ARTIGO DE OPINIÃO: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DE · de opinião com o intuito de...
Transcript of ARTIGO DE OPINIÃO: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DE · de opinião com o intuito de...
ARTIGO DE OPINIÃO: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DE
UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA
Autora: Isolde Bernadete Xisto Perussolo1
Orientadora: Kátia Alexsandra dos Santos2
Resumo
O presente trabalho é o relato de uma experiência realizada no programa PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná), abordando a leitura e a produção de textos a partir de uma perspectiva discursiva. Este artigo pretende apresentar uma proposta metodológica de trabalho com o gênero artigo de opinião com o intuito de propiciar uma visão mais crítica entre os alunos, no que se refere à leitura e à produção de textos, situação em que eles se possam colocar como autores frente aos discursos que circulam na sociedade. Tratando da formação do leitor crítico, capaz de atribuir sentidos ao texto a partir das condições histórico-sociais, foram tomadas como base as teorias de Análise do Discurso de linha francesa (AD). A área em questão parte de um trabalho com a língua em situações concretas de produção, considerando os aspectos sociais e ideológicos envolvidos no uso da linguagem e na produção de sentidos. Desse modo, após leituras teóricas, elaboração de material didático e grupo de trabalho em rede (GTR), a intervenção ocorreu com um total de trinta e um alunos de uma segunda série do Ensino Médio. Os resultados apontam para uma melhora na leitura e produção de textos. Desse modo, compreendemos que um trabalho com a leitura e com a elaboração de argumentos defendendo o seu ponto de vista, a utilização de exemplares do gênero artigo de opinião, pertencentes a uma formação discursiva que se insira na realidade dos alunos, colabora com a formação do leitor e do produtor eficiente de textos. Palavras-chave: Leitura; produção de textos; Análise do Discurso; artigo de opinião.
1 Pós-graduação em Língua Portuguesa, graduação em Letras, professora no Colégio Estadual Prof. Júlio César – Ensino Fundamental – Médio e Normal. 2 Doutoranda em Psicologia (USP), graduação em Letras e Psicologia, UNICENTRO, professora de pesquisa na
área de Psicologia. (UICENTRO).
2
1 Introdução
A questão da leitura é um dos fatores que vem merecendo destaque nas
discussões sobre o ensino-aprendizagem de língua materna. As avaliações
realizadas no ensino básico demonstram que até mesmo os alunos que atingiram
os melhores níveis, embora tenham consolidadas algumas habilidades de leitura,
ainda não se tornaram leitores críticos e não desenvolveram o gosto pela leitura.
Neste sentido, acreditamos que um trabalho a partir de gêneros que
possibilite a manifestação de opinião seja importante na consolidação de um
trabalho de formação de leitores críticos.
Para este trabalho, inserido no programa PDE, efetivar-se, as teorias de
Análise do Discurso nos serviram como base e apoio, abordando o estudo do
texto em sua perspectiva discursiva. Após leituras teóricas, o Projeto de
Intervenção Pedagógica foi organizado, iniciamos então a confecção do material
didático-pedagógico. A próxima etapa do trabalho foi a participação dos colegas
professores no grupo de trabalho em rede (GTR) e, finalizando, ocorreu a
intervenção pedagógica com os alunos, em sala de aula.
Para estimularmos a criticidade e contribuirmos com a reflexão em todas as
esferas de comunicação, utilizamos neste trabalho o gênero artigo de opinião.
Aprender a ler e a escrever esse gênero textual colabora com o desenvolvimento
da capacidade de participar e discutir, com argumentos convincentes, sobre as
questões em voga na sociedade, formar opinião sobre elas e efetivamente
constituir-se enquanto sujeito atuante na sociedade.
Desse modo, o trabalho com a leitura crítica, visa a formar cidadãos que
questionem os discursos, capazes de usar a linguagem para se expressarem
adequadamente reivindicando seus direitos, por meio de textos orais ou escritos,
visa sanar, mais especificamente, uma das dificuldades diagnosticadas no Projeto
Político Pedagógico da escola em que atuamos como professora de Língua
Portuguesa.
Tratando, então, da formação do leitor crítico, capaz de atribuir sentidos ao
texto a partir das condições histórico-sociais, este trabalho baseia-se nas teorias
de Análise do Discurso, área representada no Brasil por autoras/pesquisadoras
3
como Eni P. Orlandi (2009) e Helena Brandão (2004), que procuram analisar a
língua em situações concretas de produção, considerando os aspectos sociais,
históricos e ideológicos envolvidos no uso da linguagem e na produção de
sentidos. Desse modo, a área utilizada como aporte teórico procura compreender
“a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social
geral constitutivo do homem e da sua história” (ORLANDI, 2009, p.15).
Este trabalho utiliza o texto enquanto exemplar do discurso, compreendendo
a leitura como um ato dialógico, interlocutivo. A leitura, nesta perspectiva, busca
os conhecimentos prévios do leitor, as suas experiências, as várias vozes que o
constituem, ou seja, a sua formação discursiva.
Consideramos a necessidade deste trabalho com a leitura crítica,
compreendida como um ato dialógico, interlocutivo, pois as estatísticas oficiais
registram que um dos maiores problemas identificados no desempenho escolar se
encontra na área de leitura. Nas avaliações os resultados expressam o
desempenho dos alunos no desenvolvimento de habilidades que envolvem o
domínio da leitura como: identificação e recuperação de informação,
compreensão o interpretação e reflexão dos conteúdos envolvidos no texto.
Segundo levantamento realizado pela UNESCO em 2008, na questão de
leitura e compreensão de texto, o Brasil está em 47º lugar3 entre os 52 países
pesquisados. A leitura torna-se ainda mais inacessível no que se refere ao
analfabetismo funcional, representado por aqueles que possuem conhecimentos
rudimentares da linguagem, portanto incapazes de ler ou interpretar textos.
Considerando a problemática existente na formação de leitores críticos, no
ensino básico, colocamos o presente problema de pesquisa: o trabalho com uma
perspectiva discursiva de leitura e produção de artigo de opinião, a partir de textos
que pertençam a uma formação discursiva que se insira na realidade do público
alvo, pode auxiliar na formação de leitores críticos?
