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ARTEEDUCAO

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A CONTRIBUIO DA PROPOSTA DE ENSINOAPRENDIZAGEM DO DESENHO DE OBSERVAO DESENVOLVIDO POR BETTY EDWARDS PARA A FORMAO DO PROFESSOR DE ARTE

Autoria: Luiz Roberto Gonalves, Acadmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR Orientadora: Dra. Zeloi Aparecida Martins dos Santos

Palavras-chave:

Desenho

de

observao,

Betty

Edwards, Formao do professor de Arte.

2.

OBJETIVOS

O objetivo do trabalho de pesquisa investigar e apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho de observao desenvolvido pela pesquisadora norte-americana Dra. Betty Edwards a um grupo de professores de arte da Faculdade de Artes do Paran FAP, relacionando o contedo do livro Desenhando com o lado direito do crebro (1984) com as teorias contemporneas de ensino de arte. A habilidade de representar o que se v atravs de

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imagens utilizando lpis e papel, conhecida como desenho de observao, algo to simples de se adquirir quanto as habilidades de ler e escrever, dirigir um automvel, andar de bicicleta ou mesmo usar os recursos de um micro-computador. No mbito da educao no se trata de adquirir essa habilidade para se tornar artista profissional, nem de utilizar o desenho de observao como passatempo ou terapia ocupacional. E, muito menos, registrar as idias e a vida privada de um indivduo para que outrem analise os desenhos. Betty Edwards desenvolveu um mtodo de ensinoaprendizagem de desenho de observao que permite a qualquer estudante de qualquer disciplina aprender essa habilidade: representar o que v sua frente atravs de lpis e papel, de maneira rpida e eficaz. Seu livro Drawing on the right side of the brain (1979) foi traduzido para vrias lnguas e tornou-se best-seller1 na rea do desenho. No Brasil foi publicado em 1984, com traduo de Roberto Raposo, num contexto cultural marcado pelo final do regime militar (1964 a 1985). A busca por mudanas estava presente em todos os setores da sociedade. As diversas reas do conhecimento trabalhavam para recuperar1 Considera-se best-seller o livro que grande xito de vendas em livraria. (Ferreira, 1988)

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o dficit deixando pela ditadura. A rea da educao pode ser tomada como um exemplo na busca de mudanas: a adaptao e criao de novos conceitos, reviso e criao de teorias para tomada de novos direcionamentos. Questionando e refutando o perodo de ditadura militar, para romper definitivamente com o quadro catico que apresentava a influncia norte-americana e o tecnicismo na educao. A obra de Betty Edwards no se vincula escola tecnicista, entretanto alguns educadores associam-na a essa concepo de ensino. O enfoque da autora uma possvel explicao terico-prtica do processo do desenho de observao, partindo das pesquisas do neurocientista Dr. Roger Wolcott Sperry sobre a bilateralizao dos hemisfrios direito e esquerdo do crebro humano. E a apropriao dessa habilidade, pelos estudantes, visando sua autoexpresso. O mtodo de Betty Edwards no se caracteriza como um manual2 tcnico e sim como um mtodo3 de ensino-aprendizagem. O livro Desenhando com o lado direito do crebro foi o resultado da pesquisa da autora para obteno do titulo de doutor. Mas, as suas investigaes no se limitam a essa obra.2 Considera-se manual um pequeno livro que contm noes essenciais acerca de uma tcnica. (Ferreira, 1988). 3 Considera-se mtodo um caminho pelo qual se atinge um objetivo. (Ferreira, 1988).

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Tambm escreveu outros livros sendo que o ltimo, com o ttulo Color: a course in mastering the art of mixing colors, ainda no foi traduzido para a lngua portuguesa. Entendemos que, aps 25 anos de sua publicao, fazse necessrio realizar uma releitura do livro Desenhando com o lado direito do crebro. A prpria escola tecnicista e a nfase no uso de recursos didticos e objetivos instrumentais est sendo discutida e reinterpretada. A abordagem triangular, proposta por Barbosa (1991), evidencia a relao produzir-apreciar-contextualizar e o mtodo de Betty Edwards nos parece adequar-se a essa proposta. A teoria apresentada pela autora baseia-se nas pesquisas sobre o funcionamento e processamento de informaes do crebro humano (Springer e Deutsch, 1998) e seu valor prtico j foi aprovado, como se pode observar nos trabalhos de pesquisa de Titton que afirma que "Betty Edwards (...) proporciona s pessoas um desenvolvimento pessoal que excede as buscas de expresso por intermdio do desenho" (2000, p.120) e Carneiro que conclui: "o mais bonito ver nos olhos de cada aluno o brilho de alegria ao saber-se capaz de realizar coisas que at ento julgavam impossvel" (2000). A proposta de Betty Edwards pode ser trabalhada em um contexto interdisciplinar: a histria da influncia cultural

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norte-americana sobre a cultura brasileira; com a histria da educao no Brasil e a diferena entre mtodo e manual; com a psicologia da educao, sobre a Gestalt e a bilateralizao dos hemisfrios cerebrais humanos; com a filosofia, sobre a mudana de paradigma; com a representao grfica, sobre o que os olhos vem e o que achamos que vemos, principalmente em desenho de perspectiva. Entre tantas outras. Contudo, entende-se que a falta de conhecimento a respeito da eficcia da proposta de Betty Edwards deve-se muito falta de uma abordagem e discusso da obra nos cursos de graduao para formao de professores de arte. Se o mtodo desenvolvido pela pesquisadora Betty Edwards propicia a apreenso dos cdigos artsticos e o ensino-aprendizagem em arte, por que esse mtodo continua sendo ignorado? Por que o livro Desenhando com o lado direito do crebro pouco utilizado em sala de aula, e nos cursos de formao de professores de arte? Qual o motivo de no se incluir as pesquisas de Betty Edwards nas investigaes sobre ensino e aprendizagem em arte? Apesar de ainda no haver comprovao cientfica, por parte de neurocientistas, o mtodo permite, em pouco tempo, com apenas alguns exerccios, desenvolver a habilidade do desenho de observao dos alunos, partindo do pressuposto de

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que os dois hemisfrios cerebrais do ser humano processam as informaes visuais percebidas atravs do aparelho da viso, de modos diferentes. O estmulo do processamento das informaes visuais pelo hemisfrio direito seria o responsvel pela eficcia do mtodo de Betty Edwards. Justifica-se este trabalho de pesquisa porque ainda existem professores e pesquisadores do ensino de arte que desconhecem ou conhecem parcialmente a obra de Betty Edwards, sua aplicabilidade, importncia e contribuio para o ensino de arte.

3.

MTODOS

Este

trabalho

tem

carter

exploratrio

com

delineamento de levantamento de informaes. Inicialmente ser realizada a reviso bibliogrfica, tanto da obra de Betty Edwards, como de diversos tericos da educao e do ensino de arte de modo a clarificar as concepes de ensino e aprendizagem. Sero considerados os livros de Betty Edwards, tanto os originais, em ingls (1986, 1999, 2002 e 2004)4, como as quatro tradues para o portugus (1984, 2000, 2002 e4 O primeiro livro de Betty Edwards, de 1979, saiu de catlogo nos Estados Unidos.

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2003). Tambm o livro sobre desenho de observao de Philip Hallawell (1999) que prope um curso de desenho a partir do livro Desenhando com o lado direito do crebro e dissertaes e artigos sobre o ensino-aprendizagem do desenho de observao publicados pela Associao Nacional de

Pesquisadores em Artes Plsticas ANPAP, e nas diversas Universidades brasileiras, nos ltimos anos. Sero tambm consideradas as publicaes dos tericos da educao e da pesquisa: Silvio Zamboni (1998), Ana Mae Barbosa (1991 e 2002), Fayga Ostrower (1987) e Fernando Hernandez (2000). Sero aplicados alguns exerccios propostos por Betty Edwards para um grupo de professores de ensino de arte da Faculdade de Artes do Paran FAP, por meio da organizao de uma oficina. Sero apresentadas as caractersticas principais das cinco obras de Betty Edwards e proposto a discusso e a anlise do mtodo de ensino aprendizagem de desenho de observao proposto pela autora sob a ptica das teorias contemporneas de ensino de arte. A coleta de dados ser efetuada por questionrios iniciais e finais, que devero ser elaborados antecipadamente seguindo metodologia apropriada, pela coleta dos desenhos realizados pelos participantes na oficina, pela gravao de depoimentos dos participantes e transcrio dos dados para

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texto escrito e pela gravao de imagens da aplicao do mtodo na oficina proposta. A anlise dos dados ter carter qualitativo. Sero analisados os questionrios, os desenhos e os depoimentos dos participantes da oficina buscando correlaes, comparaes e distines obtendo, assim, informaes para a formulao da concluso final. 4. RESULTADOS PARCIAIS

No trabalho de pesquisa realizado para o Programa Institucional de Iniciao Cientfica (2007/2008) foram realizadas leituras sistematizadas dos quatro livros de Betty Edwards traduzidos para o portugus, alm de autores contemporneos que tratam de assuntos correlatos como Gardner (1999) e Springer e Deutsch (1998), e levantadas as questes que envolvem a habilidade do desenho de observao e sua relao com o processamento de informaes pelo hemisfrio direito do crebro humano. O levantamento a respeito do assunto apontou uma quantidade significativa de pesquisas e de artigos publicados em diversas instituies brasileiras de ensino superior: Universidade Federal do Paran UFPR, Pontifcia

