Arqueologia Da Paisagem Elementos Naturais Como Possíveis Indicadores de Sítios Arqueológicos

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Uma das etapas mais importantes da pesquisa arqueológica é o levantamento sistemático de campo ou prospecção não intrusiva. Nesta etapa onde o profissional de arqueologia percorre a área com a finalidade de identificar sítios arqueológicos o conhecimento do ambiente pode ser extremamente importante para facilitar o trabalho e colaborar para um melhor resultado deste. Em algumas pesquisas da arqueologia de contrato a maioria dos sítios somente são identificados após a intervenção no local por máquinas pesadas dos construtores, geralmente causando impacto aos sítios e seus artefatos. A observação e interpretação da paisagem podem auxiliar na identificação destes possíveis sítios arqueológicos, onde o relevo, a vegetação nativa ou exótica, o tipo de solo exposto e a presença de água podem vir a se tornar indicadores de sítios arqueológicos, evitando, assim, danos ao patrimônio arqueológico.

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  • Faculdade Redentor

    Ps-Graduao em Arqueologia Brasileira

    Antonio Carlos de Souza Silva

    Arqueologia da paisagem:

    Elementos naturais como possveis indicadores de stios arqueolgicos

    Belford Roxo

    2012

  • Faculdade Redentor

    Ps-Graduao em Arqueologia Brasileira

    Antonio Carlos de Souza Silva

    Arqueologia da paisagem:

    Elementos naturais como possveis indicadores de stios arqueolgicos

    Trabalho de concluso de curso para obteno da certificao de especialista em arqueologia brasileira pela Faculdade Redentor, tendo como rea de concentrao a Arqueologia da Paisagem, orientador Dr. Ondemar Dias.

    Belford Roxo

    2012

  • Resumo

    Uma das etapas mais importantes da pesquisa arqueolgica o levantamento sistemtico de campo ou prospeco no intrusiva. Nesta etapa onde o profissional de arqueologia percorre a rea com a finalidade de identificar stios arqueolgicos o conhecimento do ambiente pode ser extremamente importante para facilitar o trabalho e colaborar para um melhor resultado deste. Em algumas pesquisas da arqueologia de contrato a maioria dos stios somente so identificados aps a interveno no local por mquinas pesadas dos construtores, geralmente causando impacto aos stios e seus artefatos. A observao e interpretao da paisagem podem auxiliar na identificao destes possveis stios arqueolgicos, onde o relevo, a vegetao nativa ou extica, o tipo de solo exposto e a presena de gua podem vir a se tornar indicadores de stios arqueolgicos, evitando, assim, danos ao patrimnio arqueolgico.

    Abstract

    One of the most important stages of archaeological research is the systematic collection of field or prospecting nonintrusive. At this stage where professional archeology covers the area in order to identify archaeological knowledge of the environment can be extremely important to facilitate the work and contribute to a better outcome this. In some research contract archeology most sites are identified only after the intervention in place for heavy machinery manufacturers, generally impacting the sites and their artifacts. The observation and interpretation of the landscape can help identify these potential archaeological sites, where the terrain, vegetation native or exotic, the kind of exposed soil and the presence of water may well become indicators of archaeological sites, thus avoiding damage to property archaeological.

    Palavras chave: Arqueologia, meio ambiente, levantamento de campo.

  • SUMRIO

    1 - Introduo ........................................................................................................................................ 6

    2 - Arqueologia e Meio Ambiente ....................................................................................................... 7

    3 - Stios arqueolgicos ....................................................................................................................... 7

    4 - Levantamento sistemtico de campo .......................................................................................... 8

    5 - Aspectos geogrficos ..................................................................................................................... 9

    5.1 Relevo ...................................................................................................................................... 9

    6 - Aspectos pedolgicos .................................................................................................................. 11

    6.1 - Colorao do solo Terra preta .......................................................................................... 11

    7 - Aspectos florsticos ....................................................................................................................... 13

    7.1 - Exemplos de plantas exticas encontradas em stios arqueolgicos ........................... 13

    7.2 - Exemplos de plantas nativas encontradas em stios arqueolgicos. ............................ 15

    8 - Disponibilidade de gua .............................................................................................................. 18

    9 - Biomas ............................................................................................................................................ 18

    9.1 - Manguezal .............................................................................................................................. 19

    9.2 Restinga ................................................................................................................................. 19