O objetivo, portanto, da experiência aqui relatada é apresentarmos uma
proposta metodológica de trabalho com artigo de opinião, a partir da perspectiva
teórica da Análise do Discurso de linha francesa, com o intuito de propiciarmos
uma visão mais crítica entre os alunos, no que se refere à leitura e à produção de
textos.
3 Dados disponíveis em: http://gazetaonline.globo.com. Acesso em 20 abril 2011.
4
Desenvolvemos as atividades na 2ª série do Ensino Médio, utilizando o
gênero Artigo de Opinião, enfocando o tema escolhido, conforme o interesse dos
alunos.
Na primeira parte deste trabalho traremos alguns pressupostos teóricos da
Análise do Discurso; na segunda parte, observaremos o artigo de opinião na sua
perspectiva teórica; em seguida, apresentaremos os aspectos metodológicos da
proposta de intervenção pedagógica e finalizaremos com os resultados da
intervenção com os alunos, em sala de aula.
2 ANÁLISE DO DISCURSO: ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, a leitura é
compreendida como um ato dialógico, interlocutivo, considerando aspectos
sociais, históricos, políticos, econômicos, pedagógicos e ideológicos envolvidos
no processo (2008, p. 56).
A proposta de trabalho apresentada neste artigo embasou-se nas teorias de
Análise do Discurso, e teve como referencial teórico, principalmente, as autoras
brasileiras Eni Orlandi (2009) e Helena Brandão (2004). Tal posicionamento
teórico implica conceber a linguagem como materialização da ideologia, além de
mediar as relações entre os sujeitos e os sentidos. “As relações de linguagem são
relações de sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados. Daí a
definição de discurso: o discurso é efeito de sentidos entre locutores” (Pêcheux,
apud ORLANDI, 2009, p. 21).
Na perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa, procuramos
observar na leitura o processo de sua produção e da sua significação, nesta visão
“considera-se que a leitura é produzida e se procura determinar o processo e as
condições de sua produção” (ORLANDI, 2008, p. 38).
Ao trabalhar com a leitura de diferentes textos produzidos em diversas
esferas sociais, ao utilizar-se de linguagens verbais e não-verbais que permitam
ao aluno reconhecer os efeitos de sentido de cada texto, acreditamos ser possível
desenvolver no aluno uma atitude crítica, capaz de reconhecer os sentidos
5
possíveis dos textos, assumindo uma postura mais crítica e uma visão da
linguagem como não transparente.
Nessa perspectiva metodológica partimos do pressuposto de que o
desenvolvimento de uma atitude de leitor crítico significa perder a ingenuidade
diante do texto dos outros, percebendo que na produção de qualquer discurso há
um sujeito inserido em um contexto histórico. Nesse sentido, não importa o sujeito
empírico que produz determinado discurso, mas a discursividade que se constrói
a partir da inserção do que é dito em relação ao que lhe é exterior, é o que afirma
Eni Orlandi:
Para compreender – como se propõe a análise de discurso – o leitor deve-se relacionar com diferentes processos de significação que acontecem em um texto. Esses processos, por sua vez, são funções da sua historicidade. Compreender como um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico, é explicar como ele realiza a discursividade que o constitui (2009, p. 70).
O discurso é a mediação que possibilita tanto a permanência quanto a
transformação do homem na realidade em que vive. Assim, “a análise visa a
apreender esse novo objeto (discurso como processo), indagando sobre as
condições de sua produção, a partir do pressuposto de que o discurso é
determinado pelo tecido histórico-social que o constitui” (GREGOLIN, 2003, p. 7).
A partir da ideia de que a materialidade da ideologia é o discurso e a
materialidade do discurso é a língua, a Análise do Discurso trabalha com a
relação língua-discurso-ideologia, complementando-se com o fato de que não há
discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. O discurso é, portanto, o
lugar em que língua e ideologia se relacionam, compreendendo como a língua
produz sentidos.
Tendo o discurso como objeto, a Análise do Discurso francesa (doravante
AD), nasceu para superar o quadro teórico de uma linguística que não tratava o
texto em toda a sua complexidade e na relação com as condições de produção:
6
A análise de discurso tem como proposta básica considerar primordial a relação da linguagem com a exterioridade. Entenda-se como exterioridade as chamadas condições de produção do discurso: o falante, o ouvinte, o contexto histórico-social (ideológico). Essas condições estão representadas por formações imaginárias: a imagem que o falante tem de si, a que tem do seu ouvinte etc. (ORLANDI, 2009, p. 58).
A AD procura apreender como no linguístico inscrevem-se as condições
sócio-históricas de produção. Referindo-se aqui à escola francesa de análise do
discurso e ao grupo que se reuniu em torno de Michel Pêcheux, a partir dos anos
60 do século XX:
O discurso, tal como é concebido por Foucault, torna-se o objeto da Análise do Discurso de linha francesa (AD), disciplina que nasceu no final da década de 60, sob a liderança de Michel Pêcheux, como uma proposta interdisciplina, unindo três áreas do conhecimento: a Linguística, o Materialismo Histórico e a Psicanálise (CARDOSO, 1999, p. 23).
Dois teóricos vão influenciar a corrente francesa de Análise do Discurso:
Althusser com os conceitos de ideologia e Foucault com as ideias sobre discurso.
Sob a influência desses teóricos (e de outros também) Pêcheux elabora os seus
conceitos, os quais se organizaram em torno de três áreas, principalmente: a
Linguística, o Marxismo e a Psicanálise. A conjuntura teórica da época apontava a
Linguística como ciência-modelo para garantir a cientificidade das áreas sociais e
humanas. Assim, da dicotomia língua versus fala, Pêcheux retira a matéria prima
para pensar o objeto discurso. Do Marxismo, revisto por Althusser, considera a
noção de ideologia; e da Psicanálise, com a teoria da subjetividade, a AD
concebe sua noção de sujeito, com base no conceito de inconsciente que leva,
portanto, ao sujeito descentrado, não fonte do seu dizer.
O discurso, objeto teórico e analítico da AD, é entendido como um lugar de
reflexão, no qual estão presentes a língua, a história e o sujeito, devidamente
interpelado pela ideologia.
