Artigo Capela Nossa Senhora das Neves

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1 Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira Fundado em 13 de fevereiro de 1955 Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos CNPJ 07.217.980/0001-28 Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955. ____________________________________________________________________________ CAPELA DE “NOSSA SENHORA DAS NEVESNOSSA SENHORA DAS PEDRAS EM PALMEIRA PARANÁ. Vera Lúcia de Oliveira Mayer 1 A Capela de Nossa Senhora das Neves foi construída num lugarejo denominado primeiramente de Fazenda da Boiada, desmembrada das grandes sesmarias e fazendas existentes na região, no final dos idos setecentos início dos oitocentos. Conhecida como “Nossa Senhora das Pedrasem Palmeira, por conta de várias lendas atribuídas ao local onde a Virgem Maria teria aparecido em mais de uma circunstância. Está localizada junto à Escarpa Devoniana, nos contrafortes da Serra de São Luiz do Purunã. Local de sugestiva beleza pelas configurações geográficas do terreno e da região, sustentadas pela formação rochosa da idade devoniana e que é representada por um verdadeiro degrau topográfico, com paredes abruptas e verticalizadas, que separa o primeiro e o segundo planalto paranaense. No paredão em frente à Capela, segundo a lenda, fiéis devotos afirmam que é possível enxergar a imagem de Nossa Senhora, como se fosse uma pintura mural. Aquele local, depois de ter passado por vários proprietários e por direitos hereditários, no inventário de Maria Jacinta de Meneses, em 1865, foi deixada uma quantia para a edificação da Capela de Nossa Senhora das Pedras, que só foi erigida mais tarde por iniciativa da Senhora Maria Ambrósia da Rocha Ferreira e seu esposo o Senhor Domingos Ferreira Pinto Barão e Baronesa do Guaraúna, sob invocação de Nossa Senhora das Neves. 1 Coordenadora do Museu Histórico do município. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira e atua no setor de Patrimônio da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

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A Capela de Nossa Senhora das Neves foi construída num lugarejo denominado primeiramente de “Fazenda da Boiada”, desmembrada das grandes sesmarias e fazendas existentes na região, no final dos idos setecentos início dos oitocentos.

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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira

Fundado em 13 de fevereiro de 1955

Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos CNPJ 07.217.980/0001-28

Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.

____________________________________________________________________________

CAPELA DE “NOSSA SENHORA DAS NEVES”

NOSSA SENHORA DAS PEDRAS EM PALMEIRA – PARANÁ.

Vera Lúcia de Oliveira Mayer1

A Capela de Nossa Senhora

das Neves foi construída num

lugarejo denominado primeiramente

de “Fazenda da Boiada”,

desmembrada das grandes sesmarias

e fazendas existentes na região, no

final dos idos setecentos início dos oitocentos.

Conhecida como “Nossa Senhora das Pedras” em Palmeira, por conta de várias lendas

atribuídas ao local onde a Virgem Maria teria aparecido em mais de uma circunstância.

Está localizada junto à Escarpa Devoniana, nos contrafortes da Serra de São Luiz do

Purunã. Local de sugestiva beleza pelas configurações geográficas do terreno e da região,

sustentadas pela formação rochosa da idade devoniana e que é representada por um verdadeiro

degrau topográfico, com paredes abruptas e verticalizadas, que separa o primeiro e o segundo

planalto paranaense.

No paredão em frente à Capela, segundo a lenda, fiéis devotos afirmam que é possível

enxergar a imagem de Nossa Senhora, como se fosse uma pintura mural.

Aquele local, depois de ter passado por vários proprietários e por direitos hereditários, no

inventário de Maria Jacinta de Meneses, em 1865, foi deixada uma quantia para a edificação da

Capela de Nossa Senhora das Pedras, que só foi erigida mais tarde por iniciativa da Senhora

Maria Ambrósia da Rocha Ferreira e seu esposo o Senhor Domingos Ferreira Pinto – Barão e

Baronesa do Guaraúna, sob invocação de Nossa Senhora das Neves.

1 Coordenadora do Museu Histórico do município. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de

Palmeira e atua no setor de Patrimônio da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

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Mandada construir dentro das linhas de estilo arquitetônico colonial português com

formas bem simples, e que se constitui numa antiga e rústica capela de pedra com dois sinos de

bronze que datam do mesmo período, cuja provisão para todos os atos religiosos é datada de 03

de junho de 1882, feito pelo então

“Bispo Diocesano de São Paulo, D. Lino Deodato Rodrigues

de Carvalho que em visita pastoral assentou no livro tombo que a

capelinha de Nossa Senhora das Neves havia sido fundada

recentemente no lugar Boiada, da freguesia de Palmeira, em

terreno de propriedade do Exmo. Barão de Guaraúna, por iniciativa

e com auxilio de sua Exma. consorte, além das esmolas dos fiéis,

deixadas naquele lugar de devoção popular...” (LOPES, 2000, pág

51)