Universidade Catlica de Campinas, Pontifcia Universidade

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Catlica do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual Paulista UNESP e por diversos pesquisadores da arteeducao: DORFMAN, CARNEIRO, ANDRADE, GARCIACAIRASCO, RIGHETTO e TITTON. Hallawell diz que a primeira coisa que o motivou a escrever seu livro A mo livre (1999) foi o desejo de valorizar o desenho e resgat-lo de um emaranhado de noes equivocadas. Ele diz ter percebido que havia uma crescente tendncia de confundir o academicismo com o exerccio do desenho de observao e o desenho realista. Afirma ainda que "esta confuso fez com que se estabelecesse o conceito de que o desenho de observao inibe a criatividade (1999, p. 09). O livro de Hallawell utiliza como base os exerccios propostos por Betty Edwards assim como Harary e Weintraub utilizam em seu livro Aprendizado com o lado direito do crebro em 30 dias (1993) um desses exerccios mais famosos: o desenho com a referncia virada de cabea para baixo. Este exerccio, que serviu de base para a tese de doutorado de Betty Edwards j vinha sendo proposto pelo professor de design Jay Doblin, em 1956, mas, como afirma o artista e professor Maurcio Porto, no prefcio da primeira traduo brasileira, "o grande mrito da Dra. Betty Edwards ter dado um fundamento cientfico a todo esse conhecimento intuitivo" (Edwards, 1984,

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p.7) Autores americanos como Tony Schwartz (1995) e Daniel Pink (2007), incluram em seus livros suas experincias pessoais fazendo os exerccios de Betty Edwards e associando a autora a uma nova era. Pink explica que, graas Betty Edwards, as pesquisas pioneiras de Sperry foram difundidas para vrios pases e prev que, no futuro, as mentes criativas tero mais chances de trabalho. De acordo com o artigo de Righetto (2001), o mtodo de Betty Edwards est sendo utilizado na disciplina Desenho A do curso de Engenharia Civil da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas PUC, visando uma nova filosofia no ensino de desenho. Esta utilizao, conforme os dados estatsticos apresentados diminuiu o ndice de desistentes da disciplina. Titton, em sua dissertao de mestrado, em 2000, fez uma pertinente associao entre as idias expostas por Betty Edwards com a teoria filosfica de Merleau-Ponty alm de verificar o resultado da aplicao dos exerccios com alunos da escola de arte Pro-Criar. O livro Desenhando com o lado direito do crebro referenciado em pesquisas e trabalhos de autores respeitveis como Gardner (1999).

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O trabalho de pesquisa revelou que, o mtodo de Betty Edwards associado, pelo senso comum, neurocincia, psicologia, tcnica e auto-ajuda. E, realmente, sua aplicao nessas reas pertinente. Porm, verificamos em estudos preliminares a respeito do mtodo, que na rea da educao que Betty Edwards tem desenvolvido toda a sua pesquisa. Portanto, nessa rea que pretendemos desenvolver nossas investigaes. Partindo dessa constatao, optou-se, nesta pesquisa, por apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho de observao proposto pela autora e aplicar alguns exerccios do livro Desenhando com o lado direito do crebro, com um grupo de professores de arte da Faculdade de Artes do Paran FAP visando obter um material de anlise significativo acerca do mtodo e dos resultados da aplicao dos exerccios do mtodo em questo.

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CONCLUSO PARCIAL

H evidncia de que a falta de conhecimento a respeito do contedo do livro Desenhando com o lado direito do crebro, por parte de alguns professores de arte, no contexto

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brasileiro, est associada falta de oportunidade de conhec-lo durante sua formao acadmica. Os resultados da aplicao dos exerccios com o grupo de professores de arte, alm de seus depoimentos, permitiro um levantamento de dados significativo para uma melhor compreenso do porqu do livro Desenhando com o lado direito do crebro permanece desconhecido para alguns professores de arte.

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REFERNCIAS

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aprendizagem.

Curitiba:

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HERNNDEZ, Fernando. Cultura visual: mudana educativa e projeto de trabalho. Traduo de Jussara Haubert Rodrigues.

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OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criao. Ed. 20. Petrpolis: Vozes, 1987.

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ZAMBONI, Slvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e cincia. Campinas: Autores Associados, 1998.

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A Ordem do olhar: percepes claras e confusas

Autoria: Angelo Jos Sangiovanni, Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR.

1- Objetivos:

O objetivo principal do trabalho , por um lado, analisar a mudana que ocorreu na percepo a partir da ruptura que a filosofia recm criada por Plato, imps a educao grega. Plato separou e baniu da objetividade do conhecimento qualquer percepo que trate da subjetividade e emoes. Por outro lado, apontamos a soluo proposta por Kant para dar conta da subjetividade das percepes estticas por meio da comunicabilidade entre os emissores dos juzos.

2- Mtodos e Resultados

Nos primrdios da Grcia antiga o conhecimento era obtido pela tradio oral. A poesia e a epopia eram os meios orais de transmisso da tradio. A ordem do mundo era estabelecida na relao de culto. A tragdia apresentada no espao da polis grega possibilitava ao cidado grego se ver

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refletido. A obra dipo Rei de Sfocles no era uma fico, dipo no era somente um personagem, era a prpria essncia da condio Grega. O mundo era percebido pela ao de seus heris. A tradio oral de conhecimento atacada por Plato principalmente no livro X da Repblica. Para Plato fundamental excluir da cidade a poesia de carter mimtico, pois destri a inteligncia dos ouvintes. No livro VII da Repblica Plato apresenta a alegoria da caverna, bem conhecida na pedagogia. Plato supe que desde o nascimento seres so aprisionados dentro de uma caverna, com o rosto voltado para o fundo, no qual so projetadas sombras dos objetos ou seres que passam do lado de fora. A realidade para os prisioneiros so as sombras, as cpias da realidade exterior. A alegoria ilustra o ponto central da teoria do conhecimento de Plato: que para atingirmos o mundo cognoscvel necessrio fazer um grande esforo para voltar nossa alma em direo do que justo e belo. A correta direo do olhar neste caso impe romper as correntes e voltar a cabea e o pescoo para a entrada da caverna. O conhecimento para Plato encontra-se em um mundo superior afastado da confuso das percepes mutveis dos sentidos. Plato inaugura a crena na verdade justificada

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por argumentos da razo, o dialogo substitui o mito. A filosofia e a cincia surgem com Plato para evitar o mal entendido. A verdade para o velho filsofo, no est separada de um agir correto: o ser deve direcionar o olhar em direo ao justo e ao belo. Mas, o que devemos evitar para olharmos

corretamente? A subjetividade. Os sentimentos so os descaminhos, afastam do caminho da verdade. Retomando a crtica de Plato poesia encontramos o pilar da distino entre o conhecimento que claro, luz, inteligvel por um lado, e a ignorncia que escura, confusa, sombras. Podemos criticar a concepo ontolgica de Plato onde o verdadeiro confunde-se com o que a essncia. Todavia, a recusa desta concepo no evita a distino surgida entre um tipo de percepo clara e outro tipo que confusa e deve, por isso, ser banida do cognoscvel. A crtica que Plato fez em relao poesia parte do pressuposto tico que os poetas faltam com a verdade ao falarem de coisas que no sabem. Felizmente, ou infelizmente, de tempos em tempos necessrio discutir com os primeiros representantes do conhecimento ocidental, neste caso Plato. A discusso

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reaparece porque em algum aspecto eles ainda causam incmodos. A crtica que Plato fez em relao poesia parte do pressuposto tico que os poetas faltam com a verdade ao falarem de coisas que no sabem. Kant na Crtica da razo Pura pretende encontrar os limites do conhecimento humano. O espao e o tempo so condies necessrias para o conhecimento de um objeto. No possvel para Kant determinarmos um objeto se no tivermos previamente o espao. O senso comum poderia afirmar que ao retirarmos um copo de cima de uma mesa encontramos o espao, seria pela ausncia do objeto que obteramos o espao. Deste modo, temos o espao como palco de nossas percepes e ao determinarmos um objeto temos claro o que o distingue dos outros. Por exemplo, em uma sala repleta de cadeiras e mesas fcil distinguir as mesas das cadeiras. Kant afirmaria que neste mltiplo de percepes temos o conceito da mesa que distingue e objetiva o objeto mesa. uma percepo clara, pois temos o conceito e a intuio do objeto. Os juzos lgicos do conhecimento so determinados, claros Todavia, o problema de determinar um juzo ou julgamento que no se submete aos moldes tradicionais lgicos do conhecimento reconhecido por Kant. Na Crtica

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do Juzo Kant pretende resolver o problema dos juzos que no se submetem as regras lgicas tradicionais, a saber, os estticos:

Para distinguir se algo belo ou no, referimos a representao, no pelo entendimento do objeto, para o conhecimento, mas pela imaginao (talvez vinculada com o entendimento) ao sujeito e ao sentimento de prazer ou desprazer. O juzo de- gosto no , pois, um juzo de conhecimento, portanto no lgico, mas esttico, pelo que se entende aquele cujo fundamento-de-determinao no pode ser outro do que subjetivo. (KANT p. 209. 1984)

Para Kant o julgamento esttico subjetivo e reflexivo, pois trata do sentimento do sujeito que faz o juzo. O olhar do sujeito nico, mas no a pretenso de comunicar este olhar quando suponho esta capacidade nos outros.

Consideraes Parciais: Dois plos antagnicos na tradio filosfica so referencia a discusso sobre a clareza das percepes

estticas. Plato no sculo IV AC, notou a falta de objetividade nos julgamentos que tinham como contedo os sentimentos, e

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por isso, os achou perigosos ao serem tomados como conhecimento. O olhar poderia ser desviado do caminho da verdade e ser confundido por mmesis, simulacros, da realidade. Kant admite que seja possvel universalizar a capacidade de percebemos subjetivamente sensaes iniciando a esttica como uma cincia que pretende classificar as

proposies subjetivas em relao ao sentimento de prazer e desprazer. A questo da obscuridade das percepes relativas aos sentimentos continua. Alguns autores apontam necessidade de uma justificao que vai alm do esttico, e procuram uma instncia exterior como a tica para tornar justificvel o fenmeno esttico.

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REFERNCIAS:

HAVELOCK , E. Prefcio a Plato. Campinas: Papirus, 1996.

JAEGER, W. PAIDIA: a formao do homem grego. So Paulo: Martins Fontes, 1995. KANT, I. Textos selecionados. 2.ed. So Paulo: Abril Cultural, 1984.