    9.3 - Floresta atlntica de terras baixas e alto montana .......................................................... 20

    10 Consideraes finais ................................................................................................................. 21

    11 - Referncias bibliogrficas ......................................................................................................... 22

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Vista da rea dos stios Pau Cheiroso (Seropdica) 1 e Nazare II 2. ...................... 10

    Figura 2 - vista do resgate no stio aldeia de Itaguau II e aldeia de Itaguau I ao fundo. .... 11

    Figura 3 coleta de material em superfcie nas manchas de terra preta do Stio Rancho

    Alegre ................................................................................................................................................... 13

    Figura 4 rvores exticas 1. Jaqueira, 2. Palmeira Imperial, 3.Mangueira e 4.Agave verde.

    ............................................................................................................................................................... 15

    Figura 5 Jabuticabeira junto as runas de uma fazenda em Rio Claro ................................... 16

    Figura 6 Vista da estrutura do Sitio Nazar II com Arvore Pau Dalho ao fundo .................. 17

    Figura 7 localizao de Sitio nas margens do rio Guandu ....................................................... 18

    Figura 8 vista do Sitio Duna de Itaipu em Niteri ....................................................................... 20

    Figura 9 abrigo sob rocha no stio Sambaqui do Caranguejo em Mangaratiba .................... 21

  • 6

    Arqueologia da paisagem:

    Elementos naturais como possveis indicadores de stios arqueolgicos

    1 - Introduo

    Este trabalho consiste na anlise da observao de caractersticas biticas e

    abiticas de reas onde so identificados stios arqueolgicos e na avaliao para

    verificar se elementos naturais podem vir a se tornar referncias de ocorrncia de

    stios arqueolgicos histricos e pr-histricos. Para isto, foi realizada uma pesquisa

    em relatrios de stios arqueolgicos pesquisados em vrias regies do estado do

    Rio de Janeiro. A geografia da regio, o extrato arbreo/arbustivo, a colorao do

    solo e ainda a disponibilidade de gua dessas reas foram analisadas e comparadas

    em diversos stios com a finalidade de confirmar ou descartar a hiptese de estes

    serem de alguma maneira, referncias para a ocorrncia de stios arqueolgicos,

    com o intuito de auxiliar pesquisadores nas etapas de levantamento sistemtico de

    campo e prospeco arqueolgica.

    Em conversas com experientes arquelogos o autor deste artigo sempre

    ouviu falar de feeling arqueolgico de alguns profissionais da arqueologia.

    Certamente no se pode descartar esta hiptese, entretanto, em que se baseiam

    estes profissionais e qual seria o mtodo utilizado? Esta pergunta pode ter a

    seguinte resposta: A observao do meio ambiente da rea a ser pesquisada.

    Algumas perguntas durante a observao podem ser feitas, como por

    exemplo: Porque este seria um bom lugar para o homem viver? Quais as

    Vantagens? O que ele teria modificado no local? Essas perguntas so

    imediatamente respondidas se o pesquisador tiver algum conhecimento sobre a flora

    e a pedologia, matrias das Cincias Naturais e Geologia respectivamente. Tendo

    como base que o homem habitaria sempre um local seguro e com recursos para sua

    subsistncia fica ainda mais fcil observar e identificar esses locais e nunca pensar

    em descarta-los durante a pesquisa.

    A etapa da pesquisa arqueolgica chamada de caminhamento ou

    levantamento sistemtico de campo no intrusivo o momento no qual o

    pesquisador percorre a rea a ser impactada pelo empreendimento, em casos de

    arqueologia de contrato, com a finalidade de verificar seu potencial arqueolgico.

    Nesta etapa os pesquisadores somente verificam a ocorrncia de artefatos em

  • 7

    superfcie, em uma rea geralmente coberta por algum tipo de vegetao. Se a

    anlise proposta for positiva, considera-se pertinente a anlise do meio fsico

    durante essas atividades.

