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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.20, n 1, jan- mar de 2014

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    IDENTIFICANDO E SUPERANDO DIFICULDADES NA RELAO COGNITIVAENTRE TCNICO E PRODUTOR RURAL: UMA ABORDAGEM BASEADA NA

    BIOLOGIA DO CONHECER

    Antonio Waldimir Leopoldino da Silva1

    RESUMO

    A adequada transmisso de conhecimentos tcnico-cientficos ao produtor ruralconstitui um dos fatores determinantes do xito da atividade agropecuria. Este artigovisa analisar a relao cognitiva existente entre tcnico e produtor rural, tendo, comopano de fundo, a Biologia do Conhecer, concepo desenvolvida pelos cientistas

    Humberto Maturana e Francisco Varela. So apresentadas as dificuldades e barreirasque fazem com que o conhecimento tcnico no chegue ao produtor ou no sejaadequadamente assimilado e empregado. Faz-se necessrio que o saber doassistente tcnico ou extensionista rural dialogue com o conhecimento local, ou seja,o tcnico deve desempenhar o papel de educador-educando e o produtor, o deeducando-educador. Sendo gerado em um processo que se retroalimenta, oconhecimento assume a dimenso autopoitica, porque produz a si mesmo e produznovos saberes. Refora-se a importncia de elementos como dilogo, cooperao,comprometimento, aceitao e respeito mtuo entre os atores.

    Palavras-chave: conhecimento local, conhecimento cientfico, extenso rural,Maturana e Varela, produtor rural.

    IDENTIFYING AND OVERCOMING DIFFICULTIES IN THE COGNITIVERELATION BETWEEN TECHNICIAN AND RURAL PRODUCER: AN APPROACH

    BASED ON BIOLOGY OF KNOWING

    ABSTRACT

    The adequate transmission of technical and scientific knowledge to rural producer isone of the factors determining the success of agricultural activity. This article aims toanalyze the cognitive relationship between technician and rural producer, having as abackdrop the Biology of Knowing, conception developed by the scientists HumbertoMaturana and Francisco Varela. The paper presents the difficulties and barriers whichprevent the technical knowledge from reaching the producer, or which prevent it frombeing properly assimilated and employed. It is necessary that the knowledge of thetechnical assistant or rural extensionist dialogues with local knowledge, i.e., thetechnician must play the role of educator-learner and the farmer, on his turn, must playthe role of learner-educator. Being generated in a process that provides feedback, the

    1 Engenheiro Agrnomo, Mestre em Zootecnia, Doutorando em Gesto do Conhecimento da

    Sustentabilidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Professor Efetivo doDepartamento e curso de Zootecnia da Universidade do Estado de Santa Catariana (UDESC)Santa Catarina, SC, Brasil, E-mail: [email protected]

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    knowledge takes on the autopoietic dimension, because it produces itself andproduces new knowledge. The importance of elements such as dialogue, cooperation,commitment, acceptance and mutual respect among actors is reinforced.

    Key words: local knowledge, Maturana and Varela, rural extension, rural producer,scientific knowledge.

    1. INTRODUO

    Considerada um processo educativo por excelncia, a assistncia tcnica eextenso rural (ATER) ocupa relevante papel no que tange promoo dodesenvolvimento da ruralidade e elevao da qualidade de vida de sua populao.O fundamento e ponto central das atividades de ATER a concretizao da relaocognitiva entre tcnico e produtor rural (e famlia), que envolve a construo eaplicao de conhecimentos, alm da comunicao, disseminao e intercmbiodestes. A prtica de ATER mostra que normalmente esta relao transcorre de forma

    exitosa e os objetivos que a norteiam so alcanados.Ocorre, porm, que h inmeros fatores que afetam a citada relao

    cognitiva. A concretizao de um efetivo e eficaz dilogo profissional entre as partes um destes fatores. O dilogo a base para o processo de troca de saberes e demtuo aprendizado, o qual deve ser aceito e buscado por ambas as partes, resultandoem benefcios recprocos. Contudo, no obstante sua essencialidade, por vezes estedilogo escasso, estril ou no acontece (SCHMITZ, 2005; ALVES; VALENTEJUNIOR, 2006; TAVEIRA; OLIVEIRA, 2008; DEPONTI, 2010). Tal situao leva,invariavelmente, a prejuzos no processo de ATER, e as orientaes e inovaescientficas podem no chegar ao agricultor ou no ser por este incorporadas (SILVA etal., 2010).

    Diante do quadro apresentado, entender os aspectos que cercam a relaocognitiva entre o tcnico e o produtor rural em especial suas dificuldades e barreiras fundamental para aprimor-la e, por conseguinte, alcanar maior eficincia emelhores resultados no processo de ATER. Reconhecer e identificar possveisproblemas e conflitos o ponto de partida para projetar um novo cenrio, em que aalternativa dialgica se fortalea, consolide a permuta de conhecimentos e propicieefeitos positivos. A questo que ento se coloca : quais fatores podem prejudicar oxito da relao cognitiva entre profissional de ATER e agricultor, e como contorn-los?

    Uma anlise desta natureza pode ser formulada a partir de diferentesperspectivas e alinhamentos tericos. O presente ensaio emprega como linha-mestraa concepo desenvolvida pelos bilogos chilenos Humberto Maturana e Francisco

    Varela, denominada Biologia do Conhecer. Esta teoria, e a no menos importanteBiologia do Amor", encontram-se expostas no livro A rvore do Conhecimento: asbases biolgicas da compreenso humana, constituindo um marco cientfico noestudo do processo e sentido do conhecimento. So vrios os aspectos que atribuemrelevncia viso de Maturana e Varela, mas um merece particular referncia: osautores incorporam e valorizam a subjetividade2como inerente ao conhecimento e ao

    2A subjetividade tambm assume papel de relevo nos trabalhos de Hirotaka Takeuchi e IkujiroNonaka, dois dos maiores nomes na rea de Gesto do Conhecimento. Segundo estes autores(2008), uma importante frao do conhecimento humano de natureza tcita, sendo constitudapor crenas, percepes, ideais, valores, intuies e emoes. Para Nonaka et al. (2011), asteorias sobre o conhecimento no podem ficar alheias s subjetividades humanas, citando, entreestas, os pensamentos individuais, sentimentos, ideias, motivaes e sonhos. Os autores

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    ato de conhecer, e que, portanto, deve compor a apreciao cientfica sobre o tema.Capra (2006, p.213) destaca que sendo parte de uma concepo unificadora da vida,da mente e da conscincia, a teoria da cognio de Santiago3 tem profundasimplicaes para a biologia, para a psicologia e para a filosofia.

