA idéia de impor limites para oBanco Central gerar despesasfiscais que pesam no resultadodas contas públicas é umimportante passo adiante no

aperfeiçoamento das políticas públicas. Elaretira do BC o poder discricionário de — nassuas funções de prestação de socorro deliquidez e de intervenção no mercado decâmbio ou nas demais operações comimpacto sobre as despesas públicas — gerardéficit enquanto todos os demais setores dogoverno se esforçam para equilibrar as contas.

Trata-se, assim, de fixar um “ponto decontrole”, um limite em percentual doProduto Interno Bruto (PIB), até o qual aautoridade monetária pode agir comautonomia. É bom que fique claro, isso nãoinclui a definição da política de juros. A partirdo limite estabelecido, o BC terá que pedirautorização ao Conselho Monetário Nacional,presidido pelo ministro da Fazenda, que é oencarregado da arrecadação e da liberaçãodos recursos públicos. O CMN conta tambémcom participação e voto do Ministro doPlanejamento e Orçamento, responsável pelaalocação do dinheiro. Caberia a essa instância,portanto, colocar freios nos gastos do BC.

A proposta consta do projeto de autonomiaoperacional do Banco Central, cuja discussão eelaboração tomou pelo menos um par de anosda diretoria comandada por Armínio Fraga, efoi entregue ao ministro da Fazenda, AntonioPalocci, há cerca de dois meses. A iniciativa,que deve ser acatada por Palocci no âmbito doprojeto de autonomia do BC, representaum compromisso a mais da autoridademonetária com a necessária transparênciae com mecanismos de prestação decontas de seus atos.

Com uma função muito clara e pré-definida— cuidar da estabilidade de preços e, portanto,do valor da moeda — e com os instrumentosde que dispõe para tal, que são a taxa de juros,os depósitos compulsórios e a regulaçãobancária, o Banco Central autônomo não seráindependente, não poderá fazer o que quiser enem contrariar políticas de governo. Aocontrário, o projeto que deverá ser enviado ao

Congresso Nacional tão logo seja aprovada aemenda ao artigo 192 da Constituição,melhora o arcabouço institucional sobre oqual está ancorado o regime de metas para ainflação, que o governo do PT já secomprometeu a manter. Regime que requercredibilidade do Banco Central para garantiraos agentes financeiros que o compromissocom determinado patamar de inflação futuraé para valer.

Agregar a esse arcabouço controles que, porinexistirem, já fizeram o BC cometer errosdramáticos na sua história recente — nãonecessariamente por má fé, mas por uma certafalta de compromisso com a face fiscal doprograma de estabilidade da moeda —, exigiráda instituição maior responsabilidade. Ao sedefrontar com limitações para criar despesapública e, inclusive, para atuar no mercado decâmbio, o Banco Central teria de ser,provavelmente, mais parcimonioso naconstrução de programas de salvamento deinstituições financeiras privadas (nos moldesdo Proer, por exemplo), assim como naconcessão de seguros para inadimplências nasoperações de comércio exterior com paísesvizinhos (como o foi durante muitos anos nogerenciamento dos Convênios de CréditoRecíproco) ou ainda na assistência de liquideza bancos em apuros .

As mudanças que o governo do ex-presidente Fernando Henrique pensou masnão fez nessa área — que significam, a rigorcriar uma Lei de Responsabilidade Monetária— estão sendo endossadas pelo novocomando da política econômica e só fazembem à democracia. Assim como o foi a Lei deResponsabilidade Fiscal, cujo primeiro testeserá agora e mostrará, na prestaçãode contas de 2002, quais os governadorescumpriram e quais fizeram vistas grossas àsdeterminações da lei, que prega o bom uso dodinheiro público.

Ainda há, porém, uma tarefa delicada parao ministro Palocci: convencer parte dabancada parlamentar do PT de que o projetode autonomia do BC não é uma concessão àsdemandas liberais, mas um avanço na formade funcionamento do Estado.

Possibilidades brasileiras noramo das tecnologias digitais“Devemos entender as especificidades da indústriade semicondutores.” Por Marcelo de Matos Ramos

Uma entrada no mercadodas “fabless” é maisfactível inicialmente,por ser um investimentoem recursos humanos

Um espectro ronda omundo moderno, e é oespectro das tecnolo-gias digitais. Estima-se

que as vendas mundiais de apa-relhos DVD superaram os VHSem 2001/2002; que as linhas detelefonia móvel terão superadoas fixas em 2003, e que em algummomento em 2004 as vendas decâmaras fotográficas e filmado-ras digitais superarão as suascongêneres analógicas. Enquan-to isso, as empresas exercitam alógica das fusões e aquisições emnível global, digladiando-se peladefinição dos novos padrões tec-nológicos que dominarão omundo da convergência digital,tais como os da televisão digital evideogames (que já movimentatanto dinheiro quanto Hollywo-od), buscando assegurar para siuma larga parcela do provimen-to de uma imensidão de novosprodutos e serviços.