    2 - Arqueologia e Meio Ambiente

    Segundo Rahtz (1989), arqueologia o estudo da cultura material em

    relao com o comportamento humano...ela se ocupa tambm do ambiente em que

    o gnero humano se desenvolveu e no qual o homem ainda vive. A partir desta

    definio no se pode dissociar o estudo da arqueologia do estudo do meio

    ambiente. Ainda segundo este mesmo autor,na mesma publicao, o mais notvel

    arquelogo europeu Eric Highs iniciou na arqueologia uma nova abordagem, com

    base na devida apreciao da interao do homem com seu ambiente. Mais adiante

    o autor continua:

    importante para o arquelogo compreender o ambiente e a interao do

    homem com esse ambiente. Podem-se observar as formas do solo, a geologia, a

    gua e o clima, e notar as maneiras como a qualquer tempo esses elementos

    determinam os recursos disponveis numa rea, as estratgias de sobrevivncia e o

    tipo de excedente que estar provavelmente disponvel para a troca por coisas que

    no podem ser produzidas no local. (Rahtz, 1989).

    J nos anos 80 do sculo passado arquelogos consideravam a importncia

    da anlise do meio ambiente em suas pesquisas. Esta prtica, entretanto, no foi

    seguida por alguns discpulos por motivos diversos. o que se verifica na atual

    situao onde diversos stios arqueolgicos somente so identificados nas etapas de

    prospeco e monitoramento. evidente que os vestgios que identificam os stios

    arqueolgicos em sua maioria se encontram em subsuperfcie, porm levar em

    considerao os aspectos fsicos biticos e abiticos da rea a ser pesquisa pode

    promover um resultado bastante significativo. claro que nem sempre em locais

    onde ocorram tais elementos que vamos discorrer adiante existam vestgios

    arqueolgicos, porem a possibilidade de ocorrncia no descartada.

    3 - Stios arqueolgicos

    Entre vrias definies podemos destacar a de que Stios Arqueolgicos so

    os locais onde se encontram vestgios da vida e da cultura material dos povos do

  • 8

    passado, esses vestgios podem ser mveis (objetos) ou imveis (estruturas).

    Podem ser subdivididos em diversas categorias de acordo com seu uso, sua

    localizao e sua temporalidade como definidos nos exemplos a seguir (Cadernos

    de Arqueologia, ano I, N1, 1976):

    Stio acampamento ou de passagem - so aqueles com indcios de permanncia

    temporria ;

    Stio cerimonial - local onde foram encontradas apenas evidncias de prticas

    religiosas ou sociais;

    Stio habitao local com vestgios de permanncia prolongada;

    Stio oficina local onde foram encontradas evidencias de fabricao de artefatos.

    Stio arqueolgico pr-histrico - um stio arqueolgico, resultado da ao das

    antigas populaes residentes no Brasil (at 5 mil anos atrs). Podem ser ainda

    subdivididos em sambaquis, pinturas rupestres, cermicos e lticos.

    Stio arqueolgico histrico so todos os locais que renem vestgios significativos

    da cultura material, remanescente da passagem e/ou assentamento de populaes

    imigrantes, a partir do sculo XVI.

    4 - Levantamento sistemtico de campo

    Um aspecto importantssimo no trabalho de prospeco a tomada de

    conscincia de que o trabalho est permanentemente incompleto e que qualquer

    individuo nunca consegue fazer o levantamento completo, pois tem determinadas

    predisposies que no lhe permitem ver, ou que lhe truncam a realidade

    observvel (BICHO,2006. p.90). Diante desta afirmao acredita-se que qualquer

    informao, mtodo ou prtica que auxilie o pesquisador vem a colaborar

    positivamente para a realizao da atividade.

    De acordo com a legislao do IPHAN, a portaria 230/2002 exige a pesquisa

    de campo atravs de levantamento inicial para a liberao da licena prvia

    (EIA/RIMA) conforme descrito no artigo a seguir:

    Art. 2 - No caso de projetos afetando reas arqueologicamente

    desconhecidas, pouco ou mal conhecidas que no permitam inferncias sobre a

  • 9

    rea do empreendimento, dever ser providenciado levantamento arqueolgico de

    campo pelo menos em sua rea de influncia direta, este levantamento dever

    contemplar todos os compartimentos ambientais significativos no contexto geral da

    rea a ser implantada e dever prever levantamento prospectivo de sub superfcie.

    Mesmo O IPHAN exigindo prospeco interventiva nesta etapa ainda ocorre o

    caminhamento em etapa anterior onde toda a rea deve ser vistoriada e demarcada

    para posterior prospeco interventiva.

    5 - Aspectos geogrficos

    5.1 Relevo

    A anlise da geografia da rea, mais especificamente o relevo pode se tornar

    um forte aliado para a identificao de stios arqueolgicos. reas possivelmente

    inundveis, com fcil e mdio acesso, morrotes e elevaes com boa visibilidade do

    entorno devem receber maior ateno durante a pesquisa. O que pode ser analisado

    pelo pesquisador se de alguma maneira o local seria possvel de ser habitado pelo

    homem, j que o instinto humano no sofreu mudanas to radicais durante os

    tempos.

