Arranjos Educativos Locais - AEL

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AEL – Arranjos Educativos Locais Instituto Vivo

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Este é um material apresentado na Oficina de Capacitação de Agentes Comunitários de Educação para a implantação de Arranjos Educativos Locais, em 09 e 10 de novembro, na sede da Vivo em SP.

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AEL – Arranjos Educativos Locais Instituto Vivo

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O que é um AEL?

São pessoas que se conectam em rede, em uma localidade, para aprender juntas. 

São locais (clusters), como sócio-territorialidade: pessoas conectadas com uma certa configuração – ou arranjadas de determinada maneira – criando um ambiente capaz de favorecer o processo educativo.

 Esse ambiente não é conformado pelas instituições hierárquicas já estabelecidas na localidade e nem pelos recursos materiais disponíveis (salas, prédios e por outros equipamentos) e sim pela rede social composta por pessoas interagindo. Quanto mais distribuída e conectada for essa rede, mais o ambiente será favorável ao aprendizado individual e coletivo.

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O que é um AEL?

Baseado na idéia de que, para aprender, uma pessoa deve aprender a buscar com autonomia o que lhe interessa da sua própria maneira (tornando-se um buscador) e aprender a compartilhar o que buscou com outras pessoas gerando conhecimento a partir dessa interação (tornando-se um polinizador). 

Os AEL não são sistemas educativos (como as escolas) e sim sistemas sócio-educativos. Eles envolvem sempre, necessariamente, uma parcela da sociedade local onde se situam e estão voltados para o desenvolvimento humano e social sustentável (das pessoas e das comunidades) dessa localidade. 

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O que é um AEL?

Qualquer pessoa que tomar a decisão de catalisar um processo educativo será capaz de fazê-lo em relação àqueles temas com que tenha alguma intimidade. Desde que queira fazer isso. Desde que goste de compartilhar. Começando pelo mais básico: quem aprendeu a ler, escrever e contar – mesmo que só um pouquinho – pode ajudar outras pessoas a aprenderem isso também; e o melhor é que, assim procedendo, pode aprender ainda mais. Um jovem que adquiriu habilidades de navegar e publicar na Internet pode ajudar outras pessoas a também adquirir, pelo menos, parte dessas habilidades. Uma pessoa idosa que desenvolveu, ao longo de anos e anos de experimentação, suas próprias práticas de permacultura, pode refazer seu itinerário de aprendizagem com outras pessoas, jovens ou adultas. Fazendo isso não só terá oportunidade de compartilhar o que sabe, mas também de reaprender o que já esqueceu que sabe. E criará conhecimento novo sobre o assunto.

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

São convidadas e capacitadas pessoas que queiram ser catalisadoras do processo de aprendizagem em comunidades: redes que serão articuladas a partir de agendas de aprendizagem (são os chamados ACE - Agentes Comunitários de Educação, strito sensu). Essas agendas de aprendizagem podem ser constituídas com base em qualquer tema que interesse as pessoas, mas devem ser priorizados aqueles temas que possibilitem que as pessoas aprendam a aprender (como alfabetização na língua natal ou em línguas estrangeiras, matemática, lógica, alfabetização digital) e aprendam a conviver com o meio natural e social (como educação na sustentabilidade e a educação para a democracia).

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

O AEL não dá cursos, não tem aula (nem mesmo disfarçadas como oficinas) e não forma turmas seqüenciais. Todos os que participam diretamente do AEL são considerados agentes comunitários de educação (tanto os catalizadores do processo de aprendizagem – os ACE stricto sensu – quanto os demais aprendentes). Não há professores nem alunos: no AEL todos são considerados aprendentes e o papel dos catalisadores é construir um itinerário coletivo de aprendizagem, junto com o grupo que foi formado em torno de uma determinada agenda. É fundamental que os aprendentes disponham de meios interativos de comunicação, sobretudo dispositivos móveis (como notebook, netbook ou celular) capazes de navegar na internet e tenham acesso banda larga à rede (de preferência wireless) nos locais onde vão realizar suas atividades. Tais atividades podem ser realizadas em qualquer lugar e não apenas em uma antiga sala de aula.

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

Pode-se estruturar uma espécie de metodologia de implantação do AEL – um conjunto de passos necessários para instalar o programa em uma localidade – que não deve ser confundida com os métodos (pedagógicos) que serão utilizados na catalisação das agendas de aprendizagem.

