ARTE DIGITAL - FRICÇÃO - MERCADO - FICÇÃO
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ARTE DIGITAL: FRICO - MERCADO - FICO
Dbora Aita Gasparetto /Universidade Federal de Santa Maria
RESUMO: Desde os anos 1990, um circuito expositivo especfico arte digital tem seorganizado, estruturado por meio de novos parmetros, que envolvem desde a produo ata exposio, institucionalizao, disseminao, preservao e comercializao. Este circuitotem um fator determinante para o crescente reconhecimento: o pblico. Entretanto, comuma procura cada vez maior pelos festivais e eventos de arte digital, surgem questesurgentes a serem discutidas, como o seu mercado. Este artigo visa reconhecer queenquanto o circuito expositivo da arte digital vive um momento de frico, seja pelosenfrentamentos ou potncias que transformam as relaes com a arte, seu mercadopermanece na fico. Deste modo, se prope uma discusso em torno da temtica, aindaem processo.
PALAVRAS-CHAVE: arte digital frico mercado fico circuito expositivo
ABSTRACT:Since the 1990s, a expositive circuit specific of digital art has been organized,structured by means of new parameters, involving from production to exhibition,
institutionalization, dissemination, preservation and marketing. This circuit has a determining
factor in the increasing recognition: the public. However, with demand growing by festivals
and events, digital art, there are urgent issues to be discussed, as its market. This article
seeks to recognize that while the expositive circuit of digital art is at a point of friction, either
by fighting or powers that transform the relationship with the art market remains in his fiction.
Thus, is proposed a discussion on the subject, still in the process.
KEY WORDS: digital art - friction - market - fiction - expositive circuit
O circuito artstico se articula de diferentes modos em cada perodo da
histria da arte. Compreende-se o circuito artstico por meios dos espaos em que
as obras circulam, desde sua produo, at a disponibilizao, exposio, fruio,
coleo e preservao. So os agentes e as instituies os responsveis por inserir
artistas e obras no circuito.
O mercado da arte parte deste circuito, e este artigo visa discutir algumas
mudanas que o mercado sofre com o passar do tempo, onde se ajusta s
produes de cada momento social, cultural e econmico. A inteno chegar ao
atual estado do mercado da arte digital, um mercado que ainda ficcional, mas
acredita-se que haja nele um potencial para a frico.
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Por mercado da arte, pode-se entender, conforme Raymonde Moulin (2007),
o alto mercado, gerido pela internacionalizao e pela amplitude das redes, em
sintonia com o mercado econmico. O mercado da arte conta com pelo menos duas
partes: uma formada pelas artes clssicas e modernas, j institudas no "mercado da
arte classificada", j, a outra parte composta pelas obras de arte contempornea.
Esta ltima apresenta-se em contnua negociao, devido aos jogos de
especulao.
Fazem parte deste mercado, as galerias, os leiles, os quais, no final dos
anos 1990, tambm acontecem on-line, as feiras e os sales de arte, mas tambm
os museus, as documentas, bienais, as exposies mundiais, as instituies que
permitem a residncia dos artistas, e, em meio a estas estruturas, esto os
profissionais e agentes da arte (MOULIN, 2007). Contudo, no entendimento desta
pesquisa, os museus e eventos de arte no so diretamente parte do mercado e sim
do circuito, entretanto, so estes espaos de exposio e eventos que exercem
influncia sobre o mercado. E, logicamente, o mercado tambm os influencia.
Ronaldo Brito, em texto escrito em 1975, faz uma anlise do circuito da arte
no Brasil, apontando que em determinado tempo o circuito e mercado da artepareciam ser uma coisa s (BRITO In: LIMA, 2005, p.53). Contudo, ele faz
esclarecimentos que os diferenciam, quando demonstra que a ideologia do mercado
ainda domina o circuito, pois para se estabelecer, o mercado utiliza (...) todos os
elementos do circuito artistas, crticos, colecionadores, marchands e pblico (...)
