Artigo Científico - Relação bifásica
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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.
RELAÇÃO BIFÁSICA GÁS/LÍQUIDO E SEU EFEITO NOS MEDIDORES DE VAZÃO TIPO TURBINA
Anhanguera Educacional S.A.
Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo - 13.278-181 [email protected]
Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Publicação: dd de mmm de 2009
Aluno Autor: Igor Silva Guimarães
Orientadores:
Prof. Dr. Carlos A. de Almeida Vilela;
Prof. Dr. Juliano Marcelo de Arruda.
Curso: Engenharia Mecânica
FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS
ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
Trabalho apresentado no CONIC 2009
(Congresso Nacional de Iniciação Científica).
RESUMO
Um sistema padrão de fornecimento de água residencial consiste em um sistema formado por uma linha de tubulação externa vinda da concessionária, uma válvula de controle de fluxo e um medidor de vazão. Um dos medidores de vazão (hidrômetro) mais comuns utilizados nas áreas urbanas pelas companhias de abastecimento de água, é o tipo turbina ou paletas, por ser um modelo que apresenta boa precisão nas leituras, fácil instalação e baixo custo de manutenção, desde que seja utilizado de maneira correta. A ocorrência de bolhas de ar num sistema de abastecimento de água é resultado de vários fenômenos, entre eles a cavitação nas bombas ou acessórios do sistema, rupturas nas tubulações, racionamento no abastecimento, ou até mesmo, durante uma operação de manutenção de linha. Os medidores tipo turbina são projetados para trabalharem em uma faixa pré definida de vazão, pressão, temperatura e também em meio monofásico, o que é substancialmente alterado pela presença de bolhas de ar na água. Como o medidor não distingue água de ar, apenas gira as paletas em razão da ação fluidodinâmica, este pode acusar uma medida errada pelo fato de contabilizar o meio bifásico como se fosse monofásico. Esta é uma discussão que atualmente tem sido levantada por vários grupos de consumidores, que buscam de alguma forma minimizar esta margem de erro nas leituras através da instalação de instrumentos, que, teoricamente, eliminariam os efeitos das bolhas de ar na passagem pelo hidrômetro mas podem danificar a rede. Discutimos neste trabalho a formação de bolhas e algumas características destas, o funcionamento e a real ou não eficiência destes eliminadores. O projeto foi desenvolvido nos laboratórios de engenharia utilizando as bancadas de fenômenos de transporte disponíveis na unidade. Palavras-Chave: Hidrômetro, escoamento bifásico, visualização do escoamento, medidor de vazão.
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009
2 Relação bifásica gás/liquido e seu efeito nos medidores de vazão tipo turbina
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 1-13
1. INTRODUÇÃO
Medidores de vazão geralmente são elementos sensíveis ao comportamento do
escoamento, tais como o perfil de velocidade, a presença de rotação e também à
turbulência e variações no meio fluido – (Silveira Neto, 2000); O medidor do tipo turbina é
um dos modelos mais utilizados pelas concessionárias de abastecimento de água para
medição do volume consumido. E, em algumas concessionárias, utiliza-se também para
medir a taxa de esgoto, que é obrigatória, além de se tratar de um instrumento de fácil
instalação, baixo custo de manutenção e, principalmente, por apresentar uma qualidade de
medição muito boa, com erros da ordem de 0.25%, desde que instalados de forma
adequada. Uma das orientações de praticamente todos os fabricantes deste tipo de
instrumento é em relação ao regime de escoamento no seu interior, que deve ser laminar e
monofásico, caso contrário as medições poderão sofrer desvios em função da
desordenarão do fluxo e por isso devem ser corrigidas.
Em qualquer sistema de transporte de fluidos, um elemento que mude a direção,
obstrua ou dificulte o escoamento, trabalhará a favor da turbulência, consequentemente
poderá gerar bolhas de ar (bifásico), além de alterar a própria velocidade do escoamento.