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

Passo 1 | Entendimento institucional dos protagonistas da iniciativa com pessoas que cumprem papéis relevantes nos diversos setores (empresariais, governamentais e sociais) – incluindo os aparatos de ensino – da localidade escolhida, buscando sua adesão como parceiros (apoiadores ou participantes) do programa. Esse primeiro passo exige mapeamento prévio e sensibilização dos potenciais parceiros.

Passo 2 | Convocação, seleção e capacitação dos Agentes Comunitários de Educação. Os ACE devem ser convidados, selecionados e capacitados na própria localidade. Passo 3 | Preparação do espaço de referência para o início das atividades. A preparação desse local já deve contar com a participação dos Agentes Comunitários de Educação em formação e com a cooperação ativa dos parceiros do programa. Este passo pode ser executado simultaneamente com o Passo 2.

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

Passo 4 | Convites pessoais – feito pelos Agentes Comunitários de Educação, a partir das instituições e grupos parceiros e, de preferência, de casa em casa – aos potenciais participantes (aprendentes) e outros membros que vão se conectar à rede para acompanhar as atividades AEL. O número de participantes do AEL depende das agendas de aprendizagem que serão realizadas (mas não deve ultrapassar a capacidade de atendimento do número de ACE e, pelo menos no início, do espaço de referência). O número de conectados à rede, além dos próprios participantes (aprendentes) não deve ser inferior à 1% da população da localidade (caso contrário a iniciativa não alcançará a capilaridade necessária para importar o capital social que já existe no local).

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

Passo 5 | Definição das agendas de aprendizagem que serão realizadas e publicação da plataforma interativa utilizada no netweaving do AEL. Essa definição será feita pelos ACE em conjunto com os demais participantes (aprendentes). Recomenda-se não começar um AEL sem ter, pelo menos, três agendas de aprendizagem compartilhadas. Esse passo compreende também a constituição dos grupos de participantes (aprendentes) em torno das agendas de aprendizagem que serão realizadas. Passo 6 | Definição dos métodos (pedagógicos) que serão utilizados na catalisação das diferentes agendas de aprendizagem e compartilhamento desses métodos com cada grupo. Passo 7 | Início das atividades (das agendas) e início simultâneo do processo de monitoramento e avaliação e do netweaving da rede AEL local.

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Como se organiza e funciona na prática um AEL?

Passo 8 | Engajamento da rede AEL local no desenvolvimento humano e social sustentável da localidade. Este é um trabalho prático de investimento no capital social da localidade, que será feito pelos participantes (aprendentes), pelos parceiros e pelos demais stakeholders sociais do programa que quiserem se engajar. Já existem metodologias amplamente testadas – no Brasil e em várias partes do mundo – para o desdobramento desse passo.

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O que é essencial e deve ser mantido

1. A natureza dos AEL como clusters de aprendizagem: aglomerados locais de pessoas e organizações (presentes sempre por meio de pessoas) – conectadas em redes distribuídas – que se formam criando ambientes favoráveis às interações educativas. 2 – O caráter dos AEL de sistemas sócio-educativos (e não apenas sistemas educativos – como as escolas e outros aparatos burocráticos, hierárquicos, voltados ao ensino). Os AEL são uma forma de communityschooling, porém na linha do unschooling; quer dizer, de educação comunitária desescolarizada e viabilizada por meio da conformação de comunidades de aprendizagem (e não de “ensinagem”).

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O que é essencial e deve ser mantido

3 – A estratégia dos AEL de aproveitar o capital social existente em uma dada localidade para impulsionar ou alavancar o desenvolvimento do capital humano e incrementar, por realimentação (feedback positivo), o próprio capital social da localidade. 4 – A abertura dos AEL para todos que a eles quiserem se conectar desde que observando suas regras, sem qualquer critério de idade, escolaridade, condição sócio-econômica ou outra condição qualquer que não seja a do interesse em aprender. 5 – O referencial conceitual dos AEL que parte do conectivismo como teoria da aprendizagem e combina métodos de auto-didatismo (incluindo alguns processos já consagrados no homeschooling) com métodos de comum-didatismo (communityschooling), mas sem qualquer ortodoxia metodológica ou pedagógica.

