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    1/4544 Rev Bras Med Esporte Vol. 14, No 6 Nov/Dez, 2008

    Treino de Corrida no Interfere no Desempenhode Fora de Membros SuperioresEndurance Exercise Bout Does Not Interfere in Strength Performance of

    Upper Limbs

    ARTIGO ORIGINAL

    RESUMO

    Objetivo: O presente estudo avaliou o efeito do exerccio de endurance (corrida) sobre o subseqentedesempenho de fora de msculos dos membros superiores e do tronco. Metodologia: A amostra foicomposta por 13 universitrias, saudveis e fisicamente ativas. A primeira fase do experimento consistiuna realizao de um teste de corrida, simulando uma sesso de treino, com durao de 45 minutos a70% da FCMAX. Imediatamente aps a corrida, foram aplicados testes de fora (dinamometria - preensopalmar, teste de 1-RM e teste de repeties mximas a 70%-1RM no supino). A glicemia foi mensurada noincio do experimento e imediatamente antes dos testes de fora. Resultados: No foi observada diferenasignificativa no desempenho dos testes de fora aps o treino de corrida (dinamometria, 1-RM e REPMAX sem a prvia execuo do treino de corrida 29,9 3,8 kgf; 34,4 3,1 kg; 1oset: 12,5 3,3 reps e 2oset:11,7 2,7 reps vs. com a prvia execuo do treino de corrida 29,2 3,1 kgf; 33,9 2,5 kg; 1 oset: 13,2 2,1reps e 2oset: 12,2 2,8 reps). Com relao glicemia, no foi detectada alterao significativa durante oexperimento. Concluso: A execuo do treino de corrida no afetou o subseqente desempenho de forados membros superiores e do tronco. Esse dado sugere que a interferncia, freqentemente, observada noexerccio concorrente, dependente do grupo muscular treinado. Possivelmente, o efeito adverso indu-zido pelo treino concorrente, realizado, exclusivamente, com membros inferiores, decorrente da fadigaresidual instalada nos msculos recrutados na atividade anterior. importante ressaltar que a atividade deendurance no promoveu alterao na concentrao plasmtica de glicose. A manuteno da glicemia as-sociada ausncia de interferncia sobre o desempenho dos testes de fora refora, mais ainda, a hiptesede que o efeito adverso do treinamento concorrente , provavelmente, causado por alteraes perifricasmsculo-especficas.

    Palavras-chave: treinamento concorrente, interferncia, endurance, fora.

    ABSTRACT

    Aim: the present study evaluated the effect of endurance exercise (running) on the subsequent strengthperformance of muscles of upper limbs and trunk. Methodology: Thirteen healthy female, university students,physically active were selected to compose the sample. The first phase of the experiment the subjects weresubmitted to an endurance exercise bout (treadmill), simulating a training session, with duration of 45 mi-nutes at 70% of the HRmax. Immediately after the endurance exercise bout, the subjects performed strengthtests (Dynamometry test - handgrip, 1RM test and maximal repetitions test at 70%-1RM in the bench press).Glycemia was measured in the beginning of the experiment and immediately before the strength tests. Re-sults: No significant difference was observed in the strength tests performance after the endurance exercise

    bout (Dynamometry, 1-RM and REPMAX - with no previous endurance exercise - 29.9 3.8 kgf ; 34.4 3.1 kg;1st set 12.5 3.3 reps and 2nd set 11.7 2.7 reps vs. with previous endurance exercise - 29.2 3.1 kgf; 33.9 2.5 kg; 1st set 13.2 2.1 reps and 2nd set 12.2 2.8 reps). Regarding glycemia, no significant alteration wasobserved during the experiment. Conclusion: the endurance exercise bout did not affect the subsequentstrength performance of the upper limbs and trunk. This data suggests that the common interference ob-served in the concurrent training is dependent on which muscular group has been recruited. Possibly, theadverse effect induced by the concurrent training, exclusively performed with lower extremities, is due tothe residual fatigue installed in the muscles recruited in the previous activity. It is important to highlight thatendurance exercise did not promote alteration in the glucose plasma concentration. The glycemia main-tenance associated with the lack of interference on the performance of the strength tests reinforces evenmore the hypothesis that the adverse effect of the concurrent training is probably caused by muscle-specificperipheral alterations.

    Keywords: concurrent training, interference, endurance, strength.

    Leandro Lus Oliveira Raddi1,*

    Rodrigo Vitasovic Gomes2,*

    Mrio Augusto Charro1,3

    Reury Frank Pereira Bacurau4

    Marcelo Saldanha Aoki4

    1. Curso de Educao Fsica,

    UniFMU, SP, Brasil.