Sobre a imagem, o historiador José Carlos Veiga Lopes, em sua obra “Informações sobre

os bens de Nossa Senhora das Neves no Paraná”, levantou a seguinte possibilidade:

A imagem que estava colocada na capela talvez fosse a

antiga que pertencera a Manoel Gonçalves de Aguiar e estivera

colocada na capela em Santos, que em 1890 estava em ruína

completa e não poderia abrigá-la; talvez estivesse sob a guarda de

Tristão, último administrador do vínculo das Neves e de sua

Mulher Maria Jacinta, que moraram muitos anos em Santos, mais

ou menos entre 1834 e 1850, e que quando vieram para a Fazenda

Boiada talvez tenham trazido a dita imagem de Nossa Senhora das

Neves; como vimos, o desejo de Maria Jacinta era a edificação de

uma capela para Nossa Senhora das Pedras, para a qual deixara

dotação no testamento e os descendentes, que deviam estar com a

guarda da imagem, quando ficou pronta a igrejinha construída por

iniciativa da Baronesa de Guaraúna, teriam entregue para colocar

no altar. (LOPES, 200. pag 52)

O local onde está situada a capela também foi de grande importância para os tropeiros,

pois era utilizado como local de pouso antes da descida da serra de São Luiz do Purunã, para o

qual os tropeiros pediam proteção de Nossa Senhora.

A região é dotada de magnífico cenário natural nos contrafortes da citada serra onde o

tropeirismo teve sua grande importância.

Depois da morte do Barão de Guaraúna, a Baronesa alegando não poder mais zelar da

referida capela, em correspondência datada de 23 de setembro de 1895 fez a doação da capela e

de seu patrimônio para a paróquia de Palmeira, sem ônus ou compromisso algum, apenas

pedindo o direito de ser considerada sua fundadora. A baronesa deixou também em testamento

recursos para a conservação da igreja de Nossa Senhora das Neves.

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Assim em outubro do mesmo ano por provisão de D. João de Camargo Barros, bispo da

diocese de Curitiba, foi concedida a licença para celebração de missas e outros ofícios religiosos.

Destarte a Paróquia de Palmeira passaria a administrar aquela propriedade, e promover a festa

em louvor à Nossa Senhora das Neves no primeiro domingo de agosto de cada ano.

À organização festa foi delegada a vários zeladores, herdeiros do Barão e arrendatários

fazendeiros da região, cujo pagamento de arrendamento seria destinado à manutenção da capela,

alguns fizeram até algumas benfeitorias no local.

Sendo os zeladores e arrendatários também hereditários, estes se achavam donos da

propriedade por direito, pelo uso e exploração do local, estes, em 1964 reivindicaram através de

usucapião a posse de 40 alqueires até então não documentado juridicamente. No mesmo ano a

Mitra da Arquidiocese de Curitiba protocola no fórum de Palmeira uma mesma “Ação

Contestatória”, alegando ser possuidora de um terreno de 41,88 alqueires, situado no lugar onde

se achava localizada a antiga capela de “Nossa Senhora das Pedras”, uma das mais antigas da

Paróquia de Palmeira. No transcorrer do processo, juntada a documentação, inclusive a carta de

doação da Baronesa e todas as suas alegações, os testemunhos inquiridos de maneira geral

afirmaram que:

“A Paróquia que sempre manteve pessoas prepostas da

igreja para ali zelarem da capela e de suas dependências, que eram

simplesmente administradores ou encargo semelhante, que as

terras eram da Santa ou de Nossa Senhora das Pedras, que os

padres da Paróquia de Palmeira assistiram ininterruptamente à

capela desde os tempos dos doadores” (LOPES, 2000 pag. 56).

Concluído o processo, deu-se ganho de causa para a Mitra, em 27 de abril de 1965, com

prazo de 2 anos e seis meses para que os outros proponentes deixassem o local.

Ao longo dos anos, com a propagação do louvor à Nossa Senhora das Neves na

localidade de Nossa Senhoras das Pedras, também conhecida como a fazenda da “Boiada”, esta

ganhou a adesão de milhares fiéis de toda a região, inclusive dos habitantes dos rincões mais

distantes de Palmeira, que todos os anos se dirigiam para o local em plena romaria para venerar a

Virgem Maria que segundo a lenda, aparece nas pedras, para aqueles que tem muita fé.

Com o aval da paróquia a festa era organizada e comandada pelos moradores da

redondeza. Foi só a partir dos anos de 1980 que uma comissão paroquial é devidamente

instituída para organizar os festejos, os quais continuam ganhando a cada ano mais adeptos.

A Capela foi restaurada em 1991 e tombada pela Coordenadoria Estadual do Patrimônio

Histórico, através do processo nº 03/91 de 26 de outubro, com a inscrição no tombo estaudal sob

o nº 114-II/199. Sendo o único bem religioso até o momento, protegido por lei no município de

Palmeira.

