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SÃO JOÃO EM MIGUEL CALMON-BAHIA: ANÁLISE DO POTENCIAL TURÍSTICO CULTURAL PARA A CIDADE. FABIANA NERY DOS SANTOS 1 SALETE VIEIRA 2 Resumo: O presente artigo tem como principal objetivo analisar o potencial do São João Calça Curta enquanto produto turístico para o município de Miguel Calmon Bahia. A pesquisa foi realizada entre os dias 21 a 23 de Junho de 2013, data em que ocorreu o festejo junino no destino. Este evento encontra-se respaldado na tradição e cultura da população local. Como suporte teórico, utilizou-se aspectos relacionados com manifestações culturais, eventos culturais, potencialidades, a partir dos estudos de renomados autores, além de uma ampla revisão de literatura a respeito do festejo junino e Cultura. Esta pesquisa possui natureza qualitativa e investigação exploratória, descritiva, seguida da análise de variáveis, essas que foram essenciais para assegurar o potencial do São João Calça Curta como produto turístico cultural para o município. Palavras-chave: Turismo; festas juninas; São João, potencialidade; eventos culturais. Atualmente milhares de turistas se deslocam de suas regiões e vão a outros destinos em busca de novas 1 Graduanda no curso de Turismo da Universidade do Estado da Bahia-UNEB, Departamento de Ciências Humanas e tecnologias-campus XVIII. E-mail: [email protected] 2 Graduada no curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Oeste do Paraná; Mestrado em Cultura & Turismo - Parceria UESC/UFBA pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil (2012); Coordenadora Local Curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia; Docente do curso de Turismo na Universidade do Estado da Bahia- Campus XVIII. E-mail: [email protected]

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SÃO JOÃO EM MIGUEL CALMON-BAHIA: ANÁLISE DO POTENCIAL TURÍSTICO CULTURAL PARA A CIDADE.

FABIANA NERY DOS SANTOS1

SALETE VIEIRA2

Resumo: O presente artigo tem como principal objetivo analisar o potencial do São João Calça Curta enquanto produto turístico para o município de Miguel Calmon Bahia. A pesquisa foi realizada entre os dias 21 a 23 de Junho de 2013, data em que ocorreu o festejo junino no destino. Este evento encontra-se respaldado na tradição e cultura da população local. Como suporte teórico, utilizou-se aspectos relacionados com manifestações culturais, eventos culturais, potencialidades, a partir dos estudos de renomados autores, além de uma ampla revisão de literatura a respeito do festejo junino e Cultura. Esta pesquisa possui natureza qualitativa e investigação exploratória, descritiva, seguida da análise de variáveis, essas que foram essenciais para assegurar o potencial do São João Calça Curta como produto turístico cultural para o município.

Palavras-chave: Turismo; festas juninas; São João, potencialidade; eventos culturais.

Atualmente milhares de turistas se deslocam de suas regiões e vão a outros destinos

em busca de novas oportunidades, conhecimento do outro e a vivência de culturas distintas,

gerando para o destino local relevantes benefícios. Isso ao se levar em considerações seus

efeitos multiplicadores nos aspectos sociais, culturais, econômicos, ambientais e políticos

(BRASIL, 2010).

Tal precedência dá-se através da necessidade humana por festejos, tradições, pela fuga

da sua rotina e a representação histórica que transcorrem em fatos que garantem a qualidade

de vida e a manutenção das relações sociais. No entanto, o turismo surge como principal meio

de suprir as expectativas e anseios da demanda que atualmente encontra-se cada vez mais

exigente e buscando em seus itinerários novos segmentos. Assim, os eventos culturais têm

sido a priori para os turistas, uma vez que, o mesmo traz em suas manifestações a

representatividade da cultura local e o modo de vida de um povo, agregando para os visitantes

a inserção e conhecimento do lugar visitado (FOSCARINI, 2009).1Graduanda no curso de Turismo da Universidade do Estado da Bahia-UNEB, Departamento de Ciências Humanas e tecnologias-campus XVIII. E-mail: [email protected] no curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Oeste do Paraná; Mestrado em Cultura & Turismo - Parceria UESC/UFBA pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil (2012); Coordenadora Local Curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia; Docente do curso de Turismo na Universidade do Estado da Bahia- Campus XVIII. E-mail: [email protected]

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Essas celebrações têm um grande potencial de atração de turistas para localidades em

que não há nenhum atrativo turístico, sem o qual não seria possível captá-los e fidelizá-los.