    Como exemplo de stios arqueolgicos identificados com estas caractersticas

    temos os stios histricos Nazar II e Pau Cheiroso (posteriormente renomeado para

    Stio Seropdica), ambos localizados no municpio de Seropdica, na regio da

    Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, durante as Obras do Arco Metropolitano por

    pesquisadores do IAB Instituto de Arqueologia Brasileira.

    O Stio Nazar II pertencente a categoria de sitio histrico se encontra numa

    elevao de aproximadamente 30 metros de altitude de fcil acesso, com boa

    visibilidade da regio ao entorno (ver figura 1). Ao redor, se encontra uma plancie

    onde ocorrem lagos perenes e sazonais e ainda um rio (Guandu) que teve seu curso

    modificado por processo antrpico. Ao observar a esta elevao entre as demais

    existentes nas proximidades o pesquisador encontrou fragmentos de material

    histrico em superfcie e estruturas de pedra, e assim, registrou o Stio segundo

    ficha enviada ao IPHAN.

    O stio denominado Pau Cheiroso (Seropdica), localizado na regio de

    mesmo nome, tambm pertence a categoria de Stio Histrico. Este foi encontrado

  • 10

    atravs de caminhamento nas proximidades da rea do empreendimento supra

    citado numa pequena colina de onde se observa toda a regio e seus principais

    acessos, o pesquisador encontrou estruturas de pedra, cermicas e louas em

    superfcie, parcialmente encobertas pela vegetao de pastagem. considerado um

    dos maiores stios da regio e ainda se encontra em estudo pelos pesquisadores do

    IAB Instituto de Arqueologia Brasileira.

    Figura 1 - Vista da rea dos stios Pau Cheiroso (Seropdica) 1 e Nazare II 2.

    Historicamente tm-se informaes de que as sedes das antigas fazendas da

    regio da Baixada Fluminense eram erguidas sobre elevaes, assim confirmadas

    pelos vestgios arqueolgicos encontrados nos diversos stios identificados na

    regio. No se pode descartar, no entanto a ocorrncia de stios pr-histricos de

    origem Tupi nestas mesmas configuraes de relevo, pois estes tambm

    necessitavam de lugar seguro, conforme os Stios denominados Aldeia de Itagua I

    e II nesta mesma regio, porm em terras atualmente pertencentes ao Municpio de

    Japeri., implantados sobre colinas com altura mxima de 70 metros. (ver figura 2)

  • 11

    Figura 2 - vista do resgate no stio aldeia de Itaguau II e aldeia de Itaguau I ao fundo.

    6 - Aspectos pedolgicos

    A pedognese ou formao do solo estudada pela Pedologia, cujas noes

    bsicas e conceitos fundamentais foram definidos em 1877, pelo cientista russo

    Dokuchaev... Em 1898, Dokuchaev consolidou a concepo de que as propriedades

    do solo so resultado dos fatores de formao do solo que nele atuaram e ainda

    atuam, a saber: material de origem, clima, organismos, topografia (relevo) e tempo.

    (http://www.ufjf.br/pavimentacao/files/2009/10/Apostila-Vi%C3%A7osa.pdf). Com

    base neste conhecimento possvel analisar as diferenas na composio do solo e

    ficar atento as mudanas de colorao, de certa forma elas podero demonstrar a

    utilizao da rea por populaes humanas em tempos remotos.

    6.1 - Colorao do solo Terra preta

    Embora em meados do sculo passado existissem posies antagnicas a

    respeito da origem das terras pretas, com alguns pesquisadores defendendo para as

    mesmas uma origem puramente geolgica (FARIA 1946, In KMPF e KERN 2005) e

    outros atribuindo-lhes uma gnese arqueolgica (GOUROU 1950, In KMPF e

    KERN, op. cit.), a partir dos anos 1960 torna-se praticamente consensual que a alta

    fertilidade destes solos deve-se unicamente ocupao indgena prolongada.