PLATO. A Repblica. 3ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1980.

ROSENFIELD, D. et al. tica e Esttica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 2001.

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A PRESENA DE CONTEDOS DE ARTE NOS COMPNDIOS OU MANUAIS DE FORMAO DE PROFESSORES ADOTADOS NO ESTADO DO PARAN NO PERODO DE 1834 A 1900.

Autoria: Daniele Cristina Mendes - Faculdade de Artes do Paran, Curitiba - PR. Co-autora: Marlete dos Anjos Silva SchaffrathOrientadora

Apresentao

A pesquisa investiga os processos de formao de docentes no Estado do Paran, bem como os elementos do ensino de artes nos primrdios desta formao, fatores estes importantes para a ampliao dos conhecimentos e aprimoramento da formao do acadmico de licenciatura. Este projeto se vincula linha de pesquisa Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade. Nossa

inteno aqui investigar alguns aspectos do processo

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da formao docente no Paran (1834 - 1900) no que se refere aos contedos de Artes contidos nos Manuais ou Compndios utilizados por professores paranaenses no perodo em questo. Essa pesquisa constitui pelo levantamento e anlise fontes tanto documentais quanto bibliogrficas, com a inteno de revelar aspectos do conhecimento cultural e histrico da formao docente paranaense para o ensino das Artes e a educao em geral. Julgamos importante a pesquisa de iniciao cientfica para os acadmicos de cursos de graduao por que ela pode subsidiar o trabalho de desvendamento cientfico da realidade, na medida em que as anlises e reflexes nos ajudam a compreend-la. Discutir aspectos da formao cultural brasileira pelo estudo da histria da educao e do ensino de arte nas escolas um modo de estabelecer significados para a

compreenso do estado da arte da educao artstica no Brasil, o que para os cursos de licenciatura em artes de fundamental importncia. Alguns estudos realizados at o momento apontam o seguinte: a Instruo brasileira ganha incentivo aps a vinda da famlia Real portuguesa para o

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Brasil em 1808, de acordo com Aranha (1996). At este perodo, os professores no tinham apoio pedaggico para subsidiar seus trabalhos no magistrio. Eles ensinavam basicamente o que aprendiam com seus mestres, segundo Tanuri (1969). A partir de 1869, os compndios ou manuais de pedagogia comearam a ser trazidos da Europa a fim de preparar os professores para o exerccio de suas funes. Segunda Schaffrath (1999) estes compndios traziam contedos diversificados. Tais contedos variavam de conhecimento geral das cincias formao moral para os alunos. Com isso o objetivo do projeto se encaminhara em investigar a presena de contedos de arte nos compndios e manuais de formao de professores adotados no Estado do Paran no perodo de 1834 a 1900. Pretendemos primeiramente levantar dados sobre a utilizao dos compndios adotados no Estado do Paran no perodo de 1834 a 1900. E a partir da investigar a presena de contedos relacionados s artes nestes compndios, e ainda analisar o teor dos contedos de arte presentes nos compndios adotados.

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Mtodos A pesquisa est sendo baseada no levantamento e catalogao de fontes primrias e secundrias do perodo compreendido entre os anos de 1834 e 1900. Os dados levantados sero analisados a partir de

referenciais tericos e bibliogrficos previamente selecionados pelo professor orientador. Aps a anlise destes dados ser elaborado um texto expondo os conhecimentos revelados pela pesquisa e, por fim, ser feita a socializao destes conhecimentos atravs de publicaes. O material de pesquisa ser buscado no acervo das Bibliotecas das Universidades Federais de Santa Catarina e do Paran, biblioteca da Faculdade de Artes do Paran e Arquivo Pblico do Estado do Paran. Este material compreende os documentos oficiais da Instruo Publica da Provncia Paranaense, como os relatrios dos Presidentes da Provncia, os documentos oficiais e os manuais adotados aqui, alm da literatura especfica sobre este tema.

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Resultados O perodo regencial no Brasil foi um dos mais agitados da histria poltica do pas. Perodo este marcado por confrontos relativos a territrios, organizao da sociedade e do Estado, tambm por uma serie de rebelies regionais. Lembrando que o Brasil antes de se tornar independente e entrar nesse perodo regencial, recebeu em 1808 a corte portuguesa, ou seja, sua metrpole. A corte trouxe consigo novos padres culturais: a biblioteca real, o primeiro jornal, utenslios, roupas, modo de se vestir, falar e comer, alm de mudana no perfil poltico e econmico. No final do sculo XIX, a sociedade brasileira vive um perodo de transformao em diversos mbitos. Na economia, por exemplo, o Brasil tem como base o caf que contribuiu para a soluo da crise econmica e para o desenvolvimento dos setores urbanos, como indstria e as ferrovias, o latifndio, a monocultura e a mo de obra escrava, essas que foram sendo substitudas pelos imigrantes, tambm se destacam. J na sociedade ocorria uma diviso de setores de classes. A primeira era composta pelos homens brancos, pertencentes s boas

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famlias, a segunda era o povo, que inclua brancos, mestios e negros libertos. E o terceiro setor social era o das camadas mdias urbanas, integrado por profissionais mais qualificados e que viviam do rendimento do seu trabalho. Assim o Brasil do sculo XIX foi

conquistando uma nova identidade, a modernizao nessa poca foi intensa. Centenas de indstrias, alguns bancos, companhias de seguros, navegao, transporte urbano (antigas carruagens foram substitudas pelos bondes puxados a burros) e de gs (MOTA, 1998). No que se refere educao e mais especificamente formao de professores, Heloisa VILELLA (1992) argumenta que a Escola Normal pblica e laica se prolifera na Europa no sculo XIX, mas a idia, ou seja, seu nascimento ocorre durante a Revoluo Industrial. Foi a primeira instituio

especializada em formar o professor, seu objetivo inicial era instruir o povo. Esse objetivo tratava-se de derrubar o

monoplio que a Igreja tinha sobre todo o sistema de educao. Quem contribuiu para o nascimento dessa instituio que trabalharia com a formao dos professores leigos foi o movimento humanista, o

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pensamento iluminista e a organizao dos modernos sistemas estatais de ensino. Porm a Escola Normal no teve uma longa existncia, diz Villela, por causa do perodo conturbado que a sociedade vivia na poca ocorreu sua extino, que acabou no inicio do sculo XIX, pelo fato da escola ser vista como uma instituio capaz de garantir a unidade nacional, por ter como ferramenta a transmisso de contedos e os valores culturais e morais, prometendo assim a formao do cidado a e dos futuros dirigentes do Estado. A autora destaca ainda, como esse modelo da Escola Normal europia influenciou no Brasil e como fcil identificar a histria do Brasil como um reflexo da histria europia na educao. Foi na provncia do Rio de Janeiro em 1834 aps o Ato Adicional, que o partido conservador representado por Joaquim Jos Rodrigues Torres, teve a idia de organizar uma Escola Normal onde formariam os professores da Provncia. Percebemos ento, como e com quais

objetivos foram criadas as escolas normais. Mas o que precisava como requisito, para ingressar nessas escolas?

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Que conhecimentos eram passados para ocorrer a formao do professor no perodo regencial? Vilella (1992) responde essas inquietaes colocando um documento criado pela Escola Normal de Niteri. O documento exigiu boas condies morais do indivduo do que a prpria formao intelectual. Constava o seguinte no documento: o

indivduo deveria ser cidado brasileiro, maior de dezoito anos, com boa morigerao e saber ler e escrever. A boa morigerao descrita no documento, quer dizer que o indivduo ser avaliado pela sua moral, bons costumes, boa educao. Isso porque o governo no pretendia oferecer ao futuro professor da escola primaria uma formao aprofundada em contedos mais sim uma formao moral e religiosa, pois os dirigentes da provncia estavam preocupados em ordenar, controlar e disciplinar do que instruir. Assim eles usavam o mtodo lancasteriano, tendo a garantia que a ordem e a vigilncia ocorreriam. Com esses requisitos a autora mostra quem eram os candidatos excludos na Escola Normal. Os escravos, no eram considerados pessoas; os homens livres e pobres, pois no tinham direito a voto; os negros

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e as mulheres, no caso das mulheres a seleo no era to rigorosa. A primeira Escola Normal recebeu mulheres como alunas, mas elas teriam que ter basicamente o domnio das prendas domesticas e dos ensinamentos religiosos. Recordando que essa

classificao de indivduos para serem futuros professores era feita com o objetivo de formar docentes como um agente disseminador de uma mentalidade moralizante do que um difusor de conhecimentos, pois na educao e na poltica em geral o que deve se legitimar a supremacia do partido conservador da provncia. No artigo de Claudia Maria ALVES (1992), encontramos tambm os requisitos para ingressar na Escola Normal, e como era feita a formao do docente de instruo primaria. A formao docente, que alm de ter uma classificao, o docente se formaria para exercer um papel domesticador, freiando os instintos e estabelecendo o domnio de valores superiores. Sua formao se baseava em estudar a gramtica da lngua nacional; aritmtica; lgebra e geometria elementar; o catecismo; a religio do Estado e didtica; o Francs, a msica e o canto. O futuro professor recebia contedos e

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valores voltados a moral e a religio, que se fortalece a unidade social. O sculo XIX no Brasil, com suas mudanas no quadro poltico, econmico e social, a escola era vista como uma ferramenta que podia moldar os indivduos para eles se adaptarem e encaixarem nesse sistema. Por isso a necessidade de formar professores comea a ser encarada de forma delicada, pois so esses que iram moldar o indivduo para o Estado. Logo ganha mais ateno as Escolas Normais, sendo essas vistas neste sculo como uma ao mais eficiente. Na provncia de So Paulo o modelo da Escola Normal, no foi diferente da provncia do Rio de Janeiro que teve a primeira Escola Normal de Niteri. A alem Ina Von Binzer, que viveu no Brasil entre 1881 e 1883, conta em uma carta para uma amiga na Europa sua opinio sobre a cultura brasileira da poca.