Observando instalações comuns destes tipos de medidores, nota-se que em geral o
medidor está localizado logo após uma válvula de controle de fluxo e um cotovelo 90º, o
que facilita o turbilhonamento e geração de bolhas de ar.
A discussão sobre o efeito da turbulência e da presença de bolhas no escoamento
ainda não apresenta há um consenso entre a população usuária do sistema, as
concessionárias fornecedoras do serviço e as empresas fabricantes dos chamados
eliminadores de ar, daí a importância da discussão do assunto de forma técnica. Abaixo
segue informações que nos levaram a realizar este estudo:
A favor do uso dos eliminadores de ar:
- Reduz em até 30% nos valores pagos na conta de água;
- Não interferem no funcionamento normal dos hidrômetros;
- Aumentam a vida útil do hidrômetro e tubulações;
- Não têm peças sujeitas ao desgaste e reposição;
- Bloqueiam a entrada de contaminações externas;
Contra o uso dos eliminadores de ar:
- A concessionária garante que em 99% dos casos não há ar na rede;
- É proibido se instalado sem o consentimento da empresa, antes do hidrômetro;
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- Não há, segundo a SABESP, comprovação da eficácia do produto por nenhum
órgão responsável (Inmetro, por exemplo);
- Instalação dos equipamentos antes do hidrômetro também podem contaminar a
rede, até no próprio momento da instalação.
Fontes:
Américo Sampaio - Técnico de Desenvolvimento e Assessoria Tecnológica para a SABESP
Marco Aurélio de Toledo Arruda - Engenheiro Civil - Metragem
Fábio Triunfo - Diretor da Dolphin Eliminadores de Ar
Luciana Melo Costa - Assessora de Comunicação - AESBE (Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais.
Visamos neste projeto estudar a formação de bolhas de ar e analisar a eficiência
ou não destes eliminadores de ar, pois existem pouca literatura sobre este tema, e, como
vimos, trata-se de algo bastante complexo e ético, uma vez que para as concessionárias o ar
não influencia no valor final da conta e para os fabricantes dos eliminadores, o ar é
cobrado de forma indevida na conta de água.
2. OBJETIVO
O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos do meio bifásico nos medidores, mais
especificamente:
• avaliar experimentalmente o s efeitos causados por bolhas de ar nos
medidores de vazão tipo turbina, conforme BRENNEN (2003);
• levantar dados de divergência em função das diversas configurações do
meio bifásico e vazão;
• contabilizar as divergências observadas.
3. METODOLOGIA
O procedimento experimental consiste em uma série de passos padronizados que foram
seguidos a fim de minimizar os efeitos externos e assegurar a qualidade das medições. As
etapas estão detalhadas a seguir:
• Calibração dos instrumentos;
• Medições das vazões através dos hidrômetros com e sem a presença de
bolhas;
• Estudo das características do meio bifásico.
Procedimentos experimentais:
1. Calibração dos hidrômetros.
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2. Acionamento da bomba.
3. Leitura da diferença de vazão entre Hidrômetro 1 e Hidrômetro 2.
4. Leitura da vazão de água, sem a presença de bolhas (hidrômetro 1).
5. Injeção de bolhas.
6. Leitura da vazão de água com presença de bolha (hidrômetro 2).
7. Comparação entre as vazões medidas nos hidrômetros.
8. Volta ao passo 4 alterando a vazão, com a bomba de água e injeção de ar
até finalizar as variações previstas.
Este procedimento foi elaborado segundo alguns dados obtidos de ISMAIL(1998).
4. DESENVOLVIMENTO
Em situação normal de abastecimento de água o ar nas redes está presente em pequena
quantidade, ou seja, suas bolhas são de pequeno volume. Já em situações anormais, por
exemplo, quando há falhas na entrega de água, o ar entra nas redes ocupando o seu lugar,
podendo interferir em maior ou menor volume a medição.
Nestes casos, trata-se pressão positiva quando temos o abastecimento normal e
pressão negativa quando temos falhas no abastecimento e conseqüente entrada de ar na
rede. O ideal é que o sistema de abastecimento sempre esteja trabalhando em pressão
positiva, ou seja, a pressão interna da rede de abastecimento seja maior que a pressão
atmosférica; caso contrario o ar entrará na rede.