    Maturana questionou a possibilidade do conhecimento objetivodo mundo (epistemologia) e nos remeteu ao reconhecimento deque constitumos o mundo ao distingui-lo (ontologia), no falandocomo um filsofo e sim como um bilogo, e abordando entocientificamente questes at ento reservadas filosofia enegligenciadas pela cincia. (VASCONCELLOS, 2008, p.167).Portanto, no estamos tratando de uma teoria, estamostratando da criao de um espao para reflexo e para a aoque prope um outro olhar sobre nosso viver humano, ou seja, oque Maturana faz nos desafiar a seguirmos uma outraperspectiva epistemolgica a partir da biologia do conhecimentoe da biologia do amor. (ROSSETTO, 2010, p.5-6).

    Considerados tais elementos, este ensaio tem por objetivo analisar a relaocognitiva entre tcnico e produtor rural, no sentido de compreender suas dificuldadese pontos de ruptura, bem como projetar posturas e aes que a aprimorem, utilizandoa concepo terica de Maturana e Varela como lente e referencial.

    Tendo em vista o recorte temtico em tela, a abordagem direciona-se aagricultores que necessitam de orientao tcnica e a utilizam ou desejam utilizar a fim de elevar a eficincia produtiva de suas atividades, e, de modo especial, aosprodutores que constituem a agricultura familiar e/ou que dependem da ATER deorigem pblica. Ressalta-se, ainda, que o texto narra certas posturas tcnicas tpicasda ATER de cunho difusionista, a qual, no obstante ser alvo de fortes crticas, aindaest presente no meio rural brasileiro (ALVES; VALENTE JUNIOR, 2006; DEPONTI,

    2010). Aps esta introduo, o artigo apresenta alguns conceitos que integram aviso sistmica de Maturana e Varela, e que so a base das discusses que sedesenrolaro. No tpico seguinte, realiza-se um breve diagnstico dos problemas ebarreiras que ocorrem na relao entre tcnico e produtor rural e que adquiremimportncia medida que interferem diretamente no xito do processo cognitivo. Aseguir, conceitos da Biologia do Conhecer so empregados para descrever e analisara interface cognitiva entre os atores, tanto quanto as dificuldades que lhe soprprias. O quinto item procura mostrar como estas dificuldades podem sersuperadas, enfatizando a necessidade de associar as condies de educando e deeducador, bem como de empregar a Biologia do Amor. Encerra-se o trabalho com asconcluses decorrentes do estudo.

    2. REVISITANDO ALGUNS CONCEITOS DA VISO SISTMICA DE MATURANAE VARELA

    O pensamento sistmico, importante marco paradigmtico do final do sculoXX, pauta-se na tese de que as propriedades substanciais de um organismo ousistema vivo so propriedades do todo que nenhuma das partes possui, ou seja, a

    consideram que o conhecer (e o sentido atribudo ao conhecimento) mediado por aspectosintrnsecos ao indivduo: o conhecimento a informao que significativa, e, (...) o significadoda informao desempenhado pela subjetividade (p.32).3A concepo terica de Maturana e Varela assim denominada por alguns autores por ter sidodesenvolvida na Cidade de Santiago, capital do Chile.

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    natureza da totalidade sempre diferente da mera soma de seus componentes(CAPRA, 2006). Assim, o trabalho de Maturana e Varela (2007) adota uma visosistmica ao considerar a existncia de organizaes em rede, as mltiplas relaes einteraes entre os componentes de um sistema, e a autoproduo tpica dos

    organismos vivos. Nesse sentido, a Teoria Autopoitica, por eles formulada, classificada como um exemplo de abordagem sistmica4(MORAES, 2004).A autopoiese , pois, a pea central e principal do iderio de Maturana e

    Varela (2007), que a definem como a capacidade apresentada pelos seres vivos eque os caracterizam de produzirem continuamente a si prprios. Capra (2006,p.136) salienta que autopoiese ou autocriao um padro de rede no qual a funode cada componente consiste em participar da produo ou da transformao dosoutros componentes da rede, de modo tal que a rede produzida pelos seuscomponentes e, por sua vez, produz esses componentes, ou seja, incessantementecria a si mesma. Segundo Capra (2005), ainda que o sistema autopoitico soframudanas estruturais5contnuas, ir conservar o seu padro de organizao em teia.Maturana e Varela (2007) afirmam que, em uma unidade autopoitica, o ser e o fazer

    so inseparveis, e tambm no h separao entre produtor e produto.Completando, ressaltam que autopoiese o mecanismo que faz dos seres vivossistemas autnomos (p.56). A autonomia constitui a capacidade de um organismo vivo ou no especificar sua prpria legalidade, ou seja, aquilo que lhe prprio.

    Na realizao e no exerccio de sua constante autopoiese, o ser vivo irinteragir com o meio em que se encontra, inclusive com outros organismos queestejam no desenvolvimento de sua respectiva autopoiese. A este processocontinuado de compatibilidade ou comensurabilidade existente entre a estrutura daunidade e do meio, onde ambos atuam como fontes de perturbaes (interaes)recprocas, desencadeando mtuas mudanas de estado, Maturana e Varela (2007)chamam acoplamento estrutural. Para os autores, mudanas de estado so asmudanas estruturais que uma unidade pode sofrer sem que mude a sua

    organizao, ou seja, mantendo a sua identidade de classe (p.110). Por conseguinte,o acoplamento estrutural muda os objetos que a sofreram ou realizaram, mas noretira deles a sua essncia continuam sendo aqueles objetos, apenas modificados.

    Capra (2006) destaca que um organismo vivo responde a influnciasambientais com mudanas estruturais, as quais alteraro seu comportamento futuro.O comportamento, ento, constitui uma resposta do organismo ao acoplamentoestrutural a que est ou esteve submetido. Maturana e Varela (2007, p.152) definemcomportamento como o conjunto de mudanas de postura ou posio de um ser vivo,que um observador descreve como movimentos ou aes em relao a umdeterminado ambiente, ao passo que, para Maturana (2006, p.63), representa umadinmica de relaes entre o ser vivo e o meio. Mas no apenas o comportamentoque se traduz como resultado da interao entre organismo e ambiente externo, umavezque Capra (2006, p.177) considera que um sistema estruturalmente acoplado

    4 A abordagem sistmica preconiza que o foco de estudo ou de ao deve ser o sistema(entendido como um conjunto de elementos voltados a um objetivo comum e suas relaes)e no apenas uma ou algumas de suas partes. Representa, segundo Capra (2006), acompreenso de um fenmeno dentro do contexto de um todo maior. No setor da pesquisaagropecuria e extenso rural, esta abordagem surge nos anos 70, como uma resposta aomtodo analtico/convencional (SCHMITZ, 2005).5Segundo Maturana e Varela (2007, p.54), entende-se por estrutura os componentes e relaesque constituem concretamente uma unidade particular e configuram sua organizao. Asmudanas estruturais de um organismo so consequnciade sua contnua interao com o meioque o cerca (CAPRA, 2006).