Neste contexto, o município de Miguel Calmon, localizado ao norte da Chapada ficando a 368

km da capital, Salvador – Bahia, limitando-se a leste com o Município de Várzea do Poço, a

sul com Piritiba, a oeste com Morro do Chapéu e a norte com Várzea Nova e Jacobina e com

população total de 28.267 habitantes, em 1997 passou a realizar o festejo junino, conhecido

como “São João Calça Curta”. Esse festejo de origem popular e religiosa é a expressão

cultural do município e mantém-se respaldado pela tradição, inovação e incentivado pelas

entidades e população local e a demanda que o visita.

Assim, pretende-se através da problemática averiguar se é possível formatar o festejo

junino, São João Calça Curta, como um produto turístico cultural para o destino. Como

objetivo geral buscou-se analisar o potencial do festejo Junino São João Calça Curta no

município de Miguel Calmon enquanto produto turístico cultural. E para os objetivos

específicos, foram enumeradas as seguintes pretensões: Refletir sobre as manifestações

culturais populares enquanto atrativos turísticos para alguns destinos; Apresentar as

características artístico-culturais do festejo Junino “São João Calça Curta” enquanto

manifestação cultural; Levantar dados sobre o produto turístico do município e seu potencial

para o turismo.

CONTEXTO HISTÓRICO DO TURISMO E SUAS SEGMENTAÇÕES

O deslocamento humano deu-se a partir da necessidade humana em estar em contato

com o desconhecido. Os ancestrais possuíam o hábito de viajar, isso dado pela busca de

refugio e sobrevivência. Muitos estudiosos acreditam que a prática do turismo teve início na

pré-história, mas sabe-se que não há relatos concretos de quando essa atividade iniciou-se

(BARRETO, 1999).

As viagens por motivações religiosas foram as principais fomentadoras do turismo da

época, pois, eram de praxe a formação de grupos de peregrinos que se deslocavam de suas

regiões para prestarem cultos ou realizar missões em outros lugares. Houve também viagens

para a Grécia Antiga, por causa dos jogos olímpicos que aconteciam a cada quatro anos. Tal

procedência contribuía para a valorização cultural e religiosa dos indivíduos envolvidos, uma

vez que, tal contato despertava aos mesmos o desejo de conhecer o outro e partilhar de novas

experiências (ARENDT, 2002).

As excursões constituíram uma atividade enriquecedora, propiciando trocas culturais

entre os diferentes povos. No Gran Tour, os jovens, após o término do curso superior, faziam

um estágio nas principais cidades da Europa, que tinham muita história, visitavam museus,

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apreciavam a gastronomia e as artes. No Oriente, eram feitas viagens culturais, semelhantes às

viagens dos jovens europeus, talvez um Grand Tour do Islã (BARBOSA, 2002).

Abordar sobre o turismo e suas segmentações requer uma analise sucinta de todos os

meios que o compõem. Todavia, é evidente a importância que a segmentação tem para o

desenvolvimento turístico em seus diversos setores.

A necessidade de se segmentar o mercado turístico surge devido ao fato de as empresas e

entidades desejarem atingir, de maneira eficaz e confiável, a demanda e sua potencialidade a

fim de contribuir no desenvolvimento turístico das localidades inseridas. Mas, para isso, os

mesmos utilizam meios para abarcar todo esse público que se dispõe a consumir bens e

serviços encontrados nestes destinos (PANOSSO, 2009) Para o Ministério do Turismo (2010)

segmentar o turismo é,[...] é uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda.

A ressalva acima é fruto da extensa procura pela especialização dada pelo mercado

turístico e também por causa dos turistas ou consumidores que estão colocando no turismo

alguns de seus anseios e necessidades de fuga da vida cotidiana. Daí a origem da imensa

busca pela segmentação no turismo.