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O terreno onde se encontra instalada a capela também pertence uma Área de Preservação

Ambiental. A APA da Escarpa Devoniana criada pelo Decreto Estadual Nº 1.231 DE 27 de

março de 1992. 2

A festa em louvor a Nossa Senhora das Neves é incluída no calendário Oficial de Eventos

Turísticos do Paraná, desde 2001 e acontece sempre no 1º domingo de agosto, todos os anos,

congregando cerca de 10.000 fiéis.

Nossa Senhora das Pedras, localiza-se aproximadamente a 40 km da sede do município,

na divisa com o Município de Campo Largo.

O acesso é pela BR 376 – Rodovia do Café KM 535, entrada para Huhtamaki., ou pela

via entre as colônias de Quero-Quero e Witmarsum.

No local está disponibilizada uma infra-estrutura, com banheiros, churrasqueiras e

quiosques, água potável, além da ampla área verde e algumas grutas com formações de

estalactites.

.

2 A Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana foi criada através do Decreto Estadual nº 1.231, de 27

de março de 1992, com o objetivo de “assegurar a proteção do limite natural entre o Primeiro e o Segundo Planaltos

Paranaenses, inclusive faixa de Campos Gerais, que se constituem em ecossistema peculiar que alterna capões da

floresta de araucária, matas de galerias e afloramentos rochosos, além de locais de beleza cênica como os canyons e

de vestígios arqueológicos e pré-históricos.” http://www.iap.pr.gov.br

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Fotos: Capela de Nossa Senhora das Neves - vista externa e interna

– Acervo Museu Histórico Acervo Museu histórico – 2003 –

Vista do paredão, onde fiéis afirmam enxergar a imagem de Nossa Senhora das Neves,

nas pedras – Foto – Acervo Museu Histórico.

Efemérides – Capela Nossa Senhora das Neves em Palmeira.

1730 - Fazenda “Boiada” – pousada de tropeiros

1865 – No inventário de Maria Jacinta de Meneses, dinheiro para construção.

1880- Maria Ambrósia da Rocha Ferreira e seu esposo Domingos Ferreira Pinto – Barão e

Baronesa do Guaraúna constroem a igreja.

1882 - 03 de junho. Inicio da devoção.**

1886 - 16 de fevereiro benção da capela **

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1895 - 23 de setembro, Ambrósia da Rocha Ferreira fez a doação da capela e de seu patrimônio

para a paróquia de Palmeira.

1895 - (outubro) D. João de Camargo Barros, bispo da diocese de Curitiba, concede a licença

para celebração de missas e outros ofícios religiosos. Inicio das festas.

1964/1965 usucapião legalização judicial para posse do terreno de. 41,88 alqueires, situado no

lugar onde se achava localizada a antiga capela de “Nossa Senhora das Pedras”, uma das mais

antigas da Paróquia de Palmeira.

1980 - comissão paroquial é devidamente instituída para organizar os festejos

1991 – Capela tombada pela Coordenadoria Estadual do Patrimônio Histórico do Paraná

processo nº 03/91 de 26 de outubro, com a inscrição nº o nº 114-II/199.

1992 –. O terreno onde esta instalada a Capela torna-se uma APA Decreto Estadual nº 1.231, de

27 de março de 1992, APA da Escarpa Devoniana.

2001 - A festa incluída no calendário Oficial de Eventos Turísticos do Paraná, acontece sempre

no 1º domingo de agosto de cada ano.

LENDA 1

“Um escravo estava a cavalo volteando o campo, o animal rodou e o cavaleiro ficou com

o pé preso no estribo, a montaria correndo. Já se dava por perdido, quando viu a imagem de

Nossa Senhora nas pedras do perau e o pé soltou-se. – considerou um milagre e contou aos

patrões pedindo a construção de uma capela. A mulher acreditou o marido não, disse que só

creria se acontecesse um milagre. E dizem que aconteceu, uma mula sua ficou prenha, e após o

nascimento da cria, chegou a mostrá-la até em São Paulo”. ( LOPES, 2000, pág 51)

LENDA 2.

“Nas proximidades da Serra de São Luiz do Purunã, caçadores avistaram em um paredão

rochoso, a imagem de uma Santa. Retiram-na do local e a levaram para uma pequenina capela de

madeira que ali existia. Não passou muito tempo verificaram que a imagem havia sumido; viram

que ela estava novamente no paredão. Assim aconteceu diversas vezes. Por isso resolveram

então construir nova capela, desta vez com frente voltada para o “canyon”. Aí então até hoje a

imagem permanece na capela. Há quem afirme que vê escavado na pedra, o nicho onde se

encontrava a imagem da Santa.”

( MAYER, 1992, pág 409)

REFERÊNCIAS:

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LOPES, José Carlos Veiga. – Informações sobre os bens de Nossa senhora das Neves no

Paraná - Cidade Clima Comunicações & Arte. 2000

MACHADO, Marcus Vinicius Molinari. A ocupação e povoamento de Palmeira até a

fundação –– Instituto Histórico e Geográfico. 1999

MAYER, Teresa Wansovicz. Memórias de Palmeira. Departamento de Educação – Prefeitura

de Palmeira,1992