(BRITO In: LIMA, 2005, p.54). Ou seja, de alguma maneira, eles esto
condicionados s ideologias do mercado da arte.
Percebe-se que os artistas ganham valor conforme a sua legitimao, o que
passa pela institucionalizao, crtica, estratgias curatoriais e insero miditica. Na
arte contempornea, a figura do artista, como representante legtimo da sua obra,
a de um articulador, at mesmo do mercado.
O mercado na histria da arte
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Argan e Fagiolo (1992) demonstram que assim como o conceito de arte se
transforma, tambm o colecionismo se organiza de diferentes modos conforme o
passar dos sculos, motivando personagens como o comitente, quem encomenda
as obras, ou o mecenas, que as adquire sem interesse no contedo. Assim, os
autores citam que pelo patrocnio de Frederico II, na Idade Mdia, que o
Classicismo retorna; que em Florena, acontece uma modificao nas encomendas
das obras de arte, com o mecenato dos Mdicis; ou ainda que em Roma, os Papas
e suas famlias so os maiores responsveis pelas encomendas. E, entre os
sculos XVI e XVII, conforme eles, que passa a existir o (...) verdadeiro
colecionismo e a conscincia da Galeria ao alcance de todos e no s do Prncipe
(...) (ARGAN; FAGIOLO; 1992, p. 133).
Mas, no sculo XVIII, que este mercado vive um novo momento, quando se
deslocam as produes artsticas, a figura do conselheiro ganha evidncia e o
colecionismo vai se profissionalizando. No final do sculo XIX, o colecionismo
ganha, genuinamente, fora, por meio dos magnatas americanos, os quais
organizam suas colees em museus.
Entretanto, Argan e Fagiolo completam que:
De incio o mercado no existe, na medida em que se paga pela obra dearte o preo dos materiais e o tempo gasto para produzir; nasce no sculoXVI, sobretudo em pases mercantis como a Holanda, e refora-se nossculos XVII e XVIII quando se publicam os primeiros catlogos de vendas,que representam autnticos e adequados instrumentos de pesquisa.(ARGAN;FAGIOLO; 1992, p. 134).
Ainda, conforme os autores, o museu sinnimo de conservao do
patrimnio e educao, (...) o museu torna-se o templo da cultura burguesa.
(ARGAN; FAGIOLO; 1992, p. 134). Tambm forte, neste perodo, o papel dos
Sales e, segundo Castillo, os sales parisienses transformaram-se gradativamente
em fonte de investimentos e lucros financeiros (CASTILLO, 2008, p. 26).
Costa (2004), ao trabalhar com o marketing cultural, retoma o mecenato e
observa trs momentos relacionados ao patrocnio e o financiamento da arte, onde o
primeiro refere-se ao incio da era crist, o segundo floresce durante o
Renascimento com uma revalorizao das artes e, a terceira fase do mecenato, sed no incio do sculo XX, por meio do financiamento dos industriais Whitney e
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Rockfeller, por exemplo. Tais industriais precisavam encontrar mecanismos de
legitimao junto comunidade em que atuavam (COSTA, 2004, p. 18). Conforme
o autor, as artes foram uma excelente ferramenta para concretizar seus objetivos,
ainda mais com a deduo do imposto de renda devido a este financiamento.
Segundo Cauquelin, a partir dos anos 1850, um novo sistema social se
instaura, onde se discutem teorias econmicas, e o modelo que se delineia o da
produo - distribuio consumo. Tal modelo tambm aplicado aos bens
simblicos. neste momento, que uma srie de intermedirios encontra espao no
campo da arte, fazendo o elo entre produo e consumo. Entre estes agentes esto
o crtico, o marchand, os galeristas e tambm o comprador. A ideia de circuito da
arte ganha fora neste perodo, bem como as articulaes entre agentes, artistas,
instituies, pblico e colecionadores (CAUQUELIN, 2005). Neste instante, a arte
moderna se articula sobre o regime do consumo. a onipresena do consumo que
rege a arte moderna, por excesso ou por falta, por adeso ou por recusa.