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    um sistema de aprendizagem. Logo, a aprendizagem6 tambm deve ser entendidacomo fruto e consequncia do processo de acoplamento estrutural.

    Neste contexto, a cognio no a representao de um mundo pr-dado,independente, mas, em vez disso, a criao de um mundo (CAPRA, 2006, p.213),

    ou seja, todo ato de conhecer faz surgir um mundo (MATURANA; VARELA, 2007,p.31-32). O conhecer, portanto, no um apenas um processo mental e biolgico,mas tambm e acima de tudo um fenmeno social.

    Assim, a partir das ideias de Maturana, entende-se que o operardos seres humanos se d em dois domnios operacionaisdistintos que se entrelaam no nosso viver: o domnio fisiolgicodo organismo, em sua dinmica estrutural interna do qual fazparte o sistema nervoso como um sistema fechado. O outro o domnio do nosso viver na dinmica relacional, que so asrelaes com os outros e com o meio, que ocorre atravs daeducao e da cultura. (ROSSETTO, 2010, p.8).

    No decorrer de sucessivos acoplamentos estruturais, cada ser constri emantm uma ontogenia prpria, isto , a sua histria de transformaes e mudanasestruturais, causadas pelas interaes que manteve desde sua estrutura inicial, sem,no entanto, perder sua organizao especfica (MATURANA; VARELA, 2007).Expressa de outra forma, a ontogenia nada mais do que a histria decomportamentos e de aprendizados daquele organismo.

    Ao moldar o indivduo, o comportamento tambm molda a sociedade, apopulao, definindo a conduta cultural, que, descrita por Maturana e Varela (2007,p.223), a configurao comportamental que, adquirida ontogenicamente nadinmica comunicativa de um meio social, estvel atravs de geraes. A condutacultural est associada a todo o conjunto de interaes comunicativas dedeterminao ontogentica que permitem um grau de invarincia ou estabilidade na

    histria de um grupo, ultrapassando o modus vivendiparticular dos indivduos que ointegram. A imitao e a contnua seleo comportamental intragrupal desempenhamimportante papel neste sistema, ao tornarem possvel o estabelecimento de umacoplamento entre jovens e adultos, por meio do qual especificada uma ontogenia,que se expressa no fenmeno cultural.

    A conduta cultural est solidamente ancorada na tradio. Maturana e Varela(2007, p.265) a entendem como sendo, ao mesmo tempo, uma maneira de ver e deagir, e tambm uma forma de ocultar. A tradio se baseia naquilo que uma histriaestrutural acumulou como bvia, regular e estvel. importante considerar ainda quea bagagem de regularidades prprias do acoplamento de um grupo social a suatradio biolgica e a sua cultura (tradio cultural). Enquanto a tradio biolgicaespelha aquilo que todos os seres humanos tm em comum, a tradio cultural estassociada herana lingustica de um dado grupo social, sendo, ento, nica e mparnaquele grupo.

    O acoplamento social e a expresso cultural fundamentam-se na existnciade um sistema de comunicao. Maturana e Varela (2007) destacam quecomunicao o desencadeamento mtuo de comportamentos coordenados que sed entre os membros de uma unidade social. , de outra forma, uma classe particularde condutas que acontece no funcionamento dos organismos nos sistemas sociais.

    6 A aprendizagem, neste caso, adquire sentido amplo e pode ser vista como absoro de umnovo conhecimento (tcito ou explcito), ressignificao de um saber pr-existente, aquisio deuma habilidade (competncia) ou mudana de postura comportamental. Cabe destacar suadupla-face, pois , ao mesmo tempo, um processo e o produto deste processo.

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    A comunicao, base da transmisso do conhecimento, est condicionada linguagem, de tal forma que Maturana (2006, p.130-131) chega a afirmar que ns,seres humanos, existimos como tais na linguagem, e tudo o que fazemos como sereshumanos fazemos como diferentes maneiras de funcionar na linguagem. A

    linguagem o fenmeno biolgico (MATURANA, 2006) que se verifica quando temos,como objetos de nossas distines lingusticas, elementos do nosso domniolingustico, ou seja, a linguagem permite, a quem funciona nela, descrever a si mesmoe sua circunstncia (MATURANA; VARELA, 2007). Segundo estes autores, alinguagem tem sua origem nos fenmenos sociais, e permeia, de maneira absoluta,toda a nossa ontogenia como indivduos, desde o modo de andar e a postura, at apoltica. Por isso, para Maturana (2006, p.101), fora da linguagem nada existe,enquanto Capra (2005, p.68) assinala que ns coordenamos nosso comportamentopela linguagem, e juntos, atravs da linguagem, criamos ou produzimos o nossomundo.

    3. DIAGNOSTICANDO PROBLEMAS E BARREIRAS NA RELAO ENTRE

    TCNICO E PRODUTOR RURAL

    O processo de transmisso do conhecimento tcnico e de difuso datecnologia para o meio rural uma ao que apresenta uma dificuldade intrnseca eque, em funo das caractersticas peculiares dos elementos envolvidos, poderesultar em insucesso. Deve-se entender, a princpio, que o homem rural e o tcnico,pretenso detentor do conhecimento que tenciona difundir, apresentam ontogeniasdiferentes e distantes, e que, deste modo, realizam um acoplamento estrutural dedifcil consolidao. No se trata, aqui, de problemas de acolhida ou derelacionamento, muito pelo contrrio. O que se verifica que, em algumas situaes,o conhecimento repassado, mas no assimilado e empregado; a tecnologia transferida, porm no adotada. Ento, cabe perguntar: por que isso ocorre?

    Um aspecto a considerar que a interao entre tcnico e produtor se d,muitas vezes, sem o interesse ou desejo deste, em um sistema paternalista em que oEstado ou uma organizao a que o produtor est vinculado assume o papel deorientador ou tutor do cidado desassistido. Ocorre, portanto, uma interveno, porvezes no positiva, na autopoiese e na autonomia da clula rural e de seusresponsveis (famlia rural). Valendo-se de uma linguagem e de formas decomunicao que nem sempre so apropriadas, porque estranhas realidade e capacidade de compreenso do ente a ser melhorado, o tcnico por vezesdesconsidera aspectos ligados tradio campesina e entra em choque comcondutas culturais firmemente consolidadas e preponderantes naquele meio. Instala-se, ento, o conflito entre o saber cientfico e o saber emprico ou experiencial, vistopor uns como algo a ser desconsiderado, pois, segundo estes, desprovido decientificidade. Diante desta invaso, no h mudana no comportamento do produtorrural e o resultado pretendido no alcanado.