  • 12

    Reafirmam esta hiptese a textura, composio da frao argilosa e profundidade do

    horizonte C das terras pretas, quando comparadas s dos solos adjacentes, e o fato

    de sua colorao escura ser oriunda de material orgnico decomposto relativo seja a

    carvo residual de fogueiras domsticas, seja a queimadas para uso agrcola

    (DENEVAN 2001). Por isso so altos os teores de C orgnico, P, Ca e Mg, formados

    s custas das cinzas e dos resduos de peixes, conchas, caa e dejetos humanos

    (KMPF e KERN 2005), alm de conterem teores de Zn e Mn mais elevados no

    horizonte A, em relao aos horizontes subjacentes e aos solos no-antropognicos

    da terra firme amaznica (KERN e KMPF 1989).

    Em termos metodolgicos, vale salientar que a frao terra fina (menor ou

    igual a 2mm), tradicionalmente descartada aps o peneiramento e a coleta dos

    restos culturais, tem recebido a ateno dos arquelogos envolvidos com stios

    possuidores de terras pretas, mediante anlises qumicas, anlises palinolgicas,

    estudos microbiolgicos e dataes efetuadas em trincheiras em transees (MORA

    2003).

    Diante dessas informaes a observao do solo no que se refere a sua

    colorao deve ser bem avaliada durante a pesquisa de campo, podendo ser um

    referencial de ocupao humana tanto pr-histrica quanto histrica.

    A estratigrafia do terreno pode ser visualizada atravs de barrancos,

    depresses e solo exposto por processos naturais ou antrpicos e torna-se uma

    aliada na identificao de locais habitados em tempos pretritos.

    Como exemplo podemos destacar a identificao do stio Rancho Alegre

    pertencente categoria stio Histrico tambm identificado na regio de Seropdica

    no Rio de Janeiro durante a pesquisa arqueolgica para a construo do Arco

    Metropolitano do Rio. Este stio foi identificado durante o monitoramento

    arqueolgico por pesquisadores do IAB, pois anteriormente estava coberto pela

    vegetao. Est localizado numa encosta com declive aproximado de 45, sendo

    identificadas manchas de terra preta aps a supresso da vegetao. Em superfcie

    foram identificados artefatos cermicos, loua entre outros materiais que o

    configuraram como stio histrico. Durante o resgate em que este autor participou,

    ficou claro de que se tratava de um depsito de bens inservveis de uma antiga

    residncia anteriormente localizada no plat acima da encosta.

  • 13

    Figura 3 coleta de material em superfcie nas manchas de terra preta do Stio Rancho Alegre

    7 - Aspectos florsticos

    Ao falar sobre os aspectos florsticos precisaremos recorrer a orientaes da

    botnica. Alguns grupos humanos adquiriram hbitos e costumes como o manejo de

    espcies vegetais tpicas da flora brasileira ou trazidas pelos colonizadores.

    Primeiramente deve-se entender que espcies nativas so aquelas oriundas do

    Brasil de todos os seus Biomas e espcies exticas so as que foram introduzidas

    pelos colonizadores e so oriundas de outros continentes ou pases.

    7.1 - Exemplos de plantas exticas encontradas em stios arqueolgicos

    Palmeira Imperial (Roystonea oleracea) a palmeira-imperial espcie

    extica, com distribuio do Caribe Venezuela. Viraram smbolo de poder poltico,

    econmico e social no Brasil. Conquistaram esse status em 1809, quando o prncipe

    regente D. Joo VI as plantou no Jardim Botnico do Rio de Janeiro. Os troncos

    altos, de at 32 metros de altura, esbranquiados e de palmitos volumosos,

    transformaram-se em sinnimo de pujana. Muitos outros poderosos da poca

    plantaram em suas antigas sedes de fazendas que hoje podem ter se tornado runa.

    No entanto, esses belos espcimes vegetais de grande longevidade muitas vezes

    permanecem imponentes como testemunho histrico de um rico passado. Como so

    fceis de serem vistas, no se pode deixar de verificar seu entorno, pois podem ser

    indicadores de presena humana pretrita.

