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73 ARTEFACTUM REVISTA DE ESTUDOS EM LINGUAGEM E TECNOLOGIA
ANO III N 1 FEVEREIRO 2010
MOVIMENTO SOFTWARE LIVRE: POR UMA CONSTRUO DEMOCRTICA DO CIBERESPAO
Katja Augusto
[email protected] lattes: http://lattes.cnpq.br/1456728333074919
Monique Lima
[email protected] lattes: http://lattes.cnpq.br/2492740222266396
RESUMO Na sociedade atual, a internet cada vez mais se configura como o principal meio de comunicao, tendo em vista o seu crescimento exponencial. Apesar de ser um espao caracterizado pelo modelo de comunicao todos-todos, ainda visvel a distino entre produtor e consumidor. Este artigo pretende abordar os movimentos de internautas em prol da democratizao da comunicao e de que forma a rede proporciona essas mobilizaes.
Palavras-chave: Internet, Movimento Software Livre, Democratizao.
MOVIMENTO SOFTWARE LIVRE: POR UMA CONSTRUO DEMOCRTICA DO CIBERESPAO
A primeira vez que a expresso sociedade da informao apareceu
foi em 1973, no livro O advento da sociedade ps-industrial, do socilogo norte-
americano Daniel Bell. O autor afirmava que o eixo norteador da sociedade
atual seria o conhecimento, sendo que, para tal, seria imprescindvel que a
nova economia estivesse centrada na oferta de meios que promovessem
contedo informativo e, consequentemente, o conhecimento1. Entretanto, foi na
dcada de 1990 que o termo ganhou fora graas ao desenvolvimento da
Internet e das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC's).
Manuel Castells defende que, embora a tecnologia exera um papel
significativo na sociedade, ela a tecnologia no a determina, nem tampouco 1 BURCH, Sally. Sociedade da informao/Sociedade do conhecimento. Disponvel em: http://vecam.org/article519.htmlhttp://vecam.org/article519.html Acessado em 19/04/2010.
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a sociedade que dita a trajetria das transformaes tecnolgicas, pois h um
conjunto de fatores que so essenciais a esse processo e influenciam no s a
descoberta cientfica, como tambm as inovaes tecnolgicas e suas
aplicaes sociais (1999: p. 43). Porm,
embora no determine a tecnologia, a sociedade pode sufocar seu desenvolvimento principalmente por intermdio do Estado. Ou ento, tambm principalmente pela interveno estatal, a sociedade pode entrar num processo acelerado de modernizao tecnolgica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem-estar social em poucos anos. Sem dvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que so estrategicamente decisivas em cada perodo histrico, traa seu destino a ponto de podermos dizer que, embora no determine a evoluo histrica e a transformao social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformao das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnolgico (CASTELLS, 1999: 44-45).
Apesar do no-determinismo, Castells admite que o surgimento de um
novo sistema eletrnico de comunicao caracterizado pelo seu alcance global,
integrao de todos os meios de comunicao e interatividade potencial est
mudando e mudar para sempre nossa cultura (1999: p. 414). A quase
anulao do tempo e das distncias permitiu, ao contrrio da homogeneizao
da sociedade, o surgimento de diversas identidades e movimentos que
transpem fronteiras geogrficas. O desenvolvimento das TIC's e os novos
meios de comunicao esto sendo responsveis pela eminncia de redes
transnacionais que compartilham afinidades, objetivos, lutas, sem espao fsico
e, por isso, acessveis de qualquer lugar.
Castells, ao caracterizar esse contexto, denominado paradigma
tecnolgico, base da sociedade da informao, destaca cinco aspectos
fundamentais para o entendimento dessa transformao social. Primeiramente,
a tecnologia que age sobre a informao, diferentemente do que acontecia
nas revolues predecessoras. Em seguida, a capacidade das novas
tecnologias em moldar quer a existncia do indivduo quer a do coletivo. Em
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terceiro est a lgica das redes, que permite a interao, sem afetar a sua
recrudescente complexidade. Na continuao aparece a flexibilidade
proporcionada pelo paradigma tecnolgico na medida em que facilita a
reorganizao ou modificao das instituies. E, por fim, a crescente
convergncia das tecnologias numa s rede (CASTELLS, 1999: p.108-109).