    Outra questo a ser pontuada diz respeito s dificuldades e as barreirasexistentes na relao cognitiva entre os tcnicos do setor primrio e os produtoresrurais, que no so desconhecidas, nem tampouco recentes. Nesse particular, Coelho(2005, p.23) relata:

    Assim, antes mesmo de indagar por que o agricultor faz assim eno de outro jeito, o tcnico/profissional cientificado eacademizado considera que ele faz tudo errado! Ousimplesmente conclui: No assim que se faz!Consequentemente, esse profissional age como se, a princpio,

    a ao do outro no tivesse razo ou sentido. A falta de

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    disposio para saber dessas razes ou sentidos que orientamas aes do outro vem da no-percepo que as desigualdades,as diferenas sociais e os valores no so fenmenos naturaisou eternos, mas surgem em determinados contextos histricos eso constitudos a partir da interao entre os homens e destes

    com a natureza. As diferenas de classe, de recursos, deobjetivos e de projetos de futuro, ou mesmo de formas decompreenso, de valores, de condutas pessoais, refletem-se notipo e na estrutura dos saberes considerados vlidos emdeterminadas sociedades.

    Abordando a questo sob outro prisma, Campos e Almeida (2005a, p.136)destacam:

    Um importante obstculo ao desenvolvimento e apropriaode tecnologias a resistncia a mudanas, inerente ao serhumano, mas presente de forma mais intensa naquele que viveno meio rural, em decorrncia do alto risco das atividades

    agrcolas.

    A partir das observaes anteriores, pode-se perceber que a baixaefetividade na transmisso e ou aplicao do conhecimento no meio rural determinada pelas duas partes envolvidas, ou seja, o(s) fator(es) que leva(m) aoinsucesso pode(m) advir tanto do tcnico quanto do produtor, ou de ambos,simultaneamente. A mltipla causalidade do problema exige uma anlise queconsidere a inerente diversidade e complexidade dos atores envolvidos, bem como ada relao que os aproxima.

    (...) o conhecimento criado pelas pessoas a partir de suasinteraes. Portanto, necessrio compreender melhor a

    natureza do ser humano para entender o conhecimento.Primeiramente, deve-se compreender que os seres humanospossuem diferentes pontos de vista subjetivos, e que essasdiferenas so necessrias para a criao do conhecimento.(NONAKA et al., 2011, p.31).

    imperioso destacar, por outro lado, que existem inmeras experinciasbem sucedidas de interveno no meio rural, as quais, no obstante as dificuldades jdescritas, souberam evit-las ou super-las, como demonstra, por exemplo, o trabalhode Barbosa et al. (2004).

    A seguir, emprega-se o referencial terico de Maturana e Varela paraaprofundar a anlise de alguns fatores que podem prejudicar o processo de

    transmisso e construo conjunta de conhecimento entre tcnico e produtor rural.4. A RELAO COGNITIVA ENTRE TCNICO E PRODUTOR RURAL,SINTETIZADA EM CONCEITOS DE MATURANA E VARELA

    Na sua condio de organismos vivos, produtores rurais e tcnicos so,evidentemente, unidades autopoiticas. No que tange vida profissional e ao mundodo trabalho, realizam sua autopoiese por meio da prpria atividade laboral(agropecuria), que, sendo contnua, exige um constante recomear. Ocorre, ento,que a cada dia os atores apresentam-se como seres novos, uma vez que suaestrutura foi e incessantemente modificada por um processo de autoproduo ouretroproduo, atravs das experincias advindas do prprio viver e do meio, que

    incluem as atividades profissionais antes realizadas. Ao se encontrar e interagir como

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    unidades autopoiticas no exerccio de suas respectivas autopoieses, causandomtuas perturbaes, tcnico e produtor rural realizam um clssico acoplamentoestrutural de terceira ordem7(MATURANA; VARELA, 2007).

    Um acoplamento estrutural entre seres vivos pode ser de vrios tipos, de

    diversas formas e com diferentes objetivos. No caso em tela, esse acoplamentoacontece em torno da informao, da formao e da capacitao, ou seja, doconhecimento. Convm registrar que, ao nvel humano, o desencadeamento deacoplamentos estruturais no , por si s, suficiente. Mais do que isso, preciso queeles sejam simbiticos, quer dizer, capazes de satisfazerem os desejos, asexpectativas e as necessidades dos envolvidos. No que concerne a relaes decarter interpessoal, apenas os acoplamentos estruturais simbiticos soautossustentveis, ou seja, para tornarem-se estveis, duradouros e sinrgicos, osrelacionamentos devem trazer benefcios para ambas as partes. O que se percebe,entretanto, que o acoplamento entre tcnico e produtor rural poder no sersimbitico, por no provocar um resultado concreto de mudana, para melhor, nonvel cognitivo e social de seus atores. O efeito da interao entre as partes pode ser

    nulo, caso o tcnico fracasse em sua misso profissional de melhorar o desempenhoprodutivo da atividade agropecuria e a qualidade de vida da populao rural.Se o acoplamento entre os atores inexiste ou desprovido de

    sustentabilidade intrnseca, torna-se fundamental que se avalie as razes que levam aisso.

    4.1 Conduta cultural e linguagem: a relao comea (ou termina) aqui

    No h dvida que a histria ou antecedente cultural e social dos elementosenvolvidos surge como pea-chave para interpretar a dissonncia entre eles. o queMaturana e Varela (2007) chamam de conduta cultural, conforme j abordado.Tcnico e produtor rural provm de mundos diversos e so frutos de uma ontogenia

    particular e especfica, moldada pelo modo de vida ou at mesmo pela ideologia8do grupo social a que pertencem. Freire (2007, p.36) demonstra a dimenso em queisto ocorre:

    Se indispensvel que os camponeses adotem novosprocedimentos tcnicos para o aumento da produo, ento noh outra coisa a fazer seno estender a eles as tcnicas dosespecialistas, com as quais se pretende substituir seusprocedimentos empricos. Desta forma, se esquece de que astcnicas, o saber cientfico, assim como o procedimento empricodos camponeses se encontram condicionados histrico-culturalmente. Neste sentido so manifestaes culturais tantoas tcnicas dos especialistas quanto o comportamento empricodos camponeses. Subestimar a capacidade criadora e recriadorados camponeses, desprezar seus conhecimentos, no importa onvel em que se achem, tentar ench-los com o que aostcnicos lhes parece certo so expresses, em ltima anlise, daideologia dominante.

    O mesmo autor (FREIRE, 2007, p.37) complementa:

    7Maturana e Varela (2007) mostram que o acoplamento estrutural pode ocorrer aos nveis declula (primeira ordem) e de organismos pluricelulares (segunda ordem). Quando ocorre emindivduos dotados de sistema nervoso, o acoplamento estrutural dito de terceira ordem. 8Considerada, neste caso, como o conjunto de ideias, princpios, valores, opinies e ideais, sejade um indivduo ou de um coletivo.