(CAUQUELIN, 2005, p. 28).
O consumo fomentado pela emergente burguesia e no final do sculo XIX,
os sales especializados se descentralizam e oferecem novas possibilidades aosartistas, que se desvinculam das regras da Academia Real e do Salo de Paris. O
crtico de arte faz escolhas e posiciona artistas e movimentos no mercado. Conforme
Cauquelin:
Quando a existncia e a consistncia de um mercado independente estodevidamente estabelecidas, a partir dos anos 1890, o poder da crtica dearte dominante sobre todos os outros planos e substitui progressivamenteo poder do reconhecimento oficial. (...) ela se torna alm de suadestinao comercial uma tentativa de decifrar e teorizar as novas formasplsticas. (CAUQUELIN, 2005, p. 41)
Entre as particularidades do sistema da arte moderna est a promoo de
grupos de artistas. Todavia, tais artistas mantem uma imagem junto ao pblico de
negao em relao aos lucros, sustentando uma postura de explorado pelos
intermedirios, de sofredor. Ele no aceita que as leis de mercado econmico
sejam aplicadas ao domnio artstico. (CAUQUELIN, 2005, p. 53)
assim que o mercado vigora at meados dos anos 1960, quando um novosistema entra em vigor, o da arte contempornea, regido pela comunicao. Neste
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novo momento, o mercado se organiza em uma rede global, constitudo por redes de
galerias e instituies culturais. Entre trama complicada e rede complexa situa-se a
diferena considervel entre o mercado de consumo clssico e um mercado ligado
comunicao. (CAUQUELIN, 2005, p. 65). Neste novo modelo, o artista que entra
na rede tem que aceitar as regras impostas pela rede, se expor exaustivamente. Sua
figura pode passear pelas funes de curadoria, crtica ou agente de si mesmo.
Dentro deste contexto de rede, apontado por Cauquelin (2005) e Moulin
(2007), percebe-se uma sintonia com Castells (2010) e a sociedade em rede, onde
demonstram que existe uma "desmaterializao dos fluxos financeiros", ou seja, isto
fez com que, assim como na sociedade e economia, o mercado da arte fosse
interconectado globalmente. Neste mercado artstico, a descentralizao acontece
pelo nmero significativo de feiras que so criadas, mas a sua concentrao ainda
no surpreende. Moulin (2007) aponta que os Estados Unidos representam quase
50% do mercado mundial, em seguida vem Londres e Paris. Segundo ela, h uma
extenso da "oferta artstica contempornea": "A mundializao da cena artstica e a
globalizao do mercado se chamam e se respondem mutuamente. No decorrer dos
anos 1990 assistiu-se a uma extenso multicultural da oferta." (MOULIN, 2007, p.
62). Moulin ainda demonstra que tambm h uma peculiaridade, a maior venda de
obras de arte contempornea se d por meio das galerias de arte e no na venda
pblica, e entre os artistas, ganham mais valor os que mais inseridos estiverem no
contexto das mdias, especialmente os novos artistas.
O mercado da arte contempornea no Brasil
Srgio Miceli (In: MARQUES; VILELA, 2002) ao analisar a situao do
mercado de arte no Brasil, nos anos 2000, demonstra que se assemelha com os
anos 1950 e 1960. Ou seja, entre 1950 e 1960, o circuito artstico no pas ganha a
construo de museus no eixo Rio/So Pauloi e conta com o movimento das Bienais
em So Paulo (1951 - ). Esta semelhana se d pelo fato de que os envolvidos com
a arte esto nas universidades, nos jornais marginais e, sobretudo, no financiamento
do empresariado.