    2. Escola de Educao Fsica e

    Esporte, Universidade de So Paulo,

    SP, Brasil.

    3. Curso de Educao Fsica,

    Universidade IMES, So Caetano do

    Sul, Brasil.

    4. Curso de Cincias da Atividade

    Fsica, Escola de Artes, Cincias e

    Humanidades, Universidade de So

    Paulo, SP, Brasil.

    * Leandro Lus Oliveira Raddi e RodrigoVitasovic Gomes contriburam de formasemelhante para o desenvolvimento dopresente estudo.

    Endereo para correspondncia:

    Prof. Dr. Marcelo Saldanha Aoki.

    Escola de Artes, Cincias e

    Humanidades, USP Curso deCincias da Atividade Fsica. Av.

    Arlindo Bettio, 1.000 03828-000

    So Paulo, SP.

    E-mail: [email protected]

    Submetido em 12/04/2006

    Verso final recebida em 23/05/2008

    Aceito em 05/07/2008

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    INTRODUO

    Atletas e indivduos fisicamente ativos, freqentemente, combinama utilizao de exerccios de endurance com exerccios de fora namesma sesso de treino(1,2). Essa estratgia, extremamente difundida, denominada treinamento concorrente.

    De modo geral, as pesquisas demonstram que o treino de forano afeta a execuo do subseqente treino de endurance (1,3). Poroutro lado, a maioria dos estudos que investigaram o treinamentoconcorrente verificou a existncia de um efeito adverso da atividade

    de endurance sobre o posterior desempenho de fora(4-8)

    .O mecanismo que explicaria essa interferncia deletria sobre asubseqente produo de fora ainda no foi totalmente elucidado.Em funo disso, duas hipteses foram propostas. A hiptese crnicadefende que as adaptaes induzidas por essas estratgias de treina-mento fsico so distintas, tanto em nvel funcional, como morfolgico.Nesse contexto, o organismo no conseguiria se adaptar a esses est-mulos concorrentes de maneira adequada. Conseqentemente, essacombinao de estmulos acarretaria prejuzo no processo crnico deadaptao ao treinamento fsico(1,9,10). As evidncias experimentais quesuportam essa hiptese so escassas(1).

    J a hiptese aguda atesta que a fadiga residual, decorrente dasesso prvia de exerccio de endurance, impediria que a execuodo exerccio de fora ocorresse em sua plenitude(1,9). Essas reduesagudas na qualidade do treino de fora comprometeriam o ganho defora ao longo do perodo de treinamento.

    Considerando a hiptese aguda, nosso grupo investigou o efeitoda ingesto de carboidratos durante a execuo do exerccio de en-durance sobre o subseqente desempenho de fora. Nossa hipteseera verificar se a ingesto de carboidratos poderia atenuar a depleode glicognio, dada a importncia desse substrato para o exerccio defora, conforme demonstrado anteriormente por diversos autores(11-14).Aps um treino de corrida de 45 minutos, observamos reduo (~40%)no nmero de repeties mximas no leg-press 45.

    No mesmo estudo, verificamos que a suplementao de carboi-

    dratos no foi capaz de atenuar a reduo no desempenho de fora,causado pela prvia execuo da corrida(7).

    Seguindo a mesma linha de raciocnio (hiptese aguda), nossogrupo avaliou a influncia da suplementao de creatina sobre a capa-cidade de realizar repeties mximas no leg-press 45, aps o treino decorrida. Neste estudo, demonstramos que parte do comprometimentoest relacionada ao metabolismo da creatina-fosfato, uma vez que asuplementao de creatina anulou a interferncia promovida peloprvio treino de corrida sobre o desenvolvimento de fora(8).

    Esses resultados reforam a hiptese aguda, considerando quea mesma atesta que a limitao do treinamento concorrente no praticar duas modalidades que sejam incompatveis em termos de

    adaptao (hiptese crnica) e, sim, o fato de o primeiro treino impedira realizao plena do segundo (hiptese aguda)(1,9,11).Outro ponto importante relacionado hiptese aguda a possi-

    bilidade de o comprometimento do desempenho ocorrer, somente,quando o mesmo grupo muscular recrutado, em ambas as ativi-dades (endurance e fora)(1,9). Os dados disponveis atualmente nopermitem uma concluso definitiva sobre tal implicao, pois a maioriados trabalhos sobre treinamento concorrente estuda o mesmo grupomuscular submetido aos dois estmulos de treinamento. Por exem-plo, realizao do treino de corrida, seguido do exerccio leg-press(4,7-9).Poucos estudaram o efeito do treinamento concorrente em gruposmusculares distintos.