S. Paulo, 5 de abril de 1882. Minha Gente do corao. verdade mesmo: So Paulo o melhor lugar do Brasil para educadoras, tanto a capital, como toda a provncia, porque os moos da nova gerao namoram

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a cincia e do-se ares de erudio e de filosofia. Somos uma cidade universitria! Mas no pense em Bonn ou Heigelberg, pois a academia daqui no seno uma Faculdade de Direito. No interior da provncia h um seminrio onde se preparam padres (esqueci o nome do lugar), aqui formam-se advogados e no Rio de Janeiro os discpulos de Esculpio, os doutores par excelence`. Os brasileiros do timos advogados, podendo dessa forma aproveitar seu talento

declamatrio. Do a vida por falar, mesmo quando para no dizer nada. Com a eloqncia que esbanjam num nico discurso, poder-se-iam compor facilmente dez em nossa terra; embora no possuam verdadeira eloqncia nem marcada personalidade, falando todos com a mesma cadncia tradicional usada em toda e qualquer circunstancia. Tudo exterior, tudo gesticulao e meia cultura. O fraseado pomposo, a eloqncia enftica j so por si falsos e teatrais; mas se voc tirar a prova real, se indagar sobre qualquer assunto , no se revelam capazes de fornecerem a informao desejada. H pessoas na alta direo do Partido Republicano que no conhecem a histria nem a constituio do pas nem muito menos as das outras

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naes. H outros que se dizem partidrios do sistema filosfico do espiritual Comte, mais no compreendem os seus mais elementares ensinamentos. Alguns do opinio sobre lnguas estrangeiras, mas no sabem explicar nenhuma regra da sua prpria. Querem possuir sem demora todas as novidades no terreno da tcnica, mas os engenheiros para a montagem vm da Europa, quando estes se retiram, se por acaso se parte umas das peas das maquinas, nenhum nacional sabe consert-las... (BINZER, 1956, p.388 )

A carta da alem sobre a cultura brasileira na poca regencial entra de acordo com o artigo Modernidade Pedaggica e Modelos de Formao Docente de Marta Maria Chagas de Carvalho (2000). O artigo trata da deficincia existente no modelo pedaggico, gerando uma banalizao na escola do Brasil. Essa deficincia existe desde o sculo XIX e para falar dela Carvalho (2000) utiliza a escola paulista. Logo proclamada a Republica, os governantes do estado de So Paulo, representantes do setor oligrquico modernizador, investem na organizao de um sistema de ensino modelar. Esse sistema, Escola

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Modelo anexa Escola Normal, entendido como a arte de ensinar da pedagogia moderna, que se baseava em ver e imitar o docente. A Escola Nova paulistana, com modernos materiais escolares importados e um prdio apropriado, aderiu esse sistema cuja funo era a criao de bons moldes de ensino. Nela, os futuros mestres podiam aprender a arte de ensinar, aprender na visibilidade e na imitabilidade, ver como as crianas eram manejadas e instrudas e imitar. O diretor da Escola Normal, Gabriel Prestes, em 1896 relata sobre as praticas de sala de aula que se organiza e se dispem: crena na eficincia dos processos de ensino intuitivo; concepo acerca da natureza infantil formuladas nos marcos de uma psicologia das faculdades mentais; a pedagogia moderna ,ou seja, a arte de ensinar como corpus de saberes e de instrumentos metodolgicos capazes de viabilizar as escolas de massas e simultaneamente o ensino em classes numerosas e como base dessas praticas os exerccios escolares que contribuem na estrutura do ensino. Esses exerccios tem como funo: estabelecer uma rotina escolar; organizar o tempo como horrio;

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estabelecer uma disciplina de estudos e de currculo; adquirem um perfil das classes de alunos e sua maior funo, instruir e desenvolver as faculdades mentais da criana. Essas prticas fazem parte das Escolas Modelos, anexas s Escolas Normais, no sculo XIX. Os exerccios escolares, assim como a arte de ensinar, estruturam-se como caixas de utenslios para o uso de professores. Maria diz tambm, que as praticas que se formalizam nos usos desses materiais guardam forte relao com uma pedagogia em que tal arte prescrita como boa imitao de um modelo. No mbito dessa pedagogia, ensinar a ensinar fornecer esses modelos, seja na forma de roteiros de lies, seja na forma de ver e imitar.

Resultados Parciais: Essa dimenso Histrica da educao leva a pensar na formao do professor assim como os contedos que ele trabalha na escola intencional, ou seja, seu objetivo moldar o indivduo a partir de determinados valores sociais. Ainda que no tenhamos nos aproximado diretamente dos currculos das escolas

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de formao de professores e precisamente, do contedos de Artes contido neles, o trabalho ate aqui tem sido importante para a compreenso da estrutura educacional brasileira no Sculo XIX e sobretudo, para a compreenso dos determinantes do tipo de professor que era interessante formar para educar o povo brasileiro

Referncias bibliogrficas ARANHA, M. L. A. Histria da Educao. 2 ed. So Paulo: Moderna, 1996. MOTA, M.B. Histria das Cavernas ao terceiro Milnio. 2 ed.So Paulo: Moderna, 1998. CARVALHO, M. M. C. Modernidade

Pedaggica e Modelos de Formao Docente, 2000, So Paulo: Perspectiva, pg. 111 120. NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre presente. Helosa Vilela, Claudia Maria Costa Alvez, Armando Martins de Barros. Questes da nossa poca: v.4. Ed Cortez. So Paulo. 1992 SCHAFFRATH, M. A. S. A Escola Normal Catharinense de 1892: Profisso e ornamento.

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Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal de santa Catarina, 1999. TANURI, L.M. Contribuio para o estudo da Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n. 13, 1970.

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COMPNDIOS DE PEDAGOGIA: MODELOS PARA A FORMAO DE PROFESSORES NO PARAN (1834 - 1900)

Autoria: Leonardo Moita Bertoletti, Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR Co-autoria: Marlete dos Anjos Silva Schaffrath

Apresentao Este projeto est ligado linha de pesquisa Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade, grupo de pesquisa ao qual a orientadora do projeto pertence. Nossa inteno aqui investigar alguns aspectos do processo da formao docente no Paran (1834 - 1900) a fim de buscar um melhor entendimento do percurso histrico de formao docente no Brasil e no Paran, alm da socializao do registro da historiografia da poca com a comunidade acadmica. A viabilidade metodolgica da pesquisa que se pretende se far pelas fontes de pesquisa tanto documentais quanto

bibliogrficas, no intuito de compor um corpo terico de

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fatos e anlises que dem conta de revelar aspectos do conhecimento cultural e histrico da formao docente paranaense. A escolha do perodo histrico se deve ao fato de que, em 1834, o Imprio Brasileiro delegou a cada Provncia que cuidasse da sua instruo pblica, ou seja, a partir desta data cada Provncia estabeleceu os critrios e os manuais adotados para reger seu sistema de ensino, de acordo com Schaffrath (1999). E o ano de 1900, como marco final, se deve a proximidade com a Proclamao da Repblica, cujos Estados Federados passaram a organizar seus sistemas de ensino a partir de poder central, mas ainda guardavam aspectos culturais do Imprio.

Objetivos O objetivo central deste trabalho de pesquisa de investigar a adoo de compndios de pedagogia como modelos para a formao docente no Paran no perodo de 1834 a 1900. A partir da, pretende-se levantar dados sobre os mesmos e tambm escrever e analisar seus contedos propostos.

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Mtodos e Resultados A partir do levantamento de fontes, da leitura e anlise de textos que tratam deste tema, nosso trabalho pode oferecer algumas reflexes acerca do objeto de estudo, conforme segue. O trabalho de pesquisa realizado at aqui revelou que no Sculo XIX se consolidava o poder burgus na Europa e isto influenciou o pensamento pedaggico que passou a considerar novas propostas educacionais e de acesso s escolas, de acordo com Cunha (1979). No Brasil, a partir da instalao da Corte Portuguesa em 1808, nossa sociedade colonial foi palco de muitas mudanas, mas ainda no havia um projeto pedaggico para a educao brasileira, segundo Aranha (1996). At este momento, no havia circulao de material de apoio aos poucos professores que

ministravam aulas nas Provncias. Os professores adquiriam conhecimentos nas prprias escolas onde estudavam as primeiras letras, ou seja, reproduziam seu mestre, conforme descreve Tanuri (1969). Somente a partir 1869, os manuais ou compndios de pedagogia

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que j circulavam na Europa comearam a ser adotados pela instruo pblica brasileira. E as Provncias que desde 1834 j cuidavam de seus sistemas de ensino, se interessaram em adotar estes Manuais j que no tinham uma escola especfica para formar professores. E exatamente neste momento histrico que vamos centralizar nossos estudos. Que compndios foram trazidos para o Brasil, quem so os autores, quais foram os adotados no Paran e que projetos de formao docente e educao pblica eles encerravam em seus contedos. Para Valdemarin (2000), os manuais que circulavam aqui, embora diferentes entre si, estavam todos vinculados ao projeto modernizador da sociedade do Sculo XIX. Segundo a autora, muito embora cada uma deles apresentasse uma viso distinta do que fosse o progresso, ambos estavam vinculados ao mesmo projeto de sociedade burguesa e do modo de produo capitalista. Marta Carvalho (2001) aborda a questo da produo, circulao e utilizao de modelos

pedaggicos no Brasil e na Frana a partir e meados do

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sculo XIX. Neste trabalho, a autora destaca que nos manuais impressos que circulavam era patente o deslocamento dos contedos relacionados aos saberes necessrios prtica de professores, para contedos de carter disciplinador e moralizante. A autora aponta o perfil generalista de uma formao que pretendia dar ao professor meios e mtodos para forjar nos alunos o esprito cientificista que movia as sociedades daquele perodo histrico. A autora estudando os manuais de pedagogia defende que eles organizavam um discurso pedaggico que encerrava em si as ferramentas para a organizao da escola nos moldes da Pedagogia Moderna que pretendia, dentre outras, afirmar a educao como cincia. Os processos educativos prescritos, as

concepes acerca da Psicologia infantil (mais voltada para as faculdades mentais), os instrumentos didticos selecionados e toda a rotina de organizao da escola e da sala de aula, sob a forma de material impresso constroem o arcabouo de uma engenharia escolar traada nos Manuais de Pedagogia adotados pelas escolas para uso de professores.