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Contudo, Miceli e Ronaldo Brito, ajudam a desvendar tambm as barreiras
impostas pelo mercado da arte no Brasil. Brito, em maro de 1976, chega a uma
concluso que reverbera no tempo:
O mercado brasileiro at aqui tem se recusado a lidar com suportes menosrespeitveis do que a tela, o papel, o bronze, o mrmore, e com linguagensmenos tradicionais do que o figurativismo, o abstracionismo lrico, oprimitivismo e assim por diante. Como se sabe o mercado no possui estilosprediletos, nem procede a anlises para aferir os traos distintivos de cadaum deles. O que o obriga a agir to estreitamente um clculo comercialsegundo o qual o artista deve ser presa de um 'estilo' e o seu trabalhoprecisa ser reconhecido mais ou menos a dois quarteires de distncia.(BRITO In: LIMA, p. 65).
evidente, que alguma coisa mudou de l para c, pelo menos, atualmente
se discutem possibilidades de insero de novas linguagens no mercado, mas na
prtica, o Brasil vem ganhando espao no mercado internacional com produes
que utilizam suportes tradicionais. Miceli acompanha as diferenas entre o momento
atual e a fase incipiente do mercado brasileiro:
Enquanto as entidades culturais criadas no perodo de 1945-1955 lanaramos alicerces institucionais de um campo de produo cultural erudita emcidades em acelerado processo de metropolizao, a nova mesclaorganizacional, envolvendo corporaes, poder pblico, entidades culturais
e mdia, constitui a expresso mais acabada do novo estgiointernacionalizado do sistema de trocas simblicas tal como se manifestaem um mercado-gigante da periferia capitalista. (MICELI In: MARQUES;VILELA, 2002, p.80)
Ou seja, por meio de uma adequao as estratgias midiatizadas de
mercado, que a situao do Brasil hoje, emergente. O pas tem exportado artistas
como Hlio Oiticica (1937-1980), Lygia Clark (1920-1988), Antnio Dias (1944),
Cildo Meireles (1948), entre outros contemporneos. Tambm, a produo brasileira
tem circulado pelos principais eventos internacionais, obras de artistas brasileiros
so adquiridas pelos principais museus de arte da Europa e EUA, e ainda atraem
marchands e crticos estrangeiros. (MICELI In: MARQUES; VILELA, 2002).
Verifica-se, atualmente, que o Brasil tem ganhado uma posio de destaque
internacionalmente, por sua influncia poltica e econmica, o que reflete no
mercado artstico. Mas, o que contribui diretamente para a expanso e
reconhecimento da arte brasileira no circuito internacional o fato de que as
exposies e os eventos de arte utilizam estratgias comunicacionais de inseromiditica.
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Mercado da arte digital: alguma possibilidade de frico?
Roger Malina, presidente da Leonardo/Isast e Olats, aponta, em relao aosartistas e produo em arte tecnolgica: com certeza o trabalho desses novos
Leonardos marginal em relao ao mundo da arte comercial e aos circuitos de arte
contempornea (MALINA In: DOMINGUES, 2009, p. 17). A arte digital parece no
se adequar s regras do mercado da arte, talvez pela efemeridade de suas obras,
talvez por ser inseparvel das tecnologias e da interatividade, ou ainda, por estar em
processo.
Couchot contribui para pensar a dificuldade de tratar de um mercado para a
arte digital, constatando que a produo ainda est margem da arte
contempornea, o que reflete no mercado. Assim, ele argumenta:
No h crtica e ela no vendida. No se encontra esse tipo de arte emgalerias, exceo feita a rarssimos casos. Quando os crticos de artetradicional falam da arte digital, normalmente para dizer que a interaoinvalida aquilo como arte. Esse tipo de trabalho exige novos crticos e novosorganizadores. O sistema de legitimao da arte contempornea, da artetradicional, no funciona com a digital.ii
Em entrevista autora, Paula Perissinotto, idealizadora, juntamente com
Ricardo Barreto, do FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrnica), o maior
evento da Amrica Latina no gnero, tambm compartilha das opinies citadas, em
relao ao distanciamento entre o circuito da arte digital e o circuito da arte
contempornea:
Apesar de serem, no meu ponto de vista, parte de um mesmo contexto noexiste muito dilogo entre o mundo das artes contempornea tradicional e o
da arte e tecnologia. Esta falta de dialogo no impede as partes deprosseguirem os seus respectivos desenvolvimentos, mas certamenteperde-se sem esta troca. (Perissinotto, 2011).