    O fato de as pesquisas serem conduzidas utilizando modelos deexerccios que recrutam o mesmo grupo muscular incita um ques-

    tionamento. Ser que as alteraes induzidas pelo exerccio de en-durance, realizado com membros inferiores, afetaria o subseqentedesempenho de fora em um exerccio realizado com membrossuperiores?

    Essa questo extremamente relevante para a prescrio/perio-dizao do treinamento concorrente. Caso a interferncia no ocorraquando grupos musculares diferentes so recrutados (ex.: exerccio deendurance com membros inferiores e exerccio de fora com membrossuperiores), esta ser uma possvel alternativa para organizar as sessesde treino, visando minimizar o efeito adverso observado no treinamen-

    to concorrente. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito deuma sesso de treino de endurance com membros inferiores (treinode corrida) sobre o desempenho de fora de msculos dos membrossuperiores e do tronco.

    MTODOS

    Sujeitos

    Foram selecionadas 13 universitrias (167,3 7,8cm; 65,2 5,6kg;21,1 3,2 anos), fisicamente ativas, do curso de Educao Fsica doCentro Universitrio UniFMU. O protocolo experimental foi aprovadopela comisso de tica em pesquisa envolvendo seres humanos do

    UniFMU (CAAE no 0003.0.254.000-05). Seguindo a resoluo (no 196/96),todas as participantes foram informadas, detalhadamente, sobre osprocedimentos utilizados. Os sujeitos experimentais concordaram emparticipar de maneira voluntria do estudo, assinando um termo deconsentimento informado e proteo de privacidade.

    Determinao de freqncia cardaca mxima (FCMAX)

    O teste para a determinao da FCMAX foi realizado em esteirarolante de marca Quintom/MedtrackST 65 com inclinao constantede 2%. Foram realizados trs minutos de aquecimento em velocidadede 5km.h-1. Aps essa fase, a velocidade da esteira foi aumentada em1km.h-1, a cada 60 segundos, at a fadiga voluntria ser alcanada (15).

    O maior valor registrado no freqencmetro no momento da fadiga foiconsiderado como a FCMAX.

    Determinao do valor de 1-RM e da capacidade de repe-tio mxima

    Aps um breve alongamento e aquecimento, o valor referente ao1-RM foi determinado aps a execuo de 3-5 tentativas consecutivas,com pausas de 180 segundos(16). O maior valor observado foi utilizadocomo critrio para avaliao(16). Posteriormente, foi calculado o valorpercentual equivalente a 70% do valor de 1-RM, para a execuo dasduas sries de repeties mximas, com intervalos de 120 segundos.A capacidade de repetio mxima foi determinada pela exausto

    e/ou capacidade de manter o padro de movimento, em duas sriesconsecutivas.

    Determinao da contrao voluntria mxima no dinam-metro de preenso palmar

    A fora de membros superiores foi determinada por meio do dina-mmetro de preenso palmar (Hand-Grip Dynamometer TKK5001, TakeiCompany, Tquio)(17). O teste foi realizado com o brao dominante dosujeito experimental. Durante o teste, o sujeito permaneceu sentado,com o brao apoiado em uma mesa, com a palma da mo viradapara cima. Nessa posio, foi solicitado que o indivduo avaliado rea-lizasse preenso palmar com a maior fora possvel. Foram realizadastrs tentativas consecutivas, com uma pausa de 60 segundos, sendoconsiderado o maior valor obtido(17).

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    Determinao da concentrao de glicose no plasma

    Foi utilizado o monitor Accu-Chek Advantage(Roche, Brasil), comsuas respectivas tiras, seguindo as instrues de uso. A concentraoplasmtica (mg.dL-1) foi determinada a partir do princpio de bioam-perometria. A glicemia foi aferida no incio do experimento (1 coleta)e imediatamente antes dos testes de fora (2 coleta).

    Arranjo experimental

    Primeiro, foram conduzidos os testes iniciais (freqncia cardaca

    mxima e fora) em dias separados, respeitando o intervalo de quatrodias. Aps uma semana do ltimo teste, os participantes realizaram umacorrida com durao de 45 minutos, em um intervalo de intensidadeequivalente a 70-75% da FCMAX. Ao trmino da corrida, a produo defora foi, imediatamente, determinada no dinammetro de preensopalmar e no supino reto (1RM e REPMAX 70%-1RM).