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Carlota Boto (1998) analisando a cultura escolar em Portugal (182-1850) descreve a influncia do pensamento intelectual que concebia a educao escolar, e, sobretudo a escola primria, como vetor de sociabilidade seguindo padres iluministas, que

sustentavam o iderio da escola pblica, laica e universal. Segundo a autora, se entre os anos de 1820 e 1850 as discusses sobre o papel social da escola, como produtora de novos padres de sociabilidade era predominante na sociedade portuguesa; foi a partir de 1850 que as questes do mtodo comearam a fazer parte do itinerrio dos processos de formao docente. Entre 1850 e 1870 nota-se neste pas a proliferao de materiais didticos, favorecendo questes

metodolgicas e ao mesmo tempo indicando que a escola no estaria dando conta do ensino de habilidades elementares como a leitura, a escrita e o clculo, conhecimentos bsicos, delimitados para o mbito da escola primria. A autora destaca ainda que a partir de 1870 intensificaram-se os debates em torno do estabelecimento da Pedagogia como uma cincia da educao baseados no pensamento positivista. Agora

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as

questes

trazidas

pela

Pedagogia,

como

o

desenvolvimento infantil, eram analisadas sob o ponto de vista cientfico. Ainda mais que em meados de 1870 o aprimoramento de tcnicas tipogrficas e o

incremento dos meios de transporte faziam circular por toda a Europa os escritos cientficos de todas as reas. De acordo com Carvalho, no final do sc. XIX, nestes estavam presentes convices a respeito das faculdades da alma, tanto quanto a metodologia do ensino objetivo, caracterizando outro tipo de

organizao do corpus dos saberes pedaggicos, herana do pensamento cientificista da poca. Esse civismo partilhado, essa preocupao moral e poltica, aliada formao filosfica dos professores e insero da disciplina nos padres do ensino universitrio francs, conferiu pedagogia ministrada um altssimo grau de generalidade5.

Os manuais de autoria de Gabriel Compayr tiveram larga circulao no Brasil, propondo-se como modelo

NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992.

5

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de articulao discursiva dos saberes pedaggicos, por dcadas a fio.(Carvalho, 2006 p.05)

Compreender a construo histrica e social destes manuais, identificando o perfil generalista de uma formao docente que pretendia forjar nos alunos o esprito da poca, certamente nos faz entender melhor a situao em que vieram para o Brasil. Juntamente com estes manuais vieram, implcita e/ou explicitamente disputas polticas e religiosas, filosofias acerca do homem e do mundo, revolues pessoais, vontades e desejos de uma Europa pos revoluo francesa e pos revoluo industrial, para um Brasil rural que acabava de conquistar a maioridade. Desde modo a

obrigatoriedade de uma organizao interna em todos os seus setores: poltico, econmico e o objeto de nosso estudo, educacional. Neste campo a elite dirigente importa o modelo de educao europeu. Assim o Brasil visto como um espelho de m qualidade refletindo uma imagem distorcida do original.6 Com isto compreendemos que o modelo adotado no era6

Idem 1.

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adequado a realidade da poca, que vivia numa conturbao poltica. Liberais e Conservadores

disputavam na provncia carioca a administrao, que coube aos conservadores em primeiro momento logo aps o ato adicional em 1834 que concedia autonomia administrativa s provncias, de acordo com Nunes.

A supremacia deste grupo se explica por vrios fatores, dentre eles o fato de que muitos de seus integrantes se originavam das principais famlias produtoras de caf, principal produto de exportao da poca e graas ao qual o pas comeava a se levantar da grave crise financeira que vinha atravessando. (NUNES, 1992 p.25)

Neste mbito de ampliar e garantir a hegemonia do ideal conservador, nasce a necessidade da criao de um espao para a transmisso dessa ideologia e num segundo momento a sua difuso, garantindo a sua perpetuao, fazendo a identificao dos objetivos do partido com cada individuo. Surge, ento paralelamente, a necessidade de formar o professor como um agente

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capaz de reproduzir o tipo de conhecimento que desejavam difundir, de acordo com Nunes (1992), porm, que no fugisse a ordem e a conservasse como tal. Para a formao do professor na Escola Normal, de acordo com a lei de criao da mesma, o individuo deveria ter boa morigerao, no que se refere a moral, ou seja, na poca, homem branco maior de dezoito anos. Negros e mulheres no pertenciam a esta classificao. O marqus de Caravelas esclarece a medida: as meninas no tm desenvolvimento de raciocnio to grande como os meninos.7 A preocupao com a moral dava-se pelo perodo conturbado que se vivia. evidente que ligada ao aspecto moral houvesse subjacente preocupao com a posio ideolgica dos futuros professores (Nunes). Certamente o motivo para utilizao do mtodo lancasteriano que agradava em seus ideais polticos boa parte do grupo conservador. O mtodo pode assim ser entendido:NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992 Annaes do Senado Federal, 1827, vol II, sesso de 30 de agosto de 1827 (pp.270-280), p 278.7

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(...) Lancaster amparou seu mtodo no ensino oral, no uso refinado e constante da repetio e, principalmente, na memorizao, porque acreditava que esta inibia a preguia, a ociosidade, e aumentava o desejo pela quietude. Em face desta opo metodolgica ele no esperava que os alunos tivessem originalidade ou elucubrao intelectual na atividade pedaggica mas disciplinarizao mental e fsica. Em Lancaster, o principal encargo do monitor no estava na tarefa de ensinar ou de corrigir os erros, mas sim na de coordenar para que os alunos se corrigissem entre si (...).8

Concluses parciais Com o trabalho realizado at o presente momento podemos fazer algumas consideraes sobre os Manuais e sua importncia para a formao do

NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos da Educao da UEM/PR Disponvel em: Acesso em:10 maio. 2009.

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professor brasileiro. Os materiais impressos que circularam no Brasil no Sculo XIX, via de regra, ofereciam este tipo de aporte de conhecimentos para professar o magistrio. Uns enfatizavam grandes fundamentos pedaggicos, outros questes prticas da arte de ensinar, mas todos eles certamente

interferiram na construo de uma cultura escolar. Compreender a formao docente sob o uso destes manuais, que muitas vezes traziam consigo certo carter generalista e com contedos previamente selecionados e moldados ao homem da poca, nos instiga correlacionar educao e poltica, revelar a formao do cidado de uma determinada poca e mais especificamente seus contedos pedaggicos. De todo modo, a compreenso desta fase do projeto educacional brasileiro torna-se fundamental para a compreenso da histria da nossa formao de professores.

Referncias ARANHA, Maria Lima. Histria da Educao. 2 ed. So Paulo: Moderna, 1996.

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BOTO, Carlota. Ler, escrever e se comportar: a escola primria como rito do Sculo XIX portugus. In: SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. (Orgs.) Prticas educativas, culturas escolares, profisso docente. So Paulo: Escrituras Editora, 1998. CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A caixa de utenslios e o Tratado: modelos pedaggicos, Manuais de Pedagogia e prticas de leitura de professores. In: IV Congresso Brasileiro de Histria da Educao, 2006, Goinia. A educao e seus sujeitos na histria. Goinia: Editora da UCG/Ed. vieira, v. 1. p. 81-82. 2006 CUNHA, L. A. Educao e desenvolvimento social no Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos da Educao da UEM/PR Disponvel

em: maio. 2009. Acesso em:10

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NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre presente. Helosa Vilela, Claudia Maria Costa Alvez, Armando Martins de Barros. Questes da nossa poca: v.4. Ed Cortez. So Paulo. 1992

SCHAFFRATH, Marlete dos Anjos Silva. A Escola Normal Catharinense de 1892: Profisso e ornamento. Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado.

Universidade Federal de santa Catarina, 1999.

TANURI, Leonor Maria. Contribuio para o estudo da Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n. 13, 1970.

VALDEMARIN, Vera Tereza. Lies de coisas: Concepo cientfica e projeto modernizador para a sociedade. 2000. Cad. CEDES v.20 n.52 Campinas nov.

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MEDIAO PARA EXPOSIO: CONTEXTOS EDUCATIVOS NA LEITURA, INTERPRETAO E COMPREENSO DAS ARTES E VISUALIDADES

Autoria: Ana Cludia Bastiani, Universidade Estadual de Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR. Ana Luiza Ruschel Nunes, Universidade Estadual de Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR.

OBJETIVO

O objetivo foi investigar, analisar e compreender como acontece a mediao entre a obra do artista em galerias, museus ou outros espaos de exposies de arte, tendo o mediador (as pesquisadoras) funo de intermediar o plano de expresso e de contedo da obra de forma mais contextualizada, aos receptores. O conhecimento e a

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prtica da Mediao devem ser vistos como um importante papel que difundir e intermediar as relaes de dilogo e integrao entre Arte e o pblico na compreenso da obra de arte em espaos de exposies. A tarefa do mediador a de aproximar o pblico em todas as suas determinaes e

complexidades com a comunidade mais ampla, escolar e no escolar no contato com a leitura e compreenso crtica da produo em Artes Visuais, intermediando este conhecimento, tornando mais prximo ao pblico e criando uma cultura. A abordagem da pesquisa qualitativa atravs da pesquisa-ao. Este estudo tem como um dos espaos de pesquisa a sala de exposies Galeria de Arte da Pr-Reitoria de Extenso - PROEX. Os instrumentos de anlise so: observao, entrevista individual e com grupos focais, dirio de campo com registro do mediador, do processo da mediao, anlise documental, e as obras de arte expostas na galeria. Temse como resultados a construo de uma Metodologia para Mediao que envolve procedimentos das etapas dos processos necessrios para uma mediao em exposio em espaos artstico/culturais. A contribuio

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da pesquisa ser disponibilizar para a Galeria de arte da PROEX-UEPG, a metodologia criada para dar

continuidade a este processo de mediao que tm pontuando resultados no que se refere mediao entre as obras de arte e o pblico nas exposies visitadas. Ainda pode-se tecer que o mediador aquele que recebe o publico nas instituies de arte e tm por funo tornar a visitao a mais significativa possvel, esclarecendo ao pblico - receptor da arte, atravs da mediao para a compreenso crtica da obra de arte, o que caracteriza alm da pesquisa, possibilidade de extenso de forma indissociada no desenvolvimento de contextos artsticos e educativos mais amplos.