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    O que nos parece dever ficar claro que o indispensvelaumento da produo agrcola no pode ser visto como algoseparado do universo cultural em que se d. (...) A resistnciados camponeses a esta ou quela forma mais eficaz de trabalho,que implicaria uma maior produtividade, de natureza cultural.

    Tais diferenas na conduta cultural no so necessariamente determinadaspelo nvel educacional (tempo de escolarizao) dos envolvidos, mas situam-se naesfera das tradies culturais a que estes foram submetidos por geraes a fio. ParaStropasolas (2006), at mesmo o agricultor considerado moderno guarda laosprofundos, de ordem social e simblica, com a tradio camponesa que recebeu deseus antepassados. O ambiente rural abriga conceitos, hbitos, costumes, crenas epadres de comportamento que lhe so peculiares na dinmica social. Deste fato,advm duas consequncias. Primeiro que, na dicotomia natural entre mitos e logos(MORIN, 2008), ou seja, entre subjetividade e objetividade, a compreenso daconduta cultural inclina-se ao campo daquela, sendo que o tcnico muitas vezestende a valorizar apenas o racional, o lgico e o perfeitamente mensurvel.

    Menosprezar ou desatender a questo cultural poder se tornar um equvoco deimpossvel reparao, comprometendo todo o trabalho. O segundo aspecto aconsiderar que o tcnico em atuao a campo poder ser um objeto estranho aoscostumes e natureza das tradies ali dominantes, havendo o que popularmente expresso como choque cultural. Neste caso, a possibilidade de xito do acoplamentoentre os atores reduzida.

    Em algumas situaes a resistncia do agricultor pode ser togrande que a relao de interface entre ele e o tcnico no seestabelece. Os mundos de vida reafirmam-se e mantm-se parte. (DEPONTI, 2010, p.194).

    Outra fonte do distanciamento cognitivo verificado entre produtor rural etcnico a linguagem e/ou o padro de comunicao empregado no relacionamentoentre ambos. A este respeito, Ferro Netto (2007, p.121) salienta:

    (...) dos anos 50 at o incio dos anos 90, a filosofia de trabalhopredominante entre os profissionais do setor agrcola agerao e transferncia de tecnologia aos agricultores baseou-se na teoria da comunicao de Shannon e Weaver(1949): comunicao so todos os procedimentos atravs dosquais uma mente pode influenciar a outra. As mensagens sotransferidas de fontes geradoras de conhecimento parareceptores passivos e estes, por sua vez, as decodificariam e,em seguida, as absorveriam.

    Todo ato humano ocorre na linguagem, afirmam Maturana e Varela (2007,p.269) e o esprito humano mora na linguagem, vive de linguagem e alimenta-se derepresentaes (MORIN, 2008, p.171). Em vista disso, a linguagem deve serentendida como um instrumento capaz de aproximar, mas tambm de afastar osindivduos. Isso ainda mais verdadeiro quando as pessoas em relao apresentamontogenias to diversas como a verificada no caso em anlise. Por certo, no haversucesso na atividade tcnica se a troca de impresses (de todos os tipos) e deinformaes, ou seja, a linguagem, fracassar. Cabe destacar que, neste caso, no seest referindo apenas linguagem falada, mas a todas as suas formas, incluindo ocorpo, o som, os gestos e a escrita, como destacado por Maturana (2006), e atmesmo os recursos e metodologias adotadas para expor um conhecimento ou

    apresentar uma ideia.

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    No processo de transmisso de conhecimento no ambiente rural, o meio quase sempre to importante quanto a mensagem. Assim, os desencontros delinguagem entre as partes podem conduzir a um bloqueio na interao cognitiva e,como tal, ineficcia da ao tcnica. Campos e Almeida (2005b) consideram que a

    maneira de se expressar e at mesmo de se vestir do profissional tem um pesosignificativo no relacionamento com os agricultores. No lcito supor que qualquerdas partes deva se subjugar aos hbitos lingusticos e comportamentais da outra, mas necessrio estar atento para que tais diferenas no revitalizem ou explicitem osconflitos culturais que porventura existam.

    4.2 Ser humano e conhecimento: como cada ator percebe o outro

    Embora os fatores anteriormente apontados divergncias em termos deconduta cultural e dificuldades na comunicao e linguagem apresentem destacadarelevncia causal na questo em estudo, um papel tambm expressivo desempenhado por aquilo que Maturana (2006, p.42) chama de ontologia do

    observar9

    , relacionada ao acoplamento estrutural, ou seja, como cada um dos seresautopoiticos (os atores) enxerga o outro na mtua relao. Deponti (2010, p.186) precisa ao afirmar que uma das grandes dificuldades do processo de interveno acompreenso das necessidades e interesses do outro.

    No caso em tela, a natureza do observar contempla duas vertentes: como oprodutor rural e o tcnico se vem, reciprocamente, na condio de seres humanos; ecomo cada um percebe e reconhece o conhecimento pr-existente no outro. evidente que este olhar depende das partes envolvidas e est ligado at mesmo empatia pessoal existente entre os agentes. Entretanto, pode-se trabalhar a questoem nvel genrico, a partir de imagens estereotipadas que a classe produtor ruralmantm sobre a classe tcnico, e esta sobre aquela10.

    (a) Uma imagem desfocada

    Na tica de parte dos agricultores, o tcnico representa algum externo aomundo real da produo primria, que nele comparece somente para despejarconhecimentos e orientaes em larga escala, sem a preocupao com aespecificidade de cada caso (TAVEIRA; OLIVEIRA, 2008). No raro, os tcnicos sovistos como meros vendedores de produtos ou tecnologia, que, movidos apenas porinteresse comercial e/ou com o salrio assegurado, no se responsabilizam poreventuais perdas financeiras causadas pela adoo daquilo que apregoam. Ademais,por vezes so qualificados como pessoas sem experincia prtica, sendo o seuconhecimento tido como terico ou mesmo utpico. Deponti (2010) registra um trechode entrevista realizada junto a um produtor rural (37 anos), cuja opinio espelhaexatamente esta viso:

    9 Ontologia (do grego ontos: ser ou ente; e logos: saber, estudo) vem a ser, literalmente, oestudo do ser. o ramo da Filosofia que estuda a natureza do ser enquanto ser, ou seja, o serconcebido como tendo uma natureza comum a todos e inerente a cada um. A ontologia doobservar poderia ser entendida, portanto, como o estudo do ser humano na sua condio deobservador dos fatos e coisas que compem o mundo.10 Sob este aspecto, necessrio proceder um triplo esclarecimento. Primeiro, o presentetrabalho no concorda ou corrobora com o teor destas imagens, mas as registra por entenderque elas compem o quadro que se apresenta. Segundo, considera-se que as imagensconstituem uma indesejvel tipificao generalizante, que, como tal, indevida. Terceiro,entende-se que estas imagens fazem parte, em maior ou menor grau, consciente ouinconscientemente, de forma explcita ou no, das concepes pessoais de alguns ou vriosatores, o que no significa, porm, que sejam hegemnicas ou estejam sempre presentes narelao entre membros dos dois grupos.