O PRODUTO TURÍSTICO: ANÁLISE DA POTENCIALIDADE

Para que o turismo desenvolva a potencialidade, o destino deve apresentar elementos

capazes de fomentar e atender a demanda através de sua atratividade e serviços, esses podem

ser considerados como produto turístico.

Para Bignami (2004, p. 174) o produto turístico é conceituado como uma "cadeia de

oferta, na qual cada ponto interfere no resultado final e se constitui em um elemento

fundamental para a satisfação das necessidades do consumidor". Desta maneira a oferta

apresenta-se identificada como primordial em um destino, essa deve estar intrinsecamente

voltada para os elementos naturais e culturais seguida de seus complementos como a

infraestrutura turística local para garantir resultados eficazes na realização da atividade

turística nas regiões. Na definição de Middleton (2001).“O produto turístico pode ser definido como um pacote de componentes tangíveis ou não, com base na atividade de um destino. O pacote é percebido pelo turista como uma experiência disponível a um determinado preço.”

Nesse sentido, pode-se dizer que o produto turístico responde a necessidade de um

destino em seus variados aspectos e proporciona a oferta de seus produtos turísticos de

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maneira a conquistar e atrair a demanda. Os atrativos ganham relevância neste sentido, pelo

fato dos mesmos serem capazes de motivar o turista a viajar até determinada localidade uns

em busca do contato com a natureza (rios, praias, montanhas, cachoeiras, ilhas, etc) outros a

procura dos elementos culturais, esse de valores material ou imaterial, como presentes nas

manifestações culturais, comidas típicas, patrimônios culturais entre outros (ANDRADE,

200).

Para Dominguez (1994) os atrativos turísticos são caracterizados como tudo aquilo

que atrai. Porém para a atividade turística não basta somente atrair é necessário ter a

possibilidade de uso. Para desenvolvimento adequado deste atrativo é indispensável o apoio

da comunidade e das autoridades locais. Nesse aspecto, observa-se que se deve ter por parte

de ambos uma postura bastante concisa em atentar-se quanto à exploração da atividade

turística sem deixar de lado a atenção aos fatores negativos.

TURISMO CULTURAL

O turismo cultural pode ser considerado como um dos principais segmentos do

turismo, e de modo geral associado com outras atividades turísticas. O mesmo ainda pode ser

definido como uma atividade de lazer em parâmetro educacional que contribui na

conscientização do visitante e sua apreciação cultural local em todos os seus elementos

histórico, artístico, social e político (OLIVEIRA, 2010)

Esse segmento tem sido encarado atualmente como elemento fundamental para o

desenvolvimento de uma região e têm contribuído para promover o envolvimento das

comunidades com sua história, seus atrativos culturais e sua memória social (CRUZ, 2008).

Beni (2006) vem ressaltar que esse segmento turístico está relacionado á influência de

turistas a núcleos que oferecem como produto essencial o legado histórico do homem em

distintas épocas, representado a partir do patrimônio e do acervo cultural encontrado nas

ruínas, nos monumentos, nos museus, e nas obras de arte. Logo, compreende-se que o turismo

cultural em sua interface estar voltado para as modificações e ações humanas em detrimento

de um tempo e espaço com intuito de assegurar à sociedade vindoura a representatividade da

cultura local. Para Goeldner (2002)O turismo cultural cobre todos os aspectos através dos quais as pessoas aprendem sobre as formas de vida e pensamento umas das outras. O turismo, assim, é um importante meio para promover relações culturais e cooperação intercultural.

Essa abordagem engloba todos os enfoques relacionados aos aspectos culturais e

aponta que a motivação de um turista pela cultura, ou seja, o que o faz viajar vários

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quilômetros, estar em conhecer o outro, participar do cotidiano e da história de um novo

grupo.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS COMO ATRATIVO TURÍSTICO

As manifestações culturais são marcadas pela representação cultural de um povo. São

elas também, responsáveis pela divulgação e formatação dos destinos inseridos. Suas

diversificações atraem inúmeras demandas que procuram conhecimento e a representação

cultural da população local.