A partir dessa ordem de fatores, surgiu um cenrio que, em virtude da
adeso massiva de usurios e de um esprito de troca e compartilhamento de
mensagens, deu origem, por sua vez, ao que Pierre Lvy chamou de
inteligncia coletiva (1999: p. 28). Esse fenmeno, que um dos principais
motores da cibercultura (idem: p.28), s possvel num meio em que a
comunicao se d de forma horizontal, ou seja, numa relao todos-todos,
onde qualquer usurio produtor e receptor de contedo, diferentemente das
mdias tradicionais, em que a emisso e recepo ocorrem unidirecionalmente
e o indivduo assume um papel de passividade. A Internet e o ciberespao,
com a difuso e abrangncia cada vez maior das TIC's, criaram um ambiente,
seno ideal uma vez que ainda no atingiu a perfeio , pelo menos
propcio para o aparecimento e desenvolvimento dessa inteligncia. Isso
porque o ciberespao tem como caractersticas, entre outras, a acessibilidade e
o compartilhamento de bancos de dados e o upload de arquivos e programas,
fundamentais para a disponibilizao, transferncia e circulao da informao.
Tendo em vista a potencialidade do ciberespao, esse tornou-se um
espao de disputa entre as megacorporaes e os conglomerados de
comunicao. Seguindo a lgica de mercado de mximo lucro, magnatas do
capitalismo veem a internet como um ambiente perfeito para a prtica de
transaes comerciais, endossando, desse modo, o liberalismo econmico. Na
contramo dessa viso, est uma outra dimenso da rede, que perpassa no
s pela coexistncia pacfica de vrios interesses e culturas (CASTELLS,
1999: p. 439-440), como tambm permite o surgimento de uma nova forma de
comunidade, que rene as pessoas on-line ao redor de valores e interesses em
comum (idem, p: 442). Como afirma Lvy, proporcionada pelo ciberespao,
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a cibercultura a expresso da aspirao de construo de um lao social, que no seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relaes institucionais, nem sobre as relaes de poder, mas sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaborao. O apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal de relao humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades virtuais so os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato. (1999: p. 130)
A web 2.0, que se diferencia das anteriores pela mudana para uma
internet como plataforma (CONRADO, 2007: p. 44), se enquadra
perfeitamente nesse cenrio de interatividade e cooperao. Para Tim O'Reilly,
percursor da terminologia web 2.0, a regra mais importante [da nova web]
desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem
melhores quanto mais so usados pelas pessoas, aproveitando a inteligncia
coletiva (idem: p. 44). Nesse sentido, que as comunidades virtuais exercem,
assim, um papel decisivo na promoo e desenvolvimento da inteligncia
coletiva.
MOVIMENTOS SOCIAIS DA REDE
Partindo do princpio que a internet tem como grande promessa
romper com as barreiras entre produtor e consumidor (...) criando um territrio
neutro, aberto, que tornasse o indivduo o centro da informao (LEMOS,
2005: p. 258), constatamos que para a web chegar a esse nvel ainda h um
longo caminho a percorrer. Embora a descentralizao e a democratizao
totais ainda estejam no plano imaginrio, a aglomerao de internautas nas
comunidades virtuais em prol de uma internet mais livre tem criado uma
presso significativa sobre os produtores e distribuidores de contedo, para
que esses ideais de comunicao se concretizem no mundo virtual-real.
atravs dessa demanda e consequente reivindicao e luta que
surgem os movimentos sociais na grande rede, cujas principais caractersticas
so a desterritorializao, a transnacionalizao e a virtualizao. Os
movimentos sociais virtuais para democratizao de acesso s tecnologias,
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que destacaremos ao longo deste artigo, se colocam, dessa forma, contra o
sistema capitalista vigente, pois seguem na contramo da lgica do mercado
industrial dos produtos de informtica. Pierre Lvy elucida a compreenso da
luta pela difuso tecnolgica como movimento social:
pode parecer estranho falar de 'movimento social' quando se trata de um fenmeno habitualmente considerado como 'tcnico'. Eis, portanto, a tese que vou tentar sustentar: a emergncia do ciberespao fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo lder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexo, criao de comunidades virtuais, inteligncia coletiva) e suas aspiraes coerentes. (1999: p.123)
Entendemos, sobretudo, o significado do termo movimento social sob a
perspectiva de Scherer-Warren quando afirma que o movimento se caracteriza
pela identificao de sujeitos coletivos em torno de valores, objetivos ou
projetos em comum, os quais definem os atores ou situaes sistmicas
antagnicas que devem ser combatidas e transformadas (1989: p. 24).
