Artigo Fictício

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Encontro com A s angiospermas, plantas com flores, representam a maior parte das plan- tas que conhecemos e são formal- mente conhecidas como filo Anthophyta, que engloba entre 300.000 a 450.000 es- pécies de organismos fotossintetizantes. As características vegetativas e florais são muito diversificadas podendo variar, em tamanho, desde plantas com mais de 100 metros de altura (algumas arbóreas do gênero Eucalyp- tus) até plantas com 1 milímetro de com- primento, como as lentilhas-d’água que são plantas aquáticas. Algumas angiospermas são escandentes, “escalam” o tronco de algumas árvores, nas florestas tropicais, para alcançar a copa em busca de luz, enquanto outras são epífitas, já crescendo sobre os galhos mais altos dessas árvores. Muitas são adaptadas a crescer em regiões extremamente áridas, como os cac- tos. Assim por mais de 100 milhões de anos as plantas com flores têm dominado o ambi- ente terrestre. Em termos de nutrição, quase todas as angiospermas são fotossintetizantes, mas existem algumas formas tanto parasíti- cas quanto saprofíticas (Raven, 2007). Ex- istem aproximadamente 2800 espécies de eudicotiledôneas parasitas, muitas são inca- pazes de realizar fotossíntese, obtendo sua nutrição diretamente de uma outra planta, sendo por isso denominadas holoparasitas [do grego holos = inteiro, completo, todo] Uma aventura na floresta da Malásia por Adriana Costa

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Diagramação. Trabalho feito para aula de tipografia do Senac.

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Encontro com

As angiospermas, plantas com � ores, representam a maior parte das plan-tas que conhecemos e são formal-

mente conhecidas como � lo Anthophyta, que engloba entre 300.000 a 450.000 es-pécies de organismos fotossintetizantes. As características vegetativas e � orais são muito diversi� cadas podendo variar, em tamanho, desde plantas com mais de 100 metros de altura (algumas arbóreas do gênero Eucalyp-tus) até plantas com 1 milímetro de com-primento, como as lentilhas-d’água que são plantas aquáticas. Algumas angiospermas são escandentes, “escalam” o tronco de algumas árvores, nas � orestas tropicais, para alcançar a copa em

busca de luz, enquanto outras são epí� tas, já crescendo sobre os galhos mais altos dessas árvores. Muitas são adaptadas a crescer em regiões extremamente áridas, como os cac-tos. Assim por mais de 100 milhões de anos as plantas com � ores têm dominado o ambi-ente terrestre. Em termos de nutrição, quase todas as angiospermas são fotossintetizantes, mas existem algumas formas tanto parasíti-cas quanto saprofíticas (Raven, 2007). Ex-istem aproximadamente 2800 espécies de eudicotiledôneas parasitas, muitas são inca-pazes de realizar fotossíntese, obtendo sua nutrição diretamente de uma outra planta, sendo por isso denominadas holoparasitas [do grego holos = inteiro, completo, todo]

Uma aventura na fl oresta da Malásia por Adriana Costa

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(Amaral & Ceccantini, 2007). Um exemplo de planta parasita ocorre no sudeste asiático e pertence ao gênero Raf-� esia, que inclui 16 espécies catalogadas (APG, 2009). Descritas como “as plantas que possuem as maiores � ores conhecidas”, elas atraem a atenção de pesquisadores. En-tretanto, pela di� culdade em encontrá-las, o acúmulo de conhecimento sobre sua biolo-gia tem sido lento. Elas parasitam caules e raízes de outras plantas, preferencialmente da família Vitaceae, e por isso não possuem raízes. As � ores de algumas delas são ter-mogênicas, ou seja, o calor produzido por elas facilita a volatilização de substâncias químicas que atraem insetos polinizadores,

como as moscas que são atraídas pelo forte odor de carne em putrefação (Beaman et al., 1988). Descrito inicialmente por Robert Brown em 1821, o gênero tem se tornado um símbolo de esforço em conservação, com algumas espécies ameaçadas de extinção e ao menos duas consideradas extintas, devido à progressiva destruição do habitat natural e pela utilização dos botões � orais na me-dicina popular por habitantes locais (Meijer, 1985; Mat-Salleh et al., 2006). Em um belo depoimento, o professor Gregório Ceccantini, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP, nos conta sobre sua viagem à Malásia em busca da famosa planta parasita com a

Raffl esia

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maior � or do mundo, conhecida apenas nos livros de botânica.“Caros colegas, pouco mais de 20 anos atrás, em junho de 1989, fui apresentado em um curso de morfologia vegetal, às plantas para-sitas. Numa aula da Ana Giullietti descobri o que era Ra¬ esia e � quei de certa forma fascinado e anos mais tarde vim a me inter-essar em estudar o que então eram as raf-lesiáceas brasileiras, os gêneros Pilostyles e Apodanthes (atualmente Apodanthaceae, em outra ordem separada).Em diversas oportunidades estive em jardins botânicos europeus, que cultivam a Ra¬ e-sia, mas sem sorte alguma. Neste mês, estive na Malásia, com esperança de ver Ra¬ esia, mas fui desanimado por pesquisadores es-trangeiros ou mesmo botânicos locais que nunca a viram, embora seja nativa de seu país. Argumentaram que Ra¬ esia é muito rara na � oresta, ocorre em locais muito inacessíveis, que eu tinha pouco tempo para procurar (só dois dias) e que a � or só � ca aberta um ou dois dias apenas. Quem me conhece sabe que não sou fácil de demover e que não desisto fácil, apesar de argumentos em contrário.Assim, contactei um chinês que prometeu que me levaria num lugar que tem Ra¬ esia. Peguei um ônibus de noite (outra experiên-cia que merece história) fui para o estado de Perak, no norte da Malásia con� ando nesse cara. O cara parecia normal, saimos de Land

Existem aproxi-madamente 2800 espécies de eu-dicotiledôneas par-asitas, muitas são incapazes de re-alizar fotossíntese, obtendo sua nu-trição diretamente de uma outra planta, sendo por isso denominadas holoparasitas

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Rover subindo uma serra e me levou a um nativo da etnia Orang Asli, que saberia nos levar para a � oresta ver a planta, mas sem certeza de que haveria � ores. Caminhamos umas duas horas subindo uma encosta, com uns 38˚C, 100% de umidade (a câmera en-trou em curto e está com botões em curto até hoje), suando em bicas e sendo escalado por legiões de sanguessugas na calça (ao me-nos lá não tem carrapatos) e chegamos em Ra¬ esia cantleyi, cujas fotos compartilho com vocês.Não é gigante como R. arnoldii, que mede mais de um metro, mas tem seu charme. É a única Ra¬ esia que não parasita a raiz da lia-na nem aparece no chão. Ela é absurda, tem o brilho de plástico e a textura de borracha. Por vezes ainda duvido que fosse de verdade. Parece feita por um cenógrafo maluco ou um excêntrico carnavelesco foragido do país de Alice. Pensando bem, esperar 20 anos não foi tanto tempo assim para ver e tocar uma coisa tão extraordinária.Da próxima vez que forem dar suas aulas, vocês não precisarõ usar uma foto do Google Images ou de livros, sempre com o mesmo gringo cheirando a � or. Agora podem dizer: “é verdade...tenho um amigo que viu”.Às vezes meus alunos reclamam que estão esperando muito para que algo que querem aconteça. Às vezes a gente precisa mesmo ter paciência.”