Sob essa perspectiva, é imprescindível defini-la para compreender as características

presentes em suas diversas facetas. Para Carvalho (200, p. 64),“As manifestações culturais estão no centro do espaço ocupado hoje pelos estudos folkcomunicacionais. A partir este diagnóstico inicial, as mesmas podem ser entendidas como formas de expressão da cultura de um povo constituindo movimento de determinada cultura, em época e lugar específicos.”

Atrelado a isso, esta também tem a capacidade de fomentar o turismo nos destinos

ainda não formatados, através do despertar da demanda para a vivência de culturas distintas.

Desta feita as manifestações culturais presentes em uma determinada localidade contribuem

para o aumento do fluxo de turistas e a divulgação da cultura anfitriã, por meio das danças,

músicas e afins.

Na visão de Bosi (2006), as manifestações culturais são expressões de grupos

específicos da cultura. Distingue-se da cultura oficial e encontra-se dispersa pelo território

nacional. Com isso, as manifestações estão relacionadas às vivências de um grupo específico.

Estas recordam no presente às práticas que se desenrolaram com o passar do tempo, que não

foram esquecidas pela comunidade e logo após são traduzidas em atrativos turísticos,

contribuindo para o desenvolvimento local por meio da atribuição de valor econômico e social

inseridas nelas.

O turismo se apropria dos espaços com valores culturais para contribuir de forma

direta ou indireta na divulgação e formatação de um novo produto para certas localidades. E

através das divulgações via meios de comunicações e especificamente das estratégias do

marketing tornam-se cada vez mais ampla a propagação turística dos destinos ainda não

fomentados e, por conseguinte a valorização das manifestações culturais encontradas nas

mesmas.

Sobre atrativo turístico Cerro (1993 p.29) afirma ser o potencial ao ser explorado em

função da atividade turística, tornando adiante, um novo recurso. Este mesmo autor explicita

sua ideia da seguinte forma:

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“Podem ser compreendidos como todo elemento natural, toda atividade humana ou todo produto antropológico que pode motivar um deslocamento, cuja movimentação básica seja a curiosidade ou a possibilidade de realizar uma atividade física ou intelectual. Em outras palavras, atividade turística unicamente tem lugar somente se existem atrações que motivem certa quantidade de pessoas a abandonar seu domicílio habitual e permanecer um tempo fora do mesmo; estas atrações se denominam Recursos ou Atrativos Turísticos.”

Com base nisto é viável assegurar que as manifestações culturais são um atrativo

turístico, isso se da pela capacidade que a mesma tem de atrair diversas demandas às

localidades, essa vem experimentar e vivenciar uma nova cultura, seguida da apreciação dos

ritos e danças que são capazes de expressar o modo de viver de um determinado grupo e

repassar suas diversidades culturais.

EVENTOS CULTURAIS: FESTIVIDADES JUNINAS DO BRASIL E NA

BAHIA

Os eventos culturais têm despertado o desejo da demanda em visitar localidades

portadoras desses atrativos para conhecer e experimentar esse novo segmento. De acordo com

Martin (2003, p.40), “Estes eventos culturais não são mais do que um conjunto de

atividades concentrado num curto período de tempo, com um

programa pré-definido. De múltiplas temáticas e dimensões, o seu

denominador comum reside no seu carácter diferenciado e único

relativamente à oferta turística permanente, o que os eleva acima do

comum/quotidiano.”

Pode-se afirmar, portanto que os festejos culturais são os resultados da mistura de

distintas culturas provenientes das várias etnias que participam da construção cultural de

determinada cidade ou região e que contribuem ao longo dos tempos para a propagação

turística cultural da mesma (RIPOLLY, 2003).