_____________________1

Acadmica do Curso de Licenciatura em Artes Visuais

- UEPG, Bolsista PROVIC-UEPG,participante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais,

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Educao e Cultura GEPAVEC-CNPq/UEPG/PR, [email protected] Graduada em Licenciatura em Artes Plsticas e Doutora em Educao, Professora e pesquisadora do Departamento de Artes e atua no Curso de Licenciatura em Artes Visuais e Msica, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Artes Visuais, Educao e CulturaGEPAVEC-CNPq/UEPG,[email protected]

INTRODUO

Este estudo faz parte da Linha de Pesquisa Artes Visuais, Educao e Cultura vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais, Educao e Cultura GEPAVEC - CNPq/UEPG/PR. Observar imagens sem que se compreenda o seu sentido e o seu valor, acaba tornando a atividade um ato mecnico e sem significado para quem observa. Esta pesquisa teve inicio pela preocupao em relao qualidade da mediao e do mediador frente apreciao de obras de arte no contexto de socializao em espaos de exposies/mostras, inclusive em museus, e outros

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espaos

abertos

e

pblicos,

que

contribuem

significativamente para a formao artstica e intelectual de acessibilidade a todos, provocando a socializao da cultura artstica. Estes espaos carecem de mediadores que tem por funo estabelecer a mediao entre a obra de arte, e o receptor para uma compreenso crtica da arte. A mediao faz com que este contato entre a obra, o artista e o apreciador, se torne mais amplo e que o dilogo entre eles seja mais qualitativo, reflexivo e crtico, transformando estes ambientes em espaos educativos ampliados, com agendas de visitao abrangendo as escolas da rede municipal, estadual e particular, tornando esta atividade mais habitual no cotidiano cultural, criando assim uma nova cultura e conhecimentos da Arte. Nesta direo o objetivo da pesquisa Investigar, analisar e compreender como se d o processo de mediao entre a obra de artistas e o receptor/ observador, na compreenso e interpretao da arte no espao da Galeria de Arte da Pr-Reitoria de ExtensoPROEXUEPG.Tornar habitual a

participao da comunidade local, bem como a

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participao de professores e alunos de escolas pblicas e particulares e do meio acadmico, na participao em mostras artsticas e exposies culturais; Promover dilogos do artista e o pblico em relao as vivncias, experincias e produo; Tornar o espao da Galeria de Artes PROEX, mais freqentado e procurado para a construo de conhecimento, formao e vivncia da comunidade em geral e tambm a comunidade escolar, para a compreenso da cultura artstica. Construir e aplicar uma metodologia para Mediao, como

mediador do processo e dilogo entre a obra de arte e o pblico. A partir dos objetivos elencou-se algumas questes de pesquisa, tais como: possvel construir uma Metodologia para Mediao? Como se d o processo de Mediao no espao de exposio Artstica? Qual o caminho que o professor deve seguir para trabalhar a Mediao em outros ambientes? Como a criana, o jovem e o adulto analisam as obras de arte e a partir desta anlise podem transformar o seu conhecimento?

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MEDIAO, MEDIADOR, METODOLOGIA PARA A MEDIAO

Pensar e desenvolver uma pesquisa tendo como temtica e foco de investigao a Mediao, a funo de mediador, e ainda buscar a construo de uma metodologia para a mediao exige bases terica e estudos mais aprofundados em relao a estas categorias. Para isso algumas concepes, ainda que com pouca produo cientfica nessa temtica, nos permite trazer alguns conceitos norteadores que fundamentam esta investigao.

Assim, segundo MARTINS mediao :

Provocao, no imposio de idias, mas leva o aluno (publico em geral) a perceber ngulos inusitados com diferentes perspectivas de seu prprio pensamento. Ampliao de conhecimento, tem que fazer sentido e relacionar com experincias para desenvolver o esttico

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estimulando

e

ressignificando

o

conhecimento

(MARTINS,2007,p.76)

Percebe-se que a Mediao Artstica e Cultural necessita de mediadores que para

MARTINS(2007), e

COUTINHO(2004), ainda que

com concepes aproximadas, destacam que o mediador tm o seu papel importante e srio para uma mediao significativa e de qualidade ,sendo que Martins explicita que o papel do mediador o de ...Tornar compreensvel a mediao como um importante papel que o de difundir e intermediar as possibilidades e relaes de integrao entre Arte e o receptor,na compreenso da obra de arte. (MARTINS,2007,p.76)

Conforme o exposto acima pode-se dizer que, para tornar compreensvel a mediao, preciso o mediador estar embasado em alguns referenciais em relao Leitura de imagem, e sendo assim,dotou - se base terica e prtica em FELDMAN(1970), PILLAR(1996),

HRNNDEZ

(2000),

FURNARI(2009) e SCHLICHTA(2006).

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Mas em FURNARI (2009) que buscou-se a concepo de leitura de imagem:

Uma maneira importante, que traz informao, troca, que alarga horizontes e permite a constante ampliao dos nveis de conscincia humana. Em um sentido menos comum, significando leitura visual. Essa outra maneira de ler o mundo, no decifrando letras, mas decifrando imagens. como se houvesse uma leitura silenciosa, s vezes vaga, outras vezes precisa, feita no por nosso lado racional, mas por nossas sensaes e emoes. (FURNARI, 2009,s.p)

Entretanto, a Metodologia para mediao, sendo construda pelos pesquisadores, engendra

procedimentos que so exigidos do mediador, e para tal baseou-se nos procedimento de FRANZ(2008),

LISBOA(2004), MIRANDA;RESENDE(2006), para construir uma Metodologia para a Mediao ainda em processo de observao/construo da ao

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metodolgica da mesma para contextos de exposies em Artes Visuais,da o significado e contribuio desta investigao - ao em espaos culturais e artsticos.

METODOLOGIA DA PESQUISA: MATERIAS E MTODOS

A abordagem qualitativa atravs da pesquisa - ao. E, sendo assim, a ... pesquisa-ao requer uma interveno na realidade pesquisada e seu entorno, e ... representa um veio privilegiado para a discusso de um dos maiores impasses enfrentados [...] a relao entre teoria e prtica. MIRANDA;RESENDE(2006).

Tambm se elencou vrios Instrumentos de coleta de dados, tais como a entrevista individual com o artista expositor e com grupos focais como, os professores, alunos acadmicos da universidade, alunos das escolas estaduais, municipais e particulares, bem como alunos de ateli da cidade e pblico em geral; Encontros prexposio com o artista expositor e levantamento do

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currculo artstico e release das sries expostas; Dirio de campo com registro do processo do exerccio da mediao; Observao;Anlise documental; Portflio das obras de arte expostas na galeria; Visitas Monitoradas; Fotografia como registro.

RESULTADOS

Alguns resultados j so visveis, e dentre tantos temos grande aceitao do pblico, como comunidade em geral, professores e alunos das escolas da cidade, artistas de ateli, e acadmicos da Universidade Estadual de Ponta Grossa envolvidos e participantes da pesquisa, no que diz respeito a colaborao e compreenso da proposta e de seu papel fundamental para o conhecimento. A realizao de encontros com o Artista expositor e os acadmicos do Curso de Artes Visuais, professores e alunos das escolas da rede pblica. Realizou-se mais de trs mediaes por exposio, sendo realizada um total de quatro exposies iniciadas uma em maro,uma em abril e

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duas em maio de 2009, totalizando doze mediaes na galeria da PROEX, resultando em um total de mais de seiscentos e cinqenta participantes entre o pblico em geral. A procura e o interesse das escolas pelas visitas Monitoradas confirmam o reconhecimento da atividade do Mediador com o pblico ao orientar, esclarecer e levar variados recursos para a compreenso critica da obra de arte, como pode-se observar nas imagens abaixo, alguns dos processos de mediao pelo mediador (pesquisadora) na Galeria de Arte da Prreitoria de Extenso da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG/PR.

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Figura 1- Mediao com os alunos da 7 srie do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro na Exposio Na Terra, no Vento da artista Plstica Tnia Machado, de Maring -PR.Galeria de ArtePROEXUEPG/PR.Fotografia Nelci Martins Fonte:Portflio das pesquisadoras.

Figura 2- Aluno do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro fazendo indagaes sobre as obras.Galeria de Arte PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

Figura 3 - Acadmicos do curso de Licenciatura em Artes Visuais da UEPG com a Artista expositora Tnia Machado, na Galeria de Arte- PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

Figura 4 Alunos do Atelier Cristina S de Ponta Grossa em conversa e observao dos quadros da exposio Cata Vento e outras cores do artista expositor Manoel Fernando Croskey, de Curitiba,PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

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Figura 6 e 7-Mediao com crianas e adultos, na exposio Diferenas de Erenilda e Celso Parubocz, na Galeria de Arte-. PROEXUEPG/PR. Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.

Figura 8 e 9 Mediao com acadmicos do Curso de Artes Visuais -UEPG-PR, na Galeria de Arte PROEX -UEPG/PR.Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.