Entre as inmeras articulaes sociais, daremos enfoque aos que
defendem a liberdade de escolha pelo software/sistema operacional, ou,
simplesmente, Movimento Software Livre (MSL). Observamos nesses
movimentos uma expresso contempornea das relaes antagnicas da
intelectualidade, uma reformulao do materialismo histrico, a nova dialtica
entre aqueles que detm do meio de produo e os que possuem a mo-de-
obra produtiva. Alm de validar, ainda na perspectiva de Scherer-Warren, o
exerccio da Prxis, como elemento de transformao social propulsor da
libertao (...) e da necessidade das classes se organizarem, enquanto grupos
de interesses, na busca de autonomia (idem: p. 24).
Dentro do MSL h conceitos e resqucios de movimentos sociais que
legitimam a ao social, no s pela democratizao das tecnologias, ou pela
incluso de indivduos que, coletivamente, constroem uma forma de
socializao de conhecimento computacional. Mais do que isso:
O Movimento Software Livre surge com a perspectiva de mobilizar e esclarecer a comunidade tcnica e outros interessados sobre o uso dos programas livres. Mas
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atualmente smbolo de outras lutas que vo alm da perspectiva tcnica, baseando-se numa lgica de liberdades, carrega consigo discusses sobre direitos autorais, socializao do conhecimento, contra-cultura e contra-hegemonia2.
Partimos da premissa de que este um dos movimentos que mais
mobiliza a juventude, que atua sem fronteiras, neste mundo globalizado, na
luta pela quebra do fetichismo sobre o produto intelectual de criao de
sistemas operacionais de computadores, nesta virada de sculo.
SOFTWARE LIVRE OU INTELECTO LIVRE?
Para compreendermos melhor do que se trata o Movimento Software
Livre, necessrio que saibamos as distines bsicas no referente ao
funcionamento computacional. Assim descreve Viviani Teixeira: O computador
composto de hardware e software. Hardware a parte fsica, isto , a
mquina. Software uma sentena escrita em uma linguagem computvel,
para a qual existe uma mquina (computvel) capaz de interpret-la. O
hardware e o software se completam. Teixeira afirma que a comercializao
dos dois produtos , geralmente, realizada em conjunto. O que fomenta o
comrcio mundial de software.3
O Software Livre , portanto, disponibilizado gratuitamente. O termo
software livre foi criado por Richard M. Stallman, um dos fundadores da Free
Software Foundation (1985) e do movimento chamado Manifesto GNU. Lker
afirma, GNU was the name of the rst free software project, where Stallman
titled it upon the industry standart operating system Unix (2008: p. 16).
2 Teixeira, Viviani. Os movimentos sociais e a sociedade da informao: Reflexes sobre a restrio no uso da tecnologia. IV Congreso de La CiberSociedad 2009. Disponvel em: http://www.cibersociedad.net Acessado em 2/05/2010. 3 idem.
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Vale ressaltar que no objetivo deste artigo, aprofundar nas questes
tcnicas da informtica sobre a produo desses programas, mas sim tentar
compreender o movimento jovem por detrs da construo desse coletivo.
Em referncia ao estabelecido pela Free Software Foundation sobre as
definies do software livre, destacamos:
un programa es software libre siempre y cuando los usuarios de este tengan garantizadas cuatro libertades bsicas: (1) la libertad de ejecutar el programa sea cual sea su propsito; (2) la libertad de estudiar y modificar el programa para ajustarlo a sus necesidades; (3) la libertad de redistribuir copias, ya sea de forma gratuita, ya sea a cambio del pago de un precio, y (4) la libertad de mejorar el programa y luego hacerlo pblico para el bien de toda la comunidad. (ALBERICH e ROIG, 2008: p.3)
Stallman defende que el software libre es una cuestin de libertad, no
de precio (2004: p.41). Ele argumenta que o significado de libre nesta frase
deve ser o mesmo de libertad de expresin (idem: p. 12).