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    [...] uma troca, eles aprenderam a parte tcnica e ns aprtica, entre a prtica e a tcnica sempre tem um ajuste. [...]Ns sabemos como funciona na prtica, eles sabem a tcnica,se ns botamos na prtica e no funcionar o prejuzo nosso,no vai ser deles [...]. (p.193, grifos no original).

    Significativa parcela dos agricultores julga que o conhecimento local11, aindaque cientificamente limitado, mais til e aplicvel do que o conhecimento tcnico,pois obtido a partir da observao continuada e da prpria prtica na atividade.Binotto e Nakayama (2009) registram que, na opinio dos produtores rurais, asexperincias e conhecimentos no precisam necessariamente ter origem emprofissionais da rea tcnica. Neste cenrio, muitas vezes o produtor v o tcnicocomo um elemento dispensvel.

    O conhecimento validado pelo produtor teria tanto valor comoaquele gerado pelos tcnicos, alm de permitir um efeitomultiplicador, uma vez que possibilita o compartilhamento desse

    conhecimento no com um produtor apenas, mas com vrios.(BINOTTO; NAKAYAMA, 2009, p.14). A fonte de informaoprivilegiada pelos agricultores so seus prprios pares, enquantoos tcnicos (...) so avaliados com desconfiana e certoceticismo quanto sua competncia. Os agricultores tendem aopor seu conhecimento ao dos tcnicos, no s por v-lo maisapropriado s exigncias cotidianas da lavoura, mas tambmporque julgam que aqueles do opinies sem considerar osriscos econmicos reais que eles devem enfrentar. (GUIVANT,1997, p.439).

    Deponti (2010) afirma que as experincias negativas vivenciadas pelosagricultores quanto atuao tcnica podem provocar desconfiana, convertendo-se

    em uma espcie de memria coletiva e atuando como barreira psicolgica queprejudica a relao profissional entre os grupos.Alm dos trabalhos j mencionados, tambm Lunardi e Santos (2000),

    Mercs e SantAna (2005), Alves e Valente Junior (2006) e Taveira e Oliveira (2008)confirmam que h, de parte dos produtores rurais, pontos de vista que substanciam apresente descrio. Diante do quadro apresentado, Olinger (2006) ensina que oprimeiro obstculo a ser removido pelo tcnico a descrena e uma das primeirasconquistas ganhar a confiana das famlias rurais.

    (b) Outra imagem desfocadaA viso do tcnico em relao ao produtor rural tambm pode estar

    embaada por pr-conceitos e preconceitos. Nesse sentido, rotulado por seu perfilconservador, o agricultor considerado refratrio ao novo e mudana, constituindo

    um bice ao desejvel processo de modernizao do setor primrio (CAMPOS;ALMEIDA, 2005a). Na atividade diria, muitas vezes prefere copiar as iniciativas dosvizinhos, nem sempre adequadas sua realidade, refutando a orientao profissionalespecializada (DEPONTI, 2010). Alm disso, o produtor rural tenderia a atribuir maior

    11 Segundo Yli-Pelkonen e Kohl (2005), o conhecimento local dotado de certo grau decientificidade, pois consiste de uma mistura de conhecimento cientfico aprendido e deconhecimento baseado nas observaes e experincias dos cidados leigos. Allan (2005) afirmaque o conhecimento local apresenta uma diversidade de sentidos: para alguns, culturalmente particularizado, com crenas localizadas, atitudes e entendimentos, enquanto paraoutros conhecimento tcnico indgena baseado em habilidades prticas e conhecimentoadaptado s complexidades locais do ambiente e dos recursos (p.6, grifo no original).

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    credibilidade a informaes oriundas de fontes comerciais (vendedores de insumos)do que s repassadas pelo profissional de ATER12(SILVA et al. 2012).

    H tambm aqueles que vem o produtor rural como algum que foi alijadodo processo de desenvolvimento educacional e cultural prprio de nossa sociedade,

    sendo privado, por isso, do acesso ao conhecimento fundamental para o exerccioeficiente da atividade agropecuria. O saber cientfico e seu mais notvel fruto, atecnologia de ponta, representariam, pois, uma forma de libertao que, como tal,no pode ser recusada ou questionada.

    Misturam-se, nesta viso, elementos de assistencialismo e arrognciaepistemolgica, preponderando o nobre conceito de que, se o produtor rural notem condio cognitiva para decidir, o tcnico o faz por ele. Para Freire (2006), otcnico tende a subestimar o poder de refletir do campons e absolutiza a ignornciadeste, procurando torn-lo apenas um dcil e paciente recebedor de comunicados.

    Deve-se registrar, tambm, o modo como o tcnico poder ver oconhecimento tcito do agricultor. Considerado algo meramente emprico, desprovidode qualquer validao ou comprovao cientfica, legitimado apenas pela tradio

    camponesa e, portanto, questionvel, o arcabouo intelectual do produtor rural algumas vezes menosprezado e desconsiderado no processo de assistncia ecapacitao (DEPONTI, 2010).

    H, inclusive, aqueles que, movidos pela urgncia do tempo,dizem claramente que preciso que se faam depsitos dosconhecimentos tcnicos nos camponeses, j que assim, maisrapidamente, sero capazes de substituir seus comportamentosempricos pelas tcnicas apropriadas. (FREIRE, 2006, p.45).

    Outra imagem que os tcnicos associam aos produtores rurais a busca porprticas paternalistas, na forma de benefcios individuais e solues prontas(MERCS; SANTANA, 2005, p.18) e visando conquistar recursos materiais ealcanar reivindicaes (DEPONTI, 2010, p.193).

    (c) A necessidade de mudar as lentesFace s vises antes colocadas, possvel que o relacionamento

    acoplamento estrutural entre tcnico e produtor rural fique limitado cordialidade esuperficialidade, pois estar desprovido dos ingredientes principais: parceria,comprometimento e confiana recproca.

    Para que produza efeitos concretos e duradouros, a relao profissionalestabelecida deve estar sustentada em outras bases. O primeiro passo, sem dvida, uma mudana no comportamento de ambas as partes. Sobre isso, Maturana (2006,p.120) expressa que:

    Se venho com um perito ensinar algo a uma comunidadediferente da minha, no venho na aceitao do outro. (...) operito essencialmente cego para o outro, por definio. Ouseja, todo aquele que vai ensinar algo a outro est negando ooutro. diferente se ele vem, e se na convivncia acontece deele ser capaz de fazer certas coisas que os outros consideramsatisfatrias e as incorporam isso completamente diferente.