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O que é essencial e deve ser mantido

6 – A composição dos AEL: um AEL é composto por agentes comunitários de educação lato sensu. Todas as pessoas que interagem em um Arranjo Educativo Local, individualmente ou representando uma organização social, empresarial ou governamental, são – no sentido mais geral da expressão – agentes comunitários de educação, inclusive os que os sistemas educativos chamam de “alunos”. 7 – O padrão de organização dos AEL, que se estruturam e funcionam sempre como redes distribuídas de pessoas, ou seja, como redes sociais, articuladas e animadas presencialmente e à distância. Essas redes devem buscar alcançar o grau máximo de distribuição e conectividade (todos-com-todos) de sorte a ensejar a geração de verdadeiras comunidades (de aprendizagem). Delas participam os agentes (stricto sensu, os ACE – Agentes Comunitários de Educação), os educadores-educandos (aprendentes), as pessoas que representam os parceiros institucionais e outros stakeholders sociais da iniciativa.

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O que é essencial e deve ser mantido

8 – Os Agentes Comunitários de Educação (ACE, stricto sensu), que são os catalisadores de processos de aprendizagem, especialmente preparados e voltados (motivados e capacitados) para essa função. Além de catalisarem o processo de aprendizagem, cabe também aos ACE visitar regularmente as pessoas da localidade, de preferência de casa em casa (tal como fazem os Agentes Comunitários de Saúde) no início para explicar o projeto e, depois, para relatar os avanços obtidos e as dificuldades encontradas, mantendo as pessoas informadas. Cabe ainda aos ACE fazer o netweaving da rede virtual que se organizará em cada AEL, administrando a plataforma interativa utilizada.

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O que é essencial e deve ser mantido

9 – As agendas de aprendizagem em torno das quais se formam as comunidades de aprendizagem em rede. Essas agendas podem ser variadas (por exemplo, alfabetização na língua natal ou em línguas estrangeiras, matemática, lógica, alfabetização digital, educação científica, artes, esportes e cultura, educação na sustentabilidade, educação para a democracia etc.), mas devem sempre ensejar oportunidades aos educandos de “andar com as próprias pernas”, transformando-se em buscadores cada vez mais autônomos e polinizadores (ou construtores coletivos de conhecimentos) cada vez mais interdependentes. 

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O que é essencial e deve ser mantido

10 – A rede social mais ampla que deve ser articulada e animada conectando (pelo menos 1%) das pessoas da localidade, dos promotores, parceiros e apoiadores da iniciativa que estejam dispostas a acompanhar e interagir com o programa, mesmo que não participem diretamente como aprendentes (educadores-educandos) das atividades dos AEL. Essa ligação com a sociedade são as raízes sociais do programa, o seu lastro de capilaridade social. É por meio desses “dutos” que o capital social da localidade será “importado” como um recurso capaz de fazer a diferença no processo sócio-educativo. 11 – O engajamento da rede AEL na indução do desenvolvimento humano e social sustentável da localidade. Este é um trabalho prático – voluntário – de investimento no capital social da localidade.

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O que não pode ser feito

1 – Reeditar, sob qualquer forma ou a qualquer pretexto, a relação professor-aluno. 2 – Definir currículos top down. 3 – Separar os grupos (comunidades de aprendizagem) por idade, escolaridade ou por qualquer outro critério que não seja o interesse. 4 – Tratar o conhecimento como objeto (que possa ser transferido segundo o padrão emissor-receptor) e não como relação (o conhecimento se reinventa toda vez que uma interação entre sujeitos do processo educativo se realiza). 5 – Estabelecer um padrão de ensino no lugar de aprendizagem: os AEL não dão cursos, nem têm classes ou turmas, mas somente comunidades de aprendizagem, clusters conformados a partir de agendas compartilhadas de aprendizagem.

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O que não pode ser feito

6 – Focalizar o trabalho na melhoria da escola, tentar complementá-la ou suplementá-la, ou montar uma escola ou para-escola dita “alternativa” ou “nova”. 7 – Estabelecer uma hierarquia, mesmo que meritocrática, encarando os Agentes Comunitários de Educação (stricto sensu, os catalisadores, facilitadores ou mediadores do processo de aprendizagem) como superiores, em algum sentido, aos demais agentes comunitários de educação (lato sensu, as pessoas que interagem nas comunidades – em rede – de aprendizagem): no AEL todos são aprendentes.

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