Essas atividades culturais têm o potencial de captar a atenção dos turistas, estimulando

a repetição de visitas aos destinos inseridos. Isso é dado através da interação e vivência dos

turistas com a história e a cultura da comunidade, seu envolvimento nas manifestações

culturais e experiências adquiridas de forma natural. Para a população anfitriã, os eventos

tornam-se uma alternativa de lazer, possibilitam e incentivam a troca cultural entre os

residentes e visitantes, isso aumenta a estima da comunidade, que passa a enxergar o

patrimônio cultural como parte de sua riqueza.

No Brasil, por exemplo, há significante procura da demanda por festejos culturais e

especificamente os que ocorrem no mês de Junho, isso dado pela religiosidade, interesse

cultural e identidade presentes nestes eventos. Tal busca é o reflexo da variedade cultural

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existente nas regiões brasileiras e que possuem o potencial essencial para atrair inúmeros

foliões que vêm aos destinos à procura de novas experiências e lazer. A exemplo disso, é o

festejo que ocorre em Campina Grande, intitulado de “O Maior São João do Mundo” que atrai

todo ano centenas de turistas ao destino. Sua importância estar baseada na diversidade,

qualidade, quantidade e originalidade de suas atrações artísticas, sua representatividade

cultural e também nos dados estatísticos sobre sua contribuição econômica, investimentos do

setor público e privado, interesse da mídia, fluxo turístico e, em especial, a participação da

população local, tornando-o assim, um dos maiores e renomado evento cultural do Brasil

(CARVALHO, 2000).

É possível identificar através da mídia o grande fluxo de demanda concentrado no

destino de Campina Grande, durante o São João, isso dado pela atratividade do festejo e do

lugar. Tal fator é o reflexo de uma vasta organização, divulgação e principalmente do

planejamento, esse capaz de fomentar o turismo do destino e sua propagação em nível

mundial.

É relevante afirmar que nos dias atuais os festejos juninos têm ganhado outras

caracterizações, são acrescidas as festas particulares, com camisas padronizadas, os chamados

“Blocos Juninos”. Outro elemento que reforça esta análise está na contração das atrações dada

pelos organizadores, essas bastantes diversificadas e com ritmos que diferem do tradicional, o

forró, há também o uso de camarotes e camisas que garantem o acesso ao evento. Tais

elementos contribuem para a descaracterização do sentido junino e a desvalorização da

cultura, uma vez que tais fatores modificam o sentido do festejar, esse atrelado aos costumes

do homem do campo e, por conseguinte a exclusão da população local.

A Bahia, assim como o Brasil é um país que possui grande diversidade cultural e suas

manifestações culturais estão intrinsecamente voltadas para a tradição e vivência de um

determinado grupo. Dessa maneira, os seus festejos atraem milhões de visitantes para os seus

respectivos destinos, a exemplo do Carnaval em Salvador Bahia, sendo este considerado o

melhor Carnaval do mundo (FISHER, 2007).

Deste modo, como o carnaval, os festejos juninos também possuem grande relevância

na Bahia, tornando-se uma das festas mais importantes do estado. Esse evento tomou grandes

proporções se estendendo por quase toda a Bahia como, o São João em Senhor do Bonfim, em

Macaúbas, Piritiba, Cachoeiras, entre outros.

HISTÓRICO DO SÃO JOÃO CALÇA CURTA

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O município de Miguel Calmon-Ba se constitui pelo processo de adaptação humana e

suas modificações ao longo do tempo. Outro fator vigente dar-se pela sua diversidade cultural,

natural e sua localização geográfica. Neste quadro material destaca-se uma miríade de

manifestações culturais e religiosas conhecidas como o festejo junino, São João Calça Curta,

Terno de Reis, entre outros.

Quanto à realização do São João de Miguel Calmon-Ba deu-se de forma bem popular.

As famílias faziam nas portas de suas casas fogueiras, algumas de ramos com prêmios,

bebidas, frutas etc. Era comum a existência de competições para se escolher, dentre muitas e

enfeitadas fogueiras aquelas que se destacavam pelo maior número de enfeites e premiações.