    Anlise estatstica

    A anlise estatstica foi realizada por meio do software GraphPad-Prism. Foi aplicado o teste t de Student pareado. O nvel de signifi-cncia estipulado foi de p < 0,05 . Os resultados esto expressos emmdia desvio-padro.

    RESULTADOSNo foi observada diferena significativa no desempenho dos tes-

    tes de fora aps o treino de corrida (dinamometria, 1-RM e REPMAX sem a prvia execuo do treino de corrida 29,9 3,8 kgf; 34,4 3,1kg; 1set: 12,5 3,3 reps e 2set: 11,7 2,7 reps vs.com a prvia exe-cuo do treino de corrida 29,2 3,1 kgf; 33,9 2,5 kg; 1 set: 13,2 2,1 reps e 2set: 12,2 2,8 reps). Tambm no foi detectada alteraosignificativa na glicemia entre a situao de repouso e o momentoantes dos testes de fora.

    de o componente de endurance do treinamento concorrente impe-dir o subseqente desenvolvimento de tenso do componente defora(9). Estudos prvios, realizados no nosso laboratrio, reforam ahiptese aguda de interferncia(7,8). Nesses estudos, foi observadoque a sesso de treino de endurance (corrida) atenua o desempenhosubseqente de fora (leg-press)(7,8). Embora, essa interferncia noseja, geralmente, observada quando a atividade prvia o treinode fora(1,3).

    A hiptese aguda foi proposta por Craig et al.(9) aps a constatao

    de que o treino de corrida promovia inibio da fora de membrosinferiores, mas no de membros superiores. Esses autores propuseramque a fadiga residual do treino prvio estaria restrita apenas mus-culatura treinada. Conseqentemente, segundo Craig et al.(9), o treinorealizado com membros inferiores no influenciaria o desempenhode membros superiores e vice-versa. Essa varivel, relacionada comos msculos que so recrutados na sesso de treino, tem sido poucoinvestigada(2,6). A maioria dos estudos que investiga o treinamentoconcorrente utiliza os mesmos grupos musculares (ex.: corrida seguidade extenso do joelho).

    Tabela 1. Dinamometria (preenso palmar) (kgf) e teste de 1-RM (supino) (kg) sem prvia

    execuo do treino de corrida (SC) e com prvia execuo do treino de corrida (CC)

    CVM SC (n = 13) CC (n = 13)

    Dinamometria (kgf ) 29,9 3,8 29,2 3,1

    Teste de 1-RM (kg) 34,4 3,1 33,9 2,5

    Resultados expressos em mdia desvio-padro.

    DISCUSSO

    Embora exista grande interesse sobre as adaptaes induzidaspelo treinamento concorrente, os mecanismos envolvidos em taisrespostas permanecem obscuros(1,2,13). Alguns estudos recentes su-gerem que as adaptaes em nvel molecular, tais como, a ativaoda AMPK e a inibio da quinase mTOR, explicariam a concorrnciaentre os estmulos(19,20). Atualmente, existem duas hipteses principaisque tentam explicar a interferncia deletria observada nesse tipo detreinamento fsico(1,2).

    A hiptese crnica defende o pressuposto de que o efeito dele-trio (atenuao da aquisio/desenvolvimento da fora) ocorre pelaimpossibilidade de o organismo promover os dois tipos diferentesde adaptaes simultaneamente(1,2). At o presente momento, pou-qussimas evidncias suportam essa hiptese(1). Por outro lado, a hi-ptese aguda prope que o comprometimento ocorre em funo

    Tabela 2. Nmero mximo de repeties a 70% do valor de 1-RM no supino sem prviaexecuo do treino de corrida (SC) e com prvia execuo do treino de corrida (CC)

    REPMAX (70%-1RM) SC (n = 13) CC (n = 13)

    1 set(reps) 12,5 3,3 13,2 2,1

    2 set(reps) 11,7 2,7 12,2 2,8

    Resultados expressos em mdia desvio-padro.

    Portanto, caso seja comprovado que o comprometimento ms-culo-especfico, este fato representar uma alternativa interessante paraprescrio do treinamento concorrente. Se produo de fora dependedo msculo recrutado previamente na atividade aerbia, a sesso detreino dever priorizar a realizao da atividade de endurance commembros inferiores e, do treino de fora, com membros superiores.Os resultados do presente estudo corroboram os achados de Craig etal.(9), o comprometimento da fora no foi observado, quando gruposmusculares distintos foram recrutados.