A noção de discurso, na AD, não trata apenas de transmissão de
informação, nem a disposição de elementos da comunicação é linear
(emissor/receptor/código/referente e mensagem), mas põe em relação sujeitos e
7
sentidos afetados pela língua e pela história, como efeito de sentido entre
locutores.
Os sujeitos, a situação e a memória constituem fundamentalmente condições
de produção do discurso, que são consideradas na AD em sentido estrito e em
sentido amplo. O sentido estrito corresponde às circunstâncias da enunciação
(quem fala, para quem fala, de onde fala, o que fala); enquanto o sentido amplo
corresponde ao contexto sócio-histórico-ideológico de produção.
O fato de que não há sentido sem interpretação demonstra a presença da
ideologia nos discursos. Ao interpretar, o sentido nos aparece como evidência.
“Este é o trabalho da ideologia: produzir evidências, colocando o homem na
relação imaginária com suas condições materiais de existência” (ORLANDI, 2009,
p. 46). A ideologia materializa-se no discurso e essa materialização ocorre através
das formações ideológicas e nas formações discursivas.
As formações ideológicas constituem-se em um conjunto de atitudes e
representações que dizem respeito às posições de classes em conflito umas com
as outras. As formações discursivas definem-se como aquilo que numa formação
ideológica determina o que pode e deve ser dito (BRANDÃO, 2004, p. 107). Um
mesmo texto pode aparecer em formações discursivas diferentes, ocasionando
variações de sentido, daí importância da observação desses conceitos.
A interação entre formações discursivas diferentes, as formulações feitas e já
esquecidas que determinam o que dizemos, a memória ao relacionar-se com o
discurso, constituem o interdiscurso, outro conceito fundamental na AD:
O interdiscurso é todo conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que façam sentido. E que isto é efeito do interdiscurso; é preciso que o que foi dito por um sujeito específico, em um momento particular se apague na memória para que, passando para o “anonimato”, possa fazer sentido em “minhas palavras” (ORLANDI, 2009, p. 33).
Assim, os dizeres estão sempre em relação uns com os outros e o que
garante o sentido é justamente a presença do interdiscurso, que se constitui como
a base do dizível, ou seja, aquilo que permite o dizer.
8
Tendo como referência as condições de produção e o modo de produção de
sentidos, Orlandi (2009, p.86) distingue diferentes modos de funcionamento do
discurso e os categoriza em três tipos básicos: autoritário, polêmico e lúdico.
No discurso autoritário a polissemia é contida, o locutor é agente exclusivo, o
referente e o interlocutor estão apagados pela relação que se estabelece via
linguagem. O discurso religioso pode exemplificar o discurso autoritário, pois
estanca a polissemia, impedindo a reversibilidade, ou seja, congela o locutor no
lugar que lhe é de dever e direito.
O discurso polêmico controla a polissemia, sendo o referente e o sentido
disputados pelos interlocutores, configurando-se como uma prática de resistência
e afrontamento. No discurso polêmico duas ou mais pessoas emitem opiniões
contrárias, podendo ser até uma discussão banal como: qual o melhor regime
político para a nação: parlamentarismo ou presidencialismo?
No discurso lúdico, a polissemia está aberta, o referente está presente e os
interlocutores se expõem aos efeitos dessa presença. O discurso lúdico
compreende boa parte da produção artística, como exemplo: a música e a
literatura. Lúdico significa jogo. A própria descoberta da linguagem pela criança
tem muito deste caráter de jogo com as palavras: prazer e encantamento com os
mistérios dos sons.
Apesar dessa proposta de tipologia discursiva, não há um discurso
puramente autoritário, lúdico ou polêmico, o que ocorrem são misturas,
articulações, ou predominância de um dos tipos de discurso.
Voltando ao ponto principal da área em questão, ou seja, o discurso,
podemos dizer que, enquanto o discurso é considerado na AD como “efeito de
sentido entre locutores” (Pêcheux, apud ORLANDI, 2009, p. 21), o texto é um
exemplar do discurso, empiricamente representado como uma unidade de
sentido.
Desse modo, o processo de leitura do texto, entendido como discurso,
promove alguns papéis aos sujeitos discursivos que podemos chamar de: função-
autor e função-leitor (ORLANDI, 2009, p. 76). Tais funções ocorrem pela inserção
dos sujeitos da linguagem na sociedade e na história. O autor não é somente
entendido como o indivíduo que fala, que pronunciou ou escreveu, mas como
9
elemento que centraliza, que ordena, que dá unidade ao discurso sob a forma do
texto, assumindo a responsabilidade pelo que diz, como diz etc.
Das dimensões do sujeito, o autor é o que está mais determinado pela
exterioridade – contexto sócio-histórico – afetado pelas exigências de coerência,
não contradição, responsabilidade etc. Além da exterioridade, a função-autor
também ocorre na sua interioridade, construindo sua identidade como autor.
A função-leitor relaciona-se com a função-autor, pois também está afetada
no social e no histórico. “O leitor tem sua identidade configurada enquanto tal pelo
lugar social em que se define sua leitura, pela qual, aliás ele é considerado
responsável” (ORLANDI, 2009, p. 76).
De acordo com o exposto, é possível dizer que os fundamentos teóricos da
Análise do Discurso de linha francesa abrem uma perspectiva de trabalho em que
as formas de linguagem podem ser vislumbradas como lugar de descobertas,
lugar do discurso. Utilizamos as fundamentações teóricas sintetizadas neste
trabalho para o encaminhamento da prática de leitura e produção de textos, as
atividades propiciaram a reflexão e discussão do gênero textual artigo de opinião
na intervenção pedagógica. Por isso, apresentamos na sequência uma rápida
sistematização conceitual do gênero.
3 ARTIGO DE OPINIÃO: UM GÊNERO A SER TRABALHADO NAS AULAS DE
LÍNGUA PORTUGUESA
O artigo de opinião, gênero de texto escrito que foi trabalhado na intervenção
didático-pedagógica, possibilita tomada de posição acerca de uma questão
polêmica de interesse público. As questões polêmicas geram discussões sobre as
quais as pessoas têm opiniões distintas. São questões de interesse público ou de
relevância social e que vivem em pauta nas práticas discursivas.