Como forma alternativa, há no mercado vários dispositivos que são chamados
eliminadores ou bloqueadores de ar, que tem como objetivo a eliminação destas bolhas de
ar no cavalete de medição e a consequente redução no valor final pago a concessionária de
abastecimento. Em contrapartida, tem-se o auto potencial de contaminação da rede pelo
orifício encontrado em alguns destes eliminadores.
Figura 1 - Definição de fluido (BRUNETTI, 2005)
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Faz-se necessário compreender a definição de fluido: “Fluido é uma substância
que não tem uma forma própria, assume o formato do recipiente” BRUNETTI(2005);
(figura 1).
Classifica-se o estado do fluido em estático ou dinâmico. Em redes de saneamento
em funcionamento ideal a água encontra-se em movimento, o que tecnicamente é tratado
como cinemática do fluido, tendo esta água uma velocidade, pressão, energia e
conseqüente escoamento; sob as leis da cinemática do fluido foi desenvolvido processos
para entrega da água nas residências/industrias. A cinemática é a nossa base de estudo
para analises em laboratório.
Em cinemática do fluido é necessário citar algumas propriedades referentes ao
movimento, escoamento, energia e outros.
Figura 2 – Escoamento constante e variável (BRUNETTI, 2005)
Quanto ao movimento, caracteriza-se em o permanente e variado; no primeiro as
propriedades do fluido são invariáveis em cada ponto com o passar do tempo, ou seja, as
propriedades do fluido podem variar de ponto para ponto, desde que não haja variações
com o tempo. Isso significa que, apesar de um certo fluido estar em movimento, a
configuração de suas propriedades em qualquer instante permanece a mesma. Um
exemplo prático disso será o escoamento pela tubulação do tanque da figura 2, desde que
o nível dele seja mantido constante. Por outro lado regime variado é aquele em que as
condições do fluido em alguns pontos ou regiões variam com o passar do tempo. Se no
exemplo da Figura 2 não houver fornecimento de água por (1), o regime será variado em
todos os pontos. (BRUNETTI, 2005).
Figura 3 – Experiência de Reynolds, escoamento laminar e turbulento
Quanto ao escoamento, recorre-se à experiência de Reynolds (1883), figura 3, que
demonstrou a sua existência e caracterizou em escoamento laminar e turbulento.
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Escoamento laminar é aquele em que as partículas se deslocam em lâminas
individualizadas, sem troca de massa entre elas, tal como placas planas deslizando umas
sobre as outras de forma ordenada. Escoamento turbulento é aquele em que as partículas
apresentam um movimento aleatório macroscópico, isto é, a velocidade apresenta
componentes transversais ao movimento geral do conjunto do fluido. Este escoamento é
muitas vezes evitado pois eleva a perda de materiais dos condutos. O escoamento laminar
é o menos comum na prática, mas pode ser visualizado por todos, num filete de água de
uma torneira pouco aberta ou no inicio da trajetória seguida pela fumaça de um cigarro.
Reynolds(1883) verificou que o fato de o movimento ser laminar ou turbulento depende
do valor do numero adimencional dado por:
Re = ρvD / µ = vD/ υ (1)
Onde: ρ : massa específica (unidade de medida no SI: kg/m³);
µ : viscosidade dinâmica (unidade de medida no SI: N s / m²);
υ : viscosidade cinemática (unidade de medida no SI: m² / s);
v : velocidade do fluido (unidade de medida no SI m/s);
D : diâmetro da tubulação (unidade de medida no SI: m).
Esta expressão se chama número de Reynolds e mostra que o tipo do escoamento
depende do conjunto das grandezas velocidade, diâmetro e viscosidade cinemática. Ainda
se verificou que, no caso de tubos, os seguintes valores, poderiam para definir-se o tipo de
escoamento utilizados (BRUNETTI, 2005):
Re < 2000 = Escoamento laminar
2000 < Re < 2400 = Escoamento de transição
Re > 2400 = Escoamento turbulento.
