Artigo Final (TELHAS)
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1
Estudo das Causas da Gretagem do Esmalte de Telhas
Cerâmicas Formuladas com Adições de Calcário
Cleber Fernandes1,2, João Henrique Velho Ribeiro1,2,
Lucas Fogaça de Sousa1,2, Nilo Augusto Felippin1,2,
Agenor De Noni Jr.1,*, Maykon Cargnin1, Reginaldo Tassi1
1Insituto Maximiliano Gaidzinski – IMG, Rua Dr. Edson Gaidzinski, 352,
88845-000, Cocal do Sul, Santa Catarina, Brasil. 2Alunos do curso técnico de cerâmica
Resumo: As principais causas do gretamento do esmalte de telhas cerâmicas são a
dilatação térmica e a expansão por umidade. Este trabalhou visou estudar estas variáveis
nas telhas esmaltadas, testando esmaltes de diferentes dilatações térmicas e no que se refere
à expansão por umidade, adicionando calcário, formador de fase cristalina, esta que
contribui para a diminuição da EPU. Ainda variaram-se as temperaturas de queima, uma
vez que diferentes temperaturas de queima promovem melhores ou piores resultados quanto
à cristalização da massa. Com os resultados, percebeu-se que tanto a temperatura quanto a
adição de calcário ajudaram na cristalização da massa. Percebeu-se ainda que baixas
dilatações térmicas de esmalte apresentaram bons resultados quanto ao gretamento.
Palavras-chave:telhas esmaltadas, EPU, acordo dilatométrico.
1. Introdução
As telhas de cerâmica vermelha possuem um
processo de fabricação pouco menos desenvolvido que
o processo de fabricação de revestimentos cerâmicos,
não porque este setor não se desenvolveu, mas pelo
fato de ter se desenvolvido numa velocidade menor, o
que resulta em produtos com menor qualidade, como
maior absorção de água, menor resistência mecânica e
alta adsorção de água, esta que pode causar uma
expansão por umidade.
Por isso, ajustes e adaptações tornam-se neces-
sárias para poder seguir uma linha de qualidade.
O controle dessa qualidade na cerâmica ver-
melha é muito complicado, pois esta geralmente é
escassa de recursos que podem aumentar a qualidade
do produto, como a temperatura de queima, que afeta
significativamente as propriedades dos corpos cerâmi-
cos, e, no que se trata este trabalho, as telhas.
Sabe-se que as gretas de um corpo cerâmico
podem ser resultantes das diferenças entre dilatação
térmica do esmalte e suporte, que ocorre durante a
queima, como também da expansão por umidade da
base, que ocorre ao longo da vida útil do produto.
Com isso, o objetivo deste trabalho foi estudar
formas para evitar o gretamento do esmalte das telhas
cerâmicas, recorrendo tanto em alternativas de esmalte,
com diferentes dilatações térmicas, como de massa,
adicionando uma matéria-prima formadora de fase
cristalina, que contribui menos para a expansão por
umidade.
2. Fundamentação Teórica
2.1. Dilatação Térmica
A dilatação sofrida pela maioria dos materiais
pela ação da temperatura é resultante do aumento da
energia interna, o que implica também o aumento da
amplitude das vibrações moleculares e por consequên-
cia um maior distanciamento dos seus constituintes. O
aumento de dimensões está relacionado diretamente
com a temperatura e ocorre tridimensionalmente,
porém, é normalmente empregado o conceito de
coeficiente de dilatação linear (α), em se tratando de
cerâmica.3
A dilatação térmica pode tornar-se um problema
no resfriamento que ocorre após a queima dos
materiais cerâmicos. Supondo que um corpo cerâmico
possua dilatação térmica menor que seu esmalte
(Figura 01, situação II), este, durante a queima, irá
dilatar mais que a base, e no resfriamento, irá retrair
mais que a base também. Como o esmalte é mais fraco
que a base, devido à sua baixa espessura, esta irá causar
2
uma força de tração, o que fará com que aconteça
empenamento ou gretas.2
Figura 01: Representação da gretagem do esmalte devido à diferença
de dilatação térmica.
2.2. Expansão por umidade
Os materiais sólidos possuem o que é chamado
nos líquidos de tensão superficial. A tensão superficial
é uma força de compressão para o centro da peça.