  • 14

    Mangueira (Manguifera indica) uma rvore de grande longevidade, de

    copa densa, perene e muito frondosa, que pode alcanar 30 metros de altura. Seu

    tronco largo, e apresenta casca escura, rugosa e ltex resinoso. As folhas so

    coriceas, lanceoladas, com 15 a 35 cm de comprimento. Avermelhadas quando

    jovens e verdes com nervuras amarelas quando maduras. De florao abundante e

    ornamental, a mangueira apresenta inflorescncias paniculadas e terminais, com

    flores pequenas e polgamas. Pesquisadores acreditam que seja originria do

    sudeste da ndia aps terem sido descobertos fosseis com cerca de 25 a 30 milhes

    de anos. Foi introduzida no Brasil pelos portugueses e faziam parte do pomar das

    grandes fazendas histricas. Como uma planta muito conhecida, muitos acreditam

    ser nativa, porem s ocorrem no Brasil aps a colonizao. reas com concentrao

    desta espcie em meio a arvores nativas devem ser verificadas, pois sua disperso

    geralmente feita pelo homem.

    Jaqueira Artocarpus heterophyllus - uma rvore originria da ndia e

    cultivada em todos os pases tropicais do mundo. Trazida da ndia para o Brasil no

    sculo XVIII uma rvore que chega a 20 m de altura e seu tronco tem mais de 1 m

    de dimetro. cultivada em toda regio Amaznica e toda a costa tropical brasileira,

    do Par ao Rio de Janeiro.

    A fruta nasce no tronco e nos galhos inferiores da jaqueira e so formados

    por gomos, sendo que cada um contm uma grande semente recoberta por uma

    polpa cremosa. Apresenta cor amarelada e superfcie spera, quando madura. As

    variedades mais cultivadas da jaqueira so: jaca-dura, jaca-mole e jaca-manteiga.

    Relatos de historiadores indicam que mudas de jaqueira eram

    estrategicamente plantadas em caminhos histricos pelos desbravadores e quando

    adultas forneciam sombra e frutos para estes. Portanto vale a pena verificar seus

    arredores em reas de pesquisa quando se encontrarem rvores muito antigas com

    troncos espessos.

    Agave verde (Furcrarea gigantis) - Nativa da Amrica Central e do Sul, foi

    introduzida ao Brasil para fins ornamentais. Invade ambientes costeiros e reas de

    restinga, estando tambm presente em clareiras e capoeirinhas de reas florestais

    (fonte: Instituto Horus).

  • 15

    Esta planta foi amplamente utilizada em jardins de antigas sedes de fazendas,

    como se propaga com facilidade sempre deixa remanescentes no entorno.

    Considera-se verificar reas com ocorrncias desta espcie.

    Figura 4 rvores exticas 1. Jaqueira, 2. Palmeira Imperial, 3.Mangueira e 4.Agave verde.

    7.2 - Exemplos de plantas nativas encontradas em stios arqueolgicos.

    Jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) - A jabuticabeira uma rvore nativa da

    Mata Atlntica, conhecida por seus deliciosos frutos. Seu tronco bastante

    ramificado e de casca lisa, que se renova anualmente aps a frutificao. Na

    primavera surgem do tronco numerosas flores brancas, que cobrem quase toda sua

    extenso. Este processo ocorre simultaneamente queda das folhas, modificando

    completamente a aparncia da rvore. Aps a polinizao, as flores gradativamente

    vo sendo substitudas por pequenos frutos verdes, esfricos, que tornam-se

    vermelhos e depois negros, quando completamente amadurecidos (Jardineiro.net).

    Como so rvores de grande longevidade e crescimento lento, possvel

    encontra-las em pomares de antigas sedes de fazendas entre as runas conforme

    verificado na regio da Serra do Piloto em Rio Claro no Rio de Janeiro entre as

    runas de uma antiga fazenda e em stios histricos do Interior de Minas Gerais

    como o Sitio Jambeiro em Paracatu.

  • 16

    Figura 5 Jabuticabeira junto as runas de uma fazenda em Rio Claro RJ

    Paineira rosa (Ceiba speciosa) - A paineira-rosa uma rvore bastante

    popular, e isto se deve principalmente sua beleza extraordinria e seu curioso

    fruto. O tronco cinzento-esverdeado e recoberto de acleos grandes e piramidais.

    A madeira da paineira-rosa bastante leve, mole e pouco resistente, alm de no

    ter boa durabilidade. Pode ser utilizada na confeco de calados, caixotaria,

    celulose e artesanato. As folhas so compostas palmadas, com 5 a 7 fololos. As

    flores pintalgadas de vermelho, podem se apresentar em diversas tonalidades de

    rosa, de acordo com a variedade. uma planta excelente para o paisagismo de

    grandes reas, como parques e jardins pblicos, devido ao seu rpido crescimento,

    rusticidade e beleza. A florao intensa e ocorre no vero e outono, com a rvore

    semi ou completamente despida de sua folhagem. (Fonte: Jardineiro.net)

    Nativa da mata atlntica esta rvore foi bastante utilizada em cidades

    histricas de Minas Gerais, sendo plantada em laterais de igrejas e sedes de

    fazendas demonstrando sua imponncia. Quando encontrada em reas

    descampadas merece ateno o seu entorno, pois possui grande longevidade

    chegando a passar dos 100 anos.