O artigo de opinião é, portanto, um gênero que possibilita ao autor expor livremente o seu modo de pensar, o seu ponto de vista sobre uma questão controversa, e que se destina a convencer o leitor por meio de uma argumentação sustentada sobre essa posição. Em geral, os títulos desses textos opinativos já anunciam o ponto de vista do autor em relação ao
10
tema ou à questão polêmica em pauta (GOLDSTEIN, LOUZADA e IVAMOTO, 2009, p. 07).
A questão polêmica, própria do artigo de opinião, deve estar formulada
claramente, incorporar a posição de outras pessoas e principalmente argumentar
com fatos, evidências, exemplos, comparações etc.
Argumentar é uma ação verbal na qual se utiliza a palavra oral ou escrita
para defender uma opinião, uma posição, um ponto de vista. A posição do autor
vai se construindo pelo modo diferenciado de diferentes vozes no seu enunciado:
Embora a autoria no artigo seja um argumento de autoridade para o que é dito, a orientação apreciativa do articulista diante dos acontecimentos sociais não se constrói de modo solitário, mas se encontra entrelaçada com outras posições discursivas, ou seja, o autor mantém relações dialógicas com os enunciados já ditos (RODRIGUES, 2005, p. 174).
Desse modo, o objetivo do artigo de opinião não é somente informar os
leitores, mas colocar em discussão pontos de vista, a partir de elementos
discursivos que circulam por aí, ou seja, que estão disponíveis no interdiscurso e
prontos para serem incorporados no processo de argumentação.
Assim, esse gênero, ao favorecer o desenvolvimento da argumentação, ao
buscar sustentação para uma opinião ou tese, é um importante instrumento para
a construção da cidadania. Desse modo, entendemos que tal gênero possibilita o
desenvolvimento da função-autor, sobretudo quando é trabalhado a partir de
temáticas conhecidas e de interesse dos alunos, sujeitos do discurso. É a partir
desse ponto de vista que serão apresentadas, a seguir, as ações das estratégias
de ação.
4 PARTINDO PARA A PRÁTICA: ASPECTOS METODOLÓGICOS DA
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
11
O trabalho realizado caracterizou-se como pesquisa qualitativa, de cunho
interpretativo, uma vez que trabalhamos com dados que foram observados em
profundidade. Em um primeiro momento, realizamos uma pesquisa bibliográfica,
em que selecionamos os principais conceitos e procedimentos teórico-
metodológicos da Análise do Discurso de linha francesa.
A segunda parte da proposta consistiu da produção de um material didático-
pedagógico voltado à questão do trabalho com o gênero artigo de opinião, para a
aplicação em um público de ensino médio. Após a produção desse material, ele
foi implementado em uma sala de aula de 2º ano do Ensino Médio.
Desenvolvemos as atividades no Colégio Estadual Professor Júlio César, de
Rebouças - PR. No desenvolvimento deste trabalho utilizamos o gênero artigo de
opinião, enfocando vários temas, que dependeram do interesse dos alunos.
Primeiramente, fizemos um levantamento das expectativas em relação aos temas
que os alunos gostariam de discutir em sala de aula. Em seguida, pedimos para
que cada aluno escrevesse em um papel o(s) tema(s) que fossem de seu
interesse e depois escolhemos os mais recorrentes. A partir desse levantamento,
selecionamos alguns textos que foram trabalhados, a fim de que os alunos
pudessem entrar em contato com o gênero artigo de opinião através de temáticas
que considerassem interessantes e que tivessem relação com o discurso (ou as
formações discursivas) que o cercam.
Dentre os temas que despertaram maior interesse nos alunos, destacou-se a
questão polêmica “Ficar ou Namorar”. Iniciamos, então, o trabalho com o artigo de
opinião, proporcionando aos alunos momentos de identificação e de
familiarização com o gênero.
A primeira etapa deste trabalho consistiu em verificarmos o conhecimento
prévio dos alunos por meio de questionamentos sobre o gênero em estudo e, em
seguida, foram reconhecidas, em artigos de opinião, antecipadamente distribuídos
aos alunos, as principais características do gênero, como: identificar o local e a
data de publicação e reconhecer as marcas discursivas que revelaram a posição
do autor. Esclarecemos para os alunos que o artigo de opinião refere-se a um
tema polêmico e a ideia principal defendida pelo autor precisa ser fundamentada
com bons argumentos, ou seja, com razões e explicações que produzam um
efeito de convencimento.
12
Em seguida levamos para a sala de aula jornais, revistas e coletâneas, para
que os alunos pesquisassem e reconhecessem o gênero em estudo,
respondendo a questões que identificaram o veículo de comunicação,
características do autor, assunto principal do texto, interlocutores, objetivos de
abordagem do assunto, ideia ou tese defendida pelo autor e argumentos
utilizados.
Nesta etapa trabalhamos com os alunos três gêneros: Artigo de Opinião,
Carta do Leitor e Editorial, que partilham muitas de suas características e
transmitem a opinião do autor, portanto, frequentemente torna-se difícil distingui-
los com clareza. Em jornais e revistas, levados à sala de aula, reconhecemos as
características dos gêneros citados e, em seguida, fizemos a leitura dos
respectivos conceitos.
Nesse momento, dividimos a turma em quatro grupos e distribuímos para
cada grupo um dos textos abaixo, para que analisassem o contexto de produção,
a função social, a estrutura composicional do gênero e o modo como os autores
articularam seus argumentos, defendendo suas posições:
Os textos que utilizamos para este trabalho foram os seguintes:
Texto 1 – A moda é ficar não namorar – Fragmentos retirados de texto
disponível na internet. 4
Texto 2 – Namoro, compromisso de quem? De quê? – Fragmentos
retirados do jornal online Mundo Jovem. A autora Maria do Horto Palma Moraes é
psicóloga clínica. 5
Texto 3 – Roda-viva de encontros superficiais desemboca na solidão e
no vazio – Fragmentos retirados do texto da revista Caras.18 de maio de 2011. O
autor Paulo Sternick é psicanalista no Rio de Janeiro. (Leblon, Barra e
Teresópolis). 6
4 Disponível em: http://comolidarcomadolescentes.blogspot.com/2011/modaeficarnaonamorar. Acesso em:
03/07/2011. 5 Disponível em: http://mundojovem.com.br/datas-comemorativas/namorados/artigo-namoro-compromisso-
de-quem-de-que.php. Acesso em: 19/07/2011. 6 Fragmentos retirados do texto da revista Caras , 18 de maio de 2011. O autor Paulo Sternick é psicanalista no
Rio de Janeiro (Leblon, Barra e Teresópolis).