Com o retorno das famílias calmonenses, que residiam em Salvador, em época de

férias, começou-se a ser cobrado que a cidade deveria promover a festa junina de forma

ampla, em praça pública. Em 1997, organizou-se uma grande barraca de palha em quatro

águas onde era possível encontrar bebidas e comidas típicas, a exemplo de milho assado,

porco assado, bolos, quentão, licores e tantas outras guloseimas. A seguir, a Praça Lauro de

Freitas se tornou palco, naquele ano, para o encontro das famílias que visitavam a cidade de

Miguel Calmon-Ba. Os representantes perceberam a importância de tal encontro e passaram

no ano seguinte a realizarem maiores proporções de atrativos à festa. Para isso, foi convocada

uma reunião, onde o principal motivo era a escolha do nome para o festejo, surgiu então o

nome de “Arraiá Calça Curta” indicado pelo Sec. De Ação Social da época que também

organizava as festas (SOUZA, 2013).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O objetivo que se pretende alcançar neste trabalho é o resultado da junção da

apreciação teórica, exploratória, descritiva e qualitativa que serão aplicados aos segmentos do

turismo, em especial ao turismo cultural seguido da análise do objeto de estudo desta pesquisa

que é o potencial do são João Calça Curta enquanto produto turístico na cidade de Miguel

Calmon-Bahia. Quanto aos fins, esta pesquisa é descritiva, no sentido em que demonstrará

características da cidade e do festejo em questão, explicativa, uma vez que buscará esclarecer

quais os fatores condicionantes do São João Calça Curta enquanto potencialidade ou atrativo

turístico para a localidade e qualitativa pelo fato de que observará a relevância do festejo para

a população e a demanda que o visita.

Foram utilizadas algumas técnicas de pesquisa, como: a teórica documental partindo

do levantamento e revisão de literatura para a elaboração conceitual e definição do fenômeno,

Pesquisa em campo através de aplicação de entrevistas semiestruturadas, com o prefeito de

Miguel Calmon e o Secretário Municipal de Cultura e Esportes, esses responsáveis pela

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realização do São João na cidade e também com alguns moradores do local, para saber qual a

contribuição que este festejo os proporciona. Para maiores compreensões sobre o tema

abordado, buscou-se apresentar três variáveis. São elas:

Participação da comunidade;

Equipamentos turísticos;

Representações culturais e atrativos turísticos.

ANÁLISE DA PESQUISA

De acordo com as variáveis apresentadas foram analisados os itens participação da

comunidade, Equipamentos turísticos e Representações culturais e atrativos turísticos. Essa

análise se deu através de pesquisa de campo, análise in loco da festa em 2013, registro

fotográfico e entrevista com o secretário de cultura e o prefeito atual do município.

COMUNIDADE

A participação da população local é de suma importância, pois, é esta que conhecem

mais do que ninguém os aspectos históricos, culturais e políticos das regiões em que residem.

Na pesquisa de campo observou-se que o São João Calça Curta do município de

Miguel Calmon surgiu da iniciativa da comunidade local, quando esta se reunia em grupo nos

bairros e casas e realizavam o festejo, representando-o com competições de quadrilhas,

fogueiras entre outros. Essas traziam consigo a realidade, identidade e tradição deste povo

(SOUZA, 2013).

Atualmente ocorreram alterações neste cenário, o festejo ganhou amplitude e passou a

ser realizado em praça pública, mas os residentes continuaram participando do evento, isso

notado na oferta gastronômica durante o São João e também nas apresentações das quadrilhas

e outras manifestações. Quanto às quadrilhas essas são reconhecidas como criações

representativas do São João Calça Curta. Dividem-se em dois tipos: as tradicionais, também

chamadas de caipiras formadas por alunos das escolas do município, e as adaptadas que são

compostas pelos moradores dos bairros. Ambas, organizadas em coletividades, são motivadas

pela competitividade nos festivais realizados no transcorrer de cada ano e em diferentes

localidades. Contudo, para os quadrilheiros calmonenses, a disputa mais acirrada é realizada

dentro da programação da festa. A rivalidade é alimentada ao longo dos anos entre os grupos

e seus respectivos bairros, que leva os componentes a se dedicar no seu planejamento,

organização, ensaios e apresentação.Figura 1: Quadrilha realizada por alunos das escolas do município e moradores locais 2013.