Nota-se que o movimento turbulento é variado por natureza, devido às flutuações
da velocidade em cada ponto. E após medições iniciais em laboratório foi visto que o
fluido em trabalho encontra-se em regime variado e turbulento.
Medidor de vazão tipo turbina – Hidrômetro.
Os hidrômetros são dispositivos colocados nos cavaletes das redes de distribuição de água
com a finalidade de indicar e totalizar, continuamente, os volumes de água consumidos.
Estes dispositivos nem sempre funcionam de forma correta e podem, mediante diversos
fatores, influenciar na medição dos volumes faturados pelas empresas fornecedoras.
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Figura 4 – Hidrômetro tipo turbina
A medição de consumos é realizada através de hidrômetro, figura 4, baseado no
princípio de funcionamento velocimétrico. Os medidores possuem uma turbina que é
acionada pelo fluido em movimento (água ou ar). Ambos, água e ar, deslocam-se em
função da diferença de pressão e adquirem velocidades tanto maiores quanto maior for
essa diferença.
Na turbina do medidor, a velocidade é transformada em pulsos proporcionais
(conjunto de engrenagens internas) a sua intensidade e transmitidos a um totalizador de
volumes. Neste momento, está sendo medido e registrado o consumo do usuário. É
interessante frisar que há limites de velocidades, inferiores e superiores, fora dos quais o
hidrômetro não funciona. Para velocidades muito baixas, a energia cinética não é
suficiente para girar a turbina; para velocidades muito altas, acontece o fenômeno do
patinamento (a turbina gira, mas não aciona o sistema que totaliza o volume). Em ambos
os casos, há fluxo de água e/ou ar pelo aparelho, mas não é medido (MELO, 1997).
A calibração do hidrômetro é regulamentada pela NBR 8195 e a pressão da água
nas redes de abastecimento é regulamentada pela NBR 12218. Sabendo que o desgaste do
mecanismo interno de medição (turbina) e incrustação do hidrômetro pode influenciar na
medição, forma tal que a combinação destes efeitos mais a presença de ar nas redes
potencializam o erro nas medições, prejudicando o consumidor ou concessionária.
Condutos
Conduto é qualquer estrutura sólida, destinada ao transporte de fluidos. Os
condutos são classificados quanto ao comportamento dos fluidos em seu interior, em
forçados e livres.
O conduto é dito forçado quando o fluido que nele escoa, preenche totalmente a
superfície do tubo, não deixando espaços livres, figura 7–a.
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Figura 7 – Condutos (BRUNETTI, 2005)
O conduto é dito livre quando o fluido em movimento apresenta uma superfície
livre, figura 7-b, ou seja há espaço em que o escoamento é bifásico.
O ideal de funcionamento nas redes de abastecimento é que a classificação seja
sempre forçada, não havendo superfícies livres, que são bolhas de ar na tubulação.
Entretanto quando há parada no abastecimento ou manutenção da rede de abastecimento,
nos instantes da retomada de fluxo, haverá bolhas de ar na rede assim temos um conduto
livre.
Eliminadores e bloqueadores de ar.
O eliminador de ar é um dispositivo que, como o próprio nome diz, teria o
objetivo de retirar o ar das tubulações de água. Não foi encontrado dentre os eliminadores
pesquisados a forma técnica de funcionamento do equipamento.
Considerada a complexidade do comportamento do fluxo e destas características
do dispositivo eliminador de ar para avaliar o comportamento quanto a sua influência nos
valores totalizados pelo hidrômetro, o submetemos às condições operacionais da rede.
Formas de bolhas de ar em água - THOME(2004))
O padrão de escoamento bifásico horizontal foi utilizado para o estudo por ser
desta forma nos cavaletes de medição. Analisando a ação gravitacional entre gás e liquido,
os líquidos apresentam-se mais pesados, concentrando em sua maioria na parte inferior do
tubo e o gás, por ser mais leve, concentrando em sua maioria na parte superior.