A luta pela liberdade de escolha e de criao gera uma proliferao
cultural em diversas reas e d origem a outros movimentos, como o Software
Open Source, ou de fonte aberta, que surgiu em 1997. Segundo Stallman el
open source es un mtodo de desarrollo; el software libre es un movimiento
social. Para ele el movimiento de software libre y el movimiento open source
son hoy en da movimientos separados con diferentes puntos de vista y
objetivos (STALLMAN, 2004: p.75). De acordo com Lker, The open source
concept was proposed by Eric Raymond in The Cathedral and Bazaar (1997).
The article provoked a new point of view interested in enterprise level of
commerce (2008: p. 17).
Viviani Teixeira explica que o Movimento Software Livre denominado
assim no Brasil, mas em outros pases atende por terminologias distintas,
apesar da similaridade nas ideologias, como por exemplo, o Open Source,
FLOSS (Free, Libre and Open-Source Software) e FOSS (Free and Open
Source Software). Para ela, o MSL recruta cada vez mais adeptos por ser um
movimento com caractersticas contra hegemnicas, com conceitos de
autonomia e justia econmica.
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O Movimento Software Livre no pode ser considerado um movimento revolucionrio anti-capitalista ou anti-business, mas sim de oposio ao modelo de comrcio das indstrias de software proprietrios vigente. O MSL no adota regras econmicas ortodoxas como seu nico opositor. Ele vai alm e questiona princpios at mesmo dos modelos econmicos vigentes que giram em torno da informatizao e da esfera virtual.4
Resulta disso os livres: filmes, msicas, livros, fotografias, artes
grficas etc. A maioria criada no universo virtual de possibilidades, em grupos
cujos componentes muitas vezes s se conhecem pelos apelidos e geralmente,
sem contatos de primeiro grau. Compreendemos a atuao desses sujeitos
coletivos, protagonistas do movimento social pela liberdade de expresso e
criao intelectual no ciberespao, como uma renovao das relaes sociais
entre indivduos, tempo e espao, fora de produo e meios de produo.
O DIREITO DE SER LIVRE!
O debate acerca dos direitos que envolvem a comercializao, licenas
de uso e a livre permisso de utilizao e, por vezes, de alterao dos
softwares nos remete a uma busca pela maior compreenso das leis que
regem os patrimnios no-materiais.
Lessig explica que no sculo XVIII ainda no havia uma regularizao
sobre as obras intelectuais If I copied your poem by hand, over and over again,
as a way to learn it by heart, my act was totally unregulated by the 1790 act.
(b) Today the story is very different: If you write a book, your book is
automatically protected5. Ele defende a ideia de que hoje h um processo
automtico de proteo em sequncia criao.
4 TEIXEIRA, Viviani. Os movimentos sociais e a sociedade da informao: Reflexes sobre a restrio no uso da tecnologia. IV Congreso de La CiberSociedad 2009. Em http://www.cibersociedad.net Acessado em 2/05/2010 5 LESSIG, Lawrence. Free culture: how big media uses technology and the law to lock down culture and control creativity. The Penguin Press, New Cork, 2004. Disponvel em: http://free-culture.org Acessado em: 10/10/2010
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Para Zimmermann (1999) h diferentes formas de se proteger uma
obra: o copyright protge l'expression d'une ide plutt que l'ide elle-mme;
o certificado protge les droits de proprit sur la manire de faire quelque
chose; o segredo de fabricao protge l'ide sous-jacente d'une invention
plutt qu'une expression particulire, il a l'avantage pour l'innovateur de ne pas
divulguer l'information, mais il ne confre pas en revanche de monopole
d'exploitation e que a lgica do CopyLeft protger le libre.
De acordo com Stallman, o Copyright no uma lei natural, mas um
monopolio artificial impuesto por el Estado que limita el derecho natural de los
usuarios a copiar. O criador do Movimento Software Livre explica que o
Copyleft uma contrapartida s determinaes do Copyright: o Copyleft utiliza
la ley de copyright, pero dndole la vuelta para servir a un propsito opuesto al
habitual: en lugar de privatizar el software, ayuda a preservarlo como software
libre. (2004: p. 28)
Lker defende que, de acordo com Lawrence Liang, o termo CopyLeft
was originally derived by Ray Johnson for describing his mail-art works which
were made by using mixed media sources during the 1960s (2008: p. 25), mas
que a sua popularidade emergiu aps a adaptao pelo MSL.