Em funo destas constataes, de que o circuito da arte contempornea no
se abre arte digital, e de que tal produo traz uma srie de novas especificidades
ao campo artstico, se verifica que no h um mercado. Mas, percebe-se que
preciso desenvolver uma estrutura de mercado para a arte digital dentro do prprio
mercado da arte contempornea, pois este ainda no est preparado para as
especificidades da produo digital. Acredita-se que ao inserir-se nos espaosinstitucionalizados da arte contempornea, a produo digital tenha maiores
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oportunidades de crtica, circulao e consequentemente, de mercado, pois se pode
pensar que tambm muitas obras de arte contempornea, em suas plurais
linguagens, so efmeras.
No entanto, o Brasil j vem discutindo estas questes de mercado, bem como
de circuito. Em 2002, o Instituto Srgio Motta proporciona um frum de debates
sobre produo, difuso e mercado das novas mdias. Neste debate, a galerista
Mrcia Fortes, da Galeria Fortes Vilaa, ao pensar como o mercado da arte,
principalmente as galerias e colecionadores veem a arte e tecnologia, argumenta
que ainda h um encantamento pela tecnologia, que s vezes cega o olhar. Assim
afirma: o colecionador, ou o prprio curador, ainda se sente inseguro. Temos que
ter um olhar aguado, uma peneira fina para acreditar na nossa percepo
(FORTES In: BOUSSO, 2002, p. 78). Talvez, esta insegurana apontada pela
galerista esteja ajustada ao perfil que no o do "consumidor" da arte digital, pois
este pensamento ainda muito tradicionalista.
Conforme o debate, j possvel verificar um novo perfil de comprador e
tambm de colecionador. Inclusive, preciso pensar na insero dos artistas que
trabalham com a arte digital no s no mercado, mas no circuito, pois estando nestecircuito gerada uma visibilidade maior, o que pode ocasionar a sua insero no
mercado. Sobre isto, Daniela Bousso argumenta:
No mercado. circuito. algo que j vem da prpria configurao decrtica mesmo. Da mesma forma que um ready-made no era entendidocomo obra de arte quando Duchamp o formulou. Levou um tempo deassimilao para que fosse considerado arte. (BOUSSO, 2002, p. 96).
Seguindo a discusso sobre a insero dos artistas neste circuito, ento
Mrcia Fortes argumenta que existem dois circuitos: o institucional e o comercial de
galerias, que segundo ela, pode ocorrer nas duas vias. Assim, afirma: Eu no
acredito que o artista que esteja indo para a instituio no queira ter o seu trabalho
tambm em uma galeria (FORTES In: BOUSSO, 2002, p. 97). Em 2011, o Instituto
Sergio Motta abre novamente espao para discutir o circuito no Frum A&T -
Perspectivas Crticas em Arte e Tecnologia, ou seja, verifica-se que est se
organizando um dilogo entre as partes: galerias, crticos e artistas.
A exposio Galeria Expandida bastante comentada em 2010, por levar
para o espao comercial da arte, obras feitas com as mdias digitais, obras
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efmeras. Esta realizada na Luciana Brito Galeria, com curadoria de Christine
Mello e todas as obras expostas esto venda. A exposio pensa os circuitos da
arte e da mdia, questionando o papel da galeria em relao produo envolvendo
as mdias, no s digitais, mas comunicacionais.
A sp-arteiii, maior feira de galerias do Brasil, acontece em maio de 2011 e
conta com um espao de exposio que engloba arte digital, com o nome projetos
especiais, porm isto no significa que esta tenha sido comercializada no local. Em
relao obra de Raquel Kogan, exposta na feira, ela conta um fato que demonstra
o despreparo dos monitores desta feira em relao a obras de arte digital: Uma
monitora que apresentava a feira ao pblico deu de cara com a minha obra e
simplesmente no disse nada. Olhou, passou reto e seguiu com as explicaes" iv.