13
Texto 4 – Ficar ou namorar? – Fragmentos retirados de texto disponível na
internet. 7
Após a leitura dos artigos de opinião, em um quadro, foram identificados:
autor e papel social do autor, local, data e suporte de publicação, questão
polêmica, posição do autor, argumentos que o autor utilizou e objetivo do autor.
Nesta etapa selecionamos um texto para que houvesse maior compreensão
do gênero, verificando, nas atividades propostas, o seu contexto sócio-histórico-
ideológico de produção, suas marcas linguístico-discursivas e sua estrutura
formal. Trabalhamos com fragmentos do texto: “Antes do namoro, o ficar”, da
autora Luiza Ricotta dos Santos, escritora, psicóloga e psicoterapeuta. Texto
disponível na Revista de Psicologia online.8
Neste momento, após os alunos terem respondido às questões que fizeram
o levantamento das condições de produção e da função social do partiram da
observação feita através dos textos lidos. Em seguida, os alunos responderam a
questões referentes à estrutura composicional do artigo de opinião, para isso
orientamos com um resumo da estrutura do gênero em estudo.
Como afirma Eni Orlandi (2003, p.19), “não podemos ‘ensinar’ a interpretar
mas, compreendendo como um objeto simbólico produz sentidos, nos situamos
em relação à interpretação e nosso trabalho interfere em uma certa prática, que é
a prática de leitura”. A Análise do Discurso problematiza a relação de sentidos do
texto, procura explicitar os processos de significação que nele estão configurados,
os mecanismos de produção de sentidos. Portanto, nesta etapa, realizamos
interpretação do texto escolhido para estudo, com questões de significação e
observação dos sentidos produzidos pelo texto.
Além do artigo de opinião, gênero predominantemente escrito, outra maneira
de expressar argumentos utilizando-se da linguagem oral, é o debate.
Portanto, com base nos textos lidos e comentados sobre o tema: “Ficar ou
Namorar”, orientamos a classe sobre as características e normas do gênero
debate e organizamos dois grupos:
Grupo 1: alunos que defenderam o “ficar”.
Grupo 2: alunos que defenderam o “namorar”.
7 Disponível em: http://xuper-patty.vilabol.uol.com.br/ficar.htm. Acesso em: 22/06/2011.
8 Disponível em: http://www.revistapsicologia.com.br. Acesso em 19/06/2011.
14
A mediadora do debate foi a própria professora e a maioria dos alunos foram
os debatedores. O debate foi fotografado e gravado para que as opiniões
pudessem ser revistas.
Após o trabalho com os diferentes textos e do debate realizado, o aluno pode
conhecer vários pontos de vista sobre o tema escolhido e estar apto para produzir
seu artigo de opinião. Para a produção de textos, orientamos os alunos a
retirarem dos textos lidos e dos debates realizados, os argumentos que
consideraram melhores, para que pudessem fundamentar o ponto de vista que
pretendiam defender.
Ao encerrarem as produções dos textos, os alunos fizeram uma releitura,
observando aspectos, tais como: o claro posicionamento sobre o tema; se a ideia
principal resumiu o seu ponto de vista; se a ideia principal foi fundamentada com
argumentos fortes e claros; se os argumentos foram bem desenvolvidos; se a
linguagem estava adequada ao perfil do público leitor e ao gênero; se o texto
apresentou título e se este foi convidativo; se o texto foi persuasivo.
Após o aluno avaliar o seu artigo de opinião e fazer a reescrita textual, a
professora fez as últimas correções necessárias ao texto, junto com cada aluno,
individualmente.
Todos os artigos de opinião produzidos pelos alunos foram expostos em um
jornal mural na escola, para divulgação dos textos. Além disso, organizamos uma
coletânea dos artigos de opinião da classe, a qual foi doada à biblioteca da
escola.
A avaliação das atividades apresentadas neste trabalho foi contínua e
diagnóstica, realizada conforme os diferentes conteúdos e objetivos. Na leitura,
foram avaliadas as questões interpretativas, considerando as estratégias
empregadas para a compreensão do texto lido, o sentido construído, o
reconhecimento de posicionamentos ideológicos no texto, verificando se utilizou
os conhecimentos prévios e se reconheceu o gênero e o suporte textual.
A oralidade foi avaliada no debate, observando a participação do aluno, a
adequação da fala, a clareza ao expor suas ideias e a argumentação que
apresentou ao defender os seus pontos de vista.
Para a avaliação da produção escrita foi considerada a adequação ao
gênero artigo de opinião, se a elaboração de argumentos foi consistente e se os
15
elementos formais do texto possibilitaram que ele produzisse sentido.
Ocorreu ainda, durante a etapa da Implementação Didático-Pedagógica, o
GTR (Grupo de Trabalho em Rede), do qual participaram vários professores de
diferentes regiões do Paraná. No GTR tivemos uma excelente oportunidade de
interação e, principalmente, de socializarmos os avanços e desafios enfrentados
durante a fase de Implementação Pedagógica. Os professores participantes deste
Grupo de Trabalho em Rede contribuíram com opiniões, experiências e
alternativas de trabalho que foram de grande valia para o desenvolvimento da
Implementação Pedagógica em sala de aula.
5 RESULTADOS DA INTERVENÇÃO
Conforme as Diretrizes Curriculares “na disciplina de Língua Portuguesa,
assumimos a concepção de linguagem como prática que se efetiva nas diferentes
instâncias sociais, sendo assim, o Conteúdo Estruturante da disciplina que atende
a essa perspectiva é o discurso como prática social” (2008, p.63).