Expansão por umidade é o termo utilizado para
designar o aumento das dimensões do corpo cerâmico,
devido ao alívio dessas tensões provocadas pela
adsorção de água na superfície do material. Com isso,
percebe-se que a expansão por umidade está relacio-
nada diretamente com a estrutura do material bem
como sua área superficial.4,6,7
Quando se trata de estrutura, os materiais
cristalinos são os que menos apresentam EPU, devido
suas poucas ligações pendentes. Os materiais vítreos
possuem certa EPU devido a formarem uma película
superficial, quando em contato com a água, o que
favorece a expansão. No entanto, a expansão não é tão
significativa como nas fases amorfas, pois estas
possuem valências livres que aumentam a energia
superficial.4,7
A expansão ocorre lentamente e é relativamente
pequena. Mesmo assim, pode trazer prejuízos para a
cerâmica. Em casos de materiais que podem ser
assentados sobre paredes, o aumento de volume,
dependendo da intensidade, pode provocar o
descolamento do revestimento. Nas telhas cerâmicas,
pode provocar o gretamento do esmalte, pois este não
expande na mesma proporção que a massa.
3. Materiais e Métodos
3.1. Experimento I
Para a realização dos ensaios, foi usada uma
argila utilizada para a fabricação de telhas esmaltadas.
Conforme a literatura, o carbonato de cálcio
(CaCO3) ajudava na cristalização da massa.1,5
Para isso,
então, foi utilizado como aditivo redutor da expansão
por umidade um calcário calcítico, que contém em
grande parte na sua composição de carbonato de cálcio.
Foram então variados percentuais de 0, 5, 10 e 15% de
calcário nas formulações.
O procedimento seguiu o fluxograma represen-
tado na figura 02. Primeiramente a argila foi seca,
destorroada e peneirada. Após, foi adicionado o
calcário, à seco, nos percentuais já citados. Após isso,
foi adicionada água à formulação, até que atingisse a
moldabilidade para a etapa de laminação.
Figura 02: Fluxograma do procedimento experimental I.
Após a secagem da argila laminada, esta foi
novamente destorroada e peneirada para se obter um pó
homogêneo e ser umidificado com 7% de umidade.
Após isso, a argila foi novamente peneirada e colocada
em um saco plástico para a homogeneização da
umidade. Com o pó obtido, foram feitos corpos de
provas conformados por prensagem a uma pressão de
250 kgf/cm² e desaeração de 50 kgf/cm². Depois de
prensados, os corpos foram secos para seguirem para a
etapa de queima, que ocorreu em 04 temperaturas: 900,
950, 1050 e 1150 °C, com um tempo de aquecimento
de 3 h e patamar de 1,5 h. Após a queima, foi realizado
o ensaio de autoclavagem, segundo a norma ASTM,
em 10 atm, por 1 hora. Após, os corpos foram secos e
avaliados os valores de expansão por umidade, com um
paquímetro digital de precisão 0,01 mm.
3
3.2. Experimento II
Após avaliar os resultados de expansão por
umidade dos corpos de prova do procedimento I,
seguiu-se para a segunda etapa do procedimento, onde
foram realizadas as tarefas representadas na figura 03.
Figura 03: Fluxograma do procedimento experimental II.
A preparação dos corpos de prova seguiu o
mesmo critério da primeira etapa. Os corpos foram
queimados em três temperaturas: 950, 1050 e 1150 °C.
Após a queima, foram feitas aplicações de esmalte por
pistola, esmaltes próprios para a aplicação em telhas,
onde cada esmalte tinha uma dilatação térmica
diferente (α = 57.10-7
, 67.10-7
e 78.10-7
). Os corpos
esmaltados seguiram então para a etapa de queima para
a sinterização do esmalte, sendo que todas as peças
foram queimadas a 950 °C, com tempo de aquecimento
de 2 h e patamar de 1 h. Após a queima, foram
realizados ensaios de perda ao fogo, retração linear de
queima e absorção de água. Sendo assim, os corpos
foram enviados para um ciclo de autoclave e após,
analisados os resultados. Na tabela abaixo estão
apresentadas as combinações das variáveis estudadas
pela equipe.
Tabela 01: Variáveis estudadas pela equipe (temperatura de queima, percentual de calcário e dilatação térmica do esmalte).
α = 10-7 Temperatura de queima (°C)
950 1050 1150
Per
cen
tual
de
calc
ário
0 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α
5 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α
10 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α
15 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α 57, 67 e 78 α
4. Resultados e Discussões
Com relação à primeira etapa do trabalho, foi
possível obter o gráfico que está apresentado na figura
04.
Figura 04: Expansão por umidade de acordo com o percentual de calcário após um ciclo de autoclave.