A discusso em torno desses movimentos que lutam pelo direito de
liberdade de cpia e de alterao do software analisada por Lessing como
Free Culture. Ele define que a free culture is not a culture without property e
que o oposto disso a permission culture a culture in which creators get to
create only with the permission of the powerful, or of creators from the past6.
6 Lessig, Lawrence. Free culture: how big media uses technology and the law to lock down culture and control creativity. The Penguin Press, New Cork, 2004. Em http://free-culture.org
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Para Laura J. Murray, em sua tese sobre o filme Rip: Um manifesto
remixado, de Brett Gaylor, freedom in this discourse is a transcendent moral
value; brandished in this way, it is all or nothing (2009: p. 4). Takhteyev explica
que a esta uma questo de justia social: Free circulation of ideas and
remixability of culture is essential not only for cultural innovation but often also
for social justice7.
Liberdade a palavra-chave do MSL. Quando o software de
propriedade privada, sua cpia crime de pirataria. Com base nas ideias de
Viviani Teixeira,
o software rotulado como proprietrio de posse nica e de manuteno exclusiva, exceto no caso dos softwares piratas. (...) No caso dos softwares piratas, poderamos dizer que so clones dos originais, instalados em mquinas diferentes, mas com o mesmo nmero de srie, e, no caso de inspeo legal, ou por parte de instituies responsveis pela compra das licenas, seriam classificados como ilegais8.
Baseado na concepo de mercado e da mdia, podemos observar que
o crime de pirataria na internet atribudo aos hackers. Stallman argumenta
que el uso de la palabra hacker para definir al que rompe sistemas de
seguridad es una confusin promovida por los medios de comunicacin. Ele
suscita distines entre as terminologas hacker e cracker: Puedes ayudar a
subsanar este malentendido haciendo una simple distincin entre la intromisin
en la seguridad de un sistema y las actividades de hacking, empleando el
trmino cracking para la primera. Stallman argumenta que o hacker alguien
que ama la programacin y disfruta explorando nuevas posibilidades, pois
hacking significa explorar los lmites de lo posible con un espritu de sagacidad
imaginativa. (2004, p. 20)
7 TAKHTEYEV, Yuri. The Source in Free Culture. p. 3. Disponvel em: http://openpdf.com/ebook/takhteyev-pdf.html 8 TEIXEIRA, Viviani. Os movimentos sociais e a sociedade da informao: Reflexes sobre a restrio no uso da tecnologia. IV Congreso de La CiberSociedad 2009. Em http://www.cibersociedad.net
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Manuel Castells salienta que os Hackers no so o que a mdia diz
que so e que a cultura hacker desempenha um papel axial na Internet, pois
ela se d no ambiente fomentador de inovaes tecnolgicas capitais
mediante a cooperao e a comunicao livre, alm de fazer a ponte entre o
conhecimento originado na cultura tecnomeritocrtica e os seus produtos
empresariais que difundem a Internet na sociedade geral. Castells ressalta
que Eric Raymond, um dos mais destacados observadores
analistas/participantes da cultura hacker e um cone dela, afirma que hackers
so aqueles que a cultura hacker reconhece como tais (CASTELLS, 2003:
p.38). Ele salienta ainda que:
Suprema nesse conjunto de valores a liberdade. Liberdade para criar, liberdade para apropriar todo conhecimento disponvel e liberdade para redistribuir esse conhecimento sobre qualquer forma ou por qualquer canal escolhido pelo hacker9. (idem: p.42)
Castells argumenta que h na cultura hacker um sentimento
comunitrio, baseado na integrao ativa numa comunidade, que se estrutura
em torno de costumes e princpios de organizao social informal (idem: p.
43). A Internet o alicerce organizacional dessa cultura. A comunidade
hacker, em geral, global e virtual (idem: p. 44).
PODE O CIBERESPAO SER EXCLUDENTE?