Sendo o discurso entendido como efeito de sentido entre locutores, como
resultado da interação oral ou escrita entre sujeitos, trabalhamos com o gênero
artigo de opinião. Os alunos demonstraram bastante receptividade, cooperando e
participando em todas as etapas que fizeram parte da Intervenção Didático-
Pedagógica.
O tema trabalhado, “Ficar ou Namorar”, foi escolhido pelos próprios alunos
por votação, dentre vários temas polêmicos, o que facilitou o interesse de todos
para a participação durante o transcorrer do trabalho. Em uma das últimas etapas
da Intervenção Didático-Pedagógica, trabalhamos com os alunos o gênero
debate, no qual houve a participação e envolvimento de todos os participantes.
Após a leitura de diferentes textos e do debate realizado, o aluno pode
conhecer vários pontos de vista sobre o tema escolhido e estar apto para a
produção do seu artigo de opinião.
Na produção dos artigos de opinião, os alunos posicionaram-se com
argumentos convincentes, a favor do “ficar” ou do “namorar”, como nos trechos
16
seguintes: “Ficar acaba sendo atraente para os jovens, que imaginam ser possível
curtir apenas o lado bom do namorar. Nada de responsabilidades, cobranças e
obrigações...” (aluno S., 2ª C). “Namorar é sentir que o amor está no ar, é algo
que não tem explicação, por isso é muito melhor namorar do que somente ficar
por ficar, pois com o ficar não se constrói nada, nem sequer um amor
verdadeiro...” (aluna G., 2ª C). Alguns alunos utilizaram-se de contra-argumentos:
“O ficar é consequência de uma sociedade onde os jovens fogem da
responsabilidade e querem aproveitar a vida sem perder tempo...Isso vem
gerando, a cada momento, uma sociedade mais livre e talvez até mais
vulgarizada...” (aluna N., 2ª C). Nessa pequena amostra de trechos dos textos
produzidos pelos alunos pudemos perceber o envolvimento e a discussão a partir
de argumentos pertinentes em relação às formações discursivas que estão em
relação com a temática escolhida.
Após termos realizado a correção das produções de textos, verificamos que
os alunos posicionaram-se sobre o tema polêmico “Ficar ou Namorar”, fizeram
uso da tese, dos argumentos e tornaram-se aptos para o reconhecimento das
características do gênero artigo de opinião.
.6 CONCLUSÃO
A Formação Continuada PDE proporcionou-nos momentos de reflexão e,
consequentemente, de transformação da nossa prática pedagógica. As várias
etapas do curso contribuíram para que os resultados fossem positivos. Dentre as
fases de desenvolvimento da Formação Continuada salientamos a oportunidade
que tivemos em participar dos cursos presenciais e não presenciais ofertados aos
professores PDE. A leitura, conhecimento e aplicação prática das teorias de
Análise do Discurso de linha francesa constituiu-se em alicerce para a melhoria
do nosso trabalho em sala de aula.
Com a finalidade de atingir os objetivos referentes à leitura e à produção de
textos em uma perspectiva discursiva, os resultados da Intervenção Didático-
Pedagógica apontaram para uma melhora, uma vez que um trabalho com a leitura
17
e com a elaboração de argumentos, a utilização de exemplares do gênero artigo
de opinião, pertencentes a uma formação discursiva que se insira na realidade
dos alunos, colabora com a formação do leitor e produtor eficiente de textos.
Portanto, neste trabalho tivemos a oportunidade de refletirmos quanto à
leitura e à produção de textos dos alunos, utilizando o gênero artigo de opinião,
entendendo que o ensino da leitura e da escrita é um desafio constante,
principalmente se considerarmos a complexidade do mundo contemporâneo.
Quando o aluno sabe por que lê ou escreve, para quem, com qual objetivo, o
aprendizado torna-se mais atrativo e viável. Portanto, foi possível verificar que um
trabalho que considere as condições de produção, o interdiscurso e ofereça
condições para que o aluno se coloque como autor do seu próprio texto é possível
e traz melhoras significativas no trabalho com textos em sala de aula.
18
REFERÊNCIAS
AMOP. Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Sequência Didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa nas séries iniciais. Organização de Terezinha da Conceição Costa-Hübes e Carmem Terezinha Baumgärtner. Cascavel: Assoeste, 2009. Caderno Pedagógico 03.
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 2 ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004. CARDOSO, Sílvia H. B. Discurso e Ensino. Belo Horizonte – MG: Autêntica,1999. GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria S.; IVAMOTO Regina. O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009. GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise. Olhares oblíquos sobre o sentido no discurso. In: BARONAS, Roberto. Análise do Discurso: as materialidades do sentido. 2 ed. São Carlos, SP: Claraluz, 2003. MORAES, Maria do Horto Palma. Namoro, compromisso de quem? De quê? Jornal Mundo Jovem. Disponível em: http://mundojovem.com.br/datas-comemorativas/namorados/artigo-namoro-compromisso-de-quem-de-que.php Acesso em: 19/07/2011. ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 8 ed. Campinas: Pontes, 2009. ______ A leitura e os leitores. 2 ed. Campinas: Pontes, 2003. ______ Discurso e leitura. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2008. ______O que é linguística. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2009. . PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação (SEED). Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa, 2008. RODRIGUES, Rosangela Hammes. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.; BONINI,
19
Adair; MOTTA –ROT, Désirée. Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. SANTOS, Luiza Ricotta dos. Antes do namoro, o ficar. Revista Catharsis. Disponível em: http://www.revistapsicologia.com.br. Acesso em 19 jul. 2011. STERNICK, Paulo. Roda-viva de encontros superficiais desemboca na solidão e no vazio. Revista Caras. 18 mai 2011.
Texto: A moda é ficar não namorar. Disponível em: http://comolidarcomadolescentes.blogspot.com/2011/moda-e-ficar-nao-namorar.html.
Acesso em 03 jul.2011. Texto:Ficar ou namorar? Disponível em: http://xuper-patty.vilabol.uol.com.br/ficar.htm Acesso em 22 jun.2011. ANEXOS
Texto 1 - A moda é ficar não namorar
Hoje em dia, cada vez mais os adolescentes preferem “ficar” e não mais
namorar, alguns dizem até “tô pegando. O Nome é o que menos importa, pois
várias são as gírias e neologismos utilizados para definir esse novo tipo de
comportamento adolescente. Diga-se de passagem, tem alguns “coroas” aderindo
à moda!