Percebe-se tambm nas feiras de arte contempornea, por mais que recebam obras
em arte digital, que ainda existe um despreparo para atender esta produo.
Em novembro de 2011, acontece a 1 Feira de Arte Contempornea Partev,
com foco no pblico jovem. A feira rene 22 galerias brasileiras, com obras de at
R$ 15.000,00, o que torna a arte acessvel ao pblico mdio, contudo na descrio
do evento esto venda somente quadros, fotografias e objetos de arte. Nemmesmo as novas feiras esto atentas ou sabem lidar com a arte digital.
Contudo, a arte digital faz parte da produo contempornea e justo que
haja um espao neste campo. Isto passa precisamente por esta articulao dos
artistas junto s galerias, espaos institucionalizados e redes comunicacionais.
Defende-se que o artista deve discutir e lutar por este lugar no mercado das artes e
esta insero deve acontecer de maneira natural. Porm, muitos artistas parecem
no ter esta preocupao com o mercado e muitos alegam que a arte digital no
para ser vendida, para ser de livre acesso.
Porm, observa-se o caso da primeira obra de web arte comercializada, da
artista Olia Lialinavi, em que a comercializao acontece pela transferncia do
domnio da sua obra para o IP do comprador. Ao navegar pela pgina percebe-se
que esta pertence a um colecionador, entretanto ela est disponvel na rede para o
acesso do pblico. Mas, este tipo de acontecimento ainda bastante pontual.
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Monica Tavares tambm discorre sobre o circuito da arte digital, a partir de
Cauquelin e da sua noo de arte contempornea como o regime da comunicao.
Ela toma Cauquelin como ponto de partida, para criar seu prprio modelo de sistema
para a arte digital, o qual tem como representante a imagem interativa. Neste
sistema sugerido por Tavares, ela prope que o regime da arte digital o ideolgico
da comunicao, que se organiza (...) em uma lgica operatria, reticular e
sistmica (TAVARES, 2007). importante destacar que o mercado de tal sistema
se d por contedos e no por obras.
Tavares elenca alguns agentes do circuito da arte digital, entre eles os
produtores de grandes empresas, profissionais articulados com a informao,
centros de pesquisa, universidades e rgos de fomento, museus e centros
culturais, curadores, imprensa, crtica, publicidade. Neste mesmo espao dos
produtores, ela coloca a conservao e a preservao. Tavares conecta todas estas
funes, pois as visualiza em uma trama de produtores da informao.
Todavia, o consumidor e a obra ganham um espao de destaque em seu
texto, onde ela evidencia alguns nveis de recepo e interao do consumidor com
a obra. Tavares afirma:
O receptor experimenta, no intuito de encontrar novas e outras formas deperceber a obra. nesse jogo aberto a tudo que a obra se mostracomo um campo de possibilidades a serem experimentadas. Pouco a poucoe por meio de um esprito ldico, o receptor vai apreendendo as leis quesugerem a interao. por meio desse tipo de fruio que os significadosda obra se deixam construir, e a obra em si mesma tal qual seapresenta ao receptor que o interpela, incitando-o reflexo e sugerindo-lhe novas descobertas. (TAVARES, 2007).
Enfim, a partir de Tavares, percebe-se que o sistema da arte contempornea
tambm rege a arte digital, mesmo que ainda existam barreiras. Contudo, a arte
digital configura-se em um novo circuito, adequado para atender suas
especificidades, utilizando vrios princpios do sistema contemporneo. Nota-se que
a funo da rede cada vez mais forte, onde os artistas precisam estar inseridos
para que suas obras circulem, mas tambm o bloqueio, a saturao e a nominao
coexistem neste meio.
Entende-se que, embora articulada em um circuito muito especfico, a artedigital tece relaes com outros circuitos da arte contempornea, pois assim como
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se misturam os papis dentro do sistema proposto por Tavares, contaminam-se as
produes contemporneas. Ainda que se enfatize um circuito prprio e a criao de
novos espaos para atender as demandas da arte digital, adequado pensar
articulaes com outros espaos e circuitos, pois a produo tambm envolve outras
linguagens e sua circulao favorece a possibilidade de um mercado e a criao de
um pblico mais abrangente.