    Alm disso, ainda considerando a organizao do treino, mesmonos estudos, nos quais, foram utilizados os mesmos msculos, j foidemonstrado que o efeito de adverso do treino de endurance sobrea produo de fora no est mais presente aps 8 horas (21). Logo, otempo de intervalo entre os estmulos mais um fator que est rela-cionado com a interferncia evidenciada no treinamento concorrente.Para Docherthy e Sporer(2), outras variveis como o gnero, o nvel detreinamento, a durao e freqncia do treinamento, o modo de trei-namento tambm precisam ser levadas em considerao ao investigaresse complexo fenmeno.

    Embora seja pouco provvel que as alteraes promovidas nosmsculos da perna (ex: reduo de substratos energticos e/ou ocor-rncia de microleses) pudessem interferir na produo de fora dosmsculos do brao e do peitoral, ainda existiria a possibilidade deo exerccio de endurance afetar, de alguma maneira, o sistema ner-voso. Nessa situao, seria plausvel esperar o comprometimentoda produo de fora(11,22,23). Por exemplo, caso ocorra reduo daglicemia durante o exerccio de endurance, a menor disponibilidadedesse substrato poderia afetar o funcionamento do sistema nervoso,

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    atenuando a produo de fora(22). No presente estudo, a atividadede endurance prvia no promoveu alterao na concentrao plas-mtica de glicose no momento do teste de fora. Esse fato, somado ausncia de interferncia no treino concorrente executado commembros alternados, refora a proposta da hiptese aguda (mscu-lo-especfica).

    Apesar de o exerccio de endurance (treino de corrida) no afetara execuo do supino, vale reportar que neste estudo tambm foiobservada reduo (~33%) no nmero de repeties mximas no leg-press 45o (dados no apresentados). Da mesma forma que nos estudosanteriores conduzidos pelo nosso grupo(7,8), no presente estudo, foiverificado o efeito adverso do exerccio de endurance sobre o desem-penho de fora, quando os mesmos membros so recrutados.

    Outro resultado interessante foi a ausncia de interferncia dotreino de endurance para dois tipos diferentes de fora: isomtrica(dinammetro) e dinmica (supino). Leveritt et al.(21) demonstraram queos diferentes tipos de fora so afetados de forma distinta pela prviaexecuo do treino de endurance. Esse padro de resposta diferencia-do entre as manifestaes da fora muscular no foi evidenciado nopresente estudo. Vale lembrar que, ao contrrio deste estudo, Leverritet al.(21) utilizaram o mesmo grupo muscular nas duas atividades.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Portanto, os resultados obtidos sugerem que possvel realizaro treino concorrente na mesma sesso, sem o comprometimentoda atividade subseqente. Para tanto, a recomendao, baseada nosresultados apresentados, de que sejam utilizados msculos alterna-dos (membros inferiores e membros superiores). Esse dado bastanterelevante, pois muito comum, por exemplo, em academias de gins-tica, a realizao de uma parte inicial da rotina de treino em esteiras ebicicletas ergomtricas que, posteriormente, complementada pelotreino de fora.

    Uma limitao do presente estudo extrapolar esses dados paraatletas, uma vez que a intensidade e a durao dos exerccios reali-zados (endurance e fora) foram inferiores quelas preconizadas notreinamento de alto rendimento. Porm, por outro lado, a intensida-de e a durao foram similares ao que prescrito, em academias deginstica, para indivduos fisicamente ativos. Nessa situao especfi-ca, na qual os msculos treinados so diferentes, provavelmente, nohaver interferncia da atividade de endurance sobre o desempenhode fora.

    CONCLUSO

    Em concluso, o treino de corrida no afetou o desempenho de

    fora mxima (isomtrica e dinmica) dos msculos pertencentes aosmembros superiores e ao tronco. Tambm no foi observada alteraono desempenho de repeties mximas. Os resultados do presenteestudo indicam que a interferncia observada em uma sesso de trei-no concorrente apresenta carter msculo-especfico, reforando aproposta da hiptese aguda.

    Todos os autores declararam no haver qualquer potencial conflito de

    interesses referente a este artigo.

    Tabela 3. Glicemia (mg.dL-1) no incio do experimento (1 coleta) e imediatamenteantes da dinamometria (2 coleta) sem prvia execuo do treino de corrida (SC) ecom prvia execuo do treino de corrida (CC)

    Glicemia SC (n = 13) CC (n = 13)

    1 coleta (mg.dL-1) 83,4 9,6 77,3 10,9

    2 coleta (mg.dL-1) 81,7 6,3 75,6 8,4

    Resultados expressos em mdia desvio-padro.