Com o aumento do percentual de calcário na
argila, é possível perceber, ainda que o gráfico não
mostre claramente, certa redução da expansão por
umidade. Os resultados podem ter sido dispersos
devido à dificuldade para a medida da EPU, uma vez
que foi usado um paquímetro de precisão 0,01 mm,
sendo que qualquer variação na medida poderia ter
destorcido o resultado. Então, para comprovar esta
tendência, a equipe realizou o segundo procedimento
experimental.
No segundo procedimento experimental, após a
queima, foram avaliadas três características dos corpos
de prova: a perda ao fogo, a retração linear de queima e
a absorção de água.
Figura 05: Resultados de perda de massa ao fogo de acordo com o
aumento do percentual de calcário na massa.
Com relação à perda ao fogo (figura 05),
observa-se um aumento da perda a partir do momento
que se adiciona o calcário. Isso comprova que o
carbonato de cálcio (CaCO3) estaria liberando dióxido
de carbono (CO2) na queima e formando óxido de
cálcio (CaO), que, segundo a bibliografia, reagiria com
os componentes da matéria-prima para formar fases
cristalinas.
Figura 06: Resultados da retração linear de queima de acordo com o
aumento do percentual de calcário na massa.
A retração linear de queima (figura 06)
diminuiu com o aumento de calcário, isso porque o
calcário reage com a massa, forma poros, cristaliza e
com isso segura a retração.
A figura 07 apresenta o gráfico da absorção de
água em função do percentual de calcário na massa. O
carbonato de cálcio apresenta uma granulometria
superior a da argila e com isso proporciona um melhor
empacotamento das partículas e reduz a absorção de
água em temperaturas pouco elevadas. Com o aumento
da temperatura, ocorre a completa desgaseificação do
calcário e a argila começa a formar fase líquida, e com
isso ocorre um novo aumento da absorção de água.
4
Figura 07: Resultados de absorção de água de acordo com o
aumento do percentual de calcário.
Além disso, a equipe avaliou a superfície
esmaltada dos corpos de prova (figuras 08, 09 e 10), e
observou-se que os esmaltes de maiores dilatações
térmicas já saíram do forno trincados, devido à
diferença de dilatação térmica entre este e o suporte.
Houveram corpos que trincaram também após a
absorção de água, onde o corpo sofre uma ligeira EPU.
Para avaliação geral das trincas, foi feito então o ensaio
de EPU e avaliado posteriormente o resultado estético
dos corpos.
Pode-se perceber que quanto maior a adição de
calcário na massa as peças apresentaram menos trincas.
Percebe-se ainda que, com 15% de calcário para a
temperatura de 1050 °C, a peça não apresentou trincas,
nem após a absorção de água e nem após a
autoclavagem, isso utilizando-se do esmalte de menor
dilatação térmica. Quanto maior a dilatação térmica do
esmalte, mais trincas apareceram.
Pode-se observar que apenas as peças que
possuíam o esmalte com menor dilatação térmica e a
temperatura de 1150 ºC não apresentaram trincas com
exceção da peça sem adição de calcário que apresentou
trincas e a peça queimada a 1050 ºC com 15% de
calcário que não apresentou trincas.
Figura 08: Corpos queimados a 950 °C.
Figura 09: Corpos queimados a 1050 °C.
Figura 10: Corpos queimados a 1150 °C.
5. Conclusão
Com os testes realizados, foi possível concluir
que o calcário causou uma redução na EPU e no
aparecimento de trincas, bem como o aumento da
temperatura e um esmalte de menor dilatação térmica.
A 1050 ºC já foi possível obter um corpo prova
com 15% de calcário e com o esmalte de menor
dilatação térmica que não gretou após a queima e após
os ensaios de absorção de água e autoclave.
Com isso, ao ceramista que queira reduzir as
trincas causadas por diferença de dilatação térmica e
EPU, cabe a este adicionar matéria-prima que ajude na
formação de fase cristalina e a proporcione na menor
temperatura de queima possível, além de garantir um
bom acordo dilatométrico entre a massa e o vidrado,
sendo que melhores resultados são obtidos com esmalte
de dilatação térmica menor que a da base e
temperaturas de queima altas.
5
Referências Bibliográficas
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composição e da temperatura de queima na
expansão por umidade de corpos
cerâmicos”.Cerâmica Industrial. p. 27-30. 1997.
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Cerâmicos”. Cerâmica Industrial. Janeiro/Abril.
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6. CAMPOS, L. F. et al. “Aspectos fundamentais da
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de expansão e sua determinação”. Cerâmica.
2006.
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Cerâmica. p. 01-14. 2006.
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9. LIRA, Claudia et al. “Efeitos da composição e da
temperatura de queima na expansão por umidade
de corpos cerâmicos”. Cerâmica Industrial. p. 27-
30. 1997.