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Figura 8 – Tipos de bolhas de ar (Wolverine Tube, Inc – Engineering Data Book III)
Classifica-se o escoamento horizontal bifásico (gás/liquido) em:
Escoamento com bolhas: As bolhas de gás apresentam-se dispersas no tubo,
concentrando-se na parte superior, acima da linha imaginaria central do tubo. Quando há
forças ou pressões agindo na tubulação, estas bolhas tenderam a dispersar uniformemente,
bastante visualizado após uma bomba ou turbina, ou até mesmo próximo a curvas, onde
há mudanças de direção/velocidades, figura 8.
Estratificado: Em baixa velocidade haverá separação das duas fases liquido e gás,
lembrando que a velocidade está relacionada ao escoamento, se laminar ou turbulento.
Este regime caracteriza-se pela divisão entre o gás e liquido respectivamente na parte
superior e parte inferior (figura 8). Esta divisão ocorre pois em baixa velocidade propicia o
escoamento laminar, não apresentando movimentação transversal das moléculas, e sim
deslizando em laminas; o gás, que é mais leve irá se organizar na parte superior do tubo e
o liquido na parte inferior, levando a uma divisão estratificada entre eles (figura 8).
Estratificado ondulado: Aumentando a velocidade do fluido no regime estratificado
haverá formação de ondas, estas se formando na interface dos fluidos, seguindo a direção
do escoamento. A amplitude das ondas depende da velocidade entre o fluido e suas cristas
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não alcançam o topo do tubo; as ondas sobem no entorno do tubo deixando uma fina
camada de liquido no entorno após a passagem da onda (figura 8).
Escoamento intermitente: Mais distante do aumento da velocidade do gás, esta
interface ondulatória tornou-se bastante larga para a lavagem no topo do tubo. Este
regime é caracterizado por maior amplitude da onda na parte superior do tubo e pequena
amplitude das ondas no centro. Grandes amplitudes resultam em formação de bolhas. A
parede superior do tubo está quase constantemente molhada pelas larga amplitude das
ondas e uma fina camada entre estes. O escoamento intermitente é composto pelos
regimes de escoamento Plug e Slug e são caracterizados por:
Regime Plug: neste regime o liquido está separado do gás, que possui
longas bolhas. O diâmetro destas longas bolhas são menores que o do liquido, a fase
liquida é continua ao longo do tubo. Este regime também é chamado escoamento de
alongadas bolhas (figura 8).
Regime Slug: caracteriza-se por alta velocidade do gás e respectivo
alongamento das bolhas com diâmetros maiores em relação ao Regime Plug. Há também
uma separação nítida entre liquido e gás (figura 8).
Escoamento Anular: é caracterizado por maior volume de gás escoando no centro
do tubo; o liquido forma uma espécie de anel no entorno do perímetro do tubo, pela maior
velocidade e pressão que o gás possui referente ao liquido. A região de transição entre
liquido e gás é composta por pequenas amplitudes das ondas (figura 8).
Escoamento Misto: Similar ao escoamento anular, diferindo na apresentação de
partículas de liquido no interior do tubo, escoando junto ao gás (figura 8).
4.1. Coleta de dados
A coleta de dados no laboratório de mecânica dos fluidos da Faculdade Anhanguera de
Anápolis, seguiu-se conforme determinado na metodologia e procedimentos
experimentais.
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Figura 9 – Diagrama coleta de dados
Os dados da vazão do hidrômetro 1(H1) e hidrômetro 2(H2), foram tomados para
cada instante e aferidos e logo após calculada a diferença de percentual entre as medidas
H1 e H2( figura 9).
D% = [(V1 – V2) / V1] * 100% (2)
em que:
V1 é o volume registrado pelo hidrômetro H1 (m³);
V2 é o volume registrado pelo hidrômetro H2 (m³).