Enfim, por meio desta pesquisa, pode-se observar como o circuito prprio da
arte digital se organiza rapidamente, mas tambm que o investimento direto do
governo e o mercado andam a passos lentos. Entretanto, neste novo momento,
entende-se que a fico, modo como era visto o circuito da arte digital, torna-se
frico, onde h uma profuso de eventos que acontecem como um curto-circuito,
independente de estar nos espaos institucionalizados ou em paralelo.
No circuito da arte digital, neste estado atual, se pode dizer, aproveitando a
metfora de Priscila Arantes, em relao aos circuitos paralelos, que, os curtos-
circuitos so ocasionados pelo incentivo crescente produo, especialmente pelo
financiamento da arte e tecnologia por organizaes privadas e seus institutos
culturais, editais, prmios e eventos, possibilitados pelas leis de incentivo cultura.Este estado de potncia elevada, em que vive o circuito expositivo da arte digital,
tambm proporcionado pela articulao de artistas e pesquisadores da rea, os
quais conduzem laboratrios de pesquisa, em diversas universidades do pas,
descentralizando a produo, disseminao e exposio.
Existe ainda, um fator determinante para a ocorrncia destes curtos-
circuitos: o pblico. pela participao constante do pblico, que eventos de arte
digital conseguem apoio entre as organizaes privadas, pois estas vislumbram a
oportunidade de promover lembrana de marca e legitimao de seus valores
organizacionais junto a um pblico considerado como novos consumidores.
Todavia, um curto-circuito provoca danos na prpria corrente eltrica como
tambm no elemento que causou o seu curtovii. Ao conduzir estas relaes para o
circuito da arte digital, pode-se entender que os danos causados ao prprio circuito
talvez estejam relacionados a uma dependncia que passa a ter do financiamentode organizaes privadas. Aqui h uma contradio, pois ao mesmo tempo em que
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estas organizaes financiam a arte, podem impor barreiras para algumas obras, por
considerarem que estas passariam a prejudicar a imagem institucional da
organizao.
Um fato atual, diz respeito exposio Nan Goldinviii barrada pelo Oi Futuro,
no Rio de Janeiro. A instituio acreditava que esta exposio representaria uma
imagem negativa junto aos seus valores corporativos. Mesmo que a exposio no
fosse de arte digital, demonstra a problemtica. No entanto, muitas vezes, a arte
digital condicionada s estratgias comunicacionais das organizaes que a
incentivam, a fim de se estabelecer em um circuito, at ganhar autonomia.
por isto, que eventos como o FILE ganham representatividade, pela
seriedade com que expem, debatem, fomentam e preservam a produo. Contudo,
o FILE apenas um dos pontos, das fascas, deste curto-circuito no campo da
arte contempornea. Vrios eventos tem se articulado e movimentado o circuito no
pas. Outros aspectos muito discutidos deste circuito em curto dizem respeito ao
carter entretenimento que remetem, ao possvel encantamento tecnolgico e a
efemeridade das suas obras. Mas, em contrapartida, estas experincias efmeras e
divertidas, resultam na procura do pblico por estes eventos e em uma atualizaoconstante. J, os danos provocados nas tradicionais estruturas do circuito da arte,
talvez sejam: a falta de atualizao, de flexibilidade e de pblico.
A arte digital inadequada para estas tradicionais estruturas e por esta
inadequao aos parmetros expositivos, institucionalizados e comerciais, do
sistema tradicional das artes, a arte digital se insere em um circuito expositivo com
regras prprias. Este novo circuito regido, especialmente, por estratgias
comunicacionais de insero miditica, facilitadas por diversas prticas, entre elas,
pelo marketingcultural, o que tambm contribui para que entre em curto.