Percebe-se cada vez mais, menos romantismo nas relações afetivo-
amorosas. Anda diminuindo em proporções geométricas a conquista, a paquera,
o apaixonar-se, enamorar-se como dizem os espanhóis. O namoro é uma fase
importantíssima para a adolescência, é através dela que há o ‘treino’ para as
relações futuras como o noivado e casamento, mesmo que essas fases possam
ser com uma mesma pessoa.
O namoro possibilita a troca de informações, diálogos, sentimentos, carícias,
confidencialidade, fidelidade, compromisso, enfim... Mas, a onda do ficar anda
20
corrompendo esse laço tão bonito e primordial às relações afetivas.
Casamentos e re-casamentos, separações e reconciliações, pensa-se “casa-
se, se não der certo se separa!” e esse momento de separa-se chega cada vez
mais cedo, as pessoas não sabem mais conviver juntas, elas sentem muita
dificuldade em dividir uma vida a dois, qualquer empecilho é motivo de pensar
que essa pessoa não dá certo e pular pra outra.
Como serão os relacionamentos amorosos e afetivos da geração “tô
pegando”? Como serão então os casamentos? 9
Texto 2 - Namoro, compromisso de quem? De quê?
Fala-se tão pouco em namoro nos dias de hoje! Por outro lado, é um desejo
de todos os jovens ter um namorado ou namorada. Ninguém quer ficar sozinho. O
que mais se ouve falar é em “ficar”. Essa relação não traz nenhum suporte para o
conhecimento mútuo e muito menos para um “vínculo afetivo”.
Somos seres humanos, necessitamos de vínculos afetivos. Vínculo com a
mãe, com o pai, irmãos, irmãs, amigos e principalmente com um parceiro ou
parceira. É sofrido viver sozinho neste mundo. Diria que quase impossível!
Se por um lado “ficar” faz parte da liberdade de relacionamento do jovem de
hoje, por outro, se não houver expectativa e fantasias exageradas, pode ser o
primeiro passo do namoro.
Namoro, no entanto é compromisso. Compromisso de quem? De quê? De
se propor a conhecer melhor alguém que você está “encarando” como especial,
que mexe com seus sentimentos, dá vontade de ficar junto, que lhe dá ânimo
para viver seu dia-a-dia, energia para fazer o que tem que ser feito e ser aceito
pelo mundo, além de uma forte atração sexual, natural entre um homem e uma
mulher.
A pessoa amada, porém, é o símbolo, uma parcela do que realmente
9 Disponível em: http://comolidarcomadolescentes.blogspot.com/2011/modaeficarnaonamorar. Acesso em: 03/07/2011.
21
buscamos: o ser total, a globalidade, a plenitude, a vida mais sublime e infinita, a
experiência de identificação, fusão e paz no todo. Amar é a essência do nosso
viver. Namorar é a possibilidade de realização dessa essência.
Fragmentos retirados de texto do jornal online Mundo Jovem.
A autora Maria do Horto Palma Moraes é psicóloga clínica. 10
TEXTO 3 - Roda viva de encontros superficiais desemboca na solidão e no
vazio
Nunca foi fácil gostar de alguém e experimentar amor recíproco. Na
atualidade, porém, há um obstáculo adicional: são poucas as pessoas dispostas a
abrir mão do “festim libertário”, da satisfação individualista e do prazer de ficar
com quem quer que seja, sem arcar com o peso do compromisso e das
frustrações inerentes a uma relação estável. E quando alguém se sente capaz de
dar o passo em direção a um compromisso nem sempre encontra disposição
semelhante no suposto par perfeito. Então, tome desencontros!
Antigamente, eram as mulheres as principais vítimas das atitudes hedonistas
de seus parceiros levianos, mas a banalização da vida e o tsunami consumista
que também arrastou a sexualidade envolveram igualmente as mulheres. Os
dom-juans desapareceram frente ao assédio – na feliz expressão de Bruckner –
das donas-juanas! E os homens passaram a sentir mais temor e tremor frente ao
sexo feminino, que saiu do armário, revelando a força de sua libido. 11
TEXTO 4 - Ficar ou namorar?
10 Disponível em: http: //mundojovem.com.br/datas-comemorativas/namorados/artigo-namoro-compromisso-de-quem-de-que.php. Acesso em: 19/07/2011.
11 Fragmentos retirados do texto da revista Caras, 18 de maio de 2011. O autor Paulo Sternick é
psicanalista no Rio de Janeiro (Leblon, Barra e Teresópolis).
22
Nos dias de hoje, por incrível que pareça, namorar é considerado meio fora
de moda, coisa antiga, e até mesmo careta. É que tem o “ficar”... em que tudo
parece muito mais fácil, certo? Nem tanto. No “ficar”, as pessoas se encontram,
se atraem e sem sequer se conhecerem acabam trocando uns beijinhos e
abraços. Não dão satisfações umas para as outras, e, na maioria das vezes, não
chegam a dizer uma única palavra.
Ficar acaba sendo atraente para os jovens, que imaginam ser possível curtir
apenas o lado bom do namorar. Nada de responsabilidades, cobranças e
obrigações. Aí, o hábito de ficar acaba substituindo o namoro, e a maioria dos
meninos e meninas prefere apenas trocar alguns carinhos a “encarar um lance
mais sério”. O problema é que às vezes bate uma carência, uma vontade de ter
alguém...
A estudante Ana Lúcia Nascimento, de 18 anos, garante que não há nada
contra as pessoas que só ficam, mas sempre chega o momento em que a pessoa
quer sentir o gostinho de ter um alguém só seu.
_ A pessoa que “fica” sempre, nunca se envolve com ninguém. Aí acaba
sendo natural sentir vontade de ter alguém com quem sair, conversar, dividir bons
e maus momentos, trocar beijos e carinhos, enfim, manter um relacionamento.
Estou procurando um namorado de verdade, cansei de só ficar – comenta Ana
Lúcia.
Por isso, meninas, nada de medo ou ansiedade. Na hora certa vai aparecer
a pessoa ideal, aquela que mexe de um jeito especial com o coração da gente.