5. RESULTADOS
Tabela 1 – Diferença em percentual, na coleta de dados em laboratório
Coleta Vazão Hidrômetro 1 (V1)
(m³/h)
Vazão Hidrômetro 2 (V2)
(m³/h)
D%
D% = [(V1 – V2) / V1] * 100%
1 0,0020 0,0020 0
2 0,0050 0,0049 2
3 0,0100 0,0098 2
4 0,0150 0,0147 2
5 0,2000 0,1950 2,5
6 0,2500 0,2435 2,6
7 0,3500 0,3410 2,57
8 0,4500 0,4400 2,22
9 0,5500 0,5355 2,63
10 0,6500 0,6360 2,54
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Inicialmente, deve-se destacar que, em condições normais de abastecimento, a presença de
ar nas redes de distribuição de água é desprezível. Entretanto, há situações
extraordinárias, onde ocorre o ingresso de volumes significativos de ar no sistema que
podem alterar o valor do consumo registrado pelos hidrômetros.
Figura 10 – Diagrama do experimento em laboratório
Para exemplificar, análise de campo com conjuntos de dois hidrômetros
instalados em série, a injeção de bolhas de ar, vindas de um compressor tipo “aquário”, em
seguida o “eliminador de ar” e o segundo hidrômetro para perceber a “diferença” dos
volumes aferidos (figura 10), verificou-se uma variação máxima na medição do consumo
registrado no segundo hidrômetro de +2,63% em relação ao consumo registrado no
primeiro hidrômetro.
Lembrando que com o orifício para “escape” de ar do eliminador, a possibilidade
de contaminação da rede de água em casos de enchentes, alagamentos, dejetos de animais
entre outros, é altíssima, podendo trazer vários problemas a saúde pública.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa com o dispositivo denominado “eliminador de ar” demonstrou
não existir evidência científica do funcionamento deste equipamento. Assim, deve-se
reafirmar que a solução desejada e não paliativa para a interferência do ar na medição do
consumo de água se dá por meio de investimentos para reduzir ao mínimo a interferência
do ar no abastecimento por meio de:
1. A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, tem recomendado a
instalação de ventosas em pontos estratégicos nas adutoras que alimentam a rede de
abastecimento, tendo por finalidade purgar o ar eventual existente na rede (NBR
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12218), pelo fato do ar ser mais leve, ele se concentra na parte superior da tubulação,
local adequado para instalação das ventosas.
2. Substituição da tubulação encrustada e de diâmetro inadequado, instalando-se
novas tubulações de diâmetros maiores para escoamento laminar;
3. Re-estudo da correta localização, instalação e manutenção de ventosas nas redes
de água, recomendando-se instalações em pontos mais altos da rede de
abastecimento;
4. Adoção de medidas comerciais compensatórias por parte das concessionárias, a
cobrar taxas menores afim de não penalizar os usuários, quando houver paradas de
abastecimento/manutenção;
5. Reduzir as paradas técnicas e manutenções nas redes de abastecimento.
No entanto, sua eficácia não foi comprovada. Não há qualquer normatização ou
certificação que garanta o desempenho, a qualidade e a segurança na utilização desse
dispositivo.
REFERÊNCIAS
BRUNETTI, Franco – PLT (Programa Livro Texto) Mecânica dos Fluidos – São Paulo: Prentice Hall, 2005. SILVEIRA, Neto, A.; “Introdução a Turbulência nos Fluidos”, Universidade Federal de Uberlândia, Apostila do curso, 2000.
BRENNEN, C. E. ; “Multiphase Flow”, California Institute of Technology, December 2003.
ISMAIL, K. A. R., Gonçalves, M. M., Benevenuto, F. J. ; “Instrumentação Básica para
Engenharia”, Editora da Unicamp, 1998.
THOME, J. R.; Engineering Data Book III – Wolverine Tube, Inc. (2004-2008).
SOUZA, Robert Schiaveto de. – Avaliação da influencia de um equipamento eliminador de
ar na medição de consumo de água numa rede de distribuição. 23º Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental.
MELO, Elton J. - O ar e sua influência na medição do consumo de água. 21º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. ABES. Anais. Foz do Iguaçu-PR, 1997.