O engajamento dos internautas, atrelado ao aprimoramento das TIC's e
da Internet, estimula o desenvolvimento da cibercultura que, por sua vez,
proporciona a inteligncia coletiva. Tal como afirma Pierre Lvy, permitir que
os seres humanos conjuguem suas imaginaes e inteligncia a servio do
desenvolvimento e da emancipao das pessoas o melhor uso possvel das
tecnologias digitais (1999, p. 208). Apesar dos movimentos em prol da
democratizao desse espao, isto , da eliminao da hierarquia que ainda
9 Castells. Manuel. A Galxia da Internet: reflexes sobre a internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
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persiste entre produtor e consumidor, a fim de torn-lo totalmente livre e
igualitrio, a cibercultura continua sendo excludente. E permanecer sendo at
o momento em que medidas sejam tomadas para reverter esse quadro.
Tanto a inteligncia coletiva quanto as tecnologias que a favorecem
no devem estar condicionadas a setores sociais e regies economicamente
ativas.
O acesso ao ciberespao exige infra-estruturas de comunicao e de clculo (computadores) de custo alto para as regies em desenvolvimento. Alm disso, a apropriao das competncias necessrias para a montagem e manuteno de centros servidores representa um investimento considervel. (...) preciso ainda superar os obstculos 'humanos'. Em primeiro lugar h os freios institucionais, polticos e culturais para formas de comunicao comunitrias, transversais e interativas. H, em seguida, os sentimentos de incompetncia e de desqualificao frente s novas tecnologias. (LVY, 1999: p. 235-236)
Talvez a soluo mais sensata para o problema em questo fosse
proporcionar o acesso a todos e reduzir os custos da conexo. Contudo, para
Lvy, estar munido de todos os dispositivos tecnolgicos para imergir no
ciberespao no o suficiente. O indivduo, acima de tudo, no deve estar
apenas preparado para participar do ambiente virtual, mas tambm ter
conhecimento do seu funcionamento. Tendo em vista que a internet no s o
presente como, principalmente, ser o futuro, acreditamos que, nesse ponto,
fundamental que o Estado implemente polticas pblicas nas escolas, que
possibilitem aos jovens um conhecimento e um uso sbio das potencialidades
que este meio oferece.
Alm disso, no adianta que o Brasil tenha 67,5 milhes de internautas,
segundo as estatsticas do Ibope/Nielsen, ou esteja em primeiro lugar quanto
ao tempo mdio de navegao por ms.10 Cabe pensar, sim, diante da
10 http://www.tobeguarany.com/internet_no_brasil.php Acessado em 22/05/2010.
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relevncia da internet nos dias atuais, nos motivos pelos quais ainda h mais
de 120 milhes de brasileiros fora do mundo virtual.
CONCLUSO
No nosso imaginrio tecnolgico, o ciberespao um ambiente de total
liberdade de movimentao e criao de dispositivos, programas e contedos,
que permitem a cada indivduo explorador da internet contribuir para a sua
construo. Fazer da rede como um meio onde ainda vigorem as hierarquias
presentes na mdia tradicional, impedindo que estas sejam desconstrudas,
minar o seu maior potencial: o de ser o nico espao igualitrio, sem qualquer
distino social.
O Movimento Software Livre, tal como muitos outros que existem no
ciberespao, a expresso da luta para que esse ideal de liberdade, ainda no
mundo da imaginao, se concretize no plano real-virtual. Enquanto o
desenvolvimento de programas depender exclusivamente da indstria dos
produtos de informtica, a internet permanecer um ambiente excludente, na
medida em que os usurios manter-se-o merc das decises das lgicas de
mercado do sistema capitalista vigente. Iniciativas como as do MSL, legitimam
a luta por um mundo democrtico.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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SOBRE AS AUTORAS
Katja Augusto possui graduao em Comunicao Social - Jornalismo pela Universidade Estcio de S (2008). Cursa ps-graduao em Mdias Digitais, na Universidade Estcio de S (previso de formatura: 2010), e graduao em Histria, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ (previso de formatura: 2012). Atualmente, estagiria em Assessoria de Comunicao Do Decanato de Ensino de Graduao da UFRRJ.
Monique Lima possui graduao em Comunicao Social com habilitao em Jornalismo. Atualmente Assessora de Comunicao do Decanato de Ensino de Graduao da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Tem experincia na rea de Comunicao Empresarial. Estuda Cincias Sociais na
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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro desde 2010 I. aluna especial da disciplina Educao e Democracia: um diagnstico poltico-educacional do Programa de Ps-gradao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas Populares - IE / IM / UFRRJ.