CONCLUSES

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Conclui-se que, exercer a mediao no se trata apenas de uma funo de apoio, mas de instruo e incentivo de educar o olhar descobridor, curioso e indagante. A prtica da atividade de Mediador, no uma tarefa simples, mas possvel de ser realizada. Fazer com que o observador interaja e compreenda as imagens de uma forma diferente a que est habituado; essa prtica o torna mais interessado, reflexivo e

freqentador de espaos destinados a Arte, como est acontecendo com um dos espaos da pesquisa que o espao da Galeria de Arte da Pr - Reitoria de Extenso - PROEX-UEPG/PR. Construiu-se uma metodologia que envolve a participao do mediador em todos os processos que antecedem a exposio, como entrevistas com o artista, estudos da obra e biografia dos expositores, leituras prvias, e posteriores a realizao das mediaes com o pblico em geral e tambm com os grupos focais de alunos, professores que agendam a visitao e que o mediador recebe e concretiza a mediao como um espao educativo do olhar desse pblico para uma

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compreenso crtica das obras em Artes Visuais. A funo de intermediar o plano de expresso e de contedo da obra de forma mais contextualizada, aos receptores foi o que engendrou uma reflexo crtica entre o mediador - a obra e o pblico. O Mediador por meio do dilogo torna amplo o olhar do observador a respeito da Arte e suas Visualidades, e tambm dos ambientes em que ela pode ser apreciada e observada.

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Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998. ANEXO 1 O ESPAO FSICO ESCOLAR Figura 1: Sala de aula

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Figura 2: Saguo coberto

97

Figura 3: Sala de vdeo

Figura 4: Fachada externa da escola

ANEXO 2 ATIVIDADE DE IMITAO DE IMAGENS DE REVISTA

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Figura 1:

Figura 2:

99

Figura 3:

Figura 4:

Figura 5:

100

Figura 6:

ANEXO 3 EXERCCIO DE CONTAO DE HISTRIAS Figura 1:

101

Figura 2:

Figura 3:

102

Figura 4:

Figura 5:

103

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PASTA ARTE-BR E A FORMAO DE LEITORES VISUAIS

Dulcinia Galliano Pizza, Faculdade de Artes do Paran, Curitiba - Paran

Objetivos Promover o contato de professores com a leitura de imagens contextualizadas e posteriormente, recolher e analisar a impresses sobre o material pedaggico Pasta arte br do Instituto Arte na Escola, na formao e ampliao do seu repertrio para a leitura e anlise da imagem.

Mtodos e resultados O ensino e a apreciao da arte requerem do professor a capacidade de compreenso das

transformaes da sociedade e em conseqncia, a compreenso da resposta que dada pelo artista aos estmulos que recebe. As novas mdias transformam o padro de observao da sociedade e em conseqncia da

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realidade da arte e do artista, esta reflexo impulsionou o Instituto Arte na Escola a procurar na Arte Brasileira uma forma de aproximar o arte-educador, de imagens que estimulem e transformem o olhar de seus alunos agregando simples observao capacidade de reflexo do que visto, s mltiplas possibilidades de atribuio de sentido que imprimem a marca do receptor na construo do discurso da obra, de cada imagem que passa a ser compreendida tambm enquanto instrumento de intercesso entre o sujeito e o mundo, trazendo imagem caractersticas metalingsticas e ampliando ainda mais sua capacidade de comunicao. A imagem pode ser definida enquanto

representao, a representao de algo no pensamento, daquilo que guarda em si possibilidades de

interpretao. Quando questionamos a imagem enquanto representao da visualidade de algo, estamos

atribuindo a ela propriedades especficas do que denominamos forma limites exteriores da matria, feitio, configurao, aspecto particular que permite a distino de uma coisa da outra.

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Segundo a filosofia e particularmente a metafsica, a matria quilo que da origem a algo e a forma aquilo que determina a matria. Para a lgica, a forma aquilo que permanece inaltervel j para a esttica, a forma corresponde ao estilo linguagem utilizada. Consultando o dicionrio Aurlio entendemos que: A forma pode ser definida como a figura ou a imagem visvel do contedo. De um modo mais prtico, ela nos informa sobre a natureza da aparncia externa de alguma coisa. Tudo o que se v possui forma. (FERREIRA, 1988: p 304) A forma-imagem ento pode ser considerada um sistema possuidor de propriedades passveis de anlise e interpretao de acordo com os critrios de organizao que apresenta podendo ser qualificada e julgada de acordo com a sensibilidade e o repertrio do observador. Quando reconhecemos e atribumos sentido a uma imagem, o fazemos a partir de representaes anteriores que surgem de um universo interior como

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pr-requisito para a atribuio de sentido ao que percebe. Ao descrever questes especficas da imagem visual, estamos atribuindo valores a um cdigo especfico e conhecido pela relativa simplicidade de interpretao, atravs das evidentes semelhanas entre o que vemos e o que realmente est l. Em contrapartida, se a imagem a

representao de algo, de alguma coisa, seria uma ingenuidade atribuir a ela apenas valores enquanto imagem visual. A imagem pode ser construda mentalmente a partir de qualquer cdigo-linguagem que tenhamos capacidade de compreender, de interpretar, de perceber. necessrio citar Fayga Ostrower quando relaciona a capacidade de criao do ser humano enquanto um formador no apenas da matria, mas da sua capacidade de atribuio de sentido ao que v e as construes imagticas que capaz de fazer. Criar , basicamente formar. poder dar forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse novo, de novas coerncias que se estabelecem para a

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mente humana, fenmenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar ... o homem um ser formador. Ele capaz de estabelecer relacionamentos entre os mltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando os eventos, ele os configura em sua experincia do viver e lhes d um significado. Nas perguntas que o homem faz ou nas solues que encontra, ao agir, ao imaginar, ao sonhar, sempre o homem relaciona e

forma.(OSTROWER, 1994: p9) Ento podemos considerar que transitamos por diversos sistemas de linguagem, por diversos cdigos atribuindo a eles valores que segundo possibilidades individuais, permitem a construo imagtica e a traduo da imagem construda de um cdigo para outro. A metodologia proposta inicialmente para a aplicao do material pedaggico arte br contempla vrias destas possibilidades leitura com base na percepo; relaes entre contextos procurando

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construir uma rede de significados; construo de histrias, relaes individuais para a imagem; elaborao de objetos, o fazer artstico; troca de impresses com outros professores; dilogo

interdisciplinar entre diversas reas do conhecimento; transito em museus para realizao de um trabalho de identificao e compreenso das diferenas entre obras originais; re-elaborao de contedos simblicos do que visto ou construdo; contextualizao e abordagem histrica; identificao e utilizao de vrios meios e mdias para o estudo e a expresso prtica do que percebido. (Pasta arte br, 2003) Alm destas atividades, para o desenvolvimento do projeto, so feitos encontros com alguns professores, nos quais alm das diferentes formas de leitura de imagem so propostas discusses de carter reflexivo com base na pesquisa bibliogrfica, essencial para o andamento dos trabalhos. Descrio do material Pasta arte br: pasta tamanho A3 contendo: 12 cadernos com sugestes e orientaes metodolgicas e de pesquisa; 24

reprodues em pranchas A3; 12 reprodues A5;

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material para orientao histrica, e de pesquisa linha do tempo histrica de 1870 a 2002 e linha do tempo Arte de 1874 a 2001.; Mapa do Brasil com a localizao dos museus que mantm as obras Museu de Arte de Belm, Museu de Arte Contempornea do Cear, Museu de Arte Moderna Alosio Magalhes Recife, Museu Nacional de Belas Artes e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de So Paulo e Museu de Arte de So Paulo, Museu de Arte de Santa Catarina, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Museu de Arte Contempornea de Gois, Museu de Arte de Braslia, Museu Alfredo Andersen em Curitiba e ainda Museu da Imagem e do Som em Curitiba que no consta no Mapa de distribuio. Obras que compe a pasta: Alfredo Volpi, Pssaro de Papelo Iber Camargo, Carretel azul Miguel Rio Branco, Ama turn around Eugnio Sigaud, Acidente de trabalho Djanira da Motta e Silva, Olaria Sebastio Salgado, sem ttulo

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eucarstica -

Vicente

do

Rego

Monteiro,

Ceia

Rubem Valentim, Logotipos poticos da

cultura afro-brasileira Claudia Andujar, sem ttulo Cido Meireles, Zero cruzeiro Jac Leirner, Little pillow Rubem Grilo, Malabarismo Hlio Oiticica, B33 Blide Caixa 18 Raimundo Cela, Retirantes Vik Muniz, Scrates Tarsila do Amaral, O Touro Nelson Leirner, A-dorao Lvio Abramo, Rio Cristiano Mascaro, Viaduto do Ch Cndido Portinari, Festa de Iemanj Francisco Brennard, Oficina Cermica

Francisco Brennand (detalhe do templo) Lasar Segall, Navio de emigrantes Alfredo Andersen, Duas raas Mrio Cravo Neto, Fbio

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Cabral Joo -

Eliseu Visconti, A Providncia guia

Alberto da Veiga Guignard, Noite de So

Joo Cmara, Retrato silencioso Lcio Costa, Plano Piloto de Braslia Rodolfo Chambelland, Baile fantasia Jean Manzon, Calada/Manaus Frans Krajcberg, sem ttulo Siron Franco, Salvai nossas almas 1 Roberto Burle Marx, Obra paisagstica de

Burle Marx (fragmento) Oswaldo Goeldi, Noturno Hugo Denizart, Regies dos desejos Luis Braga, Miriti bonecos danando Muito do que se aprende atravs daquilo que conseguimos captar do mundo, e o mundo se apresenta a ns atravs de nossos sentidos, atravs da percepo dos saberes sensveis que nos apropriamos do mundo e concebemos significaes. Vivemos uma constante separao entre o mundo do inteligvel e o mundo do

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sensvel, o que pode se transformar em um obstculo da percepo influenciada pelos apelos da modernidade de nossa sociedade ocidental que traz sensaes imediatas, instantneas e dificulta interpretaes e a reaproximao do que traduz o homem. A beleza, ou o sentimento, origina-se nos domnios do sensvel, esse vasto reino sobre o qual se assenta a existncia de todos ns, humanos. Reino, contudo, desprezado e at negado pela forma

reducionista de atuao da razo, segundo os preceitos do conhecimento moderno. O inteligvel e o sensvel vieram, pois, sendo progressivamente apartadas entre si e mesmo considerados setores incomunicveis da vida, com toda a nfase recaindo sobre os modos conceituais de se conceber as significaes. ... Movemonos entre as qualidades do mundo, constitudas por cores, odores, gostos e formas, interpretando-as e delas nos valendo para nossas aes, ainda que no cheguemos a pensar sobre isto. (DUARTE-JR, 2001: p163) Ento a leitura da imagem precedida por uma percepo artstica - esttica e pode ser estimulada,

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transformando assim o observador em um leitor significativo, algum que tambm responsvel pela autoria das relaes significativas que so estabelecidas com a imagem, em um processo gerador de sentido.