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Tirado por: Soares, Tarcísio, 2013.Além das quadrilhas, durante o festejo há enorme oferta e consumo de alimentos e

bebidas em diferentes lugares de realização do evento. A gastronomia para a comunidade

local é um dos principais vetores econômicos e exemplo das interfaces culturais da festa, pois

esta reforça a tradição e identidade do homem do campo e agrega valores para os envolvidos.

Como visto durante o São João Calça curta em 2013, a comunidade local utilizam de

seus dotes culinários para representar a gastronomia local e decoram suas barracas a caráter

junino reforçando o verdadeiro sentido de festejar o São João no município.

Oliveira (2002) descreve que desenvolvimento social pode ser considerado

componente participativo da cidadania, mesmo no capitalismo desregulado e em tempos de

globalização. Assim os grupos que participam do São João Calça curta em Miguel Calmon,

transpõe as barreiras da modernidade e insere na perspectiva de buscar na essência da cultura

calmonense formas de interpretação, por meio das músicas e danças, expressar o passado e

presente em símbolos impregnados no espaço.Figura 2: Barracas de comidas típicas, comunidade local, 2013.

Fonte: pesquisa em campo, 2013.Durante a pesquisa em campo, 21, 22 e 23 de Junho de 2013, notou-se que houve uma

grande concentração de barracas ao entorno do espaço do evento, isso garantiu como visto, o

aumento da venda dos produtos que foram ofertados, gerando maior rentabilidade para os

envolvidos. Assim pode-se considerar que este festejo além de reforçar a cultura local gera

benefícios financeiros para os participantes locais. Além disso, os grupos diretamente

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envolvidos (idosos, adultos, jovens e crianças) sem distinção etária, sentem gratificado, o que

se pode considerar como fator positivo, pois contribui para garantia da divulgação do grupo e

valorização do sentimento de pertencimento com a localidade.

EQUIPAMENTOS TURÍSTICOS

A atividade turística é fundamental para o desenvolvimento econômico, social,

histórico dos destinos inseridos. Mas, para que haja o aumento do fluxo da demanda, a esses

lugares, faz-se necessário um conjunto de equipamentos que visem o acesso rápido e seguro

aos mesmos.

Quanto à infraestrutura e a superestrutura podem ser consideradas como formas de

compor alternativas de destinações. De acordo com Cooper (2001) ela representa todas as

formas de construção em um ambiente urbano que auxilia a destinação turística, composta

principalmente na forma de transporte (estradas, ferrovias, aeroportos, estacionamentos),

serviço de utilidade pública (eletricidade, água e comunicações) e outros serviços (saúde e

segurança) que normalmente são compartilhados por residentes e visitantes (BENI, 2003).

Assim, durante a pesquisa em campo pode-se constatar que o município de Miguel

Calmon dispõe dos serviços de saneamento básico, limpeza pública, rede elétrica, água,

quatro agências bancárias (Banco do Brasil, SICOB, Caixa Econômica e Banco do Nordeste),

uma delegacia, pousadas, restaurantes, transportes, um hospital, vários postos de saúde, várias

clínicas particulares, três postos de combustíveis, um terminal rodoviário, entre outros

equipamentos essenciais para atender a demanda que o visita durante o São João.

Como equipamento para o evento, esse de caráter público há uma alteração no espaço

que sedia a festa. São inseridos neste como suporte para a população e demanda, barracas,

banheiros químicos, palco para a apresentação dos artistas, local de primeiro socorro, placas

informativas, entre outros, esses essências para a realização do evento e prestação de serviço

com qualidade para os turistas. Com isso, entende-se que esses equipamentos são essenciais

para o município, uma vez que, com eles o evento ganha maior visibilidade e garante a

permanecia dos turistas na localidade. Sua ausência implicaria no cancelamento do festejo e a

fuga da demanda para outras localidades.