    Pau dalho (Gallesia integriflia) - Com altura mdia entre 15 e 30 metros,

    esta rvore pode ser considerada robusta. Tanto que seu tronco largo (gira em

  • 17

    torno de 70 a 140 centmetros de dimetro). Possui ainda folhas glabras (sem plo)

    e brilhantes. E tem com uma caracterstica geral e marcante, o cheiro de alho, em

    qualquer parte da planta. (Fonte: www.terradagente.com.br/flora).

    No se sabe o real motivo, mas j foram encontrados nas proximidades de

    runas de antigos casares exemplares desta espcie como se estivessem sido

    preservados na poca de utilizao da rea, conforme verificado no sitio Nazar II

    em Seropdica (RJ) e no Stio Runas da Fazenda Balsamo Na Serra do Piloto em

    Rio Claro (RJ).

    Figura 6 Vista da estrutura do Sitio Nazar II com Arvore Pau Dalho ao fundo

    Tambm interessante ficar atento a concentrao de plantas de porte

    arbreo numa mesma rea e plantas baixas ou gramneas ao seu entorno. Esta

    configurao paisagstica pode informar a ocorrncia de solo mais produtivo

    resultante do uso humano. Geralmente ocorre em stios pr-histricos com

    aldeamentos e assentamentos histricos.

    rvores frutferas nativas ou exticas dispostas em alinhamento tambm pode

    ser alvo de pesquisa mais acentuada, pois geralmente foram plantadas por humanos

    (antropocoria) e no disseminadas por demais processo de disperso natural.

  • 18

    8 - Disponibilidade de gua

    Geralmente uma das primeiras anotaes que deve ser feita na caderneta de

    campo o curso dgua mais prximo da rea pesquisada. Esta fonte pode

    inviabilizar a ocorrncia de permanncia humana na rea se for negativa ou

    corroborar para isto se for positiva. Sendo a gua um bem extremamente necessrio

    para a vida, pode-se concluir que quanto maior a disponibilidade nas proximidades

    maior ser a possibilidade de ocorrncia de assentamentos humanos pretritos na

    rea.

    Um dos exemplos esta nos stios localizados nas margens do rio Guandu na

    Baixada Fluminense (RJ) que mesmo antes da modificao de seu curso natural

    apresentava calha e lagos ao entorno das reas dos stios pr-histricos Aldeia de

    Itaguau I e II e histricos como o Nazar II na mesma regio.

    Figura 7 localizao de Sitio nas margens do rio Guandu

    9 - Biomas

    Deve-se considerar nesta etapa da pesquisa o tipo de bioma da rea a ser

    pesquisada, pois alguns so propcios ocupao humana de antigas populaes

    como veremos a seguir.

  • 19

    9.1 - Manguezal

    considerado um ecossistema costeiro de transio entre os ambientes

    terrestre e marinho. Caracterstico de regies tropicais e subtropicais, apresenta solo

    e vegetao e fauna caractersticas. Localizado geralmente em reas de esturio

    um grande berrio para algumas espcies de moluscos que faziam parte da dieta

    de grupos humanos denominados sambaquieiros.

    Os stios de sambaqui so localizados geralmente nas proximidades de

    manguezais em reas mais elevadas, torna-se importante verificar concentraes de

    conchas nas suas imediaes. Porm tambm foram registrados stios de

    Sambaquis distantes do nvel atual do mar, o que gera questionamentos entre

    pesquisadores especialistas.

    9.2 Restinga

    A restinga pode ser definida como um cordo arenoso prximo ao mar

    formado pela dinmica das ondas durante milhares de anos e coberto de plantas

    herbceas caractersticas. As restingas se distribuem geograficamente ao longo do

    litoral brasileiro, numa extenso de mais de 5000 km, no ocorrendo de forma

    contnua, ocupando 79% da costa brasileira. As principais formaes ocorrendo no

    litoral de So Paulo, Rio de Janeiro, Esprito Santo e Bahia. Um exemplo de restinga

    a Restinga da Marambaia, no litoral do Rio de Janeiro. No Municpio de Niteri (ver

    figura 8 ), Maric e Cabo Frio, no Rio de Janeiro, j foram registrados diversos stios

    arqueolgicos pr-histricos Sambaqui e Itaipu neste bioma.