    Maturana e Varela (2007, p.269) alertam que qualquer coisa que destrua oulimite a aceitao do outro, desde a competio at a posse da verdade, passando

    12 Rosa Neto (2006) mostra que, entre 115 produtores rurais entrevistados, 61,7% costumambuscar informao tcnica em lojas comerciais de produtos agropecurios, e apenas 13,9%procuram o servio de extenso rural.

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    pela certeza ideolgica, destri ou limita o acontecimento do fenmeno social. preciso, portanto, que cada uma das partes passe a usar as lentes que levem efetiva aceitao do outro. Sem isso, o fenmeno de transformao cognitiva, aaprendizagem, no acontecer. Deste modo, fundamental superar as dificuldades

    que prejudiquem esta aceitao.5. SUPERANDO AS DIFICULDADES

    O processo de superao das dificuldades e barreiras existentes na relaocognitiva entre tcnico e produtor rural no simples e requer uma aotransformadora e realizadora de parte a parte.

    Antes de mais nada, imprescindvel que o tcnico tenha a real dimenso desua misso e de sua importncia. Para isso, deve entender que, em geral, a suapostura est muito centrada e voltada a o que ensinar ao produtor rural, quandodeveria passar a preocupar-se com o para que e com o como, que so, em ltimaanlise, as portas de entrada de sua relao com o agricultor e da aceitao deste.

    Ou seja, o tcnico deve conscientiz-lo, mas, ao mesmo tempo, conscientizar-se.Conscientizar-se de que deve abandonar a sua posio demasiado tecnicista(TAVEIRA; OLIVEIRA, 2008) e adotar o papel de tcnico-educador, como apresentaFreire (2006). Para Silva et al. (2009), preciso, primeiro, enxergar o homem eentend-lo como foco da ao, para, somente depois, habilitar-se a intervir no sistemade produo. Reside a uma das questes mais importantes e empolgantes destadiscusso.

    5.1 Educador-educando e educando-educador: a construo de umconhecimento autopoitico

    O tecnicista est preocupado to somente em repassar tcnicas e

    tecnologias. No as questiona, nem questiona o processo que emprega para faz-lo.Compromete-se apenas com o objeto, a ao, e no com o objetivo, qual seja osujeito desta ao, isto , a quem ela est direcionada. Para este tcnico-mecanicista,a transmisso do conhecimento um fim em si s, e sua misso se encerra nela. Seno houver o efeito desejado, a culpa atribuda ao receptor, que, no caso, poder vira saber que sabe, porm no saber para que sabe. Sem que o produtor rural sintanecessidade deste novo saber e do mundo que ele proporciona, a informao que lhe entregue pode ser aprendida, jamais apreendida. Ou seja, a informao no setransforma em conhecimento.

    No acoplamento estrutural que realiza com o produtor rural, no basta aotcnico desempenhar o papel de educador. Deve, isto sim, ser um educador-educando, e fazer do agricultor um educando-educador (FREIRE, 2007).

    Agrnomos, tcnicos agrcolas, sanitaristas, cooperativistas,alfabetizadores, todos ns temos muito o que aprender com oscamponeses e se a isto nos recusamos, nada a eles podemosensinar. (FREIRE, 2007, p.32).

    O tcnico-educador considera e trabalha o sentimento do educando e suacondio como ser humano, a partir do princpio de que a aprendizagem tem a vercom o modo de vida (MATURANA, 2006, p.103). Atravs de um modelo dialgico, oeducador-educando no repassa, mas sim troca conhecimentos; e, ao realizar adiviso do saber, este se multiplica. Vislumbram-se, ento, trs notveisconsequncias: o conhecimento efetivamente partilhado e assimilado por ambas as

    partes; o educando experimenta o conhecimento do conhecimento (MATURANA;

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    VARELA, 2007); e, tal condio gera a necessidade e o interesse por maisconhecimento, fechando o ciclo e crculo cognitivo. Tendo gnese nesse processorecursivo e retroalimentado, o conhecimento assume a dimenso autopoitica, porqueproduz a si mesmo, e, transformando-se, produz novos conhecimentos. Evidencia-se,

    pois, que apenas o conhecimento autopoitico sustentvel.Alcanam [os camponeses], assim, o conhecimento doconhecimento anterior, que os leva ao reconhecimento de errose equvocos no antigo conhecimento. Desta forma ampliam omarco do conhecer, percebendo, em sua viso de fundo,dimenses at ento no percebidas e que, agora se lhesapresentam como percebidos destacados em si. (FREIRE,2007, p.40).(...) o conhecimento sustentvel (...) envolve diferentespossveis combinaes entre o conhecimento local e ocientfico. (GUIVANT, 1997, p.440).Como sabemos que um organismo aprendeu? Observando se

    houve mudanas estruturais ao comparar com o momentoanterior, ou seja, examinando a histria das relaesrecorrentes, vendo se algo mudou a partir do momento em quecomeamos a observar. Para Maturana (1999), sem umacomparao histrica no podemos dizer que um organismoaprendeu, j que pode estar apenas adaptado ao meio.(MORAES, 2004, p.248).

    O profissional da chamada nova extenso rural deve ser, acima de tudo,um educador-educando comprometido com o conhecimento autopoitico. Silva et al.(2010) destaca que, nesse contexto, necessrio que os conhecimentos explcitosdos tcnicos dialoguem com os conhecimentos tcitos dos produtores, gerando umasinergia que ir potencializar a adoo da tcnica e da tecnologia por parte destes.

    A reflexo sobre uma nova extenso rural requer, portanto, umesforo coletivo, pautado numa viso sistmica do mundo, plurale multidimensional, primando pela diversidade e construescoletivas de saberes, sem substituir conhecimentos, masconjugando-os. (BARBOSA, 2009, p.45).

    necessrio registrar que esta nova extenso rural se faz presente nocenrio da agropecuria brasileira, sendo a prxis adotada por uma expressiva frao,possivelmente majoritria, dos profissionais em atuao na linha de frente daorientao tcnica.