Resultados Parciais Durante os meses da pesquisa foram feitos encontros com professores (alunos egressos da FAP), com o objetivo de aplicao da metodologia para a utilizao da pasta e a leitura de imagens e obras de arte. Foi dada nfase ao desenvolvimento da percepo e dos sentidos partindo do do pressuposto repertrio de que o dos

desenvolvimento

imagtico

professores fundamental para a interpretao e atribuio de sentido s imagens. O que foi feito a partir dos cadernos Agora eu era (tema infncia) com obras de Alfredo Volpi, Iber Camargo e Miguel Rio Branco; Colher o po de cada dia (tema trabalho) com obras de Eugnio Sigaud, Djanira da Motta e Silva e de Sebastio Salgado; Alm do jardim (tema religio) com obras de Vicente do Rego Monteiro, Rubem Valentim e Claudia Andujar.

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Entendendo assim que para um efetivo desenvolvimento da capacidade de criao,

interpretao e significao de imagens, necessrio que este tenha o desenvolvimento tambm do seu repertrio visual, de suas referncias, o que pode se dar atravs da ampliao dos seus sentidos e de sua capacidade de percepo, levando ao aperfeioamento de uma alfabetizao visual - conhecimentos visuais fundamentais ao desenvolvimento da proposta.

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118

POTICAS EM ARTE DIGITAL: UM OLHAR CONTEMPORNEO NA FORMAO DE PROFESSORES

Autoria: Ana Luiza Ruschel Nunes -Universidade Estadual de Ponta Grossa- Paran. Thaisa Justus - Universidade Estadual de Ponta Grossa.Paran

OBJETIVOS Os objetivos da pesquisa consiste em investigar, e analisar o percurso criativo das poticas visuais digitais em construo com alunos em Formao Inicial do Curso de Artes Visuais da UEPG/PR, e com a formao continuada de professores de artes visuais de escolas pblica de Ponta Grossa/PR, proporcionando tempo e espao para a experienciAO potica digital,na interao com a educao (do)sensvel Neste sentido a preparao dos professores e acadmicos no uso da tecnologia como mais uma alternativa na ao educacional, foi outro propsito que

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possibilitou a construo expressiva da Arte Digital frente a experienciAO potica. INTRODUO Neste momento delineado pela chegada dos

computadores s escolas, os professores e acadmicos em formao encontram-se cientes da necessidade de utilizar a tecnologia como mais uma possibilidade no processo de produo em Arte. A dimenso potica em arte digital na educao, foi o foco desta pesquisa que objetivou a construo de experienciAO potica, a metamorfose do processo criativo e o desenvolvimento da educao do sensvel, na formao de professores. A dimenso potica na educao em arte,e a poisis, o foco desta pesquisa em relao a construo expressiva da arte digital,investigando o tempo e espao de experienciAO potica, a metamorfose do processo criativo..Por poisis entende-se uma vontade autoral,constituda no instante potico,ou seja a poesia desvelando a produo, a ao, a prxis em arte atravs de tcnicas , procedimentos e elementos da linguagem visual no espao virtual tendo o computador como ateli

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na produo em arte digital num percurso e repertrio pessoal. Por poisis entende-se uma vontade

autoral,constituda no instante potico,ou seja a poesia desvelando a produo, a ao, a prxis em arte atravs de tcnicas , procedimentos e elementos da linguagem visual no espao virtual tendo o computador como ateli na produo em arte digital num percurso e repertrio pessoal. Nesta direo o problema de pesquisa nos remete a seguinte indagao: A tecnologia e as artes digitais esto presentes na escola? Como se d o processo de formao continuada inicial e continuada dos professores de artes visuais das escolas na criao das poticas digitais em artes visuais? Desta forma os fundamentos da investigao e anlise da pesquisa esto balizados no pensamento de BACHELAR(1970;1989,1989b,1990,2004,2006);DO MINGUES;VENTURELLI(2005);VENTURELLI(2004 );ZAMBONI(2001);FRAGOSO(2005);GIANETTI(200 6);MEDEIROS(2002);BASBAUM(2007);DUARTE(20 01);;NUNE(2006);MERCADO(1999);SHORES;GRAC E(2001);COUCHOT(2003);DEMAILLY(1992);PLAZ

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A;TAVARES(1998),ainda que nem todos citados nesse texto,mas essenciais na pesquisa. A Introduo de tecnologias nas escolas provoca mudanas na forma de construo do conhecimento, na produo, armazenamento e

disseminao das informaes, no processo de ensinoaprendizagem, com conseqente questionamento dos mtodos didticos tradicionais e a redefinio do papel do professor e de sua interao com os alunos. Mostrando-se, dessa maneira, adequados para a aprendizagem, facilitando o trabalho do educador, mas exigindo tempo para compreender e explorar s

corretamente

essas

ferramentas,

procedendo

alteraes necessrias. Uma formao inicial e continuada em relao a arte e tecnolgica, abrindo possibilidades iniciais de pensar e propiciar a experienciAO do professor

diante desse novo modo de produo justificada pois tem o propsito de melhorar a interpretao e

concepo da Arte e tecnologia digital na formao dos professores, englobando a aprendizagem de uma nova alternativa de trabalho ou seja o computador como

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ferramenta e hiperferramenta, apoiada no processo ensino-aprendizagem e na atualizao reflexiva em sala de aula. A reflexo sobre aspectos didticos, relativos ao modo de integrar a tecnologia no processo educativo, atravs de programas e cursos que assegurem que o professor seja capaz de estabelecer conexes e de navegar pelo sistema informtico de forma autnoma. METODOLOGIA DA PESQUISA: MATERIAIS E MTODOS A pesquisa esta fundamentada por uma abordagem qualitativa, atravs da investigao-ao, num processo de observao,planejamento,ao e replanejamento em colaborao entre pesquisados e pesquisadores

compartilhando o percurso de criao potica digital em arte. Para isso acontecer primeiramente foi elaborado um roteiro de entrevistas com grupos focais com alunos em formao inicial e professores em formao

continuada. O espao da pesquisa foi no laboratrio do Setor de Cincias Sociais Aplicadas SECISA/UEPG,

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com alunos em formao inicial na disciplina de Pesquisa em Arte I, e no Laboratrio de Informtica da Escola Estadual de Ponta Grossa (Imagem 1), com professores em formao continuada, onde houve encontros e um acompanhamento e observao

participante do processo de criao em poticas digitais com a utilizao de softwares (programas grficos) como: Gimp (Linux) programa nico para produzir arte nos computadores da escola, bem como para os acadmicos na Universidade que utilizaram o Paint

(Windows), e ainda Photoshop e Corel Draw, com registro do processo, no portflio e processoflio (SHORES;GRACE,2001) virtual dos pesquisados e das pesquisadoras. RESULTADOS Aps a anlise dos dados, estes apontaram resultados surpreendentes do processo de criao em Arte digital, pois no incio da pesquisa e atravs dos depoimentos dos acadmicos, de um total de dezesseis, apenas trs tinham produzido arte digital, sendo que aps seis meses de estudos e produo pode-se afirmar

124

que na atualidade todos os acadmicos criam e produzem poticas digitais de forma autoral com um processo de criao, sem ajuda de elementos externos do computador, sendo este no apenas uma ferramenta e sim uma hiperferramenta da produo, via

tecnologia.Os professores em formao continuada na escola,de um total de cinco nenhum tinha at ento experienciAO em poticas digitais em arte.Estes tiveram dificuldades maior em seu processo

criativo,pois no haviam e nem sabiam do software para desenho e produo artstica disponibilizado pelo Linux ( na escola) em seus computadores, denominado de GIMP. Assim o processo criativo digital causou um impacto entre a concepo tradicional de produo em arte e a concepo de produo digital em arte na contemporaneidade.Para alguns isto era inimaginvel at a presente pesquisa. Quanto aos estudos no incio da investigao realizados nos encontros com os colaboradores, os estudos foram debatidos em relao temtica da

pesquisa como: Artes Visuais e sua trajetria: da antiga tecnologia a tecnologia digital; a Formao Inicial e

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Continuada de professores e as tecnologias digitais; Poticas digitais em Artes Visuais e a educao do sensvel. No pensamento dos colaboradores, no incio da criao,destacavam que na arte digital tudo era mecnico e sem significado,mas ao construir as poticas,entenderam que a sensibilidade est presente na criao da arte digital e que somos ns humanos, que humanizamos o computador a servio de uma humanidade mais humanizada. Assim, podem-se perceber algumas poticas tanto de acadmicos em formao inicial como de professores de escola que de um total de 200 produes poticas digitais (ver nas poticas1,2,3,4 e 5)esta pequena amostra do visibilidade das criaes

realizadas pelos colaboradores da pesquisa, e que anterior a esta pesquisa estas poticas eram

inimaginveis, pois as mesmas no tm nenhum suporte tcnico externo ao computador,e assim esto carregados de poesias expressivas reveladas por um processo de

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criao digital,em que subjetividade e objetividade estavam presentes, movidas de sensaes digitais.

Potica 1: Abstrato II Gisele Mugnaine. (CAV) Portflio virtual da autora. Paint (Windows).

Potica 2: Paisagem Gisele Mugnaine. (CAV) Portflio vi