  • 20

    Figura 8 vista do Sitio Duna de Itaipu em Niteri RJ

    9.3 - Floresta atlntica de terras baixas e alto montana

    Este bioma ocupa uma rea de 1.110.182 Km, corresponde 13,04% do

    territrio nacional e que constituda principalmente por mata ao longo da costa

    litornea que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. A Mata Atlntica

    passa pelos territrios dos estados do Esprito Santo, Rio de Janeiro e Santa

    Catarina, e parte do territrio do estado de Alagoas, Bahia, Gois, Mato Grosso do

    Sul, Minas Gerais, Paraba, Paran, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande

    do Sul, So Paulo e Sergipe. A Mata Atlntica apresenta uma variedade de

    formaes, engloba um diversificado conjunto de ecossistemas florestais com

    estrutura e composies florsticas bastante diferenciadas, acompanhando as

    caractersticas climticas da regio onde ocorre. (ibflorestas.org.br/pt/bioma-mata-

    atlantica.html)

    Neste bioma ocorrem formaes de cavernas e abrigos formadas por fraturas

    ou deslocamento de rochas. Nestes locais, na regio serrana do Rio de Janeiro, j

    foram registrados diversos stios arqueolgicos pr-histricos, conforme cadastro do

    Iphan. Em pesquisa a ser realizada em reas com estas caractersticas torna-se

    importante a verificao desses locais com bastante ateno.

  • 21

    Figura 9 abrigo sob rocha no stio Sambaqui do Caranguejo em Mangaratiba RJ

    10 Consideraes finais

    De acordo com as informaes adquiridas durante os trabalhos de campo

    realizados pelo autor em companhia de arquelogos, alm de sua experincia na

    formao com nfase em Meio Ambiente, os ensinamentos recebidos no poderiam

    ficar simplesmente guardados. Acredita-se que ao ler este artigo profissionais

    iniciantes ligados a pesquisa arqueolgica tero mais informaes para melhorar

    sua performance em atividades de campo e ainda podero assimilar mais

    conhecimentos sobre o meio fsico onde esto localizados seu objeto de estudo, os

    stios arqueolgicos.

    Acreditar que a observao do meio ambiente em todos os seus aspectos

    pode auxiliar nas atividades de campo na etapa de prospeco arqueolgica

    apenas uma tese que pode ser confirmada ou no por demais profissionais da rea.

    Entretanto esta uma colaborao de um profissional das cincias biolgicas, a

    arqueologia que uma cincia extremamente interdisciplinar. evidente que no

    ocorrero artefatos e estruturas arqueolgicas em todos os locais com estas

    caractersticas, porem deixar de verifica-las atentamente pode se tornar um grande

    erro durante a pesquisa de campo.

  • 22

    11 - Referncias bibliogrficas

    RAHTZ,PHILIP convite a arqueologia / Philip Rahtz; traduo de Luiz Orlando Coutinho Lemos Rio de Janeiro: Imago Ed., 1989. BICHO, N. Ferreira; Manual de Arqueologia Pre-histrica, Edies 70, 525p,2006. Cadernos de Arqueologia, ano I, N1, 1976 - terminologia arqueolgica brasileira para a cermica segunda edio revista e ampliada Museu de Arqueologia e Artes Populares- Universidade Federal do Paran, Paran, Brasil. Relatrios de campo programa de arqueologia do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro , IAB , 2012.

    DENEVAN, W.M. Cultivated landscapes of native Amaznia and the Andes.

    Oxfor, Oxford Univ. Press, 396p, 2001.

    KMPF, N. e KERN, D.C. O solo como registro da ocupao humana pr-

    histrica na Amaznia. Tpicos Ci. Solo, 4:277-320. 2005

    KERN, D.C. & KMPF, N. Antigos assentamentos indgenas na formao de

    solos com Terra Preta Arqueolgica na regio de Oriximin, Par. Rev. Bras.

    Ci. Solo, 13:219-225. 1989.

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    Dark Earth. Origin, properties and management. Dordrecht, Kluwer Academic

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