    5.2. A Biologia do Amor: uma nova postura na relao cognitiva

    Mas onde est a chave da convivncia harmnica entre o tcnico educador-educando e o produtor rural educando-educador? Exatamente no ato de respeitar ereconhecer o conhecer alheio. Ambos os atores devem evitar aquilo que Maturana eVarela (2007) chamam de tentao da certeza, admitindo-se seres que, para suaplena autopoiese, necessitam do saber oriundo de outros seres de sua teia derelaes. O agricultor deve ver o conhecimento explcito do tcnico como uma espciede mola propulsora de sua transformao e desenvolvimento, quer como pessoa oucomo clula-base do processo de produo primria. O tcnico, por sua vez, precisaconsiderar e valorizar o conhecer tcito e experiencial do produtor rural, entendendo-ocomo um saber vivo, dinmico, absolutamente verdadeiro para aquele grupo social,

    fruto das respectivas condutas culturais, e que pode ser empregado, em adequada

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    combinao, com o conhecimento cientfico, inclusive para pr em xeque este mesmoconhecimento. Por fim, ambos, produtor rural e tcnico, devem ver-se como aliados,detentores de saberes complementares, movidos por um ideal comum e, por isso,indispensveis um ao outro.

    Portanto, preciso reconhecer que entre os agricultores e suasfamlias existe um saber, um conjunto de conhecimentos que,embora no sendo de natureza cientfica, to importantequanto os nossos saberes. Disso resulta que nossa ao aomesmo tempo em que deve ser respeitosa para com os saberesdos demais deve ser capaz de contribuir para a integraodestes diferentes saberes (...). (CAPORAL; COSTABEBER,2000, p.32) imprescindvel reconhecer que os agricultores tmexperincias acumuladas, embora no sistematizadas. precisoreconhecer a importncia de tais experincias para iniciarqualquer dilogo. Este reconhecimento e valorizao no podemser artificiais; o extensionista precisa estar convencido dessapremissa. (BARBOSA, 2009, p.49).Essa nova postura fundamenta-se, inicialmente, numaconcepo construtivista das interaes entre sujeitos desaberes distintos. No caso da agricultura, esse construtivismoapresenta-se como uma sntese entre os saberes do cotidianodos agricultores e o conhecimento cientfico-tcnico etecnolgico, cujo domnio , preferencialmente, do profissional.(COELHO, 2005, p.79).

    S h um caminho para aproximar, cognitivamente, tcnico e produtor rural,isto , o conhecimento acadmico e o conhecimento local: a aceitao e o respeitomtuos, a observao do outro como igual, naquilo que Maturana e Rezepka (2008)

    descrevem como respeito mtuo ou biologia do amor. Para Maturana e Varela(2007, p.270), s temos o mundo que criamos com os outros, e [...] s o amor nospermite criar um mundo em comum com eles. Uma vez sensibilizados por estechamado, os atores podero assumir novo comportamento e postura, agora balizadospelo dilogo e pela cooperao, permitindo a superao das diferenas ontognicasque os separam. O respeito mtuo (biologia do amor) fundamental porque amplia ainteligncia ao entregar aos participantes, na aprendizagem, a possibilidade de darum sentido prprio ao aprender e ao que se aprende (MATURANA; REZEPKA, 2008,p.18).

    Mas a palavra amor, digo eu, faz referncia emoofundamental que constitui o social. Em outras palavras, estou

    dizendo: o social uma dinmica de relaes humanas que sefunda na aceitao mtua. Se no h aceitao mtua e se noh aceitao do outro, e se no h espao de abertura para queo outro exista junto de si, no h fenmeno social. (MATURANA,2006, p.47, grifo no original).O dilogo o encontro amoroso dos homens que, mediatizadospelo mundo, o pronunciam, isto , o transformam, e,transformando-o, o humanizam para a humanizao de todos.Este encontro amoroso no pode ser, por isto mesmo, umencontro de inconciliveis. (FREIRE, 2006, p.43).

    A relao cognitiva entre tcnico e produtor rural deve, por bvio, estarpautada na Biologia do Conhecer. Cabe destacar, todavia, que esta ser insuficiente

    se desacompanhada da Biologia do Amor. Somente a perfeita unio destes

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    elementos poder determinar que o conhecimento produzido e transmitido seja, defato, incorporado dinmica social e cultural qual se dirige.

    A qualidade de conhecimento afere-se menos pelo que elecontrola ou faz funcionar no mundo exterior do que pelasatisfao que d a quem a ele acede e o partilha. (SANTOS,2009, p.86).

    A profundidade deste tema e a sua intrnseca subjetividade o tornaminesgotvel, bem como permanentemente atual e sujeito a novas aproximaes eabordagens. O que no se pode perder de vista a ideia de que olhares divergentesou mesmo contraditrios so, em realidade, complementares e se legitimammutuamente, pois representam a prpria autopoiese do conhecimento.

    6. CONCLUSES

    O acoplamento estrutural entre agricultor e tcnico indiscutivelmente

    necessrio para, na conjugao sinttica entre o conhecimento experiencial daquele eo conhecimento cientfico deste, obter-se a desejada evoluo nos ndices deprodutividade e eficincia do setor primrio e, por conseqncia, na qualidade de vidada famlia rural. No entanto, so vrias as barreiras que dificultam este processorelacional, entre as quais se destacam a ontogenia e a conduta ou tradio culturaldos envolvidos, a linguagem e a comunicao que mantm entre si, e, ainda, a formacomo cada um dos elementos v o outro e o conhecimento deste. Comoconsequncia, o resultado prtico deste acoplamento muitas vezes fica aqum doesperado e possvel.

    Apenas o conhecimento autopoitico ir unir, indissociavelmente, estespersonagens. Para isso, necessrio que o saber seja efetivamente partilhado eassimilado entre e por ambos; que se alcance o conhecimento do conhecimento, eque este desperte a necessidade e o interesse por novos conhecimentos. Torna-sefundamental, portanto, que entre produtor rural e tcnico se estabelea uma parceriae um comprometimento, a partir da aceitao e do respeito mtuo, ou seja, por meioda Biologia do Amor. Somente o dilogo e a cooperao dual podem levar aoalcance dos objetivos que motivam este encontro de conhecimentos.

    preciso entender e reafirmar a relao cognitiva entre tcnico e produtorrural (e sua famlia) como base conceitual e metodolgica da ATER. A anlise queagora se conclui procurou mostrar que esta relao no deve ser vista apenas naperspectiva epistemolgica (ou seja, ligada ao conhecimento em si), masprincipalmente por sua conotao ontolgica (relacionada aos seres que interagem),frente s diferentes ontogenias (histria e modo de vida) dos atores. Esta proposio

    terica necessita de maior aprofundamento, em especial por meio de abordagensempricas que posicionem tcnico e agricultor no como meros objetos de estudo,mas como participantes ativos da investigao. Importante, tambm, que esteavano ocorra por meio de pesquisas interdisciplinares, de carter integrativo, queenvolvam reas como a antropologia, sociologia, psicologia, educao, filosofia ecincias agrrias, entre outras que demonstrem interface com o tema.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Trabalho recebido em: 14/03/2013Trabalho aprovado em: 12/03/2014