Em tal quadro o país não devepermanecer passivo, tanto pelocusto dessa passividade quantopelos dividendos que uma posturaativa pode fornecer, já que indús-trias dinâmicas em geral geramoportunidades de entrada paraplayers empreendedores. Os cus-tos da postura passiva se refletemem nossa balança comercial: naárea dos bens eletroeletrônicos, opaís produz produtos acabados apartir de componentes importa-dos e, como a maioria dos produ-tos acabados são consumidos in-ternamente, gera-se intenso défi-cit comercial — um saldo negativode 5,8 bilhões de dólares na balan-ça comercial do complexo eletrô-nico em 2001, com o setor de com-ponentes colaborando com cercade 2,5 bilhões deste total (dadosSecex/MDIC).

Feito o diagnóstico, diverge-sequanto ao remédio a ser adminis-trado ao paciente. Alguns defen-dem a atração de grandes produ-tores estrangeiros que se interes-sem em produzir semicondutorese outros componentes no Brasil apartir de um pacote de incentivos.Outros preferem uma alternativanacional, pela escolha de uma em-presa brasileira à qual caberia, apartir de incentivos governamen-tais, construir capacidade tecnoló-gica e industrial para a produçãode componentes, tais como chipssemicondutores.

Convém, talvez, lançar umolhar mais cuidadoso às especifi-

cidades da indústria de semicon-dutores. Como outras indústrias,a indústria de semicondutoresexperimentou, nos últimos anos,uma tendência à especializaçãovertical, com a desintegração dascadeias produtivas e a emergên-cia de players altamente especia-lizados. Trata-se de uma indústriade produtos altamente segmen-tados, cujo processo produtivo,porém, é basicamente parecido,desde a fase de projeto dos chipsaté o complexo processo de pro-dução dos wafers e impressão doscircuitos, seguido, finalmente,pelo encapsulamento do chip emmaterial isolante e sua transfor-mação em componente eletroe-letrônico. Tais componentes sãoem geral usados como bens inter-mediários para a produção de vá-rios sistemas eletroeletrônicos.

Estruturalmente, a indústria

evoluiu dos grandes produtoresintegrados das décadas de 50 a70, que projetavam e produziamos chips e os bens de capital quepermitiam produzi-los, bem co-mo os bens eletroeletrônicos fi-nais que os utilizavam, até o mo-delo de negócios “fabless/foun-dry” das décadas 80 e 90, ondeempresas dedicadas exclusiva-mente ao projeto de chips (as “fa-bless”) oferecem no mercadoprojetos inovadores (chamados,no jargão da indústria, de “IP blo-cks” ou “design cores”) para as“foundries”, que são empresas es-pecializadas na produção de se-micondutores, isto é, são opera-ções industriais. Paralelamente,continuam existindo grandes fa-bricantes com design próprio,como a Intel, por exemplo.

Estes segmentos oferecem dife-rentes perspectivas para um even-tual entrante. Uma entrada nomercado de “foundries” exigiriaenormes investimentos, pois éuma indústria que opera em largaescala e consome bilhões de dóla-res por planta industrial (basica-mente devido à complexidade tec-nológica dos bens de capital utili-zados). Por serem ativos específi-cos sem possibilidade de conver-

são para outro uso, tais custos sãoirreversíveis. Uma empresa nacio-nal, sem tradição no mercado, te-ria que construir relações de con-fiança para tornar-se um fornece-dor dos grandes produtores mun-diais de sistemas eletroeletrônicos,arriscando-se, dada a magnitudedos custos irreversíveis aplicados,a tornar-se refém dos seus even-tuais clientes. A alternativa seriaentão verticalizar para a frente,produzindo os produtos finais, oque envolveria toda uma outraconcepção de business, com resul-tados duvidosos.

Uma entrada no mercado das“fabless” parece mais factível co-mo estratégia inicial, por tratar-se a princípio de um investimen-to em recursos humanos, reque-rendo a constituição de centrosde excelência no setor, o que nãoé impossível havendo determi-nação, como o atestam os setoresde exploração de petróleo emáguas profundas, aeronáutico ede biotecnologia, entre outros.Assim, um esforço de formaçãode recursos humanos a partir deagentes do sistema brasileiro deinovação, aliado a um programacomo o das incubadoras de em-presas de base tecnológica, teriaprovavelmente mais êxito, com avantagem de embutir tambémuma trajetória virtuosa de apren-dizado tecnológico que poderiaaté mesmo viabilizar vôos maisaltos como a constituição deuma “foundry”. Por outro ladoesta estratégia poderia ser inte-ressante também se associada aoprojeto alternativo de atrair umaempresa estrangeira do mercadode “foundries”, possibilitandonovas oportunidades de aliançasestratégicas e outras sinergiasainda não antevistas.