REPRESENTAÇÕES CULTURAIS E ATRATIVOS TURÍSTICOSA representação cultural é fator de extrema relevância para qualquer destino. Nesta

perspectiva, em Miguel Calmon durante o São João Calça Curta os elementos culturais podem

ser notados na ornamentação, esta baseada na vida do homem do campo. Figura 3: Ornamentação do espaço do evento, 2013

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Fonte: Soares, Tarcísio, 2014.Nota-se que a ornamentação do espaço onde acontece o festejo “São João Calça

Curta” trata-se da origem e identidade da comunidade local e dos residentes em zona rural.

Tal tradição reforça a necessidade da integração entre o homem do campo e da cidade, essa

tão importante para conhecimento e valorização de suas culturas.

Durante a realização do São João Calça Curta, predominou como visto a apresentação

de artistas que cantam os ritmos do Forró. Ressalta-se que a maioria das contratações são

realizadas pela prefeitura e parceria com outros organizadores, seus critérios baseiam-se em

trazer cantores de renome nacional e que possuem a capacidade de atrair um grande fluxo de

demanda. Além de contratar cantores de renome, os organizadores do evento dão prioridade

as bandas locais, essas que trazem consigo músicas voltadas para o homem do campo e a

representatividade da cultura Calmonense.

Outro atrativo presente no destino é o Grupo dos Caracterizados, que durante o

segundo dia do festejo Junino, dia 22, sai à tarde para animar os turistas. Esse conjunto é

formado por residentes do município e tem por finalidade demonstrar um pouco dos costumes

locais e contribuir para a permanência da demanda no destino.

Muitos dos turistas que permanecem no município durante as datas do festejo, 21, 22 e

23 de Junho, acabam estendendo seus dias para poder prestigiar as manifestações culturais, a

feira de artesanato que acontecem no destino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo por possuir capacidade de atrair inúmeras demandas, de várias partes do

mundo e estar altamente inserido nos aspectos social, cultural, econômico e político pode ser

considerado como um instrumento fundamental para o desenvolvimento turístico dos destinos

envolvidos. Além disso, são os seus variados segmentos que motivam os turistas a se deslocar

de suas regiões para conhecer e vivenciar novas culturas em diversas localidades.

Ressalta-se que os eventos e manifestações culturais por sua vez é um dos segmentos

do turismo de forte influência no Brasil, isso dado pela história, tradição e identidade cultural

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do povo. A propagação deste é dada pelo aumento da procura da demanda por atividades

culturais e também, pelas estratégias efetivas de diversificação da oferta turística encontradas

nos destinos. A exemplo disso estão os festejos juninos, como expressão das manifestações

culturais e que possuem a capacidade de demonstrar através das danças, músicas, comidas

típicas a representatividade da cultura de determinado grupo. Desta feita, entende-se que o

turismo é um fenômeno social que contribui para o desenvolvimento econômico das

localidades envolvidas e seus variados segmentos reforçam o desejo e motivação das

demandas em viajar cada vez mais para diversas regiões brasileiras em busca de novos

conhecimentos e experiência a cerca das distintas culturas.

Assim, o São João Calça Curta como manifestação e potencial cultural, possibilitou o

deslocamento de diversas demandas para o município e mobilizou a população local na

organização e montagem de sua oferta confirmando sua importância para o turismo local. Este

evento pode ser caracterizado como uma manifestação cultural a partir das respostas dadas

aos objetivos desta pesquisa e também em detrimento das variáveis, onde constatou que este

possui sua tradição e organização voltada para a cultura local.

Notou-se que diferentemente dos outros destinos, enquanto a realização do São João,

esse com diversas modificações o festejo junino em Miguel Calmon é intrinsecamente voltado

para a tradição e valorização cultural fato esse que o mantém como principal atrativo do

município e podendo ser considerado como um potencial turístico cultural mediante a

conceituação de cultura, este presente neste trabalho.

Em síntese afirma-se que através de pesquisas, análises, revisão literária, leituras de

artigos, entrevistas, buscas na mídia, observação in loco, fotografias, entre outras fontes,

percebeu-se que o São João Calça Curta no Município de Miguel Calmon possui

potencialidade enquanto manifestação cultural para o destino.

REFERÊNCIAS

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