Como saber quando isso acontecer?? Nem se preocupe, você não vai ter
dúvidas. É um mistério difícil de explicar mas muito fácil de reconhecer.12
TEXTO SELECIONADO: Antes do namoro, o ficar
O que é isso que dizem a respeito de ficar com alguém, muito comum entre
adolescentes e jovens adultos que buscam um modo de se aproximar de outras
pessoas sem necessariamente terem o compromisso do namoro? Chamam de
12 Disponível em: http: //xuper-patty.vilabol.uol.com.br/ficar.htm. Acesso em:22/06/2011.
23
ficar este tipo de envolvimento que não chega a ser um envolvimento amoroso
pleno, mas quase. Está mais para um ensaio do que para as vias de fato. Afinal
qual a necessidade de dar-se um nome para este período? O que caracteriza esta
modalidade de envolvimento conhecida por não ter o compromisso? Pois bem a
relação ficar é questionada. Vez por outra é altamente defendida seja por
profissionais, por jovens e até por pais que receosos de seus filhos iniciarem
namoros precoces, preferem que seus filhos tenham algum tipo de experiência de
conquista afetiva que os satisfaça sem o elo de ligação que um namoro
propiciaria. Preferem que seja com alguém de seu grupo, alguém que se possa
saber quem é. Muitos acham que isso é mais tranquilo do que perder seu/sua
filho(a) de vez para alguém que chega repentinamente e envolve o(a) tão
querido(a) filho(a) do núcleo da família, fazendo-o(a) dividir as atenções.
Há aqueles pais que acreditam que a relação ficar na juventude pode estar
contribuindo para tornar mais precoce ainda um assunto que poderia ser mais
tardio, ou melhor dizendo, uma relação que pode ser adiada mais para frente,
pois à medida que um adolescente se apaixona por alguém sentem-se
ameaçados e às voltas de proteger o(a) tão querido(a) filho(a) dos desastres de
amor, da falta de liberdade que pode proporcionar, afinal é tão jovem para se
prender, não é mesmo? As opiniões são de muitas controvérsias e acreditamos
que para cada família e para cada jovem, a escolha será uma apesar de não
termos muitas opções para se escolher. Mas entre as experimentações sem
compromisso e um namoro na juventude, com qual opção você ficaria?
A relação do ficar não se refere a um vínculo, um elo de ligação, é a
liberdade de poder experimentar. O ficar enquanto um treino torna-se uma
experiência, ainda assim não é uma vivência com características de
compromisso, talvez por isso podemos questionar as experiências de
relacionamentos breves ou instantâneos que vêm colaborar no amadurecimento
dos afetos e que promovem uma escolha amorosa. Em que bases, o ficar
promove o início de um ciclo que venha a anteceder o namoro, que segue as
características de um vínculo amoroso? A experiência do ficar faz com que se
escolha melhor os (as) parceiros (as) futuramente? Dará este prognóstico?
Não há a necessidade de compromisso, mas, a procura pela descoberta de
sensações e emoções. Apenas é importante ressaltar que, enquanto estabelecem
24
esse relacionamento do ficar, tipo beija-flor, não estão se vinculando, apenas
estão encontrando um modo de resolver suas necessidades de um modo mais
simples e menos complicado. O ficar não garante nenhuma experiência quanto a
saber se vincular. Aponta também o receio da entrega, a insegurança pertinente a
quem é jovem e desconhece as implicações afetivas de desastres amorosos, ou
será que os nossos jovens estão exatamente se prevenindo de dores
sentimentais? Poderíamos dizer que os jovens, tendo em vista os desencontros e
as qualidades de vínculo que observam com seus pais e em sua família,
poderiam estar até adotando uma medida profilática: é melhor não se envolver
muito para evitar a dor e o sofrimento que inevitavelmente o amor e o
relacionamento a dois nos traz? Está aí uma questão para se observar.
A autora Luiza Ricotta dos Santos é psicóloga, psicoterapeuta e escritora. É
especialista em Psicodrama, pela Federação Brasileira de Psicodrama e em
Terapia de Casal e Familiar pela PUC de SO. Atua na área clínica há 12 anos. 13
Produção de texto: Ficar ou Namorar
Atualmente, quando falamos em ficar ou namorar, os jovens pensam logo
em “curtir ou se responsabilizar”, mas não é bem assim.
Não é novidade para ninguém quando os jovens dizem que ficam, mas não
namoram.
Tal comportamento é consequência de uma sociedade onde os jovens
fogem da responsabilidade e querem aproveitar a vida sem perder tempo.
O “ficar” traz ao interessado a oportunidade de conhecer melhor as pessoas
para um futuro relacionamento sério, mas, nem sempre é visto dessa forma pelos
jovens.
Muitas vezes eles fazem do “ficar” um meio de poder beijar todos e todas
sem se preocupar com o amanhã. Isso vem gerando a cada momento uma
sociedade mais livre e talvez até mais vulgarizada.
Na sociedade de hoje, onde tudo se modifica a cada instante, depende
13 Disponível em: http: //www.revistapsicologia.com.br. Acesso em 19 jun.2011.
25
somente dos jovens saberem aproveitar as oportunidades e saberem usá-las. O
que não falta a eles são maneiras de conhecer alguém para namorar, confiar e
até casar, ou seja, eles só precisam agir de maneira correta, procurando pela
pessoa certa.
Texto produzido pela aluna N. C., segunda série do Ensino Médio.
Produção de texto: Ficar ou namorar
Muitos jovens preferem o “ficar”, pois é “ficando” que podem escolher com
quem querem assumir um compromisso mais sério, também é “ficando” que se
conhece melhor a pessoa.
Para os jovens, “ficar” é apenas trocar afetos, beijos e uns abraços, e não
precisam dar nenhuma satisfação uns aos outros.
Não querem responsabilidades, cobranças ou obrigações, por isso preferem
apenas trocar carinhos a encarar uma relação mais séria.
Por isso devem escolher bem, antes de fazer alguma coisa
precipitadamente. Devem querer o que vão fazer, e não fazer alguma coisa sem
pensar nas consequências.
Texto produzido pelo aluno L. F. B., segunda série do Ensino Médio.