Trata-se, enfim, de uma decisãode alocação de recursos escassosque, face aos imperativos de com-bate à nossa profunda dívida so-cial, exige uma reflexão aprofun-dada do novo governo de forma aevitarmos o desperdício de recur-sos e a reedição de erros ainda re-centes na condução da política in-dustrial do país, mas ainda assimpropicie nossa entrada no “milê-nio digital” que se inicia.

Marcelo de Matos Ramos é engenheirode produção, membro da carreira deEspecialistas em Políticas Públicas eGestão Governamental do Ministério doPl a n e j a m e n to .

Artigo de Delben Leite“Muito bom o artigo ‘A tec-

nologia na sombra da ciência’,de Luiz Carlos Delben Leite,publicado no Valor de 6/1 àpág. 2003. A adoção do proce-dimento mencionado pelo au-tor, no entanto, implica emplanejamento e na adoção depolíticas pró-ativas por partedo governo e da iniciativa pri-vada. O PIB da Coréia e deTaiwan quadruplicaram numperíodo onde o PIB do Brasilcresceu 50%. É vergonhoso!Não podemos esquecer, tam-bém, da área agrícola. Não épossível continuarmos na de-pendência de empresas estran-geiras para o fornecimento desementes e beneficiamento daprodução agrícola.”MANOEL [email protected]

Ve n e z u e l a“Para termos uma idéia do

que se passa na Venezuela: in-flação 30,7% em novembro, de-semprego 16,2 em junho, PIB -5,5 3 no trimestre. Ou seja, osvenezuelanos estão a sofrer au-mentos dos preços três vezessuperiores aos nossos; estãocom o dobro de desemprega-dos do que os existente emnosso país: estão com cresci-mento econômico muitas ve-zes inferior ao de Pindorama.

Apesar de ser o país mais ri-co da América do Sul por causade sua abundância de petró-

leo, a Venezuela de Hugo Cha-vez está intoleravelmente maispobre e miserável do que nun-ca. E ainda tem gente que nãosabe por que os venezuelanosquerem mudar de presidente.”MARX GOLGHERBelo Horizonte, MG

Desafio para Lula“A posse do presidente Lula

da Silva foi celebrada pela popu-lação com esperança. Mas alémdesta, outro ingrediente fez par-te da posse: a expectativa. Não sóem virtude da demorada cami-nhada que levou o líder sindicalao Planalto, mas do sentimentode mudança que tomou contaespecialmente dos brasileirosque acompanharam seus dis-cursos no Congresso Nacional eno Parlatório. Agora começa afase mais difícil, o trabalho nogoverno de um partido com ca-coetes de oposição. A monta-gem da equipe já foi um grandeexercício de acomodação políti-ca, contudo, não será nada ten-do em vista a caminhada que setem pela frente. A difícil trajetó-ria começa no Congresso. Lá, abancada governista é compostapor cerca de 240 deputados e 43senadores. Pode ser um númerorazoável para governar, porémnão é um número confortávelpara mudar.

O grupo que assumiu o podero fez movido pelos ventos desentimento de mudança acu-mulados pelo povo. Começará o

difícil jogo da articulação políti-ca no parlamento. Quanto a suaequipe, o presidente dividiu aseu ministério em blocos. O pri-meiro foi exclusivamente blin-dado por Lula para evitar pro-blemas na área econômica. O se-gundo bloco é formado pelospartidos aliados na eleição. Ou-tro bloco é formado pela copa ecozinha de Lula, ou seja, o grupopalaciano. O último é formadopelos integrantes do PT, conci-liando as diversas tendências dop a r t i d o.

A montagem do governo e aseleições deixaram um vácuo deexpressivas lideranças petistasno Congresso Nacional, comoDirceu e Genoíno, que podemfazem fazer falta no jogo políti-co, especialmente na Câmarados Deputados, onde o quadromais preparado pode assumir aPresidência. A mudança será de-senvolvida dentro deste com-plexo e demorado jogo político,enquanto a expectativa do povoterá que ser domada.”MÁRCIO CHALEGRE COIMBRABrasília, DF

O Va l o r agradece e retribui os vo-tos de boas festas de: Amcham-SP -Daniel Castro; Franceschini e MirandaAdvogados; Prefeitura do Rio de Ja-neiro; Telefônica - Junia Nogueira deSá; Orteng Equipamentos e SistemasLtda; Coca-Cola Indústrias Ltda -Eduardo Simbalista; RGE Rio GrandeEnergia; Unicid - Prof. Paulo EduardoS.O.Naddeo e Sandoval Nassa.