Deste modo, no percurso desta pesquisa, se depara com especificidades do
circuito expositivo da arte digital, muitas vezes geradas pelas particularidades das
obras/projetos/trabalhos, como a virtualidade, a interatividade e a imerso, em
variados nveis e em tempo quase real, onde a obra acontece em processo e
entendida como sistema. Estas particularidades garantem questes sempre novasao circuito da arte contempornea, que ainda no atende suas demandas.
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Entretanto, discutindo e experimentando novas alternativas que o circuito prprio
da arte digital tem se estabelecido.
i O MAM de So Paulo fundado em 1948, por Francisco Matarazzo Sobrinho, com influncia da FundaoRockfeller (EUA); o MASP, tambm em 1948, fundado por iniciativa de Assis Chateaubriand, com influncia domarchand Pietro Maria Bardi (MICELI In: MARQUES; VILELA, 2002). Em 1949 o MAM RJ inaugurado, pormeio de um consrcio entre instituies financeiras, jornais de grande tiragem e influncia, polticos e diplomatascom envolvimento cultural, mecenato privado de Catro Maya, intelectuais, como Vincius de Morais, GuimaresRosa, alm de alguns artistas e crticos.ii Entrevista de Couchot Adriana Ferreira da Silva, disponvel em Mercado de arte no est pronto para eradigital, diz especialista. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u62541.shtml . Visita em 05/01/2011iii sp-arte. Disponvel em http://sp-arte.com acesso em 22/11/2011iv Raquel Kogan em entrevista folha de So Paulo. Jornal Folha de So Paulo. Cibernticos lutam para seconsolidar como arte contempornea. Bruno Huberman e Ktia Lessa. So Paulo. Publicado em 18/07/2011.Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/944155-ciberneticos-lutam-para-se-consolidar-como-arte-contemporanea.shtml - acesso em 13/02/2012v Feira Parte. Disponvel em: http://www.feiraparte.com.br/ - 17/11/2011. Neste perodo foi enviado um e-mailpara os organizadores questionando se haveria a comercializao de obras em arte e tecnologia, e-mail que nofoi respondido.vi Mais sobre o trabalho da artista em http://art.teleportacia.org/ - visita em 23/02/2011. Neste site encontra-se aprimeira galeria virtual de net.art. If you want to clean your screen, de Olia Lialina foi vendida a um colecionador eencontra-se disponvel em www.entropy8zuper.org/possession/olialia/olialia.htm - visita em 23/02/2011vii Conforme informaes disponibilizadas na Wikipdia em relao ao curto-circuito. Disponvel em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Curto-circuito - acesso em 13/12/2011viii A exposio Nan Goldin cancelada um ms antes da sua abertura no Oi Futuro Flamengo, cujo motivo ocontedo das obras, o qual seria restritivo a determinados pblicos, ou seja, o pblico alvo do instituto culturalcrianas e adolescentes menores de 18 anos. O Oi Futuro mantm o patrocnio, mas faz a exposio migrarpara o MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, instituio pblica). Esta atitude vista como censurapela artista, a qual ganha apoio entre os artistas, crticos e curadores brasileiros, pois a arte tem um carter
questionador, que em determinados momentos ultrapassa os limites organizacionais. Maiores informaes em(Fotos polmicas fazem exposio de Nan Goldin mudar de lugar. Cristina Tardguila. Publicado: 28/11/11 -19h30. Disponvel em: http://oglobo.globo.com/cultura/fotos-polemicas-fazem-exposicao-de-nan-goldin-mudar-de-lugar-3342672 . - acesso em 13/12/2011
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Dbora Aita GasparettoUniversidade Federal de Santa Maria/RS. Mestranda pelo PPGART/UFSM, na linha dePesquisa Arte e Tecnologia, orientada pela Prof. Dr. Nara Cristina Santos. BolsistaCAPES. Integrante do LABART e Grupo de Pesquisa Arte e Tecnologia/CNPq. Graduadaem Publicidade e Propaganda pela UFSM, 2005. Endereo Eletrnico:[email protected] Telefone: (55) 96943202